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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27535: Documentos (46): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed. (Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte IV: "aspecto humano" (pp. 25-38)




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Dançarinos bijagós


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"Homerns Grandes" da Guiné, um dos quais é oficial de 2ª linha


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 Tabanca fula


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Edifício dos CTT em Bissau


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Bolama


Capa do livro: Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". 

Lisboa: SPEME, 1971, 77, [5] p., fotos.


1. Tem valor sentimental e documental esta brochura do Estado Maior do Exército, que nos era distribuída já a bordo do navio que nos transportava para a Guiné (ou do avião dos TAM, a partir de finais de 1972). Estamos a reprodiuzir a brochura da 3ª edição,  de 1971.

Tem 77 páginas (mais 5 inumeradas) e é ilustrada com  9 fotos.  Tudo a preto e branco. Baratinho. A edição é do SPEME (Serviço do Publicações do Estado Maior do Exército).  Em 1967 (de 1958 a 1969) era Chefe do Estado Maior  (CEME) o gen Luís Câmara Pina (1904-1980). 

É constituída por três partes: 

(i) Missão no Ultramar; 
(ii) Monografia da Guiné: aspeto físico, humano e económico; 
(iii) Informações úteis. 

Vamos agora reproduzir a II parte da "monografia da Guiné: aspecto humano" (ou seja, sucinta caracterização etnográfica dos povos que habitavam, na época, o território).

 A ordem é pelo  peso demográfico de cada um (segundo o  censo de 1960 que registou cerca de 544,2 mil habitantes): dos grupos étnico-linguísticos mais importantes (balantas e fulas, com < de 100 mil) aos "minoritários" (> 10 mil) (Felupes, baiotes, sossos, nalus)... 

No meio (> 100 mil e < 10 mil) posicionavam-se os restantes: 

  • manjacos (65 mil), 
  • mandingas ( 60 mil), papéis (40 mil), 
  • beafadas (ou biafadas) (13,5 mil), 
  • brames ou mancanhas (12,5 mil), 
  • bijagós (12,5 mil), 
  • futa-fulas (10 mil). 

Na altura, há 65  anos, antes do início da guerra,  os balantas (150 mil) e os fulas (120 mil) representavam praticamente metade (49,6%) da população total (ou 51,5%, se juntarmos os futa-fulas aos fulas).

A leitura deste livrinho também contribuiu para a replicação de alguns estereótipos, criados pela antropologia colonial portuguesa: por exemplo:

  • islamizados  (em vez de muçulmanos, de pleno direito, impuros,continuando a adorar o "Irã" e/ou a beber o vinho de palma;
  • por seu turno,não há "cristianizados",  mas só cristãos;
  • balanta = ladrão de gado, bêbedo, brigão, homem do mato, "cabeça dura", turra, cabr-macho,  excêntrico como o  Pansau Na Isna;
  • fula= polígamo, que põe as mulheres a trabalhar no campo; semi-feudal;  "cão dos tugas";
  • futa-fula = casta superior;
  • manjaco = marinheiro;
  • mandinga = artesão (ourives, ferreiro, músico); "o antigo dono daquilo tudo";
  • papel = o malandro de Bissau (como o 'Nino' Vieira);
  • biafada = "robusto mas indolente";
  • bijagó = pobre diabo subjugado pelo matriarcado;
  • felupe = caçador de cabeças; ferozmente independente;
  • nalu = o anáo da floresta do Cantanhez em vias de extinção;  
  • mancanha= reguila (como Vitor Sampaio, da CCAÇ 12), etc.
Estes estereótips multiplicam-se  nas história das unidades...(Teremos oportunidade de selecionar alguns exemplos em próximos postes).

PS - Se nos reportarmos à realidade de hoje, a populaçáo total mais do que quadriplicou em 65 anos: 2,272 milhões (no final de 2025), com a seguinte distribuição (em %) dos principais grupos étnicos: 

  • fulas (28,5)
  • balantas (22,5)
  • mandingas (14,7)
  • papéis (9,1)
  • manjacos (8,3)
  • beafadas (3,5)
  • mancanhas (3,1)
  • bijagó (2,1)
  • felupe (1,7)
  • mansoanca (1,4)
  • balanta mané (1)
  • outros (4,1)
Total=100

Religião: muçulmanos (50%), animistas (40%), cristãos (10%)

Principais aglomerados populacionais (em milhares, por arredondamento)
  • Bissau: 709,1 (quase 40 vezes mais do que em 1959, que era estimada em 18 mil);
  • Bafata: 22,5 (4 mil, estimativa de 1959; 
  • Gabu:  14,4 (antiga Nova Lamego);
  • Bissorã: 12,7;
  • Bolama: 10,8 (3 mil, estimativa de 1959);
  • Cacheu:  10,5.
Total= 780 mil (=34,3% do total da população)

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Fonte: excertos de Portugal. Estado Maior do Exército: "Missão na Guiné".  Lisboa: SPEME, 1971, pp. 25-38.

(Seleção, edição de fotos e páginas, fixação de texto: LG)

__________________

Nota do editor LG:

(*) Vd. postes anteriores da série :


segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27532: Documentos (45): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed. (Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte III: "Tenho a 2ª edição, 1969... Não há nenhum mapa desdobrável... A capa é ligeiramente diferente... O paleio é o mesmo" (António Tavares, ex-fur mil SAM, CCS / BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)



1. Comentário do António Tavares ao poste P 5943 (*):

(...) Em 2010 foram publicados dois escritos, no blogue da Tabanca Grande, com a capa do livro "Missão na Guiné": um escrito é meu (poste P5943) (**) e o outro é do Eduardo Campos (poste P5886).

O autor de ambos os livros é o Estado Maior do Exército: Lisboa, SPEME, 1969 (2ª. Edição) e 1971 (referido pelo Campos).

As capas com a foto de Bissau são diferentes e o teor um pouco desigual, mas o essencial é igual. Nos dois livros não existe nenhum um mapa desdobrável do Comando Territorial Independente da Guiné (...)


Capa da 2ª edição, Lisboa,
SPEME, 1969

2. Recorde-se um excerto da mensagem de António Tavares (ex-fur mil SAM, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 3 de Março de 2010

(...) Ao ler o P5886 (**) , do Eduardo Campos, fui comparar a capa do meu “Missão na Guiné” com o reproduzido no dito poste e verifico que a capa é diferente. Tenho a 2.ª Edição de 1969, do Estado Maior do Exército. (...)

Os escritos devem ser os mesmos, não vejo capacidades financeiras nem intelectuais para outras doutrinas numa outra edição com diferença de dois anos!

Era mais fácil aos pensadores de então mandarem trabalhar as máquinas das oficinas da SPEME do que ocuparem as suas já gastas ideias!

A segunda página começa com a fotografia anexa  e o Canto VII, de “Os Lusíadas”.

Aqui, a minha perplexidade! …”Os Lusíadas”, de Luís de Camões, poema épico! “Os Lusíadas”, escrito do séc. XVI, de 10 Cantos,  versejados com 1102 oitavas.

Luís de Camões que me foi ensinado nos anos 50 do século passado… uma das obras mais difíceis de interpretação… Confesso a minha dificuldade na interpretação desta oitava (no livro,  quadra!)

Consultei a minha 3.ª edição de “Os Lusíadas”, de Emanuel P. Ramos, da Porto Editora Lda., que me custou 40$00, e confirmo que a 3.ª oitava do dito canto está incompleta!

Começa a doutrinação  moda do governo de então!

Mas o que interessava para uma população maioritariamente sem alfabetização era passar a ideia “do cumprimento do teu DEVER de Soldado e de Português – a defesa da PÁTRIA” (sic).

A Pátria que tantos dissabores causou à geração dos ex-combatentes.

A Pátria que obrigava a terminar a correspondência oficial … A Bem da Nação!

A Pátria que esquece os seus ex-combatentes!


A monografia  (estudo geográfico e histórico) da Guiné tem descrições, que os ex-combatentes tão bem conheceram e tanto sofreram naquela terra mártir.

Uma obra à medida (literatura) e feitio (fotos) do antigo regime.

Quatro decénios decorridos a "Missão na Guiné" é um livro de consulta que me faz lembrar a história daquele país de tanta diversidade étnica, autóctone e não-autóctone como brancos, mestiços, cabo-verdianos e libaneses em que o crioulo é a língua usada para se entenderem entre si!

Transcrevo passagens da "Missão na Guiné#:

(...) "O cumprimento da nossa MISSÃO vai exigir, ainda, tempo e muitos sacrifícios. Mas, a Vontade dos Homens de todas as raças e credos que a nossa História juntou sob a mesma e gloriosa Bandeira há-de, necessariamente, prevalecer! 

"Basta seres como tu próprio és, para, na alegria do regresso, poderes gritar bem alto àqueles que no cais orgulhosamente te aguardem – MISSÃO CUMPRIDA!" (...
)

Um abraço do,
António Tavares
ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro, 03-03-2010

(Revisão / fixação de texto, negritos,  título: LG)
________________________

Notas dos editores CV/LG:

(*) Vd. poste de 13 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27525: Documentos (44): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed., Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte II: "Monografia da Guiné: Aspeto físico (pp. 11-23)

sábado, 13 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27525: Documentos (44): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed., Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte II: "Monografia da Guiné: Aspeto físico (pp. 11-23)


Capa do livro: Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa: SPEME, 1971, 77, [5] p., fotos.


(pp. 11-23)


Aspeto da vegetação guineense (pag. 23)

Mapa da Guiné

- 15 . 

Mapa da Guiné: Parte oeste do território (fazendo fronteira, a norte com Senegal; e sendo banhado a oeste e a sul, pelo oceano Atlântico). Principais localidades assinaladas:  Bissau, Bolama, Bubaque, São Domingos, Cacheu, Varela, Susana, Teixeira Pinto, Bula, Binar, Bissorã.

 Rios: Cacheu, Mansoa, Geba, Grande de Buba. Tombali. 

Ilhas: Bissau, Bijagós, Como, Jeta, Pecixe 


Mapa da Guiné: Parte leste do território (fazendo fronteira, a norte com Senegal; a leste e a sul, com a Guiné-Conacri). Principais localidades assinaladas: Farim, Mansabá, Mansoa, Pirada, Buruntuma, Piche, Nova Lamego, Beli,  Madina do Boé, Bafatá, Contuboel (e não Cotumboel), Xitole, Bambadinca, Xime, Fulacunda, Buba, Catió, Tombali, Bedanda, Guileje (ou Guilege), Cabedu, Cacine, Ponta Cajete. 

Rios: Farim, Geba, Corubal, Grande de Buba, Cumbijã, Cacine
Ilhas: Como, Melo

Nota de LG: a negrito, vão as sedes de circunscrição / concelho



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Cortesia da página do Facebook do grupo 
 Editado em 1967 pelo SPEME - Serviço de Publicações 
do Estado Maior do Exército (79 pp. + 9 inumeradas + fotos).
 Disponível na biblioteca do Exército.
. Capa: vista aérea de cidade de
 Luanda e da baía da ilha de Luanda



Disponível na Biblioteca do Exército, 
Editado em em 1967 pelo SPEME
 (76 pp. + 4 inumeradas + fotos)


1. Tem talvez um valor sentimental mas também documental esta brochura do Estado Maior do Exército, que nos era distribuída já a bordo do navio que nos transportava para a Guiné (ou do avião dos TAM, a partir de finais de 1972).(*)

 Com cerca de 70/80 páginas conforme as edições (a que estamos a reproduzir é a 3ª, do ano de 1971) era constituída por três partes: (i) Missão no Ultramar; (ii) Monografia da Guiné: aspeto físico, humano e económico; (iii) Informações úteis. 

Havia igualmente  brochuras semelhantes, com a mesma estrutura (e o mesmo "paleio", na parte respeitante á "Missão no Ultramar"), para as tropas do Exército mobilizadas para Angola e para Moçambique, edição do SPEME: "Missão em Angola" (1967); "Missão em Moçambique" (1967). 

Cada uma dessas brochuras  tinha uma barra de cor diferente: verde (Guiné), vermelha (Angola) e azul (Moçambique), com uma foto aérea da respetiva capital (Bissau, Luanda, Lourenço Marques).

Vamos agora entrar na monografia da Guiné: é antecedida pela publicação de um mapa do território e uma sucinta bibliografia: cerca de 20 títulos de livros, de autores na altura mais ou menos alinhados com (ou tolerados por) o regime do Estado Novo, entre eles alguns antigos combatentes da Guiné, nossos conhecidos: 
  • Hélio Felgas, já falecido com o posto de maj- gen;
  • Manuel Barão da Cunha; 
  • e Armor Pires Mota, este membro da Tabanca Grande, e  escritor de grande talento (tal como, de resto,  o Barão da Cunha).

Há investigadores, etnógrafos, antigos administradores da carreira colonial / ultramarina, historiógrafos,  escritores e jornalistas,  conhecidos (e com referências no nosso blogue), tais como Almirante Teixeira  da Mota, António Carreira, Manuel Belchior, João Vicente Santana BarretoAmândio César em esquecer José Júlio Gonçalves, Augusto Santos Lima, etc.)

Certamente por lapso, esta lista com sugestões de leitura, apesar de referida, não vem publicada na 1ª edição da brochura (1967).

Agora dizer-se que qualquer destes livros estavam disponíveis "em qualquer biblioteca pública", em 1971,  era gozar com a malta que vivia no interior e mesmo em muitas vilas e cidades do litoral... Bibliotecas públicas nas nossas santas terrinhas ? Quando muito a "carrinha itinerante" da Biblioteca Calouste Gulbenkian e que, infelizmente, não chegava  a todo o lado, e muito menos á Guiné. 

Espero que muitos dos nossos leitores reconheçam esta(s) brochura(s), que eram na época de distribuição gratuita.



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Nota de LG: a superfície da Guiné era e é de 36.125 km2 (e não 31,8 mil)

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Nota de LG: Quem escreveu o texto nunca esteve na Guiné. A lagoa de Cufada não fica na região do Cacheu, no  norte, mas na região de Quinara, já no sul ... Quanto ao macaréu, também nunca o viu: falar em "ondas enormes", até parece que macaréu é tsunami... Por outro lado, chamar ria ao Cacine.... é capaz de ser muito discutível. 

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Fonte: Excertos de Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa: SPEME, 1971, 77, [5] p., fotos, pp. 11-23.

(Continua)
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Nota do editor LG:

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27521: Documentos (43): Brochura "Missão na Guiné", da autoria do Estado Maior do Exército. 3ª ed., Lisboa, SPEME, 1971, 78 pp.) - Parte I: "Missão no Ultramar" (pp. 7-10)

 




Capa e contracapa da brochura, Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa SPEME, 1967, 68, [5] p., fotos.





 
Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa: SPEME, 1967, 68, [5] p., fotos.

Capa e contracapa da brochura, foto intercalar e índice.




Fonte: Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa: SPEME, 3ª ed., 1971, 77, [5] p., fotos.


1. Quem ainda se lembra desta brochura ?  Era uma edição do SPEME - Serviço de Publicações do Estado Maior do Exército. A mim foi-me distribuída já a bordo do T/T Niassa. Tenho um exemplar da edição de 1967,  assinada por mim, com a data de 26/5/1969. Fui descobri-lo no sótão, coberto de pó, entre outros papéis do tempo da guerra.  É ilustrado com 6 fotografias a preto e branco. 

É uma espécie de folheto "turístico-militar"... Vale a pena relê-lo. Com os olhos de hoje. E disponibilizar o documento para os  leitores do blogue. Tenho duas edições, a de 1967 (68 pp.) e a de  1971 (77 pp.) (esta última oferecida  pelo nosso camarada Mário Beja Santos, mas em fotocópias). 

Na capa, com uma barra verde, reproduz-se uma vista aérea de Bissau;: visível a "baixa de Bissau", o estuário do rio Geba, o edifício da Alfândega, a catedral, a fortaleza da Amura...  A capa e a  contracapa da edição de 1971  são as mesmas da edição de 1967 (que terá sido a 1ª; em 1969, houve uma 2ª). 

A 3º edição (1971) vem revista e aumentada, com mais páginas (77) e fotos (9). Desapareceu a foto do soldado de capacete e arma aperrada, algures  num trilho cerrado,  bem como a citação erudita e hermética  do Luís Vaz de Camões (Lusíadas, Canto VII, estrofe 3) ("Vós, Portugueses, poucos, quanto fortes,  / Que o fraco poder vosso não pesais;  Vós, que à custa de vossas várias mortes / A lei da vida eterna dilatais".)

Convenhamos que,  num livrinho destes,  de "acolhimento", replicar aqui o pobre do Camões épico e  a sua narrativa de um povo ("poucos quanto  fortes")  com um desígnio divino, o de dilatar  a fé e o império, à custa de inúmeros sacrifícios (incluindo a morte),  podia ter um efeito perverso e afetar o moral da tropa: um crescente número de milicianos mas também de praças do contingente geral (para além de jovens oficiais do quadro permanente) já não se revia no "uso e abuso" do grande poeta, apropriado e instrumentalizado, "ad nauseam",  pelo Estado Novo para justificar a ideologia e a política da defesa do Portugal do Minho a Timor. E para mais apologética e proselitista: "a lei da vida eterna" é, metaforicamente falando, o cristianismo...

 A 3ª edição está mais alinhada com o espírito e a letra da política spinolista "Por uma Guiné Melhor".  De resto, já não era "politicamente correto" juntar a cruz e a espada, como no tempo das cruzadas,  para mais num território onde cerca de 1/3 da população era muçulmana, nela se contando os nossos principais aliados, os fulas.

Vamos seguir esta edição de 1971. A legenda da foto que reproduzimos põe a ênfase mais na participação ativa dos militares no desenvolvimento socioeconómico do território (reordenamentos, saúde, educação, construção de estradas, etc.) do que na guerra propriamente dita, de que toda a gente, em 1971, já estava farta e cansada.

A legenda da primeira foto, em página não numerada, da 3ª edição é, de facto,  elucidativa : "Uma Guiné melhor sai também dos braços fortes do soldado português".

Para o militar que ia para a famigerada Guiné, era mais simpático e securizante pensar que, mais do que ter que andar com a G3 nas mãos, à caça do "turra" por matas e bolanhas, era mais útil e sobretudo menos penoso ajudar a construir escolas, casas, centros de saúde , estradas, etc., criando assim as condições para o povo da Guiné poder desenvolver-se e,  um dia, quiçá, poder escolher livremente o seu caminho... sem ser pela força das armas.


2. A brochura começa por definir a nossa "Missão no Ultramar" (sic), em 3 pontos  (pp. 7-10) (vd. páginas acima). 

No essencial, segue  o texto de 1967, com ligeiras mas subtis diferenças, que não são apenas semânticas mas também conceptuais,  eliminando-se algumas "tiradas", estafadas,  de patriotismo serôdio:

(i) em 1971 deixa-se cair... a "defesa da Pátria", no ponto 1, que estava assim redigido: "...uma primeira ideia da Província Ultramarina para onde te leva o cumprimento do teu DEVER de Soldado e de Português − a defesa da Pátria" (edição de 1967, pág. 1);

(ii) o ponto 3 foi encurtado, e logo no primeiro parágrafo há outra alteração; na edição de 1967, escrevia-se: "Das dificuldades da tua missão ninguém duvida, mas a NAÇÃO tem boas razões para confiar em ti!";

(iii) de facto, conceitos como Pátria e Nação eram, afinal,  demasiado abstratos para o comum dos soldados, em 1971, no pós-salazarismo; daí a utilização de uma linguagem menos esotérica,  mais assertiva ou mais próxima do léxico do destinatário ( como, por exemplo, camaradas);

(iv) mantiveram-se os últimos dois parágrafos ("Valentes e duros"... e " Basta seres como eles");

(v) eliminou-se todo um parágrafo abstruso,  gongórico, operativo, panfletário,  que, evocando a voz do sangue dos antepassados,  terminava assim: "A tua geração, Soldado de PORTUGAL, escreve em terras de África páginas das mais gloriosas da nossa gloriosa HISTÓRIA! (edição de 1967, pág. 4). (Portugal e História, em caixa alta.);

(vi) manteve-se a chamada de atenção para a importància das boas relações com as "populações nativas" (sic), respeitando e fazendo respeitar os seus "usos e costumes" como bem os "direitos de família" (sic);

(vii)  com vista claramente à prevenção do racismo (termo que nunca  é usado), lembra-se ao militar que vai para a Guiné, que por detrás de uma "pele negra" esconde-se uma "alma portuguesa", aliás tão portuguesa como a de qualquer militar metropolitano.


3. Segue-se depois ums pequena "monografia da Guiné", abarcando os aspectos físico, humano e económico do território (pp. 10-65).

Nas últimas páginas (68/77) dão-se informações úteis para o militar que ia fazer a sua comissão  de quase dois anos num território exótico, a 4 mil km de distância de casa ( e que não era propriamente uma estância de turismo):

  • legislação militar (vencimentos, gratificações);
  • pensão de família;
  • subvenção de família;
  • correspondência postal;
  • transferência de dinheiro para a metrópole;
  •  diferenças horárias;
  •  emissões radiofónicas;
  •  ligações aéreas com a metrópole. 

Não podemos garantir que  na 3ª edição (1971) houvesse um pequeno  mapa da província, em anexo (não constava em 1967, pelo menos no exemplar que eu possuo e que pode estar truncado; em boa verdade, tenho ideia que vinha com um pequeno mapa, desdobrável,  em anexo, no fim).

(Digitalização da brochura e nota introdutória: LG)

(Continua)










Fonte: excertos de: Portugal. Estado Maior do Exército - "Missão na Guiné". Lisboa,  SPEME, 1971, pp. 7-10


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Nota do editor LG:

Ú/ltimo poste da série > 1 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24525: Documentos (42): "Acordo Missionário", de 7 de maio de 1940, celebrado entre a Santa Sé e a República Portuguesa