sábado, 21 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23282: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enf) Parte V

1. Parte V da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Buba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte V

Como já tive ocasião de mencionar atrás, tudo fiz para criar todas as condições que me levassem a ter uma comissão tranquila o mais possível nesta minha passagem pela Guiné. Porém, nem o Comandante nem o segundo Comandante me deram tréguas até ao último dia que passei no Pelundo.

Depois de logo no início ter recusado ao segundo Comandante (Major Pinho) o álcool para limpar o cachimbo, tivemos mais uma pega passado pouco tempo.

De Bissau, e juntamente com os medicamentos que mensalmente eu requisitava, o primeiro-sargento da CCS, que chefiava este serviço, juntou particularmente umas embalagens de Dum-Dum para o pessoal de saúde. O Major, que mal desconfiava da chegada dos caixotes com material sanitário, aproximava-se da porta do posto médico para dar uma espreitadela ao que vinha nos ditos caixotes. Ao ver as embalagens de Dum-Dum, voltou-se logo para mim dizendo que ele e o Comandante também tinham direito a serem contemplados. Para me ver livre dele, dei-lhe duas embalagens com a condição de uma delas ser para o Comandante.

Passados dois dias já estava a pedir mais uma embalagem porque já tinha gasto a que lhe tinha dado. Disse-lhe que não, já que as existentes eram do pessoal de saúde porque se tratava de uma oferta tal como dois frascos de “Oratol” que me eram oferecidos. Zangou-se ficando furioso comigo. Acabei de o comtemplar com um frasco de inseticida para encher uma bomba a fim de matar os mosquitos.

Este Major criou o hábito de pedir às jovens que o deixassem tirar-lhes fotografias. Mas tentava sempre que colocassem as mamas ao léu para mais tarde as poder projetar. Não concordando eu com a atitude deste homem e militar com grandes responsabilidades, contrariando também com tudo que eu tentava fazer junto da população, falei com as jovens para não se deixarem fotografar. Sabendo que a recusa delas se devia a uma ordem minha, fez-me ameaças de prisão para mim mal me apanhasse em falta. A guerra entre nós dois acentuou-se. Eu já não podia ver semelhante militar.

Deste modo, e dado me ameaçar com prisão constantemente, todas as oportunidades que fui tendo para lhe moer o juízo, tudo fiz para não deixar perder nenhuma.

Em frente da residência que tinha sido construída para os Professores que fossem colocados no Pelundo, para dar aulas na Escola anexa a esta residência e, quase também em frente desta, foi também construído um chafariz. No dia da sua construção, foi colocado um Milícia a vigiar o mesmo, enquanto o cimento estivesse fresco.

Nessa tarde, e como era meu hábito entre o fim da hora de serviço e o jantar, fui dar o meu passeio pela aldeia. Aproveitei também para ir dar uma injeção à Professora. Esta, encontrando-se adoentada, solicitou-me que o tratamento que o médico lhe havia receitado não fosse efetuado senão por mim e na sua residência, já que no Posto Médico não havia a privacidade que ela desejava ter.
Nessa tarde, aproveitei também para ver o chafariz e conversar um pouco com a Professora mais o irmão que vivia com ela. Depois de lhe ter administrado a injeção convidaram-me para jogar com eles uma partida de cartas.

Estávamos os três (eu a professora e mais o irmão desta) assim entretidos, quando o Major passou de jipe em frente do chafariz e não parou, seguindo em frente nessa estrada que poucas casas ou palhotas tinha. O tempo passou e começou a escurecer. Comentei para a Professora e para o irmão que estava a achar estranho não ver o Major de regresso para o Quartel. Nisto, o Milícia, que se encontrava como atrás descrevi a guardar o chafariz, veio ter comigo dizendo-me baixinho que o Major se encontrava na esquina de uma palhota e atrás da residência da Professora a espiar-me. Como já era bem escuro, levantei-me do lugar onde me encontrava sentado e, elevando bem a minha voz preguntei: – Quem será o filho da p… que se encontra ali no escuro a espiar-nos? – Ora se fosse a espiar a c… da mãe dele! Regressei ao meu lugar e reparei que a Professora tinha ficado vermelha que nem um tomate bem maduro apesar de ter cor bem morena. Baixinho, foi-me dizendo que eu poderia vir a ter graves problemas com Major. Voltei a levantar a minha voz dizendo que de noite todos os gatos são pardos. Continuei dizendo que quem quer que fosse e que estivesse ali a espiar-nos não passava de um cobarde. Deixei-me ficar por mais cerca de uma hora e só depois me dirigi ao Quartel. Confesso que mal dormi nessa noite.

Na manhã seguinte e como me era habitual, fui tomar o pequeno-almoço já com a messe de Sargentos fechada. Estava eu tranquilo a beber o café com leite quando entra de rompante o Major gritando para os cozinheiros e dando-lhes uma grande reprimenda por me estarem a servir o pequeno-almoço aquela hora. Foi dizendo que ele o Major e Segundo Comandante levantava-se antes das sete da manhã para tomar o pequeno-almoço antes das oito horas e, por isso, não tinham que me estar a servir naquela hora. Estes, muito aflitos e tremendo como varas verdes, responderam-lhe que não eram capazes de me negar o pequeno-almoço naquela hora até porque eu estava sempre disponível para eles fosse a que horas fosse. Achei então que deveria interferir e virei-me para o Major disse-lhe. – Eu, Figuinha de nome e Furriel Enfermeiro, levanto-me pelas oito horas da manhã para tomar o pequeno-almoço antes das nove horas, mas Major, se o senhor partir a cabeça pelas três da manhã, esteja descansado que me levantarei para lhe cozer a cabeça. Vendo que eu lhe tinha tirado os argumentos, virou o disco à conversa e pediu-me para ir ver uns pés de tomateiros que havia mandado plantar em volta do refeitório das praças e que, segundo ele, estavam a morrer. Respondi-lhe que fosse andando que eu lá iria dar uma espreitadela. Assim o fiz.

Na verdade, quando cheguei junto aos tomateiros, verifiquei que estavam morrendo.
Apareceu junto a mim o condutor do Major muito aflito com o que estava acontecendo e foi-me contando que tinha perdido o adubo que o meu colega da Granja de Teixeira Pinto lhe tinha entregado a meu pedido. Como o adubo era parecido com o sal, foi à cozinha pedir aos cozinheiros uma quantidade que aplicou junto aos pés dos tomateiros. Fiquei rapidamente a saber as causas da morte destas plantas. Baixinho, não fosse o Major ouvir já que não se encontrava muito afastado de nós, disse-lhe que o sal tinha queimado as plantas.

O soldado ficou logo a tremer de medo das possíveis consequências que lhe poderiam acontecer acaso o Major viesse a saber. Tranquilizei-o, dizendo-lhe que eu não diria nada ao Major e que iria tentar encontrar outras justificações para o sucedido. Calmamente, fui verificando os caules das plantas procurando alguma causa. Encontrei logo de seguida um tomateiro atacado pela rosca que perfurando o caule o fragiliza. Esta lagarta, eliminando o cerne por onde a planta se alimenta, provoca-lhe a morte. Chamei o Major para lhe mostrar a lagarta causadora da doença.

Neste mesmo instante passava por nós um cabo cripto que vinha assobiando de contente. O Major chamou-o gritando e perguntou-lhe de onde vinha. O cabo respondeu que vinha da aldeia. Então, a besta do Major aplicou-lhe logo uns murros e pontapés ao mesmo tempo que lhe ia dizendo que sendo detentor de segredos militares, não podia nem devia andar a passear fora do Quartel. Eu, apercebendo-me que o Major estava a vingar-se nele por não ter tido hipóteses de se vingar em mim, intervim dizendo-lhe que era uma barbaridade o que estava a acontecer. Parou, respirando fundo, lá foi pedindo-me desculpas dizendo-me que tinha perdido a cabeça.

O dia não ficou por aqui. Disse-lhe para ir até ao Posto Médico que eu iria a seguir ter com ele para lhe dar um remédio para aplicar nos tomateiros a fim de matar a lagarta.

Estava eu aproximando-me do mesmo, verifiquei que o Major atrevido foi apalpar as mamas de uma moça que esperava por consulta. Ela virou-se num repente, pregando-lhe uma valente bofetada. O Major recuou atarantado. Porem, foi perguntando se só o Furriel Figuinha tinha ordem de lhe apalpar as ditas mamas. A moça, sem mais, levantou a blusa e virando-se para mim pediu para lhas apalpar dizendo que a mim dava autorização para o fazer. Ele, ficando pálido, virou as costas, mas foi-me dizendo que ao meu mais pequeno descuido me aplicaria quarenta dias de prisão. Não lhe dei qualquer troco. Até ao fim da comissão as guerras entre nós os dois foram uma constante.

Um outro acontecimento, bem desagradável entre nós os dois, aconteceu numa altura em que o Médico se encontrava ausente, como no caso anterior. Numa das noites e após o jantar, encontrando-me ainda na messe com mais uns Sargentos e alguns Furriéis, entrou o Major que dirigindo-se a mim foi dizendo que se sentia adoentado com muitas dores de garganta. Pediu-me então medicação para o seu posto, ou seja para Major. Respondi-lhe que não entendia onde queria chegar já que todos os medicamentos que possuía não tinham posto militar. Estes, tanto eram para os Soldados como para os Oficiais. Voltou de novo ao princípio da conversa dizendo que ele tinha razão dando como exemplo as aspirinas do Laboratório Militar e as da Bayer. Que as da Bayer seriam para os quadros superiores e as do Laboratório Militar para os soldados e quadros intermédios. Perante o olhar perplexo de todos, já que segundo a ótica do Major se encontravam no segundo escalão, respondi-lhe que não concordava com a sua análise, ao mesmo tempo perguntei-lhe senão confiava nos medicamentos do Laboratório Militar e, caso afirmativo, teria que informar a Direção de Saúde Militar, em Bissau, bem como lhe disse que as aspirinas da Bayer, que possuía no Posto Médico, se destinavam ao pessoal do mesmo, pois tinha sido uma oferta de Bissau. Aproveitei sim, para lhe dizer que na verdade eu lá possuía material com divisas militares. Um desses materiais eram as agulhas para dar as injeções e, como tal, tinha lá uma com o posto de Major. Esta era comprida e grossa e já com a ponta bem virada e com alguma ferrugem. Deste modo, só lhe restava escolher entre a agulha ou os comprimidos. A agulha, apesar de ponta virada, entraria nem que fosse a murro e, ao sair, lhe faria um rasgo na nádega de modo a nunca mais se esquecer de mim. Prefiro engolir as pastilhas, disse-me ele logo a seguir, acrescentando que lhe fosse levar os comprimidos ao seu gabinete.

Logo que o Major saiu da messe, vários comentários foram feitos pelos presentes. Uns dizendo que eu me tinha excedido e como tal poderia ter consequências desagradáveis. Uns outros, mas poucos, enalteceram a minha coragem perante a arrogância do Major. Confesso que fiquei extremamente nervoso, mas não poderia deixar passar a imagem de que o exército possuía medicação conforme as patentes e, como tal, eu faria tratamentos diferenciados. Saí da messe e dirigi-me ao Posto Médico para encontrar medicação de acordo com as queixas que ele me apresentou, e que eram de uma gripe.

Com a medicação em meu poder, lá fui ter com esta encomenda ao seu gabinete. Aqui, voltou a provocar-me. – O que me estás a dar não serão comprimidos anticoncessionais? Respondi-lhe que não possuía tais medicamentos dado que não havia mulheres no Quartel. Respondeu-me dizendo que eu estava muito errado já que no Quartel havia muitas meninas disfarçadas em homens. – Mas não será veneno para me matares? – Voltou ele perguntando. Respondi-lhe de novo que ficasse descansado pois não tencionava matá-lo já que, se o fizesse, teria que gramar com um outro que o viesse substituir. Acrescentei que a ele já lhe conhecia as manhas e, acaso viesse outro, teria que demorar tempo a conhecer. Virei costas não lhe dando mais conversa.

Ao passar pela porta do quarto do Capelão, este chamou-me baixinho, dizendo-me que tinha ouvido a conversa entre mim e o Major e que tinha ficado preocupado. Foi-me dizendo que tivesse mais cuidado. Neste momento senti uma pancada nas minhas costas. Era o Major que, dirigindo-se ao Capelão, lá foi dizendo que eu era uma grande encomenda. Calmamente, retirei-me não alimentando mais o assunto.

A minha guerra com este personagem continuou. Um fim de tarde, altura em que por norma as jovens da aldeia e algumas já menos jovens levavam a roupa aos nossos militares, fazendo estas entregas junto da porta de armas e recolha de roupa suja, como também, recebiam o pagamento pelo trabalho prestado. Dizia eu que, numa dessas tardes, encontrava-me mais o Médico Dinis Calado e o Alferes Tunes em conversa com a jovem Judite que cuidava da minha roupa, bem como da do Médico, do Major Pinho e do Tenente Coronel Romão Loureiro. O tema da conversa era sobre a forma como ela se relacionava comigo. Os dois (Médico e Alferes) estavam fazendo-lhe perguntas provocatórias que ela, muito inteligente que era, ia dando a volta. Eis que aparece o Major vindo de Jipe e dirigindo-se à jovem, a íntima a ir cumprimenta-lo. – Então Judite, não vens cumprimentar o teu Major? Respondeu-lhe ela logo de seguida. – Não Major, o Figuinha não deixa. Bem, fiquei sem fala e o mesmo acontecendo ao Médico e ao Alferes que, ao meu lado, permaneciam. O Major baixou a cabeça e, carregando no pedal do Jipe, entrou em aceleração no Quartel. Médico e Alferes olharam para mim e comentaram que mais um problema eu teria pela frente. Ela, sorridente com a vitória que acabava de obter sobre aquela espécie de militar, acabou com a conversa e foi de regresso a casa. Sobre esta jovem escreverei mais na parte final do meu testemunho.

No dia seguinte, mal o Major me avistou de novo, ameaçou-me dizendo que no dia que me apanhasse em falta, me aplicaria quarenta dias de prisão. Para mim, foi mais uma que me passou ao lado.

Por orientação superior ou por vaidade dele, mandou construir no meio do Quartel uma espécie de monumento com as inscrições e emblema do nosso Batalhão. No dia anterior ao por ele destinado a ser inaugurado, mandou para a prisão (dez dias) o Alferes Tunes meu amigo e do Médico. A consternação deste caso foi geral entre todos nós. Nessa noite, eu, Médico e vários soldados e Furriéis fomos curtir as mágoas no bailarico. Procuramos regressar perto da meia-noite e, já no Quartel, o Médico fez um pequeno discurso virando-se para o local onde o Major estaria a dormir e, ao mesmo tempo, um pequeno grupo onde eu me incluía, demos início à inauguração, urinando sobre o dito monumento. O grupo era fixe para não dar com a língua nos dentes já que, se o Major viesse a saber, tínhamos o caldo entornado!

Por último, e para não escrever muito sobre esta personagem, no fim da comissão e no dia de regresso a Bissau, procurou-me para me dizer que eu não iria juntamente com os outros militares, mas sim, com ele no Jeep. Achei muito estranho este convite, mas calculei logo quais os motivos. Deste modo, mal chegamos a Bissau e o condutor nos levou até à porta do Hotel onde ele se alojava, dirigi-me ao Major dizendo-lhe que o convite que me havia feito foi para lhe servir de guarda-costas no percurso. Atrapalhado por verificar que eu tinha descoberto os motivos da minha companhia no jipe, começou a gaguejar e pediu ao condutor para me levar sem mais demoras ao local onde eu fosse ficar alojado, esperando o dia de embarque para Lisboa. O Major, sabendo do quanto eu era estimado pela população e estes tendo familiares na guerrilha, não me iriam fazer mal como em outras tantas vezes, eu já tinha feito aquele percurso.

(Continua)

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Nota do editor

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Guiné 61/74 - P23281: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51): A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2022:

Queridos amigos,
O espólio de Alfredo Keil é vastíssimo, abarca a sua pintura, os seus desenhos a grafite, até programas de eventos, cadernos de viagens onde deixou inúmeros esboços, há registos das suas viagens por diferentes países, fotógrafo e médico, grande colecionador, autor da música do nosso hino nacional, e podíamos ir muito mais longe. Pintou muito sobre a sua cidade natal, Lisboa, mas também o Zêzere e os esplendorosos rincões de Sintra, foram estes o que aqui registei da sua mais recente exposição que se realizou na Galeria São Roque Too, um espaço bem apropriado para receber o pintor e o músico a quem tanto deve a cultura portuguesa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51):
A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil


Mário Beja Santos

A Galeria São Roque Too realizou uma exposição de Alfredo Keil, intitulado O Som das Árvores, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Constava na notícia da Agenda Cultural de Lisboa: “Alfredo Keil (1850-1907) foi uma figura ímpar da arte portuguesa, tendo-se destacado nas artes plásticas, na música, na fotografia, na literatura e no teatro. Apesar de ter sido um artista muito versátil e completo, a exposição que a São Roque Too apresenta debruça-se predominantemente sobre Alfredo Keil músico e pintor, vertentes em que mais se distinguiu. Assim, na área da música, O Som das Árvores expõe documentos e objetos colecionados com a sua obra mais famosa, o Hino de Portugal – A Portugueza -, incluindo a sua partitura original. Alfredo Keil foi ainda pioneiro na ópera do nosso país; por isso, encontram-se também expostos vários cenários das suas quatro óperas: Serrana, Irene, Dona Branca e Susana, assim como documentação diversa que inclui correspondência trocada com Verdi e Puccini. No que respeita à sua obra plástica, a exposição conta com 70 pinturas e desenhos, que incidem maioritariamente sobre paisagens e vistas dos locais preferidos do artista: Lisboa, Sintra e Zêzere”. O que mostro ao leitor tem a ver com Sintra, embora reconheça que nos deixou obra relevante nas telas que pintou sobre Lisboa ou a região do Cabril.

Alfredo Keil pode ser classificado como um tardo romântico no seu naturalismo, olha-se para esta pintura e vê-se que era um artista que apreciava viajar, isto além de ter sido um colecionador eclético, nesta exposição por exemplo eram patentes objetos dessa vastíssima coleção que ele legou. Viajava muito e deixou as suas impressões desde Havre a Nurembergue (era filho de alemães, o pai veio com D. Fernando Saxe-Coburgo-Gota, abriu alveitaria na Baixa de Lisboa). Ele nasceu em Lisboa e representou a sua cidade natal, nesta exposição da Galeria São Roque Too estava um óleo que muito admiro intitulado Lisboa vista do Ginjal. Sendo verdade que os artistas do seu tempo se sentiam motivados a representar cenas da vida quotidiana, pessoas a passear pelas ruas ou em cafés e nas praias, Keil foi atraído pela natureza onde deixou obras esmeradas. Teve casa na Praia das Maçãs e daí o valioso punhado de representações da natureza que nos deixou, vê-se a sua motivação por Colares, o Cabo da Roca, a majestade selvática das praias.
Não escondo o deslumbramento que toda esta região me dá, aqui passei férias e por aqui deambulo com muito prazer, e com esse mesmo prazer que vos mostro algumas imagens destes belos recantos do concelho de Sintra.

Colares – Ribeira, não datado
Searas em Colares, 1878
Quinta Mazziotti – Colares, 1880
“Banzão”, 1882
Pescador na Praia das Maçãs, não datado
“Monte da Azoia”, não datado
O Farol do Cabo da Roca, 1882
Colares V, não datado
Praia da Ursa, 1878
Na última pedra – Praia das Maçãs, 1895
“Azenhas do Mar”, não datado
Azenhas do Mar, 1851
Colares – Lavadeiras na Ribeira, não datado
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23263: Os nossos seres, saberes e lazeres (504): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (50): Uma amostra dos tesouros colecionados pelo Dr. Anastácio Gonçalves (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23280: Notas de leitura (1447): “Guiné-Bissau, dos povos à nação, uma longa marcha de sofrimento”, por Malam Sambú; edição de autor, Macau, 1999 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Nada de espetacular neste achado, trata-se de um grito de alma de um guineense que se diplomou na República Popular da China e trabalhava na Universidade de Macau ao tempo desta edição de autor, para a qual nunca ouvira qualquer referência. Agradece ao nosso confrade António Estácio o apoio dado na pesquisa bibliográfica. Apresenta alguns aspetos curiosos nas referências que faz às etnias, é manifesto que tinha a história da presença portuguesa na Guiné muito colada com cuspo, daí a sua digressão errática. As mãos não lhe doem na acusação que faz de todos os excessos do regime a partir do Estado. Um documento que fez época, de alguém que na diáspora não se conformava com a violência e o caos em que se encontrava a Pátria.

Um abraço do
Mário



Guiné-Bissau, dos povos à nação, uma longa marcha de sofrimento

Beja Santos

“Guiné-Bissau, dos povos à nação, uma longa marcha de sofrimento”, edição de autor, Macau, 1999, é escrita de Malam Sambú, natural de Mansoa, licenciado em Engenharia Elétrica e Eletrónica pela Universidade de Nanjing, China, e no momento em que deu à estampa este seu livro trabalhava na Universidade de Macau. É uma obra que possui uma narrativa divulgativa sobre determinadas etnias depois de apresentar a geografia do país, fala igualmente da chegada dos europeus (infelizmente com muitos dislates, incorreções, inverdades e até saltos bruscos na narrativa histórica) após uma descrição sumária da luta armada revela ao que vem, no essencial: traça um libelo acusatório do regime ditatorial de Nino Vieira.

Vê-se que estudou a preceito um conjunto de etnias (não trata de todas e das que trata revela manifesto desequilíbrio expositivo) e enuncia um conjunto de curiosidades que vale a pena repisar. Falando dos Balantas diz que, de entre o grupo animista eles são os mais demorosos integrando um longo bloco étnico que se estende por toda a costa senegalesa até à Costa do Marfim. A ausência de Estado explica a falta de menção quanto à sua tradição histórica. Descreve os diferentes escalões na estratificação etária, é um dos pontos curiosos da sua exposição. Os Balantas são grandes produtores de arroz. Não aceitaram pacificamente a imposição colonial de terem chefes vindos de povos islamizados, como muitos outros autores já observaram, esta base de contestação propiciou a grande adesão à luta armada desde a primeira hora.

Os Papéis, ou Pepéis, dispõem de uma organização social hierarquizada semelhante aos Mandingas e quanto à língua aparentam-se com os Brames. São originais do Sul da Guiné, da região de Quínara, foram-se deslocando para a ilha de Bissau onde criaram vários regulados, todos eles religiosamente subordinados aos Beafadas, cujos ídolos ainda hoje veneram. Para além da ilha de Bissau, distribuem-se ao longo do Litoral, desde a mata de Putama até ao rio Cacheu. Na ilha de Bissau existe um local conhecido pelo nome de Enterramento, o qual possui uma grande carga histórica. Fica na zona compreendida entre Brá e Bor, onde se encontram enterradas algumas personalidades guineenses mais importantes, caso do régulo Bacampolõ Có.

Os Mansoanques ou Suénes têm a sua difusão étnica no Norte da Guiné-Bissau. A região compreendida entre Farim e Mansoa era predominantemente habitada pela etnia Mansoanque, originários de uma cisão havida nos Beafadas. Na sequência da guerra santa que lhes foi movida pelos Mandingas, o grupo Mansoanque sofreu uma enorme retenção, é hoje um dos grupos étnicos mais reduzidos da Guiné-Bissau. Em virtude da grande semelhança que existe entre os apelidos Mansoanques e Beafadas, há quem admita mesmo que estas etnias tenham feito parte da mesma família. Há uma enorme semelhança entre apelidos, por exemplo Sambú, Djassi, Soncó e Mané.

Os Mandingas são descendentes dos povos oriundos do Sudão Ocidental e da Etiópia. Sabe-se que no século XIII os Mandingas de Malinke, sob o comando do general Sundiata Ketá estabeleceram-se na região do Gabú. A Guiné torna-se um membro do vasto império do Mali sendo dirigida por um Farim (Governador) que normalmente era escolhido de entre as famílias Mané e Sané. O Gabú era o principal estado Mandinga. No Nordeste, na margem direita do Geba, os Mandingas formaram os reinos de Oio e de Braça. Para além do território guineense havia também outros pequenos reinos mandingas nos territórios vizinhos, tais como os do Vale do Gâmbia. Diz também Malam Sambú que os Mandingas ou Incas são originários do Oio.

Fala sumariamente dos Fulas, Bijagós, Beafadas, Nalus, Cocolis, Nhomincas, Banhuns, Cassangas e Manjacos.

Temos depois o histórico da presença dos povos europeus com destaque para os portugueses. Não deixa de referir que o trabalho forçado teve uma presença pouco expressiva, sendo praticamente utilizado pelas autoridades administrativas na construção e manutenção de estradas de terra batida.

Esquematiza as diferentes etapas da luta armada e após referência à chegada entusiástica do PAIGC ao território da Guiné-Bissau faz um rol da caça às bruxas, purgas, assassinatos, execuções sem qualquer tipo de julgamento, refere invenções de golpes como o alegado preparativo de um golpe de Estado por parte dos Antigos Comandos Africanos de que nunca se apresentou um documento de acusação fidedigno, contextualiza o terror permanente das arbitrariedades da polícia secreta.

E assim chegamos ao seu território de eleição, após o 14 de novembro de 1980 a ascensão de um processo ditatorial onde o autor é meticuloso a expor os crimes e extorsões praticados por Nino, incluindo a falsificação dos atos eleitorais, o assassinato dos rivais, como Paulo Correia, a sua vida luxuosa, a sua desbragada vida sexual destruindo matrimónios e enxovalhando famílias, os seus investimentos no estrangeiro, a venda de armas aos rebeldes do Casamansa, o progressivo descalabro dos Serviços Públicos. Talvez dado o facto de trabalhar em Macau, reporta a venda de passaportes a chineses que nem sabiam onde ficava a Guiné-Bissau… Usa uma linguagem crua, não se coíbe de dizer que o expoente máximo da ladroagem era personificado por Samba Lamine Mané.

E assim chegamos à questão das armas do Casamansa, diz taxativamente que Nino tinha uma percentagem na venda das armas mas que Ansumane Mané também não tinha as mãos muito limpas, o que acontece é que todo o círculo militar estava inteiramente informado de que iria ocorrer uma nova purga e foi nesse contexto que se iniciara o sangrento conflito político-militar com a chegada de tropas estrangeiras.

Este professor universitário é uma voz solitária, apresenta mesmo um manifesto propondo o saneamento político do país. É evidente tratar-se de uma obra datada, nunca tivera qualquer referência à sua existência, é a felicidade de vasculhar os vastos descritores da Guiné-Bissau na Biblioteca Nacional que possibilitam estes achados.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23266: Notas de leitura (1446): “Cartas à Guiné-Bissau, Registos de uma Experiência em Processo”, por Paulo Freire; Moraes Editores, 1977 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23279: Lembrete (38): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: a participação especial da madeirense CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) (João Crisóstomo, Nova Iorque)

1. Mensagem de João Crisóstomo, que se encontra temporariamemte em Portugal e que vai passar pela Eslovénia, terra da sua esposa Vilma, antes de regressar a Nova Iorque:

[O João Crisóstomo  (foto à esquerda com a Vilma) é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito nos dizem, a todos nós, portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...


Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque, depois de ter passado por Inglaterra e Brasil; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun. Tem 182 referências no nosso blogue; está aqui "atabancado" desde 26 de julho de 2010 (nº 432)
].





CCAÇ 1439, BI17, "Bravos, Avante!" (1965/67)


Data - quarta, 18/05, 15:42

Assunto - 26º Convívio de Bambadinca (1968/71)

Parabéns,  meu caro José Almeida,  pelo bem organizado encontro (*). .. Não sei quantos grupos constam deste encontro, mas qualquer coisa próximo de 100 participantes é fantástico.

Eu devo confessar que me encontro "um pouco” frustrado, mas … eu e a CCaç  1439 somos de 1965/67, antes da maior parte da gente deste encontro... E a idade não perdoa.

Como, de acordo com as minhas previsões,  registaste 10 pessoas (e ainda espero esse um número de participantes possível ) vamos fazer o seguinte: eu tomo a responsabilidade por 10 e se o número for menor do que 10 eu pessoalmente tomo responsabilidade e pago nesse dia a diferença. 

 É que,  apesar da boa vontade manifestada em comparecer quando os contactei, vários que nessa altura me disseram tencionavam vir e eu tinha como seguros, contactaram-me recentemente a dizer que por razões inesperadas (relacionadas con saúde ) não podem agora comparecer. Tenho pena que eles não possam por motivos de saúde:  a idade traz estas coisas, e eu acredito no que me dizem. 

 Acredita que a minha pena e a minha frustração são grandes; mas tu não tens culpa; não te faltarão coisas em que pensar; não seja este um problema que não previas.

Alguns só podem vir se o filho ou um amigo os trouxerem. Eu e minha esposa mesmos nos comprometemos a ir buscar um deles se nesse dia os seus filhos o não puderem trazer. No meu caso a minha esposa é que é sempre a “chauffer"...

Para mim é sempre muito importante ver os meus amigos, sempre que uma ocasião se proporciona. Ee neste encontro eu vi uma possibilidade de os rever agora.... É que nós somos poucos pois a companhia é de madeirenses e apenas os quadros eram da metrópole. E há vários anos já acabámos os nossos encontros. Não fora este anunciado encontro,  eu já estaria na Eslovénia há quase duas semanas pois os meus assuntos de saúde felizmente eram leves e o médico "deu-me alta" muito mais depressa do que eu esperava.

No dia 26 vou tentar contactá-los; mas suceda o que suceder, conta com 10, OK? Aguardo com antecipação este encontro.

Um grande abraço.
João C.



Portugal > Região Autónoma da Madeira > Funchal > Julho de 2015 > Pessoal da CCAÇ 1439, uma companhia toda madeirense (com exceção dos graduados e especialistas; o Freitas era o único alferes madeirense> "Orlando Vieira; Antonino Freitas, Gabriel Gomes Garanito; José Manuel Mota Barbosa; João Baptista de Nóbrega; José Honorato Silva; Danilo Peneta; José Manuel Gouveia Fernandes; Heliodoro Freitas Branco e eu, junto com minha esposa,Vilma Kracun (agora também Crisóstomo há dois anos e picos!…)" (Presume-se que a foto tenha sido tirada pelo Freitas, não ?!)


Algarve > Faro > Julho de 2015 > "Vilma e eu encontramo-nos com o Chico, Henrique Matos, Teixeira e Viegas".... Um ano produtivo para o João, que fez o "três em um": deu para dar um salto à Madeira e ao Algarve, em busca de antigos camaradas de armas da CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que andarem pelos mesmos sítios, por volta de 1965/67: Porto Gole, Enxalé, Missirá, Xime, Bambadinca... E ainda esteve, a seguir, na Lourinhã, no Porto Dinheiro, numa caldeirada organizada pelo nosso saudoso Eduardo Jorge Ferreira! (**)

[Recorde-se que o Henrique Matos, açoriano de São Jorge a viver no Algarve, foi alf mil, o primeiro cmdt do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68),e que o José António Viegas, algarvio, foi fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68). Ambos são membros da nossa Tabanca Grande].

Fotos (e legendas):  © João Crisóstomo (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23208: Lembrete (37): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: há 30 presenças confirmadas, das quais 10 do João Crisóstomo e outros camaradas da CCAÇ 1439 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)

Vd. também poste de 17 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23087: Convívios (921): XXVI Convívio do Pessoal de Bambadinca, 1968/71: Caldas da Rainha, sábado, 28 de maio de 2022 (José Fernando Almeida, ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Vd. poste de 10 de julho de 2015 >  Guiné 63/74 - P14860: Efemérides (195): Os 50 anos da partida, para o CTIG, da madeirense CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67), celebrados no Funchal, em Faro... e no Porto Dinheiro, Lourinhã (João Crísóstomo / Eduardo Ferreira)

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23278: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enf) Parte IV

1. Parte IV da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (BissauBuba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte IV

Sobre o assassinato dos Majores e para que fique registado como a mancha mais negra que trouxe da Guiné, foi este acontecimento.

Recordo como fosse hoje. Dia vinte de Abril de 1970. Cerca de dois meses antes sentimos sopros de liberdade e que a guerra se aproximava do fim. Naquela zona da Guiné, as nossas tropas movimentavam-se com liberdade havendo ordens de se evitarem contactos com o PAIGC. As escoltas para Bissau faziam-se sem armas. O Chefe da guerrilha da zona esteve no nosso Quartel trocando impressões com o nosso Comando. Levou umas caixas de batatas porque disse ele terem armas, mas não alimentos. Soldados nossos que gostavam de caçar, infiltravam-se no mato com muita tranquilidade.

Dia vinte de Abril. Levantei-me cedo para apanhar a escolta em mais uma ida minha a Bissau. Manhã cinzenta e triste.

 Verifiquei um movimento fora do normal no Quartel. Procurei saber o que se estava a passar. Baixinho me disseram que uns Majores iam para uma reunião com a guerrilha para acertarem o fim da guerra na Guiné.

Parti na escolta para Bissau sem qualquer arma de defesa tal como todos os militares que na mesma iam, com a missão de me protegerem e aos outros que a consultas externas iam ou para férias.

De regresso ao fim da tarde quase noite depois de a jangada ter atravessado o Rio Mansoa, uma patrulha chefiada pelo alferes Francisco da nossa Companhia 86, muito nervoso por nos ver sem qualquer arma de defesa, se dirigiu a mim como o mais graduado da escolta, para termos o máximo dos cuidados de não ligarmos as luzes dos meios de transportes que tínhamos porque se encontrava um grupo de guerrilha estranho na zona e que os Majores ainda não tinham regressado do mato o que era muito estranho e que algo estava fora do controle. 

Fiquei como todos os que comigo se encontravam em pânico.
Felizmente fazia luar. Todos nós apoquentados por não termos meios de defesa em caso de ataque da guerrilha. Em grande aceleração já que a estrada bem alcatroada o permitia como também, o luar nos iluminava.

São e salvos chegámos já bem noite ao Quartel no Pelundo. O ambiente que encontrei era pesado demais para o habitual. Toda a gente de rosto cabisbaixo. Na aldeia quando por lá tínhamos acabado de passar não se viu ninguém nas ruas. Perguntei ao primeiro militar com quem me cruzei o que se passava. Resposta seca. – Os Majores ainda não regressaram!

Aproximei-me da zona de Comando e o vai e vem era enervante. Soube naquele momento que a maior tristeza era não poder sair qualquer patrulha nossa ao encontro dos nossos Majores e demais acompanhantes. Tinha sido negociado um compromisso de, durante vinte e quatro horas, não haver qualquer movimento das nossas tropas para se evitarem confrontos. Tudo bem estudado pelo inimigo. Mesmo assim, os nossos militares e acompanhantes arriscaram já que, tinham como missão tentar acabar com a guerra.

Com uma noite mal dormida derivado a toda a agitação do dia anterior, levantei-me mais cedo que o habitual e, logo deparei com o General Spínola muito agitado e a chorar.

Soube que as nossas tropas tinham saído de madrugada à procura dos nossos Majores e demais acompanhantes. Dirigi-me rapidamente para o Posto Médico para saber pelo Dr. Dinis Calado quais os preparativos a tomar. Não foi necessário esperarmos muito porque vimos chegar a patrulha com as viaturas onde os nossos se tinham deslocado e, os corpos esfacelados, noutras viaturas.

Acompanhei o Médico até junto dos corpos para este examinar as causas das mortes e, se possível há quantas horas os casos teriam acontecido.  Com eles tinha seguido também um representante do Governo da Gâmbia que também todo cortado apresentava as suas mãos esfaceladas só em pedacitos de pele tanto como, os dois ex-guerrilheiros que com eles seguiram para servirem de intérpretes.

Verifiquei também que os jipes tinham os capôs com descrições a giz onde se podia ler o seguinte: - Nem só com homens as guerras se ganham.

Uma onda de raiva percorreu todo o meu corpo. Andei dois dias sem poder encarar um negro. A população da aldeia receosa não saiu de casa. Porem, ao fim da tarde do segundo dia, um grupo de homens vieram pedir armas e seguirem com os nossos para o mato procurando os assassinos. Este gesto da população veio a acalmar os ânimos.

Esta era a quarta e última reunião agendada com a guerrilha do Norte da Guiné para, a partir desta parte do território levar ao fim o conflito.

O Major Pereira da Silva que tinha conhecido em Buba, por várias vezes tinha-se encontrado com a guerrilha inclusive, dormido em seus acampamentos. O Major Passos Ramos conheci-o pouco tempo antes, quando veio ter comigo ao Posto Médico pedir-me uma aspirina para as dores de cabeça que naquele dia sentia, mas, só se não fizesse falta para os soldados. Homem extraordinário e muito estimado pelos nativos daquela zona. Do Major Osório, só de ouvir falar muito dele e das suas capacidades operacionais que tantas baixas iam causando ao PAIGC.
 
O Alferes Miliciano Mosca (meu colega de profissão civil) fazia parte dum grupo destinado à acção psicológica, da qual eu fazia parte também.

Devo acrescentar que os nossos militares foram para esta reunião sem com eles levarem qualquer arma conforme o combinado e, era também norma, a guerrilha não ter armas nestas reuniões. Acontece que estes guerrilheiros foram surpreendidos por um outro grupo de altas patentes contrárias ao fim do conflito. No grupo da guerrilha que se encontrava com os nossos, havia um infiltrado para dar o golpe final e liquidar de uma só vez a chamada fina flor dos nossos oficiais na Guiné.

Muitos fuzilamentos viemos a saber que aconteceram entre aqueles com quem os Majores se encontravam. Aos naturais de Cabo Verde que chefiavam o PAIGC não interessava os objetivos que se prepunham nestas reuniões e que eram acabar com a guerra. Daquela forma eles não faziam parte dos resultados finais, ou seja, de dois países unidos e independentes. Cabo Verde ficava sem qualquer hipótese de se tornar um país independente porque nunca foi Colónia de Portugal, mas sim, ilhas povoadas pelos Portugueses.

Com aqueles acontecimentos foi meu pensamento que Amílcar Cabral tinha os seus dias contados. Os guerrilheiros interessados no fim da guerra, e que escaparam aos fuzilamentos, não mais lhe perdoariam ter autorizado aquele massacre, isto porque Spínola mandou bombardear todas as bases conhecidas causando muitas baixas à guerrilha.

Ainda hoje ao escrever estes acontecimentos, retenho as imagens do passado que são as lembranças mais dolorosas daqueles tempos. Soube anos mais tarde por um colega meu natural da Guiné e que várias vezes com ele me encontrava em Lisboa, que o infiltrado naquele grupo e se gabava de ter matado os Majores, tinha posto fim à sua vida na prisão onde foi parar numa das várias revoltas que lá aconteceram, enforcando-se nesta. Teve o fim que merecia.
Pelundo > Dia da inauguração da escola e da residência para o professor, pelo General Spínola. Este fez um discurso arrasador para o Régulo Vicente. Isto aconteceu pouco tempo após o massacre dos três Majores, do Alferes, do representante do governo da Gâmbia e dos três ex-guerrilheiros do PAIGC.

Voltando ao meu dia a dia no Pelundo, breves dias depois da inauguração do Posto Médico Civil e da Escola, esta começou a funcionar com uma professora de origem cabo-verdiana, mais um irmão que a complementava. Cabe-me dizer, que a Escola possuía lateralmente residência para os professores.

Um dos casos de saúde que muito, desde então até aos dias de hoje, me preocuparam e me deixam indignado, está relacionado com as jovens, e algumas já menos jovens mulheres, que vão sofrendo mutilações sexuais.

A certa altura no ano de 1970 fui chamado por dois adultos ligados à família de Régulo Vicente, para os poder acompanhar a uma zona nos arredores da população e, deste modo, verificar alguns casos de saúde. Achei estranho, pedirem-me para ir fora do perímetro da população já que, ou vinham ao posto médico ao quartel ou solicitavam ajuda à companhia para fornecer meios de transporte para estes casos. Confesso que pensei duas vezes mas, falando para dentro de mim, achei que não deveria mostrar receio e confirmei que os seguiria e só, conforme o pedido deles.

Receoso à medida que muito me afastava para o interior do mato, chegamos a uma clareira onde se encontrava um grupo de jovens, neste caso rapazes. Seminus, com uma espécie de forquilha presa à anca para que o pénis ficasse no meio e, deste modo, não tocar nas suas pernas. Espantado e meio aterrorizado com o que meus olhos observavam, perguntei que barbaridade era aquela? Furiosos com a minha pergunta, resolveram entrar em ameaças já que me encontrava sozinho. Respondi, logo de seguida, que não lhes tinha medo, mas sabe Deus como eu me encontrava fragilizado. Então o que se passava. Fizeram a circuncisão com lâmina e a sangue frio àqueles jovens. Alguns deles apresentavam grandes infeções. Teriam que ser rapidamente tratados com antibióticos, mas queriam que eu me deslocasse lá ao que me recusei imediatamente. Pensaram bem e acabaram por ceder na condição de ser só eu a saber do caso e também apenas ser eu a tratá-los. Aproveitei, a ignorar os acontecimentos e exigir que me informassem do que estava a acontecer às jovens que eu soube se encontravam fora da população. Responderam-me que fazia parte do “Fanado” nas meninas e que constituía no corte do clitóris.

A minha indignação naquele momento foi enorme e acabei por lhes dizer que tudo o que observei e o que não vi, mas que me acabavam de descrever, era um crime de saúde pública pois, no caso das meninas, estavam a privá-las de satisfação de prazer sexual a partir daquele acto. Voltaram a não gostar de me ouvir e repetiram novas ameaças. Virei costas e regressei ao Quartel.

Durante os dias seguintes lá fui tratando das infeções aos rapazes e em algumas jovens também. Acrescento que por fim, aquando na festa final da realização do “Fanado”, reparei que duas ou três mulheres já com filhos faziam também parte do grupo.

Já em Portugal, por várias vezes citei este crime de saúde pública sempre que tinha na minha frente pessoas ligadas à saúde e naturais de África. Houve uma Médica que me respondeu dizendo que este assunto era culpa política do tempo de Salazar. E hoje? Pergunto de novo!
Pelundo > Refeitório dos Sargentos > Um colega da Granja de Bissau mais o chefe da secretaria. Este meu colega de nome Elói ,veio para Lisboa logo a seguir ao 25 de Abril, com quem continuei a encontrar-me.

Voltando de novo à parte militar, cabe-me dizer que quando tive que me ir juntar ao Batalhão no Pelundo e após a travessia do Rio Mansoa, a estrada que tínhamos de percorrer durante muitos quilómetros se encontrava em terra batida tal como a que nos separava da cidade de Teixeira Pinto. Como tal, os sapadores iam primeiro na frente picando o percurso, não fossemos apanhar minas na estrada. Assim, nos primeiros meses, verifiquei não só a construção das nossas novas instalações como aquelas estradas foram alcatroadas e lateralmente foi desmatado, de modo a dificultar ao inimigo realizar emboscadas.

Além do posto Médico e da Escola, foi também construída uma Igreja mais ou menos ao centro da aldeia.
A minha aproximação com a população foi diariamente aumentando, contribuindo para tal a jovem que cuidava da minha roupa de nome Judite. O carinho que ela me começou a dedicar e também todos os seus familiares, tornou-se conhecido na aldeia e no Quartel. Ainda hoje, aquando nos encontros para almoços do Batalhão alguns me falam dela.

Como referi em páginas anteriores, a minha missão na Guiné não se resumia apenas a cuidar da saúde dos nossos militares que comigo se encontravam, mas também da população. Uma outra missão me foi solicitada e se referia a ajudar os locais a cuidar das suas safras, de modo diferente da que efetuavam, de modo a poderem aumentar os seus bens alimentares.

Assim, além do arroz e mandioca, também semeavam feijão e amendoim (aqui conhecido por mancarra). Outras culturas como a bananeira, a papaia, a manga e o coco, sem esquecer o milho e a castanha de caju (esta uma das grandes riquezas da Guiné) mais as palmeiras das quais extraíam o óleo de palma para temperar os seus alimentos.

No Pelundo verifiquei que as culturas de sementeira (exemplo do feijão e do amendoim) após esta, os possuidores destas culturas só lá voltavam para a colheita. Deste modo, observei que as plantas infestantes eram mais que as plantas cultivadas. Acresce, e antes que me possa esquecer, que praticamente todo este trabalho era efetuado por mulheres, muitas delas com idade avançada que, bem cedo, ainda antes do Sol nascer, lá iam de sachola ao ombro para o campo.

As árvores que produziam as mangas, encontravam-se espalhadas ornamentando as ruas da aldeia. Estas árvores frutificavam com abundância, embora do meu ponto de vista técnico de fraca qualidade, já que seus frutos eram resinosos e muito fibrosos. A população mordiscava os frutos sugando o sumo.
As bananeiras que pude ver e observar bem, produziam bananas de tamanho muito reduzido embora muito saborosas. O tamanho do fruto era resultante das plantas não serem podadas. O pé da bananeira que produzir fruto deve ser eliminado para que outro que rebenta possa ser mais forte e assim produza cachos com frutos mais desenvolvidos.
Papaeiras vi muito poucas naquele local. Plantamos no último ano que lá estivemos, e em frente da entrada do Quartel, várias destas plantas frutíferas que foram fornecidas pelo meu colega da Guiné que chefiava a granja de Teixeira Pinto.

Assim, cumprindo a minha tarefa de ajuda técnica agrícola à população, falei com um dos filhos de Régulo Vicente, para acertarmos o dia e o lugar onde poderia dar uma palestra com os chamados Homens Grandes. Deste modo, acertei com eles uma manhã de fim-de-semana para não complicar com o meu horário de trabalho na saúde.

Com todo o grupo reunido num terreno que servia duma espécie de quintal, como previamente se tinha combinado, a palestra seria sobre o cultivo da mandioca cuja farinha era uma das bases da sua alimentação.
 
Este terreno encontrava-se inculto, não cavado e cheio de plantas infestantes. Esta escolha feita por mim teve um propósito de poder verificar em loco, como preparavam a terra. Pedi-lhes então que me fizessem a preparação do terreno conforme os seus hábitos para plantar as estacas de mandioca.

Um dos homens presentes segurou numa espécie de enxada e, com ela, foi virando leiva sobre leiva executando assim o camalhão sobre o qual se espetariam as estacas de mandioca.

Acabado por eles este trabalho, tomei a palavra, dizendo-lhes que com aquele amanho da terra se justificava terem plantas com raízes tão rudimentares que produziam tão pouca farinha tão necessária para a sua alimentação. Aconselhei-os primeiro a cavarem toda a terra, sacudirem dela todas as ervas e então, construírem o camalhão onde com a terra fofa aplicariam as estacas de modo a produzirem raízes grossas e, como tal, mais farinha.

Responderam-me em coro que daquela maneira dava manga de trabalho. Nega doutor, disseram-me eles. Respondi então que de outro modo não valia a pena eu ensinar-lhes formas da aumentarem a produção de bens alimentares. Fiquei desiludido.

Falei dias depois com o meu colega guineense, pessoa muitas vezes já citada nesta minha passagem por este país Africano. Alertou-me para desistir de lhes dar conselhos, dizendo-me serem pessoas que não gostavam muito de vergar as costas.

Guiné 61/74 – P23277: (Ex)citações (408): Os Serviços de Reordenamento da Guiné pelo BENG 447 e tropas de quadrícula, apoiados pelas populações locais (José Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 16 de Maio de 2022 onde nos fala, a pedido do editor Luís Graça, da cooperação da 3327 com a população no reordenamento de  de Bissássema:

Mano Carlos, amigos e companheiros,
O Luís Graça sugeriu que um simples comentário meu fosse publicado como “poste” e pediu-me a adição de mais algumas fotos.
Tal como afirmei no comentário inicial, a minha integração nas tropas africanas da Guiné aconteceu alguns dias antes da CCaç 3327/BII17, a minha companhia ter ido para Bissássema, subsector de Tite. Fiz os possíveis para me colocar no “terreno”, mas admito a possibilidade de alguma falha factual. As fotos que tenho foram-me cedidas por diferentes fontes, a quem presto a devida vénia.


Dito isto, para além do serviço militar da sua responsabilidade nas matas da Guiné, importa realçar o trabalho insano desenvolvido por aquela CCaç 3327/BII17 em prol das populações daquela zona e que perduraram no tempo.
Sem lá ter estado, os meus companheiros daquela companhia certamente compreenderão no meu desabafo, o orgulho que ainda hoje sinto pelo seu trabalho, pela sua abnegação, pelo seu sacrifício, pelo respeito pelas populações locais, pelo seu companheirismo, pela amizade que desde então perdura entre todos.


Este foi o comentário que fiz ao Poste Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco e que mereceu a atenção do Luís Graça:

"Caros amigos e companheiros,
Eu saí para as tropas africanas nas vésperas da minha companhia, a CCaç3327/BII17, ir para o sector de Tite. Os dados que a seguir registo foram tirados da História da Unidade e de alguma consulta com os meus companheiros que lá estiveram.
A CCaç 3327/BII17 assumiu a responsabilidade de Bissássema, subsector de Dita, no dia 19 de Novembro de 1971, altura em que deu início a uma das suas responsabilidades, o reordenamento de Bissássema. Com a ajuda das populações daquele local, até ao fim do mês de Maio de 1972, construiu 100 (cem) casas cobertas a zinco. Relembro aqui que era Chefe de Tabanca o guineense Augusto, várias vezes referenciado em outros artigos.
Após a construção daquelas casas, ainda antes do tempo das chuvas, a companhia construiu mais um edifício para ser usado como messe da oficiais e sargentos. Os edifícios destinados ao aquartelamento também sofreram remodelações com a cimentação de paredes e chãos, sendo que a cantina das praças foi aumentada para sala de convívio.
Durante o período foi acabada a estrada e alcatroamento da que ligava Bissássema a Tite. Também foi construído um furo artesiano, tendo a CCaç 3327/BII17 procedido à construção dos fontenários. Também se fez a electrificação do perímetro. Também se procedeu à abertura e manutenção de uma agropecuária que visava a melhoria da agricultura e das espécies animais.
E mais, talvez a melhor obra da CCaç 3327, pelo impacto que poderá ter tido na vida das pessoas, sobretudo as crianças de então, foi a construção de duas escolas e o professorado (por militares) do ensino primário. Para o interesse que possa ter para a nossa história, a companhia tinha duas equipas na construção das casas. Não posso precisar o número de militares em cada equipa, mas o pessoal envolvido andaria por um pouco mais de duas secções e junte-se a isso um pelotão destacado em Tite. A falta desses efectivos nas actividades militares era compensada com a adição de dois grupos de milícias, os Pelotões de Milícias n°s 294 (38 milícias) e 295 (39 milícias) perfeitamente integrados nos grupos de combate da companhia.”

Foto 1 – Construção de uma casa no Reordenamento de Bissássema. Na foto o 1.° Cabo At Inf José Silveira Leonardes, o Sold At Inf João Lourenço de Avelar Ventura e o Sold At Inf Idalmiro Neves de Melo procedem à cobertura da nova casa.
Foto 2 – Aspecto da Tabanca de Bissássema. Os dois primeiros edifícios faziam parte do aquartelamento.
Foto 3 – Coluna auto onde são bem visíveis elementos da CCaç 3327 e dos Pelotões de Milícia (desconheço o nome dos dois milícias na foto). De frente para nós, na fila de trás, da esquerda para a direita: o 1.° Cabo Jorge Manuel da Ponte Moniz (já falecido) e o Furriel Mil Henrique Francisco Garrido. Com as costas viradas para nós e pela mesma ordem, o 1.° Cabo Telegrafista Álvaro Ferreira Pereira, o Sold Manuel Alberto da Silva Rocha (já falecido) e o 1.° Cabo Carlos Manuel da Silva.
Foto 4 – Da esquerda para a direita: o Sold At Inf NM 11532470, Raimundo Henrique da Silva, (já falecido) e o 1.° Cabo At Inf NM José Marcelino Gonçalves de Sousa, no regresso de uma operação à Península da Junqueira onde foi apreendido algum material IN.
Foto 5 – 1.° Cabo José Sousa (CCaç 3327/BII17) junto do Monumento da CCav 2765 aos seus mártires de guerra.
Foto 6 – O mesmo monumento, mas do outro lado, com a inscrição da CCaç 3327 com o cuidado em juntar a inscrição dos Pelotões de Milícias.
Foto 7 – Cópia de um documento da História da Unidade referindo a visita do Ministro da Defesa Horácio Sã Viana Rebelo.
Foto 8 – O Alferes Agostinho Morgado Barata Neves (2), se bem julgo saber, na altura a comandar o aquartelamento de Bissássema, cumprimentando o Ministro da Defesa, Horácio Sá Viana Rebelo. O Alferes Francisco João Magalhães (1), coadjuvado que foi pelo Fur Mil Manjuel Lopes Daniel e, no impedimento deste, pelo Fur Mil João Alberto Pinto Cruz, era o oficial responsável pelas construções do Reordenamento de Bissássema, aguarda a sua vez para cumprimentar o Ministro da Defesa Nacional. Entre outros oficiais, o General Spínola (3) acompanhou esta visita Ministerial.
Foto 9 – Documento retirado da História da Unidade que atestam alguns dos trabalhos realizados pela CCaç 3327/BII17 no reordenamento de Bissássema e arredores (escolas de Feninque e Fóia. Estes trabalhos prolongaram-se e foram concluídos no mês de Novembro e primeira semana de Desembro.
Foto 10 – Elementos da CCaç 3327/BII17 na capinação e limpeza do auqrtelamento de Bissássema.
Foto 11 – O 1.° Cabo At Inf Carlos Manuel Fragoso de Medeiros conduzindo as suas tropas, devidamente “fardadas” para o tempo, os alunos (as) da escola primária mantida pela CCaç 3327/BII17.

O ensino escolar foi, certamente, uma boa herança deixada pela CCaç 3327 na então Província Ultramarina da Guiné.

Abraço transatlântico.
José Câmara
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Nota do editor

Vd. poste de 10 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 – P23247: (Ex)citações (407): Pedaços da vida militar. A tropa e o caminho rumo à Guiné. (José Saúde)

Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...


Uma foto de família, já antiga, do "Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné", tirada por ocasião dos seus 10 anos de existência... Legenda: "Em 10/11/2017,  o Bando em Mogadouro, a caminho de Vila For". 

Na altura ainda eram vivos o Jorge Teixeira (Portojo) (o quinto da fila de trás, a contar da direita, se não erro), e o Joaquim  Peixoto (o terceiro da primeira fila, a contar da direita). 

Mas, já agora, aqui ficam os seus nomes, da esquerda para a direita: 1ª fila: João,  Jorge Teixeira, António Tavares, Zé Manel Cancela, Xina, Valdemar,  José Ferreira (o que único que usa chapéu... preto), Cibrão, Joaquim Peixoto,  António Carvalho e Fernando Súcio; 2ª fila: Jorge Lobo, um elemento não identificado (por detrás do Cancela), Ricardo Figueiredo, Alberto, Eduardo Campos, Freire, Manuel, e António Pimentel... 

Grande parte deles são também membros da Tabanca Grande, mas faltam aqui nomes como o Eduardo Moutinho. Não sabemos quem tirou a foto

Foto: página do Facebook do Bando (2017), com a devida vénia


1. Ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que obrigaram a fechar as nossas Tabancas e a impedir os nossos convívios regulares, a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abre as portas de par em par (, do "reservado" do Restaurante Caravela d' Ouro) (*) para receber cerca de 9 dezenas de convivas, os "magníficos" do costume, os "meninos da Linha", mais uma luzidia representação do Porto, a mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista resgistada originalmente sob o nome Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos", agora sem pouso certo (deixaram o Café Progresso e voltaram à vida nómada). O Bando, apesar de tudo, tem um chefe que é o Bandalho-Mor, Jorge Teixeira. 

Eis a lista dos "Bandalhos" que ainda vinham há um bocado no comboio da manhã que há de chegar a Santa Apolónia, e que o António Carvalho me confirmou pelo telemóvel. Diga-se, de passagem, que não é uma simples representação dos "Bandalhos", é uma verdadeira "deputação":

  • António Carvalho (escritor)
  • Eduardo Campos
  • Eduardo Moutinho Santos (régulo também da Tabanca de Matosinhos)
  • Fernando Súcio
  • Francisco Baptista (escritor)
  • Jorge Teixeira (Bandalho-mor)
  • José António Sousa
  • José Ferreira da Silva (escritor)
  • José Manuel Cancela
  • José Sousa
  • Ricardo Figueiredo 

Estão 3 limusines em Santa Apolónia à espera dos "Bandalhos" para os levar até magnífica mesa da Tabanca da Linha.  É tudo gente que vem por bem, apesar do seu indisfarçável (e às vezes truculento) "humor tripeiro": além de 3 escritores, já consagrados, o grupo incluiu dois juristas,  cujos préstimos estão sempre disponíveis para as pequenas e grandes ocasiões, o Eduardo Moutinho Santos e o Ricardo Figueiredo. 

Só soube  há dias do evento, ao falar ao telefone com o meu vizinho Humberto Reis e depois ontem  com o António Carvalho, o Manuel Resende (régulo da Magnífica Tabanca da Linha), o Jorge Ferreira e o Manuel Gonçalves (que vai lá estar com a sua companheira e a minha querida amiga Tucha, e uma neta), e ainda pelo anúncio que o Francisco Baptista aqui fez no blogue:

(...) "No próximo dia 19, irei com alguns camaradas do Porto, ao almoço da Tabanca da Linha, que, tendo como Régulo o camarada Manuel Resende, cada vez ganha mais fama pelas bebidas e cozinhados que revigoram o corpo, aquecem a alma e ajudam a criar um alegre convívio, que todos os ex-combatentes da Guiné apreciam.

Tal como eu dois outros camaradas (António Carvalho e José Ferreira da Silva) levaremos livros , eu já li os três e gostei muito, experiências diferentes, estilos diferentes, mas todos interessantes." (...).

Pessoalmente bem gostaria de partilhar as alegrias deste convívio, hoje 5.ª feira, e dar um abraço fraterno, repleto de saudades, a toda a rapaziada fixe que vai lá estar, de Norte a Sul. Razões de saúde (estou em convalescença e recuperação, depois de uma recentíssima artoplastia total ao joelho esquerdo). Mas o abraço vai na mesma, virtual, com uma especial saudação ao régulo da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende... Espero que, apesar do espaço amplo e arejado do restauarnte Caravela D'Ouro, todos se saibam proteger uns aos outros, usando a máscara sanitária que já faz parte desde março de 2020, da nossa indumentária... (LG)

PS - Ainda bem que o nosso talentoso e transmontano Francisco Baptista também já leu o livro que escreveu e que tem vindo a apresentar a vários públicos.  Diz que gostou (do dele, e dos outros). E eu também posso acrescentar que gostei... e estou sempre a incentivar a malta para escrever.



Um excelente cartão de visita dos Bandalhos... porque nem só de pão vive o homem (e muito menos o camarada que comprou bilhete para as Caldas e foi parar à Guiné). (**)

2. Ainda sobre o historial dos "Bandalhos"... Na sua página do Facebook lê-se:


(...) Tudo começou porque em 10/11 de Abril de 1967, um grupo de ex-camaradas do Porto se encontrou nas Caldas da Rainha no RI5. Seguiram a 24 de Junho para a EPA, em Vendas Novas de onde debandaram a 12 de Setembro.

Quase todos se reencontraram em Paramos/Espinho a 25 de Setembro. Laços de amizade foram-se cimentando. A partir de Fevereiro/Março de 1968 debandaram de novo: Lamego, Gaia, Tomar, Santa Margarida, Torres Novas foram alguns dos destinos.

Até que chegou a Guiné e muitos outros destinos nos separaram. Regressados todos entre Maio e Junho de 1970, alguns de nós víamo-nos por aí, até que o tenaz Fernando Jorge Teixeira, mais conhecido por Presidente JTeix.45, conseguiu ir reunindo um pequeno grupo, que hoje só faz desgraças por onde passa. O Bando não é enorme, mas tem correspondentes e muitos amigos e ex-camaradas com percursos idênticos.

Bandalhos desde Janeiro de 2009, a sua História pode ser vista e lida em http://bando-do-cafe-progresso.blogspot.pt/ (...)
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Notas do editor: