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sábado, 14 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26919: Tabanca Grande (576): Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 906

1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), com data de 12 de Junho de 2025:

Caro Luis Graça,
Largos anos passados desde a minha "estadia" na Guiné, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, onde comandei o Pelotão de Caçadores Nativos 57, no Destacamento de Cutia e em Mansabá, aqui estou a candidatar-me a “tabanqueiro”, apadrinhado pelo Carlos Vinhal, meu “escrivão”, segundo ele diz, pois coadjuvava-me na elaboração dos autos de procedimento disciplinar, quando os havia.

 O outro meu padrinho é o meu amigo Ernestino Caniço que comandou um pelotão de Daimlers  quando estava em Mansabá. Foram eles que chegaram até mim, passados tantos anos! E, por isso, estou-lhes grato.

Estive a comandar o Pelotão de Caçadores Nativos 57, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, em Cutia, um pequeno destacamento, a meio caminho (15 kms) entre Mansoa e Mansabá, e, depois, em Mansabá, aquando da construção da estrada entre Bironque (a 5/6 kms a norte de Mansabá) e Farim.

Tal como tu, certamente, vivi momentos difíceis e complicados, agravados pelo facto de ter comigo apenas meia dúzia de camaradas metropolitanos, pois os soldados do pelotão eram todos eles naturais da Guiné, de diversas etnias e viviam na tabanca cá com a respectiva família.

Apesar de tudo, foram dois anos que jamais poderei esquecer e que lembro todos os dias. E nessas memórias estão os camaradas com quem convivi e de quem tenho as melhores recordações.

Tal como me referiste no teu mail, remeto uma foto desses tempos da Guiné e uma actual.

Será um privilégio fazer parte deste grupo de combatentes.

Um abraço, Camarada,
Jacinto Rodrigues
ex-alferes miliciano

Alf Mil Art Jacinto Rodrigues
Mansabá > Cap Inf Carreto Maia, cmdt da CCAÇ 2403 (de cabeça descoberta); Alf Mil Art Jacinto Rodrigues, cmdt do Pel Caç Nat 57 (sentado) e Alf Mil Cav Ernestino Caniço, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (à direita da foto).
Mansabá > Uma equipa de futebol, onde o editor reconhce o Alf Mil Art Jacinto Rodrigues, na fila da frente, à direira. O Alf Mil Cav Ernestino Caniço é o terceiro, a partir da esquerda, na fila de trás.
Interior do destacamento de Cutia. Foto © César Dias
Localização do destacamento de Cutia, sensivelmente a meia distância entre Mansabá e Mansoa
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (Carta da Província da Guiné - Escala 1:500.000)
O nosso camarada Jacinto Rodrigues na actualidade
Arganil > Encontro de 2025 do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Três ilustres tertulianos do nosso Blogue: ex-Alf Mil Cav Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Art Jacinto Rodrigues e ex-Cap Mil Jorge Picado
Arganil > Encontro de 2025 do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Jacinto Rodrigues e Ernestino Caniço

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2. Comentário do editor CV:

Caríssimo camarada Jacinto Rodrigues, está apresentado oficialmente à tertúlia. Terá ao seu dispor o lugar estatístico 906 debaixo do nosso poilão, mas "sentar-se-á" onde muito bem entender.

Dizem as nossas normas, "muito rígidas" (ver aqui), que na tertúlia nos tratamos por tu e não distinguimos os antigos e actuais postos militares; profissões; habilitações académicas e outras possíveis distinções sociais.  

Une-nos aquela terra vermelha, manchada com o sangue de portugueses e guineenses; a água daquelas bolanhas que bebemos quando a sede já não era mais suportável; os sustos das emboscadas; as muitas noites mal dormidas, no mato e nos aquartelamentos, e a incerteza do regresso para junto das nossas famílias. Além de tudo, só nós nos compreendemos já que a família está farta de nos ouvir.

O editor Luís Graça delegou em mim a missão de receber o ex-alferes Rodrigues, meu contemporanêo em Mansabá, um camarada cordial no trato. É uma honra e um gosto fazê-lo, tratando-se de quem se trata.

Lembro-me de entrar na secretaria da CART 2732 e, dirigindo-se a mim, dizia algo parecido como: "nosso furriel, tem disponibilidade para me escrever aí à máquina umas notas para eu enviar para Bissau?" Segundo me dizia, era preciso manter activos os autos de que era responsável, pelo que de vez em quando havia que mandar papelada para a Secção de Justiça e Disciplina.

Quando há uns bons meses o camarada Rodrigues me contactou por me ter encontrado na net, foi um desfilar de lembranças daqueles tempos que,  sendo maus, são vivências da nossa juventude, irrepetíveis, que jamais se apagarão da nossa memória de velhos combatentes.

Neste blogue temos a oportunidade de deixar escrito o que ainda retemos daqueles dois difíceis anos da nossa vida, pelo que convidamos o "alferes" Rodrigues a contribuir para esta feitura de memórias.
Que retém do comportamento dos seus militares guineenses enquanto combatentes ao lado dos portugueses? Que experiência lhe trouxe para a vida o contacto tão próximo com pessoas que tinham um modo de pensar e de viver tão diferentes dos nossos? A história, filosofia de vida e religião daquele povo, apesar dos nossos estúpidos preconceitos, mantinham-se praticamente intactos, resistindo a séculos de evangelização. 


Caro Jacinto Rodrigues, está apresentado. Não termino sem antes de lhe deixar o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, com a certeza de que estaremos aqui ao dispor para o que nos achar úteis.
Se quiser que lhe façamos um postalinho de aniversário, só tem que nos indicar o dia e o mês em que nasceu, o resto é connosco.

Os meus votos de boa saúde
Um abraço a título pessoal do furriel escrivão
Carlos Vinhal, por acaso, também coeditor deste Blogue.

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Nota do editor

Último post da série de 25 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905

12 comentários:

José Martins disse...

Benvindo a "bordo". Abraço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, apreciei o teu gesto, dando as boas vindas a mais um "nharro de 1ª classe"... (Que ninguém me leve a mal, a começar pelo Jacinto Rodrigues, e me venha acudar de "racista", mas a verdade é que os "brancos" das "africanas", as CCAÇ / CTIG, e os Pel CAç, os Pel Art, éramos "tratados" com alguma condescendência e paternalismo, gente da "tropa-macaca"... Ou era impressão minha ?... De qualquer modo, Jacinto, cultivamos o bom humor, o humor de caserna...).

Jacinto, convidei-te à um mês e tal. Obrigado por teres aceite o convite. Estás aqui na Tabanca Grande, de pleno direito, E,. como já viste, muito bem acompanhado: Carlos Vinhal (que te deu tratamento VIP!), Ernestino Caniço, Jorge Picadado..., etc. E eu próprio, que também era "nharro de 1ª", em Bambadinca, teu vizinho, mas já no Leste, na CCAÇ 12 (maio 69 / mar 71), tendo conhecido pelo menos 3 Pel Caç Nat, o 52, o 54 e 63...

Mantenhas, e os bons irãs vos protejam, a ti, Jacinto, e ti, Zé, veteraníssimo "Gato Preto"...

Cesar Dias disse...

Bem vindo Rodrigues, é bom haver mais alguém que possa falar de Cutia com conhecimento de causa, essa foto foi tirada quando fui armadilhar o carreiro, possivelmente eras tu que estavas em Cutia, foi em 1970. Um abraço amigo..

Anónimo disse...

Caro amigo Jacinto
Bem-vindo ao nosso poilão. Ao teres aceitado o convite do Luís Graça, cumpriste a promessa que havias feito num dos nossos encontros. Serás uma mais-valia para a nossa Tabanca Grande com os teus contributos preciosos.
Um abraço fraterno,
Ernestino Caniço

Jacinto Rodrigues disse...

Camaradas e Amigos, obrigado pela v/ calorosa recepção que me deixou emocionado! Confesso que não tenho ideia de qualquer qualificativo pelo facto de comandar um pelotão de nativos! Mas sei que só podia ser de carinho, pois, afinal, todos fazíamos o mesmo. Curioso é que embarquei no navio Ana Mafalda sabendo, tão-somente, que ia para a Guiné. Sobre as circunstâncias em que soube que iria comandar um pelotão africano, contar-vos-ei mais tarde…Um obrigado ao amigo Vinhal( notei uma violação das regras instituídas, o não tratamento por TU!) por tão simpáticas palavras. Até breve e um abraço com amizade, Camaradad

Jacinto Rodrigues disse...

Um abraço ao amigo e camarada, Caniço, também companheiro de algumas aventuras que só a nossa juventude de então pode explicar…

Jacinto Rodrigues disse...

Amigo César, do “carreiro” lembro-me bem, pois passei muiiitas horas aí, de dia e de noite, algumas vezes com visitantes esperados mas não desejados…Dele ser armadilhado não me recordo, pois em 1970, penso que nesse ano só lá estive no mês de janeiro e talvez fevereiro. Um forte abraço

Jacinto Rodrigues disse...

Obrigado,Luís por me aceitares na tabanca! Espero corresponder ao espírito que nos une! Um abraço

Jacinto Rodrigues disse...

Um abraço e obrigado para este veterano

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jacinto, já vi que te entendes bem com estas "blogarias"... Quanto às nossas regras são simples: o tratamento por tu, à romana, entre antigos camaradas de armas, não é "absolutamente" obrigatório... O Carlos Vinhal é uma pessoa educada, conhece-te, sempre te tratou por você... Com o tempo, lá irá...

Relativamente ao resto, falamos de tudo (sobre a Guié e a nossa guerra...). Com 3 exceções: religião (proselitista), política (partidária), futebol (clubístico)...Isto: não trazemos para aqui a atualidade. Náo perguntamos a ninguéms e vai à mesquita, se é a "andrade" ou se gosta mais do preto, do azul, do branco, do amarelo ou do vermelho...

Andámos 20 anos com total liberdade para comentar nesta caixinha (que é montra traseira do blogue)... Há uns meses introduzimos a "moderação"... Às vezes há gente que se excede... Tenho pena...Mas tirando isso, lá vamos blogando e rindo... Temos que saber mais de ti, e das tuas andanças pelo Oeste...da Guiné.

Com um alfabravo (ABraço) do Luís...

Carlos Vinhal disse...

Boa tarde, camaradas
Tenho que vir aqui justificar a minha nem sempre adesão ao tratamento por tu, que nem eu sei bem explicar. Acho que preciso de algum contacto pessoal para me sentir mais próximo. Sem dúvida que dos oficiais que não fizeram parte da 2732, o Ernestino Caniço e o Jacinto Rodrigues são aqueles de quem me lembro perfeitamente, mais até do Rodrigues porque lidei com ele mais tempo, até como escrivão dos seus autos, como já disse muitas vezes.
Por exemplo, dos 4 alferes da 2732, só trato por tu o Francisco Baptista pela nossa proximidade geográfica, somos quase vizinhos, e porque estivemos depois da Guiné montes de vezes juntos, inclusive em Monte Real. Além disso, os nossos contactos telefónicos são frequentes. Em relação ao "meu alferes", o Américo Bento, que só vi duas vezes depois da Guiné, como ao "alferes" Luís Rodrigues, que nunca mais vi, continuo a usar o tratamento formal. A propósito, gostava de dar um grande abraço ao Luís Rodrigues, de quem tenho boa memória. Vive em Torres Vedras e já falámos ao telefone.
Diz o Luís Graça que sou educado. Diria, não mais do que qualquer pessoa. Nunca na tropa tratei por tu qualquer soldado ou cabo, fosse em instrução ou na Guiné.
Na minha vida profissional tive colegas, da minha idade, a trabalhar lado a lado os quais nunca tratei por tu. Mais tarde, enquanto responsável pela minha secção, nunca usei o tratamento por tu em relação aos meus "subalternos", excepto àqueles que por qualquer tipo de proximidade já assim tratava, e nunca dei uma ordem que não usasse o "por favor" e agradecesse no fim do trabalho feito.
Feitios.
Abraço
Carlos Vinhal

Carlos Vinhal disse...

No meu comentário anterior, talvez por já não estar entre nós, injustamente não referi o nosso eterno "comandante", o "alferes" Manuel Casal. Comandou a nossa 2732 para a Guiné, e comandou-a no regresso. Estive pessoalmente com ele algumas vezes, depois do regresso, inclusive visitou-me em minha casa, tratava-o por Manuel Casal, mas não por tu.
Carlos Vinhal