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sábado, 5 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22968: As tuas melhoras, camarada! ... (3): Padre Mário de Oliveira (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/68): "hora a hora Deus melhora", diz o povo, mas sabendo-se que "a doença vem a cavalo e vai a pé"...


Guiné > Região do Oio > Mansoa > c. 1967/68  >   O alf mil capelão Mário de Oliveira, assinalado a amarelo,  entre militares da CCS/BCAÇ 1912  (1967/69) e/ou da CCAÇ 1686 (que esteve sempre em Mansoa e a que pertenceu o Aires Ferreira, alf mil inf, minas e armadilhas, e membro da nossa Tabanca Grande) . O Mário de Oliveira viria a receber ordem de expulsão do CTIG em 8 de Março de 1968. (*)

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem pessoal do nosso editor LG:


O Padre Mário da Lixa,
nascido em Lourosa,
Santa Maria da Feira,
 em 1937


Amigos e camaradas:

Tenho boas notícias!... O nosso homem, com múltiplas fraturas (bacia e pernas, devido ao choque da viatura automóvel, desgovernada contra um muro ou parede de uma casa, em Macieira da Lixa, Felgueiras, no passado dia 26 de janeiro), está a reagir bem aos antibióticos que teve de tomar devido aos problemas respiratórios e renais, a seguir à intervenção cirúrgica a que foi submetido... (**)

Ao que nos disse a enfermeira, que está com ele nos cuidados intensivos, de regresso ao serviço depois de dois dias de folga, o Mário está a recuperar bastante bem, contrariando os prognósticos mais reservados...

Esteve em coma induzido, e o bispo do Porto deslocou-se pessoalmente a Penafiel, ao Centro Hospitalar de Vale do Sousa, para se inteirar do seu estado... Alguém da equipa de saúde deu   conhecimento ao doente desse facto, e ele reagiu, entubado, com um encolher de ombros, como quem diz: "Vem atrasado mais de 50 anos!"... 

A Alice, que o conhece bem, e sabe da sua coragem e força de caráter, logo me tinha dito: "O Mário é um resistente, vai safar-se de mais esta"!...

Hoje já não estava em coma induzido, mas está cheio de ferros... Foi uma cirurgia de muitas e muitas horas...Vai ter uma dura recuperação nos tempos mais próximos... Mas os  amigos e camaradas do Mário da Lixa já podem respirar um pouco de alívio...

É, para já, o que tenho para vos contar. E citando a sabedoria popular, "hora a hora Deus melhora", mesmo sabendo-se que "a doença vem a cavalo e vai a pé"...

Força, Mário!...Queremos em breve dar-te uma "alfabravo". (***)


PS - Se acharem bem, mandem-lhe uma mensagem, para ele ler, quando sair do hospital e voltar a casa, ele vai gostar e não se importa que eu aqui divulgue o seu endereço de email: padremario@sapo.pt 

Este endereço é, de resto,  público: ver aqui o jornal digital Fraternizar, de que ele é o fundador e diretor.
_____________

Notas do editor:



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19506: Fotos à procura de... uma legenda (113): Onde é que estava o fotógrafo, há mais de 50 anos, num dia qualquer de novembro de 1967, a 30 km de Gabu-Sará (Nova Lamego),a 60 km de Piche, a 90 km de Canquelifá e a 55 km de Cabuca ?



Região de Gabu > Novembro de 1967 > Sinaliação de trânsito: placa de confirmação de localidades  e distâncias quilométricas. O autor (à direita) não sabe  o local onde foi tirada a foto.  à esquerda com o soldado condutor Pita, numa saída para algum sítio. Pelas distâncias indicadas, estes dois camaradas estavam s 30 km de Nova Lamego.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas / entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné- Bissau > Região de Gabu > Maio de 2016 > Piche, entre Gabu (a 30 km a oeste) e Buruntuma (a 37 km, a nordeste, na fronteira com a Guiné-Conacri. Canquelifá, mais a norte, fica a 30 km.

[Vd. poste de 31 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16151: Revisitando o "chão fula", e ligando o passado com o futuro (Patrício Ribeiro, Impar Lda) - Parte II: Piche]

Foto (e legena): © Patrício Ribeiro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar]: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel > CCAÇ 2479 / CART 11 (1968/69) > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece... A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas: Ginani (17 km), Talicó (22 km), Canhamina (27 km), Fajonquito (30 km), Saré Bacar (39 km), Farim (96 km)...

Contuboel chegou a funcionar como importante centro de instrução militar, no início da política da africanização do Exército Português, no 1º semestre de 1969. Em data que não posso precisar, esse centro acabou por ser transferido para a ilha de Bolama, aparentemente mais segura. Em junho de 1969, Contuboel era descrita como um "oásis de paz", pelo nosso editor Luís Graça e nela dava-se formação às futuras CCAÇ 11 e 12 e a um grupo de combate da futura CCAÇ 14.

Foto ( e legeenda) © Renato Monteiro (2007).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > Um periquito do coração da Guiné, o Alf Mil Raposo, da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (1968/70),  junto à placa toponímica que indivaca as localidades mais próximas: para oeste, Nhacra (a 28 km), Bissau (a 49 km)...; para leste, Enxalé (a 50 km), Bambadinca (a 65 km), Bafatá (a 93 km)...

Foto (e legenda) ©  Paulo Lage Raposo (2007).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCAÇ 413 (1963/65) >  Foto reproduzida com a devida vénia do livro "Nos celeiros da Guiné",  de Albano Dias Costa e José Sá-Chaves (Lisboa: Chiado Editioar, 2015)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Jugudul > 1969 > O alf Mil Aires Ferreira, em Jugudul, a 4 Km de Mansoa, na estrada Bissau-Bafatá. A placa quilométrica assinalava as distâncias para os principais povoações, a leste de Mansoa/Jugudul: Bindoro: 10 km; Porto Gole: 25 km; Enxalé: 47 km; Bambadinca: 62 km; Bafatá: 90km... O troço estava interdito, nessa altura, pelo menos até Porto Gole...e daqui até Bafatá. Um estrada, alcatroada, esteve em construção, até Bambadinca, nos últimos anos da guerra.

Foto (e legenda) ©  Aires Ferreira  (2006).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Onde é que estava o fotógrafo, no caso da primeira foto de cima, da autoria do Virgílio Teixeira ? 

Ele já não se lembra da localização exata...  Vamos ajudá-lo a melhor legendar a foto... Sabemos que foi em novembro de 1967, na região de Gabu... Nesse ponto exato, ele e o seu companheiro, o condutor da viatura, extavam a:

30 km de Gabu Sará (mais tarde, passou a chamar-se Nova Lamego);
60 km de Piche;
90 km de Canquelifá;
97 km de Buruntuma;
55 km de Cabuca;
(?) km de Madina do Boé [, o carregador da G3 parece ter tapado essa informação; de qualquer modo de Nova Lamego a Madina do Boé eram 65 km]

Ver aqui o mapa da província da Guiné (1957), à escala de 1/500 mil...

De qualquer modo, este "sinal de confirmação" das localidades mais próximas e da sua distância quilométrica, devia estar, não no meio do mato, mas numa locadalidade relativamente importante (sede de circunscrição, posto administrativo, etc.).

Contamos com mais pistas a fornecer pelos nossos queridos leitores...


2. Já agora voltam a reproduzir-se mais algumas fotos, do nosso blogue, semelhantes, de diferentes regiões: Gabu, Bafatá, Oio...

Não tenho a certeza, mas não deverá haver imagens com  sinais destes no sul da Guiné, no nosso tempo: região de Quínara e região de Tombali... Talvez por causa da guerra... Devem ter sido destruídos logo no início, tal como os postes de telefone e de telegrafia, as pontes, os pontões...

Não é preciso lembrar que a "nossa Guiné", até ao "consulado" do Spínola (1968-1973), tinha uma muito rudimentar rede rodoviária... As estradas eram "picadas", e o sistema de sinalização do trânsito  estava em conformidade com a rede rodoviária... Boa parte dos transportes (de Bissau, para o interior, o Norte, o Centro e o Sul) fazia-se de barco... As estradas ficavam intransitáveis na época das chuvas, de maio a outubro...

No nosso sistema de sinalização rodoviária, estes sinais (que não podem ser confundidos com "narcos quilométricos" ou "placas toponomicas") parece que se chamam "sinais de confirmação", (art. 40º do regulamento de sinalização do trânsito, Decreto Regulamentar n.o 22-A/98 de 1 de Outubro):

(...) L1 — sinal de confirmação: este sinal deve conter a identificação da estrada em que está colocado, bem como a indicação dos destinos e respectivas distâncias servidos directa ou indirectamente pelo itinerário, inscritos de cima para baixo, por ordem crescente das mesmas distâncias. Os destinos não directamente servidos pelo itinerário, bem como a distância a que se situam, devem ser inscritos entre parêntesis. (...) 

Um exemplo de um sinal de confirmação
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 13 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19493: Fotos à procura de... uma legenda (112) : Messe improvisada numa ponte em 26 de janeiro de 1968... Foto do Arquivo Mário Soares... Serão fuzileiros ? Que ponte seria esta ? (Jorge Araújo)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira


Lisboa, Avenida da Liberdade, 18 de dezembro de 2016 > Iluminações de Natal

Vídeo (1' 00'') > alojado no You Tube > Luís Graça


1. Mais algunas mensagens natalícias de amigos e camaradas da Guiné:


 (i) José Carlos Mussá Biai   [o nosso "mininu do Xime", membro da nossa Tabanca Grande, desde longa data, hoje engenheiro florestal, a viver e a trabalkhar em Portugal]


Caros Luís e Camaradas da Guiné,

Mais um ano prestes a terminar e um outro que se aproxima a grande velocidade...
Faço votos que o próximo ano seja melhor do que este que está a terminar, tanto em termos pessoais, familiares e profissionais (para aqules que ainda estão no ativo).

Um Natal muito Feliz e com muita saúde.

(ii)  José da Câmara  

[ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73]

Para os meus fmiliares e amigos um Feliz e Santo Natal. Que o Menino vos traga muita saúde.

(iii)  Aires Ferreira

[ex-alf mil, CCAÇ 1686 / BCAÇ 1912; Mansoa, 1967/69)}

Feliz Natal e um Novo Ano com muita saúde e alegria.

Um abraço


[ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 1974]

Bom dia, feliz Natal, muita saúde  e um bom Ano de 2017.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16882: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (20): Boas festas com água...Em 2016 ajudámos cerca de 100 mil pessoas a ter água potável junto das suas casas (Patrício Ribeiro, Bissau)


terça-feira, 25 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12897: (De) Caras (16): Quem tramou o alf mil capelão Mário de Oliveira, do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69) ?... Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Mário de Oliveira, a PIDE tinha escritório aberto em Mansoa (Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, CCAÇ 1698, Mansoa, 1967/69)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 1912 (1967/69) >  O alf mil capelão Mário de Oliveira entre soldados da CCS/BCAÇ 1912 e/ou da CCAÇ 1686 (que esteve sempre em Mansoa e a que pertenceu o Aires Ferreira, alf mil inf, minas e armadilhas, e membro da nossa Tabanca Grande) . O Mário de Oliveira viria a receber ordem de expulsão da Guiné em 8 de Março de 1968.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)

1. Em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"... Não sabemos ao certo por quem: (i) o bispo castrense (ii) a hierarquia militar; ou (iii) a polícia política ... Eu diria antes que foram dois erros de "casting" (sem que isto nada tenha de ofensivo para com os visados)...

Um deles é o padre Mário de Oliveira, que será sempre até morrer, o padre Mário da Lixa (*)... Foi capelão do BCAÇ 1912 (que esteve sediado em Mansoa, 1967/69)... Recorde-se que o BCAÇ 1912, mobilizado pelo RI 16, partiu para o CTIG 8/4/1967 e regressou a 16/5/1969.. O cmdt era o ten cor  inf  Artur Afonso Pereira Rodrigues. Subunidades de quadrícula:  CCAÇ 1686 (Mansoa); CCAÇ 1685 (Fá Mandinga, Fajonquito,  Fá Mandinga, Mansoa); e  CCAÇ 1684 (Bissau, Ingoré, São Domingos, Susana, Mansoa).

O outro caso de um capelão "expulso" foi o açoriano Arsénio Puim (que deixou, de resto, o sacerdócio em finais dos anos 70): foi capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Curiosamente, os dois são membros da nossa Tabanca Grande... Mas quantos capelães passaram pela Guiné ? É uma boa pergunta, a que não sabemos,  para já, responder...Seguramente algumas largas dezenas ou algumas centenas, já que, em princípio  havia um capelão por batalhão (c. 600 homens)...

Ora, ao que sabemos, foram apenas estes dois homens, e nossos camaradas,  os únicos capelães a entrar  em rota de colisão com a dupla hierarquia da Cruz e da Espada... Não os queremos nem santificar nem diabolizar, mas apenas ouvir (e saber ouvir) as suas histórias... Felizmente estão os dois vivos e têm inclusive participado em convívios anuais dos respetivos batalhões...

Temos cerca de 6 dezenas de referências a capelães no nosso blogue. Aliás,  temos mais dois capelães  registados no blogue:  o Augusto Baptista e  o Horácio Fernandes (este de resto contemporâneo do Mário de Oliveira)... É pena não haver mais capelães da Guiné a querer dar a cara neste blogue, que está aberto a todos os camaradas que por lá passaram, por aquela "terra verde e rubra"...

A nossa pergunta,  de momento, é: quem tramou  o Mário de Oliveira ? (**) (LG)

2. A este propósito, fomos recuperar o depoimento do Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, da CCAÇ 1686 (Mansoa), do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69). O Aires Ferreira esteve em Mansoa de 13/4/1967 a 13/5/1969, e conviveu, portanto, com o Mário de Oliveira, como se depreende deste episodio que ele já aqui em tempos nos contou, aquando da sua apresentação, em  28/7/2006, à Tabanca Grande:


2.1. Missa em Cutia
por Aires Ferreira


Cutia era um destacamento que tinha um grupo de combate e ficava entre Mansoa e Mansabá  e entre o Morés e o Sara - Sarauol.

O Batalhão tinha um capelão que, um certo domingo, lá para o fim de 67, resolveu ir celebrar missa a Cutia. Para isso, arranjou uma escolta de voluntários que, comandados pelo furriel S.S., lá foram, com 2 Unimogues e o jipe do capelão.

A missa foi celebrada e no regresso, um dos Unimogues despistou-se e uma grande parte do pessoal da escolta ficou com ferimentos muito graves, tendo os restantes seguido até Mansoa para pedir auxílio.

Nesse Domingo eu estava de Oficial de Dia ao quartel de Mansoa e desconhecia totalmente este assunto. Cerca da hora de almoço, passava junto à porta de armas, encontrei o Ten. Cor, o Comandante do Batalhão, que me disse:
- Alferes Ferreira, o seu grupo está todo destroçado na estrada de Cutia, o que está aqui a fazer? Vá já para lá.
- Não posso, estou de serviço - disse eu e apontei a braçadeira.
- Dê cá, eu fico com ela. O piquete vai já atrás de si com a ambulância.


Guiné > Região do Oio > Mansoa > c. 1969/71 >
O destacamento de Cutia. Foto de César Dias
Assim foi. Lá fui, munido da pistola Walther, com um condutor que por ali apareceu e chegámos depressa. A cena era trágica. Havia 5 ou 6 militares gravemente feridos e deitados na berma. O único militar que ali estava capaz de dar uns tiros para defender o local, se o IN por ali aparecesse, era … o Capelão, que de joelhos na estrada, junto ao jipe, fazia as suas orações, de G3 ao lado.

Logo de seguida chegou o necessário auxílio e todos os feridos foram evacuados e tratados.

O Alferes Capelão que faz parte desta história era… o Padre Mário Pais de Oliveira, bem conhecido desta Tertúlia,  e a quem envio um grande abraço.

Aires Ferreira

2.2. Comentário adicional  do Aires Ferreira, com data de 15/9/2006:


Igreja de Mansoa. c. 194/66. Foto de Tony Borié

Luís Graça:  Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Padre Mário do seu seio. Penso que nem tinha autoridade para o fazer. O que aconteceu, foi que o Padre Mário politizou fortemente as homilias das missas dominicais na Igreja Paroquial de Mansoa e isso criou problemas ao Comando do Batalhão. Além disso, a PIDE tinha em Mansoa um funcionário com escritório aberto.

Sei que o Comando foi por várias vezes chamado a Bissau e por fim o Padre Mário saiu de Mansoa. 

Estávamos em 1967, éramos todos muito jovens e acho que faltou uma pitadinha de bom senso ao Padre Mário, para levar a água ao seu moinho. Ele que me perdoe, mas foi o que pensei na altura.

Aires Ferreira




Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil  > Região do Oio > Detalhe: posição relativa de Cutia no triângulo Bissorã- Mansabá- Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Padre Mário da Lixa. Foto da sua página,
aqui reproduzia com a devida vénia
2.3. Sobre a sua experiência na Guiné entre finais de 1967 e princípios de 1968,  como capelão militar, o Mário de Oliveira, disse o seguinte:

(...) "Na guerra colonial, vivi integrado no Batalhão 1912, sedeado em Mansoa. Era o único padre capelão. Havia outro padre em Mansoa, mas na igreja da Missão, com quem sempre dialoguei, durante os quatro meses que lá vivi e actuei. Mas como capelão militar era o único padre no Batalhão.

"Enquanto não me expulsaram, pude privar de perto com as diversas chefias militares e com as centenas de soldados rasos que davam corpo ao Batalhão. Encontrei homens que estavam na guerra com convicção. A tese oficial do Regime sobre a guerra estava bem interiorizada neles. E eram generosos, à sua maneira, na entrega de si mesmos àquela causa, sem se aperceberem que era uma causa perdida. Mas havia também os que se aproveitavam da guerra, com sucessivas comissões, bem remuneradas, e quase sempre longe dos perigos das frentes de combate. Dizê-lo, não é novidade para ninguém. E havia os oficiais milicianos que, duma maneira geral, estavam na guerra contrariados e cuja preocupação maior era poderem regressar à sua família e à sua terra sãos e salvos" (...).

Fonte: Vd. post de 27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa) (***)

Num outro texto, também publicado na I Série do nosso blogue, em 17/5/2006, o Mário de Oliveira explicou como é que foi apanhado pela armadilha da guerra colonial e o que é que a sua experiência, como capelão militar no CTIG, representou para ele, como homem, cidadão e padre:

(...) Acordei para a Guerra Colonial, quando, em 1967, fui chamado ao Paço episcopal do Porto - tinha então 30 anos de idade e cinco anos de padre, na Diocese, e era professor de Religião e Moral no Liceu D. Manuel II - para ser informado, de viva voz, pelo Bispo-Administrador Apostólico, D. Florentino de Andrade e Silva, de que o meu nome já tinha sido enviado para Lisboa, pelo que, em breve, iria ser chamado a frequentar um curso de capelães militares, na respectiva Academia Militar!
Não me perguntou o Bispo se eu estava disposto a ir, se tinha alguma coisa a objectar. Não me consultou. Apenas me informou e deu-me a ordem de marcha. Como se a Igreja fosse um enorme quartel, onde a generalidade dos seus membros apenas obedece, cumpre ordens dos superiores, auto-apresentados como infalíveis, como donos da verdade, como rostos visíveis de Deus, senão mesmo, o próprio Deus na terra.

A verdade é que eu, nessa altura, embora ficasse mudo de espanto e como que apunhalado no peito, não ousei sequer contradizer o Bispo. E lá fui para a Academia Militar, com mais umas dezenas de outros padres do país, pelos vistos, todos mais ou menos incómodos, por razões as mais diversas, nas respectivas dioceses.

Ao fim de cinco semanas de curso intensivo, fui dado como apto e parti para a Guiné-Bissau, a fim de me integrar, como alferes capelão, no Batalhão 1912, que já operava militarmente em Mansoa, a 60 kms de Bissau.

Hoje, também eu me pergunto: Como é que isto foi possível? Como é que eu nem sequer me lembrei de formular objecção de consciência? Como é que fui logo obedecer a semelhante ordem? (...)

______________

Notas do editor

(*) Da página pessoal do Padre Mário da Lixa, retirámos alguns apontamentos autobiográficos que nos ajudam a entender melhor a o seu percurso como homem, cidadão e padre bem como a sua curta passagem pela Guiné.

(i) Nascido em 1937, na freguesia de Lourosa, concelho de Santa Maria da Feira, numa família da classe trabalhadora, entrou no seminário em 1950;

(ii) Em 1962, foi ordenado padre, na Sé Catedral do Porto, pelo bispo D. Florentino de Andrade e Silva, Administrador Apostólico da Diocese, que substitui o Bispo D. António Ferreira Gomes (1906-1989), exilado por ordem de Salazar em 1959...

(iii) A partir de 1963 foi professor de religião e moral em dois liceus do Porto;

(iv) Em Agosto de 1967 "foi abruptamente interrompido nesta sua missão pastoral pelo Administrador Apostólico da Diocese, por suspeita de estar a dar cobertura a actividades consideradas subversivas dos estudantes (concretamente, por favorecer o movimento associativo, coisa proibida pelo regime político de então)";

(v) Nomeado capelão militar, "sem qualquer consulta prévia, pelo mesmo Administrador Apostólico", viu-se compelido a frequentar, durante cinco semanas seguidas, um curso intensivo de formação militar, na Academia Militar, em Lisboa;

(vi) Em Novembro de 1967, desembarca na Guiné-Bissau, na qualidade de alferes capelão do Exército português, integrado no BCAÇ 1912, com sede em Mansoa;

(vi) Menos de cinco meses depois, em março 1968,  é "expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas Missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência", e mandado regressar à sua diocese, sendo "rotulado pelo Bispo castrense de então, D. António dos Reis Rodrigues, como padre irrecuperável ";

(viii) Em Abril de 1968, foi nomeado pároco da freguesia de Paredes de Viadores (Marco de Canaveses);

(ix) Em Junho de 1969 é exonerado da paróquia de Paredes de Viadores pelo mesmo Administrador Apostólico da Diocese do Porto, que o havia nomeado;

(x) Em Outubro de 1969 está a paroquiar a freguesia de Macieira da Lixa (Felgueiras), por nomeação do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, entretanto, regressado do exílio;

(xi) Em Julho de 1970 é preso pela PIDE/DGS;

(xii) Em Março de 1971 sai da prisão política de Caxias, depois de ter sido julgado e absolvido pelo Tribunal Plenário do Porto;

(xiii) Volta a ser preso pela PIDE/DGS em Março 1973; quando sai em liberdade, em Fevereiro de 1974, é "informado, de viva voz, pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que já não era mais o pároco de Macieira da Lixa";

(xiv) Em 1975 torna-se jornalista profissional;

(xv) Em Julho 1995, e a convite do jornal Público, "regressou à Guiné-Bissau, onde permaneceu durante uma semana, com o encargo de escrever uma crónica por dia sobre o passado e o presente daquela antiga colónia portuguesa" (...).




Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansoa > 1995 >  O jornalista Mário de Oliveira com o padre missionário que foi encontrar em Mansoa.

Foto:© Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


(**) Último poste da série > 21 de fevereiro de 2014 >  Guiné 63/74 - P12753: (De)caras (15): O meu primo Agnelo, e meu conterrâneo da ilha de Santo Antão, comandante do PAIGC, com quem me reencontrei no pós-25 de abril, em Bissau, era eu empregado bancário, no BNU - Banco Nacional Ultramarino (António Medina, ex-fur mil op esp, CART 527, Teixeira Pinto, 1963/65, a viver nos EUA, desde 1980)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

1. Respostas ao questionário do nosso camarada Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Há já bastante tempo. 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Por informação do camarada José Dinis. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Há cerca de meio ano. 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - De tempos a tempos. 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Já mandei dois artigos e gostaria de mandar mais, de acordo com o tempo de que disponho. 

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Não. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Eu não acedo ao facebook. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - Gosto de ler alguns artigos e gosto de ver fotografias de sítios da Guiné. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Eu penso que não há nada que goste menos. As intervenções podem ser mais ou menos interessantes, mas trata-se de coisas que gosto sempre de ler. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - Representa a permanência de uma fase da nossa vida, que certamente marcou a todos. Eu sei que, ao fim de muitos anos, o blogue acabará por fenecer, juntamente connosco. Contudo, a vida vive-se enquanto estamos vivos... 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 
R - Este ano ainda não posso. 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Neste momento, penso que se encontra com bastante força anímica, suportado por alguns entusiastas. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Nada me ocorre como crítica. Endereço, apenas, uma palavra de ânimo a quem mais se dedica a esta causa.

Cândido Morais

********************

2. Respostas do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974):

1 - Entre 5 e 6 anos 

2 - Através de informações de camaradas 

3 - Considero-me membro e participo regularmente com comentários/opiniões 

4 - Em média será uma vez por semana 

5 - Tenho mandado 

6 - Sim 

7 - Alterno sem tendência definida 

8 - De acompanhar as diversas opiniões e relatos de factos vividos em pleno TO 


9 - Não tenho opinião negativa, a não ser a lentidão que é frequente 

10 - No acesso não, mas com referi a excessiva lentidão 

11 - É uma fonte de actualização e renovação de contactos com os ex-camaradas 

12 - Ainda não, embora este ano já tenha estado em 2 encontros da companhia e do batalhão 

13 - Provavelmente não por várias razões uma delas ainda estar na vida activa em regime de turnos

14 - Sim, parar é morrer. Se necessário fazer renovações no sentido de o tornar mais ágil e atrativo 

15 - Em resumo dos parágrafos, devemos prosseguir este caminho, tornando-o mais largo de forma a crescer o caudal de camaradas a participar/colaborar, em suma comunicar que é uma fonte de vida saudável 

OBS: A foto anexa mostra a chegada a Cadique pelo rio Cumbijã da 1.ª CART e CCS do BART 6520/73 

Um abraço a todos, um bom 1º de Maio (há 39 anos estava no TO da Guiné - Bolama) 
Manuel Luís Nogueira de Sousa

********************

3. Mensagem do nosso camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69), com as suas respostas ao nosso questionário:

1 - Descobri o blogue no princípio de 2007

2 - Descobri o blogue por acaso, ao navegar na Net 

3 - Sou membro desde 12 de Julho de 2007 

4 - Visito o blogue todos os dias 

5 - Já enviei material para o blogue, mas ultimamente não 

6 - Não conheço o Facebook 

7 - Resposta anterior 

8 - Gosto dos temas que cheirem a pólvora 

9 - Poesias, aniversários, etc. 

10 - Tenho tido dificuldades porque o blogue não cabe no Meu monitor, tenho que utilizar o zoom 95 

11 - O blogue representa para mim o reviver de uma fase muito importante da minha vida 

12 - Participei no encontro da Ameira 

13 - Este ano também não vou. A minha vida em 2010 deu Uma volta de 180º e a minha saúde é escassa 

14 - Acho que o blogue tem que continuar. Representa muito Para alguns de nós, sobretudo para aqueles que se apaixonaram Por aquela terra e por lá deixaram algo de si 

15 - Não tenho críticas a fazer. Cada um de nós tem feito o melhor que Pode e sabe. A estrada está picada, mas por favor não vão todos Em cima da mesma viatura 

Um abraço a todos os camaradas desta magnífica tabanca
Aires Ferreira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11519: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (40): Respostas (nº 78/79/80): Carlos Pedreño Ferreira, ex- Fur Mil Inf Op COMBIS e COP 8 (Bissau e Nhacra, 1971/73); Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, BART 1913 (Catió, 1967/69) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 (Cufar e Buruntuma, 1964/66)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1946: Estórias de Mansoa (2): um capelão (o padre Mário da Lixa) em apuros na estrada de Cutia (Aires Ferreira)




Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Destacamento de Cutia > c. 1970 > Foto enviada, salvo erro, pelo César Vieira Dias, Ex Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde Maio de 1969 a Março de 1971 (se for outro o dono da foto, que reclame).


Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Texto do Aires Ferreira, ex-Alf Mil, CCAÇ 1686 / BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69)(1):

Missa em Cutia, por Aires Ferreira

Cutia era um destacamento que tinha um grupo de combate e ficava entre Mansoa e Mansabá e entre o Morés e o Sara - Sarauol [vd. carta de Mambonco].


O Batalhão tinha um Capelão que, um certo Domingo, lá para o fim de 67, resolveu ir celebrar missa a Cutia. Para isso, arranjou uma escolta de voluntários que, comandados pelo furriel S. S., lá foram, com 2 Unimogs e o jipe do capelão.

A missa foi celebrada e, no regresso, um dos Unimogs despistou-se e uma grande parte do pessoal da escolta ficou com ferimentos muito graves, tendo os restantes seguido até Mansoa para pedir auxílio.

Nesse Domingo, eu estava de Oficial de Dia ao quartel de Mansoa e desconhecia totalmente este assunto. Cerca da hora de almoço, passava junto à porta de armas, encontrei o Tenente-Coronel, o Comandante do Batalhão, que me disse:

- Alferes Ferreira, o seu grupo está todo destroçado na estrada de Cutia, o que está aqui a fazer? Vá já para lá.

- Não posso, estou de serviço - disse eu e apontei a braçadeira.

- Dê cá, eu fico com ela. O piquete vai já atrás de si com a ambulância.

Assim foi. Lá fui, munido da pistola Walther, com um condutor que por ali apareceu e chegámos depressa. A cena era trágica. Havia 5 ou 6 militares gravemente feridos e deitados na berma. O único militar que ali estava capaz de dar uns tiros para defender o local, se o IN por ali aparecesse, era … o Capelão, que, de joelhos, na estrada, junto ao jipe, fazia as suas orações, de G3 ao lado.

Logo de seguida chegou o necessário auxílio e todos os feridos foram evacuados e tratados.O Alferes Capelão que faz parte desta história era… o Padre Mário Pais de Oliveira (2), bem conhecido desta Tertúlia e a quem envio um grande abraço.

Aires Ferreira

2. Comentário do editor do blogue:

Esta cena, trágico-cómica, repetiu-se infelizmente muitas vezes na Guiné, devido à frequência de acidentes, graves, com viaturas. A estória tem algo de heróico, insólito e ao mesmo tempo delicioso: estou a imaginar a angústia do capelão, o único homem do grupo em condições de se defender de um eventual da guerrilha, fazendo lembrar os nossos primeiros missionários, a cruz numa mão e a espada noutra, prontos para o martírio (ou o massacre).

Trata-se de um estória que eu recuperei de um poste do Aires Ferreira (1). Quis dar-lhe mais visibilidade e mas ao mesmo tempo fazer também uma singela homenagem aso nossos capelães militares. Muitos camaradas nossos devem-lhes uma palavra de gratidão pelo conforto espiritual e moral que, na missa, na confissão ou na simples conversa de caserna, na dor e na alegria, receberam destes homens, em terras da Guiné.

É uma homenagem a todos eles, independentemente das posições político-ideológicas que tomaram(ou não) perante a guerra, na altura ou mais tarde... A sua tarefa não era fácil, estando o seu múnus espiritual fortemente condicionado pelo seu enquadramento institucional (nem mais nem menos dois pesos pesados, a Igreja Católica e as Forças Armadas, com a PIDE/DGS sempre perto, a vigiar e a zelar pelo "bem da Nação")...

De dois desses homens já aqui falámos, com mais afecto e carinho: o Mário de Oliveira e o Arsénio Puim (3)... Mas a nossa Tabanca Grande está aberta e pronta a acolher o testemunho de outros capelães que queiram aparecer... e até dos sacristães (que os havia em cada CCS de cada batalhão). Ao que parece, só os cangalheiros que vinham expressamente de Bissau para fazer o seu trabalho.

O Rui Felício, (ex-Alf Mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, 1968/70), é o autor da primeira Estória de Mansoa, série que gostaríamos que tivésse continuidade (4). (LG).

_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1002: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)

(2) Até à entrada do Aires Ferreira, o Padre Mário de Oliveira era, ironicamente, o único representante do Batalhão de Caçadores 1912 que, de resto, o expulsou do seu seio.... Conheci o Mário de Oliveira, em Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, onde em tempos tinha sido pároco (creio que depois de vir da Guiné, donde fui expulso de capelão militar). Conheci-o no dia do meu casamento, civil, em casa dos meus sogros, em Agosto de 1976. Ele era e é amigo da minha mulher. Passou a ser também meu amigo.

Curiosamente o Nuno Rubim - segundo me confidenciou - encontrou-o há tempos, na Feira do Livro de Lisboa, no stand da sua editora, Campo das Letras (Porto) a a atender os seus leitores e a autografar o seu último livro (Salmos V ersão Século XXI). O Nuno (que se considera, ele próprio, agnóstico) apresentiu-se e ficou a falar com ele pela tarde dentro. Ficou fascinado pela sua personalidade e inclusive foi jantar com ele. No fibnal pediu-lhe para escrever, para o nosso blogue, um texto sobre a organização da assistência religiosa às NT, na Guiné. O Mário prometeu-lhe que sim... Ficamos aguardar com muito interesse e expectativa.

Vd. posts de:

27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXV: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira )

8 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1825: Mário de Oliveira, na Feira do Livro de Lisboa, dia 9 de Junho de 2007

(3) Sobre o ex-Alf Mil Capelão Puim, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), vd. posts:

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

(4) Vd. post de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)

sábado, 21 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1197: Ameira: Operação Almançor, ou paródia aos nossos planos de operações (Aires Ferreira)

Montemor-O-Novo> Ameira > Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > O Aires Ferreira, ao centro, ladeado pelo Manuel Perereira, à sua direita, e pelo Vitor Junqueira, à sua esquerda. Na segunda fila: Vacas de Carvalho, Neves (amigo de Julião Martins, emoresário com negócios na Guiné-Bissau) e Humberto Reis.

Foto: David Guimarães (2006) (pormenor)


I. Texto que já circulou pela tertúlia e que se julga oportuno e interessante divulgar no blogue, porque dá um toque de saudável humor e irreverência a este grupo de cotas que recusam ser um clube de qualquer coisa (ex-combatentes, saudosistas, últimos soldados do Império, heróis ou vilões, vítimas de stresse pós-traumático ou títulos quejandos). O autor é o Aires Ferreira. A peça é um paródia, logo, uma homenagem (aos nossos majores de operações, aos nossos planos de operações, às nossas operações)...

Amigos & camaradas (e em especial os que foram à Ameira, em Montemor-O-Novo, no dia 14 de Outubro de 2006):

Lamentavelmente só agora li esta mensagem do Aires Ferreira. As minhas desculpas, camarada!... O texto fazia todo o sentido ser divulgado no contexto do nosso encontro na Ameira, no dia 14 passado... Estive lá com com ele (um bocadinho...), e nem sequer me passou pela cabeça que ele pudesse ser uma pessoal com um sentido de humor tão especial, muito fino...

Antes de a publicar no blogue, achei que a nossa tertúlia merecia conhecer, em primeiro mão, esta peça, de fino humor e recorte literário, de mais um valoroso (e valioso) tertuliano...


II. Peça (humorística) do Aires Ferreira (ex-alf mil, CCAÇ 1686 / BCAÇ 1912; Mansoa, 1967/69) (1):

LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ > OP ALMANÇOR I (2)

ORDEM DE OPERAÇÕES Nº 01

Ref: Carta 1/50.000 Évora / Montemor

1. Situação

a) Força IN

(1) Localização: - Informações de detidos, referem a existência do Acampamento da Ameira, localizado em Montemor 9 N 40 E e vários anexos com população desarmada.

(2) Efectivo do Acampamento: - Cerca de 20 homens e 15 mulheres.

(3) Armamento: - 6 espingardas aut. FN cal. 20, 2 pistolas cal. 6.35mm, 2 Esp. de pressão de ar, 13 fisgas e 12 arcabuzes.

(4) Constituição: Edifício térreo, piscina, campo de jogos, picadeiro e arrecadações diversas.

(5) Segurança: - Um posto de sentinela com 2 elementos, junto ao caminho novo que vai dar ao acampamento principal.

(6) São de admitir as seguintes possibilidades ao IN, por ordem de prioridade:

(a) Furtar-se ao contacto, após curto período de resistência no acampamento. (Fuga para Évora).

(b) Emboscar as NT no regresso da acção.

(c) Emboscar as NT na sua progressão para o objectivo.

(d) Desenfiar todas as garrafas com mais de 15 anos.

b) Forças Amigas

- Nada

2. Missão

- Fomentar a amizade entre os camaradas da tertúlia.
- Realizar acções ofensivas a fim de capturar elementos rebeldes, aniquilando as suas instalações e meios de vida, nomeadamente despensas e garrafeiras.
- Pesquisar informações tendo em vista a realização de novas operações.

3. Execução
- As forças envolvidas, progridem separadamente até ao CAFÉ DO MONTE e após a reunião de todo o efectivo, serão constituídos três destacamentos, Alfa e Beta e Gama. O dest. Gama procede à picagem da estrada entre a EN 114 e a entrada do acampamento, em H-1 e integra-se no dest. Beta. O Dest. Alfa lança de imediato um golpe de mão sobre o objectivo e faz um prisioneiro que entrega ao dest. Beta. O prisioneiro conduz, voluntariamente ou não, de imediato, ambos os destacamentos ao bar do acampamento, que será obviamente tomado com pouca resistência por parte do IN.

Segue-se o almoço até às 5 da tarde, hora a que se verificará o " Toque de Ordem" e parte das forças envolvidas regressarão às suas Unidades.

O dest. Alfa (-) pernoitará no acampamento principal e assegurará a sua ocupação até 14h/15 Out.

4. Instruções de Coordenação:
- Designação da Operação: Almançor 1
- Dia D: 2006.10.14
- Hora H: 12.00
- Carregadores: Não permitido. GNR/BT
- Alimentação: Feijoada de Lebre, tipo III
- Transmissões: Telemóvel


Quartel em Lisboa, 11.10.2006

O Of. Operações

________________

O Comandante

______________

Cumprimentos
Aires Ferreira

_____

Nota de L.G.

(1) Vd. posts de:

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1002: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1075: O soldado desconhecido de Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686, BCAÇ 1912)

2 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1139: A fantástica estória do soldado Fernandes, da CCAÇ 1686, Mansoa (Aires Ferreira)

(2) Referência a Al-Mansur, o poderoso califa de Córdova (c. 948-1002), recordado em Montemor-o-Novo, pelo Rio Almançor, que atravessa o concelho, e o Café Almansor... O próprio Paulo Raposo costuma usar, por graça, o pseudónimo Rei Almançor...

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1139: A fantástica estória do soldado Fernandes, da CCAÇ 1686, Mansoa (Aires Ferreira)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > Jugudul > 1969 > O Alf Mil Aires Ferreira, em Jugudul, a 4 Km de Mansoa, na estrada Bissau-Bafatá. A placa quilométrica assinalava as distâncias para os principais povoações, a leste de Mansoa/Jugudul: Bindoro: 10 km; Porto Gole: 25 km; Enxalé: 47 km; Bambadinca: 62 km; Bafatá: 90km... O troço estava interdito pelo menos até Porto Gole...

Fotos: © Aires Ferreira (2006)

Texto do Aires Ferreira, Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas (CCAÇ 1686, BCAÇ 1912, Mansoa, 13 de Abril de 1967/13 de Maio de 1969) (1)



A estranha estória do soldado Fernandes

Camaradas Luís Graça e Beja Santos, a demora na resposta a este assunto, é apenas devida à minha ausência lá para os lados de Ourém/Leiria por motivos profissionais e de, por lá, não ter acesso à Internet. Aqui ficam as minhas desculpas.

O soldado Fernandes pertenceu à CCAÇ 1686 e o Comandante do seu Grupo de Combate foi o Alf Moreira, que por certo se lembrará destas histórias, muito melhor do que eu.

Lá para o fim de 68, quando a Companhia já tinha uns 18 meses de comissão, a sua actividade operacional foi seriamente reduzida, não só porque estava esgotada, mas também porque houve necessidade de assegurar a ocupação dos destacamentos próximos, que pertenciam ao sector.

O soldado Fernandes - que designarei por Atleta, porque era assim que era conhecido - não era homem dado a grandes meditações e não se enquadrava bem na vida algo sedentária da tropa em quadrícula.

Habituado que estava a uma intensa actividade operacional, passou a organizar, ele mesmo, os seus patrulhamentos, sem dar conhecimento a ninguém. Não sei por quantas vezes se ausentou, talvez umas três ou quatro. Andava sempre com a sua G3 e regressava sempre passados uns dias, como se não tivesse acontecido nada. Não falava no assunto e às perguntas que lhe faziam, respondia sistematicamente com um sorriso envergonhado e um encolher de ombros.

Certo dia, chegou ao Batalhão uma informação dizendo que andava ali na zona um cubano
que assediava tudo o que fosse bajuda ou mulher grande. O Atleta é algarvio e muito moreno.
Quando alguém contou isto na messe, houve gargalhada geral e a exclamação:
- O Atleta!!!

Ninguém apresentou queixa e o assunto morreu.

Passados uns tempos, o Atleta desapareceu de novo e acho que ninguém deu importância ao caso, uma vez que já era quase habitual e era convicção geral que ele voltaria, como sempre fez.

Só que desta vez, apareceu sim, mas passado um mês, ou talvez um mês e meio, e em Mansoa nunca se soube por onde tinha andado ou o que lhe tinha acontecido.

Foi passados 38 anos que através dum Post do Camarada Beja Santos (2), fiquei a saber que o Atleta foi parar ao Destacamento de Missirá e devolvido a Mansoa num DO !

Missirá dista de Mansoa uns bons 60 km, pela estrada Mansoa - Porto Gole - Enxalé - Missirá que, pelo menos no troço Mansoa - Porto Gole, estava interdita, só se passando por lá com uma Companhia e com muita atenção.

Esta estrada passava perto da base do Locher/Changalana,que foi destruída várias vezes e sempre reconstruída nas proximidades. Proporcionou-nos magníficos combates, nos quais participou o Atleta, pelo que conhecia bem esta zona e não acredito que se fosse meter sozinho neste vespeiro.

Aquela história que ele contou, do banho na bolanha, captura pelo IN e fuga, não é verosímil, porque em Mansoa não havia necessidade disso, não havia bolanha onde tomar banho e portanto não havia esse hábito.

Por outro lado, era nossa convicção que se o IN o quisesse apanhar à mão, há muito que o teria feito.

Há que considerar uma outra hipótese, que nos pareceu na altura a mais viável. Por aqueles dias esteve atracada no Rio Mansoa, junto à ponte, uma LDM e claro está, o nosso Atleta não se privou de ir confraternizar com a tripulação e certamente arranjar boleia para qualquer sítio, talvez clandestinamente. Acho que esta é a hipótese mais plausível, ir por via fluvial até lá para os lados de Porto Gole ou Enxalé, que ele conhecia duma operação que fizemos à zona de Mato Cão e daí, então sim, ir a pé até Missirá.

O seu regresso a Mansoa foi muito discreto, nunca soubemos por onde tinha andado e o
Comando do Batalhão optou por silenciar o caso porque de facto não servia de nada punir este soldado, que não devia ter sido mobilizado para a Guiné.

Apesar do susto que apanhou e da fome que terá passado, esta não foi a sua última aventura. Houve mais. Sobreviveu, vive no Algarve e em Abril [de 2007], no nosso próximo almoço de confraternização, lá estará seja onde for, em bom convívio com os seus ex-camaradas.

Um abraço a todos os camaradas da Tertúlia.
Aires Ferreira
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1002: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)

(2) Vd. posts:

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1070: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (10): A visita do soldado desconhecido.

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1075: O soldado desconhecido de Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686, BCAÇ 1912)

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1075: O soldado desconhecido de Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686, BCAÇ 1912)

Texto do Aires Ferreira, Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, CCAÇ 1686, BCAÇ 1912 - CCAÇ 1686, Mansoa, 13 de Abril de 1967/13 de Maio de 1969)


O soldado desconhecido de Mansoa


Como o Mundo é pequeno!!

Quem diria, Caro Dr. Beja Santos, que o soldado Fernandes tinha ido parar ao seu querido destacamento de Missirá!! ! (1)

O soldado Fernandes pertenceu à minha Companhia, a CCAÇ 1686. Tinha a alcunha de Atleta e foi sem dúvida o soldado mais conhecido de Mansoa.

Pelas suas características psíquicas, não devia ter sido apurado para todo o serviço militar e muito menos ter sido enviado para a Guiné integrado numa companhia de Caçadores. Mas foi. Era um homem muito estranho, afável, disciplinado e tinha inteligência embora não parecesse.

Fez a guerra à sua maneira, ganhou um estatuto especial na hierarquia e teve sorte, muita sorte. Fez todas as Operações, fazia questão de ir sempre na frente e era bom a combater, um pouco temerário, por vezes.

Nos almoços [de convívio do BCAÇ 1912] que fazemos todos os anos, o Atleta é sempre o primeiro a chegar, seja onde for o almoço, de bicicleta, a pé, à boleia, nunca falta.

É hoje uma espécie de mascote do Batalhão e fazemos sempre uma colecta que rende algumas centenas de Euros que lhe são entregues, o que o faz muito feliz, pelo menos por uns dias.

Sobre a ida até Bambadinca e outras aventuras, escreverei noutro dia. Por hoje chega. A velhice de Mansoa cá continua sentada.

O próximo Post que enviar, incluirá uma estória do Paulo Raposo (2) que terá por título A Geladeira. Ele que se cuide.

Um abraço.
Aires Ferreira
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1070: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (10): A visita do soldado desconhecido

(...) "Estávamos siderados a ouvir este relato. Mansoa, em linha recta, estava pelo menos a 120 km. A fazermos fé neste relato, o Fernandes percorrera todos os perigos, arriscara tudo, inclusive tivera sorte na entrada à sorrelfa, sabe-se lá porque porta. Mandei chamar o sentinela junto ao cavalo de frisa. Estava de vigia Cibo Indjai, jurou nada ter visto, nada ter ouvido. Em que acreditar: desertou, veio a monte por várias florestas e está a ser sincero, será que há uma operação aqui perto e ter-se-à perdido, arranjando esta história que não é boa nem má?" (...)

(2) Recebemos ontem um e-mail do Paulo Raposo, sobre o "soldado desconhecido de Mansoa", que rezava assim:

Olá, rapaziada!

Não tenho ideia deste assunto.

A nossa CCAÇ 2405, a Gloriosa, "se tivéssemos estado mais tempo na Guiné, tínhamos acabado com a guerra", era limpinho.

Esteve em Mansoa de Agosto a Dezembro de 1968. O BCAÇ 1911 ainda ficou por lá, julgo que sentados.

No entanto vou pedir ao meu cripto para mandar um rádio, cifrado, a pedir informações ao Felício (Barão de Montanelas) e ao David (Visconde de Vale de Cavalos), pois talvez saibam de alguma coisa, que duvido, pois a esclerose deles é do tamanho da minha.

Um quebra-costelas do Almançor

Guiné 63/74 - P1074: O Paulo Raposo, o Padre Mário e o Batalhão de Caçadores 1912, Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686)

Texto do Aires Ferreira, Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas (CCAÇ 1686, BCAÇ 1912, Mansoa, 13 de Abril de 1967/13 de Maio de 1969)



Foto: © Aires Ferreira (2006)

Caro Luís Graça e Camaradas da Tertúlia:


Sou muito periquito por aqui. Solicitei a minha inscrição no Post 1002 (1) e não voltei a intervir. Não sei se por causa das férias, se por ter diminuído o entusiasmo inicial.

Enfim, seja como for, cá estou de novo e começo por fazer duas pequenas observações:

(i) A primeira é para o Paulo Raposo que se refere sempre ao Batalhão de Mansoa como sendo o 1911, o que não é verdade. O 1911 fez a viagem connosco no UIGE e fez a sua comissão em Bula. (Salvo erro).

O Batalhão de Mansoa foi o 1912, desde 13 de Maio de 1967 até 13 de Maio de 1969. O seu a seu dono.

(ii) A segunda é para o Luís Graça e reza assim: Não foi o 1912 que expulsou o Padre Mário (2) do seu seio. Penso que nem tinha autoridade para o fazer. O que aconteceu, foi que o Padre Mário politizou fortemente as homilias das missas dominicais na Igreja Paroquial de Mansoa e isso criou problemas ao Comando do Batalhão. Além disso, a PIDE tinha em Mansoa um funcionário com escritório aberto.

Sei que o Comando foi por várias vezes chamado a Bissau e por fim o Padre Mário saiu de Mansoa.

Estávamos em 1967, éramos todos muito jovens e acho que faltou uma pitadinha de bom senso ao Padre Mário, para levar a água ao seu moinho. Ele que me perdoe, mas foi o que pensei na altura.


Aires Ferreira


___________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1002: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)


(2) Eu tinha escrito o seguinte: "Até à data, o Padre Mário de Oliveira era, ironicamente, o único representante [na nossa tertúlia] do Batalhão de Caçadores 1912 que, de resto, o expulsou do seu seio"... Vd. outros posts sobre o Padre Mário, capelão do BCAÇ 1912 por 4 meses...

Vd. posts de:27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXV: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira )

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P1002: Tabanca Grande: Um novo recruta, Aires Ferreira (BCAÇ 1912, CCAÇ 1686, Mansoa, 1967/69)


Guiné > Mansoa > CCS do BCAÇ 1912 (1967/68) > O capelão, Mário de Oliveira, alferes miliciano, entre soldados. Viria a receber ordem de expulsão da Guiné em 8 de Março de 1968.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > Um periquito em Mansoa... Também o Paulo Raposo passou por Mansoa, nos primeiros meses da sua comissão, devendo ter conhecido e privado com o Aires Ferreira. Era Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852, unidade que foi depois colocada na Zona Leste, Sector L1 - Bambadinca, em Galomaro e Dulombi.

Foto: © Paulo Raposo (2006)



1. Temos aqui mais um ‘recruta’: o Aires Ferreira, que pede autorização para fazer parte da nossa caserna, a maior caserna virtual da Net - pelo menos, em português (esta nossa mania de querermos ser os maiores…). Há aqui uma surpresa, no final, para um tertuliano muito especial… Quanto ao Aires: É, pá, entra cá dentro, que lá fora está uma brasa… L.G.

2. Mensagem do Aires Ferreira:


Caro Luís Graça

Cá vim parar. Era inevitável. Há uns tempos, através de um qualquer link, descobri este notável blogue e desde então tenho lido com emoção tudo o que aqui se escreve, embora na situação de desenfiado.

Hoje, resolvi deixar essa situação, pelo que solicito a necessária autorização para me alistar na Tertúlia.

Sou um escrupuloso respeitador das NEPS (lembram-se ?) e, sendo assim, aqui vai a minha apresentação:

Aires Ferreira
Alferes Miliciano de Infantaria - Minas e Armadilhas
BCAÇ 1912 - CCAÇ 1686
Mansoa, 13 de Abril de 1967 a 13 de Maio de 1969

Para apoio a esta petição, parece-me adequada a seguinte história, que tem algo de dramático e que vou contar com o máximo respeito por todos os intervenientes.

MISSA EM CUTIA

Cutia era um destacamento que tinha um grupo de combate e ficava entre Mansoa e Mansabá e entre o Morés e o Sara - Sarauol [vd. carta de Mamboncó].

O Batalhão tinha um Capelão que, um certo Domingo, lá para o fim de 67, resolveu ir celebrar Missa a Cutia. Para isso, arranjou uma escolta de voluntários que, comandados pelo furriel S.S., lá foram, com 2 Unimogs e o jipe do capelão.

A missa foi celebrada e no regresso, um dos Unimogs despistou-se e uma grande parte do pessoal da escolta ficou com ferimentos muito graves, tendo os restantes seguido até Mansoa para pedir auxílio.

Nesse Domingo eu estava de Oficial de Dia ao quartel de Mansoa e desconhecia totalmente este assunto. Cerca da hora de almoço, passava junto à porta de armas, encontrei o Ten. Cor. , o Comandante do Batalhão, que me disse:
- Alferes Ferreira, o seu grupo está todo destroçado na estrada de Cutia, o que está aqui a fazer? Vá já para lá.
- Não posso, estou de serviço - disse eu e apontei a braçadeira.
- Dê cá, eu fico com ela. O piquete vai já atrás de si com a ambulância.

Assim foi. Lá fui, munido da pistola Walther, com um condutor que por ali apareceu e chegámos depressa. A cena era trágica. Havia 5 ou 6 militares gravemente feridos e deitados na berma. O único militar que ali estava capaz de dar uns tiros para defender o local, se o IN por ali aparecesse, era … o Capelão, que de joelhos na estrada, junto ao jipe, fazia as suas orações, de G3 ao lado.

Logo de seguida chegou o necessário auxílio e todos os feridos foram evacuados e tratados.

O Alferes Capelão que faz parte desta história era… o Padre Mário Pais de Oliveira (1), bem conhecido desta Tertúlia e a quem envio um grande abraço.

Se o meu alistamento for autorizado, prometo que envio as necessárias fotos, que não seguem já porque não sei fazer essa operação (por enquanto).

Cumprimentos
Aires Ferreira

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Nota de L.G.

(1) Até à data, o Padre Mário de Oliveira era, ironicamente, o único representante do Batalhão de Caçadores 1912 que, de resto, o expulsou do seu seio.... Vd. posts de:

27 de Junho de 2005 > Guiné 60/71 - LXXXV: Antologia (5): Capelão Militar em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

14 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCL: Capelão militar por quatro meses em Mansoa (Padre Mário da Lixa)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXV: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira )