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sábado, 19 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21663: Pensamento do dia (26): “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade" [ José de Almada Negreiros (São Tomé e Príncipe, 1893 - Lisboa, 1970), um bastardo do Império, que "inventou o dia claro": fascista, colonialista, futurista, modernista, português genial...]. Seleção de Mário Gaspar e Luís Graça.

A inconfundível assinatura
do Alama Negreiros (1893 - 1970)


1. O Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado, e colaborador sénior do nosso blogue (com cerca de 125 referências no nosso blogue),manda-nos um frase genial do nosso Almada Negreiros, a primeira que reprozimos a seguir... 

Pesquisámos (e selecionámos) mais umas tantas... São um motivo de reflexão para esta quadra natalícia, este ano aprisionada por um miserável vírus, o Sars-CoV 2. que nos está a tramar a vida... 

Com tantos vendilhões do templo a impingir-nos verdades eternas e salvíticas nestra quadro do ano, ensombrada por um grave crise da humanidade (que não será primeira nem a última), é bom conhecer (e meditar em) o pensamento deste português, um dos grandes e últimos do império. 

Almada Negreiros, juntamente com Fernando Pessoa, é um dos nomes maiores da nossa modernidade cultural ... É um filho bastardo do nosso império: nasceu na Roça da Saudade, freguesia da Trindade, São Tomé e Príncipe, em 1893, sendo o primeiro filho de António Lobo de Almada Negreiros, tenente de cavalaria, alentejano de Aljustrel, administrador do concelho de São Tomé, e de sua mulher Elvira Sobral de Almada Negreiros, uma mestiça com fortuna paterna, sã-tomense, falecida três anos depois, em 1896, uma mãe que ele invoca, evoca, interpela, nos seus escritos, mas de que pouco se podia lembrar!

Quando ele nasceu, numa antiga ilha esclavagista, já tinham nascido todos os grandes gurus da humanidade, de Buda a Confúcio, de Jesus Cristo a Maomé, de Lutero a Karl Marx... E em nome do mesmo Deus, continuamos a matar-nos uns aos outros. Basta percorrer as redes sociais: quantas frases de ódio e violência se irão escrever  no dia de Natal de 2020 ?

2. Citações de A Invenção do Dia Claro [, 1924], de José de Almada Negreiros, selecioanadas por Mário Gaspar e Luís Graça:

(...) “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.” (...)

(...) “Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.” (...)

(...) "Na montra estava um livro chamado «O leal conselheiro». Escrito antigamente por um Rei dos Portugueses! Escrito de uma só maneira para todas as espécies de seus vassalos! Bendito homem que foi na verdade Rei! O Mestre que quer que eu seja Mestre!" (..,)

(...) “Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!” (...)

(...)“Todas as coisas do universo aonde, por tanto tempo, me procurei, são as mesmas que encontrei dentro do peito no fim da viagem que fiz pelo universo.” (...)

(...) “Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.”(...)

(...) "Imaginava eu que havía tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para os animaes domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há"

(...) "Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia. "(...)

(...) "O pequeno é como o grande. O que está em cima é análogo ao que está em baixo. O interior é como o exterior das coisas.Tudo está em tudo. "(...)

(...) "Mulheres e homens são as duas metades da humanidade: a metade masculina e a metade feminina. Há coisas inteiras feitas de duas metades e aonde não se pode cortar ao meio para separar essas duas metades. Exemplo: a humanidade com a metade masculina e a metade feminina. São duas metades que deixam, cada uma, de ser uma metade se não houver a outra metade. "(...)


(...) "As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavam maravilhados, outros tinham-se cansado. Os que estavam maravilhados abriam a boca, os que se tinham cançado também abriam a boca. Ambos abriam a boca.

Houve um homem sosinho que se pôs a espreitar esta diferença: havia pessoas maravilhadas e outras que estavam cansadas. Depois ainda espreitou melhor: Todas as pessoas estavam maravilhadas, depois não sabiam aguentar-se maravilhadas e ficavam cansadas. As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um: mais luz, alegres, menos luz, tristes.

O homem sosinho ficou a pensar n'esta diferença. Para não esquecer fez uns sinais numa pedra. Este homem sosinho era da minha raça: era um Egípcio! Os sinais que ele gravou na pedra para medir a luz por dentro das pessôas, chamaram-se hieroglifos.

Mais tarde veio outro homem sosinho que tornou estes sinhais ainda mais fáceis. Fez vinte e dois sinais que bastavam para todas as combinações que há ao Sol. Este homem sosinho era da minha raça: era um Fenicio! Cada um dos vinte e dois sinais era uma letra. Cada combinação de lettras uma palavra." (...)

(...) "Jesus Cristo desce sosinho por entre as duas grandes alas da humanidade. As duas grandes alas da humanidade estendem os braços para Jesus Cristo. Uma das duas alas acusa a outra ala, e esta acusa aquella.

Jesus Cristo desce sosinho por entre as duas grandes alas da humanidade, sem se aproximar de uma nem da outra. As duas grandes alas da humanidade. Jesus Christo acabou de passar por entre as duas grandes alas da humanidade, sem se ter approximado de uma nem da outra. As duas grandes alas da humanidade. Em baixo a Terra, em cima o Sol." (...)

(...) "Um dia foi a minha vez de ir a Paris. Foi necessário um passaporte. Pediram a minha profissão. Fiquei atrapalhado! Pensei um pouco para responder verdade e disse a verdade: Poeta! Não acceitaram. Tambem pediram o meu estado. Fiquei atrapalhado. Pensei um pouco para responder verdade e disse a verdade: Menino! Tambem não acceitaram. "(...)

(...) Mãe! dói-me o peito. Bati com o peito contra a estátua que tem em cima o verbo ganhar. Ainda não sei como foi. Eu ia tão contente! eu ia a pensar em ti e no verbo saber e no verbo ganhar. Estava tudo a ser tão fácil! Já estava a imaginar a tua alegria quando eu voltasse a casa com o verbo saber e o verbo ganhar, um em cada mão! Dói.me muito o peito, Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! (...)

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram

Infografia: Miguel Pessoa (2019)
1. Mensagem do nosso leitor guineense, Erickson Té:


De: erickson te <ericksonte_23@outlook.com>
Date: quarta, 18/09/2019 à(s) 10:44
Subject: autorizção


boa tarde Sr. Luís Graça tudo bem consigo?

quero lhe agradecer por trabalho que tem estado a fazer refiro o seu blog luis graça e camaradas da Guiné aprendi muito com seu blog historia bonitas que nem quando estudava na guiné.  e também queria pedir sua autorização para uso destas informações (historias) para uma pagina feita por mim no instagram para informar a minha e futura geração já que só focamos nestas novas tecnologias


agradecia a sua resposta claro a sua autorização também.

obrigado e boa tarde.

ass: Erickson Té



2. Resposta do editor Luís Graça:

Caro Erickson Té:

Costumamos dizer, e é verdade, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!..

Como não temos portas em janelas, muito menos muros e arame farpado, todo o mundo pode entrar aqui e espreitar o que fazemos... Este é o lado admirável das redes sociais... Partilhamos memórias (e afetos), contamos histórias de guerra e paz, celebramos a vida, a amizade e a camaradagem,  não escondemos a nossa amizade para com o povo guineense, mas também a nossa preocupação pelo seu presente e pelo seu futuro.  

Só há uma terra, a casa comum da humanidade...  Portugal e a Guiné estão ligados por laços históricos com quase 600 anos e, apesar dos conflitos do passado, provocados pelas políticas das  nossas elites dirigentes, e pelo fascinante mas também doloroso processo da globalização, de que os portugueses foram pioneiros,  os nossos dois países  estão hoje em paz  um com o outro e pertencem, nomeadamente, à Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP). 

Em português nos entendemos, Erickon, e eu fico feliz por poderes encontrar, no nosso blogue, histórias "bonitas" que nunca te contaram quando andavas a estudar em Bissau. Não temos página no Instagram, mas vamos querer conhecer a tua.  Estás autorizado a usar o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, no respeito pelas regras da nossa política editorial. Se usares na íntegra alguns dos textos e imagens, deves sempre citar o autor e a o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Mas, para já, gostávamos que te juntasses a esta comunidade de "amigos e camaradas da Guiné". Somos já perto de 800. Temos também entre nós amigos guineenses. Mas precisamos gente mais jovem como tu, para manter a ponte entre gerações. Basta que me mandes uma foto tua e meia dúzia de linhas, com uma breve apresentação da tua pessoa e do teu trajeto de vida: onde nasceste, onde estudaste, onde vives hoje, etc.

Mantenhas. Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça.

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