Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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terça-feira, 9 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25728: Parabéns a você (2288): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)
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Nota do editor
Último post da série de 4 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25712: Parabéns a você (2287): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuna e Bolama, 1961/63)
terça-feira, 8 de agosto de 2023
Guiné 61/74 - P24539: Questões politicamente (in)correctas (58): Ainda a própósito do eventual recurso ao "trabalho forçado" (teoricamente abolido em 1961, por Adriano Moreira) (Cherno Baldé)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada I.
Foto do álbum do Albano Gomes, que vive em Chaves, e que foi 1.º cabo op cripto, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).
Foto (e legenda): © Albano Gomes (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada I > Milhares de nativos (c. 7 mil) são requisitados pela administração do concelho de Bafatá para capinar a estrada de Bambadinca - Mansambo - Xitole (cerca de 30 km), de um lado e de outro, numa faixa (variável) de 100 a 200 metros.
Fotos do álbum de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (1944-2021)
Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotos do álbum de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (1944-2021)
Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Capinagem
Foto (e legenda): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. É mais uma questão "politicamente incorreta" (*), aqui levantada pelo nosso arguto, sagaz e frontal Cherno Baldé, a propósito do trabalho de capinagem ou desmatação (**): era ou não, "de jure et de facto", "trabalho forçado", teoricamente abolido em 1961 nas províncias ultramarinas portuguesas, no âmbito das reformas do ministro do ultramar Adriano Moreira (1922-2022)?
(i) Comentário de Cherno Baldé (**):
Voltando ao Poste do dia e sobre o fundo da questão, acho que estamos na presença de imagens que, na linguagem da época da Guiné portuguesa, se designava por "trabalho obrigatório" ou "trabalho forçado".
Do ponto de vista oficial, era trabalho voluntário de limpeza das vias e arredores dos aquartelamentos, mas na realidade e para a população civil era um trabalho a que eram obrigados a fazer por ordens dos chefes de Postos e autoridades tradicionais legítimas ou impostas.
A presença dos individuos armados com mauseres e G3 no meio dos trabalhadores tanto poderia ser para a segurança assim como um meio de pressão psicológica e de intimidação, tratando-se sobretudo de jovens pertencentes a etnia Balanta de Cutia e arredores.
É a minha opinião à luz da realidade dos anos 60/70 de que fui testemunho e participante. No meio disso tudo, alguns elementos da tropa metropolitana, mal preparada previamente, sobre os reais objectivos e fundamentos da colonização, paradoxalmente, contrariavam estas linhas de orientação que muitas vezes não compreendiam e mal aceitavam excepção feita aos oficiais superiores que estavam melhor informados.
Na fase final da guerra, o General Spínola tentou acabar com estas práticas, consideradas muito nocivas e que não se enquadravam na nova política "Por uma Guiné melhor" chocando-se fortemente com hábitos há muito estabelecidos e que davam jeito aos comandantes e chefes de Postos nos aquartelamentos do mato a braços com problemas de meios humanos, financeiros e materiais para todas as tarefas necessárias.
(ii) Comentário do editor LG (a propósito da Op Cabeça Rapada( (***):
É um número impressionante de trabalhadores de etnia fula e mandinga, mas também balanta, naturais dos regulados de Badora (e talvez do Corubal). Desconheço se foram recrutados "voluntariamente" e "devidamente pagos"... É muito provável que tenham sido apenas pagos em géneros: em alimentação e mais um suplemento em arroz... A tradição da administração colonial, antes do início da guerra, e teoricamente até pelo menos a 1961, era a do "trabalho forçado", puro e duro (...).
Recorde-se que, segundo a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), "a população de um modo geral é-nos favorável [no sector L1], sendo de destacar o regulado de Badora que tem como Chefe/Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus" (sic).
Tudo com o aval do Comandante-chefe e teve o nome de “Operação Cabeça Rapada”. Desenrolou-se de finais de Março a meados de Maio de 69, talvez por seis fases ou seis operações [na realidade, quatro.]
O objectivo era capinar – cortar e desmatar – toda a vegetação numa faixa de trinta ou quarenta metros, talvez mais, para lá do arame que delimitava o perímetro de Mansambo e igualmente, em largura, uma faixa similar para lá das bermas das estradas (picadas) de Mansambo a Bambadinca e daqui até ao Xime. Só nas zonas mais propícias a emboscadas.
Outras desmatações menores, à volta de algumas Tabancas, por exemplo Amedalai e outros locais, sofreram igual corte.
Estas Operações queriam vincar três pontos:
Análise despretensiosa e sem petulância minha. É uma não análise… talvez.
As populações envolveram-se fortemente depois do excelente planeamento. Muitas centenas, talvez um ou dois milhares de civis, muitos militares [na realidade, 7 mil, na Op Cabeça Rapada I], e uma logística enorme: viaturas civis e militares, alimentação e uma bem montada segurança, próxima e afastada, para dissuadir ou minimizar o efeito de qualquer ataque e, também, colaborar activamente com apoio rápido à resolução de algum acidente e incidente.
Não seria difícil ao IN disparar umas morteiradas e provocar o pânico. Uma ou duas granadas eram suficientes. Não o fez e nós não sabíamos, quantos daqueles homens eram simpatizantes deles e trabalhavam naquela desmatação para obterem informações. Havia certamente.
Lembro-me da enorme confusão da manhã do primeiro dia. Eram muitas centenas e centenas de homens e suas catanas a chegarem a Mansambo. Organizar tudo seria tarefa difícil mas foi conseguido.
A nossa missão, a do meu Grupo, era outra e rapidamente saímos do aquartelamento para a segurança. No fim de toda esta Operação, faseada e por tanto tempo, quando acabou uma dúvida, em mim, se levantou: "Aquela desmatação não iria abrir o campo de tiro ao IN?".
Caí, em meados de Maio, numa forte emboscada no Pontão do Almami e, em inicio de Abril, já tinha havido outra no mesmo local. Felizmente as árvores que ladeavam a estrada foram poupadas.
No dia 28 de Maio de 1969 a sede do Batalhão, em Bambadinca, foi atacada pela primeira vez. As tabancas de Taibatá, Moricanhe e Amedalai, sofreram igualmente ataques.
Era a represália do IN. Teve auxílio vindo do Sul e do Norte? Certamente. Mas provava que estava vivo e não fora aniquilado na Lança Afiada e esta não respeitara certas regras básicas de contra guerrilha. O IN não foi aniquilado. Tanto assim que começou a bater forte, a tentar infiltrar-se e a exigir um esforço maior de contenção das NT.
Nada de relevante ou muito grave aconteceu até ao fim da nossa Comissão, em finais de Novembro de 1969. Emboscadas, ataques a tabancas e aquartelamento, umas baixas sempre lastimáveis e uma ou outra operação igual a tantas outras. A rotina habitual com ou sem desmatações. Embarcámos em 4 de Dezembro de 1969 [de regresso a casa]. (...)
Recorde-se que, segundo a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), "a população de um modo geral é-nos favorável [no sector L1], sendo de destacar o regulado de Badora que tem como Chefe/Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus" (sic).
Tratava-se do tenente de 2ª linha Mamadu Bonco Sanhá ( que será fuzilado, sem julgamento, pelo PAIGC a seguir à independência), "um homem (...) já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população [balantas, biafadas e mandingas...] fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (História do BCAÇ 2852... Cap. II, pag. 1).
Conheci o tenente de 2ª classe, régulo e chefe máximo das milícias de Badora.O quer se dizia sobre ele era manifestamente exagerado: o tenente Mamadu Bonco Sanhá era respeitado e sobretudo temido pelos seus súbditos, mas é manifestamente grosseiro, etnocêntrico e até ofensivo dizer que a população, muçulmana, o "considerava como um Deus"... Convenhamos que é uma figura de estilo"...
Conheci o tenente de 2ª classe, régulo e chefe máximo das milícias de Badora.O quer se dizia sobre ele era manifestamente exagerado: o tenente Mamadu Bonco Sanhá era respeitado e sobretudo temido pelos seus súbditos, mas é manifestamente grosseiro, etnocêntrico e até ofensivo dizer que a população, muçulmana, o "considerava como um Deus"... Convenhamos que é uma figura de estilo"...
O administrador do concelho de Bafaté (Guerra Ribeiro) e o régulo de Badora eram, na altura, figuras poderosas, com capacidade para recrutar milhares de braços...
Recorde-se que, segundo a Convenção nº 29 da OIT - Organização Internacional do Trabalho (adotada em 1930, e ratificada por Portugal em... 1956)), trabalho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente (nº 1 do artº 2ª)... Mas depois havia as exceções do nº 2 do artº 2º...
Recorde-se que, segundo a Convenção nº 29 da OIT - Organização Internacional do Trabalho (adotada em 1930, e ratificada por Portugal em... 1956)), trabalho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente (nº 1 do artº 2ª)... Mas depois havia as exceções do nº 2 do artº 2º...
(iii) Comentário do Torcato Mendonça (1944-2021) (vd. poste P9541) (****):
(...) Vou tentar contar-vos, sem grandes pormenores, a maior operação de Acção Psico Social – chamemos-lhe assim – a que assisti. Bem planeada e meticulosamente preparada por quem sabia.
Tudo com o aval do Comandante-chefe e teve o nome de “Operação Cabeça Rapada”. Desenrolou-se de finais de Março a meados de Maio de 69, talvez por seis fases ou seis operações [na realidade, quatro.]
O objectivo era capinar – cortar e desmatar – toda a vegetação numa faixa de trinta ou quarenta metros, talvez mais, para lá do arame que delimitava o perímetro de Mansambo e igualmente, em largura, uma faixa similar para lá das bermas das estradas (picadas) de Mansambo a Bambadinca e daqui até ao Xime. Só nas zonas mais propícias a emboscadas.
Outras desmatações menores, à volta de algumas Tabancas, por exemplo Amedalai e outros locais, sofreram igual corte.
Estas Operações queriam vincar três pontos:
- dizer que o IN tinha sido derrotado na Operação Lança Afiada [, 8.19 de março de 1969];
- mostrar que as populações estavam com as NT;
- fortalecer o slogan “Por uma Guiné Melhor”.
Análise despretensiosa e sem petulância minha. É uma não análise… talvez.
As populações envolveram-se fortemente depois do excelente planeamento. Muitas centenas, talvez um ou dois milhares de civis, muitos militares [na realidade, 7 mil, na Op Cabeça Rapada I], e uma logística enorme: viaturas civis e militares, alimentação e uma bem montada segurança, próxima e afastada, para dissuadir ou minimizar o efeito de qualquer ataque e, também, colaborar activamente com apoio rápido à resolução de algum acidente e incidente.
Não seria difícil ao IN disparar umas morteiradas e provocar o pânico. Uma ou duas granadas eram suficientes. Não o fez e nós não sabíamos, quantos daqueles homens eram simpatizantes deles e trabalhavam naquela desmatação para obterem informações. Havia certamente.
Lembro-me da enorme confusão da manhã do primeiro dia. Eram muitas centenas e centenas de homens e suas catanas a chegarem a Mansambo. Organizar tudo seria tarefa difícil mas foi conseguido.
A nossa missão, a do meu Grupo, era outra e rapidamente saímos do aquartelamento para a segurança. No fim de toda esta Operação, faseada e por tanto tempo, quando acabou uma dúvida, em mim, se levantou: "Aquela desmatação não iria abrir o campo de tiro ao IN?".
Caí, em meados de Maio, numa forte emboscada no Pontão do Almami e, em inicio de Abril, já tinha havido outra no mesmo local. Felizmente as árvores que ladeavam a estrada foram poupadas.
No dia 28 de Maio de 1969 a sede do Batalhão, em Bambadinca, foi atacada pela primeira vez. As tabancas de Taibatá, Moricanhe e Amedalai, sofreram igualmente ataques.
Era a represália do IN. Teve auxílio vindo do Sul e do Norte? Certamente. Mas provava que estava vivo e não fora aniquilado na Lança Afiada e esta não respeitara certas regras básicas de contra guerrilha. O IN não foi aniquilado. Tanto assim que começou a bater forte, a tentar infiltrar-se e a exigir um esforço maior de contenção das NT.
Só em meados de Agosto. o IN veio a sofrer um forte revés e ficou decapitado - como sinónimo de sem comando [, o comandante Mamadu Indjai, gravememte ferido em emboscada montada por forças da CART 2339].
Nada de relevante ou muito grave aconteceu até ao fim da nossa Comissão, em finais de Novembro de 1969. Emboscadas, ataques a tabancas e aquartelamento, umas baixas sempre lastimáveis e uma ou outra operação igual a tantas outras. A rotina habitual com ou sem desmatações. Embarcámos em 4 de Dezembro de 1969 [de regresso a casa]. (...)
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Notas do editor:
(***) Vd. poste de 9 de hjaneiro de 2020 : Guiné 61/74 - P20541: Questões politicamente (in)correctas (48): Op Cabeça Rapada I, II, III e IV, no setor L1 (Bambadinca), março-maio de 1969: mobilizados milhares de civis, recrutados pela administração do concelho de Bafatá... Não sabemos se foram "voluntários" e "devidamente remunerados"... (Luís Graça / Torcato Mendonça / Albano Gomes / Carlos Marques Santos)
Vd.também postes de:
24 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1459: Fotos Falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Operação Cabeças Rapadas (Estrada Bambadinca-Xitole, Março / Maio de 1969)
22 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P449: Mais de 7 mil nativos em trabalhos de desmatação (Mansambo, 1969) (Luís Graça)
(****) Vd. poste de 7 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9541: Nós da memória (Torcato Mendonça) (12): Cabeça Rapada - Fotos falantes IV
domingo, 9 de julho de 2023
Guiné 61/74 - P24463: Parabéns a você (2185): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, 1.º Cabo Mec Auto Rodas da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24449: Parabéns a você (2184): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63)
sábado, 9 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23417: Parabéns a você (2080): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23394: Parabéns a você (2079): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
Nota do editor
Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23394: Parabéns a você (2079): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Guiné 61/74 - P22353: Parabéns a você (1976): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de Julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22341: Parabéns a você (1975): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63)
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21782: Notas de leitura (1336): Os serviços de saúde militar e a guerra colonial - II (e última) Parte (Luís Graça)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > 1970 > Destacamento de Nhabijões > Assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões, maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato", tanto a norte do Cuor como ao longo da margem direita do Rio Corubal, nos subsetores do Xime e do Xitole). Como se vê, a consulta médica era muito pouco privada... Além disso, o médico (neste caso, o alf mil médico Vidal Saraiva (*), cirurgião, tinha que utilizar os serviços de um intérprete (, que está de pé, ao lado do paciente, que veio diretamente do trabalho, na bolanha). Ao canto superior esquerdo, há um tabuleta em madeira onde se lê: "Por favor não deitar lixo para o chão".
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]
Nota de leitura - II (e última) Parte
por Luís Graça
Reis, Carlos Vieira – A Guerra Colonial. In: Veloso A. J., Mora, L. D., Leitão, H., (Eds.) (2017). Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By The Book, pp. 492-505
Carlos Vieira Reis é coronel médico e escritor, ex-diretor de serviço de Cirurgia, ex-director clínico do Hospital Militar Principal, ex-presidente da União Mundial dos Escritores Médicos.
Resumo:
A organização e o funcionamento dos serviços de saúde militar, durante a guerra colonial / guerra do ultramar, é um dos cinquenta capítulos da obra verdadeiramente enciclopédica, de que o meu ilustre amigo A. J. Barros Veloso (médico, músico de jazz e historiador, especialista de medicina interna, ex-diretor de serviço do Hospital dos Capuchos, Hospitais Civis de Lisboa) foi o principal editor literário, para não dizer mesmo a verdadeira “alma mater”: “Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX”.
Barros Veloso é, de resto, o autor de 15 capítulos. A obra, com um total 863 páginas, reúne a colaboração de cerca de quatro dezenas de especialistas da história da medicina portuguesa no séc. XX (, incluindo, modéstia à parte, o meu nome, no que diz respeito à génese e desenvolvimento da saúde pública).
Na II parte desta nota de leitura, aborda-se o apoio sanitário que tivemos durante a guerra colonial,com destaque com a experiência do autor como diretor do hospital militar de evacuação, no Luso, Leste de Angola. (**)
(Continuação) (**)
Os primeiros médicos a serem mobilizados para Angola, na sequência dos trágicos acontecimentos de 15 de março de 1961, foram justamente os que tinham acabado de cumprir o serviço militar obrigatório. Ainda não havia carreiras médicas nem internatos de especialidade e o número total de médicos em Portugal em 1960 não ultrapassava os 7, 1 mil (Gráfico nº 1)… E na década seguinte só se formaram mais 1100…
Se compararmos com a situação atual (2017), desde 1960 o número de médicos aumentou mais de 7,3 vezes. O mesmo se passou com os enfermeiros, que evoluíram de uns escassos 9,5 mil, em 1960, para 71,6 mil (em 2017) (7,5 vezes mais).
Com a abertura de mais duas frentes (Guiné, em 23 de janeiro de 1963, e Moçambique em 25 de setembro de 1964), as necessidades em pessoal médico militar dispararam, obrigando o exército a recrutar médicos menos jovens. Nas especialidades com menos quadros, chegaram-se a mobilizar médicos com “mais de 45 anos”. E até chefes de serviço hospitalares foram chamados (p. 495).
No caso da enfermagem, a estratégia dos serviços de saúde militar foi outra. Em 1965, foi criado o Regimento de Saúde, em Coimbra, para satisfazer as necessidades crescentes de pessoal sanitário para os vários teatros de operações, e em particular de enfermeiros e maqueiros, recrutados entre o pessoal do contingente geral.
Se compararmos com a situação atual (2017), desde 1960 o número de médicos aumentou mais de 7,3 vezes. O mesmo se passou com os enfermeiros, que evoluíram de uns escassos 9,5 mil, em 1960, para 71,6 mil (em 2017) (7,5 vezes mais).
Com a abertura de mais duas frentes (Guiné, em 23 de janeiro de 1963, e Moçambique em 25 de setembro de 1964), as necessidades em pessoal médico militar dispararam, obrigando o exército a recrutar médicos menos jovens. Nas especialidades com menos quadros, chegaram-se a mobilizar médicos com “mais de 45 anos”. E até chefes de serviço hospitalares foram chamados (p. 495).
No caso da enfermagem, a estratégia dos serviços de saúde militar foi outra. Em 1965, foi criado o Regimento de Saúde, em Coimbra, para satisfazer as necessidades crescentes de pessoal sanitário para os vários teatros de operações, e em particular de enfermeiros e maqueiros, recrutados entre o pessoal do contingente geral.
Imagem do sítio oficial da ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (, reproduzida com a devida vénia...). Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. "O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."
Também por aqui passou, na segunda metade da década de 1960, o nosso camarada Adriano Moreira ("nickname", Admor), ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70 (***)
As NEP mandavam haver um médico por companhia…
De qualquer modo, os quadros de saúde, e nomeadamente os médicos milicianos, vão ser usados até à exaustão. O rácio 1 médico por companhia (160 homens), inicialmente previsto nas NEP, deixou de ser praticável, facto que parece ter escapado ao autor, Carlos Vieira Reis:
“O papel desempenhado pelos médicos no mato teve a maior importância na Guerra Colonial. Cada batalhão era constituído por quatro companhias, cada uma como seu médico, ao qual eram adstritos, um sargento-enfermeiro, e dois ou três maqueiros, apoiados por uma ambulância com material cirúrgico elementar” (p. 496).
Pessoalmente, na Guiné, no meu tempo (1969/71), não conheci nenhum batalhão com 4 médicos, um por companhia. Na melhor das hipóteses havia um médico por batalhão (**)… E também não me recordo de ver ambulâncias no mato...
Por outro lado, o autor, coronel médico Carlos Vieira Reis, antigo o diretor do Hospital Militar Principal (HMP), reconhece que os médicos milicianos, recém-licenciados, depois da frequência, com aproveitamento, do COM – Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, transitavam para a Escola de Serviços de Saúde Militar, na Estrela, junto ao HMP, ali “adquirindo noções muito superficiais de patologia tropical” (sic) (p. 496)... Mas foram justamente estes bravos, médicos, enfermeiros e outros, que “fizeram a cobertura sanitária nos teatros de guerra”.
Para o médico no mato, para além das situações de rotina (vigilância da saúde do pessoal de uma companhia ou batalhão, consultas médicas e de enfermagem, etc.), o que era preocupante eram as “situações de emergência”, tais como “as crises graves de paludismo com febre alta, calafrios e convulsões” ou então “as úlceras duodenais agudas com hematémeses e melenas”, requerendo o transporte aéreo do doente para o “centro cirúrgico mais próximo” (que no caso da Guiné só podia ser o HM 241, em Bissau)…
Nas saídas para o mato, a nível de pelotão, “o apoio sanitário era prestado por enfermeiros ou maqueiros com conhecimentos de primeiros socorros e de reanimação”. Tratando-se de operações a nível de companhia, estava prevista a presença de um médico… Mas isso era o que diziam as NEP, meu caro Carlos Vieira Alves…
Em Bambadinca, no setor L1, nem o médico nem o furriel enfermeiro acompanham os operacionais no mato, fosse um ou mais grupos de combate. Em 1969/71, na Guiné, o pessoal de saúde estava mobilizado, no essencial, para prestar cuidados médicos e de enfermagem à população civil, de acordo com as orientações do Com-Chefe e Governador Geral, o gen Spínola. Boa parte dos recursos da saúde militar foi canalizada para o embrionário serviço regional de saúde da Guiné...
O que se terá passado ao longo dos longos anos da guerra ? As chefias militares sabem que os médicos são escassos e, por isso, um recurso raro e precioso. Viajam de heli ou DO 27, evitando as colunas auto, o risco de minas e armadilhas e de emboscadas. Ficam “acantonados” no aquartelamento, chefiando o “posto médico” da companhia ou batalhão, e são cada vez mais assoberbados pelas tarefas decorrentes da “acção psico-social” (que, diga-se de passagem, está longe de ser uma invenção portuguesa, tendo sido inspirada nas guerras da Argélia e do Vietname, tal com as “aldeias estratégicas” ou “reordenamentos”).
Em Angola, nas zonas “mais calmas”, o serviço de saúde desempenhou “um papel crucial”: “uma pequena equipa constituída pelo médico, o enfermeiro, um maqueiro e o condutor deslocava-se, em dias certos, às várias sanzalas, onde era aguardada por uma multidão”…
Na Guiné, e pela minha experiência, a situação era inversa: em geral, eram as populações que se deslocavam ao “posto médico militar”, em Bambadinca, sede de batalhão e posto administrativo. Mas, com o reordenamento de Nhabijões, ao tempo do BART 2917, o médico também ia, periodicamente, ao destacamento, que ficava a escassos quilómetros da sede do batalhão, mas onde eu e outros voaríamos, num GMC, sob o efeito de uma potente mina A/C já próximo do final da comissão.
De qualquer modo, os quadros de saúde, e nomeadamente os médicos milicianos, vão ser usados até à exaustão. O rácio 1 médico por companhia (160 homens), inicialmente previsto nas NEP, deixou de ser praticável, facto que parece ter escapado ao autor, Carlos Vieira Reis:
“O papel desempenhado pelos médicos no mato teve a maior importância na Guerra Colonial. Cada batalhão era constituído por quatro companhias, cada uma como seu médico, ao qual eram adstritos, um sargento-enfermeiro, e dois ou três maqueiros, apoiados por uma ambulância com material cirúrgico elementar” (p. 496).
Pessoalmente, na Guiné, no meu tempo (1969/71), não conheci nenhum batalhão com 4 médicos, um por companhia. Na melhor das hipóteses havia um médico por batalhão (**)… E também não me recordo de ver ambulâncias no mato...
Por outro lado, o autor, coronel médico Carlos Vieira Reis, antigo o diretor do Hospital Militar Principal (HMP), reconhece que os médicos milicianos, recém-licenciados, depois da frequência, com aproveitamento, do COM – Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, transitavam para a Escola de Serviços de Saúde Militar, na Estrela, junto ao HMP, ali “adquirindo noções muito superficiais de patologia tropical” (sic) (p. 496)... Mas foram justamente estes bravos, médicos, enfermeiros e outros, que “fizeram a cobertura sanitária nos teatros de guerra”.
Para o médico no mato, para além das situações de rotina (vigilância da saúde do pessoal de uma companhia ou batalhão, consultas médicas e de enfermagem, etc.), o que era preocupante eram as “situações de emergência”, tais como “as crises graves de paludismo com febre alta, calafrios e convulsões” ou então “as úlceras duodenais agudas com hematémeses e melenas”, requerendo o transporte aéreo do doente para o “centro cirúrgico mais próximo” (que no caso da Guiné só podia ser o HM 241, em Bissau)…
Equipa de saúde: Quem é que saía para o mato ?
Nas saídas para o mato, a nível de pelotão, “o apoio sanitário era prestado por enfermeiros ou maqueiros com conhecimentos de primeiros socorros e de reanimação”. Tratando-se de operações a nível de companhia, estava prevista a presença de um médico… Mas isso era o que diziam as NEP, meu caro Carlos Vieira Alves…
Em Bambadinca, no setor L1, nem o médico nem o furriel enfermeiro acompanham os operacionais no mato, fosse um ou mais grupos de combate. Em 1969/71, na Guiné, o pessoal de saúde estava mobilizado, no essencial, para prestar cuidados médicos e de enfermagem à população civil, de acordo com as orientações do Com-Chefe e Governador Geral, o gen Spínola. Boa parte dos recursos da saúde militar foi canalizada para o embrionário serviço regional de saúde da Guiné...
O que se terá passado ao longo dos longos anos da guerra ? As chefias militares sabem que os médicos são escassos e, por isso, um recurso raro e precioso. Viajam de heli ou DO 27, evitando as colunas auto, o risco de minas e armadilhas e de emboscadas. Ficam “acantonados” no aquartelamento, chefiando o “posto médico” da companhia ou batalhão, e são cada vez mais assoberbados pelas tarefas decorrentes da “acção psico-social” (que, diga-se de passagem, está longe de ser uma invenção portuguesa, tendo sido inspirada nas guerras da Argélia e do Vietname, tal com as “aldeias estratégicas” ou “reordenamentos”).
Em Angola, nas zonas “mais calmas”, o serviço de saúde desempenhou “um papel crucial”: “uma pequena equipa constituída pelo médico, o enfermeiro, um maqueiro e o condutor deslocava-se, em dias certos, às várias sanzalas, onde era aguardada por uma multidão”…
Na Guiné, e pela minha experiência, a situação era inversa: em geral, eram as populações que se deslocavam ao “posto médico militar”, em Bambadinca, sede de batalhão e posto administrativo. Mas, com o reordenamento de Nhabijões, ao tempo do BART 2917, o médico também ia, periodicamente, ao destacamento, que ficava a escassos quilómetros da sede do batalhão, mas onde eu e outros voaríamos, num GMC, sob o efeito de uma potente mina A/C já próximo do final da comissão.
Director do hospital militar de evacuação no Luso,
Região Militar do Leste, Angola
Na segunda parte do artigo, ou melhor, do capítulo do livros (pp.499-503), o autor recorre à sua experiência de diretor do serviço de cirurgia no hospital do Luso, um típico “hospital de evacuação”, no Leste de Angola, por volta de 1970/71.
O Carlos Vieira Reis começa nos confrontar com o contraste entre a “parte militar” e a “parte civil”: de um lado, a chamada Enfermaria de Sector, um pré-fabricado em forma de L, de um só piso, desconfortável, disfuncional, e do outro um magnífico edifício, construído de raiz, onde estava instalado o Hospital Regional do Luso. “O choque, quando se olhava para as duas construções, era de extrema violência e incompreensão” (p. 499).
Não se entendia como, sendo militares, a maior parte dos doentes existentes, se ofereciam “tão miseráveis condições de acolhimento”… E porque não se tinham concentrado todas as actividades num só edifício ? E porquê chamar “enfermaria de sector” e não hospital, como o Hospital Militar de Luanda ?…
Todos os dias o cirurgião recebia vários doentes, trazidos de avião ou de heli, com diversas patologias de guerra, em geral resultantes de minas A/C e A/P. Sobre as minas A/P, diz: (…) "Tinham um efeito terrível. (…) Quando [as vítimas] chegavam às mãos do cirurgião, a maioria das vezes era impossível salvar o membro: ao hospital já chegava um amputado e à pátria regressaria um deficiente” (p. 500).
Também os prisioneiros feridos eram ali tratados, sem distinção, nem discriminação, sendo “a única prioridade no tratamento (…) a gravidade dos ferimentos”… Mas, no final, o cirurgião sabia que estes seus doentes, os do IN, seguiam depois para “interrogatório policial” (PIDE/DGS) (p. 500).
De igual modo, os médicos militares também tratavam a população civil, de origem europeia. Mas aqui o autor faz um retrato pouco simpático do colono branco:
O Carlos Vieira Reis começa nos confrontar com o contraste entre a “parte militar” e a “parte civil”: de um lado, a chamada Enfermaria de Sector, um pré-fabricado em forma de L, de um só piso, desconfortável, disfuncional, e do outro um magnífico edifício, construído de raiz, onde estava instalado o Hospital Regional do Luso. “O choque, quando se olhava para as duas construções, era de extrema violência e incompreensão” (p. 499).
Não se entendia como, sendo militares, a maior parte dos doentes existentes, se ofereciam “tão miseráveis condições de acolhimento”… E porque não se tinham concentrado todas as actividades num só edifício ? E porquê chamar “enfermaria de sector” e não hospital, como o Hospital Militar de Luanda ?…
Todos os dias o cirurgião recebia vários doentes, trazidos de avião ou de heli, com diversas patologias de guerra, em geral resultantes de minas A/C e A/P. Sobre as minas A/P, diz: (…) "Tinham um efeito terrível. (…) Quando [as vítimas] chegavam às mãos do cirurgião, a maioria das vezes era impossível salvar o membro: ao hospital já chegava um amputado e à pátria regressaria um deficiente” (p. 500).
Também os prisioneiros feridos eram ali tratados, sem distinção, nem discriminação, sendo “a única prioridade no tratamento (…) a gravidade dos ferimentos”… Mas, no final, o cirurgião sabia que estes seus doentes, os do IN, seguiam depois para “interrogatório policial” (PIDE/DGS) (p. 500).
De igual modo, os médicos militares também tratavam a população civil, de origem europeia. Mas aqui o autor faz um retrato pouco simpático do colono branco:
“Nunca até tinham tido tão boa assistência. Como reagia ? Com uma mentalidade estreita, focalizada na defesa dum trabalho mal remunerado e no culto do dinheiro; estavam interessados na defesa de Angola e na aniquilação dos terroristas, os ‘turras’, desde que fossem outros a fazê-lo. Que uma geração de jovens viesse sacrificar-se, era uma obrigação da nação onde tinham nascido. Limitavam-se a enriquecer à custa dos negócios e do dinheiro dos soldados” (pp. 500/501).
Não é um retrato edulcorado o do leste de Angola que o autor conheceu como médico militar, e que aqui nos deixa, em tom caricatural:
Não é um retrato edulcorado o do leste de Angola que o autor conheceu como médico militar, e que aqui nos deixa, em tom caricatural:
(…) “Vivia-se numa sociedade de improviso em que os militares eram os que menos improvisavam. As cidades tinham juízes que eram nomeados sem habilitações, presidentes da câmara que nem para escriturários serviam, professores de liceu que nunca tinham acabado o curso liceal” (p. 501).
A actividade médica centrava-se sobretudo na cirurgia. A tal “Enfermaria de Sector”, nestes anos de 1970/71, recebia “75% de todos os feridos e baixas da Região Militar de Angola” (pág. 502).
1700 doentes operados em 14 meses (1970/71)
A actividade médica centrava-se sobretudo na cirurgia. A tal “Enfermaria de Sector”, nestes anos de 1970/71, recebia “75% de todos os feridos e baixas da Região Militar de Angola” (pág. 502).
E, no entanto, tinha um quadro orgânico subdimensionado, com os seus médicos a serem também responsáveis pelos doentes do hospital civil, ao mesmo que as chefias na Região Militar Leste faziam orelhas moucas aos insistentes pedidos de envio de especialistas e “sobretudo de instrumentos cirúrgicos capazes e de ventiladores” (p. 502).
E, falando de quadro orgânico, queria dizer-se… 4 médicos, 1 sargento enfermeiro, 1 cabo auxiliar de enfermeiro e 2 maqueiros!...
Só havia um anestesista e ao ajudante de cirurgião, que se estava a especializar, eram entregues os “casos menos graves”.
Mas, se a penúria de material era grande, dispunha-se do recurso mais precioso nas organizações de saúde e nas demais organizações: o pessoal. O autor tece rasgados elogios à competência e empenhamento dos seus colegas e colaboradores, sempre disponíveis e sem exigências quando tocava a reunir… Vale a pena citar este longo parágrafo,para se perceber as duras condições em que se trabalhava nestes hospitais militares:
“Quando os feridos não chegavam isoladamente, mas em pequenos ou grandes grupos, por vezes mais de duas dezenas de uma só vez, a colaboração de todos os médicos era indispensável quando o cirurgião estava entregue a um dos trabalhos mais dolorosos e desagradáveis da sua especialidade: a triagem por urgência.
“O apoio consistia na estabilização de todos os doentes, desde o combate ao ‘shock’ e à infecção ao suporte endovenoso, às medidas de urgência e à imobilização provisória ou definitiva de fracturas. Mesmo aqueles que se poderiam esquivar a estas tarefas, se entregavam a elas com devoção total.” (p. 502).
Falando em números… Num período de 14 meses (nos anos 70/71), no Luso foram operados 1700 doentes, entre civis e militares, correspondentes a um número necessariamente superior de intervenções, devido, no caso das vítimas de actos de guerra, à presença de “patologias múltiplas: vários tiros ou estihaços, amputações traumáticas, perdas musculares graves, fracturas, queimaduras, além das famosas balas sem orifício de saída,com os trajectos mais aberrantes” (p. 503).
Em resumo, a guerra colonial foi uma experiência marcante para todos os que a fizeram, uns no “front office”, enquanto combatentes, outros no “back office”, como os médicos, os enfermeiros e outros. E isto, indepentemente do teatro de operações que nos coube em sorte. (Para não ferir suscetibilidades, no mato, todos éramos combatentes, tendo pelo menos um farda camuflada e uma G3 distribuída!...
E, falando de quadro orgânico, queria dizer-se… 4 médicos, 1 sargento enfermeiro, 1 cabo auxiliar de enfermeiro e 2 maqueiros!...
Só havia um anestesista e ao ajudante de cirurgião, que se estava a especializar, eram entregues os “casos menos graves”.
Mas, se a penúria de material era grande, dispunha-se do recurso mais precioso nas organizações de saúde e nas demais organizações: o pessoal. O autor tece rasgados elogios à competência e empenhamento dos seus colegas e colaboradores, sempre disponíveis e sem exigências quando tocava a reunir… Vale a pena citar este longo parágrafo,para se perceber as duras condições em que se trabalhava nestes hospitais militares:
“Quando os feridos não chegavam isoladamente, mas em pequenos ou grandes grupos, por vezes mais de duas dezenas de uma só vez, a colaboração de todos os médicos era indispensável quando o cirurgião estava entregue a um dos trabalhos mais dolorosos e desagradáveis da sua especialidade: a triagem por urgência.
“O apoio consistia na estabilização de todos os doentes, desde o combate ao ‘shock’ e à infecção ao suporte endovenoso, às medidas de urgência e à imobilização provisória ou definitiva de fracturas. Mesmo aqueles que se poderiam esquivar a estas tarefas, se entregavam a elas com devoção total.” (p. 502).
Falando em números… Num período de 14 meses (nos anos 70/71), no Luso foram operados 1700 doentes, entre civis e militares, correspondentes a um número necessariamente superior de intervenções, devido, no caso das vítimas de actos de guerra, à presença de “patologias múltiplas: vários tiros ou estihaços, amputações traumáticas, perdas musculares graves, fracturas, queimaduras, além das famosas balas sem orifício de saída,com os trajectos mais aberrantes” (p. 503).
Em resumo, a guerra colonial foi uma experiência marcante para todos os que a fizeram, uns no “front office”, enquanto combatentes, outros no “back office”, como os médicos, os enfermeiros e outros. E isto, indepentemente do teatro de operações que nos coube em sorte. (Para não ferir suscetibilidades, no mato, todos éramos combatentes, tendo pelo menos um farda camuflada e uma G3 distribuída!...
Gostaria,todavia, que se falasse aqui mais das particularidades da saúde e dos serviços de saúde da Guiné, incluindo o papel (excecional) que no CTIG desempenharam os nossos 1ºs cabos e soldados auxiliares de enfermeiro, muitas vezes injustamente arrumados na categoria de “maqueiros”: salvaram muitas vidas nossas no mato, na ausência de médico e de enfermeiro, e enquanto o "anjo do céu" não chegava...
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Notas do editor:
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16251: In Memoriam (260): Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva (1936-2015), especialista em Cirurgia Geral, ex-alf mil med CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, nov 1969/jun 1970) e HM 241 (Bissau, 1970)... Está sepultado em Valadares, V. N. Gaia. Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 720, a título póstumo.
(**) Vd. poste de 19 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21781: Nota de leitura (1335): Os serviços de saúde militar e a guerra colonial - Parte I (Luís Graça)
(****) Vd., entre outros, os postes de:
quinta-feira, 9 de julho de 2020
Guiné 61/74 - P21153: Parabéns a você (1836): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Meânico Auto (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de Julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21149: Parabéns a você (1835): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
terça-feira, 9 de julho de 2019
Guiné 61/74 - P19959: Parabéns a você (1651): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19955: Parabéns a você (1650): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Guiné 61/74 - P18827: Parabéns a você (1468): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18822: Parabéns a você (1467): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
domingo, 9 de julho de 2017
Guiné 61/74 - P17560: Parabéns a você (1285): Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70); Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17556: Parabéns a você (1284): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Guiné 61/74 - P16969: Agenda cultural (536): Lançamento do livro "O General Eanes e a História Recente de Portugal - II Volume", por M. Vieira Pinto, Âncora Editora, apresentação do Embaixador Francisco Henriques da Silva, dia 25 de Janeiro de 2017, às 15,00 horas, no Museu do Combatente, Forte do Bom Sucesso, Lisboa (Manuel Barão da Cunha)
C O N V I T E
3 anos após a publicação do I volume do livro "O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal", M. Vieira Pinto[1] lança o II Volume, no dia em que o General comemora o seu 82.º aniversário.
A obra será apresentada pelo Embaixador Dr. Francisco Henriques da Silva e pela Mestre Sílvia Torres.
A sessão, integrada nas comemorações do 8.º aniversário do Programa Fim do Império, terá lugar no próximo dia 25 de Janeiro, quarta-feira, às 15:00 horas, no Museu do Combatente, Forte do Bom Sucesso (junto à Torre de Belém), Lisboa.
«Ramalho Eanes, que estava em serviço em Angola, não participou no movimento do dia 25, mas sendo imediatamente chamado a Lisboa, foi, usando o seu prestígio e autoridade pessoais, um agente fundamental da evolução para a nova constitucionalização de Portugal, impedindo o triunfo dos extremismos e apoiando a entrega do poder ao eleitorado. Pondo de lado pequenos incidentes, pelo prestígio militar, e sabedoria ganha no conhecimento vivido da maior parte do findo império, foi conduzido pelas Forças Armadas aos mais altos postos, destacando-se, nesse processo complexo, ter sido eleito, por maioria esmagadora, Presidente da República, em 1976, por isso Comandante Supremo das Forças Armadas, mais a Chefia do Estado-Maior das Forças Armadas, e Presidente do Conselho da Revolução.»
(Excerto do testemunho de Adriano Moreira)
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[1] - Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto é licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa.
Foi quadro, administrador e consultor de diversas empresas privadas, públicas, e de serviços públicos.
Presidiu aos Conselhos Directivos do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e do Gabinete Português de Estudos Humanísticos.
Desempenhou, como catedrático convidado, funções docentes no ensino superior particular, de que foi fundador com várias personalidades.
É autor de algumas obras de natureza técnica, didáctica, histórica e biográfica, entre elas, "Adriano – Vida e obra de um grande português" (2010, DG Edições), tendo também participado no 6.º livro da colecção «Fim do Império», Memórias do Oriente, de Dias Antunes.
(Com a devida vénia a Âncora Editora)
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de janeiro de 2017 Guiné 61/74 - P16921: Agenda cultural (536): dia 6, sexta-feira, às 15h00, no ISCPS, polo universitário da Ajuda, Lisboa: conferência anual da CCIPGB/ISCSP sobre a Guiné-Bissau: Guiné-Bissau. Governança e Mercado: Região da CEDEAO
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Tertúlias Fim do Império
sábado, 9 de julho de 2016
Guiné 63/74 - P16286: Parabéns a você (1107): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16283: Parabéns a você (1106): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14852: Parabéns a você (933): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14848: Parabéns a você (932): Jose Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
Nota do editor
Último poste da série de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14848: Parabéns a você (932): Jose Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Guiné 63/74 - P13379: Parabéns a você (760): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de Guiné 63/74 - P13373: Parabéns a você (759): José Zeferino, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4616 (Guiné, 1973/74)
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Guiné 63/74 - P12393: O que é que a malta lia, nas horas vagas (6): Banda desenhada, coboiadas e o meu livro de cabeceira, "Manual de Medicina Doméstica", do dr. Samuel Maia, de mil páginas, que tinha como subtítulo "higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência" (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)
Anúncio do livro de Samuel Maia, "Manual de Medicina Doméstica" [1ª edição, Portugal-Brazil, 1910], in Ilustração, nº 242, 16 de janeiro de 1936, nº 242, 11º ano [Revista que custava na época 5$00 escudos, e era Propriedade da Livraria Bertrand.] (Cortesia da Hemeroteca Municipal de Lisboa...)
1. Comentário (*) do nosso camarada Adriano Moreira [, ex-fur mil, enf, CART 2412, 1968/70, foto da época, à esquerda]
É engraçado, na Guiné
em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até
qualquer arremedo de biblioteca. Não tenho ideia nenhuma de mesmo em Bigene
haver.
Sendo assim só li banda desenhada e cowboyadas [coboiadas].
O único livro sério que levei e li as vezes que precisei, foi o Manual
de Medicina Doméstica, escrito pelo
médico dos Hospitais de Lisboa, Samuel
Maia.
Ajudou-me muitas vezes a tirar dúvidas e a proceder mais
correctamente onde os meus apontamentos eram demasiado vagos, ou em capítulos [em que esses apontamentos eram omissos].
Por aquilo que me lembro, achava também que não tinha o ambiente adequado
à leitura de grandes obras.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira,
Ex-Fur Mil Enf, Cart 2412
Bigene, Binta,
Guidage, Barro.
2. Comentário de L.G.:
É verdade, Adriano, a Guiné (, não digo Bissau ou Bubaque...) não foi propriamente uma colónia de férias para a maior parte de nós... Dizes, e muito bem, que no mato não havia "o ambiente adequado à leitura de grandes obras"... Muitos dos nossos aquartelamentos eram um amontoado de chapas de bidão, troncos de cibe e argamaça, a que chamavamos abrigos...
A segurança era a nossa primeira preocupação. E só muito depois é que vinha a decência, o conforto, o bem-estar (físico)... Alguns de nós levaram livros para a "comissão de serviço" no TO da Guiné, mas depressa nos apercebemos que não estávamos propriamente em férias, num país tropical...
Por outro lado, poucos dos oficiais, que nos comandavam, se preocupavam com o que fazer nas "horas vagas" (... e muito menos com "os nossos seres, saberes e lazeres")... Alguns incentivaram, e bem, a criação de postos escolares militares, abertos à população local amis jovem e às praças sem a escolaridade obrigatória (na época, equivalente à 4ª classe)...
Tínhamos, à epoca da guerra colonial, um problema sério de analfabetismo na população portuguesa, sem falar do analfatismo funcional (aplicável aos individuos que, mesmo sabendo "ler, escrever e contar", não tinham desenvolvido a capacidade de interpretar textos e fazer operações matemáticas). Recorde-se que em 1960, segundo o o censo, a percentagem da população residente com 10 e mais anos que não sabia ler nem escrever era de 26,6% e 39% para os homens e para as mulheres, respetivamente. Baixou, em 1970, para 19,7% e 31%, respetivamente. Infelizmente, não dispomos de dados do analfabetismo por grupos etários... (Fonte: Pordata > Analfabetismo).
As nossas praças, sem escolaridade obrigatória, iam em geral para os serviços básicos (cozinha, etc.). Eram, depreciativamente, apelidados de "básicos". Na minha CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), havia dois soldados básicos o João Fernando R. Silva e o Salvador J. P. Santos, num total de meia centena de quadros e especialistas de origem metropolitana, E dos soldados dos recrutamento local, em cerca de 100, só 1 (o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé) sabia ler e escrever português...
Mas quantos aquartelamentos dispunham de "bliotecas ou de arremedos de bibliotecas" (leia-se: um armário com livros) ? A tua pergunta é pertinente. E a tua resposta, espontânea, sincera, nada tem de "provocador": "É engraçado, na Guiné em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até qualquer arremedo de biblioteca"
Ou seja, por onde andaste, em 1968/70, na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidaje, Barro) não te lembras de ver umas simples prateleiras de livros, à disposição de oficiais, sragentos e praças... Restavam-te os livrinhos aos "quadradinhos", as coboiadas... e o teu livro de cabeceira, que para um furriel enfermeiro era uma "ferramenta de trabalho", o célebre "manual" do dr. Samuel Maia, de cerca de mil página, que tinha um título do tamanho de um comboio: Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência... Segundo as minhas contas, a primeira edição deveria remontar a 1910. Foi tendo sucessivas reedições, e pelo que vejo chegou ao teu/nosso tempo!
Fui encontrar, na revista Ilustração (num exemplar disponível, "on line", digitalizado pela valiosíssima Hemeroteca Municipal de Lisboa, correspondente á edição de 16/1/1936), um anúncio do "teu" manual... Faço questão de publicar a respetiva imagem, em tua honra e dos nosos bravos furrieis enfermeiros...
Já agora ficas a saber algo mais sobre o Samuel Maia, um um escritor popularíssimo, polifacetado, autor de vários bestsellers, no campo da literatura de divulgação médica, mas também da ficção e de outros domínios, e hoje completamente esquecido. Sobre ele diz a Infopédia o seguinte:
Médico, romancista, poeta e dramaturgo português, de nome completo Samuel Domingos Maia de Loureiro, nascido em 1874, em Ribafeira, Viseu, e falecido em 1951, em Lisboa. A ficção de Samuel Maia reflete uma evolução da tradição naturalista para a narrativa regionalista, centrada no contexto social e geográfico beirão. Colaborou em publicações periódicas como O Século, Jornal de Notícias, Diário Populare Ilustração. Fonte: Samuel Maia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05]. Disponível na www:
2. Comentário de L.G.:
É verdade, Adriano, a Guiné (, não digo Bissau ou Bubaque...) não foi propriamente uma colónia de férias para a maior parte de nós... Dizes, e muito bem, que no mato não havia "o ambiente adequado à leitura de grandes obras"... Muitos dos nossos aquartelamentos eram um amontoado de chapas de bidão, troncos de cibe e argamaça, a que chamavamos abrigos...
A segurança era a nossa primeira preocupação. E só muito depois é que vinha a decência, o conforto, o bem-estar (físico)... Alguns de nós levaram livros para a "comissão de serviço" no TO da Guiné, mas depressa nos apercebemos que não estávamos propriamente em férias, num país tropical...
Por outro lado, poucos dos oficiais, que nos comandavam, se preocupavam com o que fazer nas "horas vagas" (... e muito menos com "os nossos seres, saberes e lazeres")... Alguns incentivaram, e bem, a criação de postos escolares militares, abertos à população local amis jovem e às praças sem a escolaridade obrigatória (na época, equivalente à 4ª classe)...
Tínhamos, à epoca da guerra colonial, um problema sério de analfabetismo na população portuguesa, sem falar do analfatismo funcional (aplicável aos individuos que, mesmo sabendo "ler, escrever e contar", não tinham desenvolvido a capacidade de interpretar textos e fazer operações matemáticas). Recorde-se que em 1960, segundo o o censo, a percentagem da população residente com 10 e mais anos que não sabia ler nem escrever era de 26,6% e 39% para os homens e para as mulheres, respetivamente. Baixou, em 1970, para 19,7% e 31%, respetivamente. Infelizmente, não dispomos de dados do analfabetismo por grupos etários... (Fonte: Pordata > Analfabetismo).
As nossas praças, sem escolaridade obrigatória, iam em geral para os serviços básicos (cozinha, etc.). Eram, depreciativamente, apelidados de "básicos". Na minha CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), havia dois soldados básicos o João Fernando R. Silva e o Salvador J. P. Santos, num total de meia centena de quadros e especialistas de origem metropolitana, E dos soldados dos recrutamento local, em cerca de 100, só 1 (o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé) sabia ler e escrever português...
Mas quantos aquartelamentos dispunham de "bliotecas ou de arremedos de bibliotecas" (leia-se: um armário com livros) ? A tua pergunta é pertinente. E a tua resposta, espontânea, sincera, nada tem de "provocador": "É engraçado, na Guiné em todos os sítios onde estive, acho que nenhum tinha biblioteca ou até qualquer arremedo de biblioteca"
Ou seja, por onde andaste, em 1968/70, na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidaje, Barro) não te lembras de ver umas simples prateleiras de livros, à disposição de oficiais, sragentos e praças... Restavam-te os livrinhos aos "quadradinhos", as coboiadas... e o teu livro de cabeceira, que para um furriel enfermeiro era uma "ferramenta de trabalho", o célebre "manual" do dr. Samuel Maia, de cerca de mil página, que tinha um título do tamanho de um comboio: Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência... Segundo as minhas contas, a primeira edição deveria remontar a 1910. Foi tendo sucessivas reedições, e pelo que vejo chegou ao teu/nosso tempo!
Fui encontrar, na revista Ilustração (num exemplar disponível, "on line", digitalizado pela valiosíssima Hemeroteca Municipal de Lisboa, correspondente á edição de 16/1/1936), um anúncio do "teu" manual... Faço questão de publicar a respetiva imagem, em tua honra e dos nosos bravos furrieis enfermeiros...
Já agora ficas a saber algo mais sobre o Samuel Maia, um um escritor popularíssimo, polifacetado, autor de vários bestsellers, no campo da literatura de divulgação médica, mas também da ficção e de outros domínios, e hoje completamente esquecido. Sobre ele diz a Infopédia o seguinte:
Médico, romancista, poeta e dramaturgo português, de nome completo Samuel Domingos Maia de Loureiro, nascido em 1874, em Ribafeira, Viseu, e falecido em 1951, em Lisboa. A ficção de Samuel Maia reflete uma evolução da tradição naturalista para a narrativa regionalista, centrada no contexto social e geográfico beirão. Colaborou em publicações periódicas como O Século, Jornal de Notícias, Diário Populare Ilustração. Fonte: Samuel Maia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-05]. Disponível na www:
Por mera curiosidade, tens a seguir uma lista de 49 títulos do Samuel Maia, de acordo com a pesquisa feita na Porbase - Biblioteca Nacional.
Sabemos que foi também diretor da Ilustração, entre 1933 e 1935. Formado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, nos finais do séc. XIX), o médico viseense é, além disso, considerado um escritor, ficcionista, de algum mérito, como antecessor do neorrealismo, com direito a referência na clássica História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes.
___________
Notas do editor:
(**) Lista de obras da autoria de Samuel Maia (Viseu, 1874 -
Lisboa, 1951), de acordo com pesquisa na Porbase -Biblioteca Nacional
(organizada por ordem alfabética dos títulos)
[Foto do autor, à direita. Cortesia da página do Instituto Politécnico de Viseu]
Lisboa, 1951), de acordo com pesquisa na Porbase -Biblioteca Nacional
(organizada por ordem alfabética dos títulos)
[Foto do autor, à direita. Cortesia da página do Instituto Politécnico de Viseu]
A actividade celular e o vinho / Maurice Loeper ; com uma
nota prévia do Dr. Samuel Maia. Lisboa : Ministério da Agricultura, 1937.
Acção das cantinas
escolares / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa : Instituto Geral das Artes
Graphicas, 1909.
Augusto Monjardino / Francisco Gentil, Ferreira de Mira,
Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1941.
Banhos de sol / Amílcar de Sousa ; pref. de Samuel Maia. Porto : Livr. Civilização, 1937.
Boa comida gôsto da vida : as velhas dietas e as actuais /
Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1940.
Braz Cadunha / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 192 .
Breviário de medicina preventiva : para uso das famílias /
Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1942.
Congresso Nacional de Mutualidade : da acção da mutualidade maternal e infantil : criação de maternidades e de dispensários de assistencia infantil : as gotas de leite / Samuel Maia. [S.l. : s.n., 1900.
Congresso Nacional de Mutualidade : da acção da mutualidade maternal e infantil : criação de maternidades e de dispensários de assistencia infantil : as gotas de leite / Samuel Maia. [S.l. : s.n., 1900.
Dona sem dono / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1935.
Elogio do vinho / Samuel Maia. Lisboa : Livraria Bertrand. 1932.
Entre a vida e a morte / Samuel Maia. Lisboa: Rio de
Janeiro : Companhia Editora Americana : Portugal-Brasil, 1920.
Este mundo e o outro / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 1937.
Folclore e turismo / Samuel Maia. Lisboa : [s.n.], 1936.
História maravilhosa de Dom Sebastião imperador do Atlântico / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 19 .
História maravilhosa de Dom Sebastião Imperador do Atlântico
/ Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1940.
Lingua de prata / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa : Portugal Brasil, 192 .
Lingua de prata / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 19
.
Livro da alma : versos / Samuel Maia. Porto : Oficina
Occidental, 1894.
Luz perpétua : romance / Samuel Maia de Loureiro. Lisboa :
Portugal-Brasil, 1923.
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 6a ed. [S.l. : s.n.], 1947.
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 5a ed. Lisboa :
Bertrand, 194 .
Manual de medicina doméstica : higiene, dietética, gimnástica, enfermagem, farmácia caseira, definição e tratamento das doenças, socorros de urgência / Samuel Maia. 5a ed. Lisboa : Bertrand, 19 .
Manual de medicina doméstica / Samuel Maia. 4a ed. [S.l. : s.n.], 1940.
Manual de Medicina Doméstica / Samuel Maia. Segunda edição /
Por Samuel Maia... Lisboa : Livr. Bertrand Rio de Janeiro : Livr. Francisco
Alves. 1934.
Methodo de leitura / Samuel Maia. Porto : José Figueirinhas
Júnior, 1904.
Mudança de ares / Samuel Maia. 2a ed. [S.l. : s.n., 1938.
O diabo da meia-noite : romance / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 19 .
O diabo da meia-noite : romance / Samuel Maia. Lisboa :
Bertrand, 194 .
O meu menino / Samuel Maia. 10a ed. Lisboa : Bertrand, 1961.
O meu menino : como o hei-de gerar criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. Nova ed. Lisboa : Bertrand, 1955.
O meu menino / Samuel Maia. 6a ed. [S.l. : s.n.], 1944.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. Sétima edição. Lisboa : Livr. Bertrand, 1940.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se adoecer / Samuel Maia. 4a ed. Lisboa : Bertrand, 1938.
O meu menino / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 1920.
O meu menino : como o hei-de gerar, criar e tratar se
adoecer / Samuel Maia. 2a ed. Lisboa : Portugal Brasil, 1915.
O vinho : propriedades e aplicações / Samuel Maia. [S.l. :
s.n.]. 1936.
O vinho : propriedades e aplicações : resumo de comunicações
e pareceres aprovados nos últimos congressos médicos / Samuel Maia. 2a ed.
Lisboa : Imprensa Portugal-Brasil. 1936.
Por terras estranhas / Samuel Maia. Lisboa : Typ. Mendonça, 19 .
Quem não viu / Samuel Maia. Lisboa : Bertrand, 194 .
Quentura sadia, friamente doentia / colab. Samuel Maia.
Porto : Lit. Nacional, 1939.
Sexo forte / Manuel Maia. 4a ed. [S.l. : s.n.], 1941.
Sexo forte / Samuel Maia. 3a ed. [S.l. : s.n.], 1935.
Sexo forte / Samuel Maia. Lisboa : Portugal-Brasil, 1917.
Tratamento da prisão de ventre / Samuel Maia. Lisboa : Ofic. Ilustração Portugueza. 1915.
Variantes de prosódia / Samuel Maia. [S.l. : s.n.], 1948.
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domingo, 3 de novembro de 2013
Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)
1. Comentário, ao poste P12241 (*), por parte do Adriano Moreira [, foto à direita, ao tempo da CART 2412, 1968/70]:
(...) Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.
Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma.
Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento. Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.
Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos. (...)
Caros Camaradas,
O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º Grupo de Combate da CArt 2412 [Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70] e, para que fique bem claro, eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.
Terá sido em Maio ou Junho de 1969, estávamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal.
Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião, deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.
Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes, chegando a dizer-lhe para ele sair fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que levou à sua despromoção.
Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação, possivelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º Grupo de Combate da CArt 2412 [Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70] e, para que fique bem claro, eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.
Terá sido em Maio ou Junho de 1969, estávamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal.
Depois de reunido o seu Grupo, chegou à conclusão que com ele os furrieis e praças somavam 14 ou 15 efectivos, pelo que foi falar com o Comandante da Companhia, dizendo-lhe que achava um efectivo demasiado exíguo para a missão que lhe estava a ser atribuída.
Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião, deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.
Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes, chegando a dizer-lhe para ele sair fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que levou à sua despromoção.
Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação, possivelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Tenho muita pena que tudo isto tenha acontecido, principalmente a sua morte, pois ainda em Setembro passado fiz todos os esforços para ele vir à nossa reunião de graduados da Cart 2412, mas ele tinha sido precisamente internado nessa semana.
Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
________________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 2 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12241: In Memoriam (166): Manuel Silvério, ex-2.º Sargento Miliciano da CCAÇ 2382 (Idálio Reis)
Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma.
Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos. (...)
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Guiné 63/74 - P11879 Os nossos enfermeiros (10): Tenho uma dívida de gratidão para com o fur mil enf Moita, da CART 1745, que tratou do corpo do meu infeliz 1º cabo enf Louro, o João Batista da Silva, o Louro, natural de Louro, Vila Nova de Famalicão, morto em combate em 21/9/1968, em Talicó, Sambuiá (Adriano Moreira)
Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Pormenor onumento erigido à memória do 1º cabo enf João Batista da Silva, o Louro, e que foi destruído a seguir à independência.
Fotos (e legenda): © Afonso M.F. Sousa (2006). Todos os direitos reservados.
1. Comentário do Adriano Moreiro (nome de guerra, Admor), com data de hoje, ao poste P11869
Agora digo eu: Porra Armando, Porra Luís!
Depois do Armando atirar aos olhos de toda a gente o nosso prestimoso e insignificante papel de enfermeiros e até de médicos nestas situações, ainda vem o Luís atirar-me aos olhos com o antigo poste do meu camarada Afonso Sousa e com o monumento lapidar do meu melhor e infeliz cabo enfermeiro, morto numa emboscada em Talicó, Sambuiá [, vd. carta de Binta], pelos guerrilheiros do PAIGC, passado cerca de mês e meio de termos chegado à Guiné.
Sabem o que eu vejo naquele monumento erigido à sua memória? A cabeça do Louro, só presa ao corpo pela cervical, quase decepada.
(**) Unidades que passaram por Barro (nota de A. Marques Lopes)
(...) Companhia de Artilharia n.° 2412
Divisa: "Sempre Diferentes"
Partida: Embarque em 11 de Agosto de 1968; desembarque em 16 de Agosto de 1968;
Regresso: Embarque em de 4 de Maio de 1970
Síntese da Actividade Operacional
Em 28 de Agosto de 1968, seguiu para Bigene, a fim de efectuar o treino operacional com a CART 1745, sob orientação do COP 3 e seguidamente actuar nesta zona de acção em operações realizadas nas regiões de Talicó [, carta de Binta,] e Farajanto [, carta de Bigene], entre outras.
Em 14 de Outubro de 1968, rendendo a CART 1648, assumiu a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3. Em 17 de Outubro de 1968, a sede do subsector passou para Guidaje, ficando então com dois pelotões destacados em Binta, sendo a subunidade especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá; a partir de 8 de Fevereiro de 1969, após troca de sectores, passou à dependência do BCAÇ 1932.
Em 9 de Março de 1969, por troca com a CCaç 3, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ainda com um pelotão em Binta em reforço da guarnição local até finais de Abril, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932, mas agora orientada para a contrapenetração nos corredores de Canja e Sano; em 1 de Agosto de 1969, após novo reajustamento das zonas de acção dos sectores, passou à dependência do BCAV 2876 até 7 de Fevereiro de 1970, data em que o subsector de Barro foi incluído na zona de acção do COP 3.
Após deslocamento de dois pelotões para Bissau, em 17 de Abril de 1970, a fim de substituírem, transitoriamente, a CART 2411 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, foi rendida no subsector de Barro pela CCAÇ 2725 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso. (...)
(***) Último poste da série > 24 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11866: Os nossos enfermeiros (9): No caso dos furriéis enfermeiros iam para a Escola do Serviço de Saúde Militar, em Campo de Ourique, tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária (Adriano Moreira, ex-fur mil enf , CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70)
Fotos (e legenda): © Afonso M.F. Sousa (2006). Todos os direitos reservados.
1. Comentário do Adriano Moreiro (nome de guerra, Admor), com data de hoje, ao poste P11869
Agora digo eu: Porra Armando, Porra Luís!
Depois do Armando atirar aos olhos de toda a gente o nosso prestimoso e insignificante papel de enfermeiros e até de médicos nestas situações, ainda vem o Luís atirar-me aos olhos com o antigo poste do meu camarada Afonso Sousa e com o monumento lapidar do meu melhor e infeliz cabo enfermeiro, morto numa emboscada em Talicó, Sambuiá [, vd. carta de Binta], pelos guerrilheiros do PAIGC, passado cerca de mês e meio de termos chegado à Guiné.
Sabem o que eu vejo naquele monumento erigido à sua memória? A cabeça do Louro, só presa ao corpo pela cervical, quase decepada.
Sabem como o nosso malogrado camarada se chamava? JOÃO BAPTISTA da Silva [, de alcunha, Louro]
Só não acabo aqui o meu comentário, porque tenho uma dívida de gratidão muito grande em relação ao corpo de enfermeiros da CART 1745.(**)
O meu camarada Fur Enf Moita viu como eu estava e só me disse estas palavras:
─ Moreira vai para o bar ou para onde quiseres, eu e os meus enfermeiros vamos tratar do Louro e, quando ele estiver pronto, eu mando-te chamar, a ti e aos teus enfermeiros
Só não acabo aqui o meu comentário, porque tenho uma dívida de gratidão muito grande em relação ao corpo de enfermeiros da CART 1745.(**)
O meu camarada Fur Enf Moita viu como eu estava e só me disse estas palavras:
─ Moreira vai para o bar ou para onde quiseres, eu e os meus enfermeiros vamos tratar do Louro e, quando ele estiver pronto, eu mando-te chamar, a ti e aos teus enfermeiros
E realmente assim se cumpriu. Foi uma autêntica escritura. Ainda bem que eu não tive de fazer o mesmo por mais ningúem.
Eu depois volto. (***)
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
ex-fur mil enf,
Eu depois volto. (***)
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
ex-fur mil enf,
CART 2412,
Bigene, Binta, Guidaje e Barro,
1968/70
________________
Notas do editor:
(*) O João Batista da Silva era natural de Gandra, Louro, Vila Nova de Famalicão; 1º cabo enf, CART 2412, foi morto em combate em 21/9/1968. Está sepultado no cemitério da sau freguesia natal, Louro, concelho de Vila Nova de Famalicão.
(...) Companhia de Artilharia n.° 2412
Divisa: "Sempre Diferentes"
Partida: Embarque em 11 de Agosto de 1968; desembarque em 16 de Agosto de 1968;
Regresso: Embarque em de 4 de Maio de 1970
Síntese da Actividade Operacional
Em 28 de Agosto de 1968, seguiu para Bigene, a fim de efectuar o treino operacional com a CART 1745, sob orientação do COP 3 e seguidamente actuar nesta zona de acção em operações realizadas nas regiões de Talicó [, carta de Binta,] e Farajanto [, carta de Bigene], entre outras.
Em 14 de Outubro de 1968, rendendo a CART 1648, assumiu a responsabilidade do subsector de Binta, com um pelotão destacado em Guidage, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3. Em 17 de Outubro de 1968, a sede do subsector passou para Guidaje, ficando então com dois pelotões destacados em Binta, sendo a subunidade especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá; a partir de 8 de Fevereiro de 1969, após troca de sectores, passou à dependência do BCAÇ 1932.
Em 9 de Março de 1969, por troca com a CCaç 3, assumiu a responsabilidade do subsector de Barro, ainda com um pelotão em Binta em reforço da guarnição local até finais de Abril, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932, mas agora orientada para a contrapenetração nos corredores de Canja e Sano; em 1 de Agosto de 1969, após novo reajustamento das zonas de acção dos sectores, passou à dependência do BCAV 2876 até 7 de Fevereiro de 1970, data em que o subsector de Barro foi incluído na zona de acção do COP 3.
Após deslocamento de dois pelotões para Bissau, em 17 de Abril de 1970, a fim de substituírem, transitoriamente, a CART 2411 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, foi rendida no subsector de Barro pela CCAÇ 2725 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso. (...)
(***) Último poste da série > 24 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11866: Os nossos enfermeiros (9): No caso dos furriéis enfermeiros iam para a Escola do Serviço de Saúde Militar, em Campo de Ourique, tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária (Adriano Moreira, ex-fur mil enf , CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70)
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quarta-feira, 24 de julho de 2013
Guiné 63/74 - P11866: Os nossos enfermeiros (9): No caso dos furriéis enfermeiros iam para a Escola do Serviço de Saúde Militar, em Campo de Ourique, tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária (Adriano Moreira, ex-fur mil enf , CART 2412, Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70)
1. Resposta ao questionário sobre "os nossos médicos" (*), com data de 28 de junho passado, do Adriano Moreira (ex-Fur Mil Enf da CART 2412, Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70), mais conhecido por Admor:[ Este texto pareceu-nos mais apropriado para ser editado na série "Os nossos enfermeiros" (**), esperando com isso que mais testemunhos de furreis milicianos enfermeiros e de 1ºs cabos auxiliares de enfermagem possam vir a aumentar e enriquecer, ainda mais, o muito que já aqui escrevemos sobre os nossos camaradas (médicos, enfermeiros e outros) que serviram nos serviços de saúde militar. L.G,].
Caro Luís Graça,
Sobre os médicos só sei dizer que, quando estava a tirar a recruta em Santarém, também andavam lá alguns médicos a fazer a recruta deles e alguns, coitados, já com uma rica barriguinha e mais idade do que nós, bem lhes deve ter custado.
No entanto deconheço completamente os trâmites que lhes estavam destinados depois da recruta: talvez tivessem de estudar pelo menos as doenças tropicais.
No caso dos furriéis enfermeiros iam par a Escola do Serviço de Saúde Militar tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária.
Tinhamos mais uma ou duas ligadas ao estudo do RDM [, Regulamento de Disciplina Militar].
Ficávamos aboletados no Batalhão de Sapadores do Caminho de Ferro em Campo de Ourique e tínhamos que ir para as aulas que eram ministradas nas traseiras da Basílica da Estrela [, ocupadas pelo Hospital Militar Principal]. .
Tínhamos também uma ou duas horas por semana para tomarmos contacto com os Hospitais para colhermos elementos que no futuro nos seriam úteis.
Caro Luís Graça,
Sobre os médicos só sei dizer que, quando estava a tirar a recruta em Santarém, também andavam lá alguns médicos a fazer a recruta deles e alguns, coitados, já com uma rica barriguinha e mais idade do que nós, bem lhes deve ter custado.
No entanto deconheço completamente os trâmites que lhes estavam destinados depois da recruta: talvez tivessem de estudar pelo menos as doenças tropicais.
No caso dos furriéis enfermeiros iam par a Escola do Serviço de Saúde Militar tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária.
Tinhamos mais uma ou duas ligadas ao estudo do RDM [, Regulamento de Disciplina Militar].
Ficávamos aboletados no Batalhão de Sapadores do Caminho de Ferro em Campo de Ourique e tínhamos que ir para as aulas que eram ministradas nas traseiras da Basílica da Estrela [, ocupadas pelo Hospital Militar Principal]. .
Tínhamos também uma ou duas horas por semana para tomarmos contacto com os Hospitais para colhermos elementos que no futuro nos seriam úteis.
Imagem do sítio oficial da ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (, reproduzida com a devida vénia...). Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. "O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."
Depois do Curso terminado, fazíamos um pré-estágio de 10 semanas. No meu caso fi-lo no Hospital Principal. De seguida tínhamos um estágio de 6 meses e só a partir daí é que fcavamos prontos a ser enfermeiros mobilizáveis.
Recordo-me ainda hoje de me ter sido dito por um dos meus professores para nos esquecermos que o mercurocromo existia e passarmos a usar somente tintura de íodo e nunca nos esquecermos de distribuír os comprimidos para evitar a malária.
Quando embarcamos como Companhia Independente que éramos, não ia nenhum médico connosco, mas entretanto quando fomos colocados em Bigene apesar da CART 1745 ser uma companhia independente estava lá um médico a fazer serviço. Nessa altura ainda não tinha enfermaria, mas um ano depois já tinha para militares e civis.
A nossa companhia nunca teve médico nem enfermaria, apenas postos de socorros e o de Guidage nem esse nome merecia. Em Binta e Barro já tinhamos mais condições de trabalho.
Evacuações fiz algumas, devido a ferimentos de guerra e a rebentamento de minas, quando via ou me parecia que podia haver problemas que me ultrapassavam não hesitava. Poucas consultas externas para o HM 241 de Bissau e lá fui atamancando as coisas conforme pude e soube e tive a sorte de não ver ninguém morrer-me nos braços.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Fur mil enf
Cart 2412
Bigene, Binta, Guidage e Barro
(1968/70)
P.S. O atendimento a civis era também prestado pelo corpo de enfermagem ou seja eu e 3 cabos auxiliares de enfermeiro e ainda o pessoal que vinha do Senegal também era atendido quando estivemos em Guidage.
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)
(**) Sobre a série "Os nossos enfermeiros", vd os postes anteriormente publicados:
2 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11045: Os Nossos Enfermeiros (8): Diagnóstico salomónico (Adriano Moreira)
20 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4978: Os Nossos Enfermeiros (7): Excerto do Diário de um Enfermeiro (José Teixeira)
16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4965: Os Nossos Enfermeiros (6): Os Nossos Anjos da Guarda (Joseph Belo)
15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4960: Os Nossos Enfermeiros (5): Os Enfermeiros dos Lassas, na lama e no duro (Mário Fitas)
10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4935: Os Nossos Enfermeiros (4): Valioso trabalho desenvolvido pelo Fur Mil Enf Rui Esteves (CCAÇ 3327) e a sua equipa (José da Câmara)
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
7 de Setembro de 2009> Guiné 63/74 - P4912: Os Nossos Enfermeiros (1): A formação de Enfermeiros e Auxiliares (José Teixeira)
Recordo-me ainda hoje de me ter sido dito por um dos meus professores para nos esquecermos que o mercurocromo existia e passarmos a usar somente tintura de íodo e nunca nos esquecermos de distribuír os comprimidos para evitar a malária.
Quando embarcamos como Companhia Independente que éramos, não ia nenhum médico connosco, mas entretanto quando fomos colocados em Bigene apesar da CART 1745 ser uma companhia independente estava lá um médico a fazer serviço. Nessa altura ainda não tinha enfermaria, mas um ano depois já tinha para militares e civis.
A nossa companhia nunca teve médico nem enfermaria, apenas postos de socorros e o de Guidage nem esse nome merecia. Em Binta e Barro já tinhamos mais condições de trabalho.
Evacuações fiz algumas, devido a ferimentos de guerra e a rebentamento de minas, quando via ou me parecia que podia haver problemas que me ultrapassavam não hesitava. Poucas consultas externas para o HM 241 de Bissau e lá fui atamancando as coisas conforme pude e soube e tive a sorte de não ver ninguém morrer-me nos braços.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Fur mil enf
Cart 2412
Bigene, Binta, Guidage e Barro
(1968/70)
P.S. O atendimento a civis era também prestado pelo corpo de enfermagem ou seja eu e 3 cabos auxiliares de enfermeiro e ainda o pessoal que vinha do Senegal também era atendido quando estivemos em Guidage.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)
(**) Sobre a série "Os nossos enfermeiros", vd os postes anteriormente publicados:
2 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11045: Os Nossos Enfermeiros (8): Diagnóstico salomónico (Adriano Moreira)
20 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4978: Os Nossos Enfermeiros (7): Excerto do Diário de um Enfermeiro (José Teixeira)
16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4965: Os Nossos Enfermeiros (6): Os Nossos Anjos da Guarda (Joseph Belo)
15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4960: Os Nossos Enfermeiros (5): Os Enfermeiros dos Lassas, na lama e no duro (Mário Fitas)
10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4935: Os Nossos Enfermeiros (4): Valioso trabalho desenvolvido pelo Fur Mil Enf Rui Esteves (CCAÇ 3327) e a sua equipa (José da Câmara)
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
7 de Setembro de 2009> Guiné 63/74 - P4912: Os Nossos Enfermeiros (1): A formação de Enfermeiros e Auxiliares (José Teixeira)
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