Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > Natal de 1967 > "Foto que me foi oferecida pelo grande amigo António Malheiro (natural de Lamego, vive no Porto)."
Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 1423 > Monumento funerário, à memória dos Fur Mil Condeço e Boneca, mortos na tarde de 24 de dezembro de 1966 (ainda evacuados para o HM 241). (****)
Foto (e legenda): © Ex-1º Cabo Gandra / Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Os meus Natais de 66 e 67 no HM 241, em Bissau...
por António Reis
O de 66 foi um Natal passado em família, a família do hospital mais os convidados.
As mesas forma postas cá fora; foram os oficiais médicos e os não médicos, os sargentos... Foram muitas esposas da metrópole para passarem o Natal.
Para quem estava habituado a pouco como eu, diria que nada faltou. Na nossa mesa andava, à vez, um de nós quase sempre de pé para desenrascar o que faltava.
Para quem estava em guerra foi um bom Natal, mas para que não esquecêssemos que estávamos em guerra, não faltaram os helicópteros com mortos e feridos, por mais de uma vez, uma das quais com um capitão, já morto (**), e outra com dois furriéis gravemente feridos.
Um deles, se bem me lembro era uma figura do mundo do desporto, conhecido por "furriel boneco": ficaram ambos na minha enfermaria. Não me lembro se morreram os dois, mas pelo menos o "boneco" morreu. (***)
Assim se passou o Natal de 66, só que depois veio janeiro e passámo-lo, nós, as praças, a comer "bianda" (arroz) ao almoço e "bianda" ao jantar, para pagar a fatura do que foi gasto na noite de Natal.
No Natal de 67, como não foram convidados nem médicos nem sargentos, nem ninguém estranho ao serviço, passámo-lo no nosso modesto refeitório, feito em hexágonos de cimento, tendo como telhado chapas de zinco, sem nada a lembar qiue era o Natal.
Não foi mau, porque outros o passaram metidos em abrigos que tinham furado, ou tinham sido feitos com camadas de troncos de árvores, e a frazerem uma prece para chegarem ao dia seguinte.
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Notas do editor:
(*) Ultimo poste da série > 11 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26377: Humor de caserna (94): "Ó meu alferes, telefone à minha mulher e diga-lhe que morri a pensar nela!" ... Ou para o que davam as sezões!... (Alberto Branquinho, "Cambança Final", 2013)(**) Vd,. poste de 17 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4968: In Memoriam (32): Cap Mil Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, CART 1613, morto pelo Sold Cavaco, na véspera do Natal de 1966
(***) Não era alcunha mas apelido: "Boneca" e não "boneco": José Manuel Caracol Boneca, algarvio de Portimão...Vd. aqui os dois furriéis, gravemente feridos, que vão morrer no HM 241 na Consoada de 1966, ambos vítimas de rebentamento de uma armadilha, no Cachil:
Álvaro Nuno Florentino Condeço, fur mil at inf, CCAÇ 1423 / BCAÇ 1858, natural de Évora,
José Manuel Caracol Boneca, fur mil sapador, CCAÇ 1423 / BCAÇ 1858, natural de Portimão.
(****) Vd. poste de 18 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2361: O meu Natal no mato (4): Cachil, 1966: A morte do Condeço e do Boneca, CCAÇ 1423 (Hugo Moura Ferreira / Guimarães do Carmo )
3 comentários:
António Reis, também passei pelo HM241 em 1967, no ano em que cheguei, para estomatologia para arrancar mais uns dentes, Por lá ficaram pelo menos 3 que bem falta me fazem. Hoje eram tratados e não arrancados e vínhamos embora a cuspir sangue.
Mais tarde em 68 também passei por lá com problemas oftalmologia e outros.
Em 69 estive em Maio na psiquiatria, 15 dias, para sanar uma doença de sono. Foi aí que vi a chegarem os Heli com tanta gente ferida ou morta.
Mas tenho uma duvida, se vi ou não os Heli com grades de fora e com mortos .
Gostava de ser esclarecido, pois esse cenário era dantesco nunca esqueci.
Não sei e vi mesmo presencial, ou é uma imagem que vi em filmes de guerra que vejo todos os que aparecem, muitos são histórias verdadeiras.
Abraço e vamos esquecer tudo isto, senão levamos estes pesadelos para a cova.
VT.
Camarigo António Reis o local do monumento funerário à memória dos furriéis Condeço e Boneca fica entre o Ex-quartel do Cachil conhecido por "forte Apache" é na Ilha do Como entre o ex- quartel do Cachil e a mata do Cachil clareira que tem + ou - cem metros, conheci bem esse local, nos primeiros onze meses de 1964 foi meu local de residência. Nesse local a C. caç 557 na operação Tridente também lá deixou a marca do seu sangue na pessoa do soldado atirador António Bicho natural de Portalegre. Abraço e um bom 2025.
Virgílio, o heli AL II (substituído pelo heli AL III) é que tinha as tais "grades" exteriores onde se levavam os feridos... Já não são do meu tempo (1969/71)... Ainda existiam em 1965/66/67... É possível que ainda os tenhas visto... Não sei como é que as enfermeiras podiam cuidar e vigiar os feridos durante o voo... Vê aqui fotos:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Alouette%20II
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