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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24621: A minha máquina fotográfica (21): A primeira que levei para o CTIG era uma Canon Demi 1.7, uma câmara de meio-quadro ("demi", em francês) que proporcionava 72 fotografias num rolo completo de filme de 35 mm (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)


A minha primeira máquina fotográfica: a Canon demi 1.7, lançada no Japão em 1963... 

Vd. Canon Camera Museum: A Olympus-Pen, em setembro de 1959, foi a primeira câmera, no Japão a oferecer o formato meio quadro ("half-frame"), que dobrava o número de exposições em um rolo de filme 35mm. A Canon também iniciou o desenvolvimento de uma câmera "half-frame" compacta e de aparência luxuosa. 

A Canon Demi que daqui resultou, oferecia recursos de alto desempenho numa máquina  de bolso, analógica: incluíam um visor direto, uma lente 28mm f/2.8 (5 elementos em 3 grupos) e um medidor de exposição de selénio com agulha combinada que usava um programa de valor de luz atrás da lente para medição precisa. Quando a Canon Demi foi lançada, já existiam doze modelos concorrentes no mercado. A Demi, porém, tornou-se muito  popular. “Demi” vem da palavra francesa que significa “metade”.

Foto: Câmera de Filme 35mm Canon Demi S 30mm f/1.7 Half Frame. Fonte: Ebay (com a devida vénia...)





 

António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta, vive em Almada


1. Mensagem do António Alves da Cruz, novo tabanqueiro, nº 880 (foi fur mil , 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, mar 73 / set 74)

Data - segunda, 28/08/2023

Assunto - Fotos

Bom dia

Luís, a diferença de resolução em várias fotos e slides é que a primeira máquina que levei (*) era uma Canon Demi 1.7, que tinha a particularidade de dobrar os rolos ou seja rolo 36/72. Na foto como era revelada ficava normal, no slide como a própria pelicula é revelada e colocada no caixilho ficava metade do tamanho.

Os "slides" que vou enviar por altura da entrega de Buba já foram com outra máquina. Não é necessário criar nenhum álbum. 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24598: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (6): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70): Parte II . a "cova do lagarto" (Bambadinca, em mandinga)

 

Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >   Escolta a uma coluna na estrada Bafatá  / Nova Lamego (s/d)

Foto nº 10 >Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >Aspeto parcial do quartel de Bambadinca. vista do lado sudoeste... Pista de aviação, heliporto, arame farpado e campo de futebol e instalações do pessoal da CCS...

Foto nº 11 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >  Aspeto parcial do quartel de Bambadinca,  visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).  Em mandinga, Bambadinca queria dizer "cova do lagarto".

Foto nº  12 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca >  Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >   O centro do quartel de Bambadinca: o mastro bandeira, os memoriais das unidades e subunidades que por lá passaram, a escola oficial (que tinha uma professora branca, oriunda de Cabo Verde, a Dona Violeta, solteira, que vivia com a mãe)... Do lado da direita da escola, ficavam outras instalações civis do posto administrativo:  a casa do chefe de posto, o edifício dos CTT... À esquerda, no mesmo enfiamento, ficava a capela.  Por detrás da escola, vê-se ainda antena das transmissões

Foto nº 13 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 >Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (maio de 1968/fevereiro de 1970) > O edifício dos CTT, contrariamente à capela, a escola (e a casa da professora), e o posto administrativo (e casa do chefe de posto),  ficava fora do recinto do quartel de Bambadinca... Mais exatamente, segundo a precisosa descrição do Humberto Reis, ficava no lado da rampa que, descendo do quartel, atravessa a tabanca de Bambadinca, dando acesso do lado esquer4do ao porto fluvial (e destacamento da Intendência) e do lado direitoa estrada (alcatroada) para Bafatá... edifício dos CTT ficava do lado oposto da casa e loja do Rendeiro (, comerciante, branco, da Murtosa)...

O insólito foi o ataque, à granada (de mão. defensiva) perpetrado contra o edifício, em 18/1/1974, às 20h45, embora sem consequências...  Tudo indicava que havia, por esta altura, uma célula ativa do PAIGC na localidade de Bambadinca... Foram encontradas mais duas granadas, do mesmo tipo, chinesas, que não rebentaram...


Foto nº 14 >  Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Uma vista da tabanca de Bambadinca, entre o quartel, o posto administrativo e o rio Geba.  A rua principal, que atrevessava a povoação (e quartel), fazia ligação à estrada (alcatroada) para Bafatá... Era a "autoestrada!" do leste que depois, com os anos há de chegar a Nova Lamego, Piche e até à fronteira...  Por aqui passaram dezenas de milhares no início e no fim das suas comissóes de serviço no leste (Regióes de Bafatá e de Gabu).

Na imagem, vê o Jaime Machado,a tirar uma foto, no alto do depósito de água  que ficava à esquerda da escola, e tiuha uma vista panoràmica de 360 graus.


Foto nº 15 >   Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >  Aspeto parcial da tabanca de Bambadinca e rio Geba: Vista do lado norte / nordeste: a rua principal, com o edifício dos correios ao centro, e o início da rampa de acesso ao quartel e posto administrativo... Bambadinca, além dos CTT,  tinha escola primária, capela e diversos estabelecimentos comerciais.


Foto nº 16 >   Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > A grande bolanha de Bamfadinca, a sul/sudeste, vista do quartel, que ficava num pequeno promontório.

Foto nº 17 :>  Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >  Fevereiro de 1970 >  Não, não é chegada do pessoal do Pel Rec Daimler 2046, vindo do Xime (onde desembarcou da LDG 101, Alfange, em 7 de maio de 1968) , mas sim o adeus a Bambadinca, depois de terminada a comissão, em fevereiro de 1970...

O quartel tinha duas entradas e saídas: (i) a sudoeste (ligando ao Xime); e outra a  sul (ligando a Mansambo, Xitole e Saltinho); e (ii) uma outra, no outro extremo,  a nordeste (ligando ao Rio Geba e  a Bafatá).om duas direções: esta, que vemos na foto,  ia para sudoeste, ou seja,  a estrada Xime-Bambadinc, que se apanhava no final da pista de aviação, tendo à esquerda o cemitério de Bambadinca com a sua fiada de poilões (e um muro, branco, visível na imagem),  e à direita, a pista,  o heliporto, o aquartelamento, o arame farpado.

A coluna auto, com o pessoal do Pel Rec Daimler 2046,  segue para o Xime, que fica(va) a sudoeste de Bambadinca... Havia aqui um cruzamento, com duas direções: esta, que vemos na foto,  ia para sudoeste, ou seja,  a estrada Xime-Bambadinc, que se apanhava no final da pista de aviação, tendo à esquerda o cemitério de Bambadinca com a sua fiada de poilões (e um muro, branco, visível na imagem),  e à direita, a pista,  o heliporto, o aquartelamento, o arame farpado.


 

Foto nº 18 > Matosinhos > Senhora da Hora > Jaime Machado  (2022) > "Pavão", aguarela sobre papel 30 x 42.

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção (*) das melhoras fotos do álbum do nosso camarada e amigo Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), que vive em Senhora da Hora, Matosinhos (*):

Recorde-se que esta subunidade de cavalaria esteve ao erviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70).

 Os "14 furões" váo  terminar a sua comissão em fevereiro de 1970,  três meses antes do BCAÇ 2852, tendo sido rendidos pelo Pel Rec Daimler 2206, comandado pelo nosso camarada e velho amigo J. L. Vacas de Carvalho. O BCAÇ 2852 por sua vez será rendido pelo BART 2917 (1970/72).

Publicaram-se 17 postes com o álbum fotográfico do Jaime Machafo (que tem 150 "slides" do tempo do Guiné(. (**)

________________

Notas do editor:


(**) (*) Vd. o último e o primeiro poste:

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24588: Tabanca Grande (552): António João Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974); senta-se sob o nosso poilão no lugar nº 880

António Joáo Alves Cruz, ex-fur mil, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974)


António João Alves da Cruz: foto atual: "alfacinha",  vive em Almada, trabalhou na Lisnave

Foto nº 1

Foto nº 2


Foto nº 3

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 880, António Alves da Cruz:

Data: quarta, 23/08/2023, 17:29
Assunto - Pedido de ingresso no Blogue Luis Graça & camaradas da Guiné

Caro amigo, estes são os meus dados;
  • Nome completo: António João Alves da Cruz
  • Data de nasdcimento: 01-03-1951
  • Naturalidade: Belém -Lisboa
  • Posto: Furriel Miliciano
  • Recruta e especialidade (Atirador) tiradas em Tavira. 
  • Fui dar instrução para Elvas (BC 8) onde fui mobilizado para o CTIG,  indo  formar batalhão (o BCAÇ 4513/72) em Tomar. 
  • Parti para a Guiné no dia 16-03-73.
Agradeço a possibilidade de poder fazer parte do vosso blogue. Anexo as duas fotos da praxe.

Um forte abraço.

2. Resposta do editor LG, no mesmo dia, 23/08/2023,  às 20:23:

Obrigado, camarada. Tudo OK. Vou publicar... És recebido de braços abertos. E já viste com certeza o poste (*):

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2023/08/guione-6174-p24581-facebookando-33.html

Um alfabravo, Luís


3. Nova mensagem do novo membro da Tabanca Grande, com data de hoje, às 17h20:


Caro amigo Luís

Publiquei no Face as fotos porque no blogue não vi a minha inscrição. A partir de agora vão por email. Pode publicar onde quiser os slides são meus não tem problema algum. Em breve enviarei "slides" sobre a nossa saída em setembro de 1974.

Legenda:
  • Foto nº 1: saída de Buba para operação em Ponta Nova;
  • Foto nº 2: a malta  bordo da LDM: o terceiro camarada que está na conversa é o ex furriel Oliveira da 1ª Companhia do BCAÇ 4513 que faz parte do blogue;
  • Foto nº 3: Depois do "festival".  chegada a Buba nas LDM (uma delas, a 113).
Abraço


4. Comentário do editor LG:

Obrigado, camarada. A nossa regra nº 1 é tratarmo-nos por tu, como camaradas que fomos e continuamos a ser... Felizmente que já não vivemos no sistema de "apartheid" que ainda conhecemos na tropa e na guerra: "clero, nobreza e povo"... 

Ficaste apresentado  à Tabanca Grande: ficas sentado à sombra do nosso poilão, no lugar nº 880.

 Diz-me de tens "slides" suficientes para abrirmos uma série só tua, do género "Álbum fotográfico do António Alves da Cruz"... Ou preferes ser tratado por António João Cruz?... Se tiveres umas vinte ou trinta fotos, devidamente digitalizadas (e com boa resoluçao, quanto maior melhor...) podemos ir publicando regularmente... Digamos, semana a semana... 

Estas que me mandaste, da saída em LDM para uma operação em Ponta Nova,  parecem-me bem, mas têm fraca resolução (entre 41 kb, 49 kb, 191 kb)... O ideal é digitalizares as fotos com maior resolução: por exemplo, 300, 500 kb, 1Mb ou até mais... (Assim posso editá-las melhor, recortá-las, etc.)... 

Os créditos fotográficos serão sempre teus!...

Um abraço, António. 
Luís Graça.

PS 1 - Temos um editor em Almada, o Jorge Araújo (tem passado largas temporadas nos Emiratos Árabes Unidos; é do teu tempo).

PS2 - Continua a usar este meio (o email) para fazeres chegar as tuas coisas até mim (que passo a ser o teu editor)... Mas podes sempre publicar no nosso Facebook... Como sabes, quem é "amigo" do nosso Facebook, não é automaticamente membro da Tabanca Grande, até por que a maioria dos "amigos" do Face não são ex-combatentes da Guiné...

5. As nossas dez regras de convívio (que temos o dever de transmitir a todos os novos membros da Tabanca Grande, e recordar aos antigos):

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.

PS - Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos: texto, imagem, vídeo, áudio...). Em contrapartida, uma vez editados, não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.

Qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue,  necessita de autorização prévia dos ediores e dos autores (por ex., publicação em livro ou jornal,    programa de rádio ou televisão).

Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 25 de agosto  de 2023
____________

6. Primeiros comentários de camaradas que te saúdam (*):

(i) António Carvalho:

Tenho andado arredado deste precioso e bem nosso blog, mas tive agora a sorte de, ao abri-lo, deparar com mais um camarada que andou pelos meus lados e por certo se cruzou comigo, quanto mais não fosse, num encosto ao balcão do bar de Mampatá, ou numa passagem pela enfermaria em busca de qualquer mesinho.

Um grande abraço para o Luís, para o Cruz do 4513 e para todos os combatentes.

Carvalho de Mampatá
~

(ii) António Murta:

Olá, camarada António J. Alves da Cruz.

Confesso que já não me recordo do teu rosto nem do teu nome (nem de outros mais recentes!), mas desde Tomar, desde a viagem no Uíge, passagem por Bolama e da permanência na mesma área da Guiné, por certo que nos cruzámos muitas vezes. Eras um dos meus vizinhos de Buba, onde eu ia tantas vezes.

Foi um prazer e uma agradável surpresa ver mais um contemporâneo a juntar-se à Tabanca Grande.

Sejas bem vindo. Se tiveres fotografias envia-as porque eu (e não só) iria gostar muito. E histórias também.

Grande abraço do António Murta, de Nhala.



(**) Último poste da série > 31 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (  ): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19091: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 68 e 69: "O meu negócio: Só no mês passado vendi 30 garrafas de uísque, 35 volumes de tabaco e 12 isqueiros Ronson". (...) "Veio cá o general Bettencourt Rodrigues. Formamos todos na parada mas senti-me mal e fui autorizado a ir para a cama. Não vi o Governador da Guiné”.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  O Dino, de sentinela. "O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar slides. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol."


Foto: © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome daPátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade no âmbito do programa Novas Oportunidades; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(v) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vi) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(vii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(viii) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(ix) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(x) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xi) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xii) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xiii) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xiv) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xv) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xvi) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xvi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xvii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia
(obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xviii) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xix) vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xx) vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné;

(xxi) grande ataque, em 7/1/1974, ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r, resultandodanos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.

(xxii) faltam 5 meses para acabar a comissão... e há mais uma "crise" nas relações com a namorada;

(xxiii) em fevereiro de 1974, comunci à namorada que tem, já algum tempo, um pequeno negóco: vendo uísque,  tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson, ettc.


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 68 e 69

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ] 


68º Capítulo  > É DO SECTOR DE BIANGA

A foto que está na página [, acima,] tem uma história interessante. Foi extraída do primeiro slide que me tiraram. Na carta eu faço o apontamento, está a minha última referência a um ato bélico.

“Meu amor. hoje tenho uma novidade para te dar. O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar slides. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol.

Quando estava em cima da torre ouvi o barulho das saídas das bombas de ataque ao quartel e gritei para fugirem. deitei-me lá em cima atrás da beirada, mas as bombas caíram fora do quartel. O capitão berrou par eu espreitar e ver de onde vinha o fogo e eu mais à sorte do que ver mesmo, disse que era de Bianga. Ele disse ao capitão dos obuses, mandaram para lá meia dúzia de bombas e calaram-se logo. Foi à sorte mas decerto acertei.

Tem uma metralhadora anti-aérea lá na torre mas eu nem sei disparar com ela por isso escondi-me”.


Os slides ficaram bem e, por incrível que esta história lhes possa parecer, continuamos a seguir ao ataque a tirar o resto dos slides. Ninguém se preocupava muito com o que pudesse acontecer.

69º Capítulo  > O NEGÓCIO

Só me referi ao meu negócio precisamente em Fevereiro de 74.
“Quero informar-te que montei aqui já há algum tempo, um pequeno negócio. Vendo whisky, tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson etc. Só hoje vieram treze contos e quinhentos de coisas para mim. Devo ter um lucro aproximado de dois contos e quinhentos. Quando for quero comprar-te um anel de noivado em ouro branco com uma pérola que seja bonito para te oferecer.

Quem me fornece é o 1º sargento que conheci em Bissau pelo Natal é a primeira pessoa que confia em mim mesmo sem eu pagar adiantado. Só no mês passado vendi, 30 garrafas de whisky, 35 volumes de tabaco e 12 isqueiros iguais a esse que enviei para o teu pai. Também vendo serviços de café chineses que se vê uma chinesa no fundo da chávena mandei-te um. Vais ter um marido que embora gaste, também sabe ganhar. Com este negócio, vou adquirindo experiencia noutras áreas. Já fumei dois ou três cigarros mas começo logo a tossir”

Fumei depois mais 42 anos. Deixei o vício graças à minha neta.

"Acho que vem cá o governador temos de ter isto tudo impecável”.

Foi talvez a visita mais caricata que algum governador fez a Fulacunda, a visita do General António Spínola.

Dois governadores visitaram-nos, durante o comando do capitão miliciano mais exigente na disciplina que provavelmente existiu na Guiné, e digo miliciano porque normalmente os militares de carreira ou “Os Xicos”, como nós lhe chamávamos, é que eram exigentes na disciplina. O meu capitão meteu completamente o pé na poça.

Decidi juntar num só texto as visitas de dois governadores porque não tenho grande coisa escrita. Apenas isto sobre Spínola, que nos visitou no início de Dezembro.

“Afinal não valeu muito o capitão avisar que talvez viesse aqui o governador e comandante da Guiné o general António Spínola e para nós andarmos sempre apresentáveis. Ele apareceu aqui sem ninguém contar e um condutor ao ver que de repente chegou um Helicóptero à pista foi para lá o mais rápido possível num Unimog sem bancos e em tronco nu. O Spínola entrou pelo quartel dentro em pé em cima do Unimog. Que bronca.

Já viste bem que nem segurança se fez? E se o matavam aqui?

Fiquei desiludido com ele”.


Quanto ao General Bettencourt Rodrigues:

“Formamos todos na parada mas senti-me mal e fui autorizado a ir para a cama. Não vi o Governador da Guiné”

Honestamente, não sei porque me referi a ter ficado desiludido com Spínola, nem se, com Bettencourt Rodrigues foi algum truque para sair da formatura, pois não a escrevi.

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Nota do editor: