Texto do Aires Ferreira, Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, CCAÇ 1686, BCAÇ 1912 - CCAÇ 1686, Mansoa, 13 de Abril de 1967/13 de Maio de 1969)
O soldado desconhecido de Mansoa
Como o Mundo é pequeno!!
Quem diria, Caro Dr. Beja Santos, que o soldado Fernandes tinha ido parar ao seu querido destacamento de Missirá!! ! (1)
O soldado Fernandes pertenceu à minha Companhia, a CCAÇ 1686. Tinha a alcunha de Atleta e foi sem dúvida o soldado mais conhecido de Mansoa.
Pelas suas características psíquicas, não devia ter sido apurado para todo o serviço militar e muito menos ter sido enviado para a Guiné integrado numa companhia de Caçadores. Mas foi. Era um homem muito estranho, afável, disciplinado e tinha inteligência embora não parecesse.
Fez a guerra à sua maneira, ganhou um estatuto especial na hierarquia e teve sorte, muita sorte. Fez todas as Operações, fazia questão de ir sempre na frente e era bom a combater, um pouco temerário, por vezes.
Nos almoços [de convívio do BCAÇ 1912] que fazemos todos os anos, o Atleta é sempre o primeiro a chegar, seja onde for o almoço, de bicicleta, a pé, à boleia, nunca falta.
É hoje uma espécie de mascote do Batalhão e fazemos sempre uma colecta que rende algumas centenas de Euros que lhe são entregues, o que o faz muito feliz, pelo menos por uns dias.
Sobre a ida até Bambadinca e outras aventuras, escreverei noutro dia. Por hoje chega. A velhice de Mansoa cá continua sentada.
O próximo Post que enviar, incluirá uma estória do Paulo Raposo (2) que terá por título A Geladeira. Ele que se cuide.
Um abraço.
Aires Ferreira
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1070: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (10): A visita do soldado desconhecido
(...) "Estávamos siderados a ouvir este relato. Mansoa, em linha recta, estava pelo menos a 120 km. A fazermos fé neste relato, o Fernandes percorrera todos os perigos, arriscara tudo, inclusive tivera sorte na entrada à sorrelfa, sabe-se lá porque porta. Mandei chamar o sentinela junto ao cavalo de frisa. Estava de vigia Cibo Indjai, jurou nada ter visto, nada ter ouvido. Em que acreditar: desertou, veio a monte por várias florestas e está a ser sincero, será que há uma operação aqui perto e ter-se-à perdido, arranjando esta história que não é boa nem má?" (...)
(2) Recebemos ontem um e-mail do Paulo Raposo, sobre o "soldado desconhecido de Mansoa", que rezava assim:
Olá, rapaziada!
Não tenho ideia deste assunto.
A nossa CCAÇ 2405, a Gloriosa, "se tivéssemos estado mais tempo na Guiné, tínhamos acabado com a guerra", era limpinho.
Esteve em Mansoa de Agosto a Dezembro de 1968. O BCAÇ 1911 ainda ficou por lá, julgo que sentados.
No entanto vou pedir ao meu cripto para mandar um rádio, cifrado, a pedir informações ao Felício (Barão de Montanelas) e ao David (Visconde de Vale de Cavalos), pois talvez saibam de alguma coisa, que duvido, pois a esclerose deles é do tamanho da minha.
Um quebra-costelas do Almançor
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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