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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13873: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (17): Maria Turra, por qué no te callas ?... Radiolocalização e empastelamento das comnunições do IN

1. No passado dia 8, pedi um "parecer ténico" ao Hélder Sousa, antes de publicar um poste do José Belo, sobre a akuda sueca ao PAIGC, e mais concretamente sobre uma estação de ráio, móvel, que os suecos montaram, em duas viaturas, e que operaria a partir do "norte da Guiné" (*)... Eis o teor da minha mensagem:

Helder: Antes de publicar, e para não causar "brotoeja", preciso do teu parecer "técnico"... Onde é que poderia estar localizado este rádio (móvel) ? No Senegakl, naa base de Cumbamori ? No "norte da Guiné" seria arriscado", por causa da aviação... Ainda é do teu tempo... Tiveste conhecimento ?... Um abraço, Luis

Sobre io tema, o Hélder, especialista em transmissões TSF, produziu um texto que seria pena perder-se e onde também histórias da sua e da nossa guerra (**)... Aqui vai, inteirinho, o texto, com os meus agradecimentos, pela rápida e competente resposta. (LG)


2. Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (17): Maria Turra, por qué no te callas ?... Radiolocalziação e empastelamento das comnunições do IN

por Hélder Sousa

(ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72); membro da nossa tabanca Grande, desde 11 de abril de 2007; nosso colaborador permanente)   [ foto atual à direita]


Olá Luís.

Ora bem, relativamente à grande pergunta, "onde poderia estar" esse rádio móvel, a resposta é simples. "Não sei. E existiria mesmo?",,,

No que diz respeito às actividades do "centro de escuta", nas quais participei, havia a indicação para a busca permanente de comunicações que pudessem ser entendidas como úteis ou mesmo do próprio IN.

Isso fazia-se 'batendo' sistematicamente as várias frequências e servia para a 'fonia', a 'grafia', os 'telégrafos' e também as emissões rádio.


«No que diz respeito à 'fonia', sem ter já a certeza, tenho a ideia de ter sido muito esporádica, se é que isso é mesmo real, e sem grande utilidade prática, apenas para confirmar que havia a utilização de 'castelhano'. A ideia que retenho é que, nesse aspecto, imperava a "disciplina rádio".


Guiné > s/l > c. 1970/72> Algures, Hélder Sousa, fuir mil trms TSF, em funções de radiolocalização...


Foto: © Hélder Sousa (2007). Todos os direitos reservados




No que diz respeito à 'grafia' a verdade é que se tinham conseguido 'identificar' vários 'emissores-receptores' e tentava-se captar as suas breves e concisas comunicações, não sabendo eu se depois se conseguiu, ou não, decifrar o que se captava.

Um exemplo do que digo tem a ver com o E/R ET55 do IN.

Para quem conhece 'morse' sabe que a identificação deste 'operador' seria feita por um sinal curto, um sinal um pouco mais longo e 10 sinais curtos brevemente separados 5 a 5. Na prática, o 'tempo de antena' gasto na identificação aquando da entrada em rede deste Posto era curtíssimo.

Em determinada altura ficou-se com a ideia que operava mais insistentemente na região de Mansoa. Fez-se uma operação de tentativa de radiolocalização mais 'afinada'. Fiquei no 'posto coordenador' indo um aparelho de radiolocalização para a zona de Antula, outro para Bissorã e um terceiro para Mansoa, onde foi colocado no fundo da pista.

Aquando da 'entrada em rede' na exploração do IN das 09:00 todos se identificaram (dando assim sinal da sua existência e da operacionalidade) e um ou outro comunicou qualquer coisa breve. Por essa altura o aparelho de radiolocalização de Mansoa ainda estava a ser posicionado. Mais tarde, aquando de nova 'chamada geral', curiosamente o ET55 não se apresentou. E isso sucedeu também na parte da tarde. Ficámos com a 'quase certeza' de que realmente operaria perto de Mansoa mas não se conseguiu tentar traçar alinhamentos dos quais resultassem os cruzamentos que pudessem indicar a maior proximidade do seu posicionamento.

Confirmámos a suspeita da sua zona de actuação mas não a localização (que seria certamente móvel, mas o mais provável seria dentro de um determinado raio de acção). Ficámos também com a certeza de haver uma forte 'disciplina rádio' na exploração das comunicações.

Outro 'passatempo' era o dos 'empastelamentos', ou seja, a tentativa de colocar uma qualquer emissão de rádio em cima da mesma frequência de operação que já existia.

Assim, fazia-se essa acção sobre as emissões da "Maria Turra" em ondas curtas e ondas médias. Estávamos atentos ao início das emissões (eles publicitavam as frequências e as emissoras donde emitiam) e informávamos os três locais que tínhamos para fazer os 'empastelamentos', ou seja, o nosso posto emissor de Antula (***), a Marinha e a DGS.




Guiné > Bissau > Antula > Centro Emissor >  1962 > Os tempos heroicos das telecomunicações militares no CTIG >   A montagem das torres de suporte da antena rômbica no Centro Emissor (militares no alto, procedendo às ligações)"... [O centro emissor de Antula ficava a 3 km do QG do CTIG]

Foto e legenda do gen Garcia dos Santos. Fonte: blogue História das Transmissões Militares (***).

[Com a devida vénia... Edição: LG]



Normalmente conseguia-se ter algum êxito sobre as ondas curtas, nem sempre, dependendo das condições atmosféricas. Sobre a emissão em onda média, de mais difícil cobertura, até porque, dizia-se, partia de um emissor 10 vezes mais potente que o nosso, quase não havia êxito, tendo eu próprio comprovado isso quando,  saindo de Santa Luzia a pé até ao "Enfarta Brutos" em hora de emissão da Rádio Bombolom,  percebia claramente a audição sem atropelos que se fazia em algumas tabancas ali ao lado da estrada.

Não sei ao certo donde emitiam mas ocorrem-me nomes como Ziguinchor e Tambacounda. Também me recordo de St. Louis mas acho estranho, já que fica a norte da Dacar, cerca de 200 km, perto da fronteira com a Mauritânia, embora mais em frente a Cabo Verde.

Voltando ao assunto "camiões com estação de rádio", considero altamente improvável, para não dizer impossível, dadas as relações no terreno e as características do desenvolvimento das acções, que esses veículos pudessem ser utilizados no interior da Guiné. Sei que isso não é dito, mas adianto-me já.

Dado o que se diz ter sido o tipo de relações entre o PAIGC e o Senegal (pouco 'envolventes', digamos assim) seria mais provável que essas viaturas, a existirem, pudessem circular mais à vontade na Guiné-Conacri, mas tudo depende da real finalidade da sua existência. Podia muito bem ser no Senegal se o objectivo era 'educacional' e nesse caso já 'casa' com o informação de que "operariam no norte da Guiné" (aqui é que está o busílis - é o norte a norte da 'nossa' Guiné e nesse caso lá está Ziguinchor, Tambacounda e mesmo St. Louis - ou é o norte da 'outra Guiné' e nesse caso já seria para lá da nossa fronteira sul).

Não tenho nenhum motivo para duvidar dessa ajuda sueca. Inclino-me para a operação a partir do Senegal, com melhores condições para propagação das comunicações.

Abraço

Hélder S.


3. Troca de mensagens entre José Belo e Hèlder Sousa;:


(i) José Belo: 

Atenção ao que está escrito nos documentos do livro citado neste poste. No texto sueco original está escrito:"Programas transmitidos desde o Norte da Guiné-Bissau". Creio que deste modo se estariam a referir a programas transmitidos não dentro do Norte da Guiné mas...a Norte da Guiné.
Foi essa a ideia que,como tradutor,tive desde o início. (*)

(ii) Hélder Sousa:

O que eu disse é que não seria era "dentro da 'nossa' Guiné". Realmente o mais provável seria a 'norte dela', logo no Senegal. Aliás, também como referi, a propagação era mais favorável a partir daí.

Entretanto li novamente e há um pormenor que só agora reparei e é importante. Trata-se da data. 19 de Setembro de 1972. Ora, para mim já era quase o fim da comissão, cerca de mês e meio antes de vir embora. Por essa época as atenções estavam mais centradas nas acções que tinham a ver com os esforços para colocar instalações nossas (forçando assim a 'soberania') na margem esquerda do Geba na confluência do Corubal. Deste modo não tenho lembrança de acções no sentido de se tentar 'apurar' essa novidade.

Mas a data de Setembro de 72 é já bem próxima (seis meses de distância) das acções sobre Guidaje e 'arredores', altura em que se 'entende' que o Senegal já era mais 'colaborante' com o PAIGC.  E,  dadas as melhores condições para propagação das ondas rádio,  acredito então, como escrevi, que seria no Senegal que tais equipamentos poderiam estar.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)


(...) Em 1971 Amilcar Cabral pediu o fornecimento de uma estação de rádio montada em dois camiões Mercedes Benz... também fornecidos pela Suécia. Em 19 de Setembro 1972, dois transmissores (e o material de estúdio respectivo) começaram a funcionar desde o Norte da Guiné, com programas também para Cabo Verde. Os técnicos responsáveis por estas transmissões foram treinados na companhia sueca Swedtel. (...)


(***) Vd.  História das Transmissões Militares: um blogue da CHT (Comissão da História das Transmissões) > Poste de 3 de junho de 2012, > A Primeira Delegação do Serviço de Telecomunicações Militares (STM) na GUINÉ [, pelo gen Garcia dos Santos]