sábado, 3 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24364: Os nossos seres, saberes e lazeres (575): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (105): Com sangue d’África, com ossos d’Europa: com os pés no Mindelo, mas já a sonhar com Santo Antão (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Maio de 2023:

Queridos amigos,
Mindelo tem muito para ver, dá para perceber que a sua vida cultural já foi mais intensa, mas asseguram-me que o renascimento está em curso. Nestes escassos dias em que por aqui pouso, já bati à porta da biblioteca municipal, visitei a Alliance Française, acabei por comprar o Zadig, de Voltaire, numa daquelas edições escolares recheada de comentários oportunos e esclarecedores. Não deu para visitar uma zona típica, Ribeira Bote, goza de muita popularidade o seu carnaval mandinga, tornou-se atração turística com os seus cafés e restaurantes e parece que não faltam pizzarias nem hambúrgueres. Ficará para a próxima. Gostei muito de visitar o antigo Liceu Gil Eanes, primorosamente recuperado, muitos estudantes, meti conversa, um desses jovens perguntou-me se eu podia disponibilizar uns escudos para comer, viera do fundo da ilha a pé, fazia-lhe bem uma sopa e um casqueiro na cantina, tinha um olhar sincero, só espero que tenha sido um dia de muito proveito nos estudos. Falando mais tarde desta situação vivida com professores da Alliance Française, disseram-me que é uma situação comum, ninguém falta às aulas, o sonho de tirar um curso atiça muito a juventude, o grande problema é que quando se apanham com qualificações a tentação é partir, o cabo-verdiano dissemina-se pela Europa e pela América, na generalidade dos casos não esquece o seu chão e ergue casa, ajuda a família. Daí a idiossincrasia subjacente às canções dolentes a que se contrapõe o frenesim da coladeira, morabeza!

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (105):
Com sangue d’África, com ossos d’Europa: com os pés no Mindelo, mas já a sonhar com Santo Antão (4)


Mário Beja Santos

Ontem à noite estive a ordenar o dia de hoje, primeiro Mindelo, depois os arredores, quero voltar a Salamansa. Aproveitei o serão para ler uma obra de João Lopes Filho, Cabo Verde, Retalhos do Quotidiano, Editorial Caminha, 1995, antropologia logo o ciclo da vida, tudo começa com a gravidez e o nascimento, os cerimoniais à volta do parto, depois o casamento, não faltam as cerimónias fúnebres; e há o sincretismo religioso, a romaria da Senhora da Cintinha, os festejos dos Santos Populares, os cânticos religiosos, o Natal, o fim de ano e os Reis, mas também o canto pelas almas. Começo a ler empolgado o fabrico do grogue, como são os trapiches cabo-verdianos, nem me passa pela cabeça que dentro de dias vou viver ao lado de um trapiche em funcionamento, leio sobre a matança do porco, a marcação do gado, as fainas de pesca e as peixeiras, fico a saber que há muitas tartarugas no arquipélago. Bom, estou pronto para sair, o Mindelo ainda tem muito para me mostrar, tenho regalos à minha espera.
Cesária Évora numa obra de Vhils
Casa de Cesária Évora, Mindelo
O antigo Liceu Gil Eanes, aqui estudou Amílcar Cabral, é hoje departamento universitário
O Palácio do Povo, antigo Palácio do Governador, bati sempre com o nariz na porta, abre para eventos e exposições
Monumento dedicado à viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, mesmo a beijar a plataforma portuária
Quis ir visitar o Centro Cultural do Mindelo, dispõe de uma boa livraria, era o antigo edifício da alfândega, foi inaugurado no reinado de D. Pedro V, era ministro do Mar e do Ultramar o visconde de Sá da Bandeira, mais uma das múltiplas provas de respeito que o passado merece às gentes de Cabo Verde.
Escultura de José Cutileiro, prende-se com a primeira travessia aérea do Atlântico Sul (1922)
Lápide que acompanha o monumento, oferta da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, tem a ver com as comemorações do V Centenário da assinatura do Tratado de Tordesilhas (28 de julho de 1994)
Escultura dedicada a Diogo Afonso, primeiro donatário da parte norte da ilha de Santiago
Vim até Salamansa, por aqui passeei em agosto de 1970 quando regressei da Guiné, era então um porto de pesca com umas habitações avulsas, tem crescido graças aos emigrantes, gostam do clima e a zona de praia não fica atrás das melhores praias cabo-verdianas.
Estas duas imagens marcam o contraste da natureza do solo, irei encontrar mais à frente rochedos, mas por aqui não há areia preta
Era fatal como o destino, vim despedir-me da belíssima baía do Mindelo, amanhã tenho barco para Santo Antão, é aquele sentimento ambíguo de quem poisou num lugar e tem inquietação no itinerário que se seguirá, nem me passa pela cabeça as paisagens deslumbrantes que me esperam nessa ilha montanhosa, fertilíssima, que dá milho, feijão e frutos, vou ver gado de toda a espécie e cana do açúcar de que se faz o grogue. Para que conste, e como forma de aliciamento para quem me acompanha nestes percursos.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24345: Os nossos seres, saberes e lazeres (574): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (104): Com sangue d’África, com ossos d’Europa (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24363: In Memoriam (478): Mário Vargas Cardoso, cor inf ref (1935-2023), ex-cap inf, CCAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70) e ex-cmdt do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) (João Bonifácio, ex-fur mil SAM, CCAÇ 2402, 1968/70, a viver no Canadá); Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)



Guiné > Região do Oio > Có > CCAC 2402 (1968/70) > s/d > De pé: alf mil Francisco Henriques da Silva, alf mil Raul Albino (1945-2020) e Cap Vargas Cardoso (*)


Amadora > RI 1 > 1968 > CCAÇ 2402, em formação > Da esquerda para a direita, o primeiro é o Raul Albino (19945-2020), o segundo é o Francisco [Henriques da] Silva e a seguir o Medeiros Ferreira. Só falta nesta fotografia de grupo o Beja Santos. Também aqui falta o comandante da companhia, cap imnf Vargas Cardoso (1935-2023).  O Medeiros Ferreira, o histórico dirigente estudantil da crise académica de 1962,  não compareceu no embarque, a 24 de julho de 1968, no N/M "Uíge", com destino ao  CTIG, desertando para a Suiça; por seu turno, o Beja Santos iria um mês depois, em rendição individual, comandar o Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70). Acabou por ser uma cruz pesada, sobretudo  para o futuro alf mil at inf MA Raul Albino, que teve que lidar, no início da comissão, com duas baixas de vulto dos seus amigos e camaradas, Beja Santos e Medeiros Ferreira (**)

Fotos (e legendas): © Raul Albino (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada John Bonifácio, a viver no Canadá:

Data - quinta, 1/06/2023, 04:00
Assunto - Mais uma baixa na CCAÇ 2402  / BCAÇ 2852  (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70)

Este e-mail serve para informar todos os militares que conviveram em Angola e Guiné com o nosso querido amigo Coronel Ref Mário Vargas Cardoso.(***)

Fiz parte da sua CCAÇ 2402 e entre 1968/70 tivemos a oportunidade de servir Portugal. Informo todos que o nosso Capitão de então, deixou esta madrugada de 31 de Maio de fazer parte da nossa família militar. O sr Coronel Vargas Cardoso faleceu. 

Quero em meu nome pessoal e de todos os camaradas da 2402, enviar à sua esposa e toda a restante família, as mais sinceras condolências. O Sr. Coronel Vargas foi um militar de carreira que tudo fez para que todos os seus militares se pudessem sentir jovens válidos e orgulhosos. Poderia testemunhar muitos episódios que, como Furriel Milicino do SAM do seu comando, ambos vivemos uma camaradagem própria e que, om todo o desempenho do resto de Companhia, foi um passo importante para o sucesso da nossa 2402.

Amigo Luís, fico muito grato por esta publicação. Paz à sua alma e um etermo descanso.
Por tudo o que nos ensinou, a nossa saudade.

João G Bonifácio
Ex-Furriel Mil do SAM
CCAÇ 2402/BCAÇ 2851 
Oshawa, Ontario, Canadá

2. Poste de Manuel Oliveira Pereira na página do Facebook da Tabanca Grande, 31 de maio, 13h39:

A noticia que não gostaria de dar...

O meu ex-comandante de Batalhão (BCAÇ 3884, Bafatá, 1972/74), na Guiné, Coronel Mário José Vargas Cardoso, e meu particular amigo, partiu para outra dimensão. Fica o adeus, já com imensa saudade, do "Mano novo para o Mano velho" (forma carinhosa como nos tratamos). 

Descansa em paz "Mano velho"!...
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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 8 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21622: In Memoriam (376): Raul Albino (1945-2020): recordando as peripécias da formação e partida da CCAÇ 2402 / BCAÇ 2851, com menos duas baixas de vulto, à chegada a Bissau

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24362: Notas de leitura (1587): Entre o melhor da literatura de viagens do século XV (2): As viagens na África Negra de Luís de Cadamosto (1455-1456) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Continuamos na companhia de Luís de Cadamosto, chegou-se até ao rio de Gâmbia e regressa-se a Portugal. Esperem agora pela segunda viagem, desta vez vai até à região do Batimansa, rei Mandinga, continuará a viagem para Sul até alcançar o rio Casamansa, depois Cabo Roxo, rio de S. Domingos ou Cacheu, chegará ao rio Grande, o outro nome dado ao rio Geba. A etnologia mas sobretudo a literatura de viagens ficarão com uma dívida enorme com este jovem mercador veneziano sempre atento aos usos e costumes, ao funcionamento dos mercados, às culturas, à postura do comer, à prática religiosa, vimos aspetos muito saborosos da sua digressão pelo país de Budomel, como Cadamosto discute sem acrimónia aspetos religiosos com um muçulmano, a sua curiosidade sempre desperta pelos animais e pelas aves, revelou-se o narrador que seguramente irá influenciar os continuadores das viagens que se seguirão à sua, tome-se a narrativa destas duas navegações como um dos mais espantosos guias de viagens de todos os tempos.

Um abraço do
Mário



Entre o melhor da literatura de viagens do século XV (2):
As viagens na África Negra de Luís de Cadamosto (1455-1456)


Mário Beja Santos

O jovem veneziano Luís de Cadamosto, por acaso do destino, veio parar a um porto algarvio, o Infante D. Henrique soube da sua existência, conversaram e pouco depois partiu uma caravela a caminho do Cabo Branco, Cadamosto era mercador e soou-lhe bem a expetativa de fazer bons negócios na África Negra que já aqui se descreveu como viu os arquipélagos da Madeira e das Canárias, passou por Arguim e neste exato momento, depois de nos contar como vivem os azenegues, os pardos, chegou ao país de Budomel, segundo os especialistas estão aqui algumas das descrições fulgurantes de alguém que não era cronista mas que tinha um olhar apurado para ver os locais e as pessoas. Começa assim:
“Passei o dito rio de Senegal com a minha caravela, e navegando cheguei ao país de Budomel, lugar distante do dito rio cerca de 800 milhas pela costa, a qual é toda terra baixa e sem montes. Este nome Budomel é título de senhor, e não nome próprio do lugar. Neste lugar me detive com a minha caravela para tirar língua deste senhor, embora tivesse recebido informação de certos portugueses que tinham tido trato com ele, de que era pessoa e senhor de bem, e em quem se podia ter confiança, e realmente pagava o que tomava”.

Cadamosto não vai desprovido, leva cavalos, pano de lã, trabalhos de seda mouriscos e algo mais. Budomel veio ao seu encontro, convidou-o para sua casa, o veneziano deu-lhe sete cavalos com os seus arneses. “Antes de partirmos, presenteou-me logo com uma rapariga de doze para treze anos, muito linda, por ser muito negra, e disse que ma dava para serviço da minha câmara; aceitei-a e enviei-a para o meu navio”. Budomel pôs ao serviço de Cadamosto um seu neto, chamado Bisboror, acolheu-o quase todo o mês de novembro. E aproveita a oportunidade para descrever usos e costumes. “O rei deste reino só tem aldeias de casas de palha, e Budomel era senhor de uma parte deste reino, que é coisa pequena. Não são senhores porque sejam ricos de tesouros ou de dinheiro, porque nada disso têm; mas podem-se chamar verdadeiramente senhores de cerimónias e de séquitos de gentes, pois sempre estão acompanhados e reverenciados por muitos, e são muito mais temidos pelos seus súbditos que os nossos senhores daqui”.

Descreve a casa de Budomel, as mulheres, as gentes que o servem, as cerimónias de que usa o rei ao dar audiências, oram em conjunto na mesquita, discutem a fé sem qualquer ponta de fanatismo, veja-se o que se passou depois de algumas orações na mesquita: “Quando tinha acabado, perguntava-me o que me parecia; e por ter muito prazer em ouvir falar das coisas da nossa fé, dizia amiúde que lhe narrasse algumas, de forma que eu lhe dizia que a dele era falsa, e que os que lhes mostravam tais coisas ignoravam a verdade; e estando presentes aqueles seus árabes, reprovava a lei de mafoma, e mostrava ser a nossa fé verdadeira e santa, enquanto eu fazia desgostar aqueles seus mestres da lei. Do que este senhor se ria, e dizia que julgava fosse boa a nossa fé e não podia ser diversamente, porque Deus que nos tinha dado tantas coisas boas e ricas, tanto engenho e sabedoria, não teria deixado de nos dar também boa lei”.

Descreve o modo de comer, fala das produções do reino, de como se lavra, fala-nos dos animais que ali existem e deslumbra-se com os elefantes: “É animal que não ataca o homem se este o não ataca; e o modo de o elefante atacar o homem é dar-lhe com a trompa comprida uma pancada tão forte de baixo para cima que atira com ele às vezes quase como um tiro de seta”. Deslumbra-se igualmente com as aves e dá-nos um quadro como funciona o mercado dos negros e das coisas que aí negoceiam:
“Aqui vinham homens e mulheres do país, de quatro ou cinco milhas ao redor, porque os de mais longe iam a outros mercados; e nestes mercados compreendi muito bem que esta gente é pobríssima pelas coisas que levavam ao mercado a vender, que eram algodões, mas não em grande quantidade, fiados também de algodão, panos de algodão, legumes, azeite, milho, gamelas de madeira, esteiras de palma e um pouco de todas as outras coisas que usam para viver (…) Estes negros, quer os homens quer as mulheres, vinham ver-me por maravilha; parecia grande coisa ver cristãos e não menos se admiravam da minha brancura que do meu traje, que era ao uso da península hispânica um jubão de damasco preto e uma capa por cima; olhavam para o pano de lã que eles não têm e para o jubão, e muito se admiravam; alguns me tocavam as mãos e os braços e com saliva me esfregavam para ver se a minha brancura era tinta ou carne e vendo que efetivamente era carne ficavam maravilhados”.

São olhares alargados que passam pelos cavalos, os costumes das mulheres, os instrumentos musicais. Depois encontra Antonieto Usodomar, um genovês que vinha com duas caravelas, já saiu do país do senhor Budomel, resolveu ir mais adiante, passou Cabo Verde (em território africano), encontrou no alto mar o genovês, justifica porque é que Cabo Verde é assim chamado e entra em nova descrição, a dos Barbacinos e dos Serreres, estamos na África Negra, mas estes dois povos não estão sujeitos ao rei do Senegal. “São homens muito negros e bem encorpados, a terra é bastante rica de bosques e abundante de lagos e de águas, e por isso se consideram muito seguros, não sendo possível entrar nela senão por passos estreitos; por isso não temem nenhum senhor circunvizinho, e aconteceu muitas vezes, em tempos passados, que alguns reis de Senegal quiseram fazer-lhes guerra para os subjugar e sempre foram derrotados pelas duas nações, quer pelas frechas ervadas (flechas envenenadas), quer pelo país ser muito áspero".

Assiste à crueldade de ver trucidar alguém que manda a terra, resolve não mexer e prossegue viagem, a próxima etapa é o país de Gâmbia. Há encontro com gente que vem em canoas, mas não comunicam. Entra finalmente no rio Gâmbia, chega gente, desta feita há cumprimentos, e o comentário de Cadamosto é precioso:
“Suspenderam eles a remada e levantaram os remos para o ar, ficando a olhar para nós, como para coisa maravilhosa; e examinando-os também, julgámos que poderiam estar, quando muito, 130 a 150 negros, que nos pareceram homens belíssimos de corpo, muito pretos, todos vestidos de camisas brancas de algodão, com chapelinhos brancos na cabeça, quase à moda dos tudescos, salvo que de cada lado tinham uma espécie de asa branca, com uma pena no meio do dito chapelinho, quase como querendo dar a entender que eram homens de guerra. À proa de cada uma das almadias estava um negro, em pé, com uma adarga redonda no braço, que nos parecia ser de couro; e, assim, nem eles atirando nem nós fazendo movimento algum contra eles, foram-se aproximando, e chegados a eles, sem outra saudação, largaram os remos e começaram todos a atirar com os arcos. Os nossos navios, à vista do assalto, descarregaram da primeira vez quatro bombardas. Ao ouvi-las, pasmados e atónitos pelo grande estrondo, os negros largaram os arcos, e olhando uns para um lado, outros para o outro, estavam admirados de verem as pedras das bombardas ferirem a água junto deles; e ficaram muito tempo a olhar para elas, mas, não vendo outra coisa, perderam o medo ao estrondo e, depois de termos atirado muitos tiros, pegaram nos seus arcos e começaram novamente a atirar com grande ardor, aproximando-se dos navios um tiro de pedra. Os marinheiros começaram a alvejá-los com as suas bestas e o primeiro que descarregou foi um filho bastardo daquele gentil homem genovês, que feriu um negro no peito, que logo caiu morto na almadia. Ao ver isto, tomaram os seus aquela frecha e consideraram-na muito, quase maravilhados daquela arma; mas nem por isso deixaram de a atirar aos navios vigorosamente, e as das caravelas a eles, de forma que em pouco tempo foram mortos muitos negros, e dos cristãos, graças a Deus, nenhum foi ferido”.

Os atacantes recuam e depois procuraram chegar à fala com eles por meio de intérpretes, dizem quem são e de onde vêm, desejavam ter amizade e boa paz com eles. Responderam os da terra que tinham notícia como nós tratavam os negros do Senegal, tinham por certo que os cristãos comiam carne humana e que compravam os negros só para os comer, e que por isso não queriam de forma alguma a amizade de quem vinha e que nos queriam matar a todos, e depois de toda esta conversa fugiram para terra e assim acabou a guerra. Cadamosto e o genovês saem dali, vão na direção de Cabo Verde para voltar para Portugal. Ainda faz uma descrição primorosa da astronomia e aqui acaba a primeira navegação. Vamos agora falar da viagem seguinte, aquela em que chegaram a algumas ilhas de Cabo Verde, isto já em 1456.

(continua)

Carta da África Ocidental (pormenor), Paris, 1667
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24350: Notas de leitura (1586): Entre o melhor da literatura de viagens do século XV (1): As viagens na África Negra de Luís de Cadamosto (1455-1456) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24361: FAP (126): A que altura (quantos pés) voava a DO-27 quando fazia de PCV (Posto de Comando Volante)? (Fernando de Sousa Ribeiro)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato...  Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra... "Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, 
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
 membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780


1. O nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro levantou uma questão que não é de lana caprina (*):

O que é de cabo-de-esquadra é o PCV, que eu tive que ir verificar do que se tratava, porque em Angola não havia disso.

É o cúmulo "comandar" uma operação a partir de um avião! Mas que diabo de ideia! Toda a gente que estivesse num raio de muitos quilómetros ficava a saber onde é que a tropa andava, o que destruía por completo uma das regras básicas da guerra de guerrilha, que é o fator surpresa. 

Os "brilhantes" cérebros militares não sabiam disso? Está visto que a guerra na Guiné era uma guerra rica, pois até majores e tenentes-coronéis passeavam-se em aviões, enquanto a carne-para-canhão morria ou ficava estropiada cá em baixo por culpa deles.

Para abater um DO-27 não eram precisos "strelas". Uns tiros de AK-47 bem apontados ao depósito de combustível ou à hélice do avião deitá-lo-iam abaixo, a menos que este voasse a mais de 300 ou 400 metros de altura, fora do alcance das espingardas, ou então que voasse muito baixinho, a roçar as copas das árvores. 

Portanto, aqui deixo a minha dúvida: a que altura é que os PCV costumavam voar?

2 de junho de 2023 às 02:04  (*)


2. Comentário do nosso editor LG:

Boa questão, Fernando... O "hino da CCAÇ 12", da época de 1971/72, que iremos publicar à parte, é uma paródia da cantiga do "tiro-liro-liro", mais uma bela peça do nosso humor de caserna  lá em cima o senhor major, no PCV ("posto de comando volante") e cá em baixo a "tropa-macaca"... 

Lá em cima anda o Heli-Canhão
Cá em baixo anda a 12 e anda o Xime. (...)

Juntaram-se os três numa operação
Lá para os lados do Poidão
Correu tudo que nem um mimo! (...)

Major... ó meu Major
Ora diga lá agora o que é que quer. (...)

Ora essa continuem cinco minutos,
não precisam que vos peça.
Continuem... ora essa! (...)

Comandante... ó meu Comandante
Estamos fritos, estamos agora a embrulhar! (...)

Tenham calma... tenham calma e não pensem
que eu daqui não vos estou a ajudar. (...)

Contra os canhões sem recuo...
VAI TU!

No sector L-1 o comando dos batalhões usavam e abusavam do PCV... "Para mostrar serviço" aos senhores de Bissau... Nunca dei conta que tenham sido úteis, bem pelo contrário..

Os pilotos de DO-27 podem dizer-nos a quantos pés costumavam voar em operações como PCV ? Vamos lá perguntar aos camaradas da  FAP. (**)
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Notas do editor:


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24360: (In)citações (244): "CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)


CONFISSÃO à Arte, minha velha amiga da onça

adão cruz

Talvez tenhas dado por mim, mas não quiseste mostrar. Ajoelhei meus passos no teu caminho e tu não viste. Sempre tiveste duas pedras brancas nos olhos e cego foi o meu coração.

Sempre foi de mármore o teu rosto em todas as manhãs. Parte-me o peito a amargura, sempre que toda tu és apenas figura, retórica figura.

Afogado na tristeza, nunca uma boia me lançaste. Um fio de silêncio, de lágrimas molhado, foi o espaço vazio que criaste, o poema sem alma, a tela negra onde cravei os dedos e cuspi as cores sem brilho.

Desonrei o corpo das palavras e o seu mais alto dizer, para esmolar um verso, um rasgo de cor ou... morrer. Tu nada quiseste saber, em todas as plúmbeas manhãs derretidas em chuva.

Nasço e morro contigo todos os dias, amparado em versos que não têm mãos e logo se quebram aos primeiros raios de sol. Todas as minhas rugas faciais estão assinadas por um roteiro de ansiedades num calendário de esperanças, todos os meus nervos estão marcados pelos dedos vulcânicos da paixão. Em todas as manhãs perdidas no leito da angústia, só a ilusão foi minha amiga. Para ela me arrastaram as nuvens e com elas me confundi, com elas me perdi.

Sei que o meu lugar é aqui, ainda que eu não saiba o lugar que ocupo. Faço que rio, faço que choro, faço que canto, ao som ausente de um Quinteto para Clarinete. Mas não posso viver sem ti. Mais do que nunca, preciso de ti para viver o amor, a mais bela das frustrações.

O meu silêncio, de espada em riste, parte os teus olhos de pedra, e canta. Canta uma qualquer Chanson Romanesque a uma qualquer Dulcineia, perdida nos montes, algures, para lá do arco-íris.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24352: (In)citações (243): "Pequena REFLEXÃO sobre a obra de Arte", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24359: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (3): Op Foguetão: mais uma dramática incursão à península de Madina/Belel, 27 e 28 de novembro de 1967, segundo a versão de Abel Rei (CART 1661, Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68).


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CART 1661 (1967/68) > O Abel Rei, que pertencia ao 3º Gr Comb, está aqui escrever algumas linhas do seu diário, mais transformado em livro. Sáo dele as palabras revelkadotras de uma gradne honestidade intelkectual: "A minha escassa formação primária não me proporcionou melhores ideias. Tudo o que ficou escrito, não se tratou senão de simples partes vividas, onde a realidade dava lugar a maiores esclarecimentos. E acabei por impor a mim próprio a chamada memória selectiva, e omitir factos tão ruins que eu nem os conseguia descrever, e com a sua omissão convencer-me de que nunca aconteceram."

 Foto (e legenda): © Luís Graça (2002). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abel de Jesus Carreira Rei.  nascido em 1945, em Maceira, Leira, 
vive em Embra, Marinha Grande. É membro da Tabanca Grande desdce


Capa do livro de Abel de Jesus Carreira Rei – Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968. Prefácio do Ten Gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002)


1. Tivemos ontem notícias do Abel Rei, ex-1º cabo at art, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), através do formulário de contacto do Blogger... Há mais de  um ano que andávamos à sua procura e a pedir-lhe que fizesse "prova de vida"(*)

31 maio 2023 17:39

Quero desejar ao amigo Beja Santos muitos Parabéns e um dia feliz com saúde e um grande abraço com a sincera amizade deste amigo,Abel Rei, Ex-combatente, RT 1661.

Cumprimentos, Abel Rei | abel.rei@hotmail.com



2.   Hoje fomos revistar alguns dos seus postes, e nomeadamente as notas de leitura que fizemos do seu livro de memórias.  Um desses postes chamou-nos a atenção por nele se referir a Op Foguetão (**), mais uma dramática incursão à península de Madina / Belel. Ou seja, mais uma operação temerária que fica bem na série "Tugas pocos pero locos" (***) 


Op Foguetão: mais uma dramática incursão à península de  Madina/Belel, 27 e 28 de novembro de 1967

Depois de 73 dias em Bissá, o nosso 1º cabo Abel Rei regressa a Porto Gole, exausto e adoentado. Visto pelo médico, que lhe receitou “três injecções e comprimidos” (sic), voltou a estar apto, ele e os demais “companheiros de Bissá”, ao fim de três dias.

A 27 e 28 de novembro de  1967 vemo-lo a participar na Op Foguetão, para um golpe de mão uma acampamento da guerrilha na região de Madina / Belel. Tratou-se da repetição da Op Frango, envolvendo forças da CCAÇ 1646 (Fá Mandinga) e da CCAÇ 1749 (Mansoa), além da CART 1661 (Porto Gole).

A CCAÇ 1646 (que passou por Bissau, Fá Mandinga, Xitole, Fá Mandinga e Bissau, entre janeiro de 1967 e outubro de 1968) pertencia ao BART 1904 (Bambadinca), tendo por comandante o cap mil art Manuel José Meirinhos.

A CCAÇ 1749, por sua vez, passou por Mansoa, Mansabá e Quinhamel, entre julho de 1967 e junho de 1969. Era comandada pelo cap mil art Germano da Silva Domingos.

Na Op Frango, que se realizara uns dias antes,  a 16 de novembro de 1967, as NT não tinham atingido o objectivo, por se terem perdido e por haver falha nas ligações com o PCV. Diz a história da CCAÇ 1661, citada pelo Abel Rei (p. 120), que “o único guia que nos foi possível arranjar, informou não saber atingir o objectivo pelo itinerário determinado superiormente”.

 O filme dos acontecimentos da Op Foguetão, de acordo com o diário do Abel Rei (29/11/1967, Enxalé, pp. 120-122) (**),  volta a mostrar-nos a ocorrência de alguns erros e falhas recorrentes nestas incursões à península de Madina / Belel, onde as NT iam uma vez por ano,  erros e falhas já listados, a título exemplifiativo,  na série "Tugas pocos pero locos" (***):
  • erros de planeamento;
  • guias que se perdiam ou que procuravam ludibriar as NT;
  • itinerários mal escolhidos ou de difícil progressão, com cursos de água de difícil cambança, capim alto, etc.;
  • PCV (antes da época dos Strela...) que denunciavam a presença das NT;
  •  falhas no abastecimento de água (ou na escolha das rações de combate);
  • progressão para o objectivo a horas proibidas (sob sol escaldante);
  • confusão de (ou chegada tardia aos objetivos);
  • flagelações e/ou queimadas do IN;
  • tabancas que se encontram abandonadas e que depois são queimadas pelas NT;
  • casos graves de exaustão, insolação e desidratação;
  • indisciplina de fogo;
  • ataques de abelhas e/ou formigas;
  • debandada geral;
  •  perda de armas e munições, e até de homens e cadáveres  que são transportados às costas em macas improvisadas;
  • regresso dramático ao Enxalé com viaturas a sair até São Belchior para transportar os mais "desgraçados";
  • tentativa de recuperação, no dia seguinte, do material perdido… e até dos cadáveres;
  •  e, claro, relatórios por vezes fantasiosos, pouco rigorosos, etc....
Eis, em resumo, o filme dos acontecimentos em 10  pontos, seguindo o teor do diário do Abel Rei (29/11/1967):

(i) (,,,) “partimos à meia noite do dia 27, com um ração de combate para cada dois homens, e a caminho dum acampamento dos ‘turras’, situado em Madina, onde eles tinham bastante armas pesadas, entre elas um ou dois morteiros 82 e canhão sem recuo (?)" (…);

(ii) as NT chegam ao objectivo por  “volta das dez e meia da manhã”;

(iii) nessa altura começam a ser sobrevoadas uma avioneta com um ‘major de operações’ (sic), leia-se, PCV

(iv) sob um “sol escandante”, depois de mais de uma hora parados e, obviamente, já localizados pelo IN, “fomos obrigados a avançar para o objectivo", quando "nessa ocasião fazia-se a entrada numa bolanha cheia de água” (recorde-se que estamos no fim da época das chuvas);

(v) há quatro baixas por exaustão e desidratação; esses  militares são helievacuados. ficam 20 homens a fazer segurança ao helicóptero. enquanto os restantes continuam a avançar para o objectivo;

(vi) a progressão faz-se no meio do capim alto (com “mais de três metros de altura”); a  zona em que o helicóptero está pousado, começa a ser batida por tiro de morteiro; avança-se para o objectivo;

(vii) (...)  “o tiroteio sucedia-se cobrindo aqueles matos!;  (…) os homens que ficaram atrás comigo, contaram que foram obrigados a retirar para fugir ao fogo dos ‘turras’ que batiam a zona; perderam-se…”

(viii) os “outros, são obrigados pelo capitão (de nome Figueiredo) [referência que nos parece explícita, ao cap Dias Sousa Figueiredo, da CART 1661], “a irmos contra as trincheiras do inimigo – apontando-lhes a sua arma, com ameaça de disparos, se não avançassem” (p. 122);

(ix) as NT sofrem “dois mortos e três feridos”, não lhes sendo possível “trazer os mortos: um soldado nativo das milícias, e o próprio guia, pois o fogo era intenso”;

(x) concluindo, chegaram já de noite, divididos em dois grupos, aqui ao quartel [do Enxalé], tendo andado perdidos uns dos outros; vinham estafados”…

A história da unidade (CART 1661) diz, seca, cínica e sucintamente, que “o objectivo de Madina foi atingido e destruído, tendo sido mortos 9 elementos IN; as NT tiveram um milícia morto e três feridos” (p. 122)… 

Não há qualquer referência ao pobre diabo do guia cujo cadáver lá ficou, também, para os jagudis… (Não sabemos se o guia era um prisioneiro, embora provavelmente o fosse, já que não foi contabilizado como baixa das NT.);

Só quinze dias depois é que o Abel volta escrever, para nos dar conta da existência da ‘arma secreta’ da CART 1661, o famoso ‘granadeiro’, uma “viatura pesada blindada com chapas metálicas e areia”, que é utilizada numa coluna auto, de reabastecimento a Bissá… “Pela estrada, em que fomos sempre pé, picando a área em todo o percurso, ao longo da nossa deslocação foram encontrados jornais de propaganda subversiva terrorista” (14/12/1967, Enxalé) (***ª)…

No final do ano de 1967, o comando da CART 1661 muda-se para Porto Gole, passando o Enxalé a ser apenas um simples destacamento, depois na primeira daquelas localidades se terem construído as necessárias instalações para o pessoal, bem como o depósito de material. Foi também construído uma pista de aterragem para aeronaves tipo D0 27…

(Seleção / compilação / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos:  LG)


3. Ficha de Unidade> Companhia de Artilharia nº  1661

Identificação:  CArt 1661
Unidade Mob: RAC - Oeiras
Crndt: Cap Mil Art Luís Vassalo Namorado Rosa (1935-2018) | Alf Mil Art Fernando António de Sá | Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo
Divisa: -
Partida: Embarque em 01Fev67; desembarque em 06Fev67 | Regresso: Embarque em 19Nov68

Síntese da Actividade Operacional

Em 06Fev67, deslocou-se para Fá Mandinga, a fim de substituir a CCaç 818 e realizar, inicialmente, um curto período de adaptação operacional, sob orientação do BCaç 1888 e actuar depois nas regiões de Xime, Enxalé e Xitole, até 08Mar67.

Após rotação, por fracções, com a CCaç 1439, assumiu em 03Abr67 a responsabilidade do subsector de Enxalé, com pelotões destacados em Missirá, Porto Gole e Bissá, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1888 e a partir de O1Jul67 do BCaç 1912, por alteração dos limites dos sectores daqueles batalhões.

Em 21Dez67, a sede da subunidade foi transferida para Porto Gole, com destacamentos em Enxalé e Bissá, mantendo-se no mesmo sector do BCaç 1912, onde a par de várias operações e acções efectuadas nas regiões de Mato Cão, Mantém, Malafo e Colicunda, orientou a sua actividade para a construção e desenvolvimento dos reordenamentos de Enxalé e Bissá, este a partir de Mar68.

Em 07Nov68, foi rendida no subsector de Porto Gole pela CArt 2411, tendo recolhido seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 81 - 2.ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 450
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22942: O que é feito de ti, camarada ? (15): Abel Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), autor do livro, "Entre paraíso e inferno, de Fá a Bissá, memórias da Guiné, 1967/68... O João Crisóstomo manda-te um "hello", de Nova Iorque

`(**) Vd. pposte de 24 de agosto de 2009 > Guiné 1963/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)


30 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4882: Notas de leitura (18): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte IV e última) (Luís Graça)

(***) Último poste da série > 25 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24339: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (2): Op Gavião (Madina / Belel, 4-6 de abril de 1968): 300 homens desbaratados pelas abelhas, armas extraviadas, um cadáver abandonado, um homem perdido, etc.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24358: Convívios (964): Rescaldo do 24.º Encontro dos Tigres - CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), levado a efeito no passado dia 29 de Abril em A-dos-Cunhados - Torres Vedras (Joaquim Costa, ex-Fur Mil)



24.º ENCONTRO DOS TIGRES

Após quatro anos de interregno devido à pandemia, Os Tigres reuniram-se de novo para conviver e relembrar aqueles dois anos que nos uniram como uma FAMÍLIA para toda a vida!

Devido a esta interrupção, a reunião só não correu mais brilhante porque houve muitas ausências relativamente aos que já era natural reunirem. Uns por motivos de doença, outros por outros compromissos já assumidos não puderam estar presentes.

Mesmo assim, juntámos 34 combatentes. Todos os ausentes foram por diversas vezes focados com saudade e com a certeza que para o ano seremos muitos mais!

A ausência mais sentida foi a do nosso Timoneiro e Capitão Vasco da Gama! Para o ano, Deus o permitindo nos reuniremos de novo!

Esteve também entre nós como convidado de honra, o nosso amigo Saido Baldé, filho da nossa Cumbijã e irmão do atual Chefe da Tabanca e Régulo de Cumbijã Sr Serifo Baldé.

Foi MUITO BOM estarmos juntos!

As mulheres dos Tigres
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro

Guiné 61/74 - P24357: Historiografia da presença portuguesa em África (370): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Caso se procure navegar com os céus brumosos, a documentação é rala e o que encontrei na Sociedade de Geografia de Lisboa não é muito abonatório para o senhor deputado nomeado pela Guiné e que vai aparecer em São Bento em 1911. O saudoso confrade Carlos Cordeiro encontrou o nome e intervenções de Gouveia (delas aqui se faz menção) agora há que ir procurar outras intervenções durante este mandato de 1911 a 1915. Permito-me voltar a pedir a todos que lerem este texto se souberem da existência de mais informações sobre a Casa Gouveia terem a amabilidade de me as transmitirem, a ambição era saber mais sobre Gouveia antes de vir para Guiné, o que fez em África, que benefícios lhe trouxe São Bento, como era o seu mundo de negócios até se criar o tandem Casa Gouveia/CUF, e posteriormente conhecer a evolução dos negócios, até à independência da Guiné. Quem pode ajudar?

Um abraço do
Mário



Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF:
Uma viagem interminável (3)


Mário Beja Santos

Segundo nos é dado a perceber, não há uma biografia de António da Silva Gouveia, sabe-se que chegou a África no último quartel do século XIX, constituiu empresa e notoriedade nos negócios, será deputado na Assembleia Constituinte, estará em São Bento até 1915, o nosso confrade Carlos Cordeiro (infelizmente já falecido) deixou aqui no blogue intervenções dele, é um domínio que espero mais tarde explorar consultando a documentação online do Parlamento referente à I República (ver as seguintes publicações:
Guiné 63/74 - P7107: Historiografia da presença portuguesa em África (37): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1.ª legislatura (1911-1915) (Parte I) (Carlos Cordeiro), disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7107-historiografia-da.html e ainda Guiné 63/74 - P7109: Historiografia da presença portuguesa em África (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte II) (Carlos Cordeiro) disponível em: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/10/guine-6374-p7109-historiografia-da.html.

Portanto, há que escavar até sair pepita. Na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa há dois documentos onde se fala de António da Silva Gouveia, deputado pela Guiné, há ali referências pouco elogiosas, como o leitor terá oportunidade de acompanhar.

Logo em "A Guiné nas Constituintes ou Misérias de Um Deputado", por Cândido Carlos de Medina, e a propósito em autos-crimes, extraio os seguintes parágrafos:
“Consta-me ouvir dizer a diferentes pessoas se têm praticado em Bolama os abusos e ilegalidades seguintes: para dar uma ideia geral do que era o Tribunal de Bolama, basta dizer que foi público e notório o ter sido denominado Tribunal da Baviera, pois que um dos compartimentos fora transformado em botequim ou cervejaria, onde se praticaram as maiores arbitrariedades tais como soltando criminosos sem mandado e desterrando para São Tomé dentro de três dias um criminoso que pediu recurso verbal.
A Fazenda Nacional foi enormemente desfalcada por assentimento dos magistrados capitão Costa Pereira, dr. Mourão, dr. Delgado de Carvalho e dr. Bernardo Nunes de Garcia a favor dos negociantes António da Silva Gouveia e António José Coelho de Mendonça nos inventários de António Pinto de Mesquita, ex-sócios destes últimos, e do tesoureiro da Província, Nicolau Carlos de Medina.
No inventário de António Pinto de Mesquita, cuja soma em dinheiro era calculada em cinquenta mil reis, foi apenas encontrada uma insignificância junta aos lucros que lhe deviam pertencer na Casa Gouveia & Cª. Este Mesquita tinha entrado para a Sociedade com sete contos e tantos em pesos e como não tinha herdeiros, se não se dessem as irregularidades, toda aquela fortuna entraria nos cofres da Fazenda Nacional. Como este processo envolvia sérias responsabilidades para a Casa Gouveia & Cª, desapareceu (segundo dizem) por combinação dos magistrados dr. Mourão e dr. Bernardo Garcia, que vindo de Cabo Verde para a Guiné, a fim de fazer uma sindicância prevaricou adquirindo grossas somas pela facilidade com que fazia desaparecer os processos no cartório a favor de alguns negociantes, de quem era advogado com procuração.”


Para não cansar o leitor com o relato destas traquibérnias, resta dizer que o nome da Casa Gouveia não aparece muito abonado, desapareceram grossas somas e aponta-se claramente o nome da Casa Gouveia e Mendonça. Mais adiante, Cândido de Medina refere uma escritura falsa feita por um escrivão interino da venda de uma casa de Francisco Rodrigues em Farim à Casa Gouveia & Cª por uma procuração falsa. Esta escritura é falsa, diz Medina, porque a procuração fora feita em papel muito sujo de moscas dois anos e meio depois da morte de Francisco Rodrigues e porque o dito Vasconcelos (o tal escrivão interino) já não estava em exercício quando a fez na Casa Gouveia. Os magistrados nesta denúncia, andam pelas ruas da amargura: “O dr. Mourão, indo a Bissau em serviço judicial, recebeu aí 537 mil reis dos rendimentos das propriedades do casal de Roberto Ribeiro da Cunha para serem depositados em Bolama no respetivo cofre. Pois esse dinheiro foi gasto em Bissau no jogo e em bebidas; e só mais tarde é que ele deu entrada no cofre, devido à amabilidade da Casa Gouveia & Cª que abonou essa quantia.”
E, mais adiante: “A Casa Gouveia & Cª pagou umas multas por infrações de lei dos selos nuns livros comerciais, multas que foram impostas por despacho do juiz Delgado de Carvalho que passou em julgado; pois essa Casa teve a facilidade de requerer e obter com pleno assentimento do representante da Fazenda Nacional a retribuição daquelas multas sem ser por meio de recurso algum.”

Muitas mais vezes António da Silva Gouveia aparece ligado a infrações, irregularidades e fraudes. Há a história de um arrolamento de bens, faz-se um inventário em março de 1896 e pode ler-se: “Havia mais dinheiro em cofre, mas penhorado, não constando que esse dinheiro fosse levantado. Havia uma dívida ao casal de 300 mil reis, devida por Francisco António Manuel Adolfo, conta que foi autorizada a respetiva execução; não consta que a quantia revertesse para o casal. Mais ainda. António da Silva Gouveia arrematou em hasta pública dois prédios do casal e veio a requerer que fosse dispensado de entrar no cofre com a quantia por que arrematou, visto ser credor de maior quantia. Foi-lhe indeferido o pedido e condenado nas custas do incidente.”

Passamos agora para a "Carta Aberta" assinada por Manoel António de Oliveira, dirigida ao deputado Silva Gouveia, ele acabara de receber o folheto de Cândido Carlos de Medina e diz, “prova-se que o senhor é pelo menos, se não o autor, cúmplice ou encobridor de fraudes e roubos feitos, uns à Fazenda Nacional, à Pátria, a nós o povo e outros, a viúvas e órfãos inocentes que hoje se encontram na miséria, enquanto o senhor deputado da Nação portuguesa, da nossa jovem República, negociante em grande escala e representante de bancos e companhias se banqueteia lautamente com o que pertencia a infelizes menores e que se encontram hoje a braços com a mais horrível miséria! E, neste constante subir, mercê de astúcias e embustes de toda a ordem, o senhor será elevado até às altas culminâncias do poder.
Sim, pelo que leio naquele folheto, as escada por onde tanto homem e órfãos remediados desceram à maior das desgraças, prestar-se-á hoje a dar subida ao homem que ontem, embora para fazer os seus arranjos, não tinha política definida e hoje se declara republicano da velha guarda, como se a República que tanto sangue custou, que tanta vida de homens sem mancha alguma engoliu, servisse para fazer subir ao mais alto pedestal criaturas que em público e com provas são acusadas de escândalos ou crimes desta ordem.”


É esta a única documentação existente sobre António da Silva Gouveia e a Casa Gouveia na Guiné no dealbar da I República, Gouveia foi eleito deputado, houve queixas da concorrência, há documentação de Graça Falcão que se julgava merecedor de ter sido escolhido, para este assunto a questão não é relevante, sabe-se que Gouveia em 1912 aderiu ao Partido Republicano Evolucionista, dirigido por António José de Almeida. Vamos continuar a procurar para se tirar o retrato de corpo inteiro deste Gouveia, na década de 1920 entra em negócios com a CUF, e assim aparecerá a mais importante empresa comercial e industrial da Guiné.

(continua)

Imagem de documentação em posse do Arquivo Histórico CUF-Alfredo da Silva
O vapor “Lisboa”, 1916
O rebocador “Estoril”, 1932
Navio a vapor “Costeiro”, 1922
Navio a vapor “Alferrarede”, 1927

Imagens de navios da Sociedade Geral, retiradas do blogue Restos de Colecção, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24338: Historiografia da presença portuguesa em África (369): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24356: Convívios (963): Coimbra, 27mai2023, 50.º convívio da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime 1971/74): "Balada de Despedida", voz: Firmino Ribeiro


Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) >  Na hora da despedida:  voz do Firmino Ribeiro, o segundo a contar da direita.



Coimbra > Claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede no núcleo local da Liga dos Combatentes, na Rua Sofia, 136 > 27 de maio de 2023 : 50.º convívio de confraternização da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74) (a chamada 2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana) >  Na hora da despedida: "Eles e elas"... Poucos mas bons e afinados... Até para o ano!



Vídeo (1' 47'') > Luís Graça > You Tube (2023)

Vídeo gravado em Coimbra nos claustros do antigo Colégio da Graça, hoje sede o núcleo local da Liga dos Combatentes, Rua da Sofia, 136, em 27 de maio de 2023, por ocasião do 50.º almoço de confraternização dos graduados e especialistas, metropolitanos, da CCAÇ 12, da 2ª e 3ª geração, que esteve na antiga Guiné Portuguesa durante a guerra colonial (Bambadinca e Xime, 1971/74) (*). As praças eram do recrutamento local. Até à extinção da CCAÇ 12, em agosto de 1974, houve uma progressiva "africanização" dos especialistas e até dos graduados.

Voz: Firmino Ribeiro (natural de Braga, vive no Porto)

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Balada da Despedida
Fernando Machado Soares


Letra:

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Quem me dera estar contente
Enganar minha dor
Mas a saudade não mente
Se é verdadeiro o amor.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Não me tentes enganar
Com a tua formosura
Que para além do luar
Há sempre uma noite escura.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.

Fonte: cortesia de
https://www.letras.mus.br/fernando-machado-soares/balada-da-despedida/
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