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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26915: As nossas geografias emocionais (52): Welcome to New York (António Graça de Abreu, Cascais)


1. Mais um "postal" enviado pelo nosso (e)terno viajante António Graça de Abreu, em 10 de abril de 2025, 02:36.  Publicado originalmente na sua página do Facebook em 25 de fevereiro de 2025, 17:52

 
 Nova Iorque, Estados Unidos da América

Welcome to New York, it’s been waiting for you.


Uma curta semana em Nova Iorque. Tentar, de pés bem assentes no chão, avançar na descoberta e leve entendimento da cidade.

Pela primeira vez metido lá dentro, em Manhattan, rua 46, um pequeno apartamento alugado, segundo piso numa vetusta construção de cinco andares entre arranha-céus. Logo por baixo, fumega um restaurante de churrascos argentinos, largando um cheiro a parrilhadas de carne magra e gorda que tresanda. 

Ah, mas estou no coração da Big Apple. Aqui a norte, o Central Park -- um abraço a John Lennon, homem de todas as canções, de todos os sonhos --, ao lado Times Square e a Broadway, o excelso melting pot norte-americano, a Quinta Avenida, a ostentação e o luxo, o teatro das gentes.

Foram quilómetros e quilómetros a pé, por ruas e avenidas até ao sul de Manhattan. Chelsea, Tribeca, a Chinatown com estátuas de Confúcio (551 a.C - 469 a.C.) e Lin Zexu, o herói da Guerra do Ópio, em 1839/42. 

Mais a sul, tristeza, o memorial às vítimas dos aviões loucos que em 2001 colidiram deliberadamente com os dois edifícios do World Trade Center, provocando quase três mil mortos. Hoje a construção toda em vidro com nome de One World, levantado sobre as ruínas dos dois World Center é o sétimo maior arranha-céus do mundo, com 540 metros de altura e 104 andares. Não longe, Wall Street, e anexos, a exaltação do dinheiro, o maior centro financeiro do mundo.

Desta parte da Lower Manhattan se viaja no itinerário curto por barco para a ilhota onde se ergue a Estátua de Liberdade, com paragem em outra pequena ilha, Ellis Island. Aqui se procedia no passado à quarentena e exame médico dos pobres emigrantes europeus que buscavam a América na ilusão da terra do feliz concretizar de todos os sonhos. E quanta tragédia e vilania.

Ah, Nova Iorque tem tudo. Vêmo-la quase todos os dias entrando em nossas casas, com infindáveis histórias na TV. Temos o embeber das aventuras das quatro desvairadas mas brilhantes mocetonas do “Sex and the City”, os intrincados enredos nova-iorquinos de Woody Allen, quase nada e tudo “once upon a time in America.”

Sim, mas os museus de Nova Iorque com tanta Europa transplantada lá para dentro, (o dinheiro compra quase tudo). Que maravilha! A lenta passagem pelo Metropolitan Museum of Art, o Guggenheim, o MoMA e a Frick Collection.

 Fotografando e tomando notas do genial abrir da cor dos pincéis, dos encantos mil, do requintado alvoroço, corações batendo, o baloiçar do olhar. Escrevi:

  • El Greco em Toledo, águas negras do Tejo, prata pendurada nas nuvens, 
  • Velasquez, o retrato da infanta triste, no rosto, maçãs róseas de futuro, 
  • Breughel, o Velho, as ceifeiras crescendo no ouro ondulante das searas, 
  • Vermeer, um beijo na menina sem brinco de pérola, um sorriso iluminando o mundo, 
  • Goya, gatos, pássaros e a criança imaculada como o nascer do dia, 
  • Ingres, a duquesa azul, formosa e serena, uma deusa no céu, 
  • Cézanne, no vale do Oise, pintando o chilrear dos pássaros, 
  • Van Gogh nos trigais de Arles molhando os pincéis no orvalho das nuvens, 
  • Renoir, as crianças azuis com o sol poente embalando a lua, 
  • Picasso, as mãos no decote das meninas de Avignon, não disse nada, pintou tudo,
  • Modigliani, as mulheres nuas, sinuosos querubins, a dádiva, o prazer,
  • Gauguin, o sol quente entrando por dentro do mar, gáudio no rubor das ondas,
  • Chagall, o violinista verde e roxo, um sapato preto, outro branco, até um homem voa,
  • Warhol e Marilyn, a boca entreaberta, um ícone, o desenho dos deuses.

  • Frank Sinatra e Lizza Minelli, ainda com memórias de Leonard Bernstein, entoando loas a Nova Iorque. Assim:

    If I can make it there,
    I'll make it anywhere,
    Come on, come through,
    New York, New York.


    António Graça de Abreu

    (Revisão / fixação de texto, edição de foto, links, itálicos e negritos, para efeitos de publicação no blogue: LG)
    ________________


    Nota do editor:
    Último poste da série > 11 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26907: As nossas geografias emocionais (51): Jerusalém, Israel (António Graça de Abreu, Cascais)

3 comentários:

Antº Rosinha disse...

Esse mundo louco que a civilização europeia inventou, de um dia para o outro, deixou meio mundo desnorteado, principalmente na desnorteada américa latina.
Criança latino-americana que não visse disneylândia não é gente.
Daí aquela invasão que trump quer combater, actualmente.
Foi uma verdadeira colonização que até a Europa foi atingida.
Só gosto de filmes de cóbois!
Só Fidel e Salazar, disseram não à cocacola!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A mais brilhante, poética e sintética apresentação da pintura europeia a ver em Nova Iorque... que eu até agora li. Obrigado, António.

Eduardo Estrela disse...

Também eu fui a Nova York. Muitas e variadas vezes. De seis em seis dias, 2 ou mais grupos de combate da guarnição militar de Cuntima saíam por períodos de 48 horas. No regresso e quando estávamos perto do arame farpado essa era uma das minhas costuma das observações. Chegámos a Nova York.
O resto fica para a vossa imaginação duma realidade que também vos obrigaram a viver.
Grande abraço
Eduardo Estrela