Mostrar mensagens com a etiqueta Tiniguena. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Tiniguena. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18105: Manuscrito(s) (Luís Graça) (134): As nossas comidinhas... guineenses, "manga di sabi"


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008  > 2 de Março de 2008 >  O famoso óleo de palma do Cantanhez. A sua cor vermelha intensa deve-se às características da variedade do chabéu (termo científico, Elaeis guineenses), que é rico em caroteno.




Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008  > 2 de Março de 2008 >

A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do rio Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrava a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).

Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha que sabia  a lodo....

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís  Graça & Camaradas da Guiné] (*)


1. A propósita da nota de leitura que o Mário Beja Santos fez do livro  "Tera Sabi: receitas da gastronomia tradicional guineense",  2ª ed., 2013 (**)


Mário: o teu amor àquela terra e àquela gente, a "nossa" terra, a "nossa" gente,  passa também pelas comidinhas... Acho que estamos todos hoje a (re)descobrir as cores, os sabores, os ingredientes e as receitas da culinária guineense... Tal como no Alentejo, a pobreza pode ser (e é) criativa... na cozinha!... Veja-se as "sopas dos ganhões" a irem á "mesa dos chefs", sendo já hoje verdadeiros produtos "gourmet"...

Quando lá estive (... quando lá estivemos) na Guiné, estupidamente o meu, nosso, prato favorito era... o "bife com batatas fritas e ovo a cavalo"!... Fazíamos 60 km (ida e volta) para o ir comer à "Transmontana", em Bafatá, à civil"!... Nio intervalo da guerra...

Ainda comi algumas vezes o "frango de chabéu" da dona Auá Seidi, mulher do Fernando Rendeiro, as ostras ao natural (em Bissau) e os lagostins do Geba (no Zé Maria, em Bambadinca)...Alguma caça, alguma fruta... e pouco mais.

Com os meus 23/24 anos, não tinha nem estômago nem muito menos sensibilidade cultural, nem "mundo" em matéria gastronómica... para apreciar as iguarias guineenses... Muito menos tinha a indispensável "paz de espírito"...

Voltei lá em 2008, e aí comecei a experimentar algumas coisas, boas, que me deliciaram, como o peixe do rio Cacine... Mas, por causa do pãnico das diarreias, mal toquei no pitchipatche (canja ou sopa de ostra) em Bissau, na casa do Pepito...

Parabéns pela tua recensão, parabéns ao Tony Tcheka pelo texto introdutório... Vou ver se encontro o livrinho nas "lojas do comércio"...Porque nas nossas livrarias nem pensar... Muito menos nas grandes superfícies (FNAC, etc.)... Nem na Net, há referência a esta 2ª edição... (A não ser, claro, está no nosso blogue e naqueles blogues que nos seguem, e já são bastantes...). (***)


2. Tony Tcheka é o pseudónimo literário de António Soares Lopes Júnior, nascido em Bissau, em  21 de dezembro de 1951.  É já uma das referências maiores da poesia guineense pós-independência.

Vive em Portugal, é (ou foi)  jornalista.  E vai, portanto, fazer, depois de amanhã  66 anos. Partimos mantenhas com ele... e convidamos os nossos leitores a conhecer 10  dos seus poemas, disponíveis aqui. Gosto particularmente de:

Batucada na noite
Povo adormecido
Concerto de 'Djunta mon'
Zé da Tugalândia
Mulher da Guiné
Lusa língua

_______________

Notas do editor:

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14829: Memória dos lugares (301): Rio Corubal: Já o atravessei a nado, duas vezes, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória... (Patrício Ribeiro, Bissau)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...

Um dia destes,  os novos senhores de África decidem construir aqui uma monstruosa barragem, hidroelétrica, à revelia dos verdadeiros interesses do povo guineense... É sonho antigo que vem da independência... E com isso destruir o recurso mais precioso que tem a Guiné-Bissau, para além do seu povo, que é a sua biodiversidade... Não sei se este projeto tem viabilidade (do ponto de vista técnico, financeiro, económico, ambiental e político)... Mas já vimos tanto coisa, em todo o lado (a começar pelo nosso país)...

Enfim, o que eu quero sublinhar é que  sem biodiversidade não há futuro, não há desenvolvimento sustentado e partilhado, não há esperança... Oxalá que este  projeto nunca se chegue a concretizar... Para bem da Guiné-Bissau e de todos nós, incluindo o povo chinês cujo dinheiro está a ser fortemente investido em África, e não só... Porque a terra não nos pertence, é a nossa casa comum, e temos a obrigação de a deixar, melhor, mais habitável e sustentável, aos que hão-de vir depois de nós, os nossos filhos, netos e bisnetos, europeus, africanos, asiáticos, americanos, australianos...

Também me parece que há hoje  um sério risco de "pesca selvagem" no Rio Corubal, a avaliar pelas fotos de alguns "sites" de caça e pesca, internacionais, que promovem, descaradamente, quase pornograficamente, o saque dos recursos piscícolas do Rio Corubal... Vejam aqui.

O mar da minha terra também era rico de vida marinha, lançavam-se cem covos, apanhavam-se cem lagostas. E pescador que não apanhasse à linha uma garoupa do seu tamanho era uma merda de pescador... Estou a falar de há 60/70 anos atrás... Hoje até a sardinha foge de nós... En Peniche o número de traineiras deve ter sido reduzido na ordem das 80 para 10... O atum desapareceu do mediterrâneo. E, claro, do Algarve.

No passado, nunca aprendemos com os erros uns dos outros... Tem sido a ganância de uns poucos que nos empobrece e mata  a todos... Aqui, e em toda a parte... Infelizmente a Guiné-Bissau é um dos países mais ameaçados do mundo, em consequência das alterações climáticas... Não sei se os nossos bisnetos poderão chegar a  conhecer o Rio Corubal, os rápidos do Saltinho e de Cusselinta (e não "Cussilinta", como já tenho visto grafado...) ou o arquipélago dos Bijagós...  Todavia, a consciência ecológica está a chegar também à Guiné-Bissau: o povo bijagó, por exemplo, está-se a mobilizar para defender e proteger os seus recursos marinhos e florestais, sem os quais corre o risco de perder o seu modo de vida e a sua forte identidade cultural... E são as mulheres que lideram essa luta... Vejam aqui o sítio da ONGD, de base comunitária, Tiniguena. (LG)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Patrício Ribeiro:

 [Foto à esquerda: Patrício Riubeiro, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]


Data: 2 de julho de 2015 às 11:38

Assunto: Sondagem sobre ss nossos rios da Guiné

Boas,

Ainda recentemente, estive a fazer  caça submarina,  com uns amigos no Corubal,  em Cusselinta.

Todos os anos, vou dar lá uns mergulhos e matar uns peixes, assim como no Saltinho, águas com mais de 5 metros de   profundidade, doce, com 3 metros ou mais, de visibilidade.

Normalmente apanhamos percas do Nilo (garoupas do rio) que chegam a pesar,  algumas,  mais de 5 kg.

São bons fins de semana e passeios, mergulhos, javalis, com campismo á mistura.

Já atravessei  o rio Corubal  duas vezes a nado, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória...

Nesta jangada no Ché Ché a funcionar, lá vão passando com frequência, as professoras portuguesas da ONG FEC,  que estão a morar em Gabú, levar a língua portuguesa até Beli, no Boé.

Para informação do António Rosinha, a estrada entre Gabú e o Ché-Ché, onde estive a semana passada, está a reparada por uma empresa portuguesa,  penso que depois da reparação há 30 anos pelo Rosinha,  ele volta a ter manutenção.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

domingo, 3 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P9987: Ser solidário (129): Carlos Schwarz da Silva, Pepito, nosso amigo, grande guineense e ainda melhor ser humano, precisa do nosso apoio, nesta hora difícil: mandem-lhe um mail para o endereço adbissau.ad@gmail.com (Luís Graça)




Vídeo: 10' 01'' > Cortesia de RTP2 / Maria João Guardão (2011)... Disponível na conta You Tube > NEAUNL - Núcleo de Estudantes Africanos da Universidade Nova de Lisboa


1. Carlos Schwarz da Silva, mais conhecido por (i) Schwarz, entre os amigos portugueses quando era estudante do ISA - Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, antes do 25 de abril de 1974, e (ii) Pepito, para os guineenses, seus compatriotas...  


Foi uma das vinte personalidades escolhidas pela realizadora do programa "Eu Sou África", Maria João Guardão, para ilustrar a ideia de que a África, a África dorida e sofrida de ontem e de hoje, é um continente de esperança e de futuro. O programa, em dez episódios, passou na RTP2, e na RTP África, o ano passado (*).  Na altura, a 9/4/2011, a realizadora do programa, Maria João Guardão, mandou-nos uma sinopse do vídeo, com a seguinte mensagem:


_________________

Caro Luis Graça, sou realizadora de uma serie documental - EU SOU AFRICA - , cujo último episódio se mostra hoje na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a história da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca. Portanto, este email - info + agradecimentos - segue com um enorme atraso (ainda pior porque me encontro fora de Portugal e com acesso limitado à Net) mas, espero, ainda a tempo - metade da serie passará ainda na RTP África, tem acesso à lista de exibição nos links que seguem com o att.  Obrigada e até sempre, Maria João. 
Maria João Guardão
DESMEDIDA Filmes
Rua Bernardim Ribeiro 63, 5D
1150-069 Lisboa.

_________________

Pepito (10º episódio) e A
ugusta Henriques (2º episódio) representam, de alma e coração, a Guiné-Bissau, o melhor da Guiné-Bissau. São dois guineenses que honram a sua pátria, e orgulham o seu povo. São de origem portuguesa, ou têm ADN português. E foram escolhidos justamente porque "trazem esperança ao seu país". 


No caso concreto do Pepito, que nos honra com a sua amizade, e que é nosso grã-tabanqueiro de longa data (desde finais de 2005), é além disso um  ser humano de grande verticalidade e um cidadão de grande coragem, física e moral, por cuja vida, liberdade  e segurança, temos mais do que uma vez temido, nós os  seus amigos, muitos dos quais aqui representados na Tabanca Grande.

Estamos mais tranquilos depois do mail que nos mandou às 23h de ontem. Ele pelo menos tranquilizou-nos. Mas queremos assegurar-nos que a sua liberdade de circulação (dentro e fora do país), a sua integridade física e a continuidade do seu trabalho na AD não estão em causa:

"(...) Enquanto conselheiro da área produtiva do PM Carlos Gomes Junior, foi-me atribuido, como a todos os outros na mesma circunstância, um passaporte diplomático. Eles apenas me vão tirar esse passaporte. Já há uma semana que estava a tratar de renovar o meu ordinário, que é bom e chega para o que eu quero fazer".

De qualquer modo, mais uma vez, ele está a precisar do nosso apoio, da nossa solidariedade, ele que nunca regateou o apoio e a solidariedade aos que precisam, nomeadamente ao povo humilde da sua terra, às crianças, às mulheres e aos homens guineenses que beneficiam do trabalho da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento. É bom que ele saiba, ele, a sua família, os seus colaboradores,  mas também os seus compatriotas, na Guiné e na diáspora guineense, que os amigos são sempre para as ocasiões, sobretudo para as ocasiões mais difíceis. Felizmente que ele tem muitos amigos, aqui e em todo o mundo... Mesmo assim, e para comprovar isso mesmo, escrevan-lhe oara a nossa caixa de comentários e/ou mandem-lhe um mail, com uma pequena mensagem de amizade e/ou solidariedade... O endereço
é: adbissau.ad@gmail.com .


O vídeo que reproduzimos hoje (cortesia da RTP 2 e da  realizadora Maria João Guardão) foi visto por alguns de nós, na devida altura (*)... Ao tempo, a realizadora contactou-nos pedindo a sua divulgação através do nosso blogue. Mas muitos dos membros da nossa Tabanca Grande, e dos leitores que seguem o nosso blogue, de há um ano a esta parte, nunca viram  o vídeo, que passou no programa Eu Sou África , na RTP2, RTP África, RTP Internacional... Justifica-se, pois, a sua   incorporação neste poste (**), com a devida vénia ao produtor e ao realizadora, bem, como à RTP 2.


Como ele próprio o diz, logo no íncio do vídeo, o Pepito nasceu em 1949 na "maternidade Simão Mendes", em Bissau, onde 30 anos depois nasceria a sua  filha mais nova. Ele é casado com a portuguesa Isabel Levy Ribeiro, sendo ambos engenheiros agrónomos.


Em 1949 o hospital principal de Bissau teria seguramente outro nome. (Como é sabido, Simão Mendes é nome de um enfermeiro que morreu ao serviço do PAIGC, durante a guerra colonial). Mas esse pormenor é agora de somenos importância.


Na altura os pais do Pepito, Artur Augusto da Silva, já falecido (em 1983)  e Clara Schwarz (a decana do nosso blogue), estavam na Guiné há 2 anos... Os seus avós paternos eram de Farim. Os maternos eram, o avô, polaco, e a avó, russa, ambos de origem judia...O resto da história deste homem, de grande generosidade e humanidade, é contada em 10 minutos neste vídeo... Leia-se, em complemento, a informação a seguir recolhida, há um ano atrás, no sítio da RTP sobre este programa (Eu Sou África, RTP2, 2011).

Para ele vai, daqui de Lisboa, para ele, família e colaboradores mais próximos, um abraço solidário do tamanho do Rio Geba e do Rio Tejo juntos!... Temos orgulho em ti, Pepito!... E parafraseando Italo Calvino, lembraremos aqui aos ditadores e aprendizes de ditadores no mundo que "não é a voz que a dirige a história, mas sim o ouvido"... Não é a voz dos que gritam mais alto, porque têm momentaneamente o poder de comando, mas sim o ouvido daqueles que tendem a ser tratados como a maioria silenciosa... E já lá vai o tempo em que os ditadores morriam tranquilamente na cama e iam para o céu... LG

2. RTP / RTP2 > A história de 10 pessoas contada em episódios


Género: Documentário
Ficha Técnica: Produção: Vitrimedia: Realização: Maria João Guardão

Eu Sou África é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. 

Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de um(a) africano(a) implicado(a) na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país onde nasceu. Eu Sou África revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP.

Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser. O último episódio é dedicado à Guiné-Bissau e a um dos seus filhos, co-fundador e director executivo da ONG AD- Acção para o Desenvolvimento.

Carlos Schwarz da Silva [Pepito]

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento.

Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um homem grande.

Testemunha o 25 de Abril frente ao quartel do Carmo, com a mulher, Isabel Lévy Ribeiro, e juntos regressam a Bissau, determinados a viver intensamente o tempo histórico que lhes coube. Com 25 anos e um diploma na mão, Pepito sabe principalmente que quer mobilizar as pessoas para a acção, mesmo que isso signifique recomeçar inúmeras vezes do zero. Ele e os seus recomeçaram sempre.

A viagem que fazemos, de Bissau à Floresta de Cantanhez – dois dos pólos de acção da AD – , é uma travessia pela sabedoria de um país repleto de singularidades. “A Guiné Bissau tem trinta e duas etnias: são trinta e duas maneiras de pensar diferente, de dançar diferente, de fazer cultura diferente, de filosofias de vida diferentes. É uma riqueza extraordinária se todas forem consideradas elementos que potenciam a união”.

São estes saberes que Pepito privilegia – contrariando leis ou métodos impostos pelo exterior –nas reuniões com os mais velhos, na festa com os mais novos, nas conversas com mulheres e homens de experiências variadas, muitos dos quais ousaram seguir as práticas informais e eficazes que a equipa do engenheiro agrónomo foi pesquisando e testando, um projecto que se declina na agricultura e no eco-turismo, mas também nas Escolas de Verificação Ambiental, nas televisões e rádios comunitárias. Nas tabancas do sul, no antigo quartel de Guiledge – marco crucial da luta pela independência, memória viva -, em Quelélé, o que está em marcha é a luta contínua pela cidadania e por condições de vida dignas para os guineenses. 



(Com a devida vénia à RTP / RTP 2)


_____________


Notas do editor:


(*) Vd. poste de 4 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8049: Agenda Cultural (114): Eu sou África, um documentário dedicado ao Cantanhez, à AD - Acção para o Desenvolvimento e a um homem especial, o nosso amigo Pepito, na RTP2, 9 de Abril, sábado, 19h00

(**) Último poste da série > 2 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9982: Ser solidário (128): O contentor da ONG Ajuda Amiga finalmente desalfandegado, aberto e distribuido o seu conteúdo (Carlos Silva / Carlos Fortunato)

terça-feira, 6 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9566: Memória dos lugares (178): Cantanhez: Cabedu... (Foto do calendário de 2008, editado pela ONG Tiniguena)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > c. 2007 > Cantanhez > Cabedu > "Ruínas do antigo quartel colonial de Cabedu". Foto de: Emanuel Ramos / Tiniguena. In: Matas de Cantanhez: Biodiversidade ao serviço da soberania. Calendário de 2008. Imagens digitalizadas, editadas e reproduzido com a devida vénia pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

1. Por Cabedu (de que temos no nosso blogue, cerca de meia centena de referências) passaram diversos camaradas e subunidades: cito, de cor, o José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), e o Norberto Gomes da Costa (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 555, Cabedú, 1963/65), sem esquecer o Tony Grilo, que vive no Canadá, e que foi Apontador de obús 8.8 (em
Cabedu, Cacine e Cameconde nos anos de 1966 a 1968). Também em Cabedu  o Orlando Pinela, ex-1.º Cabo da CART 1614 (Cabedú, 1966/68)... Enfim, corro o risco de esquecer outros camaradas da Tabanca Grande, que por lá passaram no tempo da guerra...


Se não estou em erro, Cabedu foi também a primeira  das tabancas da região de Tombali a beneficiar da projeto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau, liderado pela Tabanca de Matosinhos... Foi em Cabedu que o Zé Teixeira, com outros camaradas, assistiu, emocionado, à inauguração do poço que assegurou o abastecimento de água potável à comunidade, em iniciativa da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento... Foi aqui que Projeto Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau começou a ganhar raízes...

É da autoria do Tony Grilo  o poema Cabedu, nossa terra (1966), que a seguir reproduzimos.

2. Cancioneiro de Cantanhez > Cabedu, nossa terra

por Tony Grilo

Nas tabancas dos nativos
Nós fazemos uma acção
Que certo Mundo não sabe
Que nos sai da coração.

O inimigo espreita,
Atacando gente boa,
Mas os soldados respondem
Sem ser com tiros à toa.

De canais e muito mato
É composta a região,
Os mosquitos são malignos
Terroristas de picão.

Com insectos ou sem eles,
Que o tempo se vá passando,
Oh malta, já estamos vendo
O Niassa navegando.

Em Cabedu, em Cabedu,
Vão desfilando tantos soldados,
Mesmo com guerra, és nossa terra,
Nestes dois anos amargurados.

Oh Cabedu, oh Cabedu,
És fortaleza desta Guiné,
Te defendemos com valentia,
Aqui no mato, de noite e dia.

Cabedu, 1966
Tony Grilo

3. Contactos atuais da ONG Tiniguena:

 Tiniguena, Esta Terra é Nossa

Av. Caetano Semedo, Las Palmeras, Bairro de Belém,
Apartado 667, Bissau República da Guiné-Bissau
Tel.: (+ 245) 325 19 06 / (+ 245) 674 51 / (+ 245) 548 97 66

E-mail: tiniguena_gb@hotmail / geral@tiniguena.org


Lê-se no calendário de 2008, editado pela ONG guineense Tiniguena, dirigida por Augusta Henriques (Vd. desdobrável, em português, com a apresentação desta ONG que faz agora 20 anos, e que na venda dos seus belíssimnos calendários e postais uma fonte de receita):

"É urgente resgatar o legado histórico de Cantanhez... Outrora, as Matas de Cantanhez foram um refúgio seguro e a base principal dos Combatentes da Liberdade da Pátria liderados por Amílcar Cabral. E estas florestas acolheram as primeiras zonas libertadas, onde Cabral fez funcionar escolas e hospitais e organizou uma nova administração, sob a protecção de uma vegestação frondosa e a cumplicidades das populações locais. Além de abrigo, as florestas oferecerama sustento aos que nela se refugiaram. Em Cantanhez foram escritas das mais belas páginas da história da jovem  Nação guineense.  Urge resgatar este legado histórico que deve inspirar e alimentar as gerações do futuro para o reencontro com a sua dignidade como povo e o seu justo lugar no concerto das Nações".
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de fevereiro de 2012 >
Guiné 63/74 - P9547: Memória dos lugares (177): Canquelifá, a ferro e fogo, fevereiro / abril de 1974 (José Marques)

domingo, 10 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8076: O Nosso Livro de Visitas (110): Maria João Guardão, realizadora da série documental Eu Sou África... que está a passar também na RTP - África (Veja-se o vídeo, respeitanta ao 2º episódio: Augusta Henriques, fundadora da ONG Tiniguena, técnica de serviço social formada em Portugal, uma força da natureza, uma mulher grande, para quem África é o continente do futuro)

 1. Mensagem de Maria João Guardão, realizadora da série documental Eu Sou África:




Data: 9 de Abril de 2011 10:31
Assunto: Pepito - Eu Sou Africa


Caro Luis Graça,

Sou realizadora de uma série documental - EU SOU ÁFRICA - , cujo último episódio se mostra hoje [, sábado,] na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio  se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a historia da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca [, vd. A sombra do pau torto, por Carlos Schwarz] 


Portanto, este email - info + agradecimentos - segue com um enorme atraso (ainda pior porque me encontro fora de Portugal e com acesso limitado à Net) mas, espero, ainda a tempo - metade da série passará ainda na RTP África, tem acesso à lista de exibição nos links que seguem com o att. 

Obrigada e até sempre

Maria João
________


Maria João Guardão
DESMEDIDA Filmes 
Rua Bernardim Ribeiro 63, 5D
1150-069 Lisboa


Contact +351 21 3539922 / 96 2505714

2. Comentário de L.G.:


O programa Eu Sou África tem uma conta no Facebook...  Na RTP2 passou ontem o último episódio. Na RTP África o último episódio (o 10º , com o Pepito, da Guiné-Bissau) só passará no dia 6 de Maio... Aqui vai a lista completa.


Na RTP África passa às sextas-feiras, às 21h30 (hora de Lisboa) e aos domingos (19h30)...




EP. 1 - IRMÃ CATARINA PAULO (Moçambique) - 4 MARÇO 
EP. 2 - AUGUSTA HENRIQUES (Guiné-Bissau) - 11 MARÇO  [vídeo: 27' 58'']
EP. 3 - JOÃO CARLOS SILVA (São Tomé e Príncipe) - 18 MARÇO
 EP. 4 - MAMI ESTRELA (Cabo Verde) - 25 MARÇO 
EP. 5 - LUZIA SEBASTIÃO (Angola) - 1 ABRIL 
EP. 6 - MÁRIO KAJIBANGA (Angola) - 8 ABRIL 
EP. 7 - CONCEIÇÃO DEUS LIMA (São Tomé e Príncipe) - 15 ABRIL 
EP. 8 - CAMILO DE SOUSA (Moçambique) - 22 ABRIL 
EP. 9 - MÁRIO LÚCIO (Cabo Verde) - 29 ABRIL 
EP.10 - PEPITO|CARLOS SCHWARZ (Guiné-Bissau) - 6 MAIO

Os vídeos (com cerca de meia hora de duração) que já foram exibidos na RTP2, estão já disponíveis no sítio da RTP África. É o caso, por exemplo, do vídeo correspondente ao 2º episódio, dedicado a uma figura feminina da Guiné-Bissau, a Augusta Henriques, 58 anos, nascida nos Bijagós, técnica de serviço social (formada em Portugal, regressada à Guiné-Bissau em 1976), secretária-geral da ONG Tiniguena, que tem trabalhado sobretudo no Arquipélago dos Bijagós, e com as mulheres. É uma força da natureza, esta mulher, esta "mulher grande", com para quem o grande trunfo da Guiné Bissau é a sua biodiversidade e a sua riqueza cultural...