Último poste da série > 21 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26493: Para bom observador, meia palavra basta (7): O que têm em comum estas fotos do obus 10.5 ?... Haja um "professor de artilharia" que explique aos "infantes"...
Último poste da série > 21 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26476: Por onde andam os nossos fotógrafos (37) ?: Zeca Romão, de Vila Real de Santo António, ex-fur mil at inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3963 e CCAÇ 16, Teixeira Pinto e Bachile, 1971/73) - Parte II
1. O nosso camarada José Romão é natural de Vila Real de Santo António, onde é uma figura muito popular e um cidadão interveniente... Sobre ele escreveu o seu e nosso camarada Eduardo Estrela (que é de Faro mas vive em Cacela) (*):
Tem c. 20 referências no nosso blogue. É membro da Tabanca Grande desde 20/6/2010. Tem página no Facebook. Foi atleta na sua juventude. É um fotógrafo compulsivo. Disponibiliza centenas de fotos no seu Facebook.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26465: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (36): Zeca Romão, de Vila Real de Santo António, ex-fur mil at inf, CCAL 3461 / BCAÇ 3963 e CCAÇ 16, Teixeira Pinto e Bachile, 1971/73) - Parte I
Foto nº 4 > Guiné > Zona Oeste > Sector 05 (Teixeira Pinto) > Bachile > CCAÇ 16 > s/d (c. 1972/73) > Brincando um macaco-cão.
Foto nº 5 > Guiné > Zona Oeste > Sector 05 (Teixeira Pinto) > Bachile > CCAÇ 16 > s/d (c. 1972/73) > Um frágil perímetro de defesa com bidões cheios de areia.
Foto nº 6 > Guiné > Zona Oeste > Sector 05 (Teixeira Pinto) > Bachile > CCAÇ 16 > s/d (c. 1972/73) > Um algarvio com saudades da sua terra, lá longe, a 4 mil km.
Foto nº 7 > Guiné > Zona Oeste > Sector 05 (Teixeira Pinto) > Bachile > CCAÇ 16 > 1973 > O destacamento que tem todo o aspeto de ter sido construído de raíz pelo BENG 447.
Fotos (e legendas): © José Romão (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O nosso camarada José Romão, de Vila Real de Santo António, tem um especial carinho pela sua terra, as suas gentes, as suas tradiçóes, o seu património... E tem uma segunda terra, a Guiné-Bissau, e em especial o "chão manjaco", do qual guarda "recordações inesquecíveis" do tempo em que foi fur mil at inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73.
Tem 17 referências no nosso blogue. É membro da Tabanca Grande desde 20/6/2010. Tem página no Facebook. Foi atleta na sua juventude. É um fotógrafo compulsivo. Tem centenas e centenas de fotos no seu Facebook. Estamos a recuperar as da Guiné, todas dispersas. Serão reeditadas e publicadas no blogue, com a devida vénia.
2. Recorde-se que a CCAÇ 16, a "companhia manjaca":
(i) era uma subunidade do recrutamento local, tendo sido organizada no CIM de Bolama, em 4 de fevereiro de 1970;
(ii) à semelhança de outras, da chamada "nova força africana", era constituída por quadros (oficiais, sargentos e praças especialistas, condutores, operadores de transmissões, cabos auxiliares de enfermagem, etc ) de origem metropolitana e por praças guineenses, neste caso de etnia manjaca;
(iii) colocada em Teixeira Pinto (ou Canchungo), em 4 de março de 1970, destacou dois pelotões para Bachile, passando a estar integrada no dispositivo do BCAÇ 1905, e substituindo a CCAÇ 2658, que se encontrava em reforço no sector;
(iv) em 30 de abril de 1970, já com o quadro orgânico de pessoal completo, passa a ser a unidade de quadrícula de Bachile;
(v) em 28 de janeiro de 1971 passa a depender do CAOP 1 (com sede em Teixeira Pinto);
(vi) a partir de 1 de fevereiro de 1973, fica na dependência do BCAÇ 3863 e do BCAÇ 4615/73, que assumiram, a seu tempo, a responsabilidade do sector em que aquela subunidade estava integrada;
(vii) destacou forças para colaborar nos trabalhos de reordenamento de Churobrique;
(viii) em 26 de agosto de 1974, desactivou e entregou o quartel de Bachile ao PAIGC, recolhendo a Teixeira Pinto, onde foi extinta a 31 de agosto desse ano,
3. O Zeca Romão passou por Teixeira Pinto, Bachile, Churobrique, Cacheu... Tem fotos também interessantes de Bissau. Vamos fazer alguns postes temáticos.
Fica assim feita a sua "prova de vida". Vai daqui um abraço fraterno para o Zeca, que é uma figura popular na sua terra e um camarada que continua a participar nos convívios do seu batalhão. (Julgo que na vida civil foi bancário.)
Em 1/7/1973, Bachile pertencia à Zona Oeste, Sector 05. O comando e CCS do BCAÇ 3863 estavam em Teixeira Pinto. Susetores: Cacheu, Bachile e Teixeira Pinto.
No subsetor de Bachile estava a CCAÇ 16, com um pelotão (-) em Churobrique e uma secção na ponte Alferes Nunes (mais uma secção de milícias). O quartel de Bachile era ainda guarnecido pelo 21º Pel Art (10,5 cm).
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte Vquarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26463: A nossa guerra em números (27): 800 mil portugueses (muito mais, em termos relativos, do que os americanos no Vietname, ou os franceses na Argélia) "contribuiram com o seu esforço e empenho para que o poder político obtivesse uma solução política" para a guerra, (...) "mas este não correspondeu e o tempo da história foi implacável" (maj-gen João Vieira Borges, in "Crepúsculo do Império", 2024)

de João Vieira Borges, Pedro Aires Oliveira
Foto (e legenda): © José Romão (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
João Vieira Borges, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, escreveu recentemente (**) que nunca Portugal fez um esforço tanto grande como na guerra de África (1961/75), em matéria de recrutamento e mobilização militar. (Em termos relativos, foi um esforço maior do que o dos EUA, no Vietname, ou o da França, na Argélia.)
- 75% oriundos de Portugal Continental, e dos arquipélagos da Madeira e Açores;
- 25% do recrutamento local (Angola, Guiné e Moçambique).
Cerca de 92% dos efetivos eram oriundos do serviço militar obrigatório (pág. 390). O país tinha na altura uma população inferior a 10 milhões:
- 8,994 ,milhões, em 1962;
- 8,754 milhões, em 1974 (redução de 2,7%).
- 43,3% em Angola;
- 21,8% na Guiné;
- 34,9% em Moçambique.
- Exército: 91,5%;
- Força Aérea: 5,5%;
- Marinha: 3,0%.
Veja-se agora o peso relativo do recrutamento em cada um dos TO (em média) (citando Sousa, 2020) (***):
- Angola: 32,8%
- Guiné: 15,7%
- Moçambique: 43,2%.
- Angola: 42,3%;
- Guiné: 20,1%;
- Moçambique: 53,6%.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26041: A nossa guerra em números (26): Aceitemos, provisoriamente, o número (oficioso) de 437 "internacionalistas cubanos" que terão combatido ao lado do PAIGC, "de 1966 a 1975"
(**) João Vieira Borge - O recrutamento e a mobilização das Forças Arnadas portuguesas. In: Crepúsculo do Império, op. cit., pp. 381-401.
(***) Pedro Marquês de Sousa - "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 379 pp.
terça-feira, 17 de março de 2020
Guiné 61/74 - P20742: Memória dos lugares (405): Cacela, a fadista Lucinda Cordeiro e o grupo "Cantar de Amigos", num vídeo do Zeca Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73)
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José Romão no Bachile, c. 1972/74 Arquivo do autor (2010) |
2. Sobre Tavira, e o sítio onde fizemos os fogos, no último trimestre de 1968, escreveu o Eduardo Estrela o seguinte comentário ao poste P20732 (*):
"Bom dia Luís! É uma alegria enorme ouvir falar da nossa terra com tanto carinho e amor. Obrigado pelas tuas palavras elogiosas. Façamos votos que haja coragem de preservar a autenticidade desta parte do Algarve denominada Sotavento.
Seguindo o percurso da EN 125, no sentido Tavira-Vila Real Sto. António, passamos Conceição de Tavira e, cerca de 3 km mais á frente, há uma estrada à direita que vai ter ao sítio do Lacem. Foi neste sítio, local de confluência dos concelhos de Tavira e Vila Real, que fizemos os fogos reais, numa arriba sobranceira á ria e ao mar. Dista de Cacela Velha em linha recta, mais ou menos 1 km.
P.S. Fica pois o Lacem para a direita da fotografia da fortaleza de Cacela Velha. A estrada da ilha é a das quatro águas."
(*) Último poste da série > 14 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20732: Memória dos lugares (402): Tavira, o CISMI, e Cacela A Velha... (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)
domingo, 15 de março de 2020
Guiné 61/74 - P20734: (In)citações (145): "Gosto da Guiné - Bissau e Tenho Orgulho de o Dizer": vídeo do Zeca Romão, de Vila Real de Stº António, Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e CCAÇ 16 (Bachile, 1971/73)
Legenda: "Video dedicado a todos os meus amigos guineenses. Estive na Guiné Bissau de Setembro de 1971 a Outubro de 1973 e durante esses meses aprendi a gostar desse povo maravilhoso, em especial os Manjacos, em cujo 'chão' permaneci mais tempo."


A partir de fotos a cores do seu álbum da Guiné, e como a música de fundo a canção do Duo Ouro Negro "Vou levar-te comigo", o Zeca Romão percorre alguns dos sítios por onde andou e que lhe ficaram gravados como "memórias inesquecíveis":
Bachile, Churobrique, Bissau (a avenida marginal, o Pidjiguiti, a Amura, o Pelicano, a velha Bissau colonial, o Grande Hotel, a Catedral, etc.), Bolama (, a antiga capital da província), Cacheu (, a fortaleza, o edifício da administração...), Canchungo (, o cine Canchungo, a avenida principal)...
Parabéns, camarada. Gosto particularmente do título (original) que escolheste para o teu vídeo... Um Oscar Bravo, em nome de todos nós.
Guiné > Região do Cacheu > Carta de Teixeira Pinto (1961) (Escala 1/ 50 mil) > Pormenor: posição relativa de Churobrique e Bachile a norte de Teixeira Pinto, do lado direito da estrada que seguia para o Cacheu.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)
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Nota do editor:
Último poste da série > 18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20663: (In)citações (144): um Oscar Bravo (OBrigado) a todos/as, família, conterrâneos/as, amigos/as e camaradas que fizeram da sessão de lançamento do meu último livro, em 8 de fevereiro último, na Casa do Alentejo, uma tarde memorável que tão depressa não vou esquecer (José Saúde)
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Guiné 63/74 - P10029: Fichas de Unidades (9): A CCAÇ 16, constituída no essencial por camaradas de etnia manjaca (Teixeira Pinto, Bachile e Churobrique, fevereiro de 1970/agosto de 1974) (José Martins)
Guiné > Região do Cacheu > Bachilé > CCAÇ 16 (1972/74) > Foto de grupo [, pede-se ao António Branco, que parece ser o primeiro, da segunda fila, de pé, a contar da direita, para identificar os restantes elementos do grupo].
Foto: © António Branco (2010). Todos os direitos reservados
Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Os fur mil José Romão (à direita) e Bernardino Parreira (à esquerda), dois algarvios de Vila Real de Santo António e Faro, respetivamente. Ao fundo, no memorial, lê-se: "Para uma Pátria una e indivisível, a Companhia Manjaca [,CCAÇ 16, constituída em 1970] está defendendo o seu chão da cobiça de estranhos, ainda que tenha de derramar o seu sangue".
Foto: © José Romão (2010). Todos os direitos reservados
1. Notas sobre a Companhia de Caçadores n.º 16, compiladas pelo nosso colaborador permanente José Martins, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Os Gatos Pretos (Canjadude, 1968/70):
(i) A CCAÇ 16, subunidade do recrutamento local, foi organizada no Centro de Instrução Militar (CIM), de Bolama, em 4 de Fevereiro de 1970;
(ii) À semelhança de outras, da chamada "nova força africana", era constituída por quadros (oficiais, sargentos e praças especialistas) de origem metropolitana e por praças guineenses, neste caso de etnia manjaca;
(iii) Colocada em Teixeira Pinto (ou Canchungo), em 4 de Março de 1970, destacou dois pelotões para Bachile, passando a estar integrada no dispositivo do BCAÇ n.º 1905, e substituindo a CCAÇ n.º 2658, que se encontrava em reforço no sector;
(iv) Em 30 de Abril de 1970, já com o quadro orgânico de pessoal completo, passa a ser a unidade de quadrícula de Bachile;
(v) Em 28 de Janeiro de 1971 passa a depender do CAOP 1 (com sede em Teixeira Pinto);
(vi) A partir de 1 de Fevereiro de 1973, fica na dependência do BCAÇ n.º 3863 e do BCAÇ n.º 4615/73, que assumiram, a seu tempo, a responsabilidade do sector em que aquela subunidade estava integrada;
(vii) Destacou forças para colaborar nos trabalhos de reordenamento de Churobrique;
(viii) Em 26 de Agosto de 1974, desactivou e entregou o quartel de Bachile ao PAIGC, recolhendo a Teixeira Pinto, onde foi extinta a 31 de Agosto desse ano;
Cap Inf Rolando Xavier de Castro Guimarães
Cap Inf Luciano Ferreira Duarte
Cap Mil Inf José Maria Teixeira de Gouveia
Cap QEO [Quadro Especial de Oficiais] José Mendes Fernandes Martins
Cap Inf Abílio Dias Afonso [, foto à esquerda; hoje maj gen ref]
Cap Mil Art Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca
Cap Mil Inf Manuel Lopes Martins;
(x) Esta subunidade não tem História da Unidade: existem apenas alguns registos, muito incompletos, relativo aos períodos de 1 de Janeiro a 31 de Setembro de 1972 e de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 1973 (Vd. Arquivo Histórico Militar, caixa n.º 130 – 2.ª Divisão/4.ª Secção).
(i) António Graça de Abreu (Estoril/Cascais): Creio que meu tempo no CAOP 1 em Teixeira Pinto,(Junho 1972 a Abril 1973,) a CCaç 16 era comandada pelo capitão Abílio Dias Afonso. O infatigável ratão de bibliotecas e arquivos, o nosso bom amigo José Martins, descobre sempre tudo.

(ii) Bernardino Parreira (Faro) [, foto atual à direita]: Caros Camaradas, estive em Bachile, como Furriel Mil na CCaç 16 de Jun/72 a Fev/73, sob o comando inicial do capitão Martins e posteriormente do capitão Afonso.

(iii) António Branco (Lisboa) [, foto atual à esquerda]: Estive no Bachile, de Junho de 1972 a Março de 1974, sou o ex-1.º cabo de reabastecimento de material e tinha a cargo a arrecadação de material e fardamento cujo chefe era o 2.º sargento Guerreiro.
Desde o meu regresso só tive oportunidade de contactar com um camarada que foi operador cripto, o 1.º cabo Miranda. Reconheço os nomes do furriel Parreira e do António Graça e era interessante que ao fim destes anos fosse possível reencontrar algum dos que durante algum tempo partilharam momentos muito interessantes. Um abraço a todos e o meu endereço é o seguinte
asdbranco@gmail.com
(iv) Bernardino Parreira:
Camarada António Branco: Graças a este blogue vamos tendo notícias dos amigos que fizemos e que pensávamos não mais encontrar. Pois de facto partilhamos bons momentos juntos, e longas conversas, eu tu e o sargento Guerreiro, de quem não tive mais notícias. Também me lembro do Miranda, também grande amigo. O António Graça a que te referes deve ser o Furriel mecânico, porque o Alferes António G. Abreu estava em Teixeira Pinto.
Foi com grande emoção que vi a foto da Ponte Alferes Nunes e o Rio Costa, onde tantas vezes afoguei as minhas mágoas. Era com os banhos no Rio e com os jogos de futebol, que jogava pela companhia CCAÇ 16, em Teixeira Pinto, que aliviava o meu stress.
Também tenho saudades dos camaradas africanos, e foram tantos os amigos que lá deixei. Pode ser que um dia nós nos encontremos, ou nos contactemos, através de e-mail ou do blogue. Gostava de ver uma fotografia tua aqui publicada, que eu também vou providenciar a digitalização da minha, para ver se nos vamos recordando das caras que há 36-37 anos deixamos de ver.
(v) Miranda: Olá, caros amigos e colegas de Teixeira Pinto... Tal como vocês, conheci muitos amigos. Sou o ex-1.º Cabo Enfermeiro Miranda e gostava de ter os vossos endereços de e-mail para contactar. O meu é: carlosrogeriomiranda@hotmail.com.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 24 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)
(**) Postes sobre a CCAÇ 16 (1970/74):
25 de junho de 2010 > Guine 63/74 - P6643: Memória dos lugares (86): Bachile, chão manjacho (José Romão, ex-Fur Mil, CCAÇ 16, 1971/73 / António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, 1972/74)6 de julho de 2010> Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971
10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74
13 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)
13 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7024: Recortes de imprensa (29): A guerra do António Branco, CCAÇ 16, Bachile, 1972/74 (Correio da Manhã, 24 de Agosto de 2008)
13 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10028: Recordando aquele malfadado jogo de futebol, em 31 de janeiro de 1973, entre a CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e a CCAÇ 16 (Bachile) (Bernardino Parreira)
Guiné 63/74 - P10028: Recordando aquele malfadado jogo de futebol, em 31 de janeiro ou 1 de fevereiro de 1973, entre a CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e a CCAÇ 16 (Bachile) (Bernardino Parreira)
Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do Rio Corubal > Gampará > 38º CCmds (1972/74) > 1972 > "Em Gampará com o meu grande amigo Furriel Cmd Ludgero dos Santos Sequeira, a quem mais tarde na picada do Cufeu (outra vez) numa mina iria ficar às portas da morte, ficando quase cego até aos dias de hoje. Continuamos grande amigos. Um abraço para ti, Sequeira!" (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando).
Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do Bernardino Parreira, com data de 12 do corrente:
Caro amigo Luís Graça
E só não tinha ainda regressado a S. Domingos para poder disputar este jogo. Que era a final do campeonato entre companhias do CAOP1. O jogo que se realizou naquele fatídico dia foi entre a CCS/BCAÇ 3863 e a CCaç 16 à qual eu pertencia.
Devo dizer que o ambiente que normalmente se vivia no Bachile era calmo, os militares eram disciplinados e muito bons seres humanos. O nosso comandante era um Excelente Militar Operacional e uma Excelente pessoa. Havia um espírito de companheirismo e confraternização excepcionais entre todos os militares.
O futebol, no meio daquela guerra, aliviava-nos o stress e o orgulho de uma companhia africana poder ganhar o campeonato era enorme. O que aconteceu ali, naquele dia, em termos de jogo, acontece muitas vezes em estádios de futebol. Ao ser anulado um golo que dava a vitória à nossa CCaç 16, onde seríamos sagrados vencedores daquele campeonato, que tinha a maioria de jogadores africanos, os nossos camaradas africanos que estavam a assistir ao jogo invadiram de imediato o campo.
Julgo que naquele dia estávamos apenas a jogar 2 brancos, eu e o Figueiredo. A única diferença é que todos estavam armados, não com cadeiras, como normalmente acontece nos estádios de futebol, mas com armas reais, e álcool à mistura, e a situação só não teve consequências maiores dado o campo de futebol, onde isto aconteceu, estar situado próximo do CAOP1.
Tenho a ideia de que foram logo ali efectuadas algumas prisões e, serenados os ânimos, regressámos todos ao nosso quartel no Bachile, nas viaturas militares.
No mesmo dia, por volta da hora de jantar, estava eu na messe dos sargentos, tive conhecimento que a maioria dos militares africanos, revoltados e armados, tinham abandonado o quartel e se dirigiam para Teixeira Pinto no sentido de irem tentar a libertação dos camaradas presos.
Escusado será dizer a preocupação que se generalizou entre os que ficaram, mas dada a pouca distância entre o Bachile e a Ponte Alferes Nunes logo se ouviu dizer que tropas da CAOP1 tinham vindo ao encontro dos revoltosos e estes tinham sido obrigados a recuar para o Quartel.
O pior soube-se depois, que foi o acidente ocorrido com os militares de Teixeira Pinto,[da 38ª CCmds,] no regresso ao seu quartel, com a deflagração de um dilagrama.(*)
Dois dias depois parti, triste, do Bachile, em direcção a S. Domingos, via Cacheu. Achei que não devia ter ficado para disputar aquele malfadado jogo de futebol. Ainda passei por Teixeira Pinto para visitar e despedir-me dos meus camaradas presos, entre eles o meu amigo Policarpo Gomes, que era do meu pelotão.
Por outro lado, S. Domingos continuava a ser atacado, do Senegal, e não sabia o que me poderia acontecer a poucos dias do meu regresso. Ainda retenho na memória a preocupação que os meus camaradas africanos manifestaram ao saberem que eu ia para S. Domingos antes do regresso. Só diziam:
- S. Domingos nega... manga de porrada...!
Graças a Deus cá estou!
Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Equipa de futebol de sete > Legenda do Bernardino Parreira: "Amigo Luis Graça, não consto dessa foto, editada no blogue, mas julgo reconhecer, da direita para a esquerda, em cima, primeiro o meu amigo António Branco, e terceiro o Sr. Comandante, na altura capitão Abílio Afonso. Em baixo: Da direita para a esquerda, Pereira, Garcia e Miranda.
2. Esclarecimento posterior do José Romão, em mensagem enviada às 23h16:
Boa noite camarada e amigo Luís Graça:
Um abraço para todos os camaradas,
José Quintino Travassos Romão,
_____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior, de 12 de junho de 2012> Guiné 63/74 - P10025: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (18): A ponte Alferes Nunes, a CCAÇ 16, o Bachile, a 38ª CCmds, o Canchungo, o cor pára Rafael Durão, o futebol, a violência, a morte...
sexta-feira, 23 de março de 2012
Guiné 63/74 - P9645: O PIFAS, de saudosa memória (10): A mascote, um caso sério de popularidade (José Romão)... E até o 'Nino' Vieira ouvia o programa! (João Paulo Diniz)
A mascote do PIFAS... Afinal sempre tem pai(s): Segundo informação do João Paulo Dinis, o pai da "ideia" foi o Fur Mil Jorge Pinto, que trabalhava no Com-Chefe, ideia a que depois deu corpo um outro camarada, o José Avelino Almeida, cuja companhia estava em Mampatá e Aldeia Formosa...
Fotos: © José Romão (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Mensagem enviada, a 21 do corrente, pelo nosso camarada José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73) [, foto atual, à direita]
Camarada Luís Graça:
Ai vão 3 fotografias da mascote do PIFAS (Programa das Forças Armadas, na Guiné).
Esta mascote veio comigo da Guiné no ano de 1972.
Um abraço
Travassos Romão
2. Comentário de L.G.:
Não há dúvida que a mascote do PIFAS (e o PIFAS, o programa de rádio das Forças Armadas, transmitido através do emissor de Nhacra, da Emissora Nacional de Radiodifusão) foi um caso sério de popularidade...
A rádio, e este programa em particular, no início dos anos 70, terá ajudado muitos camaradas nossos a lidar com a solidão e a saudade... Verdade ? Pelo menos, cerca de 2/3 dos respondentes à nossa última sondagem (n=116) conheciam e ouviam o PFA ou PIFAS: cerca de 39% ouviam-no "todos os quase todos os dias"; os restantes 27% só mais esporadicamente... Também a população civil ouvia o programa, de acordo com o testemunho do João Paulo Diniz...
Ao fim destes anos todos, há malta que guarda religiosamente o boneco, que trouxe da Guiné, como é o caso do José Romão ou do Augusto S. Santos... Até o nosso Carlos Vinhal tem um, lá em casa, embora sem os adereços (o microfone e o gravador), que desapareceram de tanto os sobrinhos terem brincado com ele...
Por outro lado, o nosso Hélder Sousa, que vive em Setúbal, já entrou em contacto com o Armando Carvalhêda, outro conhecido locutor do PIFAS no seu tempo de Bissau, em 1972, e que continua a estar ativo, aos microfones da Antena 1 [, tendo também fortes ligações a Setúbal e a Alcácer do Sal, or via das rádios locais...Espero que o Hélder consiga ter tempo para nos falar desse(s) encontro(s)]...
Do João Paulo Diniz já aqui temos falado bastante... Eu não o conheço pessoalmente mas já falámos várias vezes ao telefone. A última foi agora mesmo... Falámos também na 3ª feira passada, dia 20. Como é sabido, ele tem um programa de música, ao sábados, de madrugada, entre as 5h e as 7h, que se chama "Emoções". O programa é pregravado. No dia 20, como conforme combinado, falámos um bocadinho (cerca de 3 minutos) sobre o nosso blogue e o nosso encontro, que se vai realizar no dia 21 de abril, em Monte Real.
Se algum dos nossos leitores, estiver desperto ou com insónias, amanhã de manhã, por volta das 6h30, mais ou menos, poderá sintonizar o programa "Emoções"... A pequena entrevista comigo foi antecedida de uma das músicas que passava no PIFAS, "A namorada que eu sonhei", do Nilton César, uma das canções da época que que eram transmitidas ad nauseam nos programas de discos pedidos...
(i) Ele era militar de engenharia, foi requisitado para o Com-chefe para trabalhar na rádio, por ser já "locutor profissional!"...
(ii) O PFA ou PIFAS já vinha dos anos sessenta, ele não sabe precisar o ano;
(iii) Na realidade, ele era o único locutor profissional do PFA, no seu tempo (meados de 1970/ meados de 1972);
(iv) Mas antes dele já lá tinham passado outros, como o falecido Raul Durão;
(v) Mas havia muito mais malta a trabalhar no programa... Lembra, com saudade, outra malta que fez o PFA, como o Sargento Silvério Dias e a sua esposa, Maria Eugénia, que era a tal "senhora tenente", de que muita malta se lembra...
(vi) O João Paulo gostava deste simpático casal de locutores e gostava de os ver se possível no nosso próximo encontro, em Monte Real; (ele tem o contacto telefónico do então sargento Silvério Dias, que deve ser hoje pessoa para setenta e tal anos);
(vii) O PIFAS tinham estúdios próprios em Bissau; o emissor era em Nhacra; os estúdios estavam localizados na avenida (?) dos bombeiros, enquanto a sede da emissora oficial era no (ou em frente ao) edifício dos CTT, na avenida da sé catedral (hoje Av Amílcar Cabral ?);
(viii) Havia uma vasta equipa, o sargento Silvério Dias, o furriel Garcez Costa, o furriel Jorge Pinto... O Carvalhêda virá mais tarde...
(ix) O programa, de 3 horas diárias, tinha o seguinte horário: 1º tempo: 12h-13h; 2º tempo: 18h30-19h30; 3º (e último) tempo: 23h-24h...
(x) O João Paulo Diniz é um grande contador de histórias, ou não fosse um homem da rádio... Entre outras, contou-me a seguinte: uma das vezes que foi à Guiné-Bissau, acompanhando, em serviço da Antena 1, uma visita governamental (creio que foi no tempo do Prof Cavaco Silva como 1º ministro...), encontrou-se com o 'Nino' Vieira... Quando ele soube que tinha feito serviço na rádio das FA, o ‘Nino’ entrou em confidências, muito ao seu jeito, de resto… Contou ao João Paulo Diniz que a malta do PAIGC costuma ouvir o PIFAS e que foi, com a contagem decrescente do locutor do PFA, numa passagem de novo ano, que eles um dia atacaram ou flagelaram um aquartelamento nosso… (Talvez Tite ou outro quartel mais a sul, ele já não pode precisar)…
(xi) A mascote do PIFAS, da autoria do Jorge Pinto (também conhecido por "Jorginho" e "Pifinhas", hoje com paradeiro desconhecido) e do José Avelino Almeida (, que também quer ir a Monte Reaal e que nos vai contactar), terá sido feita em Espanha... Era distribuída (gratuitamente) pela população e pelos militares... Ele, João Paulo, diz que infelizmente perdeu o "bonequinho" que trouxe de Bissau...
(xii) Mais histórias do PIFAS... ficam para Monte Real!!! ... Ou para o próximo poste: por exemplo, o emociante relato em direto - através da emissora oficial francesa - da vitória do Joaquim Agostinho numa das etapas da Volta à França (com a malta no estúdio a traduzir o francês para português)!... E outras "maluqueiras" que a equipa fazia: para o João Paulo Diniz foi uma experiência única e inesquecível, a sua passagem pelo PIFAS, aliás percebe-se pelo entusiasmo e vivacidade com que fala dessas memórias!
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9607: O PIFAS, de saudosa memória (9): Dois terços dos respondentes da nossa sondagem conheciam o programa e ouviam-no, com maior ou menor regularidade...
quarta-feira, 7 de março de 2012
Guiné 63/74 - P9576: O PIFAS, de saudosa memória (8): Homenagem aos atuais profissionais da rádio Armando Carvalhêda, João Paulo Diniz e Faride Magide, evocados aqui pelo nosso saudoso camarada Daniel Matos (1950-2011)
Por ele ficámos a saber (ou confirmámos a informação de) que entre os locutores, militares, do PFA figuravam o Armando Carvalhêda e o João Paulo Diniz, hoje grandes nomes da rádio... Aqui vão alguns excertos de um dos postes do Daniel Matos que, em 24 de maio de 1973, vive nas valas de Guidaje, dia e local em que toma conhecimento, através de um paraquedista da CCP 121, que Guileje tinha acabado de ser abandonada pela tropa e pela população... (LG).
2. Vozes da rádio... nas valas de Guidaje, 24 de maio de 1973 (**)
por Daniel Matos (1950-2011)
(...) O nosso cabo artilheiro vasculha dentro da mala que tem deitada debaixo da cama, saca de um transistor do meio da roupa e das cartas, confirma se já está tudo acordado e põe o rádio a tocar. Escutam-se sons de kora (espécie de harpa mandinga, mas cujo formato é mais parecido com uma viola), depois ngumbé, ritmo nacional guineense, mas não deve ser tocado pelo grupo Cobiana Djazz, impedido de actuar na UDIB de Bissau e cujo vocalista, – José Carlos Schwarz [, 1949-1977,], o Zeca Afonso da Guiné – estará ainda na prisão de Djiu di Galinha – a Ilha das Galinhas, onde se situa a espécie de Tarrafal guineense, o Campo de Trabalho no arquipélago dos Bijagós (...).
Não sei que raio de língua ou dialecto fala o locutor que entre os temas musicais pronuncia uma algaraviada de coisas esquisitas para os nossos ouvidos. O que escuto na telefonia do artilheiro virá da Emissora Nacional (**) ou de postos de rádio dos países mais próximos (ouvimos com maior ou menor dificuldades emissões de onda média do Senegal, Gâmbia, Mali, Guiné/Conacry, Serra Leoa).
Quanto a música africana, as emissões nacionais transmitem sons guineenses, de preferência instrumentais. Vocalmente, um ou outro tema do grupo Voz da Guiné. De Cabo Verde, sobretudo Bana e Luís de Morais, e também os angolanos Duo Ouro Negro e Lili Tchiumba.
A Rádio Libertação − A Voz do PAIGC, Força, Luz e Guia do Nosso Povo, tem os seus noticiários e passa músicas muito variadas (cheguei a ouvir música portuguesa que é proibida em Portugal).
Imagem enviada, no Natal de 2010, pelo nosso camarada José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73).
E há o PFA [, Programa das Forças Armadas], umas quantas horas por dia, com espaços que procuram distrair a tropa, mas muito distintos entre si. (****)
Por vezes chega a ser imbecilizante um programa produzido pelo “casal Primeiro Dias e Senhora Tenente”. Havia de tudo, desde espaços de entretenimento inteligente, com o Armando Carvalheda (nosso artilheiro em Gadamael que, felizmente para ele, viria a mudar de ramo e a trocar o obus pelo microfone) – ainda hoje um profissionalão de rádio e uma das vozes mais influentes da RDP/Antena 1, onde é o principal divulgador da música popular portuguesa no seu palco da rádio, ao vivo, todas as semanas.
Também João Paulo Diniz (que regressado à metrópole passou, penso que a pedido de Otelo, que o conheceria de Bissau, o tema E Depois do Adeus, primeiro sinal radiofónico antes da senha Grândola Vila Morena).
E outros nomes que, de tanto os ouvirmos, ficaram na nossa memória: Faride Magide, julgo que técnico de som que terá estado anos depois em Coimbra, na RDP; e também censores políticos que eram militares, e que faziam os cortes mais absurdos em programas enviados pelas unidades que estavam no mato. Ainda se os cortes fossem originados pela má qualidade do som (eram gravações geralmente efectuadas em cassettes domésticas) compreender-se-ia! Mas não, era censura política pura e dura, às locuções e à música que se incluía nesses programas.
Isso sucedeu connosco, gravámos um belo dum programa no meu quarto em Bafatá (meu, e dos furriéis José Alberto Ferreira Durão, mecânico-auto, e Hélder Pereira Calvão, – o nosso ranger, isto é, de operações especiais). Quando ouvimos a transmissão do nosso programa Frequência 3-5-1-8 (participaram também o fur mil de transmissões Domingos Gomes Pinto, o fur mil de minas e armadilhas Ângelo Silva e o fur mil atirador António Guerreiro), no lugar do fado de Coimbra cantado por José Bernardino apareceu uma doce canção dos Beatles, o poema O Rico e o Pobre (altamente subversivo, declamado entusiasticamente pelo homem de transmissões José Elias Gomes de Oliveira), também foi à vida!, saiu tudo alterado, segundo apurámos, por um zeloso guardador do regime, um tal Madeira.
E pensar que à testa do PFA estava o capitão miliciano José Manuel Barroso, ligado ao Comércio do Funchal, jornal que, apesar de dar vivas ao marxismo-leninismo-maoísmo (para achincalhar a CDE - Comissão Democrática Eleitoral - em período dito pré-eleitoral), aparecia nas bancas como sendo de oposição ao regime (o capitão Manuel de Sousa recebia-o algumas vezes e eu permutava com ele o 'meu' Notícias da Amadora, O Mundo da Canção e, às vezes, outros recortes de notícias que os meus amigos Acácio Vicente e Fernando Simões me mandavam).
Embora nesta altura não se registe a presença incómoda de muitos mosquitos, nem as noites se carreguem de frígido cacimbo, pernoitar ao relento não é pêra doce nenhuma. Todavia, o sono só nos verga pelo cansaço. Fumar no escuro é arriscadíssimo (só com mil cuidados para evitar que o morrão do cigarro se veja de longe) e nem uma gota de álcool temos para nos aquecer o corpo e a alma. Resultado: tagarela-se, de preferência baixíssimo, para que ninguém nos oiça para lá do cotovelo seguinte da vala. (...)
Como se sabia que o nosso poiso de origem tinha sido Gadamael, um pára-quedista quis saber se já tínhamos notícias de Guileje. Não tínhamos, claro. Novidades só trazidas de fora! Sem se aperceber que a história ainda desmoralizaria mais qualquer Marado, informou que quartel e aldeia de Guileje tinham sido abandonados e que toda a gente (cerca de duzentos militares e mais de meio milhar de civis) estava agora refugiada em Gadamael, que terá ficado a rebentar pelas costuras!
O pessoal ouve com incredulidade. Será também esta a nossa sorte ? (...)
Daniel Matos †
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. último poste da série > 7 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9574: O PIFAS, de saudosa memória (7): Quando a malta do SPM dava música... e o Armando Carvalheda e o Carlos Fernandes eram locutores... (Hélder Sousa, Armando Pires, António Carvalho)
(**) Excerto (com título do editor), retirado do poste de 14 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973
(***) O PFA era emitido a partir de Nhacra, a 25 Km de Bissau, onde se situava o emissor regional da Guiné, que integrava a rede da Emissora Nacional de Radiodifusão.
Recorde-se que em 1969, no governo do Marcelo Caetano, e sendo ministro do Ultramar, Silva Cunha, foi integrada, na Emissora Nacional de Radiodifusão, a até então chamada Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, pelo Decreto-Lei nº 49084, de 16 de junho de 1969. Segundo o art. 2º daquele diploma legal, passava a competir " à Emissora Nacional de Radiodifusão, através do Emissor Regional da Guiné, assegurar todo o serviço de radiodifusão indispensável à satisfação das necessidades da província e à salvaguarda e defesa dos interesses nacionais, substituindo, em matéria de radiodifusão, a actividade até agora exercida pela Emissora Oficial da Guiné Portuguesa, anteriormente designada por Emissora Provincial da Guiné Portuguesa" (art. 2º).
Em Abril de 1972, aquando da visita do ministro do Ultramar, Silva Cunha, foi inaugurado o novo centro emissor de Nhacra, capaz de fazer frente às "potentes emissoras de Dakar e Conakry, onde a propaganda do PAIGC ocupa lugar proeminente - em tempo de emissão" (...).
Nesse ano de 72, e segundo informação do nosso camarada Eduardo Campos (, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), Nhacra e o centro emissor terão sido flagelados duas vezes: "(...) fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em Maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7, e a segunda em Agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT".
(****) A Repacap (Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica), em 1971, emitiu um total de 2372 horas de emissão, utilizando os emissores de ondas curtas e médias da Emissora Oficial da Guiné Portuguesa. Mais de 46% desse tempo foi destinado ao PFA (Programa das Forças Armadas). Os restantes foram destinados aos chamados PNL (programas em línguas nativas: crioulo, balanta, fula, mandinga, manjaco, sosso...), além dos progrmas para o exterior, em francês, destinado às populações do Senegal e da Guiné-Conacri.
O PFA fazia, nesse ano, uma emissão diária de 3 horas (1095h no total anual). Presumimos que o tempo de emissão tenha aumentado depois da entrada em funcionamento do novo emissor, mais potente, de Nhacra, em Abril de 1972.
Fonte:
Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971. Citado por Francisco Proença de Garcia - Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974). [ Em linha] Capítulo IV - O independentismo e o poder português em confronto. [Consultado em 6 de março de 2012] Disponível em: http://triplov.com/miguel_garcia/guine/cap4_autoridades_portug.htm .