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quinta-feira, 13 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26580: Ser solidário (279): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à Afectos com Letras - ONGD


1. Mensagem da Associação Afectos Com Letras - ONGD, com data de 7 de Março de 2025:

AJUDE SEM GASTAR NADA!

Consigne 1% do seu IRS à Afectos com Letras

📌 Como funciona?
Ao preencher o seu IRS, indique o nosso NIF 509 301 878 na entidade a consignar.
Não paga nada, mas ajuda-nos a continuar a mudar a vida de muitas meninas na Guiné-Bissau!

❤️ Porque escolher a Afectos com Letras?
• Apoiamos crianças, jovens e famílias em situação vulnerável num dos países mais pobres e mais frágeis do mundo;
• Desenvolvemos projetos educativos e de empoderamento das meninas e mulheres em estreita ligação com as comunidades locais num registo 100 % voluntariado;
• Cada contribuição faz a diferença!

📢 Partilhe esta mensagem e ajude-nos a chegar mais longe! Só juntos, podemos fazer a diferença!

Associação Afectos com Letras, ONGD
Rua Engº Guilherme Santos, 2
Escoural , 3100-336 Pombal
NIF 509301878
tel - 91 87 86 792
venha estar connosco no https://www.facebook.com/afectoscomletrasongd

_____________

Nota do editor

Último post da série de 6 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26559: Ser solidário (278): No próximo dia 19 de março de 2025 às 17h30, realizaremos a nossa Assembleia Geral, na qual analisaremos conjuntamente o Relatório de Atividades e Contas de 2024 e deliberaremos sobre a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para 2025 (Manuel Rei Vilar)

segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26570: VI Viagem a Tmor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte I: de 22 de fevereiro a 4 de março: a importância ainda de ser "amu" (padre), na terra do sol nascente


Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   A dedicatória do Xanana no oseu livro "Meu Mar,. Meu Timor" (em português):  "Para Rui Chamusco:Muito agradecido
pela escola que construiu em Timor Leste!... 
Muita amizade. Xanana, NY, 23 setembro 2024"


Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  João Crisóstomo com Xanana Gusmão:
 "a expressão de surpresa por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné" (*)…

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1 Mensagem do Rui Chamusco


Data - 04/03/2025, 06:58

Assunto - Crónicas de Timor Leste

Estimados amigos.

Cumprindo a promessa que vos fiz, aqui estou a enviar-vos o primeiro bloco de crónicas, a fim de que estejam a par das nossas "démarches" por estas terras e, sobretudo se divirtam com a descrição de coisas insignificantes. (**)
Com um abraço para todos, o enviado especial Rui Chamusco.


 

O "malaio" (estrangeiro)
Rui Chamusco.

Fonte: LG (2017)

2. O Rui é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. 

Em Timor (onde já foi cinco vezes, desde 2016, e com esta é a sexta), o Rui continua a  dedicar-se de alma e coração aos projetos que a ASTI (Associação  tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, no município de Liquiçá.

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. Tem uma filha que quer ser médica, a Adobe, e que tem grande talento para a música. É afilhada do Rui. (*)

 

VI estadia em Timor Leste (2025) - Parte I: de 22 de fevereiro a 4 de

por Rui Chamusco 


Nunca sabemos quando será a próxima vez. Pelo que nos custa a despedida, e porque morremos de saudade ainda sem partir à medida que se aproximam os últimos dias, dizemos sempre: é a última vez que aqui venho.

Assim tem acontecido comigo em relação a Timor Leste. Há sempre alguma coisa que nos faz voltar. Os assuntos relacionados com a escola do projeto de solidariedade da 
ASTIL “obrigam-me(nos) a regressar aqui mais uma vez.

E, pronto. Há que marcar os dias das viagens (ida e volta), há que fazer a mala e, o mais penível para pessoas idosas como eu (já perto dos 80), há que fazer a viagem de mais ou menos 20 horas de voo. O corpo é que paga. E, quando chegamos ao destino, é um alívio inexplicável. Chegar a casa, ainda que do outro lado do mundo, sabe-nos bem, tranquiliza-nos. Agora, há que adaptar-se ao ritmo de vida daqui, com mudanças radicais dos usos e costumes destas gentes (fuso horário, higiene, comida, idioma, novos cheiros, novos ares, etc… etc…

De novo em Ailok Laran, nos arredores de Díli, na casa de família do grande irmão e amigo Eustáquio, o nosso suporte na concretização do projeto de solidariedade da ASTIL em terras do sol nascente. “Vamos descansar para que mañana podamos trabajar”. Que esta canção espanhola seja a inspiração para o trabalho que nos espera.

22.02.2025,  sábado – É de manhã que se começa o dia.

Logo após a informação que postei no Facebook, surgiram respostas de pessoas
importantes a quererem ajudar na resolução dos problemas, nomeadamente o
problema da colocação de professores na Escola São Francisco de Assis, em Boebau/Manati, nas montanhas de Liquiçá. 

Destaco a resposta pronta do Dr. Dionísio Babo Soares, embaixador de Timor Leste na ONU, um timorense muito estimado (já foi ministro do governo várias vezes) e que me tem contactado via whatsapp por influência do amigo comum João Crisóstomo, e a quem estou muito agradecido. Vou seguir os seus conselhos, as suas indicações. 

Quero também salientar a resposta da Dra Milena Pires , ex-candidata à presidência da república nas últimas eleições que, despois de cinco anos de nos termos encontrado em New York, me contactou para fornecer contactos importantes dentro do ministério da educação e mostrou a sua disponibilidade em nos ajudar. Obrigado Dra. Milene!

Obrigado também Dr. Pedro Sarmento por estar tão solícito em relação ao assunto
que tanto nos preocupa, procurando sempre abrir caminhos que nos tragam uma
solução.

Amanhã, começam as primeiras diligências, o primeiro encontro daqueles que estão previstos.


22.02 – Encontros e desencontros


É sempre assim. Quando se é portador de encomendas, a entrega aos destinatários nem sempre é fácil. Por email, contactei o João da Megatours que me informou que sábado também trabalhava. Combinamos então ir este sábado fazer a entrega. E lá vamos nós (eu e o Eustáquio) ao começo da tarde a caminho da megatours. Surpresa!

As portas estavam fechadas, sem sinal algum de qualquer presença. Sem o seu número de contacto, imaginem o nosso estado de alma. Posteriormente fui informado de que ele não foi preciso com a informação, uma vez que só trabalhavam no sábado de manhã. Pior para ele, que só recebeu a encomenda dois dias depois. Pois! Com correios e estafetas não se brinca…


23.02.2025, domingo – À mesa também se fala

O amigo Pedro Sarmento mal soube da minha chegada quis dar-me as boas vindas e oferecer os seus serviços para que esta minha estadia decorra o melhor possível.

Muito solícito connosco, para com a ASTIL, tentando encontrar uma solução para o problema da falta de professores na Escola São Francisco de Assis em Boebau, telefonou várias vezes para marcarmos encontro e falarmos sobre o assunto.

Marcamos um almoço de família para o dia seguinte e, à mesa, definimos os passos a seguir: pessoas com quem falar, instituições a contactar, marcação de audiências, etc…

Amanhã será já o primeiro encontro no Paço Episcopal, com o Vigário Geral e com o senhor cardeal de Dili D. Virgílio. Sinto alguma espectativa e esperança. Que assim seja.

23.02 – Chuva a cântaros

Quase todos os dias chove por aqui. Hoje, em Dili, choveu a cântaros. Logo, as ruas e as estradas se tornaram um pantanal, carros, carretas e motores a darem provas da sua resistência que, em muitos casos, vão dando espetáculo. A juntar a tudo isto as pessoas. Umas por curiosidade, outras por necessidade irrompem de todos os lados, pondo à prova a facilidade com que encaram estas situações. Às vezes corre mal, e há pessoas e veículos que são arrastadas por estas cheias. Como se costuma dizer, brincam com o perigo. 

Com medo estava eu que, ao lado do Eustáquio, viajávamos para casa e lhe dizia: “ Tu vês alguma coisa?” Mas ele, intrepidamente, superava os obstáculos, galgando os buracos dos caminhos que, devido à chuva, mais pareciam planos e com bom piso. Entretanto as crianças divertiam-se, surgindo das poças de águas como se fossem piscinas, todas encharcadas de água e lama. Se a chuva é graça de Deus, então aqui estamos a ser muito abençoados.

23.02 – Se não é ("amu"), parece…



Já por diversas vezes que assim sou visto, sobretudo quando frequentamos serviços públicos. Hoje foi no BNU de Dili, ao tirar a senha para um levantamento. 

O polícia que controlava a máquina das senhas pergunta ao Eustáquio qual o serviço, e tira uma senha com o número 112 que lhe entrega, e pergunta de imediato sobre a minha pessoa: “Amu (Padre)!” E o Eustáquio, que é muito sabedor destas coisas, responde afirmativamente com um abano de cabeça. De imediato, o polícia tira nova senha com o número 14 de outro balcão de atendimento, cujo chamamento veio logo a seguir.

Aqui, em Timor, ainda há um respeito muito grande pela figura do “Amu”. Sendo ou não sendo ("to be or not to be"), às vezes dá um jeito enorme, sobretudo quando há uma sala de espera cheia de gente à nossa frente.


24.02.2025, segunda  – Mais uma retificação do bilhete

Desta vez, não por culpa dos outros, tivemos de fazer alterações nos bilhetes de ida e volta. Então não é que só tardiamente me dei conta de que a viagem de regresso a Portugal estava com partida e chegada no mesmo dia. Era bom que assim fosse. Todos os que viajam de Dili para Lisboa sabem bem do tempo que se demora. Dias!... E pronto. Vai daí, toca a fazer a alteração e a sofrer as consequências. “Quando a cabeça não tem juízo o corpo(a carteira) é que paga…”

24.02 – Carta a Kay Rala Xanana Gusmão

A ideia de pedir uma audiência a Kay Rala Xanana Gusmão partiu do amigo João Crisóstomo que, aquando do seu encontro com Xanana em New York no lançamento do livro “Hai nia Tassi. Hai nia Timor” em setembro de 2024, aproveitou a ocasião para falar da situação da Escola São Francisco de Assis ao primeiro ministro de Timor Leste.

 Xanana ouviu com atenção e manifestou o desejo de visitar a escola. E cá ando eu, como enviado, nesta missão de contactar e de convidar Sua Excelência a fazer-nos a visita, se puder ser no dia do aniversário da ESFA, que este ano será no dia 22 de Março.

Carta escrita, carta pronta para entrega, e lá vamos nós a caminho do palácio presidencial. Primeira peripécia: de como ir vestido. Diz-me o Eustáquio de que é regra levar camisa com gola, e eu estava de tishirt. Mesmo assim, lá vamos nós. Segunda peripécia: chegados à receção do gabinete do primeiro ministro, a carta foi aberta pelo funcionário para ver se estava tudo conforme. OK! Tudo bem, exceto o cabeçalho.

Soubemos então que o senhor primeiro ministro não quer ser tratado pelo seu nome de batismo (José Alexandre Xanana Gusmão) mas pelo seu nome de guerra Kay Rala Xanana Gusmão. Voltamos para casa a fazer as modificações e, de tarde, o Eustáquio voltou com a missiva. Azar dos azares, não serviu pois eu em vez de escrever Kay Rala escrevi Ray Rala. Modificações feitas, e lá vai de novo o Eustáquio de volta ao palácio.

À terceira foi de vez. Tanta peripécia para levar a carta a Garcia!... Agora há que
esperar para ver se nos respondem e se somos chamados para a audiência solicitada.


25.02 – Até Liquiçá

A decisão foi rápida. O Eustáquio recebeu ontem à noite uma chamada para transportar as professoras da ESFA Delfina e Fátima de Dili a Liquiçá a fim de frequentarem um curso sobre cuidados de saúde. E eu, que estava ao lado a ouvir, quis de imediato inteirar-me do assunto. Depois da explicação, o Eustáquio perguntou logo:

“ Ó Tiu,  quer ir também?” E no dia seguinte pelas 7 horas da manhã, lá vamos nós a caminho de Liquiçá. Depois do desembarque da Fátima e da Delfina, passamos pela Escola CAFÉ de Liquiçá visitar a professora Teresa, que já nos esperava.

 Nas escolas CAFÉ a maioria dos professores são portugueses, pelo que há sempre grande empatia com eles sempre que nos encontramos tão longe do nosso país. E, claro está. A professora Teresa que é a coordenadora da escola, aproveitou-se logo da minha presença por cá para me pôr a trabalhar: ensinar algumas músicas a um grupo de alunos, que este ano não têm professor(a) de música. Não pude recusar, e qualquer dia aí vamos nós animar essa gente. Que tudo seja por bem.

25.02. 2025, terça– Telefonema do ministério da educação

Ainda na escola CAFÉ de Liquiçá, recebo uma chamada do Dr. Filipe Rodrigues da parte do ministério da educação para saber se poderia estar às 10 horas para uma reunião sobre o assunto da nossa escola em Boebau. Por minha culpa, foi impossível de estar, uma vez que foi enviada uma mensagem no dia anterior que eu não li. Desculpaspedidas, foi então agendada esta reunião para amanhã às mesmas horas, à qual não podemos faltar pois estamos ansiosos por saber qual a opinião da equipa de inspeção sobre a visita que fez à Escola São Francisco de Assis. E voltamos a Dili rumo ao palácio do governo, a fim de entregar uma carta dirigida ao primeiro ministro Xanana Gusmão.

26.02.2025, quarta  – O senhor galo

Hoje, enquanto tomávamos o “mata-bicho”, ouviram-se uma pancadas de quem à porta bate. Imediatamente eu comentei: “alguém bate à porta”. E logo o Eustáquio se levantou e disse: É o galo.” 

Foi buscar uma mão cheia de milho e foi abrir a porta. Eu, incrédulo, fui atrás dele para verificar se um galo é assim que bate à porta. Fiquei pasmado. Um pouco abaixo dos degraus da entrada, lá estava o senhor galo mais umas quantas galinhas esperando a dose diária do seu manjar. O anfitrião explicou que ele faz isso todas as manhãs. Com o bico bate à porta algumas vezes, e espera que a porta se abra e alguém espalhe as deliciosas sementes. Bem acompanhado pelas suas almas gémeas avançam em ordem para o repasto. 

Ainda perguntei ao Eustáquio: “Estas galinhas são todas tuas?” –“Não. Algumas são dos vizinhos”. Aqui é assim: onde come um comem nove ou dez. Um galo capataz, que se preocupa em que os outros comam também. Linda lição, senhor galo!..


26.02 – Encontro no ministério da educação

Este era um encontro muito desejado da nossa parte, depois da visita que a equipa de inspetores (3) fez há tempos à Escola São Francisco de Assis. De porta em porta, lá fomos andando até nos apresentarem o Dr. Filipe Rodrigues, a pessoa encarregue pelo ministério para estabelecer a ligação com a nossa escola. 

Depois fomos encaminhados para a sala de reuniões, onde uma equipa de cinco pessoas do ministério estava à nossa espera. Não correu nada bem esta reunião. Logo após a nossa apresentação, veio a pronúncia dos senhores inspetores: para que o ministério da educação coloque professores na ESFA, a escola tem de ser entregue ao ministério para funcionar como escola pública.

Alto aí!... Isso não podemos(devemos) fazer, por respeito aos sócios e amigos da Astil de Portugal e da Astilmb de Timor Leste. A ESFA, assim como outros bens (casa dos professores, picup) é património da ASTILMB e só os seus sócios poderão tomar essa decisão. 

Depois, é o licenciamento da escola. Muitas exigências a que vamos tentar responder, com destaque para a obrigação de termos três professores com o bacharelato. E mais… e mais… e mais! E, benefícios poucos ou nenhuns. “Quem não tem cão caça com gato”, dizemos nós em Portugal. E é isso mesmo que vamos fazer, até que encontremos outra alternativa, na certeza porém de que os alunos da Escola São Francisco de Assis fazem o 4º ano a saber ler, escrever e fazer contas enquanto que os alunos da escola pública mais próxima fazem o 4º ano sem saberem ler, escrever ou fazer contas.

Diz-se que “ quando nos fecham uma janela Deus abre-nos uma porta”. E é isso que vai acontecer. Vamos par o Plano B, que para nós é bem melhor
.

28.02.2025, sexta  – O Toquê e o Téque

Nas crónicas anteriores por diversas vezes aparecem descrições dobre estes dois répteis que, se não são irmãos são primos, e que, em Timor, estão associados à sua cultura. Também aqui, em Ailok Laran, marcam presença e sobretudo à noite. 

O Toquê (lagarto) é maior e mais visível e sobretudo audível no seu som característico “toquê!... toquê!... E de árvore em árvore, de local em local vai percorrendo o território. O Téque (osga) é mais pequeno e portanto mais silencioso, especialista na caça aos insetos que em ação se tornam um espetáculo. 

Mas também estas criaturas de Deus são cada vez menos, talvez devido ao avanço das tecnologias sobre a natureza. A noite passa tive o privilégio de escutar ambos, que em diálogo respondia um ao outro em conversa interessante “toquê!... - téque.” Um bom embalo antes de ir dormir.

01.03.2025, sábado – Novo rumo – novos contactos


Uma luzinha verde ao fundo do túnel. A conselho do vigário geral da diocese de Dili, “amu” Graciano, e por diligências do amigo Pedro Sarmento, fomos ao encontro das “irmãs indianas” do Instituto R.J.M (Religiosas de Jesus e Maria) em Casait, a fim de expormos a situação da Escola São Francisco de Assis e de solicitarmos a presença de uma pequena comunidade (3 ir mãs) que aceitem ensinar na ESFA. Fomos muito bem acolhidos, e o pedido apresentado vai ser exposto à madre provincial durante a sua visita a Timor, que acontecerá de 10 a 20 de março. A irmã Selma, que é a madre superiora da comunidade de Casait, pediu para visitar a escola para que depois possa transmitir as informações necessárias à madre provincial e possam tomar em devido tempo a decisão sobre o assunto. 

Assim sendo, no próximo sábado, dia 8, iremos então até Boebau para dar a conhecer a ESFA e a localidade de Boebau/Manati. Seria uma bênção vinda do céu podermos contar com esta opção, sendo esta luz ao fundo do túnel a garantia da continuação e da sustentabilidade desta escola. Vamos por isso confiar e esperar neste plano, que será sem dúvida o que melhor nos convém e melhor se adapta às características da Escola São Francisco “Paz e Bem”.

04.03.2025, terça – Música no coração

Já nas crónicas de outros anos descrevi a musicalidade desta gente, que em qualquer situação se vale dos meios que tem, mas sobretudo da voz, para a torto e a direito espalhar as sua cantorias. Então, nesta família Sobral reina a música por todos os lados. Desde que a Adobe esteja acordada não há ouvidos que resistam indiferentes às melodias que a sua voz projeta. Esta moça é mesmo musical. Mais a mais, agora está a participar num concurso onde já
passou a primeira eliminatória. Por isso temos que a ouvir, queiramos ou não.

Com a música no coração, não há quem a pare. Oxalá chegue longe. Eu cá estarei para a apoiar…

(Revisão / fixação de texto, título: LG)

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de  24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)


(**) Vd. a última crónica da V viagem > 27 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25565: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - VI (e última) Parte

quinta-feira, 6 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26559: Ser solidário (278): No próximo dia 19 de março de 2025 às 17h30, realizaremos a nossa Assembleia Geral, na qual analisaremos conjuntamente o Relatório de Atividades e Contas de 2024 e deliberaremos sobre a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para 2025 (Manuel Rei Vilar)


Caros Associados e Benfeitores da Associação Anghilau,

No próximo dia 19 de março de 2025 às 17h30 (hora de Lisboa), realizaremos a nossa Assembleia Geral, na qual analisaremos conjuntamente o Relatório de Atividades e Contas de 2024 e deliberaremos sobre a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para 2025.

Após esta mensagem, enviar-vos-emos a respetiva Convocatória, o modelo de Procuração correspondente, as Atas das últimas reuniões, bem como o Relatório de Atividades e Contas de 2024 e o Plano de Atividades e Orçamento para 2025.

Para mantermos a nossa contabilidade atualizada, pedimos a colaboração dos Padrinhos e Madrinhas que tenham donativos em atraso para regularizarem os seus pagamentos com a maior brevidade possível. Lembramos que o donativo de apadrinhamento é de 15 euros mensais, valor que já inclui a quota anual.

Aos sócios sem apadrinhamento que tenham quotas em atraso, apelamos para que efetuem o pagamento da quota anual de 10 euros. Salientamos ainda que eventuais donativos realizados em 2024 já incluem esta quota.

Em nome das crianças de Suzana, a Direção da Associação Anghilau agradece, desde já, a vossa generosidade e colaboração!


Plano de Atividades para 2025

Estamos atualmente a preparar o nosso Plano de Atividades para 2025, identificando várias necessidades prioritárias, entre outras:

✅ Continuação da distribuição de refeições quentes às crianças do Jardim-Escola;

✅ Renovação da Pintura da Escola Secundária e do Jardim-Escola;

✅ Criação de uma Sala de Informática, contando já com 20 computadores doados pelo Novo Banco;

✅ Atribuição de Bolsas de Estudo para cursos profissionais e universitários.

Estas iniciativas foram analisadas cuidadosamente pela Direção, em parceria com os nossos representantes em Suzana, nomeadamente o Padre Vítor, o Olálio Neves Trindade e a Comissão de Acompanhamento de Suzana. Antes da aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para 2025, efetuaremos a análise e votação do Relatório de Atividades e Contas de 2024.


Conquistas e Perspetivas

Temos o prazer de informar que todos os objetivos anteriores foram amplamente alcançados, graças à vossa inestimável contribuição, com especial destaque para a criação da Residência dos Professores Cascais-Suzana e da Biblioteca Camões. Além disso, em 2024, conseguimos atribuir, pela primeira vez, três bolsas universitárias, além das cinco bolsas profissionais concedidas em 2023 e 2024.

Ainda em 2024, elaborámos um novo Projeto Cascais-Suzana para 2025, através do qual solicitámos à Câmara Municipal de Cascais apoio financeiro para subsidiar refeições e ampliar a oferta de bolsas de estudo universitárias.

Juntos, podemos fazer mais!

As crianças e jovens de Suzana contam com a nossa preciosa ajuda, e a Associação Anghilau reafirma o seu compromisso de continuar a agir para garantir um futuro melhor a esta comunidade.

Bem-hajam!
Kassumai,
Manuel Rei Vilar (Presidente)

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Nota do editor

Último post da série de 12 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26380: Ser solidário (277): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (11): Início da parte operativa do projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa e visita a um projecto agrícola comunitário a cerca de 80 km a sul da cidade de Gabú (Renato Brito)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26509: As nossas geografias emocionais (46): Bocana Nova, na margem esquerda do rio Tombali... (E onde também se fala na ONGD, com sede em Matosinhos, "Na Rota dos Povos")





Guiné > Região de Tombali > Catió > Bocana > Carta de Catió (1956) (Escala 1/50 mil) >  Posição relativa do rio Tombali, e as povoações de Tombali, Bocana Nalu, Bocana Balanta e Catió (sede de circunscrição, quando a região foi cartografada em 1956).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. A atual tabanca de Bocana Nova, referida no poste P26508 (*),  deve ficar na margem esquerda do Rio Tombali (carta de Catió), a sul da foz do rio Pobreza (afluente do rio Tombali) e a sul da foz do rio Cobade (outro afluente do Tombali). 

Havia, amtes da guerra, duas pequenas tabanas, a Bocana Nalu e mais acima a Bocana Balanta. Depois da independència deve-se ter construído a Bocana Nova. Pertence ao setor de Catió: em 2009, não tinha uma centena de habitantes.


A tabanca (e porto fluvial) de Impungueda, a sul de Cufar e a nordeste de Cantone e  Mato Farroba fica na margem direita do rio Cumbijã, mais a leste (carta de Bedanda, da mesma época).

Para lá se chegar, por estrada (até Catió), são 300 km bem difícieis de pecorrer. 

2. A  ONGD "Na Rota dos Povos", com sede em Matosinhos, tem feito desde 2010 um belo trabalho lá, na regiáo de Tombali, na área da educação, saúde e solidariedade social.

 Ver aqui a sua página oficial, bem como a página no Facebook.


(...) Quem somos

A “Na Rota dos Povos” é uma Organização não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) com foco de atuação na educação, solidariedade social e saúde na região de Tombali, na Guiné-Bissau.

A sede da ONGD é em Matosinhos e, todas as tarefas, tais como angariações, gestão de recursos, comunicação, e organização de missões, são realizadas por voluntários.

Temos sede de delegação local na cidade de Catió, a cerca de 300 km da capital Bissau, onde damos emprego a 35 habitantes que colaboram nos diferentes projetos. A integração da ONGD na comunidade Cationense gera também uma onda de participação num país em que a solidariedade é característica deste povo sempre pronto a ajudar o vizinho.

A nossa motivação

Em Catió, no ano de 2010, o professor Braima Sambu fez um pedido. Quando se esperaria que seria algo para ele, o que Braima pediu foi capacitação para a população da sua terra. Capacitar é tornar capaz, mas também permitir acreditar. A capacitação que falava era ajuda para os professores de Catió.

Sensibilizados com tal pedido, no regresso a Portugal, começaram a reunir-se esforços para responder a este apelo.

Desde esse momento, sempre com o lema “A Educação é o Único Caminho” um longo percurso tem sido trilhado. O projeto que começou com o objetivo de ajudar a melhorar as condições dos professores de Catió tem vindo a crescer atingido agora muitas outras áreas para além das escolas como o orfanato da “Casa da Mamé”, o “Centro de Educação Especial e Terapêutica”, o apoio ao hospital regional da região, entre muitas outras contribuições para o sector de Tombali. (...)
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domingo, 12 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26380: Ser solidário (277): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (11): Início da parte operativa do projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa e visita a um projecto agrícola comunitário a cerca de 80 km a sul da cidade de Gabú (Renato Brito)

1. Mensagem datada de 9 de Janeiro de 2025, de Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa, trazendo até nós mais uma Cartolina, a número 11.

Boa tarde Carlos Vinhal,
Venho por este meio dar-lhe notícia de mais um bilhete-postal. Desta feita o regresso à Guiné-Bissau para dar início à parte operativa do projecto de construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa.
Nesta viagem, pretende-se visitar juntamente com um pequeno grupo da aldeia, um projecto agrícola comunitário a cerca de 80 km a sul da cidade de Gabú. Este projecto envolve 9 aldeias situadas no Parque Natural do Boé.

Este vídeo apresenta uma síntese do projecto:
https://www.youtube.com/watch?v=1vpEar6ISJA

Também, neste Parque Natural trabalha uma associação que tem por objectivo proteger a população de chimpanzés no seu habitat natural:
https://www.daridibo.org/

Ainda, a narrativa de uma interessante expedição ao rio Corubal que atravessa este território:
Corubal 2022 – The last wild river in West Africa
https://www.vigilife.org/en/vigilife-corubal-2022-en/

Dos meandros da internet duas referências:
1- Documentários “Nô Raça” - Série de 14 programas que explora as origens, os locais e as tradições de 13 etnias guineenses.
Lista dos 13 episódios:
https://www.rtp.pt/programa/episodios/tv/p39325/1

2 - Guia das aves comuns da Guiné-Bissau
Download disponível aqui:
https://monte-ace.pt/site/GuiaAves-PNTC_WEB.pdf

Cumprimentos,
Renato


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Notas do editor

Vd. post de 25 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25981: Ser solidário (274): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (10): O mel da Guiné-Bissau (Renato Brito)

Último post da série de 9 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26247: Ser solidário (276): A Associação Anghilau ("criança", em língua felupe), fundada pelos irmãos mais novos, Manuel, Miguel e Duarte, do cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, 1970), tem nova página na Net

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26247: Ser solidário (276): A Associação Anghilau ("criança", em língua felupe), fundada pelos irmãos mais novos, Manuel, Miguel e Duarte, do cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, 1970), tem nova página na Net



CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO

A Associação Anghilau já tem um novo site web que vos convido a visitar e a divulgar pelos vossos conhecidos e amigos!


Para se aceder ao site através do domínio:

Atenção: Não utilizar a cedilha no C nem o til no A

Peço que descubram, comentem e partilhem!

Manuel Rei Vilar

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > 

Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, presidente da direção da Associação Anghilau, membro da nossa Tabanca Grande desde 13 de julho de 2020, é o primeiro da esquerda, tendo a seu lado os seus manos Miguel e Duarte; o seu irmão, mais velho, Luis Rei Vilar, cap cav, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876 (Susana, 1969/71), foi morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


Foto (e legenda): © Manuel Rei Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar   (foto à esquerda),  com data de ontem, 8 de dezembro, 15:20, dando-nos a conhecer o novo sítio da Associação Anghilau, com pedido de divulgação.

Ele é o líder do projeto Kassumai, e presidente desta associação (que em língua felupe quer dizer "criança"). 

O novo sítio da Associação Anghilau vem em 3 línguas (português, francês e inglês).

Para o leitor saber mais sobre esta fabulosa história de amor fraterno, de resgate da memória e de solidariedade para com o povo de Susana, carregue nestes links:

Quem somos | Funcionamento | RealizaçõesCanção sem LágrimasA Cabeleireira Felupe e a Mãe do Capitão | Arquivos | Órgãos Sociais |

Parabéns, Manuel, Miguel e Duarte e demais sócios e amigos da Associação Anghilau. Vamos analisar o vosso sítio na Net, com mais tempo e vagar.

E para saber mais sobre o nosso camarada Luís Filipe Rei Vilar (Cascais, 1941 - Susana, 1970), ver aqui no novo sítio, nomeadamente fotos de quando ele era mais novo.

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública, reformado, a viver em Santa Comba Dão)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Eu,  Henk Eggens, médico  neerlandês, cooperante"... Esteve dois anos em Fulacunda (1980-82) e depois em Bissau (1982-84)


Foto nº 2 > Antiga Guiné Portuguesa > Região de Quínara > Fulacunda > s/d > "
Casa no quartel onde depois fiquei, em 1980".  

Fonte: https://rumoafulacunda.wordpress.com/fulacunda/ (com a devida vénia).



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 
"Farmácia da Tabanca" .  



 Foto nº 5 > 
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > *Ilustração: parto",.   Fonte: Livro Formação das matronas, 1978, MINSAS, Guiné-Bissau.




Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração: rede mosquiteira para crianças*,  Fonte: Livro Formação das matronas, 1978, MINSAS, Guiné-Bissau. 



Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração: 
   Cinco doenças a tratar pelos Agente de Saúde de Base",  Fonte:  Fonte: Livro Formação das matronas e dos agentes de saúde de base (A.S.B.) nas tabancas, 1980, CESAS, Guiné-Bissau.



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 > "Ilustração:  latrina".  Fonte: Livro Formação das matronas e dos agentes de saúde de base (A.S.B.) nas tabancas, 1980, CESAS, Guiné-Bissau.



Foto nº 9 > Antiga Guiné Portuguesa > Região de Quínara > Fulacunda > s/d >  "
Fulacunda no tempo colonial com campo de vólei". Fonte desconhecida




 Foto nº 10> Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 >   "Casa do médico, Land Rover do projeto,  mota da noiva e carro 404 privado".



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 1980 > "Bomba da água,  do projeto de Buba". 


1.  Já troquei alguns mails, com o meu colega holandês (ou neerlandês), Henk Eggens, especialista em medicina tropical e saúde pública, que vive, aposentado, em Portugal, em Santa Comba Dão, e é o administrador e editor de Portugal Portal (em neerlandês ou holandês) (*).

No passado dia 9 de setembro último, ele escreveu-me o seguinte, em resposta a um email que lhe tinha mandado:

 (...) Bom dia, Luís!
Foi bom ver o teu e-mail. Temos algumas coisas em comum, isto foi claro para mim.

Primeiramente o nosso primeiro ano nesta terra: 1947!

Segundo, a paixão para conhecer outras terras: Conheceste o mundo académico do TNO na Holanda (que conheço só por nome), além do teu passado na Guiné, e provavelmente outros países.
Trabalhei 20 anos no Royal Tropical Institute (**), Amesterdão,  como consultor de saúde pública (lepra, tuberculose, cuidados primários de saúde). O que me levou a todos continentes no Sul. A minha vida nunca foi monótona... A nossa vida atual na aldeia,  perto de Santa Comba Dão,  é mais tranquila (...).
Terceiro, a paixão de comunicar algo de substancial para um público (nos blogues, no ensino). Tua carreira académica, o blogue 'Tabanca Grande' que admiro.
Durante a minha vida profissional desenvolvi cursos de saúde tropical, também 'online', e dei muitas aulas. Com muita satisfação. Gosto de ser editor de Portugal Portal e partilhar com o público neerlandófono (como se diz isso, mesmo?) sobre Portugal, a sua história, cultura, pequenas histórias da vida.(...)
 Mantenhas!
(Na altura na Guiné, aprendi bem a conversar em crioulo, não havia outra hipótese de comunicar com o povo lá. Agora perdi já muito a fluidez)

Henk
2. Nova mensagem do nosso leitor Henk Eggens, médico, especialista em medicina tropical, reformado, a viver em Portugal.
Data - sexta, 1/11/2024, 13:03


Boa tarde, Luís.

Espero que estejas  bem, já de volta da vindima no Norte no mês passado.

Vi a mensagem recente do bloguista Patrício Ribeiro no blogue (...) e decidi escrever-te.

(i) Recebeste o meu e-mail de 12 de setembro 2024 com a apresentação dum amigo meu, intitulado 'Amílcar Cabral e os cuidados de saúde durante a luta de libertação' ? Achas apto para publicar no teu blogue?

(ii) Acabei de escrever algumas das minhas aventuras na Guiné-Bissau nos anos 1980-1984. Me pediste para contar as minhas experiências durante minha estadia como médico na região de Quínara. Segue o texto e as fotografias em anexo.

Se achas oportuno,  podes publicar no teu blogue.

Um abraço desde Santa Comba Dão,

Henk



3. Comentário do editor LG:

Obrigado, Henk. Já vi que tens página no Facebook.   Fazes parte do grupo público Santa Comba Dão - Lugares, Factos e a Nossa Gente.  E do teu CV, no Linkedin, respiguei o seguinte:

"Consultor internacional em saúde públiva, aposentou-se após quarenta e cinco anos de experiência na prestação de cuidados de saúde em países com poucos recursos em três continentes. Amplas relações de trabalho entre governos e ONG internacionais.. Missões de longo prazo em Angola, Guiné Bissau, Tanzânia e Indonésia. Missões de curto prazo  em mais de 15 países. 

"Idiomas: Inglês, Português: excelente. Francês: bom. Espanhol, Kiswahili, Indonésio: básico. Holandês: língua materna.  Competências curriculares: : monitorização e avaliação, controle da tuberculose, controle da hanseníase (doença de Hansen ou lepra), desenvolvimento curricular, e-learning".  Fonte: Linkedin > Henk Eggens.

Espero que esta seja a primeira de muitas colaborações tuas no nosso blogue (***), onde cabem todos os amigos da Guiné-Bissau com tudo o  que os une e até com aquilo que nos pode separar. O teu portuguê é muito bom. Dei apenas um retoque numa palavra ou outra (e nomeadamente no tempo dos verbos)...

E a teu pedido, acrescento mais duas linhas sobre o período em que estiveste na Guiné: (...) 

"Trabalhei apenas dois anos em Fulacunda (1980-1982). Depois, fui coordenador do Projeto de Saúde de Base no Ministério da Saúde em Bissau (1982-1984)."



Esta é a história dum médico holandês que foi trabalhar na província rural de Quínara, Guiné-Bissau, de 1980-1984, quando o país se tornou independente havia poucos anos.

Por Henk Eggens 
 

Em abril de 1980, desembarquei no aeroporto de Bissalanca. Estava bem preparado. Já durante pos meus estudos de medicina, eu tinha decidido que queria trabalhar em África. 

Após cinco anos de estudos teóricos, tirei um ano sabático. Viajei pela África Ocidental através do Saara e pelo Congo até a África Oriental. Durante sete meses, conheci muitas Áfricas. No final dos meus estudos de medicina, fiz um curso de três meses sobre doenças tropicais, o que me preparou melhor para reconhecer e tratar essas doenças.

O meu primeiro emprego foi em Angola. Em 1976, quatro meses após a declaração de independência (****), viajei para Cabinda e trabalhei lá durante  dois anos na ala pediátrica do hospital provincial. Lá, aprendi muito: a falar português, e palavrões cubanos dos meus colegas médicos. Aprendi na prática a tratar a patologia tropical. Perdi também a ilusão da viabilidade e desejabilidade duma sociedade comunista.

Em 1980, tive a oportunidade de trabalhar na Guiné-Bissau. Consegui um emprego no Ministério da Saúde da Guiné-Bissau e fui colocado na região de Quínara, no sul da Guiné-Bissau. A província tinha cerca de 40.000 habitantes. Ninguém sabia exatamente quantos. Já fazia parte da área libertadada durante a guerra colonial, com exceção dos quarteis do exército português e as tabancas. 


Excerto da carta de Fulacunda  (1955) (Escala 1/50 mil)
  Fonte: Cortesia  do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
Fui morar em Fulacunda, uma vila de mil habitantes onde existiu um quartel militar (Vd. fotos nº 1  e 3).

 O que encontrei quando cheguei em Fulacunda? 

Não havia hospital. Um posto de saúde em Fulacunda consistia em uma cabana, parte do antigo quartel
 e havia uma cadeira ginecológica enferrujada. E uma caixa de medicamentos enviada pelo ministério. 

Outros lugares na região de Quínara tinham cabanas semelhantes com um mínimo básico de recursos.

Havia mais pessoal de saúde. Em Tite, morava Augusto, um enfermeiro treinado na época colonial que sabia de tudo e me explicou muitas coisas, me tornando mais sábio sobre como as coisas aconteciam na região. 

Em Fulacunda e Empada, trabalhavam dois ‘meio-médicos’ guineenses. Digo ‘meio-médicos’ porque eram jovens que foram treinados na União Soviética como feldshers, um tipo de treinamento prático para atuação médica (*****). 

Além disso, havia alguns socorristas presentes nas tabancas. Em Nhala, que também era um antigo quartel do exército colonial português, havia um centro de treinamento onde os socorristas, muitas vezes analfabetos e que haviam trabalhados na guerra de libertação, recebiam treinamento formal como auxiliares de enfermagem. 

No início, eu viajava muito por todas as vilas e postos de saúde para ver o que estava acontecendo. Era muito pouco. Sempre faltavam medicamentos.

As pessoas moravam longe dos postos de saúde e a medicina tradicional era a principal fonte de cuidados de saúde. Logo comecei a organizar cuidados materno-infantis. Sob a mangueira (ou o poilão), reuníamos regularmente as grávidas e as crianças e administrávamos as vacinas necessárias, contra tuberculose, sarampo, difteria, tétano, poliomielite e coqueluche.  
Providenciávamos medicamentos (foto nº 4) e conselhos ás grávidas. Com um cartão onde os pesos das crianças eram anotados e que eu mesmo havia mimeografado, acompanhávamos o crescimento e desenvolvimento das crianças pequenas. 

Eram passeios populares. Mães e crianças vinham de longe para receber as vacinas e ouvir nossas palestras.

Parte do meu trabalho era treinar os voluntários (Agentes de Saúde de Base) nas tabancas para reconhecer e tratar cinco doenças (fotos nºs 5, 6 e 7).

Também treinámos as parteiras tradicionais (matronas). Elas recebiam um pequeno kit, uma caixinha com uma faca esterilizada e fios esterilizados  para cortar e amarrar o cordão umbilical depois do parto. Além disso, eram instruídas sobre a importância de um comportamento antisséptico durante o parto (foto nº 5).

A ideia era que os voluntários na tabanca recebessem uma caixa de medicamentos com os quais pudessem tratar cinco doenças (foto nº 7). Essas eram:

  • paludismo (corpo quente), 
  • conjuntivite (dor di udjo), 
  • dor de cabeça,
  • diarreia (panga barriga), 
  • tosse e feridas. 

Posteriormente à formação,  a tabanca recebia uma caixa de medicamentos. Depois, a própria tabanca, por meio de contribuições voluntárias (abota), arrecadava dinheiro para comprar novos medicamentos no Depósito Central de Medicamentos em Bissau. 

Havia muita hesitação na tabanca para juntar dinheiro, pois nem todos confiavam que seria bem utilizado. Foi necessária muita persuasão para convencer as pessoas a contribuir, e, eventualmente, isso funcionou em algumas tabancas.

Além de poder tratar estas doenças,  os Agentes foram ensinados sobre medidas preventivas da higiene nas tabancas  (fotos nº 7 e 8).

Este Projeto de Saúde de Base ocorreu em vários lugares da Guiné-Bissau, sob a inspiradora liderança do vice-ministro da saúde, Dr. Manuel Boal. Havia projetos no Oio, na ilha de Canhabaque, em Tombali e no extremo leste, em Lugadjol, no setor de Madina do Boé, e em Quínara, onde eu trabalhava. 

O projeto teve bastante sucesso nos primeiros anos, graças à liderança entusiástica dos coordenadores guineenses e dos cooperantes estrangeiros. Depois de algum tempo, a confiança dos aldeões foi conquistada e eles contribuíram voluntariamente com dinheiro, e isso era muito pouco dinheiro, para comprar medicamentos para serem usados na tabanca. No entanto, ficou claro que este projeto nunca seria completamente autossuficiente, pois sempre havia preços que eram altos demais para o que os aldeões podiam pagar.

As minhas atividades curativas (ou mais propriamente clínicas) eram bastante limitadas porque eu não tinha muitos recursos. Poucos medicamentos e nenhum instrumento para realizar qualquer procedimento terapêutico mesmo simples. 

Um dos eventos mais impressionantes foi quando, numa manhã, uma jovem mulher chegou a Fulacunda dizendo que havia sido mordida por uma cobra enquanto pegava água no rio. Ela não sabia exatamente que tipo de cobra era, mas foi mordida na perna. 

O que podíamos fazer? Tínhamos soro antiofídico, mas não sabíamos há quanto tempo estava fora da geladeira, então não sabíamos se ainda era eficaz, mas usámo-lo mesmo assim. Injetámos na esperança de que ajudasse. 

Observávamos a jovem mulher e, após algumas horas, os seus dedos de pé começaram a paralisar. As suas pernas começaram a enfraquecer e paralisar, e em seis horas, ela acabou por faleceu porque os seus músculos respiratórios também paralisaram. 

Tentámos de tudo: respiração artificial, administração de oxigênio que tínhamos por acaso. Mas nada ajudou. Nunca esquecerei os olhos assustados e suplicantes da jovem mulher que morreu de uma picada de cobra.

Outro evento que me marcou foi ajudar no chamado fanado

O fanado é um ritual realizado pelo grupo étnico Beafada, onde eu morava. Uma vez a cada poucos anos, jovens homens e meninos de 7 a 12 anos eram isolados na floresta por meses, onde aprendiam os segredos da tribo e como sobreviver e cumprir seu papel nas comunidades da tabanca. 

Durante o período colonial, esses fanados eram realizados em segredo, e agora, com a independência, os líderes decidiram que os serviços de saúde poderiam contribuir. No final dos meses de isolamento, os jovens eram circuncidados. Meu assistente e fiel colaborador Sanquinho, o auxiliar médico, foi convidado a ir à floresta para desinfetar os pénis recém-circuncidados. Eu não podia ir porque era branco, um estrangeiro. 

Ele foi. No dia seguinte, ele voltou dizendo que não conseguiu. Ele levou iodo como desinfetante, que é à base de álcool, mas o primeiro menino que foi desinfetado começou a gritar tão alto que desistiram dessa ajuda. O que fazer?

Felizmente, tínhamos outro desinfetante, a violeta genciana, que era à base de água. Sugeri usá-lo, mas com a condição de que eu mesmo fosse à floresta para observar e aplicar. Após alguma discussão, isso foi permitido e viajámos para a floresta. Em um determinado momento, chegámos a uma árvore caída, que era o limite absoluto até onde podíamos ir. Dali para a frente, a área era proibida para nós e, atrás da árvore caída, havia uma fila de meninos. Meninos com rostos assustados, com as mãos cobrindo suas partes íntimas, esperando para desinfetar os seus pénis recém-circuncidados.

Um por um, eles levantavam os panos sujos que cobriam suas partes íntimas e podíamos aplicar o desinfetante. Como era à base de água, não era irritante e foi bem tolerado pelos meninos. Ganhei uma experiência valiosa e os meninos, espero, foram desinfetados após uma circuncisão que não foi feita completamente de acordo com as normas antissépticas.

A minha vida em Fulacunda não era tão fácil. A sra. Maria cuidava de mim, preparava as comidas e limpava a casa. Tinha algumas galinhas para ter um ovo no mata-bicho. Importei legumes desidratadas de Holanda e, de vez em quando, conseguíamos uns tomatinhos. Os pescadores traziam-me de vez em quando uma barracuda, peixe grande e deliciosa.

Na frente da minha casa havia um campo de jogos (antigamente para jogar vólei?) (foto nº 9).  Às vezes eu instalava o meu gravador lá à noite e os moradores e nós dançávamos ao som de uma música animada.

Antes de viajar para Guiné-Bissau, comprei na Bélgica uma caixa de cartuchos (calibre 12). Provou ser muito útil. Não sabia caçar, mas o meu amigo Manuel sabia. Levou de noite um ou dois cartuchos para o mato e voltou de manhã com um antílope. Dividimos a carcaça e havia carne para umas semanas. 

Raramente era  abatida uma vaca na tabanca. Costumavam-me chamar para inspecionar o estado de saúde da carne. Tinha um livro de medicina veterinária, assim podia verificar os pulmões, o fígado e se a carne oferecia as condições mínimas de salubridade. Levava  uma balde grande para  inspeção: depois de autorizar a venda da carne, era o primeiro a poder escolher a minha parte da vaca.

 A minha noiva (holandesa) vivia em Bissau. Tanto quando possível viajávamos para nos encontrarmo-nos (foto nº 10). Ela tinha uma mota Honda 125 cc off-the-road. Com um barco tradicional ou um barco dum projeto holandês costumávamos travessar o rio Geba. Nem sempre havia águas tranquilas.

Em Buba havia na altura um grande projeto de abastecimento de água (foto nº 11). No antigo quartel foi estabelecido o centro do projeto, que incluiu também uns 5 a 7 técnicos holandeses. No Catió era o centro duma empresa holandesa Stenaks, que construiu centros de saúde na região de Tombali e Quínara. 
Foi uma grande ajuda ter estes compatriotas relativamente perto. 

No tempo da chuva era praticamente impossível viajar, pois as estradas eram intransitáveis, mesmo com meu carro de trabalho, o formidável Land Rover (foto nº 10).

Foram alguns anos de muitas experiências. Foi a base para minha futura carreira na área de saúde tropical. 

Obrigado, Guiné, obrigado,  guineenses!

(Revisão / fixação de texto, edição de fotos: LG)

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Notas do editor:


(**) Equivalente ao nosso Instituto de Higiene e Medicina Tropical / NOVA, Lisboa

(***) Último poste da série > 25 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25981: Ser solidário (274): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (10): O mel da Guiné-Bissau (Renato Brito)

(****) 11 de novembro de 1975

(*****) Na China e em Moçambique eram chamados "médicos de pé descalço"... Prestadores de cuidados de saúde, sem qualificações formais, atuando sobretudo na áreas da prevenção da doença e da promoção da saúde.