terça-feira, 17 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23271: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (24): Cacheu, restos que o império teceu... - Parte I


Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) > Uma das 16 peças de artilharia que defendiam a entrada do rio Cacheu.

"Os trabalhos de recuperação do antigo forte colonial foram desenvolvidos de Janeiro a Março de 2004, com recursos da ordem de cem mil Euros, disponibilizados pela União das Cidades Capitais de Língua Oficial Portuguesa (UCCLA). Visando assegurar a sua utilização como área de lazer e cultura, além de promoção do turismo, foram promovidas a reurbanização de seu interior, onde foram instalados diversos equipamentos de lazer e recolocadas as estátuas dos navegadores portugueses Gonçalves Zarco e Nuno Tristão, os primeiros europeus a atingir as costas da Guiné, no século XV. Nas antigas edificações de serviço foram instaladas uma biblioteca e salas de convívio." (Fonte: Wikipedia)


Fpto nº 1A > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) > "O forte, de pequenas dimensões, apresenta planta na forma de um rectângulo, com 26 metros de comprimento por 24 metros de largura, com pequenos baluartes nos vértices. As muralhas, em pedra argamassada, apresentam cerca de quatro metros de altura por um de espessura. Encontrava-se artilhado com dezasseis peças. O Portão de Armas, com mais de um metro e meio de largura, é o seu único acesso." (Fonte: Wikipedia)


Foto nº 2 > Guiné -Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI)    > Hoje funciona como depósito de alguma estatuária colonial... como é o do que resta da estátua, em bronze, do governador Honório Barreto... Veio de Bissau, ficava justamente no centro da Praça Honório Barreto, perto do Hotel Portugal, hoje Praça Che Guevara.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) > Restos da estátua de Teixeira Pinto, o "capitão-diabo" ...Estátua, em bronze, da autoria do professor de Belas Artes, o escultor Euclides Vaz (1916-1991), ilhavense. Encontrava-se no  Alto do Crim, antigo parque municipal, onde agora está a Assembeleia Nacional. (*)

 

Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Antigo Forte ou Fortim de Cacheu (séc. XVI) >   O que resta da estátu, também em bronde, do Nuno Tristão:  erigida por ocasião do 5º centenário do seu desembarque em terras da Guiné (1446), a estátua ficava no final na Av da República, hoje, Av Amílcar Cabral... Esta artéria, a principal avenida de Bissau no nosso tempo, vinha da Praça do Império ao Cais do Pidjiguiti, tendo no final a estátua de Nuno Tristão; no sentido ascendente, ou seja, do Pidjiguiti para a Praça do Império, tinha à esquerda a Casa Gouveia, por detrás da estátua, e mais à frente, à direita, a Catedral.


Foto nº 5 > Guiné > Bissau > Região de Cacheu > Forte de Cacheu (séc- XVIII) >  Restos da estátua de Diogo Gomes, que até à Independência, estava em Bissau,  frente à ponte cais de Bissau...


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segundo Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura colonial do Estado Novo, o pedestal na ponte cais de Bissau (agora vazio) da estátua do Diogo Gomes ainda lá estava em há meia dúzia de anos, tal como a inscrição, um exerto do canto VII dos Lusíadas, "Mais mundo houvera"... 

O pedestal é obra do Gabinette de Urbanização do Ultramar (GUU). A estátua, entretanto removida em 1975 para o forte do Cacheu, deve ser da autoria do escultor Joaquim Correia, autor de monumento análogo que ainda hoje está de pé na cidade da Praia, Cabo Verde. 

Esta e outras estátuas (Honório Barreto, Nuno Tristão, Teixeira Pinto) faziam parte de "um escrupuloso programa de 'aformoseamento' do espaço público", integrado nas comemorações do 5º centenário do desembarque de Nuno Tristão. na altura do governo de Sarmento Rodrigues (1945-48). 

No entanto, a colocação das estátuas destas figuras históricas da colonização só será efetuada na segunda metade da década de 1950 [Vd. Ana Vaz Milheiro - 2011, Guiné-Bissau. Lisboa, Círculo de Ideias, 2012. (Coleção Viagens, 5), pp. 32-33].

Obrigado ao Patrício Ribeiro, o "nosso último africanista" que resiste, desde 1984, à usura (física e mental)  do tempo, da história, dos trópicos, no país, a Guiné-Bissau, que ele escolheu para viver e trabalhar,  e que se lembra, de vez em quando,  de nós e realimenta as nossas "geografias emocionais"  do tempo de soldadinhos de chumbo do Império... 

As fotos acabaram de chegar, ainda estão frescas, mas há mais para uma segunda parte. (***). O Patrício diz-me,  sempre dsicreto e  lacónico, que "sim, todas a fotos, foram tiradas no domingo passado, em Cacheu onde estive a trabalhar. Umas são  sobre o porto do Cacheu e outras sobre a "fortaleza do Cacheu". 

Eu que não sou especialista em arquitetura, muito menos militar e colonial, confesso que são sei distinguir um forte, uma fortaleza e um fortim...Com cerca de  624 metros quadrados de área total, e muros "altos de 4 metros", aquilo parece-me mais um "castelo de areia" do meu tempo de praia, quando eu era menino e moço e construía "castelos de areia"... Mas, enfim, lá cumpriu a sua missão, mal ou bem, não podendo nós, todavia, esquecer que o seu passado "esclavagista"  como tantos outros pontos da costa africana ocidental... 

PS - Patrício, fico feliz por teres trabalho (tu e os teus "balantas"), mas preocupado por teres de trabalhar ao domingo, como, de resto, muito boa gente... Em primeiro lugar, também precisas de descansar. Por outro, não respeitando o Dia do Senhor, ainda corres o risco de seres transformado, como o ferreiro, em "dari" (o nome afetuoso que os guineenses chamam ao nosso "primo" chimpanzé). Nestas coisas, é bom estar com Deus, Alá e os bons irãs...

2. Faça-se a devida pedagogia destas fotos, para os iconoclastas de todo o mundo, e de todos os quadrantes político-ideológicos, mas também para os nossos "saudosistas do Império", leitores do nosso blogue...  Aproveito para citar um comentário do nosso querido amigo Carlos Silva (a quem desejamos rápidas melhoras), e que é um dos nossos camaradas que melhor conhece (e ama) a terra e a gente da Guiné-Bisssau (****):

(...) "A estátua de Teixeira Pinto estava situada no Alto de Crim, onde actualmente está situada a Assembleia Nacional.

O monumento com o busto de Teixeira Pinto creio que situava-se na baixa de Bissau, próximo da catedral e foi inaugurado em 1929 pelo Governador Cor Leite de Magalhães. (...)
 
Quanto às estátuas que refere o Armando Tavares da Silva, presentemente estão as 3 dentro da Fortaleza do Cacheu. Pelo menos estavam em Abril de 2019, mas antes estiveram fora da fortaleza, mas próximo da mesma,  das quais tenho fotos dos anos 90 e de 2001 e de outros anos.

Falei com vários altos dirigentes, incluindo com o falecido Presidente Interino Manuel Serifo Nhamadjo sobre este tema e todos concordam que as estátuas fazem parte da História do país, mas não há vontade política para fazer seja o que for.

Para mim, os pedaços das estátuas estão lá na fortaleza de castigo e para lembrar o colonialismo.

E duas estátuas já foram à vida, a do Comandante Oliveira Mozanty que estava em Bafatá, da qual tenho fotos de 1997, toda partida, mas que já foi para a sucata, embora continue por lá o pedestal em granito preto com relevos e muito bonito.

A outra era a de Ulisses Grant, presidente dos EUA que arbitrou o caso de Bolama entre Portugal e os Ingleses. Esta também foi para a sucata." (...)


(***) Último poste da série > 7 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23238: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (23): Bafatá... e as nossas "geografias emocionais"

(****) Vd. poste de 8 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21747: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (80): busto do capitão Teixeira Pinto, em Bissau, c. 1943 (Armando Tavares da Silva)

7 comentários:

Valdemar Silva disse...

Ainda bem que o Patrício Ribeiro, que afinal é patrício de todos nós, nos vai enviando notícias com fotografias.
Embora os portugueses com Nuno Tristão tivesse chegado à Guiné em 1446, a colonização só começou em 1558, com a edificação no Cacheu do Forte do Portugueses.
O Forte ainda está de pé e as estátuas ainda resistem com cabeça.
Também só passaram 50 anos e não sabemos, por cá, quantos anos levaram a utilizar as pedras dos castelos/mesquitas para construir igrejas e palácios, que estátuas os mouros não faziam.

Rápidas melhoras ao camarada Carlos Silva, que teve a gentileza de no ano passado vir a minha casa trazer o seu livro "Os Roncos de Farim".

E o nosso dedicado editor Luís Graça também já está outra vez a "jogar" connosco, depois de ter interrompido o "campeonato" para fazer uma operação ao "ministro".
Não disse nada, mas desejo que tenha ficado bem da operação à perna e em rápido regresso à vida normal.

Abraços e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, desculpa, sei que me telefonaste... Estou em falta contigo e com muitos outros que se preocuparam comigo. Tenho andado a responder. Hoje tenho consulta de ortopedia e de fisioterapia, só a 25 tiro os pontos (agrafes metálicos..).
. Aparentemente está tudo a correr pelo melhor, como a gente dizia nos aerogramas para casa há 50 anos atrás. E tu, como vais indo ? Mantenhas.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ponham-se na "pele" de um guineense, hoje... Como se sentiriam ao olhar, todos os dias, para estes "simbolos" de um "poder estrangeiro" que são estas estátuas ? Imaginem como se sentiriam os nossos antepassados que foram conquitados e colonizados pelos romanos, a partir do séc. III a. C. ao terem que se cruzar com a estátua do imperador?

Carlos Vinhal disse...

Boa tarde Luís.
Com respeito aos romanos, a civilização ocidental reconhece a sua cultura e o património deixado. Em todo o mundo há vestígios da cultura romana preservada e até reconstruída porque nenhum país tem presente se não tiver o passado preservado.
O caso da Guiné é muito particular, foram sempre resistentes à ocupação portuguesa, ainda bem, defendiam a sua cultura e civilização, não aproveitando nada do pouco que lá deixámos. Apesar das suas necessidades básicas, ainda hoje têm muitos pruídos a determinadas ajudas que lhes prestamos. O orgulho de um povo não tem preço.
Carlos Vinhal

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Continuo a não entender as posições dos governos português e guineense acerca do destino a dar às estátuas ou ao que resta delas.
Teixeira Pinto é um colonizador (na Guiné) e um pacificador(?) em Portugal. Por isso, aceito que a respectiva estátua já devia estar a enferrujar num qualquer armazém do Jardim Botânico de Belém (ex-Colonial)... e não no Cacheu.
Porém, a estátua do Honório Barreto deveria ter um outro tratamento. Trata-se de um preto que, ainda no tempo da escravatura subiu bem alto na hierarquia e chegou a comprar terreno aos franceses para aumentar a área da (colónia) da Guiné. Não merecerá uma homenagem por fazer parte da História da Guiné no Séc. XIX?
Quanto às dos descobridores só gostava de referir que, em S. Tomé, a estátua do descobridor pode não estar em local de destaque, mas não mereceu actos de vandalismo gratuito e sem sentido. É que a "descoberta" da Guiné é um facto histórico irrefutável e que, de certo modo, une os dois países. Porquê escondê-las? Se a Guiné se sente ofendida com a presença das estátuas pois que as exporte para Portugal... que as deverá receber como vestígios da sua acção (boa e má) em África. Onde anda o busto do Muzanti?
O monumento aos italianos (aviadores "fascistas" italianos) continua lá. Talvez por já estar naturalmente escondido... digo eu.
Sei que o busto do "Pai da Pátria" está também num local algo discreto e porque será? Mas isso já não me diz respeito.
Volto a repetir que sou estrangeiro, vejo os assuntos de longe e não tenho que me imiscuir (nem quero) nos assuntos do país.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Volto à antena para dizer que Portugal deveria receber, de volta os canhões que ainda estão em posição no forte do Cacheu. Provavelmente, a Guiné sente-se ofendida com estes símbolos do colonialismo e da escravatura(?), mas, tenho para mim, que era no Museu Militar que eles deveriam estar.

Um Ab.
António Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Venho só comunicar que, hoje enviei ao Ministro da Cultura e à Ministra da Defesa duas cartas a pedir o respectivo interesse na recuperação das estátuas do Cacheu.
Como se recordam tentei levantar esta questão junto do pessoal do blog.
Obrigado pelo vosso (des)interesse.

Um Ab.
António J. P. Costa

PS: Se não vos der muito trabalho façam uma tentativa idêntica junto do PR