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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24089: Historiografia da presença portuguesa em África (356): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
Cedo se informou que os dois volumes existentes na biblioteca da Sociedade de Geografia encerram um conjunto lacunar de atas do Conselho Consultivo e depois Legislativo da Guiné, tudo começa em 1917, há diferentes hiatos, faltas que não permitem tentar sequer uma leitura diacrónica do ideário da governação desde a I República até 1971, assomam iniciativas generosas, defesa de interesses económicos, avultam as preocupações com a exequibilidade orçamental, em dados momentos homenageiam-se líderes do Estado Novo, e é percetível o que diferencia Schulz e Spínola, o primeiro no uso da prudência, não querendo asfixiar as finanças da Guiné, exigindo um Plano de Fomento auto-sustentado, o segundo referindo que recebeu meios avultados para pôr em prática a sua Guiné Melhor, e daí a disparidade dos orçamentos destes dois governadores. Para quem pretende estudar a História da Guiné, é compreensível que se sugira a análise desta fonte documental, a despeito de tanta lacuna.

Um abraço do
Mário



Atas de Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné:
Uma fonte documental que não se deve ignorar (10)


Mário Beja Santos

Pode julgar-se à partida que estas reuniões em que se discutiam requerimentos, taxas e emolumentos, em que funcionários da administração se pronunciavam sobre salários e infraestruturas, num órgão consultivo em que compareciam chefes de serviços, comerciantes, profissionais liberais, em reuniões presididas pelo Governador, ou pelo Governador Interino, ou pelo Encarregado do Governo, eram suficientemente enfadonhas para não acicatar quem anda à procura de outros ângulos do prisma que nos ajudam a formar uma visão mais abrangente da História da Guiné. Muitas vezes sem interesse para o historiador/investigador, atrevo-me a dizer, mas há ali casos de tomadas de posição ou declarações que nos ajudam a melhor entender a mentalidade, as iniciativas seguramente generosas que ali se formularam e que não tiveram seguimento, ou mesmo o aproveitamento daquele palco para que um Governador tecesse, em forma de sumário, o que se procurava fazer durante o seu mandato.

Os tempos mudaram, já se fez referência que as sessões do Conselho Legislativo têm participação pública, é ótimo para a conversação mediática que Spínola quer manter com os guinéus, começou logo em 1968, e será uma constante do seu mandato. Já se fez referência à sessão de 10 de dezembro, nas vésperas do fim de ano o Conselho reúne-se e aprova o orçamento da Província para 1969, mas é a 14 de abril que o Conselho tem direito a aparecer nos televisores: comparecem Marcello Caetano e Spínola, vão falar para a Guiné, mandam recado para o Império.

Com pompa e circunstância tem a palavra o vogal Joaquim Baticâ Ferreira: “Nasci e vivo na Guiné, onde sou chefe da comunidade Manjaca, mas todas as raças desta Província estão unidas pela sagrada bandeira de Portugal. É por isso que falo em nome da população nativa da Guiné, para dizer a Vossa Excelência que a nossa firme determinação é a de continuar a ser portuguesas.” E apoia o projeta da Guiné Melhor: com boas estradas alcatroadas e portos fluviais; com mais escolas primárias e estabelecimentos de ensino; com mais hospitais, maternidades e postos sanitários.

Tomou seguidamente a palavra António de Spínola: “A Província encontra-se em guerra, aqui luta-se e morre-se pela causa sublime da paz. Vastos e complexos sãos os seus problemas de guerra e de paz, uns já em fase de resolução, outros equacionados, outros ainda apenas esboçados. A Província caminha na senda do seu desenvolvimento económico-social no quadro das estruturas de uma Guiné Melhor.”

Por último, discursou Marcello Caetano: “Os governantes e as autoridades têm procurado incessantemente combater a doença, a miséria, a opressão, como neste momento lutam lado a lado com as populações nativas e as Forças Armadas contra os perturbadores da Paz. O desenvolvimento do território não se obtém na confusão e no tumulto. É obra de amor. É fruto do trabalho. É resultado do emprego intensivo, adequado e oportuno das técnicas que o nosso tempo coloca à disposição do Homem. Portugal está aberto a todos os seus filhos. Mesmo aqueles que algum dia hajam hesitado no caminho e duvidado de que a bandeira verde-rubra fosse o estandarte da liberdade e do progresso, mesmo esses serão bem recebidos se reconhecendo o seu erro. Foi para proteger a admirável fidelidade da gente da terra que da Metrópole e de outras províncias alguns milhares de portugueses dos exércitos da terra, do mar e do ar, vieram reforçar as forças de segurança da Guiné. Unidos nas mesmas dificuldades, nos mesmos riscos e nos mesmos perigos. E no decorrer das ações em que tiveram de enfrentar armas estrangeiras, brandidas pelos agentes da subversão, caíram lado a lado soldados da Guiné e de outras terras portuguesas, misturando o seu sangue generoso na defesa da causa comum. A terra adubada pelo sangue há de florescer. Da nossa vontade, da vontade de nós todos, portugueses de todas as etnias para quem a Guiné constitui parcela da Pátria, depende que o milagre se produza.”

A biblioteca da Sociedade de Geografia inclui atas até 1971, vale a pena mencionar alguns títulos. Em 30 de outubro, Spínola retoma as linhas do seu plano para a ativação do progresso económico-social da Guiné (aumento de salários, subsídio do custo de vida, vencimento para as autoridades tradicionais, apoio pecuniário para um novo gerador destinado a Bissau, reapetrechamento da Imprensa Nacional, melhoramentos em várias localidades, aquisição para os TAGP de 3 aviões, asfaltagem de estradas, saneamento, etc., etc.). Na circunstância o diretor da Fazendo comentou: “Continua a Província a dispor de uma balança de pagamentos com saldos positivos confortáveis e que neste momento se cifra em cem mil contos”.

Em 29 de dezembro ainda desse ano de 1969, a sessão abre com uma exposição de Spínola pondo ênfase na execução de uma política de valorização e dignificação humanas, foi dentro dessa perspetiva que se elaborou o Plano de Ação para 1970 e revelou com alguma minucia as linhas gerais quanto a: comunicações, agricultora e pecuária, assistência médico-sanitária, educação e cultura, melhoramentos rurais, trabalho, economia, justiça, setor administrativo. Em 30 de outubro do ano seguinte, Spínola procede a um balanço da execução do Plano de Ação, e em dada altura observou: “O progresso da Guiné, como parcela de uma nação caracterizadamente africana e multirracial, terá de aferir-se pelo número dos lugares públicos ocupados no futuro proporcionalmente a cada uma das etnias, pois temos de ter bem presente que não se pode construir uma sociedade em bases sólidas e duradouras sem a elevação cultural das massas portuguesas africanas.”.

Era um novo acento tónico da política da Guiné Melhor, declaradamente o conceito da Guiné para os guinéus, os lugares cimeiros ocupados pelos cabo-verdianos passariam a ser ocupados por guineenses. Em 18 de dezembro desse ano é apresentado o diploma legislativo destinado a aprovar o Regulamento do Ensino Primário Elementar da Província da Guiné. Em 30 de dezembro, dando continuação às grandes metas do Plano de Ação para 1970, é apresentado e aprovado o Plano de Ação para 1971. Em 29 de outubro de 1971, Spínola refere-se à participação das populações na defesa da Província: “Criou-se o Comando-Geral da Milícia, estruturou-se em novos moldes o Corpo da Milícia e regulamentaram-se as suas atividades; igualmente foi regulamentada a atividade do Corpo dos Voluntários; formaram-se no corrente ano 720 milícias e estavam em formação mais 800; aumentou-se o efetivo da Força Armada Africana com um destacamento de Fuzileiros e uma Companhia de Comandos; organizaram-se em autodefesa mais 2360 elementos da população a quem foi destinado armamento. E em 22 de dezembro desse ano foram aprovados diferentes regulamentos, entre eles o da Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil da Guiné e o regulamento do Corpo de Milícias.”

Findam aqui as atas do Conselho Legislativo da Guiné, resta saber se nalgum arquivo ou biblioteca será possível encontrar um acervo mais completo do que este.

Receção a Marcello Caetano em Bissau, 14 de abril de 1969
António de Spínola, 1968, atrás James Pinto Bull
Postal de Bissau, vista da Avenida Marginal, 1960
____________

Nota do editor:

Postes anteriores de:

14 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23880: Historiografia da presença portuguesa em África (347): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (1) (Mário Beja Santos)

21 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23902: Historiografia da presença portuguesa em África (348): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (2) (Mário Beja Santos)

28 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23925: Historiografia da presença portuguesa em África (349): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (3) (Mário Beja Santos)

4 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23948: Historiografia da presença portuguesa em África (350): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (4), veja-se hoje como Sarmento Rodrigues pretendeu instituir mudanças no sistema de saúde, incluindo as farmácias e os medicamentos (Mário Beja Santos)

11 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23972: Historiografia da presença portuguesa em África (351): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (5) (Mário Beja Santos)

25 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24010: Historiografia da presença portuguesa em África (352): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (6) (Mário Beja Santos)

1 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24028: Historiografia da presença portuguesa em África (353): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (7) (Mário Beja Santos)

8 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24048: Historiografia da presença portuguesa em África (354): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (8) (Mário Beja Santos)

15 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24068: Historiografia da presença portuguesa em África (355): Actas do Conselho do Governo da Colónia/Província da Guiné: Uma fonte documental que não se deve ignorar (9) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23013: Notas de leitura (1422): “Descolonizações, Reler Amílcar Cabral, Césaire e Du Bois no séc. XXI”, é coordenadora Manuela Ribeiro Sanches; Edições 70, 2019 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
A promessa desta professora universitária, Manuela Ribeiro Sanches, que tem currículo em estudos do Império Português, era a de questionar o legado europeu numa altura em que o continente conhece novas divisões e racismos, em que a crise financeira e económica global, as pressões migratórias, introduziram confrontos e posições defensivas, em perfeito contraponto com uma tradição de abertura e ocupação ou presença noutros territórios, para comerciar e fazer vanglória deste modo de viver em democracia liberal, nos tempos atuais. Escolheu bem os pensadores que criticaram o processo colonizador europeu, muitas décadas atrás. Esperava-se que esta forma de visita trouxesse clarificações. O que aconteceu é que se juntaram à molhada intervenções por vezes muito dissonantes, falta-lhes qualquer forma de conexão. Isto a despeito de haver alguns textos de gritante qualidade. Uma ocasião perdida para retomar a análise das descolonizações, as de ontem e as de hoje.

Um abraço do
Mário



Questionar o legado europeu muito depois das descolonizações

Beja Santos

A obra intitula-se “Descolonizações, Reler Amílcar Cabral, Césaire e Du Bois no séc. XXI”, é coordenadora Manuela Ribeiro Sanches, Edições 70, 2019. O livro pode ser considerado como a conclusão de um projeto que envolveu esta investigadora e outros, iniciado há 14 anos. Começa por questionar a oportunidade de avaliar o legado europeu no momento em que a Europa conhece novas divisões e racismos, clivagens ideológicas nos quatro pontos cardeais. O projeto reflete sobre a deslocalização da Europa, deslocar até aos lugares em que produzimos saber, ocupámos em diferentes continentes, ouvir de novo três influentes pensadores do antigo colonialismo, que deram suma importância, pela crítica veemente ao colonialismo europeu e às desigualdades a nível mundial. São contributos vários, há entre eles dissonâncias, diria mesmo que há reflexões um tanto descabidas para o objetivo primordial do projeto. Alguém pergunta, no início: “Na nossa era, caraterizada pela ocupação de territórios, pela destruição do meio ambiente, por uma nova política de espoliação, por novas formas de escravidão, novas formas de colonização, que podemos aprender com a geração dos anticolonialistas? Que dizem eles que possam ainda ecoar em nós e nos ajude a imaginar novas formas de emancipação?”.

E clarifica mais adiante: “Cabral, Césaire e Du Bois participaram nos movimentos dos povos não-brancos do século XX que estabeleceram ligações transfronteiriças entre línguas, culturas e identidades nacionais/coloniais. Fizeram parte do longo século XX, da história das lutas em todo o mundo, ligando a negritude, os movimentos anticoloniais e feministas, os movimentos políticos e culturais pan-africano e pan-asiático, os movimentos de independência na Ásia e em África, a Conferência de Bandung de 1955, o Movimento dos Não-Alinhados, o Movimento dos Direitos Cívicos, o Black Panther Party, a luta palestina”.

A Europa delineada pelo Tratado de Utreque, de 1713, idealizava uma paz perpétua para toda a cristandade, um equilíbrio entre potências rivais, o comércio livre e os teóricos vaticinaram que esta comunidade se ligaria pela lei, pela moral e até pela colonização. Era um sonho eurocêntrico que, como bem sabemos, acabou em graves disputas na ocupação dos territórios, graças à avidez de matérias-primas. Césaire, em 1956, censurava o espírito que estava enraizado na Europa, da extrema-direita à extrema-esquerda de dispor e pensar pelos colonizados, exigia-se uma verdadeira revolução coperniciana, cortar com esse pensamento do dominador sobre o dominado.

A Guerra Fria, o confronto direto entre as duas superpotências, assumiu matizes específicos, ambas queriam influenciar os novos Estados independentes e os ainda colonizados, o pregão comum era o desenvolvimento, explorar todos os recursos. Ambas as superpotências apregoavam representar uma civilização superior. Assim se plantou o novo equívoco, o conceito de um desenvolvimento universal, as necessidades fundamentais, materiais e espirituais definidas como o comum a qualquer povo. Daí a resposta dos pensadores do anticolonialismo, exigindo uma nova atitude cultural dos povos libertados. Um estudioso angolano de Amílcar Cabral, António Tomás, reflete sobre o conceito de cultura do pai fundador da Guiné-Bissau. Para o estudioso, fica demonstrado que Cabral tinha um entendimento da cultura que chocava com a realidade da Guiné no tempo da guerra revolucionária. Cabral foi voluntarista, agia como que cabo-verdianos e guineenses se encontrassem em situações idênticas, a unidade era assumida como um dogma. “Cabral contava com os cabo-verdianos para fornecer os quadros para os escalões mais elevados do partido. Contudo, durante a guerra, só cerca de uma centena de cabo-verdianos trabalhava para o PAIGC. Só aos poucos eram atribuídas funções relevantes dentro do partido, além de tarefas burocráticas básicas. A maior parte vivia no quartel-general do partido em Conacri, trabalhando em escolas, hospitais, escrevendo panfletos e guiões radiofónicos, mas raramente se aventurando a ir para a luta no mato”.

No tempo da luta armada já era evidente que os grupos sociais apresentavam caraterísticas culturais manifestamente distintas. Cabral forjou a «cultura nacional», conceito englobante que abarcaria todas as diferenças e contradições das culturas particulares. Tomás observa um grupo étnico balanta, a sua coesão e ambições. E recorda que a política de Spínola assentava numa representação étnica onde os cabo-verdianos tinham um papel dominador, a Guiné Melhor refutaria tal privilégio, a Guiné era dos guinéus, com os antecedentes históricos existentes e com o exacerbamento destes novos quadros cabo-verdianos, a separação radical foi uma questão de tempo. Tomás conclui que a teoria de Cabral se baseava em explicações de fenómenos sociais que não davam conta do contexto real em que se encontrava.

Noutras intervenções deste trabalho é analisado o conceito de povo, ideologia e ciência em Amílcar Cabral, o pensamento de Du Bois e de Frantz Fanon, que estabeleceram um diálogo à distância. Inusitadamente, aparece um texto completamente fora do baralho intitulado “A política da tradução de conceitos deslocados”, bem curioso mas que no contexto só serve para encher papel, não liga com o antes nem o depois. Fica-se com a sensação que houve uma ideia arrojada, de voltar a pôr na linha da frente três figuras de proa da luta anticolonial mas o projeto entrou em desnorte ou por falta de colaborações apropriadas ou por se considerar que tudo ao molhe e fé em Deus, uma sala de conversa cacofónica era uma boa maneira de repensar a Europa, o Ocidente quando se reclamam novas formas de descolonização. Ideia arrojada para arranque de projeto, uma deceção nos resultados.

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23007: Notas de leitura (1421): “Declarações de Guerra, Histórias em carne viva da Guerra Colonial”, por Vasco Luís Curado; Guerra e Paz Editores, 2019 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20419: Efemérides (316): Foi há 50 anos que desembarquei em Bissau: fomos para a guerra, privilegiámos a paz! (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)


Guiné > Bissau > c.1970/71 > Chaimites evoluindo no estuário Geba em Bissau. À esquerda, o edifício das Alfãndegas
. As primeiras Chaimites chegam a Bissau, as V-200, para teste, em finais de 1970,  e depois a partir de 1971 vão substitundo algumas das nossas obsoletas viaturas blindadas, mas revelam alguns problemas, a nível da blindagem e do armamento.



Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71)  > A AM [autometralhadora] Panhard, companheira insubstituível nas nossas colunas.

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)





1. Mensagemn de António Ramalho, de 26 de novembro de 2019, 13h19

[ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas,  a viver em Vila Franca de Xira, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue;  A ccav 2639, mobilizada pelo RC 7, partiu para o TO da Guiné em 22/10/1969m e regressou a 25/9/1971; esteve em Binar, Pete e Bula; comandante: cap cav Alfredo Jorge Gonçalves Farinha Ferreira;era uma companhia independente, adida ao BCAV 2868; a companhia chegou a Bissau em 28/10/1969, o Ramalho só um depois depois; ficou 3 semanas por Bissau, e o mandarem para o mato em 20/12/1969]


Caro camarada Luís Graça, boa tarde.

Querendo comemorar os 50 anos da nossa chegada à Guiné, homenageando todos aqueles que já partiram, elaborei o texto que anexo para analisares e publicares no nosso Blogue, se assim o entenderes.

Gostaria de ver maior participação de elementos da minha Companhia, tenho feito algumas acções de informação, não vejo resultados, contudo não desistirei!

Quando nos encontraremos num almoço em Algés?
Um forte abraço para todos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (757)





2. Fomos para a guerra e privilegiámos a paz! 

por António Ramalho

Desembarcado em Bissau em Novembro de 1969, fui acompanhado por um T6 na subida do Rio Geba, um ruído ensurdecedor. Antes disso atravessei o Golfo da Guiné apinhado de barcos de pesca, uma imagem lindíssima, qual baía de Cascais, logo ali tive o primeiro sobressalto na manhã seguinte!Na noite anterior o Uíge ficou ancorado ao largo com a proa para Norte. Do meu camarote via a Bissau nocturna. Na manhã seguinte, quando acordei, vi floresta. Pensei que já nos tinham levado para outro local. Ignorância minha. Como os rios na Guiné sofrem de influência marítima, o navio tinha rodado, tudo bem! 





T/T Uíge > Lisboa-Bissau > Outubro de 1969 > "O primeiro (e único) cruzeiro da minha vida.



Guiné > Região Cacheu > Bula > Ponta Consolação > CCAV 2639 (1969/71) > Capunga > Reordenamento

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Desembarcado sem arma mas com bagagem, tinha à minha espera o meu conterrâneo João Unas, distinto marinheiro. Percorri Bissau num autocarro das Viagens Costa a distribuir camaradas pelos diferentes quartéis até que me apresentei no QG (Biafra), tal era a desordem! Feito o chek in fui almoçar ao Pelicano! 

Instalado nos Adidos à espera de transporte, ia diariamente ao QG (Biafra) saber da minha sorte. Não havia vaga, graças a Deus. Assim conheci melhor Bissau que, comparada com os dias de hoje está irreconhecível, um desconsolo! 

Mais tarde, nas poucas vindas a Bissau, era hóspede do meu amigo José Germano,  no quartel de Engenharia [, BENG 447], sempre principescamente recebido. Também em Bissalanca [, BA 12] saboreava as excelentes refeições e usufruía do ar condicionado dos Paraquedistas onde o meu conterrâneo João Belchiorinho me recebia. Já cá não estão os dois entre nós! 

Aproveitei os meus tempos livres para conhecer a cidade, os seus bairros. Fui ao Pilão, como era óbvio, aos seus mercados, às suas escolas e liceu, passei bons momentos na 5ª Rep., na Solmar, também fui ao Chez Toi, Messe da FA e passei pelo HM [ 241} conhecer e saber do estado de saúde de alguns camaradas que tinham sofrido umas pequenas escoriações numa emboscada em Binare. 

Fiquei com uma imagem que guardarei para toda a vida: sentados nos lancis dos passeios dos bairros de Bissau,  estudavam crianças à luz dos candeeiros da iluminação pública, que vontade de aprender, que encanto me proporcionaram aqueles jovens! 

Noutra ida ao HM apercebi-me da chegada de helicópteros. A minha curiosidade levou-me até às urgências, estarão a imaginar o dantesco cenário que presenciei naquela tarde! Que grande estímulo para um periquito! Resisti às imagens e ao ambiente tentando confortar aqueles que me ouviam... Não conheci ninguém! Na minha permanência nos Adidos em Bissau fiz rondas desde as antenas da EN, ao Presídio Militar onde numa das idas levei um oficial despromovido por “incompatibilidade” com outro oficial superior que foi calorosamente recebido pelos presentes, antes de o entregar tomámos uma cerveja e dei-lhe um abraço! 

Esperei um mês pela coluna de reabastecimento e lá fui até Binar (Missão do Sono) de onde voltei no mesmo dia para Bula, ficando alojado num Celeiro fora do quartel. Fui na GMC da frente, carregada de sacos com batatas, para resistir melhor ao eventual rebentamento de alguma mina, fazendo companhia a um condutor nativo que fazia a sua estreia nestas andanças. Era ele e eu. Lá nos safámos! 

O BCAV 2868 estava aquartelado em Bula nuns pavilhões desactivados (isotérmicos com ventilação estática) da petrolífera ESSO com piscina (entulhada), que em tempos fez prospecção de petróleo na província! 

Lembro-me perfeitamente da minha Consoada de 1969 no mato: um pacote de bolachas da MM [, Manutenção Militar,] e um cantil com chá. Soube-me tão bem! 

De Bula partimos para Capunga, Pete e Ponta Consolação para fazer o reordenamento das Tabancas, localizado no triângulo Bula, Choquemone (Base do IN) e Binare, aquartelados em magníficas e apropriadas instalações (tendas de lona) até ao fim da comissão! 


Guiné > Guiné > Região do Cacheu > Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ponta Consolação, ma margem esquerda do rio de Caleco ou de Bula, afluente do rio Mansoa. À direita da foz, ficava João Landim... Choquemone era uma das matas onde o PAIGC sempre teve as suas "barracas" (ou bases...).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


Aqui reordenámos as Tabancas, construíram-se escolas com mão-de-obra nativa mas supervisionada por nós. No princípio sentiu-se alguma relutância das populações já que a nossa presença prejudicava o reabastecimento do IN, uma vez que era ali o seu celeiro. 

No campo da educação foram submetidos a exame e aprovados 18 candidatos, tiraram a carta de condução 41 elementos. Construíram-se 538 moradias, fabricaram-se 582.799 Adobos, construíram-se 3 Escolas: população reordenada 2.509 pessoas. 

Dado estar a pouca distância do Choquemone (Base IN) éramos apoiados pela rectaguarda por enormes peças de artilharia de grande alcance (Obuses) instaladas em Bula. Os dados de tiro para o aparelho de pontaria eram fornecidos por nós tendo como base a inscrição no topo dos bidões das sentinelas! 

Apesar desta missão, eramos escalados para integrar operações. Naquelas em que fiz parte,  o IN não quis contactos comigo, nunca trocámos tiros, nunca nos flagelámos. Já no acampamento fomos contemplados com algumas flagelações à distância. 

Na terça-feira de Carnaval de 1970 uma bala perfurou-nos um pipo de vinho, uma pena! Efectuámos 148 Operações, muitos patrulhamentos e escoltas, picámos quilómetros de picadas! Uma noite fomos sobrevoados no acampamento a baixa altitude por um avião, o Pictures Enterprise, ficando sem saber o que andaria a fazer por ali àquela hora da noite! 

Logo no princípio da nossa comissão, foi efectuada noutra zona da província [, no corredor de Guileje, no sul, na região de Tombali], uma operação para capturar 'Nino' Vieira. Não o conseguiram, tendo contudo capturado o Capitão Peralta, um cubano integrado nas fileiras do PAIGC, ficando gravemente ferido num braço. Assistimos à construção e asfaltamento da estrada de São Vicente que ligava BULA à margem direita do Rio Cacheu que mais tarde faria parte do nosso roteiro para Bissum. 

Apesar do permanente patrulhamento naquela estrada, era o cilindro que com a sua carga máxima abria a picagem da estrada diariamente. É nesta altura que se despenha um helicóptero, devido ao mau tempo, com deputados, sendo um deles meu conterrâneo, José Vicente Abreu, e Pinto Bull, natural da Guiné, avô da actriz Patrícia Bull. 

Fomos visitados em Capunga por Juan Carlos de Bourbon, mais tarde Rei de Espanha, acompanhado pelo Major Marcelino. Apareceram-nos de jipe, nunca soubemos qual a razão da visita. 

De repente somos confrontados com a “Paz Podre”. Não podíamos usar armas, é verdade. Íamos nas colunas com as mãos nos bolsos até que se dá a cilada aos nossos ilustres Majores na zona de Teixeira Pinto, sendo que estava preparada para o General Spínola, como disseram os SI [, Serviços de Informação]. Neste período ofereceram-se enormes quantidades de tabaco e vinho do Porto ao IN. 

Em Novembro de 1970, o Comandante Alpoim Galvão vai a Conacri tentar libertar elementos das NT e capturar elementos do PAIGC. Julgo ter tido mais êxito na libertação dos elementos das NT! 

Lema da CCAV 2639 (1969/71): "Pro bono pacis"
 (, para o bem da paz)
O Major Casquilho [, Luís Maria Coelho Casquilho,] caiu ao Rio Mansoa [, em 29/10/1070,] levando consigo o jipe e a máquina de projecção de filmes que, solícito, queria fazer chegar a horas a Bissau. Ultrapassou as Panhards que o iriam escoltar... e foi em frente, uma tragédia! 

Também capturámos uma Kalachnikov ao IN enquanto namorava na Tabanca. Não era bem a nossa missão, já que íamos era comprar galinhas! 

Celebrou-se o Dia da Cavalaria com pompa e circunstância em teatro de guerra! Construíram-se dois heliportos, um em Pete e outro em Ponta Consolação.

É substituído em Bula o BCAV 2868 pelo BCAÇ 2928 de onde sairia a seu tempo a CCAÇ 2789 que iria substituir-nos no reordenamento das Tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação. Entretanto fiz parte de um Gr Comb composto por elementos de todos os Pelotões (presumo os mais bem comportados) com destino a Bissum/Bissorã onde fomos ajudar uma Companhia Açoriana a adaptar-se ao cenário de guerra, efectuando algumas rondas e patrulhamentos. Nunca participámos em qualquer outro tipo de operação! 

Éramos reabastecidos de víveres uma vez por mês por via fluvial. Para receber o correio fretávamos uma avioneta à Marinha. Dali ouviu-se o ataque a Bissau com mísseis às 22:00 horas de um qualquer dia de 1971, previamente conhecido e divulgado. Não foi surpresa para ninguém! Como forma de proteger a população da capital, faziam-se exercícios nocturnos de ofuscação de luzes. Mesmo assim estiveram muito perto de acertar nos alvos. Éramos sobrevoados por B26 da NATO a bastante altitude que mais tarde ouviríamos as suas barulhentas descargas “ecológicas”! 

No regresso de Bissum/Bissorã deslocaram-me para Ponta Consolação onde tive o privilégio de poder acompanhar o cabo enfermeiro Afonso Henrique da Silva Lucas ao nascimento de uma menina que baptizámos com Helga dos Reis já que nasceu ao meio dia do dia 6 de Janeiro de 1971. Também aqui fomos flagelados numa noite, felizmente sem consequências graves. Já em Pete, o ataque foi mais feroz, tendo o IN utilizado misseis que destruíram grande parte do aquartelamento, havendo alguns feridos, merecendo a visita das autoridades militares do CTIG. 

Entretanto, chega a CCAV 3420 comandada pelo então Capitão Salgueiro Maia, meu instrutor em Santarém. Aquartelou-se em Bula, para se adaptar ao terreno, mais tarde foi destacada para outros pontos da Guiné mais complicados. Não tiveram vida fácil! Mais uma vez para o mato para a sua adaptação a eventuais cenários reais com que se poderiam deparar. Uma manhã, ao romper do dia ouço um grande alvoroço nas hostes, os periquitos estavam irrequietos e assustados: nada mais, nada menos pelo barulho provocado pelos macacos a acordarem esfregando os olhos e que saltavam duns ramos para os outros cumprimentando-se em voz alta, de forma semelhante ao acordar humano. Passado o susto, lá se acalmaram! 

Só nos podemos orgulhar e sentir felizes: a Companhia regressou em 1971 com os mesmos homens com que chegou à Guiné em 1969, graças a Deus. Ainda que uns mais apanhados que outros! Hoje, que já muitos nos deixaram, é em sua memória que resumo a nossa permanência por aquelas terras há 50 anos! Que repousem em Paz!

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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18273: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIII: uma mudança (histórica) sob o spinolismo: em 1 de janeiro de 1969, o administrador de São Domingos, cabo-verdiano, é substituído por um guineense


Foto nº 7 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Miúdos da Mocidade Portuguesa local, trajando a rigor e usando ténis...


Foto nº 7 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos  > Miúdos da Mocidade Portuguesa local


Foto nº 6 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > "Djubis" da população local,  imitando os jovens da Mocidade Portuguesa...


Foto nº 6 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Aspeto da povoação, com um grupo de miúdos à direita.


Foto nº 1 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, o cmdt do BCAÇ 1933 e o administrador cessante, cabo-verdiano.


Foto nº 1Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > O cmdt do BCAÇ 1933, o administrador cessante, cabo-verdiano, a população local e os militares da guarnição local (onde se realizou a cerimónia de boas vindas).


Foto nº 8 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos  > Em primeiro plano, o  novo administrador, guineense, e o administrador cessante, cabo-verdiano. Ao fundo,  uma representação da Mocidade Portuguesa local.


Foto nº 8 >  Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois administradores, em primeiro plano, cumprimentados por uma criança.


Foto nº 5 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Mocidade Portuguesa e população local (1)


Foto nº 5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Mocidade Portuguesa e população local (2)


Foto nº 4 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Assistência frente à sede da circunscrição administrativa.


Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois  administradores, o cessante, em primeiro plano.


Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa (equivalente da concelho) de São Domingos (na província, havia mais as seguintes sedes de circunscrição administrativa: Teixeira Pinto, Bissorã, Mansoa, Farim, Bafatá, Nova Lamego, Bolama, Bubaque, Fulacunda e Catió) > Na foto, os dois administradores, o cessante, à direita, e o novo (aqui a falar comum régulo local), à esquerda.

Os administradores de circunscrição eram funcionários com vastos poderes, de acordo com a reforma administrativa ultramarina de 1933: para além das competências de administração p.d., as suas atribuições eram também nos domínios da  autoridade civil, da autoridade judiciária, da política indígena, da fiscalização, da defesa económica e da informação (artº 47 do decreto-lei 23229, de 15 de novembro de 1933).

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita; economista reformado, vive em Vila do Conde].

Mensagem de 18 do corrente:

Boa tarde Luís e Vinhal:

Achei,  dentro dos meus álbuns, um acontecimento algo inesquecível, e que pode ser útil a alguém. Gostaria de o ver publicado e com o texto de anotações e legendagem

Um Ab
VT


II. Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira   > A mudança do Administrador de São Domingos, em janeiro de 1969 

Legendas e Anotações:

1 – Em 1 de Janeiro de 1969 deu-se a cerimónia de mudança do administrador local [, da circunscrição administrativa de São Domingos]. Sai um cabo-verdiano, o homem de bigode, e entra um homem preto, local,  guinéu de raça.

Há um conjunto de cerimónias de vários dias, com a participação da população local, em grande festa de ronco – estas fotos estão noutro lote – bem como as entidades militares oficiais.

No dia 31 de Dezembro de 1968 foi feita uma recepção nas instalações da administração, com convite do comandante do BCAÇ 1933 e restantes oficiais, onde eu lá estive também, e nunca me esquecerei da monumental ‘bebedeira’ com direito a ‘coma’,  e levado para a minha cama pelos furriéis da CART 1744, a quem devo e agradeço.

2 – Temos a chegada do novo administrador em avião civil, a recepção no ‘aeroporto’ de S. Domingos, e aquelas coisas todas que já se imaginam. O fotógrafo também estava lá.

3 – Há movimentos de crianças da Mocidade Portuguesa, e agora vejo pela primeira vez na foto com 2 rapazes, que eles já tinham ténis como agora todos usam [foto nº 7]. Não sei se esta foto é assim tão antiga – 49 anos.

Para não pesar muito seleccionei estas poucas fotos e o amigo Luís edita as que quiser e achar melhores.

Foi um acontecimento marcado por grandes festas durante muitos dias. Diz-se que finalmente um administrador [, que era mais do que chefe de posto,] passou a ser negro, mas não sei bem.

Tenho esperanças que gostem destes postes.

Em, 18-01-2018 - Virgílio Teixeira
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8906: Quem conheceu os GUC (Gabinetes de Urbanização Colonial) e/ou os projetos de reordenamentos das populações ? Pedido de informações e contactos (Eduardo Costa Dias, antropólogo, ISCTE)


1. Do nosso amigo e antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE [, fotp à direita, Bissau, 2008]


De: Eduardo Costa Dias [ecostadias@netcabo.pt]
Data: 11 de Outubro de 2011 11:07
Assunto: Pedido

Caros amigos,

Bom dia a ambos

Trago-vos um pedido.

Estou integrado num projecto de investigação sobre os Gabinetes de Urbanização Colonial/ultramarina (GUC) dirigido pela Arquitecta Ana Vaz Milheiro e no âmbito do qual acabo de passar, com ela e com um outro colega (Paulo Tormenta Pinto), uma semana na Guiné. Como com todos os projectos em que estou metido, este projecto na Guiné conta também com o generoso apoio do nosso comum amigo Carlos Schwarz [, Pepito].

Peço-vos contactos de pessoas que directa ou indirectamente durante a sua estadia como militares na Guiné  contactaram de perto/trabalharam para os GUC, inclusive nos projectos das chamadas aldeias de reagrupamento*. 

É nossa intenção,  depois de completada a recolha de informação e feito um tratamento mínimo,  dela fazer um encontro ou,  como agora se diz,  um workshop de apresentação e discussão dos materiais; em muito ganharia o projecto e o workshop se pudesse contar com a experiência e o saber de amigos que,  por uma razão ou outra contactaram a "realidade" da arquitectura e  urbanismo  na Guiné nos anos da guerra.

 Muito obrigado

 Com amizade
 Eduardo


* a parte mais significativa destes reagrupamentos não passou pelo GUC, foi directamente planeado, projectado e implementado pelas FFAA. Interessa-nos tanto os dos GUC como os das FFAA !

2. Comentário de L.G.:

Eduardo, julgo que te queres referir aos "reordenamentos" das populações. Era o termo (mais soft que reagrupamento) que usávamos para as tabancas, construídas de raiz pelas populações locais com materiais e mão de obra especializada fornecida pela tropa.  Estes "reordenamentos" podiam atingir as três centenas  e meia de moranças, como o foi o caso do aglomerado habitacional, "sob duplo controlo",  de Nhabijões, no sector de Bambadinca. 

Temos uma dúzia de postes com este marcador (reordenamentos). Vê em especial os postes P2100 e P2108 [A política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações > Reprodução do documento Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2472: Guineenses da diáspora (1): Luís Humberto Monteiro, há 23 anos no Brasil (Virgínio Briote)


O Luís Humberto, procedendo a arrumações (?), num local (Brasil?) que não indicou.

Foto: Luís Humberto Monteiro (2008).



Notícias da diáspora guineense... Não podemos ignorá-la... Os melhores quadros da Guiné-Bissau (médicos, engenheiros, juristas, investigadores, gestores, empresários...), mas também muitos dos seus melhores jovens vivem e trabalham no estrangeiro... Que esperança resta a quem fica ? É importante conhecermos as histórias de vida, os sentimentos, as emoções, as expecativas de quem, um dia, por uma razão ou outra partiu, à procura de melhor sorte..

O termo diáspora não tem nada de crítico, depreciativo, paternalista ou, muito menos, neocolonialista. Ainda recentemente se realizou, em Lisboa, de 7 a 9 de Dezembro último, o I Fórum de Diálogo e de Intercâmbio da Diáspora Guineense em Portugal... em que, de resto, participou como orador o nosso tertuliano Leopoldo Amado...

Por outro lado, as remessas de dinheiro, enviadas pelos guineenses da diáspora para as suas famílias são de uma importância vital para a economia da Guiné-Bissau. Segundo uma estimativa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), um organismo ligado à ONU, a Guiné-Bissau seria o país de África mais dependente das remessas dos seus emigrantes:

(...) Em África há países cuja 'dependência' das remessas é mais do que notória, sendo a Guiné-Bissau um deles. Com uma diáspora recente, e com o país praticamente paralisado economicamente, as transferências da diáspora guineense responderam, em 2006, por 48% do PIB desse país, o que o coloca no primeiro lugar de África. Em S. Tomé e Príncipe, essa contribuição ficou calculada em 39%, seguindo-se a Eritreia com 38%...

Relativamente a Cabo Verde, cuja contribuição das remessas para a formação do PIB tem vindo a decrescer com a expansão de outros sectores económicos, nomeadamente o turismo, as divisas dos emigrantes agora representam 34%, ainda assim um dos mais altos do mundo (...) (A Semana 'on line').

Abramos, pois, uma nova série para falar sobre (e deixar falar) a diáspora guineense... (LG)


1. Do Brasil, mensagem de Luís Humberto Freire Monteiro, 15 de Janeiro de 2008, enviada ao co-editor vb:

Gostaria de conhecer um pouco da tua história como comando e dos demais companheiros, tais como o Djamanca (...).


2. Comentário do vb:

Pensei que fosse um antigo Camarada da guerra da Guiné, residente no Brasil, querendo saber de Camaradas que eventualmente tenha conhecido naquelas terras. Respondi em 20 de Janeiro de 2008:

Luís Humberto,

Publiquei em tempos um blogue, o
http://tantasvidas.blog.pt/, um 'ajuste de contas' com o meu passado militar. Nele pode encontrar referências e imagens do Djamanca e de outros Camaradas daqueles tempos.

Cumprimentos,

vb

3. Nova mensagem do Luís Humberto Monteiro, com data de 21 de Janeiro

Agradeço por ter respondido meu e-mail. Eu sempre tive admiração dos comandos africanos desde os idos anos 72. Na verdade eu já era um moço, e com certeza se não fosse a independência eu seria dos comandos.

Pena que a nossa história fala pouco ou quase nada a respeito. Na verdade digo mais, a política de Spínola POR UMA GUINE MELHOR, houvesse tido sucesso, seria uma Guiné Melhor, e não a Guiné de hoje.

Eu sou Guineense radicado no Brasil por conta própria, há 23 anos e sempre tive curiosidade de ler as informações que o Sr. Luís Graça nos proporciona na Internet, daí eu vi que tu eras um dos comandos no front em Bissau.

Resolvi-te mandar este pequeno e-mail solicitando algumas informações a teu respeito e a dos demais comandos.

O que poderes me mandar a respeito da guerra colonial eu agradeço desde já,
Um grande abraço


4. Identificado o Autor da mensagem, prossegui, incentivando-o a dizer algo sobre ele:

Caro Luís Humberto,

Une-nos um passado comum. Assim quis a História dos nossos Povos Irmãos. Nem sempre nos demos muito bem, o que só dignifica a natureza de que és feito. Pertences a um Povo indomável, orgulhoso da Mãe África.

Luís, fala algo de ti, apresenta-te. Onde nasceste, quando, quem eram os teus Pais, qual a tua etnia de origem, onde estudaste, como foste parar ao Brasil. Lembras-te de alguma coisa da Guerra no teu País? Tens uma foto tua, para dar a tua entrada no blogue? E permites que a faça?

Um abraço, com os desejos que sejas muito feliz,

Vb

5. Não tardou a resposta do Luís Humberto (*):

Eu sou Guineense radicado no Brasil há 23 anos, vim para cá aos 19 anos, porque percebi após o golpe de estado do NINO, Bissau estava indo para bancarrota, resolvi sair fora em 1984, quatro anos após o golpe de estado.

Nasci em Bissau no bairro de Am[e]dalai, estudei na missão católica, frequentei o liceu de Bissau, e a minha etnia é PEPEL.

No Brasil formei minha família com Brasileira e tenho dois filhos (um casal), especializei-me na área de informática , tenho nível médio, é com essa formação que sustento minha família.

Não tenho partido político desde 1998 e não vou a Bissau de férias.

Eu lamento profundamente que a Independência que todos nós almejámos não era essa independência (dependência) que hoje a Guiné-Bissau vive. Temos um velho ditado que diz TEMPO DI TUGA MÁSSABI (traduzindo, Tempo Colonial Era Melhor). O PAIGC não gostava muito de ouvir isso.

Volto a repetir a título de informação, me interessei pelo blogue do Sr. Luís Graça, porque é o que mais abordou a nossa história da guerra , e por seres um dos daquela época, resolvi te procurar.

Muito obrigado pela interação.

__________

(*) Em anexo o Humberto enviou-me o artigo transcrito abaixo e publicado, em 18 de Janeiro de 2008, no sítio
http://www.didinho.org/pensador.htm

Crónica de um Descrente!



Elia, o homem mais velho da aldeia. Foto de
Ernst Schade, publicada na página do Fernando Casimiro (Reprodzida aqui, com a devida vénia...).


Por Marinheiro da Solidão (em homenagem a Jorge Cabral)
Janeiro de 2008

Após quase 4 horas de viagem, o avião inicia o seu trajecto descendente. Começa-se a vislumbrar o verde do meu país , cortado por braços de água. Uma imagem quase idílica. Não há dúvida que a mãe natureza foi generosa.

O avião imobiliza-se. Somos recebidos por um bafo de humidade. Estamos em casa. O aeroporto encontra-se apinhado de gente. Está quente. Vejo vários aparelhos de ar condicionado, mas nenhum parece funcionar.

À entrada uma oficial da Polícia de estrangeiros e Fronteiras dá-me as boas vindas. Quase que nem olha para o meu passaporte. Diz-me directamente e sem grandes subterfúgios:
- Amigo...Nô tene peditório!
Diz-me isso com o ar de quem não está à espera de uma resposta negativa. Confiança acima de tudo! Siga!

Passado esta recepção agradável, chega a etapa de arranjar um pedaço de chão em frente ao tapete rolante. As pessoas armam-se como podem para a batalha da colheita de malas.. Aqui e ali ouve-se:
- Amigo, amigo, qui mala i di mi, qui mala i di mi...
Após uma longa batalha e litros de suor...tenho a minha mala. Dizem-me que tive sorte. Ela chegara intacta! Pelos vistos, não tem sido costume.

Segue-se a etapa da abertura e revista das malas. Diz-me um militar todo solícito:
- Djubi dé...pa ka no cansau kabeça, danu dê qualquer kussa...

Que simpático, penso eu! Ao fim de 2 horas no aeroporto, vejo o sol. Vamos enfrentar a cidade de Bissau.

Cá estou eu na Avenida principal a caminho do centro da cidade. De ambos os lados vejo, em construção, autênticos palacetes... dizem-me que é a nova moda (da estrada do aeroporto a Antula, do Bairro de Ajuda ao Sacor, passando por Safim). Pelos vistos, muita gente recebeu heranças inesperadas em pouco mais de um ano. A julgar pelo que vejo, acredito!

Chegado a casa, dizem-me que estão há 5 dias sem água ou luz. Não acho estranho, estou mentalmente preparado! Mas de repente...dizem-me que sou um sortudo...Não é que "luz ku iagu bin"! Alegria total.

Nos dias seguintes sou brindado por imagens de jeeps e mais jeeps (seja o célebre Hummer ou o K7 ou sei lá mais o quê). Está bem que a estrada não está lá grande coisa, mas com aqueles carros quem é que precisa de estradas? O trânsito está infernal na Av 14 de Novembro. Pelos vistos não há mais nenhuma estrada de jeito!

Encontro toda a gente preocupada com os salários...Todos perguntavam se o governo iria pagar antes das festas (tanto muçulmanas como católicas). Pelos vistos, até ao fim do ano não houve nada para ninguém! Também não ouvi nenhum governante dar explicações. Aliás, em duas semanas, não me lembro de ter ouvido alguém com responsabilidades no país dizer alguma coisa sobre qualquer coisa.

Pessoas próximas contam-me de casos passados no Hospital Simão Mendes. Parecem tirados de um filme de terror de 7ª categoria. Por exemplo, na maternidade há preços para tudo. Uma cesariana custa à grávida 45.000 francos XFO, tendo ainda de pagar:
- O jantar do médico (com letra bem pequena) - 10.000 XFO
- As noites passadas no hospital (sendo que o dormir no chão custa 2500 XFO/noite)
- As enfermeiras cobram para cada curativo ou cada injecção, tendo ainda as pobres parturientes de se levantar, indo ter com as excelentíssimas senhoras enfermeiras (elas dizem que sim) aos seus cadeirões respectivos para fazerem, muito contrariadas, o tal penso!

Sinto-me nauseado. Prefiro não ouvir mais. Mas pelos vistos nem tudo corre mal. As discotecas encontram-se cheias. Qual cenário hollywoodesco...é ver chegar carros topo de gama com jovens da nossa praça que, de um momento para o outro, são os novos ricos do país, concorrendo pela posse das miúdas, mesas na discoteca e em casos extremos fazendo uso das suas belas pistolas em plena pista para marcar o seu território nos negócios! Um cenário a lembrar os gangs dos Estados Unidos..muitos filmes andam a ver de certeza. Dizem-me que são presos na hora pelos Ninjas. Mas no dia seguinte encontro-me com eles pelas ruas esburacadas de Bissau. Afinal quem é que manda?

Pela primeira vez na vida, estou desejoso para que as férias em Bissau cheguem ao fim. Mas antes de deixar o país sou confrontado, no aeroporto Osvaldo Vieira, com mais uma sessão de peditórios, desde o pessoal que anda a fazer revista das malas ao oficial de polícia que tem como obrigação controlar o passaporte no acto de saída (a este, digo que já não me resta um único euro...olha-me com um ar furioso! -ali bu passaporte!). Agradeço.

Finalmente, o Airbus da TAP faz-se à pista e descola! Pela primeira vez sinto-me aliviado ao deixar o meu país.

Durante a viagem vem-me à cabeça o poema, Desafio, de
Tony Tcheka.

Desafio

Até parece
que a Sul o tempo parou
até parece que o Sol
que nos queima
é obtuso e sisudo
até parece
que fomos privados
do apetite
da vontade
da lucidez
até parece
que irrompemos
d'algum ventre enteado
palavra que parece
Até parece que perdemos o Norte
e que o Sul é recôndito
confinado à malvadez
e cozinhados da fada má
Sul é amargo da boca
e o Santo na mão
Será sina castigo ou destino
marcado nos porões negreiros?
E o desespero a fome
a doença os bolsos minguados
todos esses fieis companheiros serão mosteiros
ou simples penitência
para salvar a alma do corpo sofredor?
Mas palavra que apetece
soltar um grito
e desafiar de vez
esta força imensa
que se alimenta da minha doir
da nossa dor!
__________

Nota de vb:

A propósito de um artigo do Leopoldo Amado (salvo erro) "Coisas de Brancundade", escrevia eu, vb, há tempos atrás a um Camarada do blogue:

"O que dirão os que lutaram pela independência dos seus chãos? Foram tão dignos na luta, como indignos devem ter sido alguns que assumiram o poder depois de Setembro de 1974.

Mas, este assunto é deles, de um país independente. Como é que verão, como é que eles nos verão a discutir assuntos da vida deles?

Do nosso blogue, sei-o porque já o ouvi, fala-se que é um blogue do lado deles, do PAIGC, entenda-se. Que estamos a glorificar a luta deles, com pouco respeito pelos nossos que lá deixaram a carne, os ossos, tudo. E que o Simpósio da Guiné, é o exemplo da negação da nossa luta e da justiça da luta deles.

E, se agora, abrimos o blogue a um diário da Guiné actual, o que dirão de nós? E, no entanto, faz-nos falta que alguém nos fale da Guiné."


A resposta do Camarada:

"Não temos medo das palavras... O nosso blogue deve ser um espaço aberto, crítico mas aberto e franco. E porque não fraterno ? Agora, não é decididamente do PAIGC. O que se passa hoje na Guiné-Bissau (e que é trágico, deprimente) não tira qualquer legitimidade (histórica) à luta do PAIGC.

A nossa guerra estaria, sempre fatalmente, condenada à derrota. Eu sei que é duro dizê-lo, em letra de forma, ainda hoje, perante camaradas (portuguses e guineenses) que deram o melhor da sua juventude na luta contra a guerrilha do PAIGC (e muitos a vida ou a saúde). Respeito profundamente esse sentimento de perda, de luto e de impotência. "

domingo, 16 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2108: Documentos (3): A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (2) (A. Marques Lopes / António Pimentel)






Conjunto habitacional de Nhabijões > 1970 > O furriel miliciano Henriques, da CCAÇ 12 (fundador e editor deste bloge) junto a um dos locais de culto dos irãs (espíritos da floresta). A população era maioritariamente balanta, animista. Era conhecida a sua colaboração com o PAIGG, sobretudo com as populações e os guerrilheiros de Madina/Belel, no limite do Cuor, a Noroeste de Missirá. O reordemanento desta população, considerada até então sob duplo controlo e pouco colaborante com (e senão mesmo hostil a) as NT, iniciou-se em 1969, sob a iniciatica do Comando e CCS do BCAÇ 2852 (1970/72), tendo sido continuada pelo BART 2852 (1970/72).




Na foto, vê-se o Fur Mil Henriques num jipe, no destacamento que defendia Nhabijões. Ao fundo, descortinam-se as casas do reordenamento (a que ele na época um verdadeiro etnocídio...). Em 13 de Janeiro de 1971, duas minas anticarro recebentaram à saída do reordenamento, na estrada Nhabijões-Bambadinca (LG).


Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Reordenamento de Nhabijões> Trocando a espada pelo arado, ou melhor, a G3 pela pá e pela enxada... Pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) nos trabalhos do reordenamento de Nhabijões, um conjunto de aldeias sob duplo controlo, junto ao Geba Estreito, pertencente ao posto administrativo de Bambadinca, sede do Sector L1, Zona Leste.
Foto de finais de 1970 gentilmente cedida pelo Luís Moreira, ex-alf. mil. sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).


Foto: © Luís Moreira (2005). Direitos reservados.


Continuação da publicação do documento Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d. (2).


Fixação do texto: Virgínio Briote, co-editor


LOCALIZAÇÃO HISTÓRICA E DEMOGRÁFICA (p.4)

1. É difícil fazer uma exacta localização geográfica das diferentes etnias da Guiné, atendendo principalmente ao factor emigração. Efectivamente, mercê de muitas e várias circunstâncias históricas e políticas, os povos guineenses constituíram muitas, e algumas delas significativas, correntes migratórias que partindo do seu chão originário se estabeleceram um pouco por todo o território, por tal forma que se pode dizer que vivem hoje, indistintamente, lado a lado, etnias animistas e islamizados, muitas vezes interpenetrando-se e constituindo, como já foi notado anteriormente, subgrupos híbridos. Uma das circunstâncias mais importantes para o surto migratório foi sem dúvida a eclosão do terrorismo, obrigando povoações inteiras a desalojarem-se e a imigrarem para zonas sob a protecção das Nossas Tropas.


No mapa 1, apresenta-se a localização das principais etnias nos seus chãos de origem.

2. A localização histórica dos povos da Guiné, dada a infinidade de etnias existentes, torna-se difícil. Em apontamentos desta natureza, não cabem pormenores que se destinariam a um estudo aprofundado. Bastará, talvez, dizer que a maioria das etnias aparece como fusão de várias outras que foram as originárias e são referidas largamente pelos navegadores e descobridores nas suas crónicas. Nelas se dá conta de existirem no século XVI Balantas e Papéis na ilha de Bissau e Buranos (nome primitivo dos Papéis) e Felupes na zona do Cacheu. Estas três etnias são das mais antigas, sendo os Felupes considerados os mais antigos dos povos originários.


Alguns outros povos existiam já no actual território da Guiné Portuguesa – colónias de Mandingas e Fulas – aquando da sua descoberta. No entanto, o contacto com eles só se verificou mais tarde, dado o tipo de colonização portuguesa, feita através de feitorias junto aos rios. Assim, o contacto fez-se primeiro com os habitantes da faixa litoral e, mais raramente com povos que vinham transaccionar com os portugueses, de pontos mais afastados do interior.
Já a partir do século XV se inicia a invasão de povos provenientes de vários países do continente Africano. No entanto, só mais tarde há a grande invasão vinda especialmente do Futa-Jalon e territórios limítrofes (Labé, Boé Francês, Futa-Tere, Futa-Quebo, etc.), da Bandú (território situado entre o Alto Senegal e o Alto Gâmbia), Sudão, etc. Fulas e Mandingas instalam-se na zona do Gabú, trazidos por lutas intestinas, pela necessidade de novas almas para a difusão do Alcorão, pelo desejo de novas pastagens para o seu gado e novas lavras. Travaram lutas com os povos aí estabelecidos (os Beafadas principalmente que se viram subjugados pelos Fulas-Forros em Jaladú que mais tarde se tornou na Forro-ia ou Forreá) e conquistaram posições.
[… ilegível].



Mapa 1- Os chãos dos Povos da Guiné


3. Povo nómada, os Fulas emigraram do Gabú para quase todo o território, especialmente o Leste, onde se encontra ainda hoje em força. Mas, de uma maneira geral, como já foi dito, todas as etnias registam movimentos migratórios. Apontaremos dois ou três exemplos:


A região de Mansoa é chão Balanta. No entanto encontramos aí estabelecidas a par da maioria Balanta, Mandingas e Fulas.



  • Na zona de Farim, onde existiam primitivamente os Oincas (ou do Oio, subgrupo Mandinga), encontramos Fulas e Balantas. Aqui, notamos como curiosidade, Balantas e Mandingas permanecem em quase constante conflito, por causa dos roubos que os primeiros praticam por costume tradicional e é condenado pelo Alcorão. Alguns Balantas foram absorvidos pelos islamizados constituindo os Balantas-Mané, que também encontramos em Mansoa.

  • No actual concelho de Bafatá, habitado primeiramente por Beafadas, Mandingas e Fulas, encontram-se numerosas colónias de Manjacos, Papeis, Saracolés e Balantas, estes em maior percentagem.


No mapa 2, podem ver-se, como curiosidade, as primeiras migrações de Mancanhas (ou Brames), Manjacos e Balantas.




FUNÇÕES CIVIS EXERCIDAS POR MILITARES (p 6/7)




1. Estando a Guiné sob a pressão de um estado de subversão que visa a conquista das populações por vários meios, entre os quais a luta armada; existindo um Quadro Administrativo com graves deficiências quantitativas e qualitativas e possuidor da falta de meios para realizar a manobra de contra-subversão em tempo útil e ainda por razões de controle e segurança, não é possível à Administração Civil encarar sózinha, de momento, o esforço que se pretende realizar.


Assim, porque possuidoras de vários meios, humanos, técnicos e de defesa, as Forças Armadas estão aptas a colaborar, com carácter temporário, com as estruturas administrativas na solução dos problemas sócio-económicos. Porque, também, os problemas de desenvolvimento social e económico constituem a manobra da contra-subversão que é preciso fazer rapidamente e pertence à missão das Forças Armadas.


As F.A. são, pois, chamadas a participar temporariamente em funções que seriam da competência civil, se os quadros administrativos estivessem em condições de as desempenhar, e que lhes serão totalmente confiadas quando as condições o permitam. São funções de colaboração e reforço da orgânica...[ilegível].


2. (...) Os civis do Q. A. pensam e actuam de maneira diferente. E a diferença reside em dois pontos distintos: a estagnação e carências várias do próprio Q. A. e no diferente carácter de obrigatoriedade de uns e outros. As Forças Armadas são uma organização profunadmente hierarquizada, com escalões de comando definidos, com leis e regulamentos mais rígidos e pormenorizados, prevalecendo um forte espírito de disciplina. Arreigados a conceitos burocráticos ultra passados e morosos por natureza , regulados por leis mais vastas, com um carácter de disciplina menos acentuado e relativo momento a leis de carácter mais geral, os civis do Q. A. têm um diferente comportamento face a situações que exigem a resolução adequada em tempo próprio. A base de toda a actuação entre militares e civis terá de basear-se na compreensão e na colaboração, já que ambos servem o objectivo comum.


3. O tratamento para com as populações terá de ser diferente também. Não se podem obrigar as populações a tomar determinadas posições ou aceitar determinadas soluções pela força ou coacção, excepto quando o determine o interesse colectivo, o bem comunitário. Interessa muito mais usar argumentos válidos, convicentes e visíveis para os levar a optar melhor. No caso concreto das populações com quem vamos trabalhar, há que contar com os seguintes factores de oposição às nossas soluções:



  • São populações menos evoluídas

  • Têm sofrido pressões físicas e psicológicas dos agentes subversivos

  • São muito arreigados aos seus costumes étnicos e às tradições e práticas religiosas

  • São diferentes entre si, na sua evolução natural

  • Duvidam por sistema, devido à estagnação sócio-económica anterior à guerra, às promessas que nunca foram cumpridas antes nessa época e à propaganda inimiga orientada para esse passado.


Sintetizando, é preciso entender os civis do Q. A. e as populações como tal e como tal actuar nas relações com eles.




IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÓMICA DOS REORDENAMENTOS (p. 6/9)


1. A ideia de se fazer o reordenamento das populações em aldeamentos, tem três razões de ser fundamentais



  1. A defesa e controle

  2. desenvolvimento social

  3. O desenvolvimento económico


Deixando de parte as questões da defesa, vamo-nos debruçar mais [...ilegível]




Mapa 2 - Primeiras migrações


2. A constituição geográfica da Guiné - sulcada de muitos rios, plana, densamente urbanizada-, a exploração agrícola fazendo-se especialmente junto das bolanhas e as diferenças étnicas que individualizam os agregados, conduziram à dispersão por inúmeros núcleos populacionais. Com uma população dispersa em áreas muito vastas, torna-se difícil se não impossível, tomar medidas de desenvolvimento que abranjam a totalidade ou, mesmo a maioria. O esforço económico e humano seria insustentável de momento e, especialmente moroso.


3. O que se pretende, pois, com os reordenamentos? Agrupar as populções de uma determinada zona num só ou em vários agragados populacionais significativos, possibilitando:



  1. A construção de casas com melhores condições de higiene e construídas com materiais mais resistentes aos factores climáticos e aos incêndios.

  2. A construção de condições de protecção social que abranjam um maior número de pessoas (escolas, postos sanitários, fontanários, assistência médica).

  3. A construção de condições de carácter económico que englobem uma população maior (construção de celeiros colectivos, garantia de mercados para venda da produção agrícola, condições técnicas para maior produtividade e outrs possíveis a desenvolver futuramente).

  4. O mais rápido desenvolvimento comunitário considerando um melhor rendimento no aproveitamento dos meios e quadros técnicos empenhados no esforço do desenvolvimento.


4. Pode parecer sem discussão, a priori, que o reordenamento das populações oferecendo tantas vantagens para o seu desenvolvimento, é sempre bem aceite. Efectivamente, nem sempre isto acontece e por várias razões. Vamos apontar esquematicamente, algumas das principais:

  • Motivações étnicas

  • Questões havidas entre grupos de uma mesmo etnia que os opõem e obstam a uma vida comunitária

  • Receio de perda de autoridade dos Chefes tradicionais

  • Proibição dos Guardas do Irã por motivos de interesse pessoal

  • Desejo de não mudar de chão

  • Receio de que faltem, no novo aglomerado, os meios suficientes de subsistência

  • Desejo de não se separarem dos seus haveres

  • Outras que só localmente poderão ser detectadas


5. Não devendo em princípio existir um carácter de obrigatoriedade quanto à deslocação das populações das suas tabancas para um aldeamento, a não ser que o interesse comunitário superiormente o determine, há que empregar meios persuasivos quando se encontre alguma resistência. Para se criar ...[ilegível]


Esquematicamente vemos, assim:


Antes da construção

  • Auscultação das populações (indirecta, directa)

  • Auscultação e elucidação do Chefe da Tabanca

  • Auscultação e elucidação do Guarda de "Irã"

  • Auscultação e elucidação das autoridades religiosas islâmicas


Durante a construção

  • Garantir a autoridade constituída

  • Garantir, tanto quanto possível, os interesses da localização dos aglomerados correspondentes às antigas tabancas, dentro do plano urbanístico

  • Respeitar os usos e costumes das populações

  • Colaborar no transporte de todos os haveres das populações deslocadas

  • Interessar as populações na construção das casas, escolas, postos sanitários, etc., permitindo e desenvolvendo o sentimento de posse.


6. A forma mais prática de se assegurar o deslocamento das populações para os reordenamentos é criar nelas a necessiade desse reordenamento. Para isso é necessário elucidá-las dos benefícios que vão auferir e garantir os seus desejos quanto a aspectos respeitantes aos seus usos e costumes. Será de toda a conveniência o conhecimento das suas motivações religiosas e étnicas. Nos quadros anteriores já foi feito um esquema suficientemente desenvolvido. Em novo quadro, indicar-se-ão as principais motivações a explorar para um útil e efectivo trabalho de consciencialização das populações.


1.BENEFíCIOS SOCIAIS
  • melhores casas

  • escolas

  • postos de socorros

  • assistência médica

  • água


2. BENEFíCIOS ECONÓMICOS
  • melhores lavras

  • celeiros colectivos

  • mercado para escoamento da produção

  • lojas


ISLAMIZADOS


Fulas
  • construção de mesquitas

  • difundir a religião

  • os régulos governarão melhor com toda a população junta

  • os fulas têm de voltar a ser senhores dos seu "chão" que o IN quer roubar

  • os antepassados foram valentes


Mandingas
  • construção de mesquitas

  • difundir a religião

  • os chefes poderão dirigir melhor

  • as novas tabancas poderão ter lojas e fazerem comércio para terem riqueza

  • os antigos foram valentes e têm de os saber imitar


ANIMISTAS


Balantas

  • terão maior protecção dos Irãs

  • o Balanta terá a liberdade na tabanca e no mato, que o IN impede

  • o Balanta vai deixar de ser escravo do IN

  • os Balantas juntos têm força para exterminar o IN

  • haverá sempre muita fartura


Manjacos

  • terão maior protecção dos Irãs

  • juntos terão muita força

  • impedirão o roubo de mulheres quando estiverem juntos

  • poderão fazer comércio

  • cada família poderá ter os seu Irã


Brames

  • terão maior protecção dos Irãs

  • o régulo governará melhor

  • vão ter mais vacas para estrumar as terras e para o choro

  • os Brames não terão necessidade de emigrar porque nada lhes faltará

  • o IN quer escravizá-los e não o poderá fazer estando todos juntos.


_________


Notas do co-ditor vb:


(1) Vd. posts de:


1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1558: Inesperada visita a Luís Graça, em Nhabijões, na noite de 3 de Fevereiro de 1970 (Beja Santos)


28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIV: Nhabijões: quando um balanta a menos era um turra a menos (Luís Graça)23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática (Luís Graça)


23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)


22 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70) (Luís Moreira)


22 de Setembro de 2005 > (2) Vd. post de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2100: A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (1) (A. Marques Lopes / António Pimentel)


Reproduzo aqui o comentário de Abreu dos Santos:

  • Spínola não inventou os Reordamentos, antes reaplicou na Guiné o que anteriormente já o major Hélio Felgas ali havia posto em prática (cerca de 3/4 anos antes);

  • a guerra do Vietname, pelos vistos, continua a ser – erradamente – termo de comparação para quem esteve na Guiné;

  • mais remotamente, foram os romanos quem iniciou por regiões várias a táctica militar da colonização por recurso ao que, modernamente, se passou a chamar aldeamentos estratégicos; e em meados do séc. XIX foi o general francês Bigeaud quem, na Argélia, reformulou na prática tal conceito, retomado em 1955-59 naquele mesmo território através do Plano Challe, com objectivo de conter o alastramento de actos terroristas por parte da FLN;

  • Em Portugal, a responsabilidade pelo estabelecimento de doutrina castrense nesse sentido coube ao então ministro do Exército, na sequência do 1º relatório da missão militar que pouco antes havia concluído em Arzew (na Argélia), um estágio de contra-insurreição. Daí, o CIOE; e, também daí, a origem da instrução ministrada a tropas de Operações Especiais e aos Comandos, como aliás muito bem sabe o editor Briote, ao qual peço que releve quaisquer imprecisões minhas nesta breve resenha, tanto mais escrita directamente para esta janela...


Comentário do co-editor vb: Grato ao Abreu dos Santos, pelo oportuno comentário, que contribui para um melhor conhecimento sobre o reagrupamento das populações.

  • Entre os anos 1965/67, os reordenamentos da população não eram, em geral, muito discutidos no terreno, embora já se vissem esforços de alguns dos nossos militares nesse sentido, e foi até a um ou outro que pela primeira vez ouviu falar das aldeias estratégicas no Vietname.

  • Parece ser aceite que foi com Spínola, como Governador-Geral, que o plano foi implementado e estendido a praticamente todo o território.