" Binhante, (...) ficava sensivelmente a meio do percurso de Teixeira Pinto - Pelundo, distando pouco mais do que 5 quilómetros de cada e os elementos do PAIGC, do Churo ou Coboiana, foram lá! Portanto no dia 25 pela manhã, lá tive de acompanhar os camaradas, possivelmente da CCaç 2660, que foram fazer o levantamento da ocorrência e ajuizar dos estragos, para que na medida do possível e, quanto mais depressa, se obtivessem os meios para recompor a situação. Das minhas breves notas respigo “Colecta e roubo em Binhante – Incendiaram 14 moranças, grandes estragos POP. Ameaças e sevicias, levaram POP como carregadores. 4 Sacos arroz na Gouveia em nome do CAOP. Assinei eu. Binhante 2 vezes”(...) (*)
Foto (e legenda): © Jorge Picado (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © Jorge Picado (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário de uma nossa leitora (guineense, presumimos, ou luso-guineense), que se identificou como Luísa, publicado no dia 15 de Setembro de 2021 no Poste 5838[*], do nosso camarada Jorge Picado, de 18 de Fevereiro de 2010:
Boa noite Sr. Jorge.
Após algumas pesquisas sobre Binhante, a terra natal da minha mãe, deparei-me com este blogue e devo dizer que fiquei surpreendida com a casualidade. O senhor que está a ser entrevistado na foto é o meu tio-bisavô, chama-se Cunha Gomes e era o régulo de Binhante. A informação dada pela minha avó coincide com o que o senhor Jorge narra na descrição da foto. Obrigado por partilhar estas relíquias que me permitem conhecer a identidade da minha família.
Os melhores cumprimentos!
2. Referindo-se à foto, dizia Jorge Picado no poste P5838:
Na imagem são bem evidentes os sinais de habitações destruídas pelo fogo. Pode-se ver parte duma casa, representada por uma parede – feita em adobos de lama – e rachada no canto, com sinais de fumo por cima duma abertura – janela ou porta –, sem telhado e os restos de cibes queimados, em segundo plano, que suportavam exteriormente a cobertura, sinais mais do que suficientes de ter sofrido um incêndio recente.
Na imagem são bem evidentes os sinais de habitações destruídas pelo fogo. Pode-se ver parte duma casa, representada por uma parede – feita em adobos de lama – e rachada no canto, com sinais de fumo por cima duma abertura – janela ou porta –, sem telhado e os restos de cibes queimados, em segundo plano, que suportavam exteriormente a cobertura, sinais mais do que suficientes de ter sofrido um incêndio recente.
Além disso há dois militares – um metropolitano sentado com gravador ao lado e um guineense, talvez cabo, segurando o microfone na mão direita – registando o depoimento dum nativo – que pela veste e pés calçados demonstra um certo estatuto, chefe de tabanca (?) – acompanhado de outros naturais, um dos quais – o do chapéu – revela uma cara carrancuda.
Repare-se na forma tradicional de transporte natural dos bebés por estas mães que, pelas suas vestes, mostram igualmente possuir um certo estatuto social. Seriam as mulheres do que está a ser entrevistado? Quem seria o militar sentado? De alguma das subunidades do CAOP 1? Ou do PIFAS de Bissau? As mesmas interrogações faço sobre o que segura o microfone, mas como poucos são aqueles desse tempo que militam na Tabanca, não creio poder chegar a qualquer conclusão.
© Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta de Teixeira Pinto 1:50.000
3. Respondendo ao comentário, escreveu Jorge Picado:
Luísa
3. Respondendo ao comentário, escreveu Jorge Picado:
Luísa
Desculpe tratá-la apenas pelo seu único nome, pois é pena não se ter identificado melhor.
Se por ventura voltar a este postado e verificar esta minha resposta, verificará que ainda por cá permaneço.
Fiquei muito sensibilizado por esta partilha que deixei para memória futura, ter servido para, ao fim de mais de 10 anos, alguém com raízes naquele território, que nos marcou profundamente, ter visto um seu antepassado, identificando-o para que não ficasse no anonimato, como tantos outros.
Repare-se que as minhas notas foram colocadas 39 anos depois dos acontecimentos, quando resolvi finalmente falar pela primeira vez de acontecimentos que tinha "enterrado num buraco mais profundo do meu cérebro" e a minha memória já apresentava muitas falhas. Por isso as minhas lacunas e interrogações.
Obrigado por esta surpresa que me deixa MUITO FELIZ.
Bem haja.
JPicado
4. Comentário do editor CV:
Está provado que o mundo é pequeno e que o nosso Blogue, sendo grande, continua a trazer-nos a cada passo novas surpresas. (**)
Obrigado por esta surpresa que me deixa MUITO FELIZ.
Bem haja.
JPicado
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4. Comentário do editor CV:
Está provado que o mundo é pequeno e que o nosso Blogue, sendo grande, continua a trazer-nos a cada passo novas surpresas. (**)
Desta vez foi o contacto da nossa leitora Luísa, uma sobrinha-bisneta do régulo de Binhante dos anos 70, que viu no nosso Blogue uma referência a este seu antepassado que provavelmente nem conheceu.
Esperamos que a Luísa volte ao nosso contacto e nos fale dela, das suas raízes guineenses e do que ouviu dizer do seu tio-bisavô Cunha Gomes.
Por outro lado, o nosso camarada Jorge Picado há-de sentir-se mesmo muito feliz por uma das suas memórias trazer até nós, passados mais de 50 anos, alguém ligado, por laços familiares, a uma personalidade por ele referenciado.
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Notas do editor
[*] - Vd. poste de18 DE FEVEREIRO DE 2010 > Guiné 63/74 - P5838: Estórias de Jorge Picado (12): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VII): Colecta e roubo em Binhante
Último poste da série de 18 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22295: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (124): O "periquito" Henrique Matos, 1º cmdt do Pel Caç Nat 52, que eu conheci no Enxalé em 1966 (João Crisóstomo, Nova Iorque)