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sábado, 14 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26919: Tabanca Grande (576): Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 906

1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), com data de 12 de Junho de 2025:

Caro Luis Graça,
Largos anos passados desde a minha "estadia" na Guiné, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, onde comandei o Pelotão de Caçadores Nativos 57, no Destacamento de Cutia e em Mansabá, aqui estou a candidatar-me a “tabanqueiro”, apadrinhado pelo Carlos Vinhal, meu “escrivão”, segundo ele diz, pois coadjuvava-me na elaboração dos autos de procedimento disciplinar, quando os havia.

 O outro meu padrinho é o meu amigo Ernestino Caniço que comandou um pelotão de Daimlers  quando estava em Mansabá. Foram eles que chegaram até mim, passados tantos anos! E, por isso, estou-lhes grato.

Estive a comandar o Pelotão de Caçadores Nativos 57, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, em Cutia, um pequeno destacamento, a meio caminho (15 kms) entre Mansoa e Mansabá, e, depois, em Mansabá, aquando da construção da estrada entre Bironque (a 5/6 kms a norte de Mansabá) e Farim.

Tal como tu, certamente, vivi momentos difíceis e complicados, agravados pelo facto de ter comigo apenas meia dúzia de camaradas metropolitanos, pois os soldados do pelotão eram todos eles naturais da Guiné, de diversas etnias e viviam na tabanca cá com a respectiva família.

Apesar de tudo, foram dois anos que jamais poderei esquecer e que lembro todos os dias. E nessas memórias estão os camaradas com quem convivi e de quem tenho as melhores recordações.

Tal como me referiste no teu mail, remeto uma foto desses tempos da Guiné e uma actual.

Será um privilégio fazer parte deste grupo de combatentes.

Um abraço, Camarada,
Jacinto Rodrigues
ex-alferes miliciano

Alf Mil Art Jacinto Rodrigues
Mansabá > Cap Inf Carreto Maia, cmdt da CCAÇ 2403 (de cabeça descoberta); Alf Mil Art Jacinto Rodrigues, cmdt do Pel Caç Nat 57 (sentado) e Alf Mil Cav Ernestino Caniço, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (à direita da foto).
Mansabá > Uma equipa de futebol, onde o editor reconhce o Alf Mil Art Jacinto Rodrigues, na fila da frente, à direira. O Alf Mil Cav Ernestino Caniço é o terceiro, a partir da esquerda, na fila de trás.
Interior do destacamento de Cutia. Foto © César Dias
Localização do destacamento de Cutia, sensivelmente a meia distância entre Mansabá e Mansoa
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (Carta da Província da Guiné - Escala 1:500.000)
O nosso camarada Jacinto Rodrigues na actualidade
Arganil > Encontro de 2025 do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Três ilustres tertulianos do nosso Blogue: ex-Alf Mil Cav Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Art Jacinto Rodrigues e ex-Cap Mil Jorge Picado
Arganil > Encontro de 2025 do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Jacinto Rodrigues e Ernestino Caniço

********************
2. Comentário do editor CV:

Caríssimo camarada Jacinto Rodrigues, está apresentado oficialmente à tertúlia. Terá ao seu dispor o lugar estatístico 906 debaixo do nosso poilão, mas "sentar-se-á" onde muito bem entender.

Dizem as nossas normas, "muito rígidas" (ver aqui), que na tertúlia nos tratamos por tu e não distinguimos os antigos e actuais postos militares; profissões; habilitações académicas e outras possíveis distinções sociais.  

Une-nos aquela terra vermelha, manchada com o sangue de portugueses e guineenses; a água daquelas bolanhas que bebemos quando a sede já não era mais suportável; os sustos das emboscadas; as muitas noites mal dormidas, no mato e nos aquartelamentos, e a incerteza do regresso para junto das nossas famílias. Além de tudo, só nós nos compreendemos já que a família está farta de nos ouvir.

O editor Luís Graça delegou em mim a missão de receber o ex-alferes Rodrigues, meu contemporanêo em Mansabá, um camarada cordial no trato. É uma honra e um gosto fazê-lo, tratando-se de quem se trata.

Lembro-me de entrar na secretaria da CART 2732 e, dirigindo-se a mim, dizia algo parecido como: "nosso furriel, tem disponibilidade para me escrever aí à máquina umas notas para eu enviar para Bissau?" Segundo me dizia, era preciso manter activos os autos de que era responsável, pelo que de vez em quando havia que mandar papelada para a Secção de Justiça e Disciplina.

Quando há uns bons meses o camarada Rodrigues me contactou por me ter encontrado na net, foi um desfilar de lembranças daqueles tempos que,  sendo maus, são vivências da nossa juventude, irrepetíveis, que jamais se apagarão da nossa memória de velhos combatentes.

Neste blogue temos a oportunidade de deixar escrito o que ainda retemos daqueles dois difíceis anos da nossa vida, pelo que convidamos o "alferes" Rodrigues a contribuir para esta feitura de memórias.
Que retém do comportamento dos seus militares guineenses enquanto combatentes ao lado dos portugueses? Que experiência lhe trouxe para a vida o contacto tão próximo com pessoas que tinham um modo de pensar e de viver tão diferentes dos nossos? A história, filosofia de vida e religião daquele povo, apesar dos nossos estúpidos preconceitos, mantinham-se praticamente intactos, resistindo a séculos de evangelização. 


Caro Jacinto Rodrigues, está apresentado. Não termino sem antes de lhe deixar o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, com a certeza de que estaremos aqui ao dispor para o que nos achar úteis.
Se quiser que lhe façamos um postalinho de aniversário, só tem que nos indicar o dia e o mês em que nasceu, o resto é connosco.

Os meus votos de boa saúde
Um abraço a título pessoal do furriel escrivão
Carlos Vinhal, por acaso, também coeditor deste Blogue.

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Nota do editor

Último post da série de 25 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26745: Tabanca Grande (572): Joaquim Galhós, ex-fur mil, de rendição individual, que integrou a CCAV 3420 (Pete, 3 meses), o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 12 meses) e o BENG 447 (Brá, 9 meses): é natural do Barreiro, e senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 902

 







Joaquim Galhós (n. Barreiro, 1950).


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > Cheguei a Cutia no dia 22/10/72,  o artista que fui render mal tive tempo de o conhecer, pirou-se na primeira coluna para Mansoa. No dia 23 era preciso ir á água, íamos sempre a Mansoa mas o alferes disse que, como eu era novo, "vamos mostrar Mansabá que tem uma água muito boa"... Foi uma má ideia não chegámos a Mansabá,  parti o bico e deram cabo da vazilha...


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 >  O Joaquim Galhós junto a uma bananeira.


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 > O Joaquim Galhós junto ao acesso a um abrigo ou espaldão, protegido por bidões com areia...


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 > O Joaquim junto a um papaieira.

Fotos (e legendas): © Joaquim Galhós (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Joaquim Galhós (ou Galhoz um apelido de origem espanhola, e com família oriunda de Évora) aceitou o nosso convite (*) para se sentar à sombra do nosso poilão no lugar nº 902 (**).

Já aqui falámos dele,  há dias, como nosso amigo no Facebook. Temos "20 amigos em comum". 

O  Joaquim Galhós nasceu em 23 de junho de 1950. É do Barreiro, vive no Barreiro, estudou na Escola Comercial e Industrial Alfredo da Silva (nome do fundador do grupo CUF), de 1961 a 1969. Tem formação técnica em eletricidade.

Fez a sua comissão de serviço militar, na Guiné, entre 23 junho 1972 a 29 junho de 1974 (24 meses). Já tinha casado em 6 de setembro de 1970. É diretor  do Grupo Desportivo Os Leças.

Fazia 22 anos no dia em que partiu para o CTIG, de avião, do aeroporto Figo Maduro. Quando chegou a Bissau, verificou que estava a destinado à CCAÇ 3 (aquartelada em Bigene). Devem ter mudado de ideias, mandaram-no para a companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420, onde esteve 3 meses. (Sabemos que esta subunidade, em 9jul72, rendendo a CCaç 2789, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Ponta Consolação e Capunga, com vista à execução e controlo dos trabalhos de construção dos respectivos reordenamentos e promoção socioeconómica das populações.).

Em 22 de outubro de 1972 chegava a Cutia, para ir render um fur mil do Pel Caç Nat 57. No dia seguinte "embrulhou", quando ia buscar água a Mansabá.(Já não é do te,mpo do nosso coeditor Carlos Vinhal,. que esteve em Mansabá, até março de 1972.)

Na Guiné, era de rendição individual. Integrou, como furriel miliciano, o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73).  Teve cerca de um ano no Pel Caç Nat 57. Os restantes nove meses da comissão passou-os no "bem-bom" do BENG 447, em Brá, para onde foi destacado. 

Já não se lembra do alf mil que comandava o Pel Caç Nat 57, mas seria alguém também com o apelido Rodrigues (. Conhecemos até agora dois alferes, o Fernando Paiva, 1967/69, e o Jacinto Rodrigues, 1969/71.)

Falámos um bom bocado  ao telefone, ele tem alguns histórias para nos contar aqui. Está reformado, trabalhou na Quimigal e conhece também desse tempo o eng tec Joaquim Fernandes, meu camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, mai 69/ mar 71). Conhece também o médico de saúde pública Mário Durval, agora reformado (foi delegado de saúde no Barreiro).

Dei-lhe já, antecipadamemte as boas vindas à Tabanca Grande. E expliquei-lhe por alto o funcionamento do blogue. Ele é mais "facebuqueiro"... Disse-lhe quão importante era reconstituir as memórias das subunidades africanas, como a minha CCAÇ 12 e a do dele Pel Caç Nat 57. Voltaremos um dia destes a falar ao telefone. 
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 26 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26730: Facebook...ando (75): Joaquim Galhós, do Barreiro, pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73) e ao BENG 447 (Brá, 1973/74): esteve três meses com o cap cav Salgueiro Maia em Pete, Bula

(**) Último poste da série > 7 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26660: Tabanca Grande (570): Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 901

sábado, 26 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26730: Facebook...ando (75): Joaquim Galhós, do Barreiro, pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73) e ao BENG 447 (Brá, 1973/74): esteve três meses com o cap cav Salgueiro Maia em Pete, Bula


"Com o Capitão Salgueiro Maia em 72, em Pete - Bula, nos 3 meses que estive na CCav 3420" (Joaquim Galhós, 5 de maio de 2023)... A foto é imprecisa, mas o Joaquim Galhós parece ostentar divisas de furriel... Impecavelmente fardado. Já o seu comandante, um oficial de cavalaria,  mostrava-se "pouco canónico no traje"... Com o clima da Guiné, ninguém respeitava o RDM em matéria de traje... 



Guiné > Zona Oeste >  "Cutia 72/73. Com este grupo que é parte do meu Pel Caç Nat 57 passei os piores momentos da minha vida,  tive a minha parte mas felizmente nada comparado com o que muitos camaradas sofreram e, com muita sorte,  aos 15 meses fui passar 9 meses ao BENG 447 até junho de 1974" (Joaquim Galhós, 19 de agosto de 2020) ·

Fotos da página do Facebook de Joaquim Galhós (aqui editadas e reproduzidas, com a devida vénia)


1. Joaquim Galhós é nosso amigo no Facebook. Temos "20 amigos em comum". É do Barreiro, vive no Barreiro, estudou na Escola Comercial e Industrial Alfredo da Silva (nome do fundador do grupo CUF), de 1961 a 1969.

Sabemos que fez uma comissão de serviço militar, na Guiné, entre 23 junho 1972 a 29 Junho de 1974. Já tinha casado em 6 de setembro de 1970. É sócio do Grupo Desportivo Os Leças... Faz anos a 23 de junho. (Foi em dia de anos, 23/6/1972, que partiu para o CTIG, de avião, do aeroporto Figo Maduro.)

Na Guiné, era de rendição individual. Integrou, como furriel miliciano,  o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73).   Encontrámos na sua página do Facebook apenas duas fotos do seu tempo de Guiné, uma delas "preciosa", com o cap cav Salgueiro Maia, cmdt da CCAV 3420.

Vou-lhe telefonar para o convidar a juntar-se ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. A malta dos Pel Caç Nat "também é gente"...E sabemos muito pouco das suas andanças pelo CTIG...



O Joaquim Galhós, sinalizado com um circulo a azul. Será ele ou o dono da foto ? "Escola Primária nº 4 , 4ª classe 1960/61. Prof.Raposo".

Fotos (e legendas): © Joaquim Galhós (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26716: Facebook...ando (74): Manuel Ribeiro de Faria, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 3414 (Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73), a subunidade a que pertenceu o nosso saudoso amigo e camarada Joaquim Peixoto (1947-2018)

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26728: O nosso livro de visitas (227): Jacinto Rodrigues, ex-alf mil, de rendição individual, cmdt do Pel Caç Nat 57 (Cutia, Mansabá e Cutia, set 1969 / set 1971)



Guiné > Região Oeste  > Mansoa > Cutia > Destacamento de Cutia > c. 1970 > Foto enviada  pelo César Dias, ex-fur mil sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa desde maio de 1969 a fevereiro de 1971, e a que pertencia a CCAÇ 2589, de que o nosso grão-tabanqueiro Jorge Picado foi um dos comandantes, de  24/2/1970 a 15/2/1971. Estranhamente, Cutia não vem nas cartas nem de Mansoa nem de Farim. Ficava a nordeste de Mansoa, na estrada Mansoa-Mansabá.

Foto (e legenda): © César Dias (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Comentário do nosso camarada Jacinto Rodrigues ao poste P25753 (*):  

Boa tarde! Como alferes miliciano, comandei o Pel  Cac Nat  57 durante dois anos, entre 23 setembro de 1969 e setembro de 1971. 

Em setembro de 1969 o Pel Cac Nat 57 estava sediado em Cutia, tendo sido deslocado para Mansabá em fevereiro de 1970.

Fui substituir o alferes miliciano Trigo, natural de Bissau. 

O Pel Caç Nat 57 após a construção (com asfaltamento) da estrada entre Mansabá e Farim, regressou a Cutia onde se manteve, pelo menos, até à data do final da minha comissão.

Por hoje fica este apontamento. Espero voltar aqui para falar do meu pelotão e da sua actividade, lembrando os soldados que, infelizmente, foram abandonados e, tanto quanto sei, foram executados após a retirada dos portugueses.

Um abraço para todos os Camaradas. 
Jacinto Rodrigues

2. Comentário do nosso coeditor Carlos Vinhal ao poste P18094 (*):

Se bem me lembro, a tropa de Mansabá e de Cutia estava adstrita ao Batalhão de Mansoa (BCAÇ 2885). 

Lembro-me de o Pel Caç Nat 57 estar em Mansabá, da qual recordo o oficial, o alferes Rodrigues e de dois dos três Furriéis, o Espanhol, de quem não sei nada, e do Pires, com quem tenho contacto através do facebook. 

A determinada altura, a CART 2732 passou para o COP 6, sediado em Mansabá. Por sua vez o Pel Caç Nat 57 foi para Cutia, zona que (...) era da responsabilidade de Mansoa. (...) (e onde perrmaneceu até ser desativado/extinto em agosto de 1974).

Carlos Vinhal



3. Comentário do editor LG:

Jacinto Rodrigues, és bem vindo. Obrigado pelo teu contacto (entre antigos camaradas de armas, tratamo-nos por tu, é mais simples, dá mais jeito e encurta distâncias)...

Ficas desde já convidado a integrar a Tabanca Grande: não é nenhum clube, apenas uma tertúlia virtual... que reune os amigos e camaradas da Guiné, representados neste blogue (que tem já 21 anos de existência). Não há joia nem quotas... Apenas 2 fotos tuas, tipo passe, uma mais ou menos atual e outra do "antigamente" da tropa e da guerra...

Depois de seres apresentado à malta (somos já 901 entre vivos e falecidos), podes partilhar as tuas memórias, histórias, fotos, etc. da Guiné e da subunidade  que comandaste.

Sobre o Pel Caç Nat 57,  constituído dos soldados balantas do recrutamento local, já sabemos então que;

(i) foi criado em Mansoa pelo alf mil Fernando Paiva, de rendição individual ;

(ii) esteve no CTIG de abril de 1967 a abril de 1969;

(iii)  "a pá e pica, construímos o Destacamento de Bindoro, onde permaneci, até julho de 68, quando fui transferido para Bolama";

(iv) a seguir deve ter vindo o alf mil Trigo, até setembro de 1969;

(v) depois vieste tu...

(vi) o Pelotão será extinto em agosto de 1974, tal como as demais subunidades e unidades constituídas por militares do recrutamento local. 

Aguardamos, com expetativa,  mais notícias tuas (**). 
LG
_______________

Notas do editor LG:

(*) Sobre o Pel Caç Nat 57 temos ainda escassas referências:



17 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25753: Para a história do Pel Caç Nat 57 (Mansoa, Bindoro, Mansabá, Cutia, 1967/74) - Parte I: O seu primeiro comandante, o ex-alf mil Fernando Paiva, hoje produtor de vinho verde biológico, na Quinta da Palmirinha
 


26 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24342: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte X: mais fotos do destacamento e tabanca de Cutia

 

29 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23122: (In)citações (202): Criei o Pel Caç Nat 57, construi o destacamento de Bindoro, a pá e pica, e vivi diaramente, ombro a ombro, com esses fantásticos balantas da região do Oio (Fernando Paiva, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 57, Mansoa, Bindoro e Bolama, 1967 / 1969)
 


17 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18094: Em busca de ... (285): Camaradas do meu pai, João Arindo Canha, que pertecenceu ao Pel Caç Nat 57, e esteve em Cutia, na região do Oio (Henrique Canha)
 


2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9431: O Nosso Livro de Visitas 126): Fernando Paiva, Pel Caç Nat 57, Mansoa e Bindoro, abril de 1967/abril de 1969


(**) Último poste da série > 8 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26361: O nosso livro de visitas (226): João Maria da Cruz Teixeira Pinto, bisneto do João Teixeira Pinto (1876-1917): o único descendente masculino vivo, em linha reta, do antigo aluno, nº 144/1888, do Colégio Militar, "o Pinto dos Bigodes"

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25753: Para a história do Pel Caç Nat 57 (Mansoa, Bindoro, Mansabá, Cutia, 1967/74) - Parte I: O seu primeiro comandante, o ex-alf mil Fernando Paiva, hoje produtor de vinho verde biológico, na Quinta da Palmirinha



Fernando Paiva, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 57 (Mansoa e Bindoro, abr 67 / jul 68). É hoje produtor de vinho verde, biológico, na Quinta da Palmirinha, Lixa, Felgueiras. 



1. Sobre o Pel Caç Nat 57 só temos 5 referências no nosso blogue... É difícil, pois, acompanhar a sua evolução desde a sua criação, em abril de 1967 até à sua extinção em agosto de 1974. 

Um dos poucos tesemunhos que temos é  de um dos seus fundadores, e primeiro comandante, o ex-alf mil Fernando Paiva, que. na Lixa, Felgueiras,  se e dedica à agricultura "biodinâmica" (...), "sobretudo à produção de vinhos certificados pela Demeter, a mais importante certificadora mundial ao nível de agricultura biodinâmica".

Contactos: Quinta da Palmirinha | Lixa, Felgueiras |Email: sumbi@sapo.pt | Telem: 351 962 785 717 | Página do Facebook: Quinta da Palmirinha

(...) Fui, em rendição individual, para criar o Pel Caç Nat 57, em Mansoa. A pá e pica, construímos o destacamento de Bindoro, onde permaneci, até julho de 68, quando fui transferido para Bolama.

Vivi, diariamente, quase ombro a ombro, com aqueles fantásticos Balantas, gente muito boa e corajosa, que aprendeu, às suas custas, a melhor maneira de coexistir com a tropa e o PAIGC, num “jogo de cintura” que eu julgo ser muito comum, em períodos de guerra civil, como foi aquele em que se viveu, na Guiné.

Gostava de ter alguma informação, quer da gente do Bindoro, quer dos militares, de cá e de lá, com quem partilhei alguns dos momentos mais emocionantes da minha vida. (...)

Apesar do convite que mandei ao Fernando Paiva, por eil e pessoalmnet, ao telefone, ele nunca quis juntar.se à nossa Tabanca Grande.


2. Pelo Carlos Vinhal sabemos que o  Pel Caç Nat 57:

(i)  foi para Mansabá em fevereiro de 1970, ficando adido à CCAÇ 2403;

(ii) a partir de abril de 1970 ficou adido à CART 2732 até maio de 1971;

(iii) nessa altura em que foi deslocado para o destacamento de Cutia, ficou  desde então adido ao Batalhão de Mansoa, o BCAÇ 3832.

3. Pelos livros da CECA sobre a atividade operacional no CTIG (a partir de 1967), sabemos que o Pel Caç 
[Nat]  57 estava:

(i) em Bindoro, em 1/7/1967 (e o Pel Caç  [Nat] 54, em Porto Gole);

(ii) idem em 13/7/1968;

(iii) em Mansabá, em 1/7/1970, tal como a CART 2732;

(iv) em Cutia, em 1/7/1971, junbtamente cm o Pel Caç  [Nat] 61;

(v) ambas as subunidades participaram juntamente com outras forças,nas operações "Empresa Titânica" (entre 27fev a 1mar73); e "Gente Valorosa" (entre 5 e 7mar73);

 (vi)  a 3mai73, pelas 9h30, os Pel Caç 57 e 61, em acção de patrulhamento conjugado com montagem de emboscada nas regiões de Cutia-Momboncó (Norte
de Mansoa), Secor 04, contactaram com um grupo inimigo ao qual provocaram 2
mortos . (Foi-lhes apreendido 1 metralhadora ligeira "Degtyarev", 1 espingarda
"Mosin-Nagant" e material diverso.);
 
(vii) em 21mai73, na região de Mamboncó (itinerário Mansabá-Mansoa), SEctor 04, 2 GComb/ CArt 3567 numa missão de escolta a coluna auto, foram emboscados por um
grupo inimigo que causou às NT 4 mortos, 9 feridos graves, 6 feridos ligeiros
e danos em 3 viaturas; na mesma região, o Pel Caç 57 (Cutia) que saiu em socorro foi também
emboscado e sofreu I ferido grave; o inimigo sofreu 2 mortos não confirmados; foi capturada 1 ranada de RPG-2 e 1 de RPG-7.

(viii) a 17jul73,  pelas 14h30, na região de Momboncó (estrada Mansoa-Mansabá),
Sector 04, quando o Pel Caç 57 executava um patrulhamento no referido itinerário, foi emboscado por um grupo inimigo que armadilhara previamente as duas margens da estrada na zona da emboscada; as NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves e 2 ligeiros; foram extraviadas 6 espingardas automáticas G-3, 1 viatura destruída e 2 danificadas; as NT levantaram, no local, 4 minas antipessoal.

(ix) em 1/7/1973, o Pel Caç 57 estava em Cutia, juntamente com o Pel Caç 61  ( a CCAÇ 15 em Mansoa; e o Pel Caç 58 em Infandre).

(Nos livros da CECA não se usa a designação Pel Caç Nat mas apenas Pel Caç)

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24922: Fichas de unidade (32): CCAÇ 15 (Bolama e Mansoa, 1970/74); divisa: "Taque Tchife" (Agarra à mão)

Crachá e brasão da CCAÇ 15 


Fichas de unidade > Companhia de Caçadores nº 15

Identificação: CCaç 15

Cmdt:

  • Cap Inf Manuel José Reis do Nascimento
  • Cap Inf Luís da Piedade Faria
  • Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua
  • Cap QEO José Eduardo Marques Patrocínio
  • Cap Inf Idílio de Oliveira Freire
  • (oficial n/ identificado)
  • Alf Mil João António de Magalhães

Divisa: "Taque Tchife" (Agarra à mão)"

Início: 29Jan70 | Extinção: finais de Ju174

Síntese da Actividade Operacional

Foi constituída e organizada no CIM, em Bolama, com quadros e algum pessoal especialista metropolitano e o restante pessoal natural da Guiné, da etnia Balanta, sendo inicialmente designada por CCaç Balanta e tomando a designação de CCaç 15 a partir de 28Fev70.

 Após a instrução inicial, efectuou a IAO no CIM, em Bolama, de IS a 28Fev70.

Em 04Mar70, deslocou-se para Mansoa, a fim de substituir a CCaç 2857 na  função de intervenção e reserva do sector, tendo actuado em diversas operações na região de Locher-Changalana, na interdição da ligação Sara-Sarauol e na segurança e protecção de itinerários e dos trabalhos das estradas Mansoa-Bissorã e Jugudul-Bambadinca. 

Destacou ainda pelotões para reforço de outras guarnições, nomeadamente de Mansabá, de 08 a 25Nov70 e de Cutia, de 27Nov70 a finais de Mar71).

Em finais de Ju174, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade até 31Mar72 (Caixa n." 130 - 2." Div/4." Sec, do AHM).

Tem 22 referências no nosso blogue. Na Tabanca Grande temos dois camaradas que pertenceram à CCAÇ 15: o António Sampaio e o Joaquim Mexia Alves.

Fonte - Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 635
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Nota do editor:

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24916: Notas de leitura (1643): "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac; Europa Editora, 2022 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2022:

Queridos amigos,
Permitam-me justificar a minha incredulidade face à leitura desta narrativa. Passado meio século, manda a sabedoria do perdão que acompanha os velhos, há ressentimentos, azedumes e horas más que passam para a categoria dos desperdícios. Irineu Mac apresenta-se como uma exceção, di-lo frontalmente: 

"Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós. Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos que sofreram danos colaterais tiverem memória. Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias em condições muito adversas".

 É uma narrativa confessional, onde a guerra propriamente dita e a sua relação com os outros merece escassos parágrafos, no entanto, terá vivido uma experiência bem dura em territórios marcadamente hostis em derredor de Mansoa, foi cofundador e professor na escola regimental de Mansoa, voluntariou-se na escola primária da aldeia na preparação para exames de 4.ª classe, são assuntos tratados de raspão, questionamos porquê, numa narrativa onde o timbre é dado pelos tais azedumes e recordações de que a idade nos liberta, tal como ele observa nos encontros de ex-combatentes teimamos nesta bonomia de avançar para o outro de braços abertos.

Um abraço do
Mário



Lembranças da CCAÇ 15 (1970-1971), com amargores e ressentimentos

Mário Beja Santos

É cada vez mais raro encontrar nas obras de cunho memorial sobre a guerra colonial algo que fez parte da 1.ª fase deste ramo literário: os ajustes de contas, a revolta incontida pelos comportamentos militarões, o azedume pelo facto da tropa ter impedido os estudos, a catilinária sobre a absurdez e a perversidade daquelas guerras. 

A idade e o peso da memória fazem outros escrutínios, é aquela sabedoria em que o fel e a bílis já não têm papel na nossa vida. Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias, por Ireneu de Sousa Mac, Europa Editora, 2022, é uma história pessoal de um furriel miliciano que pertenceu à Companhia de Caçadores Nativos, a 15, sediada em Mansoa. Revela que lhe interromperam os estudos, que o mundo desabou à sua volta, estava preste a concluir o 7.º ano de liceu. Quando regressou era uma amostra de si próprio, pesava 54kg com 170cm de altura, já tinha os dois irmãos mais velhos nas penas de África, ainda hoje não consegue esquecer o olhar de despedida e a compaixão de familiares e amigos quando lhe disse que ia para a Guiné. 

A guerra não acabou para Mac. É a vivência na Guiné que ele vai relatar. Antes, porém, conta-nos que estudou num colégio privado, chegou o dia mais infeliz da sua vida, assentou praça nas Caldas da Rainha, confessa que nunca foi capaz de abrir o baú e deixar que as memórias viajassem pelo mundo fora. Agora, já está mais descontraído, fala-nos da sopa intragável, dos treinos nas serranias laterais ao rio Séqua, estava desarranchado, tinha um companheiro de quarto que acabou por desertar. 

“As atitudes danosas e injustas da tropa, deixaram ao Mac marcas desagradáveis e de aversão, ainda hoje, à flor da mente e dentro da pele”.

Irineu Mac esboçou a arquitetura sobre a forma de diálogos com o amigo, há pergunta e resposta, e depois de se falar em classificações do curso, ei-lo que parte em rendição individual para CCAÇ Nat 15. 

“O mundo de Mac sofre um segundo terramoto. Faliram os projetos, desabaram os sonhos. Nunca mais o futuro se escreveu da mesma maneira”

E parte, em estado lúgubre, em 3 de fevereiro de 1970. Dá-nos a nota de rodapé a composição do quadro de oficiais, sargentos e praças oriundos da metrópole, juntam-se todos em Bolama, onde diz que as condições de vida eram péssimas. E partem para Mansoa, descobre que não pode vir a férias até à metrópole por ter 8 dias de prisão no cadastro, coisas que se passaram em Tavira, tudo má sorte. Tira carta de condução de mota. Foi forçado a ir votar num cidadão qualquer, coisas de eleições do Estado Novo. Conta a história de uma cobra que se escapuliu para um buraco da bota, segue-se um rol de peripécias, mete caça, comida, a vida em Cutia tinha as suas durezas. Não se escapa às considerações erótico-sexuais. Não lhe escapou à memória uma encenação feita para jornalistas estrangeiros, um simulacro de combate na mata, uma autêntica montagem cinematográfica. Há acidentes com armas, fala-se de ataques de abelhas.

Nova confissão, há ressentimentos que pesam: 

“Mac foi impelido para a tropa pela intimação, pela força da lei e dos homens dominados, pela obsessão na qual não navega a razão. Ainda tentei, por duas vias, adiar a tropa para a incorporação seguinte. Em especial porque queria muito concluir o ano letivo. Nunca obtive resposta. Voltei com a guerra às costas. Sem bater à porta, fez-se de convidada, entrou sem autorização e sentou-se à mesa da vida. Enquanto a malária, de febre em riste, entrava pelo postigo, pelas frestas das janelas e pelos interstícios dos telhados. Mas não penses que foi fácil regressar. Inventavam atrasos atrás de adiamentos. Já nos íamos adentrando pelo 25.º mês e ainda não tínhamos sido substituídos. Quanto mais o tempo passava, mais o medo aumentava e a coragem e a vontade de arriscar escasseavam. Ninguém queria morrer ao quebrar da onda na areia”.

Há referências esporádicas a operações, patrulhamentos, situações de fogo cruzado. E vem a história de Zé Mamede que em outubro de 1970 abalou de Mansoa em direção ao seu destacamento, Infandre. Chegou notícia cerca do meio-dia de ter havido uma emboscada entre Braia e Infandre, foi logo gente em auxílio. 17 feridos, 10 mortos, entre eles o Zé Mamede. O alter ego de Mac pergunta-lhe se o Zé Mamede deve ser homenageado enquanto herói, resposta do Mac: 

“O Zé Mamede não é herói. É uma vítima, mortal, inocente, de estratégias alheias e inconsistentes das ideologias reinantes. O Zé é uma vítima de ambições de grandeza desproporcionadas, ultrapassadas e nefastas. O Zé é uma vítima da ambição errónea e condenável de outros. Da opção do orgulhosamente sós”.

Mais adiante, sentencia:

“Jamais psicólogo algum ou alguma psiquiatria salvará do trauma a quem matou mesmo para sobreviver”.

O alter ego de Mac tem acesso à sua correspondência:

“A solidão é a minha companheira. Oh esperança, não me abandones! Fica comigo. Agora. Alimenta e alenta a minha vida em frágil equilíbrio sobre o gume das armas. Agora.” 

Escreveu poesia. Em jeito de rememoração, dá-nos a saber que fazia parte da estratégia de Spínola formar companhias de caçadores nativos de elite, Mac integrou uma força operacional, atuou nas matas cerradas. Deu trabalho, mas ao fim daquele tempo todo, foram metidos num avião, regresso a Lisboa. Ficamos a saber que entre a tropa metropolitana e os soldados africanos houvera solidariedade devido à luta vital conjunta que se travava. E descreve demoradamente as peripécias do regresso. Confessa ao seu alter ego: 

“Não tenho estátua, mas tenho um louvor e uma insígnia. Não me perguntes como nem porquê. Nem sei bem responder. O que posso garantir é que, decerto, não foi pela minha valentia ou por qualquer ato de heroísmo. Acredito que possa ter sido por me voluntariar a instaurar uma escola regimental para os soldados africanos aprenderem a ler. E isso bastou-me para obter benefícios propinários, deu-me direito a isenção de propinas extensível aos filhos. Cumpri deveres porque me sujeitei a eles. Também não abdiquei daquele direito. Contudo, preferia não os ter tido”.

Despede-se do leitor, desta vez sem azedumes nem ressentimentos:

“A guerra tira, mas também dá. Enobreceu em nós o espírito de entreajuda e o sentido da amizade. Continuamos unidos pela amizade construída sobre a solidariedade vivida nas matas do Oio, do Olossato, do Morés, do Changalana, do Locher. Eu sei que, ainda hoje, essa união se mantém na trajetória de muitos ex-combatentes. Eu sei porque tenho observado muitos dos seus almoços-convívios. Paro, sempre extasiado pelos abraços emotivos que vejo”.

Vista parcial do destacamento de Cutia, imagem extraída do blogue Rumo a Fulacunda, com a devida vénia
Localização do destacamento de Cutia
Crachá da CCAÇ 15
Estandarte do CCAÇ 15
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24912: Notas de leitura (1642): Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro (1931-1939) - Parte III: A lenda de Ohbapuma (ilha de Orango, arquipélago dos Bijagós)

domingo, 12 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24842: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XIII: Cutia: últimas fotos: mulheres, bajudas e crianças sempre à volta de um recurso escasso mas vital para a sua comunidade, a água











Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Cutia > s/d> Mulheres, bajudas e crianças sempre à volta de um recurso vital, para a sua comunidade, a água.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Anexa-se a última parte da série de fotos sobre Cutia, destacamento e a tabanca que ficava a meio caminho entre Mansoa e Mansabá. (*)

Na altura, havia em Cutia um Pelotão da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2855 (Mansoa, 1969/71) e ainda o Pel Caç Nat 61 (ou Pel Caç Nat 57) e ainda um Esquadrão do Pel Mort 2004. 

A organização e a seleção das fotos são feitas pelo seu amigo e nosso camarada, o médico Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa), tendo passado depois pela Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Deve estar com 87 anos (!). Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Estamos-lhe muito gratos pela sua generosa partilha.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 19 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24671: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XII: Cutia: capinadores, missa, coluna para Mansoa, Berliets

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24672: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXV: Um estranho sonho em Gandembel: "apanhado" pelo PAIG

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > Visita ao antigo aquartelamento português, por parte dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau,l 1-7 de março de 2008) > 1 de março de 2008 > Restos do aquartelamento português, abandonado em 28 de janeiro de 1969, e posteriormente ocupado e dinamitado pelo PAIGC (facto a confirmar: também há outra versão, a de que o quartel, construído de raíz,  foi destruído pela FAP, o que seria mais verosímil)...  A importância estratégica de Gandembel / Balana em pleno corredor de Guiledje (bem como a sua heróica defesa, ao longo de nove meses, pela CCAÇ 2317 e outras forças portugueses, incluindo o BCP 12), não foi esquecida, apesar da posterior mediatização de Guileje...(*)

Foto (e legenda)  © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias do Aamadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (**).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.


Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC".


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXV:

  Um estranho sonho em Gandembel (pp. 252-256)

 

Três dias depois de chegarmos do Boé, saímos de Quebo e fomos largados na tabanca abandonada de Gandembel, com a missão de nos emboscarmos na zona durante duas noites.

As minhas condições físicas não eram muito boas.

Três meses atrás, no Cupelom, em Bissau, quando estava a jogar o loto, a dinheiro, com vários companheiros, todos graduados, alguém gritou que vinha aí a polícia militar.

Arrancámos a correr do local, cada um para o seu lado, eu bati com o dedo grande do pé num pilar e o dedo estalou. Andei cerca de um mês a fazer fisioterapia no Hospital Militar em Bissau, mas mesmo depois dos tratamentos, quando calçava a bota, o dedo inchava e eu tinha dificuldade em andar. Durante algum tempo, entrei em Brá com uma bota num pé e um chinelo no outro.

Quando regressei dos três dias em Madina do Boé, descalcei a bota em Quebo e o dedo estava todo inchado. O descanso de três dias, que nos deram, não chegou para ficar bom e fui para Gandembel com uma bota e um chinelo.

Na primeira noite que dormi em Gandembel, adormeci quase de madrugada e sonhei um sonho idêntico, com poucas diferenças, ao que o Capitão João Bacar Jaló tinha sonhado em Jufá, quando foi morto. O sonho era este que vou contar... 

Vi-me com o meu guarda-costas a entrar numa tabanca, toda cercada de troncos de árvores. Começámos a revistar as casas e a perguntar quem tinha arma. Já à saída, pelo outro lado da tabanca, vi na última casa um homem sentado na cama, com uma arma, uma Mauser, encostada ao lado. Atingiu-o mortalmente com dois tiros e mandei o soldado apanhar a arma.

Quando estava a sair da casa,  vi um caminho com pegadas, muito utilizado. Entrei por ele até um pé de limão , com os ramos até ao chão, que não deixavam ver para mais longe. Fui até ao limoeiro e apareceu-me outro velhote, o mesmo com quem eu tinha sonhado há mais de dois meses.

Nesse sonho de há dois meses atrás, eu tinha visto esse velhote, à porta do quartel de Brá, a vender umas calças bonitas, riscadas , que na altura custavam 425 escudos e ele estava a vendê-las por 200. Achando o preço barato, escolhi dois pares e pedi-lhe que as guardasse e as trouxesse no dia seguinte, porque naquele dia não tinha dinheiro comigo. Ele respondeu para eu as levar e que no dia seguinte entregasse o dinheiro ao Cicri Marques Vieira, que era seu sobrinho. Recusei ficar com as calças, e voltei a dizer-lhe que,  se mas quisesse vender,  voltasse no dia seguinte, que eu comprava-as.

Estava neste ponto do sonho do homem das calças, quando acordei às 06h30, que era a hora do costume da gente se levantar. Nessa manhã, por volta das 11h00, apanhei uma viatura até à praça de Bissau e dirigi-me a um estabelecimento, onde comprei sete metros de fazenda bonita, riscada, que dei de esmola a um homem com aspecto de necessitado.

Voltando a Gandembel, ao sonho. Então, quando estava a sair da tabanca, vi o tal pé de limão no meio do carreiro e com muitos ramos pousados no chão, que impediam ver para além. Quando cheguei junto do limoeiro~, vi o velhote, o tal das calças, com que me tinha cruzado no sonho de há dois meses atrás.

Agarrei-lhe na mão e perguntei-lhe onde ia. Que ia para a casa dele.

Moras nesta tabanca?

Sim respondeu.

Tens arma?

Cá, só uma pessoa tem arma, que é o dono dessa casa ali à entrada.

A pessoa a quem o velhote se referia,  era o que, em sonho, eu tinha morto.

Perguntei se os combatentes vinham à tabanca e se hoje já tinham vindo.

Eu saí muito cedo. Por este caminho não vieram, agora não sei se tomaram outro caminho.

Tem dois caminhos? Onde é o outro ? perguntei.

Disse-lhe para me acompanhar, contornámos um local, onde estava caída, talvez há muitos anos, uma grande árvore, com um tronco grosso. Não havia espaço para passarmos os dois e fui à frente, para passar o tronco. Do outro lado, estava uma força de jovens do PAIGC, todos fardados e equipados com todo o tipo de armas. Eu quis fugir mas o velhote não me deixou, agarrou-me por trás e entregou-me ao PAIGC.

O comandante deles deu ordem para me amarrarem. Logo apareceu alguém com uma corda nova e amarraram-me os dois braços nas costas. Pedi para não me amarrarem, tinha o dedo grande do pé estalado, estava inchado e que não podia fugir. Trazia calçado uma bota num pé e um chinelo no outro.

 Criminosos! Até com pés partidos são voluntários para ir para a guerra! gritou o comandante.

 Não é assim, não! Nós somos obrigados, não somos voluntários! respondi.

Mandou tirarem-me a corda. Vindo não sei de onde,  surgiu um jipe que parou e o chefe mandou-me embarcar. Entrei no jipe, este pôs-se em andamento e reparei, então, que ia um europeu e que o condutor era mulato. Quando demorei os olhos no branco,  ele disse-me que, se eu me comportasse bem, talvez viesse a trabalhar com o PAIGC e com ele, que também tinha ido aprisionado.

 Onde foste preso ? perguntei eu no meu sonho.

Em Cutia respondeu.

- Cutia? Eu ouvi contar uma história de um soldado europeu, que tinha desertado com a Mauser de um milícia, em Cutia.

 Sim, fui eu, mas não desertei. Eu sempre que ia à fonte buscar água,  ouvia galinhas de mato a levantarem e, um dia, resolvi pegar na Mauser de um milícia. A Mauser é mais certeira, e fui sozinho tentar caçar alguma. Só que o PAIGC estava emboscado, à espera das mulheres dos milícias, que também iam a essa fonte buscar água, para as capturarem. E foi nessa altura que me apanharam. Se eu tivesse a intenção de fugir, não ia com a Mauser, levava a minha G-3, que talvez fosse melhor recebido.

No caminho chegámos a uma tabanca. O jipe parou, o soldado europeu saiu e, quando eu me preparava para sair também, o condutor fez-me sinal com a mão para aguardar. O mulato mascava qualquer coisa, talvez noz de cola. Tirou da boca a baba que estava a mascar e cuspiu-a no meu dedo inchado e com os dedos espalhou aquela baba em cima da unha do meu dedo estalado. Quando acabou de massajar, o soldado branco que estava ao lado disse-me:

 Calma, todas as pessoas que vêm para aqui, como detidos, têm que fazer isso.

Mandou-me acompanhá-lo a uma casa grande, que estava à nossa direita, com as portas fechadas e com buracos nas paredes e vi lá dentro gente com roupa branca vestida.

Aqui é a prisão dos civis e ali, naquela casa pequena, é a dos militares, estão lá alguns.

Deve fazer muito calor lá dentro observei.

É por isso que a porta tem buracos para entrar ar.

Meteu a chave na porta, abriu-a e, nesse momento, acordei.

Acordei admirado com o sonho e a pensar nele. Tirei um pedaço de cola que guardava debaixo do cantil, mastiguei-o e cuspi no meu dedo. Um soldado que estava ali perto, veio para ao pé de mim e perguntou se isso era para todos ou se era só para mim. Que era só para mim, que era um sonho que eu tivera.

Que sonho?

Esse soldado era filho de um padre muçulmano, de Bissau, e contei-lhe tudo. Ele disse que, se fosse ele, se fingia de doente para ser evacuado. Não vale a pena, respondi. Que no meu sonho tinha sido amarrado e desamarrado. Que tinha sido preso por balantas mas quem me escoltara fora um soldado branco e que o condutor era mulato. E que quando chegámos à prisão, o branco abriu a porta e nesse instante acordei. Por isso, não tinha nada a recear.

Foi desta forma que eu interpretei o sonho. O facto de ter o pé inchado, que era uma coisa real, salvou-me no sonho, que foi quando o comandante do PAIGC me mandou desatar.

As coisas reais, as que se passaram mesmo, foi o acidente com o meu dedo, o soldado europeu que desapareceu em Cutia e que vim a encontrar quando regressámos de Conackry.

Passámos a segunda noite em Gandembel e na manhã do terceiro dia recebemos ordem para nos prepararmos para partir para Guileje. Fomos a pé e chegámos a Guileje, por volta das 16h00.

Estivemos lá três dias à espera de alguma ordem, que nunca mais chegava. No quarto dia arrancámos para Gadamael Porto, com a indicação de apanharmos o barco de regresso a Bissau. Tudo correu conforme o previsto e embarcámos, rumo a Cacine. Estavam lá os páras, que foram nossos companheiros de viagem para Bissau.

(Revisão / fixação de texto / negritos: LG)

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(**) Último poste da série > 9 der setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24634: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIV: O jogo do rato e do gato; da Caboiana a Madina do Boé, abril de 1972