domingo, 3 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12245: In Memoriam (167): Manuel Leitão Silvério, ex-alf mil, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70), mais tarde despromovido a 2º srgt mil, CCAÇ 2382 ( Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70) (Adriano Moreira, ex-fur mil enf, CART 2412)

1. Comentário,  ao poste P12241 (*), por parte do Adriano Moreira [, foto à direita, ao tempo da CART 2412, 1968/70]:  

Caros Camaradas,

O nosso malogrado camarada Manuel Leitão Silvério era o Comandante do 1º Grupo de Combate da CArt 2412 [Bigene, Binta, Guidaje e Barro, 1968/70] e, para que fique bem claro,  eu vou contar o acontecimento que motivou a sua despromoção.

Terá sido em Maio ou Junho de 1969,  estávamos nós em Barro e o Alferes Silvério recebeu a ordem de se deslocar com o seu Grupo de Combate até ao marco 133 ou 134 na fronteira do Senegal. 

Depois de reunido o seu Grupo,  chegou à conclusão que com ele os furrieis e praças somavam 14 ou 15 efectivos, pelo que foi falar com o Comandante da Companhia,  dizendo-lhe que achava um efectivo demasiado exíguo para a missão que lhe estava a ser atribuída.

Como o Comandante da Companhia não foi da mesma opinião, deu-lhe um prazo de uma hora para ele resolver se ia ou não.

Eu acho que todos os Camaradas falaram com ele para o demoverem daquela ideia. Eu falei com ele duas vezes,  chegando a dizer-lhe para ele sair fazendo só metade ou um terço do percurso, mas ele não se deixou influenciar persistindo na sua ideia inicial, pelo que o Comandante participou a ocorrência originando um processo que levou à sua despromoção.

Se se tivesse recusado a tomar parte numa operação,  possivelmente despromoviam-no a 1º Cabo.
Tenho muita pena que tudo isto tenha acontecido, principalmente a sua morte, pois ainda em Setembro passado fiz todos os esforços para ele vir à nossa reunião de graduados da Cart 2412, mas ele tinha sido precisamente internado nessa semana.

Lamento profundamente a sua morte, e à Família, Camaradas e Amigos apresento os meus sentidos pêsames.

Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
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Nota do editor: 


(...) Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.

Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma. 


Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento. Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.

Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos. (...)

7 comentários:

José Marcelino Martins disse...

É, na realidade, tudo para lamentar.

A guerra, as suas vicissitudes, os meios de que dispúnhamos, a forma como as tropas foram obrigadas a faze-la.

Lamentar, sobretudo, as injustiças que foram sendo praticadas.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Neste caso proponho-me subscrever as palavras do José Martins.
Nada mais se pode fazer agora, mas aproveitar a ocasião para enviar os pêsames à família e tomar nota que é mais um dos que connosco compartilharam as 'aventuras' em terras africanas que parte para a sua última viagem.

Hélder S.


mario gualter rodrigues pinto disse...

Certamente que me encontrei com ele em Mampatá ou Buba, mas para o facto pouco importa.Os meus sentidos pêsames á família e tu camarada descansa em paz até que nos juntemos novamente estejas tu onde estiveres.........3


Mário Pinto

ze manel cancela disse...

Convivi algum tempo com Silvério em Buba,na C.C.2382.Nunca soubemos da sua história.Ainda á pouco tempo,tentamos contacta-lo,para o nosso almoço convívio,mas em vao,nunca mais deu sinal de si.Paz á sua alma,mais um dos nossos que se vai.......

Torcato Mendonca disse...

Caro Adriano Moreira, esta cara nada me diz e assim cada vez tenho menos certezas.

Lastimo tudo o que se passou e o modo como se resolveu.
Muito mais lastimo e seu desaparecimento. É mais um camarada que parte e, com isso, ficamos cada vez mais pobres.

Os meus pêsames á Familiar e um até sempre Camarada.

Tentarei ainda saber de onde era ou se estava relacionado com o Alentejo.

Abraço e obrigado pelo esclarecimento.
Ab,T.

Anónimo disse...

Ainda me cruzei com ele diversas vezes com a 2382 pois estava em Mampata em 69 e 70 , desconhecia a sua historia que lamento, pela sua atitude revelou ser um homem de cracter, mas o que realmente lamento é o seu desaparecimento , descansa em paz camarada !condolencias à familia !

admor disse...

Caro Camarigo Torcato Mendonça,

A cara não te diz nada porque é a minha e nós só nos conhecemos virtualmente com fotografias dos anos 60, mas nossos, não da década de 60 do século passado. A foto em questão é que é dessa altura e é minha.
Em relação ao Silvério e traçando um paralelismo com os furrieis da minha companhia e do tempo dele eu acho que ele se deve ter apresentado em Mafra pelos dias 10 ou 11 de Abril de 1967 e depois deve ter seguido a 24 de Junho para a EPA fazendo de seguida um percurso idêntico aos restantes furrieis e alferes da Cart. 2412. Realmente o Silvério era Alentejano dizia ele de Nisa, não sei se era mesmo da cidade ou das imediações. Não sei o que te possa dizer mais sobre ele, só sei que era um camaradão e que eu tive muita pena de o ver partir nas circunstâncias em que nos deixou. A única consolação que me resta é de ter feito todos os esforços para que assim não fosse a sua partida.
Quanto à segunda e última partida é que já não fui ouvido nem achado e não pude fazer nada.
Vou fazer de agora em diante pedindo a Deus que o tenha em bom lugar e lhe dê o descanso do guerreiro que cá em baixo não lhe deram.
Um grande abraço meu camarigo e muita saúde para ti.

Adriano Moreira