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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I

 


Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933
 (Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69); tem 190 referèncias no nosso blogue;
membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017



A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA)  DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR) 
NO CTIG

por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)


I – Introdução

Este tema tem em vista explicar qual foi esta especialidade administrativa militar, que é pouco conhecida da maioria dos nossos militares que estiveram nas guerras de África desde 1961/68

Foi sugerido pelo editor Luis Graça a propósito de um Poste para ser editado nos anos 2017 ou 2018, o qual eu tinha denominado de “A minha fuga de São Domingos” (*) e as peripécias que isto acarretou, e que não gosto de me lembrar, mas nunca as esqueço (1).


II – O que são os CA (Conselhos Administrativos) num Batalhão de Reforço

O CA é formado por uma estrutura Administrativa e Financeira, e é composto por 3 elementos:

Tomamos o caso do CA do BCAÇ 1933 a que pertenci:

  • O Presidente do CA, que é o segundo comandante (no nosso caso o major Américo Correia);
  • O Tesoureiro do CA, com a missão de movimentar os dinheiros, em Cash  (no nosso caso o alf mil inf Joaquim Custódio de Araujo Carneiro) (2);
  • O Chefe de Contabilidade (título que faz parte da estrutura do CA), cujo responsável era o alf mil SAM, Virgilio Teixeira (3),

Como nota explicativa, podemos  fazer um paralelo entre:

  • Os conselhos administrtivos das Unidades Militares (CAM);
  • Os Conselhos de Administração das Empresas (CAE).

As empresas privadas, de um modo geral, as médias e grandes empresas, são sociedades anónimas, que funcionam com uma estrutura, como todos sabem, os chamados os Conselhos de Administração, compostas no minimo com 3 elementos:

  • Um presidente, confundido atualmente com o CEO ("Chief Executive Officer");
  • Um vogal com funções multidisciplinares e que serve para desempatar em caso de litigios;
  • Um Administrador financeiro.

Sem me referir a nenhuma empresa em particular, existem muitas delas, em Portugal, nomeadamente, com unidades do mesmo grupo espalhadas por diversos pontos, e que tudo somado formam a empresa ou Grupo X, as quais devem apresentar as suas contas do exercicio à sua Holding , após devidamente aprovadas por orgãos independentes, normalmente os chamados "Auditores".

Compete ao CAE reunir, e apresentar o relatório e contas   em reunião formal aos Accionistas da Empresa, os quais aprovam ou não.

A grande parte deste trabalho é organizado pelo Administrador Financeiro.

O paralelo entre os CAM e os CAE é muito parecido, conquanto que os CAE são , mais unidades, sejam outras companhias operacionais espalhadas pelo sector que comandam, sejam pelotões independentes – Pel Rec Daimler, Pel Canhões sem Recuo, Pel  de Morteiros, Esquadrões de cavalaria, companhias de milicias, e outras mais subunidades... Tudo podendo perfazer no total mais de 3000 miitares, sob o comando do Comandante do Batalhão e sob a esfera administrativa do CAM .

No caso presente,  em Nova Lamego o meu BCAÇ 1933 tinha anexadas 17 subunidades independentes com um total de mais de 3000 militares para gerir,  o que era uma grande carga e trabalho e organização incompativel para um local de trabalho distante cerca de 300 quilometros da capital e sede da sua Chefia de Contabilidade (os "Auditores" ),

São grandes empresas privadas de até 4000 colaboradores que o aqui narrador teve a oportunidade de gerir na vida civil. Mas quero chamar a atenção que nunca fui Presidente de nada na minha vida toda.

Aliás, e melhorando a ideia, fui nomeado uma vez há muitos anos, para presidente da mesa numa assembleia de condóminos do meu empreendimento. Começaram a chamar-me "Senhor Presidente tem a palavra", meteu-me tanto asco por estas etiquetas que ao fim de uma hora terminou e jamais passei por essa cena vergonhosa.

Voltando ao cargo de CC do CA do BCAÇ 1933:

O paralelo está mais ou menos feito, mas claro que não são todas iguais. O CA do BCAÇ 1933, tinha a seu cargo múltiplas responsabilidades a saber:

  • A gestão do Fundo do Tesouro;
  • A gestão do Fundo Privativo;
  • A gestão dos Fundos Privados ("saco azul");
  • Os Fundos Confidenciais, a cargo do Comandanta do Batalhão (4);
  • A supervisão e acompanhamento dos pagamentos dos vencimentos a todo o pessoal, quer a parte que ficava na Metropole, quer a que recebia no CTIG;
  • Controlar e supervisionar as verbas de alimentação, a cargo dos Vagomestres, mas com prestação de contas ao CA (5);
  • Conferir, e reunir com todas as partes, e decidir de aprovar ou não, os famosos "Autos de Destruição", apresentados pelas Companhias e outras subunidades independentes, e que no fundo era listar e contabilizar os danos sofridos em flagelações do IN aos aquartelamentos, o que era dificil porque era tudo uma grande mentira do tamanho de todo o Sector (6);
  • Os gastos com despesas diversas, sejam de material corrente, sejam de materiais comprados no  comércio local para a protecção das tropas e pessoal civil (arame farpado, cimento, blocos, etc.);
  • As compras de alguns equipamentos de uso especifico, frigorificos, arcas, rádios, ventoinhas, e tanto outro material, as BIC e a Papelada !

Isto significa que não se podia gastar um Peso, sem a autorização formal do CC do CA, embora todos os restantes membros tinham de assinar os documentos de despesas.

O CC do CA também não poderia nunca fazer tudo isto sozinho, nem os outros, havia 3 assinaturas que não podiam faltar.

A prestação da contas, mensalmente, era feita junto da Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração no QG em Bissau – pelos CC dos CA.

Este trio do CA era assim responsabilizado, cada um na sua função, pelo bom andamento das contas, e no todo, que teriam de ser aprovadas mensalmente na Chefia de Contabilidade (7).





Foto nº 1 > CTIG > QG > Chefia de Serviço de Contabilidade e Administração > Circular nº 51/68 > Bissau, 16nov68 >  Enviada para todos os Batalhões de Reforço, transcrevendo uma diretiva do Ministério do Exército, que determinava a extinção dos CA dos BR no CTIG, devendo a respectiva liquidação estar terminada em 31 de dezembro de 1968. 


Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933
 (Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69) 


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


III - O fim  dos CA na Guiné

Feita esta explicação perliminar, vamos resumir como tudo acabou.

Não sei ainda se esta determinação da extinção dos CA dos Batalhões de reforço (BR), era dirigida apenas para a Guiné ou se era geral para todos teatros de operações.

  • No dia 16 nov  68 a Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração- Secção do Orçamento, emite uma Circular para todos os Batalhões, trancrevendo uma diretiva do Ministério do Exército, Circular nº 51/68, determinando a extinção dos CA dos BR no CTIG, devendo a respectiva Liquidação estar terminada em 31 de dezembro de 1968. (Foto 1);
  • E as subunidades passariam a ser independentes para efeitos administrativos a partir de 1 janeiro de 1969;
  • E que brevemente seriam emitidas as normas para as subunidades.

E nada foi feito no nosso caso, porque no dia 20 desse mês de novembro o nosso comandante é ferido em combate e evacuado para o HMP na Estrela, e nunca mais apareceu.

Por causa disso, o Presidente do CA , 2º Comandante passa a ocupar interinamente o Comando do Batalhão, e o Oficial de operações major Graciano Henriques ocupa também interinamente a Presidência do CA, ou seja passa a ser o meu Chefe direto, o diabo caiu do Céu, pois este senhor era e sempre foi o meu maior inimigo no CTIG (8).

E assim, após uma fase atribulada com este Senhor, continuãmos no ritmo normal.

Chegamos ao final de 1968, e em janeiro de 1969, chega o novo reforço – O coronel Renato Xavier – a quem o pessoal deu o seu nome original – o "Papaias" (em alegoria ao seu principal modo de vida, a agricultura intensiva no nosso aquartelamento, uma vez que os terrenos eram escassos, e a tropa precisava de frutas e produtos frescos, e ele vendendo para as messes, cantinas e refeitórios, ganhava algum dinheiro extra, era o que diziam, pois já não é do meu tempo).

Na minha apresentação ao novo Comandante, acho que ele me viu com indiferença, mas não me lembro desse episódio, e eu com mais indiferença para ele.

Penso que o meu ‘amigo’ o major Graciano, que voltou para a sua função normal nas operações, deve ter-lhe enchido os ouvidos e olhos.

Daí por diante começa, um período negro nas relações pessoais, já nada era como antes (9).

O encerramento das contas, não foi obviamente feito no prazo, devido a estas contingências, e em 31/12/68 continuávamos com tudo igual.

Começo a perceber que as coisas vão demorar, não há diretivas internas como proceder.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Notas do autor;

(1) Já foi postado há anos, mas escaparam outros contornos que agora já poderei contar.

Este Poste que o editor alterou o titulo, porque segundo ele explicou, um Militar nunca foge!

É verdade, mas não foi uma fuga à guerra, mas sim aos novos comandos do meu batalhão, face à evacuação do nosso comandante ten cor inf, Armando Vasco de Campos Saraiva, devido a ferimentos graves em combate, no dia 20 de novembro de 1968, a curta distância do fim da pista em S.Domingos.

(2) Nunca percebi porque esta função foi cometida a um militar de infantaria, quando devia ser alguém oriundo da Escola Prática de Administração Militar (EPAM) . Esta Escola Prática de Serviços funcionava na zona de Alvalade e Lumiar. Há poucos anos ainda perguntei a este membro porquê ele foi desviado de infantaria para o CA? Sempre se desviou da conversa, mas julgo que foi uma cunha de alguém, porque já era casado e tinha um filho de 2 anos! 

(3) Esta função em qualquer CA quer seja de Batalhões de Reforço, ou de unidades militares fixas, como seja o caso dos Comandos, Paraquedistas, Adidos, Bases da Força Aérea, Bases dos Fuzileiros, do Quartel General e outros é da responsabilidade máxima da Administração Militar, que no fundo gere os fundos dde todas as subunidades operacionais.

Vou relevar aqui as relações entre eu o CC do CA e o meu comandante de batalhão, por achar dever ser do conhecimento de todos os interessados.

O comandante é o primeiro responsável pelas contas certas do batalhão. Mas essa função é cometida ao segundo comandante, por lei, como presidente do CA. Ele só pode regressar após a  aprovação das contas do seu batalhão.

Ele pode,  se assim entender, ordenar os gastos da sua unidade como quiser, ficando como o seu responsável final,  caso as verbas sejam desviadas para outros fins.

Quando o BCAÇ 1933 se formou em Tomar, no RI 15, julgo que começou por volta de junho 67, ele ficou à espera do seu chefe do CA para tomar decisões quanto às compras de várias coisas, sejam administrativas ou de lazer e conforto.

Já todo o CA estava formado e pronto, no inicio de agosto de 67, mas o CC do CA não aparecia em Santa Margarida onde se encontravam as tropas a fazer o IAO. Quem foi nomeado para esta função fui eu – o alferes Teixeira  , que me encontrava então à espera de alguém no BC 10 de Chaves para fazer o estágio no CA daquela unidade. 

Mas era fim de julho e depois agosto, e como não havia ninguém no CA para dar a tal formação, estava tudo de férias, e com aquele calor sofucante, eu simplesmente deixei de aparecer durante duas semanas, isto é, tecnicamente era um desertor.

Nunca falei com ninguém no BC 10, apenas me apresentei lá ao Comandante no dia em que cheguei e nunca mais falámos. Aluguei uma cama numa vivenda no centro, de uma senhora que vivia sozinha, onde eu dormia no hall de entrada, e tomava banho, tudo o resto era cá fora. 

Tinha o tempo todo livre para poder visitar e estar com umas amigas de Chaves, a minha segunda terra, até hoje continua a ser. Havia muitas ligações, ia com o meu irmão nos camiões militares quando ele ia fazer serviços de Rádio no interior de Trás- os -Montes, as muitas vezes que fomos para festas e aniversários, com um colega do meu irmão que também esteve como ele, prisioneiro no Estado Português da India, e outro amigo também de Chaves, a ligação com as minhas amigas também de Chaves. Nunca passei tanto frio e calor como em Chaves.

Nas ruas nada se via, os meses de verão eram também de férias escolares, e os cafés e outros espaços, não tinham ninguém, exceto a classe idosa que tomava os seus copos nos cafés e tascas, as quais eu também frequentava. E só nos fins de semana havia algum movimento, mas eu estava no Porto, com a namorada. 

Eu tinha um amigo do meu pai, o capitão Gamelas, que às segundas feiras de manhã cedo me apanhava no jardim da Arca de Água, e no seu carocha preto me levava para Chaves por aquelas estradas sinuosas com o rio lá a umas dezenas de metros no fundo, a estrada sem qualquer protecção, e era sempre a abrir, eu aproveitava também para passar pelas brasas e ao fim de umas 3 horas chegávamos ao quartel depois de percorrer uns 180 /200 quilómetros de estrada empedrada e perigosissima.

E às 9 horas estávamos ao serviço.

Na sexta à tarde faziamos a viagem de regresso, sempre com calor abrasador, e com o melhor ar condicionado que havia na altura, as janelas abertas. E assim fizemos umas 4 semanas, e não pagava nada. O capitão Gamelas estava a formar uma companhia com destino à Guiné, onde acabei por me encontrar com ele nos anos 67 ou 68.

Eu pedi para ele dar uma olhada se alguém me procurava no BC10, ou se o meu instrutor já teria chegado. Mas nunca obti nenhuma informação, e ao meu pai disse apenas que estava de licença.

No dia 9 de agosto aparece um telefonema que o meu pai atendeu. Era o comandante do BC10, um coronel que não me lembro do nome. Quando chego a casa ao fim da tarde, depois de ir à praia do Castelo do Queijo, na Foz, o meu pai dá-me logo "uma guia de marcha" para Chaves, imediata. Vou logo para a estação de Campanhã e apanho o comboio da noite e estou no quartel de manhã bem cedo e apresento-me ao comandante.

Ele só não me bateu por consideração, mas deu-me uma daquelas ‘broncas à militar’ que me arrepiou, e lembro apenas do que me disse e fixei:

- Não leva uma porrada por consideração ao seu pai... E também não lhe dou qualquer castigo, porque já tem um bom castigo para cumprir, vai para a Guiné, o pior sitio que lhe podia calhar.

Era o dia 10 de agosto de 1967, a data da minha mobilização oficial, embora já tinha sido no início do mês mas não estava presente. Nesse dia e com a Guia de Marcha oficial, mandam-me apresentar de imediato em Santa Margarida para me juntar ao meu batalhão que se formou e já tinha o número de 1933.

Quando chego a Santa Margarida, e me apresento ao comandante, vejo logo os olhos que me deita. A conversa não me lembra, pois o segundo comandante recebeu-me bem, pois precisava de mim para umas saídas para Bissau, e fizemos um pacto que eu não vejo necessidade de aqui o reproduzir, pois ele há muito que já faleceu, a esposa também, mas tem os filhos ainda vivos.

O comandante desesperado pois queria fazer as compras antes do embarque, foi dizendo que precisava disto e daquilo para conforto das NT, especialmente para a Messe de Oficiais.

Eu nada sabia como fazer isso, e respondi "não" a tudo! Arranjei logo o primeiro inimigo.

Mas eu não sabia mesmo, nem tinha o orçamento dos fundos do tesouro, fui apanhado a zeros, por causa de me baldar no curso e de não fazer estágios nem na EPAM nem depois no BC 10. A culpa não era minha, mas sim deles que me mandaram para a frente do touro sem ter as armas para me defender.

Muitas décadas depois o nosso Tesoureiro, que eu encontrava muitas vezes na Póvoa de Varzim, onde ele tinha segunda casa de férias, veio a contar-me coisas que eu não sabia.

Logo o comandante em Santa Margarida terá dito ao seu confidente, o Tesoureiro, carne e osso , que não sabia como mandaram um rapazito para uma função tão melindrosa. Veio depois a saber que não era assim, quando viu os resultados do meu trabalho. Abeirou-se um dia, um ano depois de lá estarmos no CTIG, e confidenciou ao Tesoureiro: "Afinal temos aqui um militar de administração muito competente, e por isso vou preparar um Louvor para ele".

 Naturalmenteque o nosso tenente coronel Saraiva já teria tido outra comissão e sabia o quanto dificil era esta função naquelas condições longe das chefias.

Não teve tempo, pois entretanto teve a mina e emboscada que o mandou evacuado para o Hospital e nunca mais o vi, apenas 15 anos depois num almoço do batalhão em Tomar, andava ele com umas pernas postiças, e tive muita pena dele, apesar de tudo.

E para não deixar outro pormenor para trás, contou-me um dia também o condutor Boubon, impedido do 2º comandante e seu confidente, que tinha muito apreço por mim e ia dar-me um Louvor. Não chegou a dar, porque com o fim dos CA não voltei a S. Domingos e fiquei adido a outros serviços em Bissau. O nosso major presidente do CA não voltou com o seu batalhão no mesmo barco, porque teria de assinar as contas das novas companhias independentes, e por lá ficou.

Disse ao Burbon na despedida, que ele ia voltar para casa, mas o major não, e depois iria novamente para outra comissão. Disse-lhe que lamentava não se despedir de mim, e que ficou em divida comigo e com os louvores. O Burbon, um bem sucedido industrial têxtil de Guimarães, vinha passar férias em Vila do Conde e encontrámo-nos imensas vezes, e por ele vim a saber tanta coisa que me passou ao lado, porque não fazia parte do tal Casino de S. Domingos.

(4) Recebia mensalmente a quantia de 12500$ para despesas com informadores, presentes para os Homens Grandes das tabancas, e outras que nem eu sei. Não tinha de prestar contas.

Quem acompanhava este cofre, era o nosso Tesoureiro, e diz ele que o comandante de uma seriedade sem fim, pouco gastava e o saldo passava de mês para mês chegando a acumular muito dinheiro. Parte desse dinheiro era também entregue aos Comandantes das companhias, e outras subunidades independentes. Mas nada sei em concreto do uso deste fundo.

(5) Falava-se de muita coisa, pois havia sempre uma percentagem de pessoal que não aparecia nas refeições, mas no mapa constava sempre a totalidade, e as refeições eram feitas com menos quantidade, menos gastos, e compensada com outras faturas/papéis de compras locais, que bastava o dedo para a assinatura

(6) Uma companhia no Boé  (a CCAÇ1589),  por exemplo, que tinha mais de 300 ataques e flagelações por ano, todas tinham ‘materias e bens destruidos´que depois teriam de ser substituidos por outros , comprados no mercado local, com assinatura por dedo, e os dinheiros não sei que destino levaram.

Ou, os bens destruidos, alimentares, gasolinas, e afins, podiam ser substituidos por novas remessas da Manutenção Militar e,  como não eram precisos, vendia-se às populações locais cuja receita era revertida para a Unidade, para o seu Fundo Privativo, vulgarmente conhecido pelo famoso nome de ‘saco azul’ ( ninguém quer aceitar e confirmar a sua existência).

Isto não é invenção minha, não só porque se via claramente a sua ilegitimidade, como acabou por ser denunciado pelos próprios beneficiários do esquema.

Não valia a pena levantar a lebre, pois quem ficava mal era o CC e tudo se passava com a maior normalidade. No final faziam parte das contas do Estado e os Fundos do Tesouro.

(7) Isto quer dizer que, no fim da comissão, o CA nomeadamente o CC nunca poderia ter Guia de Marcha para a Metrópole, sem as contas aprovadas, o que era também extensivel ao Presidente do CA e também ao próprio Comandante.

Daí que sendo o CC o responsável final na aprovação das contas, era tratado com cuidado e respeitado por todos. Os comandantes tinham sempre muito medo de no final não poderem embarcar por falta de aprovação das contas.

Mas também, o CC era o único que trabalhava a tempo inteiro, mesmo a dormir e a pensar como resolver muitas situações que não percebia, no meu caso, porque não liguei grande coisa à minha formação, situação que me causou sempre muitos problemas.

Foi a minha experiência anterior de 12 anos que me ajudou imenso.

O Presidente que sempre nutri por ele grande respeito, desde o dia 10 de agosto de 1967, em Santa Margarida, quando me apresentei na minha nova unidade, ele, o major Américo Correia levou-me a Tomar, ao RI 15, para tomar contacto com este Regimento, e acabei por conhecer a mulher e filhos. Acho que aí percebi que tinhamos de fazer um pacto a dois. E assim foi.

Nunca se meteu em nada do serviço do CC, passava por lá bem cedo, nem sempre eu estava presente, muito menos o Tesoureiro, tratava com os nossos amanuenses, furriel Pinto e furriel Riquito, bem como os escriturários cabo Horta e cabo Seixas. Assinava todos os papeis que se encontravam nas mesas, a maioria não era nada, e ia-se embora e dormir mais um bocado.

O Tesoureiro do BCAÇ 1933, não tendo grande trabalho, passava no CA uma hora se tanto, depois ia para o quarto ‘Estudar para os exames’ que fazia nas férias do Curso de História, ou a dormir, porque à noite após o jantar juntavam-se quase todos os oficiais, comandante e 2º comandante incluidos, no chamado ‘Casino’ que funcionava na própria messe, e prolongava-se até madrugada, a jogar não sei quê porque não sei nem sabia jogar a nada.

Jogavam duro segundo o que me contava o Tesoureiro, que dizia que ganhava sempre, e ainda hoje, é incrivel que sempre que falamos conta a mesma coisa que o major Henriques, o nosso Oficial de Operações, lhe ficou a dever 400 escudos que nunca lhe pagou...

(8) Na minha apresentação acho que ele me viu com indiferença, mas não me lembro desse episódio, e eu com mais indiferença.

Penso que o meu ‘amigo’ o major Graciano, que voltou para a sua função normal nas operações, deve ter-lhe enchido os olhos.

Começo logo a ser nomeado para diversas acções que não eram da minha função, nomeadamente a comandar patrulhas à volta do aquartelamento – as rondas -, levando comigo operacionais, e sendo uma secção ia um furriel, que julgo que seriam da companhia de cima,  a CART 1744, do Capitão Serrão, e alferes Gatinho e muitos furriéis que conhecia da messe onde eu passava então as noites nos copos, já que na messe de oficiais estavam todos a jogar.

Comecei a perceber que isto das rondas ao fim do dia, não era para se fazer, pois, uns quilómetros à frente lá haviam os tais abrigos, onde a tropa se acoitava, e depois regressava ao quartel evitando-se prováveis contactos com o IN.

Aqui criei algumas amizades, que ainda hoje são lembradas como tempos inolvidáveis.

Então além disto e outras mais, era frequentemente nomeado para os serviços de oficial de dia, devendo estar presente em todas as etapas do dia, em especial as rondas aos abrigos e postos de vigia, onde se passaram algumas cenas hilariantes.

(9) E nestas nomeações aparece um dia em que vou a comandar uma pequena força, e de Sintex (**) fomos para a companhia de Susana, a CCAÇ 1684, nessa data, para carregar alguns mantimentos pois havia falta de muita coisa , devido não só às chuvas e ciclones que levaram pelo ar os telhados de zinco dos armazéns e ficou tudo estragado, mas também a uma flagelação do IN à noite e que acabou por destruir outros armazéns.

Nesta saída a Susana em inícios de 1969, era a segunda, acabamos por ir mais uma vez a Varela ver aquelas praias excelentes e de Burrito, fardados e armados,  lá fomos pela areia fora até ao Cabo Roxo – fim de linha do nosso território – e fronteira com o Senegal.

Deparamo-nos com um espetáculo impensável, as caravanas vindas de Zinguinchor e Dakar com o pessoal branco, franceses e em especial belas francesas em bikini, que iam apanhar o Ferry para as praias ao largo. As mulheres ficaram um misto de atarantadas como surpresas, verem tanto homem jovem fardado e armado, nem sei se sabiam que existia uma guerra ali aolado. Ficámos a xuxar no dedo e a acariciar as nossas G3.

Isto pode parecer um filme, mas é verdade, e só não sei ainda hoje, porque não tirei umas fotos, pois tenho muitas fotos, antes na praia e depois no regresso. Talvez tive algum tipo de receio. Se as tivesse faziam furor hoje e antes.

Quando após 2 ou 3 dias regressámos no mesmo Sintex, conduzidos pelo piloto que era de Engenharia, e conhecia tudo aquilo como a palma das mãos, apoiado com um soldado da Companhia de Caçadores Nativos, sei bem quem era, mas não me lembro do nome, que empunhava uma arma M6 ou Drise, com fita de carregadores a tiracolo, e uma caixa de madeira cheia de munições, mais dois soldados com G3 e cartucheiras, e eu também armado de G3 e cartucheiras, a comandar aquilo tudo, não sabendo o que fazer em caso de ataque terrorista, ou outra qualquer eventualidade. Hoje penso que, com a nossa mania do desenrascanço, alguma coisa deveria fazer. Mas nada aconteceu.

Comunicações nada, gasóleo pouco, dois motores fora de borda de 50 CV e a "banheira" cheia de sacos de batatas, da MM, bananas e outra coisas que não me lembro, pois, um dos homens devia ser da alimentação, a mando do vagomestre.

Voltámos ao rio, é comunicada a hora da nossa saída, dentro de duas horas deveríamos chegar, mas só chegámos passados dois dias. São muitos rios, pequenos e engolfados que se misturam em enormes tentáculos de polvo, e não andámos muito até que o piloto já não sabia bem por onde ia, parece tudo igual, mas afinal muito desigual. 

Ficámos então perdidos após horas de tentar encontrar a saída, e assim se esgotava o combustível. Não havia modo de comunicação, os comeres e beberes iam faltar. E, dada a minha forma de ser não me atrapalhei, e dei confiança ao resto do pessoal. Não sei o que falámos, talvez nada.

Esperávamos que fosse dado o alerta pela hora, e eu pelo menos deitei-me por cima dos sacos de batatas, e fui dormitando, e ainda bebi uma cervejola, quente, mas útil face às condições.

Acabámos por ir parar a um sítio, esse mesmo no cu de judas, pois ainda hoje não sei a que aldeia aportámos. Ao longe fomos avistando um sitio inacreditável, e fui tirando fotos. Quando já estamos a chegar vemos um "pelotão" de Felupes, quase nus e armados até aos dentes,  com arco e flexa do tempo dos índios americanos.

O cais de desembarque não havia, era tipo "Normandia em África", e qundo a pata sai do barco e enterra-se num lamaçal lodoso, ficámos com as botas cheias de tarrafo ou porcaria.

A população amiga recebe-nos com sorrisos mas nada percebemos, estes eram mesmo naturais da "Felupelândia". Umas fotografias para o Álbum, e lá estou eu no meio de crianças dos seus 5 anos até homens com 2 metros de altura, eu ficava abaixo do ombro deles.

E fomos esperando (sentados !) dentro do barco, mas não desesperando. Passados dois dias, vemos um Heli lá em cima, depois aparece uma avioneta e somos encaminhados pelos rios com o pouco combustível que restava, com certeza foi alguém a nadar e a puxar o barco, e assim chegámos ao Rio São Domingos, que faz parte do Grande Rio Cacheu já nosso conhecido. Acho que eles perceberam isso, e foram embora, também não havia sítio para aterrar aeronaves.

Nunca se falou no assunto, não veio na ordem de serviço nem na História da Unidade. Muito pouca gente veio a saber desta aventura.

Muitos anos depois venho a ter conhecimento, por um ex-1º cabo telegrafista, que num almoço de batalhão me veio contar como ele me safou a mim e aos outros "perdidos",  não deixando de contactar sempre a Força Aérea que assim nos encontrou. 

E fica a pergunta: e se não nos encontravam, o que seria feito dos 5 aventureiros perdidos no cu de Judas?

Boa pergunta sem resposta!

©  Virgílio Teixeira (2025)


(Revisão / fixação de texto: LG)

______________

Notas do editor:

(*) Tema T008 – A minha fuga de Sáo Domingos ao estilo do Papillon (que não chegou publicado ns série  "Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)".

6 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18180: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (2)

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26192: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (28): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II: São Domingos

 

Foto n º 1 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  Finais de 1968 ou princípios de 1969 > Sede da circunscrição e  centro da povoação (I)



Foto n º 1A > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  Finais de 1968 ou princípios de 1969 > Sede da circunscrição  (à direita) e  centro da povoação (II) 



Foto n º 2 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  c. 1968/69  > Outra vista do  centro da povoação


Foto n º 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  c. 1968/199 >  "Do centro ao rio... Foto titada do edifício da Administração   com a haste e a bandeira nacional, virada para a Avenida Principal, e única, com o fundo sempre do rio omnipresente".



Foto nº 4 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > c. 1968/69 > "Moranças e rua...  Rua paralela à Avenida e virada para o rio, em terra batida, com casas e palhotas, umas de zinco e outras de colmo de palmeira"




Foto nº 4A > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >  c. 1968/69> "Moranças e rua" (detalhe)



Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >1º semestre de 1969 > "Chegada ao aquartelamento de um Gr Comb  da CART 1744, após uma operação de rotina ou de reconhecimento".


Fot0 nº 6 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > c. 1968/69 > Pòr do sol


Fot0 nº 7 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 3º trimestre de 1968 > O cais



Fot0 nº 8 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 1968 > "Embarque em LDM para Ingoré"



Foto nº 9 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > "Pista de aviação"... e partida do autor para Bissau, em avioneta da TAGP

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


1. Estamos a publicar alguumas das melhores  fotos (do ponto de vista técnico, estético e documental), do álbum do nosso grão-tabanqueiro Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)...

Esteve cerca de 3 anos e meio "off line", por razões sobretudo de saúde  Volta agora, e manda-nos também novas fotos dos sítios por onde andou com os seus camaradas da CCS/BCAÇ 1933, nomeadamente as regiões do Gabu (Nova Lamego) e do Cacheu  (S. Domingos, Cacheu, Varela, Susana, Ingoré),  para além de Bissau.

Na série "Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69)", já publicámos 74 postes (já mais ou menos temáticos), desde 17/12/2017 até 27/1/2021. Não há ninguém que lhe bata o recorde... 

Hoje selecionámos mais umas tantas,  de São Domingos, sede de circunscrição e de batalhão. A numeração é nossa, e não do fotrógrafo.  Procuramos respeitar, tanto quanto possível, a sua legendagem. As suas legendas vèm com aspas. Às vezes, acrescentamos algo mais da nossa lavra. Todas as fotos são reeditadas por nós.

2. Em 13 de julho de 1968, o dispositivo no Sector 01 (S. Domingos) era o seguinte (c. de 1 mil homens em armas):

BCAÇ 1933 > 

  • Comando do setor O1 e CCS /BCAÇ 1933> S. Domingos
  • CCAÇ 3 (-) > Barro (2 Pelotões estavam no sector do BCAÇ  1932)
  • CCAÇ 1684 (-) > Susana ( e 1 Pelotão em Varela)
  • CCAÇ 1891 (-) >  Ingoré  (e 1 Pelotão em Sedengal)
  • CART 1774 > S. Domingos
  • CART 2381 > Ingoré
  • Pel Rec Daimler 2043 > Ingoré
  • CML 24 > Pel Mil  173 e 173 (S- Domingos),174 (Sedengal), 175 e 176 (Ingoré)
O Virgílio Teixeira esteve em S. Domingos até 22/2/1969, dia em que apanhou a avioneta da TAGP e voou para Bissau, embarcando no avião da TAP no regresso a casa.


(Seleção, revisão / fixação de texto, reedição das fotos:  LG)

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Nota do editor:

21 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26176: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (27): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I: Beldades felupes de São Domingos

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23706: Facebok...ando (69): Fernando Nogueira de Carvalho, ex-fur mil, CCAÇ 1684 / BCAÇ 1912 (Susana, Varela e Mansoa, 1967/69), natural de Cabeceiras de Basto, a viver em Matosinhos: fica convidado para se sentar à sombra do nosso poilão, onde já temos o seu camarada Manuel Domingos Santos


O Fernando Nogueira de Carvalho. Página do Facebook. Foto de perfil (2020).  Foi fur mil, CCAÇ 1684 / BCAÇ 1912 (Susana, Varela e Mansoa, 1967/69).


Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 1684 (Susana, Varela e Mansoa, 1967/69) > s/l > s/ d > Convívio dos furriéis milicianos. O Fernando Nogueira de Carvalho está assinalado com cercadura a amarelo. À sua direita, o Manuel Domingos Santos, nosso grã-tabanqueiro.


Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 1684 (Susana, Varela e Mansoa, 1967/69) > s/l> s/d> Convívio dos furriéis milicianos. O Fernando Nogueira de Carvalho está assinalado com cercadura a amarelo. O Carlos Resende  identificou todos os elementos: "Em cima: Barreto, Sousa, Resende, Sá, 
[?] , Brito; ao meio: Santos, Gil, Carvalho, Félix, Leonel, Domingos, Arenga; em baixo: Nogueira e Ferreira".
 
Fotos (e legendas): © Fernando Nogueira de Carvalho  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Memorial aos mortos da CCAÇ 1684... Força comandada pelo alf mil SAM Virgílio Teixeira, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), aguardando instruções do seu comando, em São Domingos (*)...

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Através do Formulário de Contacto do Blogger recebemos a seguinte mensagem:

Data - quinta, 6/10/2022, 17:00 

Percurso na Guiné: Ingoré, Barro, S. Domingos, Suzana, Mansabá. Ferido 2 vezes em combate.  Sou DFA.  Pior experiência: mata do Cassum,  12 mortos. Aqui recusei a cruz de guerra que me valeu um dia detido no quarto.

Furriel mas mais de metade da comissão, depois de 2 alferes mortos, fiquei a comandar o pelotão. Na desmobilização como tantos outros senti-me descartável.

Paradoxo ou não, tenho vontade de regressar à Guiné.

Saúde e abraço para todos,
Cumprimentos,
Fernando Nogueira de Carvalho (...)

 
2. O que sabemos deste camarada, pela consulta à sua página do Facebook (**): 

Vive em Matosinhos, é de Cabeceiras de Basto. Reformado, é sócio da Árvore onde aprendeu técnicas de pintura. Pinta nas horas vagas.

Pertenceu à CCAÇ 1684 (Susana, Varela e Mansoa, 1967/69). Cmdt: Cap Inf António Feliciano Mota da Câmara Soares Tavares.

A CCac 1684 ficou inicialmente colocada em Bissau como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe. 

Nesta situação, foi atribuída, a partir de 23mai67, em reforço do BCac 1894, deslocando-se para Ingoré e, a partir de 23jun67, instalando-se em S. Domingos, com vista à realização de operações nas regiões de Bunhaque, Santana e Campada, tendo entretanto destacado, em 28jun67, um pelotão para Susana.

Após rendição, por fracções, da CCav 1483, iniciada em 4jul67, assumiu, em 13jul67, a responsabilidade do subsector de S. Domingos, então, temporariamente, com sede em Susana, com pelotões destacados em Varela e S. Domingos, ficando integrada no dispositivo e manobra do mesmo BCac 1894.

Em 23ag067, após subdivisão do subsector de S. Domingos e criação do subsector de Susana, foi substituída em S. Domingos pela CArt 1744 e assumiu a responsabilidade do novo subsector de Susana, mantendo um pelotão destacado em Varela.

Em 31Mar69, foi rendida pela CCac 1791 e foi colocada em Mansoa, em 2abr69, a fim de substituir a CCac 2315 no dispositivo e manobra do seu batalhão, realizando acções ofensivas nas regiões de Polibaque, Ponta Bará, Cutia e Namedão e escoltas a colunas de reabastecimento.

Em 14Mai69, foi substituída pela CCCac 2589 e recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

A CCAÇ 1684 (tal como a CCAÇ 1685 e CCAÇ 1686) pertenceu ao BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)

 O Fernando Nogueira de Carvalho é amigo da Tabanca Grande Luís Graça, mas não se senta ainda, formalmente, à sombra do sagrado poilão  da Tabanca Grande. Temos para ele o lugar nº 866, se aeitar, na volta do correio, o nosso convite. Gostaríamos de ter uma foto dele, visto de frente, do tempo da tropa e/ou da guerra.  

Mais: gostávamos de ter pormenores da sua participação na operação, na mata de Cassum, de triste memória,  onde as NT terão tido 12 mortos, e onde o Fernando se terá distinguido, por corajosa ação em combate. 

Não encontrámos referência, nos livros da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África),  a essa operação. E não pode ser a Op Falcão II, realizada em 13 de fevereiro de 1966 pela CCAV 1485,  que teve 5 mortos:  nessa data a CCAÇ 1684 ainda não estava na Guiné (onde desembarcaria, só 14 meses depois, em 14abr1967).

Será que o Fernando seria de rendição individual ? E teria pertencido originalmente á CCAV 1485 ? Os dois alferes a que ele se refere,  terão sido o Manuel Francisco Afonso Sampaio, da CCAV 1485 (morto em combate em 10/1/1966) e o Delfim dos Anjos Borges, da CCAÇ 1684 (morto em combate em 17/7/1967) ?

O único camarada da CCAÇ 1684, representado no nosso blogue, é o Manuel Domingos Santos (***). Está a decorrer, entretanto,  a campanha dos 900: queremos chegar a esta meta (900 membros registados na Tabanca Grande) até ao final do próximo ano de 2023. (****)
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(****) Vd. poste de 8 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23684: Mi querido blog, por qué no te callas? (7): Campanha dos 900 membros da Tabanca Grande até ao fim de 2023... Toca a "tocar o burro"... Porque, como diz o provérbio guineense, Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (O burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado, não anda)...

sábado, 6 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18180: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (2)


Foto nº 805A > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Memorial aos mortos da CCAÇ 1684...  Força comandada pelo alf mil SAM Virgílio Teixeira, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), aguardando instruções do seu comando, em São Domingos...




Foto nº 805 > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  O alf mil SAM, CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), junto ao memorial aos mortos da CCAÇ 1684, tendo ao fundo o edifício do comando da subunidade ali estacionidade.



Foto nº 814 > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... No meio do grupo, o alf mil SAM, CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


Foto nº 814 A> Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... No meio do grupo (, lado esquerdo(, o alf mil SAM, CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


Foto nº 814 B > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe (lado direito)... 



Foto nº 811 > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... Havia um indígena morto (1)


Foto nº 811 A > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... Havia um indígena morto  (2)

o
Foto nº 811 A > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... Havia um indígena morto  (3)




Foto nº 812 > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... Havia um indígena morto  (4)


Foto nº 812A > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe... Havia um indígena morto  (5)-



Foto nº 813 > Guiné > Região de Cacheu > Susana > Maio de 1968 > Perdidos no rio...  Algures numa aldeia felupe...

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):


As fotos, de 801 a 817 fazem parte da minha colecção especial e do capítulo ‘perdidos no rio’ [, de iremos publicar  três postes].

Foi uma missão que o nosso novo comandante, após a evacuação do meu comandante inicial, tenente coronel Saraiva, ter sido evacuado por ferimentos em combate, não encarou bem comigo, nem eu com ele, e então deu-me como missão ir comandar um sintex até Susana para carregar alguns mantimentos, pois o nosso aquartelamento [, em São Domingos,] estava sem nada, após uma tempestade tropical ter destruído quase tudo o que era perecível.

Até uma vaca viva veio no pequeno barco. Só que no regresso, e após uma visita a Varela, uma praia lindíssima mas abandonada, quando regressamos passados uns dias, o piloto perdeu-se naquele emaranhado de dezenas de rios e braços de rio, e sem rádio – nem telemóvel, naquele tempo... – fomos parar a uma aldeia indígena felupe, muito atrasada, nem sei o nome, e por lá ficamos.

Até ser dada a nossa falta por lá ficamos a esperar até de manhã. Veio um heli e localizou-nos e fomos encaminhados para um local onde o piloto já conhecia melhor, e assim chegamos a São Domingos, a salvo, de sermos comidos vivos, pelos felupes ou pelos jacarés…

Este episódio não consta na História da Unidade, pois soube mais tarde que o comandante, coronel Renato Xavier, ficou aflito, por ter dado esta responsabilidade a um oficial não operacional, e assim, apesar de todos tomarem conhecimento, nunca foi divulgado nem escrito, foi um sonho ou pesadelo. Mas não me lembro de ter ficado amedrontado.

Ficaram as várias fotos que tenho desta aventura no Norte da Guiné, e na fronteira com o Senegal até Cabo Roxo, que visitamos também. Não foi tudo mau, mas poderia ser!

Deu tempo para conhecer também o estuário e foz do rio Cacheu, muito maior do que o Tejo. Uma coisa deslumbrante, pois estamos quase em cima do Atlântico e o clima é muito melhor.

(Continua)

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