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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22641: In Memoriam (414): José Manuel Matos Dinis (1948-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679, (Bajocunda, 1970/71), falecido ontem, dia 17 de Outubro de 2021

IN MEMORIAM

José Manuel Matos Dinis (1948-2021)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71


Começa a ser dolorosa a cadência de postes publicados, no Blogue, na nossa série In Memoriam.

Ontem à noite, mais uma triste notícia, esta de todo inesperada e chegada pelo facebbok, a do falecimento, vítima de doença súbita, do nosso camarada e amigo José Dinis.

O Zé Dinis apresentou-se à tertúlia em 24 de Agosto de 2008, tendo participado em 6 Encontros Nacionais da Tertúlia, entre 2009 e 2016.

Entre as 227 entradas no Blogue, 72 são referentes à sua mais importante colaboração, a História da CCAÇ 2679.

José Manuel Matos Dinis, o primeiro de pé a partir da esquerda, com elementos da sua Secção
Das suas participações nos Convívios da Tabanca da Linha, que organizava em parceria como Jorge Rosales:
1.ª Foto - Com Hélder Valério Silva
2.ª Foto - Com Marcelino da Mata (já falecido) e Miguel Pessoa
3.ª Foto - Com o nosso editor Luís Graça
Monte Real, Junho de 2010, V Encontro da Tertúlia > José Manuel Matos Dinis e José Manuel Lopes

Aqui deixamos as nossas condolências aos seus filhos, restantes familiares e amigos próximos.
Nós, seus amigos e camaradas da Guiné, por aqui ficaremos a lembrar e a honrar a sua memória.
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Em tempo:

Informação do nosso amigo Hélder Sousa, em mensagem de hoje, dia 20:

Caros amigos
Informação recolhida junto da Servilusa, que tratará do funeral, indica que estará amanhã, 5ª feira, dia 21, a partir das 17:00 no Crematório de Alcabideche, numa das salas apropriadas para os velórios e que a cremação será no dia seguinte, dia 22, sexta-feira, pelas 12:00.
Abraços
Hélder Sousa

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22629: In Memoriam (413): Torcato Mendonça (1944-2021), ex-alf mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... Homenageando também um casal que sempre soube, em vida, amparar-se mutuamemnte, "na saúde e na doença" (Luís Graça)

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16070: (In)citações (90): Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) com data de 1 de Maio de 2016:

Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais

Sobre o comentário ao post 16028

Olá Luís, bom dia!
Lá vieste tu desassossegar-me, coisa que agradeço.

De facto, as minhas leituras predominantes incidem sobre a África desde o período da colonização, que teve inicio por alturas do sec. XIX com as grandes viagens de exploração e de interesses científicos e antropológicos, com destaque para a geografia, a agricultura e a mineralogia. A civilização, como é sabido, tem evoluído por impulsos de domínio de umas civilizações sobre outras, e a Europa não escapou a esse modelo mutacional, de que Portugal é exemplo. Tenho reflectido e desenvolvido algumas ideias com conclusões empíricas sobre a matéria.

Em África houve colonialismo, como antes tinha havido na Europa, com grandes áreas e populações que se alternavam em regimes colonizadores sobre outros, e lhes conferiam maior riqueza de conhecimentos também por via do cruzamento de raças, e inter-acção humanística, designadamente a paternidade.

Referes as vítimas dos "ismos", e eu subscrevo.Os "ismos" no meu entender são a constatação de formas de domínio, de que podem ou não resultar impulsos socialmente evolutivos ou de regressão bárbara. Normalmente não registam estagnação. Assim, porque é que um Deus de uma religião há-de ser melhor que outro de outra? Porque é que as religiões vão alterando as suas catequeses à evolução dos interesses sociais em diferentes grupos da humanidade? Por que é que o capitalismo há-de ser melhor que o fascismo ou o comunismo, se os modelos abrigarem exploração de classes com os seus cortejos de dificuldades, sempre subordinados a cliques autocráticas e plutocráticas? Por isso estou de acordo com as tuas interrogações.

O processo colonizador não pode ser visto como o modelo da escravatura, porque hoje temos grandes nações que cresceram e desenvolveram-se pela integração de escravos, e hoje são excelentes exemplos de miscigenação e progresso. O processo colonizador poderá ser, então, um processo de desenvolvimento e de enriquecimento pela valorização das sociedades, que passará por fases até à equiparação de deveres e direitos entre os concidadãos. Assim, colonialismo não é pejorativo.

A descolonização das colónias africanas resultou de uma enormidade de crimes, conforme razões já invocadas noutras ocasiões, crimes que aos olhos dos militares a quem se exige consciência permanente: desde logo, o crime de traição, por razões óbvias e amplamente referidas; depois, o crime de lesa-pátria, uma Pátria que não podia alterar as estruturas num clique, como se constata e confirma com múltiplos exemplo; e finalmente, o crime contra a humanidade, tendo em conta os muitos milhares de assassinatos que se verificaram, e qualquer líder militar consciente (para que servem os altos estudos militares?) tem obrigação de levar em conta no desencadear de uma acção, com perspectivas mais do que presumíveis, pois quebrado o cimento da nacionalidade, revitalizar-se-ia a questão tribal, por um lado, e a questão do domínio, por outro, tanto mais que as potências da guerra-fria não deixariam de aproveitar a lacuna, e potenciariam os seus campos de experiências bélicas sem saírem chamuscadas, enquanto alargariam as áreas de influência. Assim, os responsáveis pela vergonhosa descolonização, que abandonaram os povos e os territórios por razões de traição ou saudades das famílias na metrópole, devem ser julgados, à semelhança do que aconteceu com os responsáveis dos crimes étnicos da Sérvia. É queda brutalidade há responsáveis por acção e omissão.

Posso estar a exagerar nos conceitos e avaliações, mas há que denunciar a trapaça do MFA, que só tinha intenção de servir o interesse dos oficiais que o integravam, incluindo a ambição de Spínola, qual padrinho manhoso para atingir o poder, e em conjunto transformaram Portugal num peão do xadrez político das potências, onde ainda permanece, agora sob o pomposo regime da "democracia" com votos equiparados a cheques em branco.

Na medida em que temos cá um historiador activo, e muitos com dedicado interesse pela História, pode acontecer que alguém traga ciência (as fontes e a interpretação histórica), onde eu apresento o que podem classificar de palpites, mas façam-no com abordagens sistematizadas e livres de preconceitos, mostrando conhecer as diferenças culturais da cultura prosélita.

Não devo acabar sem prestar homenagem aos que deram de si à Pátria, e de expressar admiração, por todos os que foram violentados e ficaram sem familiares, amigos e bens, mas que mantiveram a serenidade sem ódio na reconstituição das suas vidas.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16028: (In)citações (89): Reflexão sobre a oportunidade (a falta dela) decorrente do MFA (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

domingo, 24 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16005: (In)citações (87): Breve interpretação sobre a entrega do Ultramar Português (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Texto do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviado ao Blogue em mensagem de 23 de Abril de 2016, subordinado ao título:

Breve interpretação sobre a entrega do Ultramar Português

Camaradas,
O assunto tem sido bastante debatido, embora com mais ou menos profundidade, por vezes até com a exaltação de quem bebeu argumentos das diferentes forças políticas. Já aqui referi que a minha interpretação e sentimento não encaixa nada, antes pelo contrário, nas apressadas justificações de que Portugal exercia a colonização com brutalidade, sem olhar aos interesses dos povos autóctones. Muito evoluía a realidade social ultramarina. Mas também referi que os verdadeiros colonos eram os trusts internacionais; que os antigos governos votaram ao desprezo o progresso daquelas terras e gentes; e que a partir da transição do final da década de 50 para a de 60 do século passado, as duas maiores "províncias" passaram a mostrar invejáveis quadros de desenvolvimento, que em Angola por altura dos anos sessenta atingia os 20% no crescimento económico, e em Moçambique rondava os 10%, enquanto a metrópole exibia com regularidade cerca de 7%, mas em boa parte à custa do mercado de privilégio ultramarino, onde colocava vinho, têxteis, sapatos, azeite, e pouco mais, produtos com que não concorria no mercado internacional, e estavam vedados para qualquer iniciativa na África Portuguesa. Do fluxo de pagamentos pelas matéria-primas exportadas, os cofres do Estado registaram elevadas somas de poupança, que conferiam a Portugal uma situação tão confortável, quanto pagava a guerra e ainda provia à construção de muitos e variados equipamentos (barragens, linhas de transporte de energia, rodovias, caminhos de ferro, pontes e modernização de portos marítimos, hospitais, etc) que dinamizavam ao desenvolvimento equilibrado.

Desde essa altura, com a emergência dos novos ventos da história e de uma frente emancipalista afro-asiática de países que passaram a constituir uma maioria no concerto das nações, maioria inspirada nas teses do socialismo e do comunismo, que os territórios colonizados foram objecto de grossas discussões em fóruns, e de grandes parangonas na comunicação social, sem que alguém ousasse olhar para os autocráticos processos que alcançavam as respectivas independências, e para os cortejos de miséria e indecências que esmagavam as populações e comprometiam as estruturas morais e de desenvolvimento.

É neste pressuposto de confusão entre o equilíbrio das sociedades e a ambição dos jovens líderes autonomistas, que vos quero apresentar alguns parágrafos de uma obra de Amorim de Carvalho, "O Fim Histórico de Portugal", onde ele aborda de forma luminosa o problema da descolonização portuguesa. Depois de afirmar que a existência histórica de Portugal começou com os descobrimentos e manteve-se pela colonização bem caracteristicamente portuguesa, marcada pela autodescolonização de que o Brasil é exemplo, e depois de ter demonstrado também a especialidade dessa colonização, define o que entende por autodescolonização nos seguintes termos: "Quando falei de autodescolonização quis fazer referência a uma tomada de consciência, no colonizador, da sua relação humana com o colonizado. A partir desta tomada de consciência e de uma acção de acordo com ela, a colonização rigorosamente falando deixa de existir... porque os colonos de ontem dão àqueles que eram ontem também os colonizados, o progresso e a civilização, que estes, por si próprios, não foram capazes de realizar no seu próprio território; este território torna-se então comum, de facto e de direito, e uma pátria multirracial"... "A colonização portuguesa foi no seu conjunto histórico - reabilitando-se do que ela pôde ou teve de ser cruel para tornar-se a mais humana de todas - autodescolonizadora no seu próprio processo de relação humana". "Eis o que distingue a independência pela autodescolonização ou aparente descolonização outorgada de um momento para o outro para satisfazer um compromisso ideológico sem fundamento real: o direito dos povos à independência pressupondo uma «consciência nacional» existindo já no povo colonizado".
"Se esta consciência nacional não existir, porque não existe senão uma consciência tribal ou um conjunto de consciências tribais de uma «independência» abandonada aos conflitos entre as diferentes etnias"... "Trata-se de um caso psico-social ou intelecto-moral muito frequente na nossa época, de hipocrisia final diferida porque se concede um direito dos povos à independência que só existe em pura teoria, mas que já se sabe não pode ser eticamente recebida porque o povo colonizado não está preparado para este género de independência" - págs. 88 e 89.

Como sustenta o citado autor, enquanto a descolonização outorgada não passa de hipocrisia e de uma falsa aplicação de um pretenso método democrático, a autodescolonização, através de uma progressiva destribalização dos autóctones, entre os quais se forma uma minoria de elite (enquanto a maioria se encontra ligada às suas tradições, usos e costumes), opera o processo de autodescolonização sob a influência das elites brancas, mestiças e negras, o que permite uma autodeterminação democrática e realista.

Abraços fraternos
JD

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Consultas:
"A Entrega do Ultramar Português e o 4 de Fevereiro de 1961 em Angola", de Álvaro da Silva Tavares;
"A Descolonização da África Portuguesa", de Norrie MacQueen;
"Angola, Anatomia de uma tragédia" e "25 de Abril de 1974 - A Revolução da Perfídia", de General Silva Cardoso.
A primeira das obras citadas está disponível na net.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15777: (In)citações (86): Opinião sobre os Governadores e Comandantes-Chefes das Forças Armadas da Guiné - 3 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15246: Inquérito "on line" (8): O General Spínola foi uma figura controversa, e para ilustrar tal ilação, vou referir alguns aspectos que me sensibilizaram (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 12 de Outubro de 2015:

Meus Caros Luís e Carlos, 
Para o que der e vier, aqui vai alho! 

Abraços 
JD


Servi na Guiné durante o período decorrido de FEV70 a DEZ71, portanto, sob o comando do General Spínola. Estive integrado numa companhia que durante 7 meses fez intervenção no Sector de Piche, a cujo Batalhão ficou agregada. Assim, só sobre ele poderei emitir alguma opinião, estribada apenas na minha experiência e observação, opinião que pode transparecer alguma subjectividade na interpretação dos factos.

Aquele general foi uma figura controversa, e para ilustrar tal ilação, vou referir alguns aspectos que me sensibilizaram.

Enquanto estratega, houve situações que me confundiram, como algumas retiradas ou reocupações de aquartelamentos (ou pelos riscos, ou pela falta de sedimentação de relações com a população); a interpretação da passividade imposta como modelo de mera reacção às actividades do IN, por vezes com bases próximas do nosso TO. Mas o maior erro estratégico, por força da má execução operacional, relaciona-se com a invasão a Conakry, já tão debatida e do conhecimento dos atabancados. A principal nota que retirei, foi que os danos resultantes da invasão que visava substituir o presidente local e neutralizar (pela captura?) a cabeça do PAIGC, foram mínimos e sem oposição eficaz nos fóruns internacionais, e aparentemente mal avaliados para a prossecução da defesa dos nossos territórios, tendo em conta as limitações do país, o contexto internacional, e a certeza de que tal operação, depois de decidida, não poderia falhar. Falhou estrondosamente. Também podia ter sido desastrosa a ordem para tapar as valas de protecção em redor de Pirada, o que originou uma invasão e assalto à localidade, felizmente sem outras consequências. Recordo que, na época, o PAIGC assaltava e destruía aldeias da orla fronteiriça, obrigando à deslocação de pessoas e bens para o Senegal. Pirada já tina recebido o reforço de 2 companhias (1 de Páras), e Bajocunda recebeu a 1.ª (ainda única) Companhia de Comandos Africanos e o meu pelotão. O Senhor General entendeu que devia facilitar o relacionamento das relações com as autoridades senegalesas, tendo em vista o regresso da população deslocada, o que não se verificou. Foram 3 meses de intensa actividade, uma espécie de perseguição entre gato e rato, mas sem resultados para as NT.

Disciplinarmente, o Senhor General também é recordado, ora por razões de tolerância, como a imagem do alferes em tronco nu prova, como de inclemência, de que são conhecidos casos de agressão, ou de despromoção na parada, situações demasiado judiciosas e com prováveis resultados preversos. Tenho dois amigos que foram despromovidos, mas um deles recorreu, passado muito tempo ganhou, e foi reconduzido ao posto anterior, tendo sido abonado das diferenças salariais, o que deixa indiciar que o Com-Chefe podia ser mal assessorado, e que seria demasiado emotivo para inculcar sentido de obediência ou servilismo, mais do que fazer pela compreensão e aceitação da disciplina, tão necessária no ambiente de clarividência necessário à guerra. Ainda no que respeita à disciplina só por razões corporativistas não houve responsabilização séria no caso do acidente com a jangada que atravessava o rio Corubal, aquando da retirada de Madina. Uma operação delicada, parece, não pode ser condicionada pela pressa e pela incomodidade de passar uma noite no mato. E seria fácil articular um esquema de protecção.
Sobre a sensibilidade e as estratégias do IN em confronto com as nossas, Spínola deu mostras de credulidade e falta de previsão, no caso das "negociações" que vitimaram 5 militares, cilada que parecia destinada ao próprio Com-Chefe, conforme algumas opiniões expressas. Ora, no meu entender, um bom comandante não arrisca a vida dos seus subordinados, antes planeia com base na segurança do pessoal envolvido - refiro-me àquela guerra designada de baixa-intensidade.

Carlos Sousa e o Gen Spínola no destacamento de Antotinha
Foto : © Carlos Sousa (2015). Todos os direitos reservados.

Outro aspecto muito importante e descurado pelos altos comandos, e que ganhava foros de fartar vilanagem, relacionava-se com a logística. Só refiro o que sei da minha Companhia, cujo capitão e sargentos não inventaram nada. Quando a Companhia ficou responsável pelo sector de Bajocunda com um efectivo numeroso (1 ou 2 companhias, ou 1 companhia e 1/2 grupos de outra, 1 pel caç nat, 1 pelotão de artilharia, e com 2 destacamentos e 1 aldeia em autodefesa com 2 grupos de milícias), tomei conhecimento de um próspero negócio de gasolinas, que consistia na aquisição continuada na Casa Gouveia em Nova Lamego, de apenas uma parte (metade) dos tambores requisitados. No parque automóvel amontoavam-se viaturas inúteis, que serviam apenas para eventuais substituições de peças. Porém, nos mapas mensais para Bissau eram indicadas a funcionar e com altos consumos de carburante. Chegámos a não ter qualquer viatura operacional, e a socorrer-nos de viaturas emprestadas. Não sei se o COT-1, de que dependíamos, tinha conhecimento ou responsabilidade, mas as colunas de um ou dois pelotões ficavam condicionadas, era tudo ao monte, e podemos imaginar o resultado do rebentamento de uma mina, com cerca de 20 militares por viatura, que deviam deslocar-se em duas ou três. Mas o negócio não contemplava segurança. Manifestei logo que sob o meu comando de colunas, a Companhia só receberia as quantidades de gasolina requisitadas, pelo que nunca tive o encargo a transportar. Estes aspectos e os relacionados com alimentação e bebidas, talvez sejam bons casos ilustrativos de saques sobre o erário.

Assim, para obviar a tais tentações, e acautelar as melhores condições de segurança, do corpo, e do espírito do pessoal operacional e de todos os deslocados em quadricula, o Com-Chefe deveria ter criado um eficaz serviço de controle e fiscalização, uma auditoria que teria como principais funções a defesa do interesse público, bem como o esforço necessário à preservação do moral elevado. Spínola falhou rotundamente por não o ter feito.

O General, porém era arrojado, e aparecia em circunstâncias difíceis e na proximidade de combates, como em Buruntuma em FEV70. E criou-se o mito spinolista, que ia do herói, ao grande comandante. Quando passei à disponibilidade em Janeiro de 1972, permaneci na metrópole até princípio de Maio de 1971, e tive ocasião para apreciar a máquina de propaganda que trabalhava em benefício do General, com o evidente propósito de o levar à Presidência da República, o que só conseguiu por uma estouvada aliança, meios e ambientes que não correspondiam ao seu pensamento, mas a ambição concretizou-a.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15245: Inquérito "on line" (7): Estava em Bissau quando em 7 de maio de 1974 chegou o TCor graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião, esse sim o último Com-Chefe. Conheci também o Schulz, o Spínola e o Bettencourt Rodrigues (António Dâmaso, SMor PQ ref, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Guiné 63/73 - P15204: O nosso querido mês de férias (14): À procura de aconchego, e de amor temperado com algumas paródias, que um mês, naquele tempo, passava muito depressa (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 2 de Outubro de 2015:

Olá Luís!
Em Fevereiro de 71, entrado no segundo ano da comissão, vim de férias pela segunda vez, antes que um balázio me limpasse o sarampo. Saudades de outras guerras também deram impulso.

Em Bissau, como de costume, acampei no Grande Hotel, onde uma ventoinha de pé alto era capaz de me compensar das feridas dos mosquitos, e da canícula de trilhos e picadas do leste da Guiné. Mas a cidade estava ali, e as suas atracções não se compadeciam com sestas e outros descansos, pelo que havia de procurar azimutes afluentes de boas conversas e agradáveis pingas.
Nesse deambular, dei com um sargento do esquadrão de Bafatá, onde pernoitei uma ou duas vezes, cuja malta conhecia das colunas em Piche. Foi uma festa, tínhamos que celebrar, e correram whiskies e cervejas à fartazana, que as necessidades aumentavam à medida de novos encontros.

No dia aprazado, voltei a encontrá-lo em Bissalanca, e fiquei a saber que embarcávamos juntos com destino à capital do império. Com ele vinha outro cavaleiro do mesmo esquadrão. O engraçado, é que antes de, já evidenciávamos estar meio​-​embarcados. Pudera​!​ Com os calores de Bissau só à custa de muito beber compensávamos a transpiração abundante. A Lacoste que envergava deixaria transparecer o que afirmo pela humidade acumulada nos sovacos. Ninguém se importava, ninguém estranhava poucos dias depois de experimentarmos o território.

Juntámo-nos numa fiada de 3 cadeiras do avião. A alegria da viajem e os ​vultosos ​contos que o bafatense exibia para gastar durante a deslocação, davam-nos a certeza de borga bem regada.
Mal o passarão subiu nos céus, e a luz autorizou a libertação dos contos de segurança, os 3 espalhafatosos passaram a requisitar a presença de uma hospedeira, por sinal bonita e simpática, que servia destilados escoceses com evidente cumplicidade e espírito comercial. Uma ocasião que ela se esticou para fechar a mala de um passageiro do outro lado do corredor e, esticando-se, deixou ver uns centímetros a mais das meias de seda que agitavam cogitações gulosas, à força de cotoveladas que alertavam para a feliz contemplação, cabeceámos uns nos outros com a avidez do deslumbre.

Nova requisição que sossegasse os espíritos, e a consequente recomendação ao passageiro do outro lado para abrir a mala sobre a coxia dele. Quando a deusa voltou com os cristais a regurgitar daquele fluido colorido a ouro, onde as pedras de gelo adquiriam brilhos diamantinos, o do meio começou a cotovelar os das pontas, enquanto chamava a atenção da beldade dos transportes aéreos, para a situação da bagageira aberta, a que ela correspondeu com um sorriso, e com diligente esticanço para a fechar regulamentarmente a arrumação, enquanto os felizes viajantes trocavam marradas entre si, no afã de não perderem ângulos na visualização de tão importante tarefa. A viajem decorreu sem sobressaltos.

Em Lisboa corria o Inverno mais que fresco, fazia frio, ao que constava, rondava os 3 graus positivos, qual compensação dos exagerados calores climáticos da proveniência tropical. Naquele tempo apanhava-se o autocarro que deslocava os passageiros desde o avião até ao edifício da alfândega e às correias onde se recolhiam as bagagens. Quando nos despedimos efusivamente, quase corri até à área de espera, onda a minha namorada me aguardava. Abraçámo-nos com saudade, e abalámos para o encontro em casa com a família, e logo depois ​para​ o encontro com a malta.
Já seriam umas dezanove horas, quando no meio da euforia, ​apesar de​ sempre agarrado a ela, confessei estar a sentir algum frio, e logo me alcançou uma camisola ​de lã ​que providenciara.

Afinal, a energia que acumulara na Guiné, tinha sido suficiente até quatro horas depois de ter aterrado no inverno.
E depois foi sempre à procura de aconchego, e de amor temperado com algumas paródias, que um mês, naquele tempo, passava muito depressa.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15185: O nosso querido mês de férias (13): Os soldados não se podiam dar o luxo de ter férias (José Manuel Cancela, ex-sold ap metr, CCAÇ 2382, 1968/70) / Proporcionei a alguns soldados do meu grupo de combate umas modestas férias em Bolama (António Murta, ex-alf mil inf., 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513, 1973/74)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14515: (In)citações (75): Perspectivas sobre o 25 de Abril (José Manuel Matos Dinis)

1. Em mensagem do dia 14 de Abril de 2015, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos esta reflexão sobre o 25 de Abril, um tema sempre apaixonante e actual:


Perspectivas sobre o 25 de Abril

Primeiro ponto de vista:

«Mª. João Avilez - Mas não havia alternativa?

Carlos Fabião - Não havia. Aquilo estava prestes a cair por um desastre militar. E nesse sentido, até foi bom ter ocorrido o 25 de Abril, estava tudo mesmo a cair... Repare nisto: um batalhão tem seiscentos e tal homens, e havia batalhões que só tinham 3 oficiais do QP, sendo o restante composto por milicianos. Ninguém percebia nada de nada, tecnicamente falando.E, além disso, ninguém estava, como sabe, disposto a morrer naquela guerra.»

Ora, constate-se a seguinte evolução nos 3 TO, sobre o número de capitães comandantes de companhias de combate, respectivamente do QP e milicianos:
1966: QP - 361; Milicianos - 103; 1970: QP - QP - 374; Milicianos - 248;
1973: QP - 177; Milicianos - 397; 1974: QP - 118; Milicianos - 431 (cfr. relatório do Sr. Coronel Morais da Silva, professor da A.M.).

Uma evolução desta ordem exigia medidas antecipadas, no sentido de garantir o melhor enquadramento dos comandantes das companhias de combate, e a aceleração de outras medidas com vista ao fim da guerra, quer pela iniciativa da negociação política, designadamente sob os auspícios da Carta das Nações, quer pelo reforço do equipamento das FA com vista à vitória militar urgente em substituição do conceito da guerra de longa duração; quer pela expulsão das FA daqueles capitães que se recusavam a sair para o mato (não havia controle sobre a actividade ou inactividade dos capitães, e recordo que tive dois capitães do QP que sempre se refugiaram do mato, com excepção do 1.º dia em que demos um passeio de aclimatização em torno de Piche), naturalmente em boas condições físicas, e, aparentemente, em Bissau havia alguns, a receber o mesmo do que aqueles que alinhavam.

Mas não, alguns capitães arranjavam motivos de baixa, e continuavam a receber tranquilamente os salários correspondentes, numa condição de privilégio relativamente ao que o direito do trabalho estabelecia para as passagens à situação de reforma ou aposentação de civis incapacitados para o exercício das suas profissões. A própria condição de DFA veio permitir que atestados apresentados depois da revolução relativamente a reformados das FA, normalmente de ordem psicológica, lhes permitisse a acumulação de subsídios remuneratórios, condição tão difícil de reconhecer a milicianos. Era só saber mexer-se. Em resumo, as FA estavam eivadas de vícios, que confrontavam os manhosos com os dedicados. Por outro lado, a lassidão dos governos e dos comandos militares perante tal quadro, é reveladora do nível de incompetência ou traição de uns e outros para a defesa do prestígio das instituições e da soberania nacional.


Segundo ponto de vista:

O de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso que desenvolveram vasta obra sobre a matéria:

«A tese de que as Forças Armadas Portuguesas controlavam a situação nos 3 teatros de operações, ou até da vitória militar em parcelas do teatro, ou da possibilidade de manter a soberania sobre todos os territórios ultramarinos esbarra em 2 obstáculos:

1) Não corresponde à verdade dos factos - isto é, contraria o que foi escrito, afirmado e testemunhado na época;
2) Torna absurda e incoerente a actuação de todos os actores políticos e militares, com responsabilidades na época, sejam os militares, sejam os políticos.

Isto é, se a afirmação fosse correcta, a actuação de todos os actores políticos e militares durante os anos de 1973 e 1974 teria sido absurda, desde o então presidente da República ao mais anónimo dos militares que conscientemente intervieram no 25 de Abril. do primeiro-ministro e dos membros do seu governo, à totalidade dos generais portugueses».

Parece óbvia esta frase, porém, quanto à primeira, sobre a inverdade da consideração dos factos, que socorrem a tese de que a guerra não estava perdida, tenho que fazer alguma ponderação suplementar. E começo por questionar se terá sido correcta a intervenção "consciente" dos militares no 25 de Abril, tendo em conta a oportunidade internacional, a garantia de sobrevivência de Portugal sem garantia da solidariedade internacional, e sem a protecção necessária à consolidação das novas nacionalidades, e à integração dos portugueses civis e dos africanos que integraram as nossas FA. e que nelas pretendessem prosseguir vidas e actividades?

A intervenção militar foi um malogro total, desde antes do golpe, quando começaram a manifestar-se tendências, rivalidades e ambições, quer em proveito próprio, quer em favor de forças políticas representantes de interesses estranhos, tanto a Portugal, como aos territórios ultramarinos. O MFA gerou várias "babel", e não se eximiu à incrementação de actos criminosos e tendenciosos. Longe, portanto, da ideia de não tomar partido, pois tomou em todas as circunstâncias da descolonização apressada, com traição do interesse das populações e do equilíbrio das novas sociedades. Os resultados ainda estão à vista e perpetuam a desgraça de milhões, que se abrigavam sob a nossa bandeira. E podia ter sido pior, lá, como cá. Hoje estão todos reformados no topo da carreira, e não raro apresentam-se como heróis.

Aqueles analistas ainda referem «as dificuldades logísticas desde o inicio da guerra», e acrescentam «uma ameaça séria da intervenção externa com meios convencionais - blindados e força aérea do Zaire - que fazia com que as forças portuguesas necessitassem de apoio considerável e extraordinário da África do Sul», o que revela duas ideias:
1.ª - a de que o Zaire consideraria o ataque em força a Angola, de todo inimaginável, dadas os interesses económicos, políticos e geo-estratégicos que, ainda hoje, condicionam as medidas politicas regionais;
2.º - que a oponibilidade portuguesa sucumbiria, mesmo que estivesse em vias uma acção de reapetrechamento das FA, e apesar do auxílio (interessado) da poderosa África do Sul. É de notar, porém, que os analistas recorreram a dados de 1970, muitos deles já sem significado, ou muito atenuados em 1974, quando se vivia em paz consistente em quase todo o território angolano, e os movimentos não tinham expressão, nem os apoios da URSS e dos EUA, como é sabido.

Acrescentam aqueles autores: «Se a situação em Angola não era a da paz, progresso e prosperidade apregoadas nas declarações públicas, a situação em Moçambique e na Guiné eram ainda bastante mais graves». Como vimos antes, Angola estava em 1974 a viver um óptimo ambiente de crescimento económico e social, só limitado pelo poder central, e adivinhava-se a sua autodeterminação pacífica. Não se pode colocar em pé de igualdade as situações vividas em Moçambique e na Guiné, como a frase pode sugerir, pelo contrário, eram muito diferentes. Não era de grande intensidade a guerra em Moçambique, embora reconheça que houve actos isolados de terrorismo - ataques cobardes a civis pacíficos e trabalhadores - que procuravam alargar o espaço de confusão desejado pela Frelimo. Era grande o território moçambicano e os independentistas não tinham pessoal para combater em tanto espaço. Desses acontecimentos vieram a insurgir-se as populações locais - na Beira e Vila Pery (Chimoio) - contra os militares que se passeavam pelas cidades em atitude que sugeria indiferença perante o fenómeno da guerra emancipalista. Também os militares se indignaram contra os civis, e o poder político foi incapaz de harmonizar a situação, do que resultou um campo de fácil expansão para as ideias revolucionárias de acabar a guerra tão depressa quanto possível. E essa pressa descurou todas as cautelas quanto à nascença de um novo país, e veio a revelar-se indigna e criminosa pelas consequências da entrega pura e simples ao inimigo, que assim garantia um curto período para a evacuação total da tropa.
Gerou-se um movimento independentista, quase em segredo, liderado por Jorge Jardim, mas ninguém se manifestou contra Portugal, com que parecia quererem manter laços de fraternidade, apenas procuravam encontrar soluções onde o Governo não diligenciava.

Na Guiné a situação era diferente, muito diferente. Em primeiro lugar, porque tratava-se de um pequeno território com poucos recursos, onde a instalação de civis portugueses nunca foi relevante. Havia, melhor, deveria ter havido uma preocupação de manter a Guiné, enquanto a situação nas restantes colónias, ou províncias, não se mostrasse consolidada, dado o factor psicológico de reconhecendo uma independência, ter que reconhecer as restantes. Cheirava a guerra por todo o território, houve combates de vulto, mas o que mais desanimava a tropa, seria a pobreza da manutenção na quadricula, a falta de quadros do exército no enquadramento e operacionalidade das unidades, as dúvidas sobre a estratégia a adoptar, e a insatisfação face ao poder político tacanho e inoperante, sem a mínima noção do que era o Ultramar. O Senhor Coronel Matos Gomes combateu na Guiné, e sabe que as NT nunca foram escorraçadas, e o apontado caso do abandono de Guilege ficou a dever-se à inoperância das repartições, que desprezavam as dificuldades por que se passava nos aquartelamentos mal concebidos. Naturalmente, pode haver um cúmulo de sacrifícios que transbordem os limites da paciência, mas não era o caso da generalidade dos oficiais do QP.

Sobre a Guiné, na sequência dos acontecimentos de Guilege, Guidage e Gadamael, Spínola declarou: "encontramo-nos indiscutivelmente na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios".

Para se ter ideia sobre a manipulação de dados, as intrigas e ambições pessoais entre os mais graduados das NT, também eles responsáveis pelo que veio a acontecer com o golpe de Abril, extraio as seguintes linhas sobre um importante operacional e comandante do BCP 12 face a acções atribuídas que ele próprio planeou e comandou:
"Não estava nos hábitos do TCor Araújo e Sá pertencer a grupos ou ser presença assídua em Quartéis-Generais, Messes de Oficiais ou em reuniões sociais, e muito menos a contar ou a sobrevalorizar peripécias dos combates... É que na Guiné de então, a Glória estava pré-determinada e as honrarias contemplavam normalmente apenas um círculo restrito junto do General Comandante-Chefe. Depois, o marketing e os círculos de amigos fizeram o resto. E apareceram as lendas, que progressivamente têm vindo a tomar o lugar da História", e são citadas omissões em duas obras de referência: "Os anos da guerra colonial", vol. 14, pág. 18, por Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso; e "A Guerra de África - Guiné", da colecção Batalhas da História de Portugal, pág. 131, e "A Guerra da Guiné - 1961-1974", da colecção "Guerras e Campanhas Militares", pág 111, estas últimas pelo Coronel Fernando Policarpo, referidas em "A Última Missão", de José Moura Calheiros.

Fiz a minha comissão de serviço na zona leste da Guiné durante o biénio 1970/71 que, quase correspondeu a um período de turismo africano salpicado com uma dúzia de intervenções de guerra: minas, armadilhas e ataques a aquartelamentos, e muita actividade operacional todos os dias - colunas, patrulhas, emboscadas. Havia risco? Claro que sim. Mas nada me permitia dizer, como disse Vasco Lourenço em entrevista concedida a Ana de Sousa Dias, na passagem dos 30 anos sobre o 25 de Abril: «as forças armadas empenhadas na defesa da Guiné iriam, a muito curto prazo, ser esmagadas pelo PAIGC". É estranha tal afirmação na medida em que, tendo estado empenhado nesta luta durante dois anos, não tivera qualquer baixa entre os homens da companhia que comandava. Deste facto pode deduzir-se que o potencial de combate do inimigo não era tão eficaz nas suas acções quanto se fazia crer, referido em "25 de Abril de 1974 - A Revolução da Perfídia", do General Silva Cardoso, que adiante refere: «recordam-se as palavras do ministro Almeida Santos quando vaticinava uma mais que certa derrota militar a curto prazo na Guiné donde resultava e necessidade de se encontrar uma solução política para as guerras do Ultramar. Pelo contrario, o General Costa Gomes, nas suas funções de CEMGFA, ao passar pela Guiné em Janeiro de 1974, afirmou que a Guiné era defensável e tinha de ser defendida», e prossegue: «Mas Vasco Lourenço, segundo rezam opiniões recolhidas, não teria sido iluminado pelo episódio (citado na publicação em apreço) da morte do guia, mas sim quando numa emboscada sofrida pelas suas forças ele saltou da viatura e se abrigou debaixo dela enquanto os seus homens faziam frente ao fogo do inimigo. Foi nesta situação de puro medo físico que ele foi iluminado e só então compreendeu a injustiça da guerra».

Face a estas notícias pode constatar-se que os profissionais da guerra deviam ter vasta informação, e podiam ter pressionado o governo, através da hierarquia, para a aquisição dos meios necessários, face às novas perspectivas da luta, conforme Spínola, exigindo a salvaguarda de verbas para alguma modernização de equipamentos a adquirir, que conferissem outras garantias de eficácia. Em vez disso, muitos desses militares juntaram-se para provocarem a queda do governo, e para provocarem o regresso imediato às suas casas na Metrópole, à custa do abandono da luta, e da entrega aos inimigos, então tornados "irmãos", do destino dos territórios e das gentes que ali viviam. Ora, as FAP integravam muitos mais elementos africanos do que os efectivos das forças inimigas, a quem se reconheceu a absurda autoridade total e boçal, e se a solução adoptada pelos militares do MFA (acolitados pelo oportunismo de socialistas e comunistas) consubstanciou-se pela traição à imensa maioria que garantia a estabilidade e o progresso dos territórios, a solução adoptada foi necessariamente traiçoeira, tanto mais, que não quiseram considerar períodos de transição e integração social, quer dos guerrilheiros nas diferentes actividades, ou numa força única com as NT nas futuras forças armadas locais, por forma a eliminar estigmas e a estimular a construção das novas sociedades.

Desditosa Pátria!

Com o apodrecimento da História, os ventos liberais fustigaram, primeiro a monarquia, depois o próprio povo, quando atraído para a democracia viscosa e manietada pelos que chegam pobres à governação, sem cheta, só com o dom da palavra, ou a protecção do padrinho, e abalam indecentemente ricos e poderosos.

Minudência final: com o 25 de Abril Portugal passou a recorrer ao crédito externo, público e privado. Com a entrada de empréstimos de solidariedade provenientes da adesão à CE (ex-CEE) Portugal, que era auto-suficiente na pesca, na agricultura e na pecuária, passou a pagar os produtos de importação daquelas áreas, que a CE proibiu-nos de produzir. Isto dá uma imagem da negociata financeira e da dependência política resultante da adesão.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14395: (In)citações (74): Fotos que por acaso não são da minha motorizada nem de uma outra portuguesa (Henrique Cerqueira)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14383: (Ex)citações (267): Será que nós estamos escrevendo milhares de postes à procura da juventudo "perdida" na guerra? (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) com data de 12 de Março de 2015:

Olá Carlos,
Peço-te que coloques esta minha interpretação sobre a questão proveniente do outro lado do Atlântico.
O Vasco(*) é muito pertinente na abordagem do tema e, seguramente, valerá a pena conhecer as opiniões dos camaradas.
Também tenho costela de bairradino, pelo lado paterno, por isso evito falar de caçoilas, mas desejo-lhe muitas alegrias.

Com um abraço
JD

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O Vasco lança o repto para respondermos aqui no Blogue, se andamos à procura da juventude "perdida" durante a guerra, e eleva o nível da introspecção pelo cotejo da procura do tempo perdido, de Proust. Também dá tópicos para reflexão, como termos nascido numa "ilha", considerando a localização (influência mediterrânica), e o tempo do pós-guerra, de que o nosso "jardim" ficou imune às devastações ocorridas no resto da Europa.

A propósito da guerra-fria recorda uma linha de orientação adoptada por Salazar, que lançou a ideia neutral do Minho a Timor. Foi uma espécie de realidade da época, pois a neutralidade revelou-se comprometida com os dois lados da contenda, o que ia custando a invasão dos Açores. Também poucos saberão, que depois do 25 de Abril os timorenses, que viviam pacificamente sob a bandeira das quinas, quiseram continuar portugueses, e só uma campanha de dinamização entusiástica os levou à guerra forçada, para escolha do modelo político que a independência exigia.

Sobre a máquina de propaganda de Salazar, provavelmente, não foi tão eficiente para a juventude mais esclarecida que frequentava os meios académicos, quanto tem sido as lavagens aos cérebros desde a revolução, assente nos pressupostos dos 3 dês - descolonização, democratização e desenvolvimento. O primeiro pressuposto foi rápida e miseravelmente realizado, recheado de traições, crimes, e outras ignomínias; o segundo, corresponde a uma quimera, um mito bestial, e a população, nem de perto nem de longe, aceita a acusação de ter vivido acima das possibilidades, nem tem responsabilidades sobre a situação económico-financeira, nem foi consultada e confrontada com a adesão à CE (ex-CEE), nem passou mandatos para a venda de infra-estruturas públicas e estratégicas, pelo que as coisas têm acontecido marginais à democracia, mas em obediência a uma descontrolada "democracia-representativa" que aproveita a espertalhões; e sobre o terceiro pressuposto, como decorre do anterior, tudo tem acontecido sem rei nem ropue, à mercê do investimento estrangeiro (agora a China é que está a dar), ou do crédito internacional, que os sucessivos governos têm desbaratado com vaidade e seleccionada galhardia.

Ah! A nossa juventude?

Durante os 3 anos de tropa que nos eram impostos, dávamos largas à nossa alegria e energia, sempre que as oportunidades o permitiam. Construímos novas amizades e praticamos a solidariedade, de que os encontros de confraternização são bons exemplos, e acabado o serviço militar, entrámos no mercado de trabalho conforme competências, apetências e oportunidades de cada um, e constituímos famílias. Não me refiro aqui aos que tiveram a infelicidade de transportarem sequelas da guerra, que são casos muito especiais que a sociedade, ignorando a solidariedade democrática, parece ignorar.

A guerra parecia perdida "ab initio", mas a generosidade dos jovens portugueses veio a impor-se à admiração do mundo (mau grado algumas artimanhas que contrariaram a dignidade da condição militar pelo aproveitamento pessoal de oportunidades ilegítimas e ilegais. Não se queria saber, ao mesmo tempo, que as maiores colónias mostravam um processo de desenvolvimento económico-social com taxas de crescimento entre os 6 e os 15%, enquanto a metrópole registava médias de 3 a 4%. Outro factor a considerar, é que aquelas colónias registaram o crescimento da população branca para o dobro, pois passaram a catalizar o interesse de uma parte dos ex-combatentes, que ali procuraram futuro, e não usavam chicote, G-3, ou Bazuka. O ambiente era pluri-racial e cada vez mais havia nativos a ombrear com metropolitanos nas diferentes actividades laborais e culturais - mas neste âmbito que consideramos, as coisas não acontecem com a facilidade e velocidade do interruptor.

Meu caro Vasco, as minhas memórias (depois da Guiné fui trabalhar em Angola) incidem na experiência pessoal, na alegria e na realização no trabalho, na segurança e harmonia familiar, mas também na observação atenta (li vários relatórios do Banco de Angola), enquanto cotejava com a propaganda local, nacional, e nacionalista (lia o Comércio do Funchal, esquerdista, e o Expresso desde o n.º 1, para além de alguns ensaios escritos que encontrava), as primeiras eram dinâmicas, a última era muito pobre de ideias e soluções dogmáticas. Também integrei uma reduzida mas interessante tertúlia com interesses no bem comum. E sonhávamos. Deve haver, porém, gente com opinião diferente, sobretudo se vinculada a dogmas ideológicos.

Finalmente, é minha convicção, que aquelas sociedades pujantes caminhavam inexoravelmente para a auto-determinação, talvez com independência soberana.

Abraços fraternos
JD
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14379: (Ex)citações (266): Considero, e para ser objectivo, que todos se estão borrifando para a Guiné-Bissau (Mário Vitorino Gaspar)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14097: Fotos à procura de... uma legenda (50): Fotos de António Fernandes Abreu, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 19 de Dezembro de 2014:


Olá Carlos, boa noite!
Acabo de receber estes retratos do António Fernandes Abreu, distinto furriel miliciano da minha Companhia, a intrépida CCaç 2679, que nunca virou as costas, nem ao inimigo, nem às bajudas.

Aliás, sobre esta vertente, o dito militar revelou muito aprumo nas suas escolhas e referências, fazendo frequentes demonstrações de boteré, e registando testemunhos para recordar mais tarde.

Deixo à tua consideração sobre a possibilidade de as publicares. Porque me sugerem excelentes postais natalícios, aproveito para te desejar Boas-Festas e melhor Ano Novo do que prevejo, votos extensivos ao tabancal.

Com um abraço
JD






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Comentário do editor:

Fotos sem legenda quase sempre não dizem nada.
Serão de Bajocunda? Que representam? Em que data?
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14071: Fotos à procura de ... uma legenda (49): a escolinha do nosso tempo e a Carta de Portugal Insular e Ultramarino (Luís Graça)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13731: História da CCAÇ 2679 (70): Em "O Jagudi" - Quanto vale a vida de um homem?" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 9 de Outubro de 2014: 

Olá Carlos, bom dia!
Na senda da lenta revelação de episódios ocorridos no âmbito da comissão militar, tanto em estrito, como em largo senso, hoje envio-te uma referência a uma intervenção de um dinâmico parlamentar da antiga Assembleia Nacional, o Pedro Pinto Leite, que (em minha opinião) conjuntamente com o Miller Guerra eram os mais afoitos deputados da chamada Ala Liberal, onde o Sá Carneiro dava a nota "snob" do oposicionista com "pedigree" civilizado.
Por infortúnio do destino, o Pinto Leite faleceu na Guiné durante uma visita no âmbito das funções parlamentares.

A referência relaciona-se com o eco dado pelo Jagudi a uma reportagem sobre a discussão da Lei de Meios, hoje designada por Lei do Orçamento, ou simplesmente Orçamento.

Com um abraço amigo
JD

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HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

"QUANTO VALE A VIDA DE UM HOMEM?"

Decorria a tarde sem incidentes que me fizessem levantar da cama, onde folheava um livro qualquer, quando, sem que a tempestade se fizesse anunciar, alguém me procurou para me apresentar ao capitão Trapinhos.
Ao passar a ombreira da porta do gabinete de SEx.ª, deparei com ele lívido e escanzelado que de costume, e num impulso de sobrevivência, atirou-me com a pergunta impertinente:
- Você quer foder-me, ou quê?

Posta assim a questão introdutória, a que reagi com um cauteloso silêncio, num gesto tenso de perturbação agarrou numa folha de papel que jazia na sua frente sobre a secretária, e deu-me a ordem clara para ler o conteúdo, esticando o braço com o papel na ponta dos dedinhos, enquanto me lançava um olhar vermelho de ódio incontido.
Tratava-se de uma mensagem-rádio proveniente de Bissau, que cito de memória:
- Encarrega-me S.Ex.ª o Com-Chefe de recomendar que, quando conveniente, os textos a inserir no Jagudi susceptíveis de interpretações deturpada, sejam previamente esclarecidos sobre o respectivo contexto.
Assinava o Brigadeiro Comandante-Militar.

Virei a folha para ganhar tempo e inspiração, pois no verso nada era acrescentado, fiz o gesto de lhe devolver a mensagem, que ele ignorou, enquanto parecia exigir o meu esclarecimento contextual.
Deixei cair o papel sobre a secretária, e com uma inusitada lata observei:
- Isto está a ser um sucesso!

O Trapinhos ficou tonto pela surpresa da resposta, e teorizei que o Sr. Com-Chefe, secundado pelo Sr. Comandante-Militar, não manifestava qualquer opinião condenatória, antes parecia só faltar mais clareza a dar estímulo para prosseguir.

Atónito, o capitão nada disse de relevante, mas advertiu-me, que se levasse uma porrada que lhe estragasse a carreira, haveria de vingar-se convenientemente.
Coitado, ainda não estava feliz. Para melhor compreensão da origem perturbadora da vida suave do comandante da Companhia, anexo o documento publicado.


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13570: História da CCAÇ 2679 (69): O número 2 de "O Jagudi" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13570: História da CCAÇ 2679 (69): O número 2 de "O Jagudi" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

69 - O NÚMERO 2 DE "O JAGUDI"


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 25 de Agosto de 2014:

Já antes dei notícia de que em Bajocunda editou-se um jornal de grande repercussão e prestígio junto da população militar ali habitante. Não é que lá faltassem informações, até boatos, mas era uma coisa nossa, feita com o carinho de uma comunidade geralmente amiga, e que tinha a sua própria visão do mundo. Quem quisesse, poderia dedicar-se à escrita de um texto, que submetido à comissão local de censura, se fosse aprovado, veria a luz do dia. Acho que foram todos. E a pomposa comissão local era só eu. Sendo assim, em que medida poderia um qualquer texto ser censurado? Desde logo se dissesse mal de mim, coisa óbvia, ao alcance dos cidadãos simples que se ofereçam para estes trabalhos. O problema, é que eram tão escassas as colaborações, que não tive oportunidade para o exercício desse mister, com a frequência que me daria importância histórica.

De facto, uma ocasião depois do golpe de Abril, para integrar uma comissão para a qual fora eleito, pedi uma declaração sobre uma eventual ficha na "extinta", e a resposta foi de uma pobreza total. É que nem bufo conseguira ser! Falta de aptidão, certamente. Outros, carregadinhos de informações e "desvios", estão agora muito bem na vida, inclusivamente em regime de acumulação de pensões. E não é só a um que me refiro. Nem da mesma fonte.

Regresso ao Jagudi, melhor, O Jagudi. Dava um bocado de trabalho. foi necessário integrar o capitão na vontade de o fazer, apesar dos prejuízos causados no saco azul, mas, em contra-partida, granjeava-lhe imenso fascínio e prestígio junto da população militar, ao mesmo tempo que lhe dispensava um ar de patrocinador diletante e despreocupado, sem necessidade de declarações para as finanças. Por trás dos respectivos óculos de ver melhor, dois sargentos lá alapados, faziam caretas sobre o desenrolar da iniciativa, e deitavam contas à despesa mensal intrínseca. Numa cera batia-se o texto e o arranjo gráfico de cada página, que depois das correcções introduzidas pela aplicação de verniz, sobre as quais se dactilografava o texto correctamente fixado, ia à máquina reprodutora de impressão gráfica. Isto acontecia para cada folha. Finalmente, seleccionavam-se as folhas de diferentes temáticas para cada exemplar, agrafavam-se, e punham-se ao dispor dos simpáticos cidadãos, que se dessem ao trabalho de as ler. E desta presunçosa actividade, nascia o dito cujo, órgão da informação, da cultura, de passatempo, e de outros adjectivos que a imaginação possa inculcar-lhe, de domínio colonialista, para não facilitar a vida aos "reaças". Não era bem assim, no meu entender, mas ao longo das edições, vou já antecipar a confusão.

Desta vez, dou a conhecer três textos do número dois. Um de ordem afecto-psicológica, uma espécie de introspecção sobre o papel de uma mãe ausente na vida de um tropa paisano e mobilizado algures na Guiné. Outra, de outro excelente camarada, reporta-se a uma temática pertinente para o ambiente da guerrilha, e tem a ver com o quotidiano de cada um de nós, no sentido de mantermos alertas, contra as mais dissimuladas e imprevistas actividades do IN. Finalmente, uma narrativa retirada de uma revista internacional, sobre os problemas de uma senhora trintona, da nobreza, que não foi a Bajocunda naquela época. Como teria sido diferente, e proveitosa, uma estadia que tivesse feito junto do pessoal da nossa Companhia. Mas acho que foi tudo produto de fértil imaginação.

Assim, deixo ao vosso cuidado a leitura e a eventual apreciação que possam fazer, não sem que, antes, e lealmente, vos alerte para as regras de boa educação que são timbre do Blogue, e de que eu, por inerência, também sou beneficiário.
Boa leitura.



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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13466: História da CCAÇ 2679 (68): Flagelação muito concentrada e certeira (José Manuel Matos Dinis)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13466: História da CCAÇ 2679 (68): Flagelação muito concentrada e certeira (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 4 de Agosto de 2014:

Viva Carlos!
Tem paciência, aguenta lá com esta!

Um grande abraço
JD




HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

68 - FLAGELAÇÃO MUITO CONCENTRADA E CERTEIRA

Aconteceram muitas e variadas situações inopinadas durante a guerra que travámos na Guiné.
Não me lembro de todas em que participei, ou de alguma maneira fui envolvido; ainda não contei todas de que retenho memória, e julgo que algumas não contarei, por constituírem testemunhos merecedores do maior repúdio social, e já antes, por breves abordagens aos insondáveis desígnios humanos, recebi reparos de leitores que se sentiram ofendidos, na crença de que vivíamos na melhor das civilizações, apesar de nem terem sido beliscados nos conteúdos que subscrevi.
Somos assim, e eu não tenho a veleidade de mudar o mundo, mas se pudesse... ah! com certeza.

O que me proponho agora trazer a público, não tem nenhuma revelação estrénua, nem de cobardia, nem ofensiva da moral e dos bons costumes, apesar do insólito, e da atrapalhação gerada. E todos se salvaram, conforme o nosso propósito ao embarcarmos com destino à Guiné.

 Como se recordam, pelas dezoito horas, nas lonjuras de Bajocunda, o sol mergulhava nos confins do ocidente até se diluir no escuro da noite, que um bocado depois começava a evidenciar o estrelar faiscante do firmamento, numa profusão de riquezas diamantinas, que nos deixava de olhares sequiosos como quem espera ser compensado por tão longa deslocação.
Se uns se regalavam naquela contemplação, outros entregavam-se a Morfeu, e alguns ainda liam, escreviam, ou faziam lerpas batoteiras, antes de pregar olho.

Certa noite, provavelmente habitada por inúmeras recordações da juventude, por projectos de futuro, por requisição de momentos passados, ou inquietações perenes, sei lá por quê, dois furriéis que tinham frequentado o mesmo colégio, e cimentado entre si uma cumplicidade maluca, ficaram à conversa sem se darem conta da passagem do tempo.
Por alguma razão, que não vem ao caso, deram-se conta de que os restantes já dormiam a bom dormir. Cá para mim, devem ter imaginado os diferentes comportamentos quando desaba uma flagelação inimiga, que é uma coisa que ninguém aprecia, sobretudo, quando está a viver tal género de acontecimento. Algum deve ter imaginado confrontar a hipótese com a realidade e, de outro ângulo, apreciarem as reacções. Não acuso, especulo.

A fonte de luz lunar deve tê-los inspirado daquelas estórias fantasmagóricas, com sombras reflectidas na penumbra, sons suspeitos na passagem de cada porta, medo na travessia da escuridão e dos encontrões precipitados, entre os ingredientes do humor negro que já firmou autores de renome mundial que, ainda não é desta, não me proponho a alcançar. Essas reacções de medo, cagaço, incerteza, sangue, dor, e outras consequências drásticas, devassavam o cortex de muitos combatentes, que preferiam estar aninhados junto com as namoradas, já que ali não se conheciam adeptos de outro género.

Fez-se um plano de acção.
Estavam tão lúcidos os dois furriéis, que nem carecia de revisão, ia resultar em cheio.
Um deles foi buscar um rolo de corda à oficina, que se mostrava necessidade premente para temperar a situação de ficção em realidade. O outro abordou-se do local onde se juntava o lixo de garrafas vazias, que também constituía outra necessidade essencial no conjunto dos ingredientes para a acção, e reuniu algumas delas, que colocou em lugar estratégico. Entraram dentro do edifício com três quartos onde os restantes chonavam, e àqueles que se mostravam mais profundamente desligados da realidade perigosa, ataram os pés aos pés da cama, com um nó simples mas desencadeador de todos os cagaços. Depois, deram execução ao plano.

Enquanto no exterior, um deles bombardeava o telhado de zinco com tanta cadência de garrafas quanto possível, o outro andava pelos quartos aos berros que anunciavam ataque do IN, e já identificava um morto. Gerou-se uma atrapalhação, com gajos a imaginarem o céu a cair-lhes em cima, e outros que saltavam desajeitadamente sobre os atingidos, tudo num lapso de tempo escuro, que evidenciou o perigo da malta se deitar sem lembrança de quartos de sentinela.

Sucederam-se uns minutos impróprios de relatar aqui, mas pouco depois as inconscientes vítimas, empregavam novamente a roncar de profundo sono.

P.S. - Por respeito à vontade dos provocadores, omito as suas identidades.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12942: História da CCAÇ 2679 (67): Requerimento, talvez inédito (José Manuel Matos Dinis)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13168: Convívios (597): Rescaldo do Convívio da CART 2679 e Pel Caç Nat 65, realizado nos passados dias 10 e 11 de Maio de 2014 em Tomar (José Manuel Matos Dinis)

Saída em desfile, do 4.º Pelotão da CCAÇ 2679, do acanhado BII-19 para o porto do Funchal, onda apanharam o Uíge com rumo à Guiné, onde, não tenho a certeza, parece que acabaram com a guerra. Ainda hoje se ouvem choros de bajudas, depende da orientação do vento.


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 12 de Maio de 2014:

Viva Carlos!
Não sei se vou ser muito chato (porque sem aquela medida de quantidade, já sei que sou), por enviar uma troca de meiles depois do encontro de confraternização da CCaç 2679 e Pel Caç Nat 65 realizado durante o último fim-de-semana (10 e 11) em Tomar.

Sob a batuta da Donzília e do Leal tudo se revelou com grande afinação.
Reunidos em permanência na Estalagem Sta Iria, no jardim que margina o Nabão, no centro da cidade, ninguém foi nabo, mesmo os madeirenses Valentim e Agostinho, que eram escoltados por uma tropa de familiares, só chegaram atrasados, por causa dos atrasos de vida do rent-a-car, mas ainda tiveram ocasião para matar a malvada e participar activamente nas actividades lúdico-culturais que decorreram durante a tarde, sempre aconchegadas com bolinhos regionais e líquidos de boa cepa, produtos da dedicação do alfero.

De comboio fomos até ao Convento de Cristo - que foi visto a retorcer-se de inveja para integrar o animado grupo; visitaram-se as dependências do imóvel, e a janela do Capítulo foi centro de atraqueções; adquiriram-se recuerdos; voltámos ao comboio que, lampeiro, nos transportou ao Museu do Fósforo; recebemos indicações sobre os magnos estabelecimentos onde se aconchegam os estômagos de delícias tradicionais, mas o pessoal queria era ordem unida, pelo que até ao jantar e depois dele, a varanda foi ponto de encontro, de emboscadas, de armadilhas, tudo sabiamente neutralizado, e depois convenientemente regado e celebrado.

Lá para a uma da matina, quando acabaram os very-lights, o pessoal cansado, mas muito bem disposto, recolheu ao tabancal, onde as respectivas bajudas já aguardavam os heróis.
Como dizia o outro, depois da tempestade vem a bonança.

Se tiveres pachorra, e não encontrares inconveniências, peço-te que dês notícia da feliz ocorrência.

Com um abraço
JD

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2. Diz também a propósito do Convívio o nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caros amigos
De regresso do nosso encontro deste ano em Tomar, deixo aqui expressa a minha satisfação pela forma cordial como decorreu, e pela comunicação que proporcionou.
Gostaria que a todos tivesse corrido bem a viagem de regresso, tal como nos aconteceu a nós.
Foi bom rever alguns rostos que já não víamos há algum tempo e expresso a minha pena por não poder enviar esta mensagem a todos, pois a exemplo do Guerra ou do Calvo ou do Vítor, não tenho os respectivos endereços.

Ao Leal e à esposa, os melhores agradecimentos. Acho que acabaram por ter prejuízo pessoal com a nossa presença em Tomar, mas sei que o fizeram com prazer e sem reservas de qualquer espécie.
Sendo certo que tudo correu da melhor maneira, tal só aconteceu devido aos cuidados que tiveram para nos receber.

Quanto aos licores... bem, acho que que deveriam comercializá-los, para vergonha de algumas coisas que circulam por aí nos mercados.

Um grande abraço para presentes e ausentes, pois a amizade está cimentada entre todos.
Cândido Morais

De cima para baixo: Tito e Aquino; Abreu e Salvador; Gonçalves e Dinis; Marino e Azevedo; Morais; Ramalho e Vieira de Sousa; Viçoso e Pedro. 
Particularidade: nota-se, bastante evidentemente, que estes cavalheiros estão prontos a ingressar noutra guerra, com pose e determinação.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13146: Convívios (596): V Encontro do pessoal da CCAÇ 617/BCAÇ 619 e do Pel Mort 942 (Catió, Cachil, Ilha do Como, 1964/66), dia 31 de Maio de 2014, na Tocha

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12942: História da CCAÇ 2679 (67): Requerimento, talvez inédito (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 3 de Abril de 2014:

Olá Carlos!
Muito obrigado pela publicação de um bilhetinho entre o maioral de Bajocunda, e este amanuense que às vezes dá trabalho.
Refere o texto publicado que "iam-se gramando, até que deixaram de gramar-se".
De permeio ainda decorreram uns mezitos, que na África quente e escaldante, às vezes por nossa culpa, pareciam anos.
Por causa daquela frase pensei antecipar a estória da circunstância em que "deixaram de gramar-se".
Aqui vai ela, e espero que a pressa não tenha omitido algum facto relevante.

Um grande abraço, extensivo ao tabancal
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

67 - REQUERIMENTO, TALVEZ INÉDITO

Tinha passado a noite na mata em emboscada noturna, depois de um dia de patrulha de combate, no âmbito das acções operacionais que a Companhia levava a cabo para controle militar da região.
Na ocasião, para além dos quatro pelotões operacionais, alguns já com défice acentuado de pessoal, havia ainda em rotina, adstritos à Companhia, um ou dois pelotões de Pirada, e o Pel Caç Nat 65, mas a área era extensa, e havia duas aldeias onde pernoitava um pelotão para cada uma delas, Amedalai, e reforço em Tabassai.
Em Bajocunda ficavam dois ou três pelotões operacionais durante a noite, enquanto dois estavam em permanência no destacamento de Copá, e na aldeia de Tabassai.

Com muita frequência, um pelotão passava a noite em emboscada. A aldeia de Amedalai, apesar de ter sido atacada uma vez, era a sede do regulado, pelo que teria ligações mais acentuadas com a população, e ao PAIGC não interessaria implicar demasiado com a tradição politico-juridica da influência do régulo.
Também lá estava em permanência um pelotão de milícias, que dava um ar de estreita relação com a autoridade portuguesa, participava em escassas acções, ora da exclusiva competência, ora em companhia de pelotões do exército.

Tudo isto decorria durante um período de relativa paz, e o PAIGC limitava-se a colocar uma ou outra mina nos itinerários, e a flagelar duas ou três vezes por mês os aquartelamentos. Faltava cerca de quatro meses para terminarmos a comissão.
Naquele dia, depois do almoço, o capitão chamou-me para dar indicação de que teria que sair ao entardecer para montar uma emboscada. Ora, era costume, que depois de uma acção como tivera na véspera, o pelotão ficaria de folga, muito menos se pensava em passar duas noites consecutivas no mato, e a comer ração. Protestei com estes e outros argumentos, mas ele afirmava outras razões, que me pareceram de total incompetência para comandar a tropa, e não saía dali; eu é que teria que sair, face às circunstâncias por ele aduzidas.

Não havia meio, os meus sucessivos argumentos não alteravam nada a decisão do comandante Trapinhos. Muito relutantemente fui informar a malta para estar preparada, e tive que arguir com alguma fantasia para evitar acirrar os ânimos.

As noites de mato, com o céu aberto mostravam a maravilha de míríades de pontos luminosos, e a malta entretinha-se a assinalar diferenças entre estrelas cadentes, pirilampos e "very-lights".
Naquela noite eu, pelo contrário, estava inquieto com a teimosia do capitão, que de algum tempo àquela data, insistia em embirrações comigo, que provocavam alguma perturbação à vida e normal desempenho do pelotão. Por vezes o pessoal queixava-se, e aventava, que era por não ter um oficial a comandar, que o Trapinhos andava a abusar e seria necessário tomar uma posição colectiva.

A tudo eu conseguia argumentar, que aqui ou ali poderíamos ser prejudicados, mas que não nos lembrávamos das acções dos outros para cotejo, e que não haveria nenhuma acção colectiva sem que eu autorizasse, na medida em que isso poderia constituir quebra da minha autoridade. O pessoal aderiu sempre aos meus argumentos, e tinha a convicção do meu bom desempenho na defesa do interesse colectivo. 

Durante a noite desassossegada, congeminei inúmeras possibilidades para responder em forma à tontearia do capitão. Ponderei no que podia reflectir-se contra mim, numa espécie de "deve" e "haver", cuja contabilidade era, no meu entender, favorável ao que eu estava a pensar adoptar.
Pensei muito no pelotão, nas amizades ali alicerçadas, nas vantagens que pudessem resultar para o pessoal, portanto, não seria desleal da minha parte. Seria uma decisão íntima. E ganhei confiança.

Quando entrei em Bajocunda fui tomar o pequeno-almoço. Comportei-me como se nada me afectasse, e não referi nada sobre as minhas preocupações. Se calhar, alguma brincadeira ainda me favoreceu a executar descontraidamente a decisão tomada. Depois dirigi-me à secretaria, pedi uma daquelas folhas de papel azul, que algumas vezes decidiam judiciosamente sobre nós, e redigi um requerimento a SExa. o Comandante-Chefe. Nele, depois de me identificar, resumia a matéria a um curto parágrafo: o pedido de transferência de Companhia por incompatibilidade com o comando.
Entreguei-o logo. Continuei a não referir o que fizera, e a levar a vida tão normal quanto era costume.

Talvez no dia seguinte, cruzei-me com o Trapinhos, sem testemunhas, que insinuou haver de ler o meu diário. Respondi-lhe com ironia, que se tinha amor à vida, devia fazê-lo, com certeza. Ele fez uma risada esperta, e acrescentou algo assim: sabe, parece que vai ser transferido para os Comandos Africanos.
Não me impressionei, e respondi com desfaçatez: antes com pretos decentes, que com alguns brancos ordinários.
E a coisa ficou por ali, mas bem mais definida do que antes, pensei eu. Não voltaria a ser voluntário para resolver problemas do capitão, e ele ficou incomodado, talvez molestado.

 Provavelmente ao terceiro dia, estava a fazer "O Jagudi" na secretaria, entrou um "foxtrot" a convidar-me para o acompanhar.
Quando transpus a porta fiquei surpreendido. Sobre o "submarino" (um paiol com formato de submarino construído junto do edifício do comando e secretaria) alinhava o pelotão, e com o pessoal bem ataviado para o que era costume. Um dos cabos dirigiu-me a palavra, que o pessoal estava incomodado com o que soubera, e queriam ouvir de mim, se sim, ou não, ia sair da Companhia.
Referi que não sabia ainda, e expliquei a minha diligência e os termos, que eram a incompatibilidade com o comando. Expliquei que esta frase tinha a ver com as dificuldades que sentia no relacionamento com o comando, mas que aguardava ser inquirido, ou instruções para consumar a transferência.
Pedi serenidade, e para não anteciparmos um qualquer resultado. Então o cabo que usava da palavra, referiu sobre a compreensão do meu argumento, mas colocou a questão do pessoal, em termos sentimentais e operacionais, pois ao longo dos meses tínhamos cimentado uma forte amizade (que ainda hoje prossegue com aqueles de quem tenho contacto), que depositavam em mim grande confiança, e que, se a transferência se consumasse, provavelmente ficariam sujeitos ao comando de um "piriquito", e o ambiente poderia desmoronar-se.
Voltei a referir que não tinha ainda qualquer informação a prestar sobre o requerimento, e reafirmei todo o gosto e sentido de camaradagem que tinha estabelecido com o grupo durante os meses da comissão, e que já faltava pouco para o termo da nossa obrigação na Guiné, pelo que dificilmente adviriam alterações importantes à vida do pelotão, e eu estava certo de que preservar o espírito "foxtrot" seria o mais importante para saber resistir a qualquer dificuldade.

Não houve despedidas, obviamente, mas todos estávamos sensibilizados. Pensei neste acontecimento durante algum tempo, nas dificuldades e demonstrações de solidariedade por que tínhamos passado, e senti um grande orgulho pela coesão que o grupo sempre manifestara. De alguma maneira, e eles expressaram isso mesmo, iriam sentir-se abandonados, o que não correspondia à verdade, mas era-me difícil de explicar melhor a minha posição.

Tomei então nova decisão.
Dirigi-me ao capitão e referi que não retirava o requerimento e estava apto para qualquer consequência, mas dava-lhe o arbítrio de fazer com ele o que entendesse. Nem reagiu, que me lembre. Por mais nada ter a dizer, nem ele, saí.
Compreendi que lhe tinha dado uma prenda, mas também fiquei com o pressentimento de que não arriscaria voltar a usar o pelotão como uma muleta salvadora, nem recorreria a excessos e litigâncias como era costume.

No final da comissão não perguntei pelo requerimento, pelo que não sei se o destino terá sido a "cesta secção", sem ter saído de Bajocunda.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12660: História da CCAÇ 2679 (66): "O Jagudi", o jornal de Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)