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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13826: Consultório militar, do José Martins (7): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte I - Dúvidas que, escritas na areia, desaparecem, mas acompanham sempre os entes queridos (Aníbal Teixeira, cunhado, Avanca, Estarreja)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  A placa com o nome do alf Nuno da Costa Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento (*)... Ou melhor: afixada na parede da messe de sargentos (**), e que foi descoberta por ocasião dos trabalhos de escavação de arqueologia militar que deram origem ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje.  Não temos nenhuma foto, individual ou em grupo,  do nosso malogrado camarada.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné  > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Caserna das praças a que foi atribuído o nome dos sold António de Sousa Oliveira (o "Francesinho") e o António Lopes (o "Sargento"), mortos em 28/12/1967 na sequência da Op Relance, juntamente com o alf mil Tavares Machado, todos eles pertencentes ao grupo "Os Lordes" [... designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebera instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território, segundo explicação dada pelo nosso saudoso cap José Neto (1927-2007)].





Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Ao centro, o Francesinho, alcunha do sold at António de Sousa Oliveira, transbordando de energia e de alegria, uns meses antes de morrer, no "corredor da morte", em 28/12/1967. Era natural de Celorico de Basto (, tal como o seu infortunado camarada, o António Lopes) e emigrante em França. É a única foto que temos dele.





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Dois militares parodiam a PM- Polícia Militar... O Cap Corvalho pode ser o terceiro a contar da esquerda, pelo menos é alguém que ostenta as divisas de capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garante-me o Nuno Rubim ...

Não, não se trata de nenhuma "festa de Carnaval", mas da tão desejada "receção dos piras"... Neste caso, a foto deve datar de maio de 1968, quando a CART 1613 (cuja comissão em Guileje vai de junho de 1967 a maio de 1968) é rendida pela CCAÇ 2316 (mai 1968/jun 1969)...Nessa altura, o alf mil Machado Tavares já tinha morrido, pelo que nunca poderia fazer parte deste "grupo de praxistas", ou no mínimo, encarregue de "dar as boas vindas" à periquitagem...
Fotos: © José Neto  (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem de 20 do corrente, do nosso leitor Aníbal Teixeira, 

Assunto: Guiné- Alferes Tavares Machado
Data: 2014-10-20 03:01


Caro Sr. Luis Graça,  bom dia.

Sou cunhado do Alferes Nuno Tavares Machado, falecido em combate na Guiné em 28/12/1967 (***).

Ao ler o vosso site e ao comunicar à minha esposa, única irmã do Nuno, os sentidos de novo despertaram para a situação vivida há 47 anos...

Muitas interrogações e curiosidades reacenderam...

(i)  Como morreu o Nuno ?? Sofreu ?? 

(ii)  Foi condecorado a titulo póstumo porquê ?? 

(iii)  Porque fizeram a placa com o nome dele e a colocaram na parada da messe de sargentos ?? 

(iv)  Se diversos tombaram, porquê o Nuno ?? 

(v)  Porque aparece agora ?? 

(vi)  Há alguém vivo que me possa descrever ?? 

(vii)  Um dia, como alferes, no Quartel General do Porto, interroguei o Comandante da Região Corvacho. Lamentou, mas não me comentou o sucedido. Porquê ?? 

Sempre fiquei com duvidas...

São dúvidas que,  escritas em areia,  desaparecem, mas acompanham sempre os familiares..!....

Se algo possível pretenderem sobre o Nuno, para enriquecerem o excelente e digno trabalho que estão a fazer, estamos à vossa disposição.

Da família directa do Nuno resta a irmã, minha mulher,  e a mãe, com 97 anos. A mãe vive no Porto e nós em Avanca (Estarreja).

Ao vosso dispor, com um forte abraço

Aníbal Teixeira

Tlm (...) | Email (...)

2. Resposta do nosso colaborador, camarada e amigo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas] (****):

Caro Aníbal Teixeira

Sobre o e-mail que escreveu ao Luís Graça, na qualidade de administrador do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, cabe-me a mim, como colaborador permanente do blogue, tentar dar resposta às questões que colocou.

Para poder dar uma resposta sobre os factos, baseado em documentos oficiais, foram consultadas as seguintes fontes:

a) História da Unidade do Batalhão de Artilharia nº 1896 que tinha como subunidades orgânicas, além da CCS, as Companhias de Artilharia nºs 1612, 1613 e 1614, à guarda do Arquivo Histórico Militar, donde foi extraído o resumo que juntamos, e que consta no 7º Volume – Unidades, da CECA.

b) 8º Volume, Livro 1, Mortos em Campanha, na Guiné, de que juntamos página onde constam os nomes dos três militares que tombaram em 28 de Dezembro de 1967.

§ Na História da Unidade e à guarda do Arquivo Histórico Militar, que fomos consultar, consta na página número 127, a seguinte nota, relativa ao período de 1 a 31 de Dezembro de 1967:

«Em 27 – Executado a Operação “Relance”

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.

Força executante:

- Companhia de Artilharia  [CART] 1613 (incompleta)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia [CART] 1659

- 1 Grupo Combate da Companhia [de Caçadores] [CCAÇ] 1622

- Pelotão de Caçadores Nativos  [Pel Caç Nat] 51

- Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos:

- Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados

- As NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias).»

c) 5º Volume, Tomo VI, página 363 de Condecorações atribuídas, onde consta a Portaria de atribuição da Condecoração, assim como o Louvor que deu origem à mesma.

Tentemos, então, dar respostas às questões colocadas, mas que se devem considerar como “opinião pessoal”. Dúvidas não esclarecidas, que se avolumam a cada dia, marcam, às vezes, mais do que a “chegada da notícia do acontecido”.

Como morreu o Nuno? Sofreu?

Pela leitura do Louvor, ainda que feito em termos muito normalizados, o Nuno foi um dos 1711 militares que Tombaram em Combate na Guiné. Quanto a sofrimento, sem querermos ser cruéis, pelo menos o Nuno deve ter sofrido, caso a morte não tenha sido imediata. Pelo menos deve ter pensado na mãe e na família, que era um dos pensamentos sempre presentes. 

Foi condecorado a titulo póstumo porquê?

A resposta está no teor dos louvores que lhe foram conferidos. Apesar de ser o “terceiro oficial” da subunidade, era bastante voluntarioso e admirado pelos “seus homens”, tendo criado e comandado um “grupo de elite” [, os Lordes,} que o seguia sempre. 

Porque fizeram a placa com o nome dele e a colocaram na parada da messe de sargentos?

Para mim, não é mais que camaradagem. Foi, provavelmente, uma forma de “fazer o luto” por um camarada de armas que, apesar de estar “vocacionado para mandar”, não hesitava em dar o exemplo.

Se diversos tombaram, porquê o Nuno?

Se quisesse dar uma resposta “fria”, diria que estava no local errado à hora errada. Se quisesse dar uma resposta “piedosa”, diria que estava na hora de partir para “outras paragens”. Mas, prefiro, dar uma resposta objectiva, baseada no texto do segundo louvor: Morreu porque foi socorrer um camarada ferido, e por isso ficou mais exposto ao perigo. 

Porque aparece agora?

Não sei o que pretende sobre o “agora”. Guilege [ou Guileje] é um marco muito negativo na história das nossas tropas na Guiné. Ficava situado no Sul junto à fronteira, num “corredor” muito utilizado pelo PAICG, para introduzir no território homens, armamento e outros bens. Muitas são as referências àquele destacamento que, em 1973 [, em 22 de maio], acabou por ser abandonado pelas tropas que o guarneciam, após longos dias de bombardeamentos tendo, inclusivamente, ficado sem transmissões, por terem atingido a antena.

Depois da independência, e já no século presente, a AD – Acção para o Desenvolvimento, uma ONG da Guiné-Bissau, recuperou a destacamento, com a colaboração de militares portugueses [, com destaque para o nosso blogue], e organizou um simpósio [, em março de 2008,], pelo que pode ser uma das razões de agora “ter sido colocado em cima da mesa”. 

Há alguém vivo que me possa descrever?

Infelizmente já não se encontram entre nós, o então Capitão [Eurico] Corvacho [e o então 2º Sargento José Neto [, que morreu em 2007, como cap refomado,], um como comandante e outro como responsável pela formação da companhia.

Há várias entradas sobre o tema no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. (Marcadores: Guileje, José Neto, CART 1613, referências no fim dos postes, etc; vd. coluna do lado esquerdo do blogue). 

Um dia, como alferes, no Quartel-General do Porto, interroguei o Comandante da Região Corvacho. Lamentou, mas não me comentou o sucedido. Porquê?

Quem comanda, em qualquer situação, tem apreço pelos que comanda. É natural que o Capitão Corvacho tenha interiorizado esta “baixa”.

Espero que estas notas, se não vão “apaziguar” as vossas dúvidas e saudades, possam ser uma maneira de “amenizar” tudo aquilo que levantou tantas dúvidas sobre um acontecimento de há 47 anos.

Seguem-se os textos referidos anteriormente [, a publicar, oportunamente, no seguimento deste poste].

José Marcelino Martins

josesmmartins@sapo.pt

21 de Outubro de 2014

_________________

(**) Vd. poste de 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)


 (***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12126: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (19): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte VI: A morte do comandante dos Lordes, o gr comb especial do alf mil Tavares Machado, em 28/12/1967










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Fotos do álbum do Zé Neto (1929-2007) Grupo 4 > Fotos diversas de instalações e atividade operacional... Não sei (porque as legendas são insuficientes) se nalgumas destas imagens aparece o malogrado alf mil Tavares Machado ou alguém do seu grupo de combate especial, Os Lordes. O Zé Neto, que exercia entºão as funções de 1º sargento da companhia, não era um operacional, pelo que as fotos que tirou (e que nos disponibilizoui em vida) foram todas tiradas dentro do quartel. Trata-se de um coleção de "slides", que foram posteriormente digitalizados.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Salancaur, a noroeste de Guileje e de Mejo, por onde passava o corredor de Guileje.

 Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68), sob comando do cap Eurico Corvacho (também já falecido, em 2011):


Quanto às operações no terreno, as nossas principalmente patrulhas de reconhecimento e nomadizações destinadas a manter o controle possível no itinerário de Gadamael Porto  decorriam sem sobressalto de maior, porque, era mais que evidente, o IN evitava o contacto para não denunciar os trilhos que utilizava nas suas infiltrações para o interior do território.

Mas, como já referi, era a partir de Guileje que se lançavam as operações conjuntas e de maior envergadura sobre o corredor de penetração dos turras. Para executar as ordens do Comando do Batalhão ou até do Sector (sediado em Bolama),  as unidades empenhadas deslocavam-se até Guileje, onde permaneciam o tempo necessário para a planificação, um, dois dias, e na hora H iniciavam a marcha para o alvo previamente referenciado.

Geralmente os resultados destas operações eram nulos ou pouco compensadores. Nós tínhamos um serviço de informações razoável, com a ajuda dos reconhecimentos aéreos, mas não éramos tão ingénuos que não soubéssemos que nesse aspecto o IN nos levava a vantagem da sua maior mobilidade, conhecimento do terreno e algumas cumplicidades de elementos das populações.

Além disso, o planeamento das operações era feito com as regras copiadas à pressa dos manuais clássicos e algumas leituras dos teóricos da guerrilha e, como tal, se não causavam autênticos descalabros nas nossas tropas isso se devia à bravura dos nossos soldados e ao discernimento dos seus comandantes que sabiam avaliar o momento em que deviam mandar às malvas o rigor dos papéis e actuarem em conformidade com o que deparavam no terreno.

Um pequeno exemplo: as cartas topográficas assinalam correctamente todas as características do terreno, ponto final. Ponto final,  no Alentejo ou nas Beiras. Na Guiné nem sequer chega a ser vírgula, porque quando a maré sobe o mar engole uma parte considerável da área total do território.

Por outro lado, as bolanhas são assinaladas como terreno alagado e vistas de avião até têm o aspecto de solo enlameado com farta vegetação, facilmente transponível. A realidade é bem diferente. Extensas zonas que, com os seus socalcos, tinham sido férteis campos de arroz, eram agora, quase abandonadas, autênticas armadilhas onde à mínima distracção um homem se afogava ou ficava atolado até ao pescoço.

Ganhou alguma notoriedade o diálogo entre o Celestino (1) e o Capitão Cadete. Numa operação em que as nossas tropas pretendiam desmantelar a fortificação que os turras tinham implantado em Salancaúr, o Celestino comandava comodamente instalado num avião Dornier. A companhia do Capitão Cadete estava, a pouco mais de duzentos metros do objectivo, a ser fustigada por fogo de canhão sem recuo do IN e o Celestino berrava pela rádio:
─ Avance! Organize o assalto pelo flanco esquerdo!!!

O Capitão, homem experiente, sabia que era de todo impossível dar mais um passo em direcção ao objectivo, estrategicamente defendido pelos lodaçais e, perante a insistência, gritou pelo microfone:
─ Venha cá abaixo e enterre o seu focinho na bolanha, seu…

Isto foi ouvido em todo a rede de transmissões das unidades da zona que, em sintonia, seguiam o desenrolar da operação e… nunca constou que o Capitão Cadete tivesse sido punido.

A zona de Salancaur, que era uma pequena península quando a maré subia, foi durante muito tempo um espinho cravado na nossa garganta. As informações diziam que os turras tinham ali instalado vinte e quatro canhões sem recuo (talvez um exagero), ao mesmo tempo que o reconhecimento aéreo dava conta de actividade rural por parte da população da tabanca nas redondezas,  o que punha fora de hipótese a destruição por bombardeamento da aviação.

Os comandos não desistiam de eliminar aquele importante ponto de apoio do corredor de Guileje e as surtidas das nossas tropas sucediam-se sem resultados palpáveis. Numa dessas operações, poucos dias depois do Natal desse ano de 1967 (sei a data precisa, mas não a quero referir) [28/12/1967, L.G.] , tivemos mais três baixas estúpidas, a juntar à de São João.

As nossas tropas saíram ao alvorecer e, excepcionalmente, os Lordes (2), do Alferes Tavares Machado, ficaram no quartel, constituindo a segurança das instalações. Menos de uma hora depois,  ouvimos um tiroteio aceso. Os turras tinham emboscado a frente da nossa coluna. Pelo rádio o Capitão Corvacho disse que não havia novidade, que estavam a reagir à emboscada e que o IN estava a retirar.

Em resposta o Alferes Tavares Machado disse que sabia por onde os turras iam fugir e que lhes ia dar uma coça. O Capitão mandou-o ficar onde estava pois a situação estava controlada. Qual quê? Reuniu os seus homens rapidamente e, ele de calças de ganga e camisola branca, embrenharam-se na mata em direcção ao sítio onde deflagrara o tiroteio.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Mais um "achado  arqueológico", descoberto recentemente... A placa com o nome do alf Tavares Machado que estava na parada do aquartelamento...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2013) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


 Pouco tempo depois, talvez meia hora, ouvimos novo arraial e não tivemos dúvidas de que agora eram os Lordes que estavam sob o fogo bem conhecido das Kalash. Posto ao corrente do sucedido, o Capitão retrocedeu ainda a tempo de enfrentar os turras e evitar uma chacina completa. Só não conseguiu evitar as mortes dos  (i) Alferes Nuno da Costa Tavares Machado,  (ii) Soldado António Lopes (cuja alcunha era o Sargento, devido aos seus modos bruscos) e (iii) Soldado António de Sousa Oliveira (o Francesinho).

Se houvesse que configurar num homem só, a raça, o patriotismo e o espírito de sacrifício do valoroso soldado português,  eu escolhia o Francesinho, sem hesitação.

José Neto (2006)

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Notas do autor:

(1) Celestino era o nome com que depreciativamente tratávamos o comandante do BART 1896, sediado em Buba, personagem muito sombria da minha memória pois ameaçou-me com cinco punições, nunca concretizadas. Algumas vezes o trato por besta nesta narrativa, com alguma propriedade.

(2) Os Lordes era a designação dum Grupo de Combate formado por voluntários da companhia que recebeu instrução especial em Bissau com o fim de constituir o primeiro escalão de progressão e assalto, dado que a CART 1613 foi, inicialmente, companhia de intervenção à ordem do Comando Chefe e actuou em vários pontos do território.

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9256: À margem da história oficial ou oficiosa (2): A tragédia, em São João, que ensombrou o Natal de 1966 da CART 1613: o assassínio do Cap Fausto Ferraz, substituído depois pelo Cap Eurico Corvacho (que morreu anteontem)





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Presume-se que fosse uma brincadeira de Carnaval... Dois militares parodiam a PM- Polícia Militar... O Cap Eurico Corvalho pode ser o terceiro a contar da esquerda, pelo menos ostenta é alguém que ostenta as divisas de capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garante-me o Nuno Rubim, que foi seu camarada da academia (O Nuno era de um curso anterior ao do Eurico) ... (LG).

Fotos: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). (Fotos do José Neto † , reeditadas por Albano Costa). Todos os direitos reservados.






1. Na vésperas da noite de Natal de 1966, uma tragédia vai ensombrar a história da CART 1613/BART 1896, a companhia que estava em IAO em São João  e que  iria, seis meses depois,  para  Guileje (onde esteve de Junho de 1967 a Maio de 1968).


Nos registos oficiais diz-se que Cap Mil Art com o nº mecanográfico 1036/C, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2, Vila Nova de Gaia, de seu nome Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, foi vítima mortal de acidente com arma de fogo (sic), ocorrido no aquartelamento de S. João, vindo a morrer a 24 de Dezembro de 1966 no Hospital Militar 241, em Bissau.


O malogrado Cap Ferraz foi inumado no cemitério da Conchada, em Coimbra. Era casado com Maria Fernanda Ferreira da Costa, filho de Manuel Fonseca Ferraz e Ana Rosa Manteigas, sendo natural da freguesia de Pousafoles do Bispo, concelho de Sabugal.


Antes de morrer, o  Cap José Neto (1929-2007) contou-me, antes de morrer,  que se tratou de um homicídio, e não de um simples acidente com arma de fogo. O autor dos disparos foi o Soldado Condutor Auto Rodas José Manuel Vieira Cavaco. Era madeirense (se não erro), tendo recebido na véspera de Natal provisões remetidas pela família, entre elas uma garrafa de aguardente de cana ou de poncha (se não me engano).


A companhia tinha chegado à Guiné há cerca de um mês, e estava em S. João, frente a Bolama, em treino operacional. As saudades da terra, as recordações do Natal e a poncha devem ter feito uma mistura explosiva na cabeça do pobre Cavaco. Sob o efeito do álcool, e sem motivo aparente, o Cavaco abateu a tiro o comandante da companhia, Alferes de Artilharia, graduado em Capitão, Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz em 24 de Dezembro de 1966. Terá inclusive ferido mais militares. O Zé Neto, que estava a exercer funções de 1º sargento,  teve que o esconder para ele não ser linchado.


2. Eis dois excertos das memórias do Zé Neto, publicadas no nosso blogue, na I Série:


(...) Na nossa primeira noite de Natal, com pouco mais de um mês de Guiné, em São João, um soldado nosso matou, a tiros de G3, o comandante da companhia .Excerto do relato do Zé Neto sobre o julgamento do Cavaco, um ano depois em Bissau. 



No dia 25 de Dezembro [de 1966] vieram dois helis com oficiais que indagaram, investigaram, fotografaram e regressaram a Bissau sem o Cap Corvacho, que ficou a comandar, interinamente, a companhia. (...)


Inicialmente, na orgânica do Batalhão, o Cap Corvacho era o oficial mais antigo no seu posto e desempenhava as funções Oficial de Pessoal e Reabastecimento.


Eu já tinha lidado com ele em Brá, pois foi o oficial instrutor dum processo disciplinar que exigi ao comandante, na iminência de ser punido por uma infracção de trânsito - excesso de velocidade da viatura que me transportava - apenas em face da participação dum furriel da PM [, Polícia Militar,] e dum sistema de detecção de velocidade discutível.


O Cap Corvacho (que tinha o curso de Polícia Militar) levou as suas averiguações até ao mínimo pormenor e concluiu – e assim o exarou no final do processo – que a minha ordem ao condutor (não dada, mas assumida) de ultrapassar uma camioneta do BENG [Batalhão de Engenharia] que travou ao ver a patrulha da PM, foi a adequada para evitar a possível colisão, e o excesso de velocidade assinalado pelo aparelho, 12 Km/hora (62-50) em nenhum momento pôs em perigo a circulação na faixa contrária. (...)


O primeiro acto de comando do Capitão Corvacho foi mandar formar a companhia. A sua breve alocução resumiu-se a:

- Estou aqui para vos comandar até à chegada do novo comandante que há-de vir da Metrópole. Enquanto esta situação se mantiver vou exigir-vos o máximo e dar-vos todo o meu apoio. A minha primeira exigência fica já aqui: O que se passou esta noite foi uma tragédia que, contada e recontada, pode vir a sofrer deturpações que em nada favorecem a companhia. Por isso não vos peço que esqueçam, mas sim que não alimentem as coscuvilhices de Bissau e acho que a melhor resposta que podemos dar aos curiosos é: Isso é um assunto interno da companhia, ponto final.


Mandou destroçar e convocou os oficiais e sargentos para uma reunião. Disse-nos que queria o pessoal o mais ocupado possível. Que fossem à lenha, que fossem jogar a bola, que fossem banhar-se na praia, e que o resto do programa de treino operacional era para cumprir no duro.


Depois chamou-me à parte e fomos dar uma volta para conhecer o quartel – eu tinha chegado ali na véspera, pois tinha ficado em Brá a tratar da papelada e pedi para ir passar o Natal com os “meus rapazes” – e a nossa conversa andou à volta da situação algo calamitosa em que se encontrava o sector da alimentação com os desvarios que o Furriel vaguemestre tinha apontado na reunião.


Ficou assente que eu não ia regressar a Bissau no dia 27, como estava previsto, e ficava em São João a fazer um balanço e pôr um pouco de ordem no sector administrativo enquanto ele ia tentar tirar a pele ao pessoal até fazer deles uns combatentes de verdade.


Em princípios de Janeiro de 1967, a CART 1613 que regressou a Brá para ficar como companhia de intervenção à ordem do Comando-Chefe, era outra. Entretanto chegou a Bissau o oficial nomeado para comandar a companhia, o Capitão de Artilharia Lobo da Costa, e gerou-se um pandemónio dos diabos.


Eu nunca tinha visto, nem achava possível, uma manifestação de soldados. Mas o que é certo é que, por organização espontânea, a minha tropa foi postar-se frente ao gabinete do comando do batalhão a gritar:
-  O nosso comandante... é o capitão Corvacho!


Com a voz embargada pela comoção, o Capitão Corvacho disse-lhes:
- Vocês não sabem o que me estão a pedir… mas fico na companhia. Vou trocar as funções com o vosso novo comandante. Ponham- se a andar.


Toda a companhia, desde o Básico ao Alferes mais antigo, compreendeu aquela decisão do Homem que trocava o sossego da Messa e da Gestetner (máquinas dactilográficas e policopiadoras) pela terrível G3.


Seguiu-se um período de cerca de quatro meses de vai e volta. A companhia, aquartelada em Brá, era mandada para os mais diferentes pontos do território, andava por lá dez, quinze dias, e voltava estoirada, mas com um sentimento de dever cumprido cuja expressão máxima era o uso, em qualquer dos uniformes, do Lenço Verde que nos tinha calhado em sorte ainda em Viana do Castelo (todas as companhias do batalhão tinham o seu, de cores diferentes).


Foi numa dessas operações, na área de Pelundo/Jolmete, zona de responsabilidade dum Batalhão de Cavalaria sediado em Teixeira Pinto, que a CART 1613 mais se notabilizou, tendo o comandante do BCAV atribuído ao Cap Corvacho um extenso louvor que deu origem à condecoração com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª Classe.


Ironicamente, saliento que o meu Capitão tinha a postura característica do anti-herói que o cinema nos impinge e afinal a Pátria consagrou-o como Herói. E para adensar a narrativa acrescento que o Cap Corvacho estava, nessa altura, em litígio com as chefias militares, porque no dia em que completou oito anos de serviço como oficial, requereu, ao abrigo do EOE (Estatuto do Oficial do Exército), a sua passagem ao escalão de Complemento (milicianos) desligando-se assim da actividade militar.


Com torneados e floreados, foi-lhe indeferida a pretensão. Só eu e poucos graduados tínhamos conhecimento desta faceta. Este revés provocou-lhe uma imensa raiva interior, mas em nada buliu na sua condição de militar e o pessoal continuou a seguir o seu capitão até às profundezas do inferno se tal fosse necessário e a cantar, quase como hino, “Eles comem tudo/Eles comem tudo/Eles comem tudo/E não deixam nada" - a canção Os Vampiros do Zeca Afonso, proibida no Chiado e arredores, mas difundida em alto som em Guileje, onde morámos e combatemos cerca de um ano. (...).

(...) No final do ano [1967], eu, o Furriel Martins e o 1º Cabo Santos fomos chamados a Bissau para depor no julgamento do Soldado Cavaco . O Tribunal Militar funcionou nas salas do tribunal civil e, em duas sessões, ficou tudo resolvido. O Cavaco deu-se como culpado e o seu defensor, um tenente miliciano de Administração Militar que era advogado, apenas se deu ao trabalho de procurar provar atenuantes para reduzir a pena.


Tanto eu como o Furriel e o Cabo respondemos apenas às perguntas que nos foram formuladas. O Tenente, a certa altura, perguntou-me qual era a minha opinião sobre o comportamento do réu, anterior aos factos.Gerou-se uma pequena quezília processual entre o promotor e o advogado que acabou com o Juiz Auditor (civil) a intrometer-se e declarar que aquele Tribunal tinha a obrigação de conhecer o carácter do réu e, naquele momento, ninguém mais conhecedor do que o depoente (eu) podia responder a perguntas que levassem a fazer um juízo acertado.


Fiquei sob o fogo cerrado, ora de um, ora de outro, com respostas curtas, quase sim e não. O coronel Presidente acabou por me interpelar dizendo-me que, por palavras minhas, classificasse a qualidade de soldado do réu. Respondi com convicção:
-Um excelente e infeliz soldado.


A pena foi de vinte e três anos de prisão maior, a cumprir em estabelecimento penal adequado na Metrópole. Nunca mais o vi, mas tive notícias de que o rapaz não cumpriu nem metade da pena. (...)
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Nota do editor:


Último poste da série > 22 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9249: À margem da história oficial ou oficiosa (1): Revolta, em Guidaje, da martirizada CCAÇ 19 (Manuel Marinho, 1ª C/BCAÇ 4512; José Martins, CCAÇ 5)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9248: In Memoriam (101): Faleceu o Capitão Eurico de Deus Corvacho (CART 1613, Guileje, 1966/68) (Eurico Corvacho, filho)


1. Este poste destina-se a informar todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações e a todos os restantes Camaradas que se solidarizaram em acompanhar a evolução das notícias sobre o seu melindroso estado de saúde, que recebemos as seguintes tristes mensagens do seu filho. 


Eurico Corvalho comandou a CART 1613, "Os Lenços Verdes" (Guileje, 1966/68). 

O capitão Corvacho e os seus homens no regresso de mais uma operação
Caros Amigos,
Apenas uma linha para o informar de que o nosso Coronel baixou a guarda.
Estou em Luanda e ainda não sei mais detalhes, sei que faleceu hoje (dia 21) pelas 20:00 no IASFA em Oeiras.
Agradeço passa a palavra pelo seu blogue a todos os companheiros de armas.
Um abraço
Eurico Corvacho
GSM +351 917 250 371
+244 923 589 738
Skype eurico.corvacho

Bom dia,
Para conhecimento, o meu pai estará amanhã, dia 23, em câmara ardente na igreja da Estrela. A missa será pelas 12h00 e seguirá para o cemitério do Alto de S. João cerca das 13h00 e ali será cremado às 14h00.
Um Abraço
Eurico Corvacho



Camaradas do meu pai,
De acordo com o que eu e a minha mãe aqui escrevemos ontem [, comentário de hoje, 22, deixado às 11h, no Poste P6520,] , venho fornecer as informações sobre o velório e o funeral. Ambos realizar-se-ão na Basílica da Estrela, sendo que o velório é hoje a partir das 6h30 e o funeral amanhã [, dia 23,] às 12h, sendo que depois se seguirá para a cremação.

Eduardo de Melo Corvacho  
___________

Nota de M.R.:


Vd. Também o último poste desta série em:

15 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P9205: In Memoriam (100): O pessoal da CAÇ 1686 do BCAÇ 1912 está de luto (Aires Ferreira) 

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6520: Banco do Afecto contra a Solidão (10): Falar do Cap Eurico Corvacho, é falar de um Homem com H grande (António Gomes da Cunha)

1. Mensagem de António Gomes da Cunha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 1613/BART 1896, Guileje, 1966/68:

Caros Camaradas da Tabanca Grande
Sou um dos 155 homens que durante 20 meses fotam comandados pelo Capitão Corvacho** na Guiné 1966/1968 CART 1613 “Os lenços verdes”.

Falar deste homem com “H” GRANDE, só quem na verdade o conheceu e acompanhou.

É normal que dos muitos camaradas da CART 1613 que felizmente ainda resistem aos fortes ferimentos da guerra neste mundo, não se manifestem nesta ou noutras páginas a falar da guerra, porque como passamos muita, mesmo muita guerra, não nos queremos recordar
dela, porém quando se fala do Corvacho, falamos de um Irmão de armas e aí temos de nos manifestar e tirar o chapéu a este grande homem.

Felizmente, no convívio da Companhia 1613 que organizei em Braga em 2005, depois de lhe telefonar várias vezes, bem como a sua esposa, consegui tê-lo em Braga pela primeira e única vez, foi como se todos nós tivéssemos encontrado o Pai de deixamos de ver desde Agosto
de 1968. Muita coisa poderia dizer-vos sobre o Capitão Corvacho, deixo aqui apenas duas coisas:

1 – Foi em Guilege que pela primeira ouvi músicas que para nós eram normais, mas que mais tarde verificamos que se tratavam de canções políticas como: Ao romper a madrugada no quartel da guarda senhor general, mande embora a sentilela mande embora o seu guarda portal!

2 – O Capitão Corvacho foi o único comandante que no final da comissão, quando chegamos ao quartel dos adidos para aguardar embarque para a Metrópole, reunindo a companhia, lhe apresentou contas do dinheiro que esta recebeu para a nossa alimentação, o que gastou e o
dinheiro que sobrou, depois de todas as explicações, informou-nos de quanto iria distribuir por cada um dos elementos da Companhia.
Com este gesto de grande camaradagem e de honestidade, a juntar à Cruz de Guerra a nível de companhia e cerca de 58% dos louvores atribuídos a todo o batalhão, que mais se pode dizer deste homem!

Capitão Corvacho é sempre recordado nos nossos convívios, e o próximo é já no dia 5 de Junho em Viana do Castelo, local de onde saímos com destino á Guiné.

Força meu grande amigo comandante, continue a lutar pela vida, embora todos já tínhamos morrido em Guilege, na Guiné

Até sempre
Um abraço
António Gomes da Cunha
1.º Cabo Radiotelegrafista
CART 1613 “Os Lenços Verdes”
acunha45@hotmail.com
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

(**) Vd. poste de 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6161: Banco do Afecto contra a Solidão (7): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias

Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6295: Banco do Afecto contra a Solidão (9): Victor Tavares internado nos HUCoimbra, para uma operação à coluna 2 (Paulo Santiago)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6161: Banco do Afecto contra a Solidão (7): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias


1. Este poste destina-se a informar todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações, e a todos os restantes Camaradas que se solidarizam em acompanhar a evolução das notícias, que vamos recolhendo, sobre o seu melindroso estado de saúde.

2. Em 9 de Abril surgiu um novo comentário, da autoria de Américo Carvalho, no poste “Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Cor....”, com o seguinte teor:

Finalmente, e graças ao seu filho mais velho, visitei o meu Coronel em Oeiras, no IASFA, aonde está tipo armazenado. Este Homem extraordinário que é, para mim, um Herói de Abril. Sinceramente nunca me passou pela cabeça que teria de vê-lo amarrado a uma cama no verdadeiro sentido, amarrado pelos pulsos. Até para beber água, com garrafas junto a ele, tem que pedir para lha darem pois ele não pode autonomamente bebê-la, dado estar preso aos beirais (guardas laterais da cama). Eu não sei se será necessário tal prisão, mas, enfim, foi um dia que fiquei triste, por ver o que vi, e pedia a todos, que com ele conviveram, para lhe darem um pouco de calor Humano com a sua presença. A sua morada é IASFA, cama 108 em Oeiras, junto á antiga Fundição de Oeiras. Sem mais agradecia do coração que fizessem uma visita a este Homem que eu conheci bem e me ficou no coração.

3. O nosso Camarada Luís Graça, em 12 de Abril, reenviou ao filho do Coronel (com o mesmo nome do pai - Eurico Corvacho), o mencionado comentário, para seu conhecimento:

Meu caro Eurico: Pelo que vejo, as notícias sobre o seu pai, nosso camarada, continuam a não ser as melhores. Dou-lhe conhecimento deste comentário. Julgo que o Américo Carvalho seja alguém da companhia comandada pelo seu pai em Guileje. Gostava de confirmar, antes de dar o devido destaque ao comentário. Se o comentário for de pessoa idónea (como eu espero), gostaria de ter mais informação sobre a situação do seu pai, local onde está, horário de visitas, etc. Saudações. Luís Graça

4. No mesmo dia, poucas horas depois, veio uma esclarecedora resposta do filho:

Meu caro Luís Graça e todos os camaradas de armas do meu pai,
É com muita satisfação que vou tomando conhecimento da preocupação e das mensagens de solidariedade que tenho recebido destes homens que tiveram a oportunidade de privar com o meu pai.
Efectivamente ele tem uma doença, Corea de Huntington, do foro neurológico, degenerativa e sem tratamento. Um dos sintomas tem a ver com a descoordenação dos movimentos, o que faz que os doentes em fase avançada tenham que ser, com equipamento especial, amarrados á cama no sentido de não se magoarem involuntariamente. Não é efectivamente bonito de ser ver, mas um mal necessário.
Mais, quero frisar e louvar todo o corpo de médico e de enfermagem do IASFA, que tem sido impecável no seu acompanhamento.
O quadro dele é estável, tendo resistido a vários episódios clínicos complicados.
Penso que tem momentos de lucidez e por vezes reconhece as pessoas, fica contente com as visitas que vai tendo.
O IASFA fica junto á estação de caminhos-de-ferro de Oeiras e o horário das visitas vai das 13 às 19 horas, todos os dias.
IASFA/ Assistência na Doença a Militares
Rua Piedade Franco Rodrigues, 1
2780-383 OEIRAS
Vou mantendo informado de qualquer alteração deste cenário.
Saudações,
Eurico Corvacho

5. Mais uma vez agradecemos ao Sr. Eurico C. Corvacho, as notícias que nos foram prestadas, registando aqui um sempre renovado e sincero desejo das melhoras do seu estado de saúde.

Emblema do IASFA: © (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

Vd. poste anterior desta série em:

25 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 – P5007: Banco do Afecto contra a Solidão (6): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P5007: Banco do Afecto contra a Solidão (6): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, Últimas Notícias


1. Este poste destina-se a todos os Homens que serviram sob as ordens do então Capitão Eurico de Deus Corvacho, que dele guardam as melhores recordações, e a todos os restantes Camaradas que se solidarizam em acompanhar a evolução das notícias, que conseguimos recolher, sobre o seu melindroso estado de saúde.

O nosso Camarada Nuno Rubim dirigiu-me, em 16 de Setembro p.p., a seguinte mensagem:

Assunto: Notícias do Cor. Eurico Corvacho

Caro Camarada Magalhães Ribeiro,
Visitei ontem, no Hospital Amadora/Sintra, o Cor. Corvacho.
Tal como o filho me avisou, fiquei triste por ele não ter dado sinais de me reconhecer, nem reagir às fotografias que lhe mostrei sobre Guileje e as suas gentes. Só correspondeu nas vezes em que lhe apertei a mão.
O filho disse-me que algumas vezes ele está um pouco mais lúcido.
De qualquer forma o Cor. Corvacho vai ser transferido para o IASFA (Instituto de Acção Social das Forças Armadas).
Um abraço,
Nuno Rubim

Em 17 de Setembro de 2009 reenviei estas fracas novidades ao filho do brigadeiro, com o mesmo nome - Eurico C. Corvacho, que, lembro, se encontra a trabalhar em Angola:

Assunto: GUINÉ: Notícias do seu querido pai - Cor. Eurico Corvacho
Boa noite Amigo Eurico Corvacho,
Junto informação prestada, através de e-mails, por um dos bons amigos de seu pai, que já conseguiu saber algumas notícias dele.
Deixo à sua leitura para conhecimento.
Envio também com conhecimento ao emissor.
Um abraço Amigo do,
Eduardo Magalhães Ribeiro

Dois dias depois, em 19 de Setembro de 2009, recebi de Eurico C. Corvacho, o seguinte e-mail:

Bom dia a todos Caros Amigos,
As últimas informações que tenho, são que o meu pai vai ter alta na próxima segunda-feira.
Não consegui apurar para onde vai pela falta de comunicação com a mulher dele, visto ela não me atender o telefone. Enfim, sem comentários.
No entanto, o Coronel Morais da Silva disponibilizou-se para fazer a “ponte” com ela, bem como tentar resolver a questão do IASFA, que afinal não parece que estava garantida…
Vou-vos mantendo ao corrente do desenrolar do processo.
Um forte abraço para todos,
Eurico Corvacho

No dia 22 de Setembro de 2009, recebi de Eurico C. Corvacho, novo e-mail:

Caros Amigos,
Apenas duas linhas, e que me parecem que podem ser publicadas no blogue.
Serve para vos informar que o meu pai está desde ontem no IASFA (Instituto de Acção Social das Forças Armadas), em Oeiras, com um quadro estável.
Um abraço para todos
Eurico Corvacho

P.S. Mais uma vez agradecemos ao Sr. Eurico C. Corvacho, as boas notícias que nos foram prestadas, registando aqui o renovar dos sinceros desejos das melhoras do seu estado de saúde.

Emblema do IASFA: © (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

sábado, 12 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4941: Banco do Afecto contra a Solidão (4): Um grande capitão da Guiné - Eurico de Deus Corvacho - CART 1613, continua hospitalizado


Guiné > Guileje > CART 1613 (1967/68)> 1967 > Regresso ao quartel de uma operação, com o Capitão Corvalho à frente, seguido pelo Costa da Bazuca.
Foto: Zé Neto (2005). Direitos reservados.

Camaradas,

Em 23 Fevereiro 2006, foi publicado um poste da autoria do saudoso Zé Neto, com o título:

Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)

Muito recentemente, mais precisamente em 6/08/2009, surgiu no citado poste a seguinte mensagem:

«Fui condutor do coronel Corvacho na 1ª comissão em Angola, na C.P.M 150. Era alferes e fui eu, com um outro soldado (hoje presidente da Câmara de Alenquer), que lhe oferecemos os galões de tenente, porque sabíamos que ia ser promovido no dia seguinte. Lidei com ele 27 meses e nunca mais irei esquecer estes fabulosos meses, que passei (foi um privilégio) com ele. Até à pouco tenho almoçado com ele regularmente, mas como o deixei de ver, fui a casa dele saber se estava melhor. Segundo me informou a Srª. sua esposa, meteu-o num Lar de Idosos, pois já não tinha paciência para lidar com ele, tal a dependência a que chegou aquele homem bom e humano. Bom não quero fazer mau juízo de ninguém, mas creio que a 1ª esposa, que bem conheci, não faria tal coisa. Com pena o deixei de ver, e até a ajudá-lo. Cheguei a ir ao Colégio Militar, aonde foi pagar uma viagem do filho mais novo.»

Três dias depois, em 9/08/2009, foi a vez da sua neta Catarina deixar também uma curta mensagem:

Em nome do meu Avô, que se encontra neste momento numa cama de um hospital a lutar contra a doença que tem (amarrado, pois a suposta família foi de férias), agradeço a homenagem.

Catarina Corvacho

Preocupado com um eventual agravamento do estado de saúde, deste nosso excelente Capitão da Guiné, que hoje é Coronel na situação de reforma e foi brigadeiro graduado em 1975, tendo estado à frente da região Militar do Norte, enviei um e-mail ao seu filho mais velho, em 9 de Setembro de 2009, nos seguintes termos:

Boa noite Exmo. Sr. Eurico C. Corvacho,

Quem se lhe dirige, por esta prática via, é Eduardo Magalhães Ribeiro, um colaborador do blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, que foi furriel miliciano na Guiné, em 1974.

Acabei de saber agora, por uma mensagem deixada no blogue, por uma neta do nosso muito estimado por diversos dos seus bem comandados homens, que o nosso Brigadeiro Eurico de Deus Corvacho se encontra numa cama do hospital.

Será que o Senhor não nos podia fazer um ponto da situação do estado de saúde do seu querido pai, permitindo-nos a posterior "postagem" no blogue para informação e conhecimento de todos os interessados?

Desde já, em meu nome pessoal e de todos quantos se interessam de algum modo por este assunto, muito agradecido fico por todo e qualquer esclarecimento prestado.

Cordiais saudações e cumprimentos de,

Eduardo Ribeiro

No dia 10 de Setembro de 2009 recebi a resposta:

Bom dia Sr. Magalhães Ribeiro,

Tudo isto é uma história muito triste. Eu encontro-me em Luanda/Angola a trabalhar.

No decorrer da semana passada recebi um telefonema de um camarada do meu pai, Coronel Fonseca, que me conhece e o qual não vejo faz muitos anos. Foi portador da pior notícia, informando-me que o meu pai estava hospitalizado e bastante mal.

Fiquei preocupado e espantado pela forma como me chegou a notícia e porque razão estaria ele no Amadora/Sintra e não HMP.

Efectivamente tenho que dizer que não tenho as melhores relações com a minha madrasta, falamos o indispensável, no entanto, perante assunto desta gravidade, não havia razão para ela não entrar em contacto comigo ou com a minha mulher para informar, por um lado que ele estava num lar, por outro que tinha sido hospitalizado, facto que ela tem conhecimento.

Bem, de imediato coloquei-me em campo e fiquei chocado com o que encontrei.

Ele foi parar ao Amadora/Sintra por estar internado, desde data inserta, numa casa de saúde, em completo abandono.

A razão do internamento dele teve a haver com uma infecção pulmonar e, posteriormente, com uma infecção hospitalar. Continua a lutar contra a doença que o acompanha faz alguns anos e que é do vosso conhecimento.

Soube que está internado desde 13 de Agosto, sem qualquer visita ou acompanhamento de alguém. No hospital não sabiam sequer que se tratava de um Coronel do Exército. Pelo quadro de abandono, já estava envolvida uma assistente social.

Bem de imediato a minha mulher foi ao hospital, inteirou-se da situação, falou com os médicos e com a assistente social, explicando quem ele é, que tem família e as razões pela qual se tinha criado esta triste e desagradável situação.

Estamos neste momento a tratar da sua transferência para o HMP, que ainda não sei quando terá lugar, cancelando o processo de abandono com a assistente social, bem como recorrendo a apoio jurídico para o acompanhamento deste processo.

Voltando ao estado dele, encontra-se em recuperação das infecções aguardando resultados de novas análises. Está internado em regime de isolamento na medicina 1A, 6º. Piso do Amadora/Sintra e diariamente recebe visitas da nora e dos netos. É notória a alegria dele ao ver caras conhecidas e de pessoas que ama.

O comentário da minha filha mais velha, Catarina, foi um desabafo perante todo este cenário, em tempos enfiei aos meus filhos o endereço do vosso blogue para terem a noção da estripe que é feita o avó deles, um grande Homem.

Para qualquer informação adicional, não hesite em me contactar, e pode publicar o conteúdo do presente correio.

Do meu lado podem contar com informações sempre que houver algum desenrolar deste assunto.

Melhores cumprimento e grato pela vossa preocupação

Eurico C. Corvacho

Resta-me agradecer ao Sr. Eurico C. Corvacho, em meu nome pessoal e de todos os Homens que serviram sob as ordens do seu querido pai, e que dele guardam as melhores recordações, as boas notícias que nos foram prestadas, registando aqui o renovar dos sinceros desejos das melhoras do seu estado de saúde.

Com um abraço de,

Magalhães Ribeiro

___________

Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)

4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabral)

Vd. outros postes sobre o Capitão Corvacho:

31 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVIII: Corvacho, um homem com honra (João Tunes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVII: Corvacho, um capitão de Abril (A.Marques Lopes)

23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)