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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25111: Memórias cruzadas: pistolas Walther P38 alegamente capturadas ao nosso exército, e distribuídas ao pessoal do PAIGC, ainda antes do início oficial da guerra... (José Macedo, ex-2º ten fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74, a viver agora nos EUA)



A pistola Walther, P38, de 9 mm, de origem alemã, foi adoptada pelas nossas Forças Armadas, em 1961, como pistola 9 mm Walther m/961, vindo substituir a Parabellum.
Foi desde logo utilizada na guerra colonial em África (nova versão P1).  




Declaração: 
"Nós, abaixo assinados, declaramos que da mão do nosso camarada Pascoal recebemos duas pistolas marca Walther, números 770809 e 241113, com quatro carregadores 100 balas (sic) 
com cinquenta cada um.

Koundara, 3 de novembro de 1961
aa) Braima Solô (?) | Adbul Djaló


Declaração: 
"Nós, abaixo assinados, declaramos que da mão do nosso camarada Pascoal recebemos duas pistolas marca Walther, números 220868K e 214492K, com quatro carregadores 100 balas (sic) 
com cinquenta cada um.

Koundiara, 3 de novembro de 1961
aa) Pedro Gomes Ramos | Hilário Gapar Rodrigues



Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares | Pasta: 07068.099.028 | Título: Declaração de recepção de pistolas | Assunto: Declaração assinada por Pedro Ramos, Hilário Gaspar Rodrigues, Braima Sôlô e Abdul Djalo, acusando a recepção de pistolas Walther. | Data: Sexta, 3 de Novembro de 1961 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral |Tipo Documental: Documentos | Página(s): 1

Citação:
(1961), "Declaração de recepção de pistolas", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41059 (2024-1-25)



Pistolas Walther, e respetivos números, alegadamente capturadas ao exército português pelo PAIGC. S/d, s/l.

Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares |  Pasta: 07056.009.011 | Título: Pistolas Walther nas Zonas 4, 7 e 8 | Assunto: Números de série de pistolas Walther [capturadas ao exército português] nas Zonas 4, 7 e 8. | Data: s.d.Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Material militar (com manuscritos de Amílcar Cabral).Fundo: DAC - Documentos Amílcar CabralTipo Documental: Documentos-

Citação:
(s.d.), "Pistolas Walther nas Zonas 4, 7 e 8", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40992 (2024-1-25)




Pistolas Walther, para a Zona 11: "P38 9mm | 346 k ac 44 | 3375 d c/ 160 b(alas) | Data: 6/10/1962.


Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares ! Pasta: 07056.009.021 | Título: Pistolas Walther para a Zona 11 | Assunto: Pistolas Walther para a Zona 11.| Data: Sábado, 6 de Outubro de 1962 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabrall | Tipo Documental: DocumentosPágina(s): 2


Citação:
(1962), "Pistolas Walther para a Zona 11", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41002 (2024-1-25)


(Com a devida cénia...)


  
1. Mensagem do nosso amigo e  camarada José Macedo  (ex-2º tenente fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008):

Data - quinta, 23/03/2023, 21:31
Assunto - Pistolas Walther


Boas noites, camarada. Espero que lá em casa estejam todos de saúde (parece as cartas do 'Nino' ao Aristides Pereira).

Tenho passado algum tempo a ler,  na Casa Comum, o Arquivo Amilcar Cabral,  e tenho encontrado alguma correspondência em que eram enviadas pistolas Walther para as diferentes Frentes. E como cada pistolas tinha o seu número de série, fico curioso em saber se seria possível identificar as  unidades a que  pertenciam as pistolas que foram capturadas.

Um abraço,

Zeca Macedo

2. Comentário de LG:

Vai ser muito difícil, se não impossível,  a alguém (incluindo o nosso especialista em armamento, o Luís Dias) (*) dar-te uma ajuda no esclarecimento desta questão... 

Tendo em conta o ano (1961 e 1962), mas também a quantidade (nos documentos acima repriduzidos são duas dezenas), é de todo imprável que estas pistolas Walher tenham sido capturadas pelo PAIGC ao exército português... 

De facto, não consta que tenha sido assaltado por forças do PAIGC (ainda PAI)  algum depósito de armamento em Bissau ou  esquadra de polícia e, muito menos, algum aquartelamento no mato (ainda havia poucos), no início dos anos 60...

E mesmo que fossem pistolas do exército português, só eventualmente no Arquivo Histórico-Militar, e com muita sorte, se poderia encontrar uma lista dessas armas "capturadas pelo IN", com os respetivos números de série... Enfim, seria como encontrar uma agulha num palheiro...  

O mais provável é estas pistolas Walther P38 (a nossa era já a P1) terem entrado clandestinamente na Guiné-Conacri, oriundas de Marrocos ou terem sido  compradas no "mercado negro" (lembro-me de Luís Cabral ter falado nisso, nas suas memórias)... Terão equipado os primeiros comandantes e comissários politicos como nosso conhecido Pedro Ramos, irmão do Domingos Ramos, que andavam a fazer trabalho essencialmente político (propaganda, recrutanento e organização) no interior do território) e ações de sabotagem ... 

O PAIGC oficialmente começou a guerra (dos tiros)  em 23 de janeiro de 1963, com um ataque a Tite.  No meu tempo (1969/71), eles já usavam a pistola russa Tokarev (a CCAÇ 12 apanhou uma a um guerrilheiro: vd foto a seguir)...

De qualquer modo, obrigado pela tua questão. Pode ser que algum camarada tenha mais alguma informação adicional. (**)



Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate, que a tomou como "ronco"... Não sei se a conseguiu trazer para o Continente e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG).

Fonte: © Kentaur, República Checa (2006)(com a devida vénia...)
 (link descontinuado:
 http://www.kentaurzbrane.cz/shop/images/sklady/tokarev.jpg )

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

(...) A pistola Walther P-38 é uma arma semi-automática, com origem na Alemanha (fábrica Carl Walther), datada originalmente de 1938 e foi a substituta da Luger, como a principal pistola alemã da IIª Guerra Mundial, com provas dadas em diversos teatros de guerra. Em meados dos anos 50, foi seleccionada para equipar o novo Exército da RFA e, com ligeiras alterações, passou a denominar-se P1 e é este modelo que veio para Portugal, passando a ser a pistola das guerras de África. (...)

(**) Último poste da série >  16 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24839: Notas de leitura (1632): "No Limiar da Guerra", por José Manuel Barroca da Cunha; RARO, Tomar, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
Já sabemos que aquele ano de 1961 foi caracterizado por muita ação subversiva, por um lado Rafael Barbosa ia encaminhando centenas de jovens para Conacri e daí para a formação militar, eram distribuídos panfletos, agiam vários grupos políticos, rivais ferozes do PAIGC. Um deles, constituído por Manjacos residentes no Senegal, orientados por François Mendy, provocará alguma turbulência em São Domingos, Suzana e Varela, e mais tarde juntos dos madeireiros da região Norte, foi tempestade de pouca dura. Mas é verdade temos inventariados documentos que abonam as hostilidades a partir do 2º semestre de 1962, na região Sul, que entra numa verdadeira efervescência, não havia de facto um romance como este, descrito por alguém que desembarcou do navio Alfredo da Silva no cais do Pidjiquiti em 19 de fevereiro de 1961. O autor assegura que esta história é muito real, é um ribatejano que se radicou na região tomarense, figura muito estimada pela sua dedicação às atividades desportivas, a um verdadeiro benevolato. Bom seria que Barroca da Cunha, que parece estar cheio de genica, entrasse na nossa tabanca grande e nos contasse tudo quanto viveu entre 1961 e 1963.

Um abraço do
Mário



Um tomarense de coração que chegou à Guiné no limiar da guerra

Mário Beja Santos

Barroca da Cunha é natural da Praia do Ribatejo mas vive há décadas em Santa Cita. Segundo o autor, o livro baseia-se em factos reais, chegou a bordo do navio Alfredo da Silva a Bissau em 19 de fevereiro de 1961, ano já de grande efervescência subversiva, o núcleo do PAIGC coordenado por Rafael Barbosa já está a recrutar muitos jovens que vão para Conacri ou já partiram para a formação revolucionária armada, nesse mesmo ano grupos de etnia Manjaca procurarão atacar a povoação de São Domingos, com pouco sucesso, e vandalizarão em Suzana e Varela, manter-se-ão ativos a aterrorizar na fronteira norte, nada tinham a ver com o PAIGC. Barroca da Cunha encontra no cais do Porto de Bissau um amigo de longa data, ele é natural da Guiné, é o grande homenageado neste livro.

Tudo começa no Colégio Nun’Álvares de Tomar, fazem amizade Simão Galhardo, alentejano do Crato, ligado a uma família de grandes proprietários, com António Jorge Barbosa Gonçalves, o Tojó, natural da Guiné. Temos aqui a narrativa de dois jovens nascidos à volta de 1940 a viver em internamento, iremos saber as razões por que a família de Simão lhe impôs tal castigo, houve para ali uma série de aventuras amorosas com a empregada Rosinda que vivia com o Joaquim Pinoia enquanto este fazia a tropa num quartel do norte, o Simão tem tal castigo que nem aos fins-de-semana pode ir a casa, ora a sua amizade com o Tojó agradou à família, este agora é visita regular ao Crato, temos a descrição dos bailes e festas como era prática do tempo, aqueles dois amigos quase inseparáveis andam sempre na folia. O pai de Tojó é um colono um tanto diferentes dos outros, trata os seus trabalhadores indígenas com muita dignidade, os outros colonos não gostam de tais liberalidades.

Estes jovens de 20 anos vão parar à Guiné, Simão não quer cunhas dos pais junto dos governantes, Tojó tem saudades dos pais e da irmã, vamos ver o seu enquadramento na vida militar de Bissau, há muito marasmo, desconhecimento da dura guerra que se avizinha, o armamento é mais do que antiquado, ambos fazem amizades, Simão vive na mesma casa com Trigo Vargas, um franzino que enjoou durante toda a viagem, dá gosto ler estes frescos de alguém que reteve conversas possíveis entre jovens, sempre prontos para o bailarico, é nisto que entram em cena dois agentes da PIDE que têm como missão aperceber-se se junto daquela tropa branca há comunistas a trabalhar junto do descontentamento ou a aliciar outros jovens. Aparece também uma médica de família goesa, a delegada de saúde, uma trintona amadurecida, que se atira a Simão Galhardo, a relação não faiscou. A trama do romance traz para o tempo presente gente do passado, Rosinda casou com um dos PIDES, o agente Saraiva, Rosinda tenta reatar a relação com Simão, este nega-se a infidelidades, Rosinda promete vingança, Joaquim Pinoia tem o seu negócio, sente-se feliz com a mulher e filhos. O chefe dos PIDES alerta os seus agentes para a importância dos cabo-verdianos, é gente com maiores conhecimentos académicos, estão nos lugares do topo, cuidado com eles, é preciso muita vigilância.

Simão dá-se bem com o major Frutuoso, o seu chefe, natural de Alpalhão, é o seu ajudante, têm que preparar informações sobre o que se está a passar na Guiné. Os amigos encontram-se com muita regularidade, há inclusivamente um comissário daquele navio que trouxe Simão que quando vem até Bissau é uma gostosa companhia, as reuniões entre PIDES prosseguem, há festas para aqui e para ali, os agentes confessam ao chefe local da polícia política que aqueles militares é tudo gente inocente, falam unicamente de garotas, bailes e de fugazes encontros, o chefe exige persistência, há perigos que se avizinham. E abruptamente tudo se altera, lá no grupo há quem fale que houve baladas, está presente um agente da PIDE, Trigo Vargas será detido e bem maltratado, surpreendentemente irá fugir para o Senegal e acompanhado. No norte da Província alguém foi degolado, há deserções, desapareceram armas. Simão veio de férias, o seu amigo Tojó informa-o do que se está a passar com Trigo Vargas, Simão será interrogado pela PIDE, é uma dimensão interessantíssima deste livro os interrogatórios a que ele vai ser sujeito, fala-se em livros e revistas proibidos, música do Zeca Afonso, Simão completamente siderado com os aspetos disparatados das perguntas, iremos a saber que Rosinda também mete o seu veneno e iremos ser surpreendidos quando aparecer o nome do chefe.

A agitação no Norte, aquelas deserções e o cabo degolado levam a que se mande um pelotão para a fronteira com o Senegal, o major, Simão e Tojó viajam para ter conhecimento do que ali se passa, vão no jipe, haverá para ali uma perseguição, um militar impreparado pega numa pistola-metralhadora FBP e acidentalmente atinge Tojó, Simão esforça-se por o manter vivo e vêm à procura de ajuda no hospital de Bissau, nesse tempo o hospital militar ainda está em construção. Se a viagem para cima não fora fácil, o regresso foi pior, só havia alcatroado até Mansoa, a picada sofria as consequências da época das chuvas, foi o cabo dos trabalhos, Tojó morrerá no hospital, Simão revela-se inconsolável.

Caminhamos para o termo do romance, temos as exéquias de Tojó na Sé Catedral, um mar de gente acompanha-o até ao cemitério, negros simples prestam-lhe a sua homenagem, nas melhores vestimentas de cores aguerridas, compareceu o Governador, o Chefe de Estado-Maior, o Presidente da Câmara de Bissau, o Gerente do BNU. No regresso o major Frutuoso conversa com Simão: “De uma vez por todas, é necessário que se alerte de forma firme quem toma decisões. O aviso está feito, já houve mortes, os indicadores de todas as guerras. Esta última ainda não se apresentou muito a sério, mas não tarda a guerra, ela chegará. É preciso organização, preparação. Que todos se consensualizem que é preciso ação, é preciso atuar.” E deixa no ar que a única maneira de honrar Tojó seria a de evitar que muitas mais se deem. Que a morte do Tojó não tenha sido em vão. É este o surpreendente teor do romance de Barroca da Cunha, um tomarense de coração que assistiu ao limiar da guerra da Guiné.
Barroca da Cunha a assinar o seu livro No Limiar da Guerra, em 31 de março passado, na Secção Regional de Tomar do Sindicato dos Bancários
A Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita atribuiu o nome de Barroca da Cunha ao Pavilhão Polivalente
Lançamento do livro No Limiar da Guerra, na Informação da Associação dos Pupilos do Exército
O arquiteto Schiappa Campos a mostrar a Felupes o catálogo de fotografias A Família do Homem. O registo data do seu trabalho na Guiné entre 1956 e 1960. Imagem doada pelo autor ao Instituto de Investigação Científica Tropical em 2014 e apresentada na exposição “Moranças - habitações tradicionais da Guiné Bissau”, que decorreu no Museu Nacional de História Natural e da Ciência
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24826: Notas de leitura (1631): Uma nova leitura da incontornável entrevista de Carlos de Matos Gomes sobre a descolonização da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 8 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24128: S(C)em Comentários (6): Penso que Salazar sabia que não era com homens e armas que ganhávamos aquela guerra (António Rosinha)


Angola > 1961 > Desfile de tropas > O Rosinha, furriel miliciano aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X. Repare-se no tipo de armamento, obsoleto, das NT: pistola-metralhadora FBP, para os graduados; espingarda Mauser, para as praças, capacete de aço para todos; farda: caqui amarelo e polainas, como na Flandres...

Foto (e legenda): © António Rosinha (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do António Rosinha ao poste P24119 (*):

Antº Rosinha foi fur mil em Angola, 
1961/62; e depois topógrafo da TECNIL, 
na Guiné-Bissau,  em 1979/93...
Aqui, em Pombal, em 2007,
 no II Encontro Nacional da
Tabanca Grande. 
Foto: LG (2007)
Se começou tudo numa desordem total (1961), e sabemos que o fim foi um-deus-dará, como é que não devia ser um eterno improviso durante toda a guerra?

Nunca ninguém viu uma secção abandonada, sem Companhia, quer militarmente quer administrativamente?

Num posto isolado durante alguns meses, 
onde havia apenas dois pequenos comerciantes daqueles do mato, nem chefe de posto havia?!... Era e será hoje, esse lugar um autêntico cu de judas.

Após alguns meses abandonados, ou 
esquecidos, será este o melhor termo, esses oito ou nove rapazes, uns brancos outros mulatos, outros assim assim, em finais de 1961 em Angola no Quanza Norte, já não tinham farda nem botas ou sapatos militares em condições, remediavam-se com alguma roupa civil, sem qualquer transporte nem rádio, incomunicáveis portanto.

Tinham mausers, uma metralhadora e um morteiro e respectivas munições, estas com relativa fartura.

A alimentação, o furriel e um dos cabos (havia mais que um cabo) assinavam uns vales aos dois comerciantes que ali havia, e lá se resolveria um dia, esses vales era uma tradição angolana antes da guerra, não era muito estranho.

O ambiente psicológico é que já era explosivo, ao ponto de o furriel apanhar uma boleia de um camionista e foi bater à porta da companhia que os abandonou, mais de 40 Km,  e requerer um médico.

Conheço esta história porque fui eu substituir esse furriel que, de facto, esse rapaz estava mesmo a "bater válvulas" como se dizia a quem precisava de psiquiatra.

Tive sorte de não ter de pegar em armas, ao contrário do que aqueles rapazes tinham sofrido nos meses anteriores, antes de serem esquecidos naquele lugar, e passados uns 3 meses por meios que seria um excesso relatar aqui, fomos passar o Natal a Luanda com tudo resolvido e mais ou menos prontos para esquecer.

Um daqueles cabos ainda antes do Covid reuníamos em almoço anual do Regimento de Luanda e nos lembramos do barril de 100 litros que deixámos em duas asnas, já meio vazio no hall de entrada da casa abandonada de comerciante, que nos servia de quartel.

Tive sorte nesta guerra, sem tiros, só na caça e só por obrigação, que detesto caçar.

Por mim ainda havia dinossauros e não se tinha colonizado ninguém, nem os romanos nos tinham colonizado.

Penso que Salazar sabia que não era com homens e armas que ganhávamos aquela guerra.(**)

5 de março de 2023 às 23:57 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23638: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte I: Não fomos todos criminosos de guerra: Deus e a História nos julgarão


Lisboa > 2009 > O Amadu Djaló no Cais do Sodré


Guiné > Bolama > 1962 > O Amadu Djaló na escola de recutas


Fotos (e legendas): © Virgínio Briote  (2015). Todos os direitos reservados.
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Leiria  > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > Em primeiro plano,  os antigos 'comandos' Virgínio Briote e  Amadu Djaló, um e outro muito acarinhados por todos. Não sei o que é o que Virgínio, um homem sábio, europeu,  estava a pensar, mas possivelmente estava a organizar a sua resposta à questão, pertinente,  levantada pelo Amadau, outro homem sábio, africano: "Os portugueses, a alguns povos, deram-lhes novos nomes e apelidos, livros para estudar e consideraram-nos civilizados. Desta civilização não precisávamos, mas faltava-nos a cultura, porque a cultura, de onde sai não acaba e de onde entra não enche. E no nosso Alcorão está tudo, moral, comportamento cívico e civilização e nós não precisávamos de ser civilizados, o que nos faltava era escola para aumentar os nossos conhecimentos"...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados.
.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Temos reproduzido, aqui no blogue,  alguns excertos do livro de Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa Associação de Comandos, 2010, 229 pp.).  O livro está esquecido, a edição está há muito esgotada, mas o Amadu Djaló continua nos nossos corações.

É um documento autobiográfico, único, sem paralelo,  indispensável para quem quiser conhecer a guerra e a Guiné dos anos de 1961/74, sob o olhar de um grande combatente luso-guineense, que teve de fugir da Guiné depois da independência e que em Portugal se sentiu tratado como um português de 2ª classe. 

Membro da Tabanca Grande, tem mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue (onde foi sempre muito estimado e acarinhado). 

 Em homenagem à  memória do nosso  camarada Amadu Djaló (nascido em Bafatá, em 1940 e falecido em Lisboa, no Hospital Militar, em 2015, com 74 anos), e com a devida vénia aos seus herdeiros, à Associação de Comandos (que oportunamente, ainda em vida do autor, editou o seu  livro de memórias, entretanto há muito esgotado), e com um especial agradecimento ao Virgínio Briote que, na qualidade de "copydesk" (editor literário) e grande amigo do autor e coeditor jubilado do nosso blogue,  nos facultou o "manuscrito" (em formato pdf), vamos reproduzir aqui a notável introdução em que este antigo sargento 'comando' graduado, do Batalhão dos Comandos da Guiné (e depois alferes graduado da CCAÇ 21) faz um apelo ao paficismo e à reconciliação, ele que a seguir à independência teve de trilhar os dolorosos caminhos da fuga e do exílio, ele que escolheu um dos lados da guerra, o lado português, mas também podia ter andado a lutar contra os portugueses, nas fileiras do PAIGC. 

É ele próprio quem nos conta, sem alarde mas também sem autocensura de qualquer espécie, como chegou a ser aliciado, em Catió, aos 21 anos, para aderir ao PAIGC, acabando por ir para a nossa tropa: em 9 de janeiro de 1962, começaria ele, embora contrariado,  a recruta no CIM de Bolama. Serviu a bandeira verde-rubra até agosto de 1974. 


(...) A minha incorporação em 1962 (pp. 30/31)

(...) Quando estava em Catió, em jlho de 1961, toda a gente falava de um tal 'Nino' Vieira que tinha fugido da prisão da administração de Catió e que tinha sido ajudado por um cabo cipaio, o Adulai Duca Djaló, casado com uma irmã do João Bacar Jaló.

Nessa altura encontrava-se em Catió, um colega meu de Bissau, o Adulai Djá, que enquanto fazia 'consultas' 
[como vidente, presumo eu, LG] ,  tentava mobilizar pessoal para o PAIGC. 

Eram os tempos em que o PAIGC, ainda pouco conhecido, estava a começar a emitir um programa pela rádio de Conakry.

Uma tarde, convidado pelo Adulai Djá[1], fui ouvir a emissão a casa do cipaio. Depois voltámos mais vezes, fechávamos a porta, para o João Bacar não saber, e ouvíamos o programa quase todo. Nessa altura, o Adulai Djá estava a tentar aliciar-me e eu estive hesitante. Um dia disse-me que o pai dele lhe tinha mandado de Bissau a mulher e que esse momento não era oportuno para partir. 

Ele, que tinha muita arte para fazer 'consultas', disse-me, dias depois, que eu não contasse mais com o PAIGC, que ia ter um amigo, militar português, que me ia meter na tropa. Não liguei nenhuma importância ao que ele contara.

Quando regressei de Catió, tomei a decisão de trabalhar para mim, já há muito que alimentava o desejo de abrir uma banca no mercado de Bafatá, onde pudesse vender cigarros, contas[2], colas, tecidos da Gâmbia, panos e outros artigos. (...)


(...) Introdução (pp. 13/16)

Esta história [,este livro, ]  fala das circunstâncias da guerra em que participei. Tratou-se de uma guerra que dividiu e pôs frente a frente filhos da mesma terra.

Eu acho que participar em qualquer uma dessas partes não era crime. O crime é uma actuação que depende da pessoa que o pratica. Sem dúvida que houve criminosos em ambos os lados, que mataram barbaramente, mas cada um tem o seu processo individual para ser julgado, neste mundo e no outro.

No final da guerra não podiam nem deviam condenar todos. Primeiro deviam julgar os processos de cada um e só depois poderiam condenar aqueles que cometeram actos criminosos, tanto no Exército Português como no PAIGC.

Eu tenho a certeza que, entre aqueles que cometeram crimes nesta guerra, poucos sobreviveram e se, até agora, não foram presos e julgados pelo Estado, Deus já os terá julgado com grandes desastres e doenças incuráveis.

Em 25 de Abril de 1974 havia muita gente que considerava criminosos todos os militares guineenses do Exército Português e havia também outros que consideravam todos os combatentes do PAIGC como criminosos. 

É mal pensado. Devemos respeitar o sexto e o nono mandamentos. O sexto, guardar castidade nos pensamentos e nas palavras; o nono, guardar castidade nos desejos e nas obras. Se respeitarmos estes dois mandamentos, entre os dez, não pecaremos contra a humanidade.

Foi uma era de sofrimento, muito dura que passámos. Perante os vestígios da guerra, ainda frescos e bem visíveis, a quem foi cobrado o pagamento da dívida? A nós, aos militares guineenses que lutámos nas Forças Armadas Portuguesas, bem como às nossas famílias. Fomos os únicos a quem foi cobrada esta divida e nós e as nossas famílias pagámos muito caro. A minha mãe, muito idosa, e os meus filhos, ainda crianças, passaram fome.

Ninguém é culpado disto, é tudo fruto do destino de Deus. Tudo passou e fica para a história.

Quando Nino Vieira deu o golpe de 14 de Novembro de 1980, as perseguições, as pressões e as calúnias acabaram. Ficámos livres, tirou o fecho de segurança da boca de todos os ex-militares guineenses do Exército Português que ainda viviam.

Eu não sou político, apenas um ex-militar, oriundo da Guiné, com treze anos de serviço militar. E o que me levou a escrever este livro é, para além de contar as peripécias que vivi, revelar as minhas dúvidas e os meus sentimentos, durante esses anos, em situação de guerra. Era difícil ser bom português, e os bons patriotas são sempre patriotas, sejam quais forem as ocasiões.

A minha maior dúvida foi a integração no Exército Português. Não era crime, nem erro cometido por qualquer dos lados, quer pelas entidades portuguesas, quer pelos soldados guineenses, porque, naqueles tempos, ir à tropa era uma obrigação.

Os momentos de guerra foram muito difíceis, e é por isso que temos que dar tudo por tudo, para que a guerra seja a última solução do homem.

Com o fim da guerra e o início das perseguições que sofremos, a integração no Exército Português parecia ter sido um passo errado. Ficámos a pagar uma dívida que não devíamos e da qual nem éramos fiadores. Fomos apenas militares da nação portuguesa.

Aqueles momentos foram muito duros e inesquecíveis. Não havia julgamentos. Só condenações à morte e fuzilamentos, sem processos individuais, sem averiguações sobre os actos praticados por cada um.

O que me leva, então, a pôr em dúvida se a integração no Exército Português foi um passo certo, é porque, quando estávamos a pagar os vestígios da guerra, não havia nenhuma entidade portuguesa, patronal, governamental, nem tão pouco diplomática, que pudesse, ao menos, exigir que nos fosse feita justiça.

Na altura, não se falava de direitos humanos, nem em democracia em África. Este contexto originou um silêncio completo em todo o mundo e, assim, foi correndo até ao dia 14 de Novembro de 1980, data em que acabaram com essa injustiça. Porque tudo acaba por ter um fim.

E, como disse atrás, a guerra é a última solução para o homem, porque ninguém sabe as consequências que ela vem trazer, para além dos mortos, dos feridos e dos prejuízos, que são sempre as primeiras a aparecerem.

Mas também, quando não há outra saída, só a guerra, então temos de a fazer. A guerra é indesejável, mas quando vamos para ela, é nossa obrigação enfrentá-la com seriedade, porque na guerra não há graça. A guerra também é uma arte, aumenta o conhecimento do homem, traz novas experiências, novos conhecimentos, novas aventuras, novas amizades, novas relações, novas culturas.

Nós, Povo da Guiné, antes da guerra, mal conhecíamos o Povo Português. Nunca nos juntávamos nas festas com os europeus, durante a presença portuguesa. Só quando se iniciou o conflito começámos a ver os militares das companhias e dos batalhões, que nos acompanhavam como irmãos e como amigos. Festejávamos juntos, repartíamos o pão na mesma mesa, juntávamo-nos em todas as ocasiões, boas e más.

Este povo pacífico, que agora vinha de Portugal e convivia connosco nos momentos de guerra, ficou a conhecer-nos melhor, trocávamos conhecimentos de vida diferentes, tratávamo-nos como irmãos.

Antes, só os comerciantes e os funcionários do Estado vinham com as famílias para a Guiné. Nós éramos servidores, eles, patrões e chefes. E a convivência entre nós, nesses anos, não era muita.

Os jovens da minha etnia, na então Guiné Francesa[3] andavam todos em escolas europeias. Na Guiné Portuguesa, as portas das escolas só se abriram para nós, muçulmanos, com a vinda dos padres italianos.

Os portugueses tiraram algum povo do mato, deram-lhes nomes e apelidos, livros para estudar e consideraram-nos civilizados. Desta civilização não precisáv
amos, mas faltava-nos a cultura, porque a cultura, de onde sai não acaba e de onde entra não enche. E no nosso Alcorão está lá tudo, moral, comportamento cívico e civilização e nós não precisávamos de ser civilizados, o que nos faltava era escola para aumentar os nossos conhecimentos.

Depois que a guerra teve início, começaram a desembarcar companhias e batalhões de militares vindos de Lisboa. Passámos a ter amigos europeus, quase todos militares simpáticos, tanto oficiais como sargentos e praças. Poucos eram os que não tinham amigos. 

Antes de ser incorporado, o meu único amigo branco era um oficial do Exército, o tenente Carrasquinha, em finais de 1961. Ia a minha casa, foi o meu primeiro amigo. Depois, a tropa continuou a desembarcar e fui tendo mais amigos. Convivíamos em festas, comíamos e bebíamos, cantávamos, dançávamos juntos e ficavam também a conhecer o Povo pacífico da Guiné.

Todos os europeus que regressaram deixaram lá pelo menos um amigo que pensa neles. E todos os que regressaram, trouxeram consigo um ou mais amigos, no fundo do seu coração, que ainda hoje pensa neles.


O Povo da Guiné também é diferente dos outros povos da África. Desde o início da guerra foram muito raros os casos em que o PAIGC matou civis brancos.

A guerra destrói um lado e constrói outro. Mas a destruição é sempre maior. Por isso é melhor evitá-la, o máximo que pudermos. Mas, se não fosse a guerra nós também nunca viríamos a conhecer este Povo pacífico, que é o português, e que nunca deixámos de recordar.

Vivemos com estas recordações e vamos morrer com elas.

Até agora, se Portugal for invadido, nós vamos defendê-lo com tudo o que estiver ao nosso alcance. Se a Guiné for invadida, faremos o mesmo. Eu acho que devemos estar cada vez mais unidos e mais fortes, Guiné e Portugal.

Quero apelar a todos os antigos combatentes guineenses, tanto os que lutaram pelo PAIGC como os que foram incorporados no Exército Português, que façam um esforço de reconciliação com o que se passou.

Naqueles anos, ao serviço do Exército português, nunca deixei de ter amor pela Guiné, a terra que me viu nascer. O facto de eu e muitos companheiros nos termos alistado não fez de nós menos guineenses do que qualquer outro e não nos fez querer menos a nossa Pátria.

Foi a luta pela independência que nos levou a pegar em armas e trocar tiros com os nossos irmãos dentro da nossa terra.

Por tudo isto, eu peço, de uma forma humilde, a todos os guineenses para, hoje, mais do que nunca, ultrapassarem as diferenças, sejam quais forem, para o bem da nossa Pátria. (...)

[Seleção / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
_____________

Notas do autor ou do "copydesk" (editor literário) Virgínio Briote:

[1]
Adulai Djá militou no PAIGC, vindo a ser 2º comandante da base principal de Morés. Foi morto aquando de um ataque de Comandos helitransportados e soube-se que era ele, por causa do nome inscrito no anel que trazia num dedo.

[2] Colares.

[3] República da Guiné-Conakry, desde 2 de outubro de 1958.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21777: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (82): as milícias que ajudaram os militares a ripostar o ataque da UPA no norte de Angola, a 15 de Março de 1961... Quem conheceu de perto a OPDVCA - Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de Angola ? (Tiago Carrasco, jornalista)



Diário de Lisboa, 18 de março de 1961 (*)


[Fundação Mário Soares > Portal Casa Comum > Pasta: 06541.079.17211 > Título: Diário de Lisboa > Número: 13743 > Ano: 40 > Data: Sábado, 18 de Março de 1961 > Directores: Director: Norberto Lopes; Director Adjunto: Mário Neves > Edição: 2ª edição > Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine", "Diário de Lisboa Juvenil" > .Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos. (Com a devida vénia...) 

Citação:
(1961), "Diário de Lisboa", nº 13743, Ano 40, Sábado, 18 de Março de 1961, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_16336 (2019-1-9)


1. Do jornalista Tiago Carrasco recebemos o seguinte pedido
 
Date: terça, 12/01/2021 à(s) 17:37
Subject: Pedido de colaboração reportagem Revista Sábado 

Boa tarde,

Como estão? Chamo-me Tiago Carrasco, sou jornalista da revista Sábado e estou a preparar uma reportagem sobre as milícias que ajudaram os militares a ripostar o ataque da UPA no norte de Angola, a 15 de Março de 1961. 

A reportagem vai sair em Março, exatamente para assinalar o 60º aniversário desses acontecimentos. 

No entanto, escasseia o material sobre as OPVDCA [Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civi de Angolal]. 

Contacto-vos para vos pedir a vossa preciosa ajuda - que muito útil me foi noutras ocasiões - na identificação de pessoas que testemunharam estes acontecimentos e que fizeram parte (ou viveram perto) destas milícias em Angola e até mesmo em Moçambique.

Conseguem me ajudar?

Gostava de saber quem fazia parte destas milícias, como se organizavam, como atacavam, como se armavam e como evoluíram depois para uma organização muito ligada aos salvamentos, combates a incêndios e desenvolvimento rural.

Muito obrigado.

Eu vivo em Peniche (perto do Luís Graça, creio) mas consigo pôr-me rapidamente em qualquer parte do país.

Cumprimentos,

Tiago Carrasco
Telemovel: 926 988 005


2. Resposta do nosso editor LG, com data de 15 do corrente;

Tiago, obrigado pelo seu contacto. Em relação ao seu pedido..., como sabe o nosso blogue só reúne ex-combatentes que estiveram na guerra colonial na Guiné...Alguns de nós conhece(ra)m outros territórios, como é o caso de Angola...

Posso sugerir que contacte o nosso amigo e camarada António Rosinha, que fez o serviço militar em Angola, e estava lá justamente em 1961...E tem uma larga experiência de Angola (bem como da Guiné), como civil: trabalhou como topógrafo numa empresa de obras públicas... O António Rosinha é uma testemunha privilegiada desses tempos de 1961 em Angola. Ele tem cerca de 125 referências no nosso blogue.

Para já é tudo, espero que o Rosinha aceite falar consigo. Tenho outros contactos de camaradas que lhe podem falar de Angola em fases da guerra posteriiores...

Boa saúde e bom trabalho. Luís Graça

3.  Posto em contacto com o António Rosinha, este respondeu hoje  ao Tiago nestes termos:

Sobre esta organização [OPVDCA], mais não sei do que publicamente em geral se falava.

Nem nunca conheci pessoalmente qualquer elemento dessa organização, nem conheci qualquer actividade militar.

Mas de certeza que existe gente viva e de cabeça fresca que, anunciando, vão comparecer.

Não sei se essa organização durou muitos anos, Quem tenha incorporado essa organização em 1961, que tivesse 22 ou 23 anos, hoje tem 83 ou 84.

Cumprimentos

Antº Rosinha

4. Resposta do Tiago Carrasco:

Caro António Rosinha,

Prazer em conhecê-lo.

Muito obrigado pela resposta rápida ao meu pedido. As OPVDCA foram constituídas espontaneamente em 1961 para dar resposta aos ataques da UPA em 1961 e evoluíram para uma organização paramilitar de defesa civil até 1974. Também eram conhecidas como defesas civis e, para além da defesa das zonas urbanas, prestavam serviços como salvamentos, combate a incêndios e projetos de desenvolvimento rural. 

Não conhece ninguém que tenha feito parte do conflito em Angola que tenha conhecimento sobre estas organizações? Haverá alguém do seu conhecimento que possa ter feito parte das defesas civis ou que tenha testemunhado as suas acções? Eu já tenho dois ou três contatos mas estou à procura de mais informação.

Qualquer pista que me possa prestar será de extrema utilidade para mim.

Muito obrigado e bom resto de domingo,

Tiago Carrasco


5. Novo pedido de Tiago Carrasco, de hoje, às 16h33:


Caro Luís Graça,

Muito obrigado pela sua resposta e pelo encaminhamento para o vosso camarada António Rosinha. Entretanto, o António Rosinha já entrou em contacto comigo e estamos a falar. Ele não tem memória destas organizações, mas estou a pedir-lhe contactos que possam ter.

Aproveito para lhe perguntar se na Guiné não existiam, durante a época do conflito, organizações similares às OPVDCA, ou seja, grupos paramilitares que se encarregavam da defesa do território e de outras acções relacionadas com a protecção civil? 

Calculo que não, uma vez que na Guiné-Bissau havia menos colonos, mas não gostaria de deixar de lhe perguntar.

Retribuo os votos de boa saúde e desejo-lhe um bom resto de fim-de-semana,

Tiago Carrasco

6. Comentário e apelo do editor  LG:

Tiago, o mais próximo o que eu conheco, no teatro de operações da Guiné, equivalente às OPVDCA, são as milícias e as tabancas em sistema de autodefesa... 

Não temos grande informação sobre o seu início, formação, organização e funcionamento. Em princípio, estavam subordinadas a um régulo, oficial de segunda linha (alferes, tenente, capitão)... Havia também a polícia administrativa (cipaios), às ordens do adinistrador de circunscrição / concelho e do chefe de posto...

Mas, que saibamos, os colonos (da metrópole, de Cabo Verde ou de origem sírio-libanesa) não estavam enquadrados em nenhuma organização de tipo paramilitar como as mílicias (que eram, etnicamente, homogéneas, e em geral formadas por homens da etnia fula). E alguns desses colonos (pequeno funcionalismo público, empregados de comércio, pequenos comerciantes, pequenos agricultores, donos de "pontas"...) foram também foam aliciados pelos movimentos nacionalistas, e em especial pelo PAIGC. De resto, eram de facto poucos os chamados "colonos" e estavam espalhados pelo território. 

Mas podemos pedir aqui também a ajuda do nosso colaborador permanente Cherno Baldé, que vive em Bissau... No entanto, ele era criança, no início da guerra. Mas é uma espécie de "caixa forte" das memórias dos mais velhos...

Fazemos igualmente um apelo a todos os colaboradores e leitores que queiram e possam responder a este pedido de colaboração do jornalista Tiago Carrasco. (**)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19385: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte I: 1961, Angola

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21193: PAIGC: quem foi quem ? (14): Julião Lopes, ex-craque da seleção nacional de futebol, comandante da base central do Morés, comandante da Marinha de Guerra até ao golpe de Estado do 'Nino' Vieira, em 14 de novembro de 1980




1. Mensagem, a partir de Abu Dhabi, enviada pelo nosso coeditor Jorge Araujo, em 3 do corrente:


Caro Luís,
 Bom dia.
Envio a foto de "família" do grupo que estagiou em Praga, em 1961, onde consta o Julião Lopes. (*)

Até breve.

Jorge Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Este Julião Lopes, comandante da base central do Morés, será o futuro comandante da Marinha de Guerra da Guiné-Bissau, depois da independência e até ao golpe de Estado de ‘Nino’Vieira, em 14 de novembro de 1980, altura em que foi preso.

Era, no final dos anos 50/princípios de 60, um craque da seleção nacional guineense... Passou à clandestinidade, fugindo para Conacri em finais de 1960, com outros futebolistas conhecidos, populares na época, como o Bobo Keita, o Lino Correia (, da UDIB), o João de Deus, e outros, jovens que viviam no bairro do Pilão (ou Pilum, ou Cupelom) (**).

Recorde-se que o Bobo Keita pertencia, na temporada de 1960/61, à equipa da primeira divisão do Sport Bissau e Benfica, embora ele fosse "sportinguista".

 No seu livro de memórias (, resultante de entrevistas com Norberto Tavares de Carvalho, publicado em 2011), relata este episódio da fuga, de vários grupos de futebolistas, de Bissau até Conacri. Diz ele que "de janeiro a outubro de 1961 , estivemos em Conacri a receber aulas do [Amílcar] Cabral" (p. 67). Foi nessa altura [, ou mais tarde, 215/11/1962] que morreu o Lino Correia, num acidente estúpido: "ao executar um salto mortal, caiu e quebrou o pescoço"... 

Em outubro de 1961, "fomos destacados para a mobilização no Leste"... Bobo Keita não faz referência ao grupo que, entretanto,  partira para Praga (capital da antiga Checoslováquia), onde se incluía o Julião Lopes (foto acima).

Há, no livro do Bobo Keita (ou melhor, do Norberto Tavares de Carvalho) , mais algumas breves referências ao Julião Lopes: 

(i) na base de Kumbagnhor / Kumbamori, no Senegal, numa casamento de um camarada (p. 108); 
(ii) como comandante da base central do Morés (em 7 de novembro de 1967) (p. 120); 
(iii) na discussão sobre a atribuição de patentes de comandante (p. 200); 
(iv) em Sambuiá, em 1968, quando foi planeado atacar o aeroporto de  Bissau (p. 206), operação essa levada a cabo pelo André Gomes e sua equipa de 7 homens (p. 206);
(v) há ainda uma foto de grupo (p. 210).

E é tudo o que sabemos sobre o "homem da bola"...que chegou a comandante da guerrilha, tal como o Bobo Keita. Ambos, apesar de tudo, tiveram sorte de chegar vivos à independência. E ambos chegaram ao topo da hierarquia da guerrilha: foram "comandantes", independentemente de outros aspetos controversos do seu percurso e do seu comportamento. Ao Julião Lopes, nomeadamente, são atribuídos, durante e depois da luta pela independência,. comportamentos típicos do sociopata.



PAIGC > s/l > s/ d> [posterio a 25 de Abril de 1974] > Da esquerda para a direita: Comandantes Abdulai Bari, João da Silva, Julião Lopes, Armando Soares da Gama, André Gomes, um elemento não identificado,  e de perfil  Bobo Keita, em companhia da sra. Maria Augusta Saúde Maria.

Foto: arquivo de Bobo Keita (2011) (cortesia de Norberto Tavares de Carvalho - De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, 303 pp. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes.

De qualquer inporta recordar que o futebol foi um viveiro de militantes do PAIGC: Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Corona, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)...

Keita, miúdo de rua, não tinha botas... As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo Sport Bissau e Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos juniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.

Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... A partir daí,  conforme as circunstâncias ou convienências, passou "a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezassete anos e outro com dezoito anos", confidencia o Bobo Keita (1939-2009) ao seu biógrafo (p. 31), o Norberto Tavares de Carvalho (, vítima, ele próprio,  do 'spinolismo' e do 'ninismo'). (****): estudante de liceu, preso na Ilha das Galinhas, e  libertado com o 25 de Abril de 1974, esteve, depois com a golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, nas masmorras de 'Nito' Vieira, até maio de 1983.

3. Nota do Jorge Araújo, em Abu Dhahi (em comentário posterior a este poste):
Reportando-me em particular à "foto de família" acima [Praga, 1961,] , e para contextualização da mesma, acrescento:

(i)  com excepção do Amílcar Cabral, os restantes dez elementos foram os eleitos que seguiram para a Checoslováquia, em Setembro de 1961, para aí cumprirem um estágio de três meses;

(ii) a deslocação a Praga deste grupo é, pois, consequência de um convite (oferta) formulado ao PAIGC de igual número de "bolsas";

(iii)  este assunto é apresentado e analisado na reunião do Secretariado do Partido, realizada em casa de Amílcar Cabral [Conacri], em 20 de Setembro de 1961.

(iv) - Na acta, escrita em francês, consta o seguinte:

Tradução: 

(...) “Estamos num caminho que ninguém na África jamais seguiu: ter estruturas antes da independência. Também tenho o prazer de vos informar que a Checoslováquia nos oferece mais 10 quadros [bolsas de estágio] que devemos enviar o mais rapidamente possível, tais como: Mecânica e Electricidade, Agricultura (máquinas), Estradas, Construções, Administração Interna, Planeamento Económico, Higiene e Acção Social, Distribuição de bens de consumo, Restaurantes e hotéis. Temos que pensar cuidadosamente sobre quem são as pessoas que devem ir para este estágio.” (...)

Citação: (1961), "Acta da Reunião do Secretariado do PAIGC", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34129

___________

Notas do editor:


(...) Diz o relatório (p. 18):

"Por informações colhidas na base Central sobre este camarada [Julião Lopes], soube que num ataque [realizado em Outubro de 1963] do grupo por ele dirigido, em Encheia, contra o Chefe de Posto [José Cerqueira Leiras] e não contra a tropa colonial, que numa rajada da sua metralhadora matou três camaradas, a saber: Luís Mendes "Mambará", João Balimbote e Joãozinho Amona, ficando ele, Julião, ferido com uma bala de um dos camaradas daqueles que morreram, que o atingiu propositadamente com a intenção de o matar, procurando assim vingar-se por si e seus companheiros, tendo nesta altura também ficado ferido, e ainda pelo camarada Julião Lopes, o camarada Paulo Santi

Depois de arrebentada a porta da residência do Chefe de Posto [José Cerqueira Leiras], para ser liquidado, o respectivo chefe, o camarada Julião Lopes, impediu os seus companheiros de o fazerem, alegando bastar já o mesmo ter uma perna quebrada [balas nas pernas].

O Cmdt deste ataque, Julião Lopes, foi depois transportado para o Hospital de Ziguinchor, a fim de ser intervencionado, onde se manteve até ao dia 09 de Janeiro de 1964, 5.ª feira, data em que deu início ao seu regresso à base Central do Morés. (..:)



(**) Vd. poste de 29 de outubro de  2011 > Guiné 63/74 - P8961: Notas de leitura (296): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte IV): Os 'Portuguis Nara' de Boké e de Conacri (Luís Graça)

quinta-feira, 5 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20705: (D)o outro lado do combate (57): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte IV (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)

1. Continuação da publicação de excertos do livro "Memórias da Luta Clandestina" (que foi lançado, no passado dia 30 de janeiro, na Praia, capital de Cabo Verde, na Biblioteca Nacional; edição de autor) (*)

Dois meses antes, um dos filhos, do Inácio Soares de Carvalho , o Carlos de Carvalho, arqueólogo e historiador, que coordenou o projeto editorial, pediu-nos autorização para reproduzir uma foto do administrador Guerra Ribeiro, da autoria de Paulo Santiago (***). Autorizou-nos, ao mesmo tempo, a reproduzir alguns excertos da obra, em fase final de acabamento.

Inácio Soares de Carvalho (ISC) (1916-1994) trabalhou no BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, desde 1939, até ser detido pela PIDE em 15/3/1962. Vamos continuar a publicar alguns excertos das suas memórias políticas, até há pouco inéditas, com a devida autorização do seu filho, Carlos de Carvalho.

Nasceu na Praia em 29 de Abril de 1916. Foi em criança para a Guiné com os pais. No seu tempo haveria 1700 cabo-verdianos no território, muitos deles tendo posições de destaque na vida económica, social, cultural e político-administrativa da colónia portuguesa.

Envolveu-se na luta política, filiando-se em 1956 no MLG – Movimento para Libertação da Guiné,  por influência do seu compadre e colega de Abílio Duarte.

[Parece haver aqui algumas confusões cde siglas e anacronismos: o PAI (futuro PAIGC, em finais de 1962) foi criado, em Bissau, por Amílcar Cabaral, em 19 de Setembro de 1956, com um grupo restrito de nacionalistas Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Elisée Turpin e Júlio de Almeida). O PAI - Partido Africano para a Independência logo a seguir estrutura-se em células, em Bissau, Bolama e Bafatá. Só em agosto de 1958, é que se terá fundado o MLG (Movimento de Libertação da Guiné), numa reunião em que tomara tomou parte José Francisco Gomes e Rafael Barbosa (Zain Lopes), Tomé Barbosa, César Mário Fernandes, Tomás Cabral de Almada, Alfredo Meneses d`Alva, na casa de Ladislau Justado Lopes em Varela). Mas em dezembro de 1960 há já indícios de desinteligências entre os militantes do PAI e do MLG. ] (**)
Inácio Soares de Carvalho, que nunca viveu na clandestinidade, contrariamente ao Rafael Barbosa,  será preso pela primeira vez pela PIDE em 15/3/1962, no BNU, onde trabahava há mais de duas dezenas de anos. (A PIDE havia chegado ao território em 1957). É então deportado, com outros "suspeitos", para o Tarrafal (, a partir da Ilha das Galinhas), aonde chega no início de setembro de 1962, numa leva de 100 presos, guineenses. Três anos depois, em  16/10/1965 e transferido para colónia penal da ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós.

Em 7/2/1967, é solto, pela primeira vez. Em 1972 e 1973, volta a passar pela experiência da prisão, em Bissau, até conhecer a liberdade definitiva com o "golpe de Estado do 25 de Abril de 1974 em Portugal".  Há uma escassa meia dúzia de documentos no Arquivo Amílcar Cabral com o seu "nome de guerra", Nassi ou Naci Camará. Pertencia à "secção de informação e controle" do PAI em Bissau, ele e o Rafael Barbosa (c. 1926-2007), reportanto diretamente a Amílcar Cabral, que vivia em Conacri. Em outubro de 1961, Rafael Barbosa, de etnia papel (, Zain Lopes, na clandestinidade), é nomeado Presidente do Comité Central do PAIGC.  Serão descobertos e presos em março de 1962.

Nos final dos anos setenta, Inácio Soares de Caravalho regressa à sua terra natal, Cabo Verde e afasta-se praticamente da vida política activa. Vem a falecer em  dezembro de 1994, sem ter visto publicadas as suas memórias políticas.

"Após incessantes insistências dos filhos, ISC resolve escrever suas 'Memorias', tendo-as dado por concluídas em 1992. Nelas o autor narra factos novos, desconhecidos da maioria dos militantes, pois, infelizmente, poucos foram os combatentes da clandestinidade, sobretudo na Guiné, que deixaram escritos sobre essa vertente da luta protagonizada pelo PAIGC." (Informações biográficas fornecidas pelo filho, Carlos de Carvalho, nascido na Guiné, complementadas por LG.)


2. O filho, Carlos de Carvalho, respondendo a algumas perguntas nossos, acrescentou mais o seguinte, em email de 3 do corrente:


"O Velho nasceu em 1916. Não foi reintegrado no BNU, nem voltou ao Banco da Guiné depois da independência. Confesso que não compreendo porque não quis voltar ao seu 1° posto de trabalho ou não o aceitaram. Ele foi inicialmente contínuo, cargo oficial, depois arquivista / guarda-livros e fazia também cobranças das rendas das casas de que o BNU era proprietário ou 'responsável'.

"Ele diz ter pertencido inicialmente a um Movimento que se designava MLGC. Creio que esta página ainda não esta bem esclarecida. Nunca foi operacional, sempre esteve na Frente Clandestina. Disse que Cabral não os deixou ir, para assegurarem a retaguarda, já que a um dado momento estava preparando o sobrinho para o substituir para poder sair para a luta armada.

"A família tinha uma propriedade (uma casa grande que alugava e uma grande horta donde tirávamos o sustento, vendendo frutas). A nossa mãe também  vendia doces, linguiças, fazia flores e outros pequenos trabalhos que ajudavam a sustentar a família.

"Sobre a edição [do livro] foi da família. Nos é que assumimos a edição contando com vários patrocínios.

"Ele, a semelhança dos outros presos de 62, e até ao fim da luta nunca foi julgado, por conseguinte, não condenado oficialmente, seja judicialmente.

"Creio ter respondido à suas duvidas. Até breve, espero em PT {Portugal]

"Abrasu a todos da nossa Tabanca

"Carlos
"PS: Sobre a 'estada" no ex-CCT e na Ilha darei mais detalhes depois."


Guiné > Bissau > PAI > Secção de Informações e Controlo > Diário > 25 de abril de 1961 > Assinatura de Naci Camara [Inácio Soares de Carvalho]

Citação:

(1961), "Diário sobre a prisão de militantes do PAI", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41690 (2020-3-4)

Fonte: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07063.036.058
Título: Diário sobre a prisão de militantes do PAI
Assunto: Diário assinado por Zain Lopes  [, Rafael Barbosa,] e Naci Camará [, Inácio Soares de Carvalho}, pela Secção de Informações e Controlo, sobre a prisão de militantes do PAI.
Data: Terça, 25 de Abril de 1961
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Cartas de Bissau 1960-1961.~
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral




Bissau > PAI > 25 de abril de 1961 > Mais um documento com a assinatura do Nassi [ou Naci] Camará... 

Destaque do editor LG para a parte final do comunicado: (...) "Os pandigos [, bandidos ?, colonialistas... ] já começaram a evacuar mulheres e crianças, mas saiu um Decreto [pelo qual]  nenhum homem pode seguir para a Metrópole. Estã[o] sendo distribuída[s] armas à população civil, sendo [cabendo a] cada indivíduo uma arma e cinquenta balas e duas granadas de mão" (...) [A arma seria a Mauser ? 50 munições corresponderiam a 10 carregadores, com 5 munições cada... O  Rafael Barbosa usa várias vezes a expressão "bandidos", noutros documentos, mas para referir os "bandidos de Dakar" que, por volta de finais de 1960 / princípios de 1961, comspiravam contra Amílcar Cabral e o PAI... Há erros de dactilografia e ortografia dos documentos assimcados pela "secção de informação e controlo". ]

Para se perceber a primeira parte do comunicado, em que há referência aos "milicianos", ao serviço do exército português, que correm o risco de ir serem mobilizados para a Angola, há que ter em conta a realização, em Bissau, com início em 14 de agosto de  1959, do 1º Curso de Sargentos Milicianos, aberto a europeus "e guineenses considerados civilizados ou assimilados, já com formação escolar de, pelo menos, o 2º ano do liceu, na época chamado 1º ciclo liceal":  frequentado pelo nosso camarada Mário Dias, membro da Tabanca Grande da primeira hora, este curso deu vários... comandantes ao futuro PAIGC, como foi o caso do Domingos Ramos,  do Constantino Teixeira, do Rui Demba [Djassi]...

Citação:

(1961), "Diário sobre o desenvolvimento da luta clandestina em Bissau", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41691 (2020-3-4) (Com a devida vénia...)

Fonet: Casa Comum
Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 07063.036.059
Título: Diário sobre o desenvolvimento da luta clandestina em Bissau
Assunto: Diário assinado por Zain Lopes e Naci Camará, pela Secção de Informações e Controlo, sobre a possibilidade de enquadramento dos "Milicianos" ao serviço do exército português no PAI e o desenvolvimento da luta clandestina em Bissau.
Data: Terça, 25 de Abril de 1961
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Cartas de Bissau 1960-1961.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral


3. Excertos do livro - Parte III (*)

(Continuação)

Mussá Fati, o primeiro contacto enviado por Cabral

Felizmente, nos princípios de Abril [de 1961] chegou a Bissau o primeiro guia de ligação, Mussá Fati, mandado pela nossa Direcção em Conakry com a missão de tudo fazer, mas com muita descrição, para nos contactar. 

Efectivamente, depois de ter chegado à Bissau, não foi fácil ao Mussá entrar, de imediato, em contacto connosco. A razão é porque nós não tínhamos confiança em receber ninguém no nosso meio com receio de membros dos grupos do Senegal nos infiltrarem. Depois de estar muitos dias a tentar o contacto, acabou por encontrar o nosso jovem companheiro, Marcos Correia; como já se conheciam, o Mussá acabou por lhe pôr ao corrente do que se passava no exterior, contando-lhe o que ouviam sobre nossas actividades e o que acontecera connosco, para finalmente dizer-lhe que vinha a mando do nosso engenheiro [, Amílcar Cabral,]  para nos contactar. 

Foi assim que o Marcos sentiu coragem de ir ter comigo e eu depois fui falar como Rafael; como ele já conhecia o Mussá, disse-me que podemos entrar em contacto com ele. Autorizamos então o Marcos a levá-lo à nossa base [, na Zona 0]; eu fui ter com ele no dia seguinte e falamos todos muito da nossa situação, e como passamos do mês de Fevereiro àquela data. 

A luta pela afirmação de Amílcar Cabral como líder da luta pela Independência

Nos primeiros anos, a afirmação de Cabral como líder da luta pela Independência dos povos da Guiné e de Cabo Verde foi uma questão fulcral e sempre presente. Na verdade, foi talvez a fase mais difícil da luta. 

Se no plano interno, sentíamos que o Partido já estava bem instalado com muitos jovens de todas as tribos da Guiné a aderirem as causas da luta, no plano externo, não cessavam as propagandas de nossos inimigos contra a liderança de Amílcar Cabral, sempre utilizando o mesmo argumento de que,  sendo filho de cabo-verdianos,  não podia liderar a luta pela independência de guineenses e cabo-verdianos. 

Nessa fase, foi importante a ligação permanente, através de nossos agentes, que mantivemos com os nossos dirigentes no exterior. Por um lado, nós servíímos de retaguarda segura aos esforços para a afirmação e legitimação de nossos dirigentes, sobretudo de Cabral; por outro, dávamos continuidade à campanha para a mobilização de jovens e outros apoios para a causa de nossa independência. 


Luís Silva, mais conhecido por Luís Tchalumbé, a questão da liderança da luta pela Independência

Um dos grandes entraves na afirmação de Cabral foi o Luís Silva, mais conhecido por Luís Tchalumbé. De facto, Tchalumbé foi um feroz opositor de Cabral enquanto líder do povo da Guiné. Conseguiu mobilizar apoios junto aos grupos de guineenses que tentavam organizar-se para a luta contra o colonialismo, radicados em Conakry. Ele e seu grupo chegaram a protestar junto ao Governo de Sékou Touré,  dizendo que o Amílcar não podia libertar a Guiné-Bissau porque ele não é puro guineense porque os pais são cabo-verdianos; a atitude de Tchalumbé e seus apoiantes causou-nos grandes problemas em Conakry. 

Perante essa situação, o nosso líder , engenheiro Amílcar Cabral,  mandou-nos comunicar isso em Bissau. Quando recebemos o comunicado ficamos todos preocupados e alarmados. É que, por um lado, tínhamos o Luis Tchalumbé e, do outro, o Governo Português.

[...] Aproveitamos essa mesma missão para endereçar ao Presidente Sékou Touré uma mensagem a pedir-lhe apoio total ao nosso líder, engenheiro Amílcar Cabral; na mesma mensagem, aproveitamos ainda para desacreditar o Luis Tchalumbé, mostrando a sua incompetência para ser líder da luta para a Independência da nossa Guiné. 

Depois da ida de Companhe para Conakry, enviamos outras mensagens para os seguintes Presidentes: Senghor, do Senegal; Modibou Keita, do Mali; N’Krumah, do Ghana. As referidas mensagens destinavam-se também à pedir total apoio ao nosso líder, engenheiro Amílcar Cabral. Essas mensagens foram levadas por outro jovem, agente de ligação, o Albino Sampa; Albino foi também com a missão de aproveitar e observar, com todo o cuidado, o que se estava a passar no Senegal. 

Essas mensagens deviam ser entregues ao nosso correspondente em Dakar, Luis Cabral, a fim de mandar distribuir aos respectivos destinatários. Essas acções deram um contributo inestimável ao progresso da nossa luta de libertação nacional.


O financiamento das actividades do Partido

Todas as actividades do Partido no plano interno e externo eram feitas com grande sacrifício, sobretudo no que diz respeito à meios financeiros. Como o meu vencimento não dava para tanto trabalho, então resolvemos pedir aos companheiros de luta, militantes e simpatizantes que tinham possibilidades,  para contribuírem para suportarmos as despesas. Mesmo com tal apelo, o problema financeiro continuava. 

[...] Como havia poucas alternativas, Rafael [Barbosa], enquanto principal responsável do Partido, decidiu que a única forma que tínhamos de aliviar a situação era o Inácio fazer um empréstimo ao Banco [, BNU,]  supostamente com o objectivo de construir uma casa. 

Tendo a reunião decorrido num sábado, na segunda-feira,  decidi ir falar com o Sr. Mário Seca que era chefe dos serviços do Banco naquela altura. 

Esperei que saíssem todos os funcionários do Banco e dirigi-me ao seu gabinete e expus-lhe a minha pretensão em obter um empréstimo para construir uma residência, argumentando que onde estava morado é de três herdeiras, sendo minha mulher uma delas e não nos convinha continuar morando nela. 

Ele perguntou-me o valor do empréstimo que pretendia fazer. Respondi que queria pelo menos 25.000$00 [, cerca de 11.060,43 €, a preços de hoje]  a fim de começar a obra e a medida que for necessário eu pedia mais até acabar o trabalho. 

Ele olhou para mim e disse-me: 

- É melhor o Inácio pedir 15.000$00 , assim é mais fácil darem o Inácio do que 25.000$00. 

E disse-me então para pensar bem primeiro, porque às vezes pode-se pedir e não darem nada. Pedindo pouco à pouco é mais certo, do que muito e não receber nada. 

Dois dias depois fui à Base e contei ao Rafael a conversa tida com o Gerente. Ele disse-me logo que mesmo que fosse 10.000$00 tínhamos que tomar,  que fará 15.000$00; naquela altura, 15.000$00 era muito dinheiro, dava para muita coisa. 


Expansão da estrutura do PAIGC no território da Guiné

Nesse momento inicial da luta, com a Zona 0 [, Bissau.]  já consolidada, decidimos expandir a estruturas do Partido para todo o território nacional. Assim, fizemos todos os possíveis para ter responsáveis do Partido em vários pontos da Guiné, o que conseguimos com sucesso. 

Na região de Bolama, eram responsáveis o Domingos Gomes e Domingos Badinca; em Bafata, Quecoi Fati; em Gabu, Lassana Jaquité e Francisco Dias (Chico Pombo); em Fá Mandinga, zona de Bambadinca, Antonio Silves Ferreira.

O jovem Silves tinha pouco contacto connosco; o seu principal contacto era o Domingos Ramos {, que terá desertado do exército português, em novembro de 1960,  quando em Bolama era já 1º cabo miliciano, segundo o testemunho de Mário Dias, de quem era amigo].

Das poucas vezes que ele vinha a Bissau, falava muito com o Rafael. Em Bissorã, tínhamos Lassana Sissé e David Lopes Vaz, enfermeiro. Nas áreas de Canchungo, Cacheu, S. Domingos, Susana, em todos aqueles sítios tínhamos responsáveis do Partido, já conscientes das suas responsabilidades.


Rafael [Barbosa] é nomeado Presidente do Comité Central do PAIGC

Em Outubro [de 1961], chegaram a Zona 0, três grandes elementos do Partido, enviados pela nossa Direcção em Conakry. Estes elementos eram Luciano N’dau e Pedro Ramos, ambos responsáveis militares, e Mario Mamadu Turé (Mómó), responsável político, a fim de reforçar nossa equipa e dar mais impulso no nosso trabalho de mobilização e de preparação para a luta. Eles foram portadores da primeira Bandeira do nosso Partido, PAGC, que entrou em Bissau na difícil hora que nos encontrávamos.

Trouxeram também uma mensagem que o nosso grande líder nos endereçou. Nessa mensagem, veio a decisão do Partido em nomear o Rafael Barbosa como Presidente do Comité Central do Partido; nessa mesma mensagem, o Nassi Camara e Constantino Lopes da Costa foram louvados pelo Partido e confirmados nos lugares que vinham ocupando desde o mês de Abril, quando o jovem Mussa Fati nos contactou.

O cargo que desempenhávamos era interino, por isso o Nassi Camará foi confirmado no cargo de Secretário de Defesa e Segurança, e o Constantino, no de Secretário do Interior; ficando o lugar do Secretário de Controle que era também exercido pelo Rafael.

A mensagem fez sentir nos nossos colaboradores uma alegria profunda. De lembrar que nós os três éramos os responsáveis máximos e assinávamos todos os documentos que eram enviados à Direcção do Partido. A Direcção do Partido em Conakry fez-nos saber na mensagem que tal promoção e louvores foram devidos aos trabalhos feitos com grandes esforços e também das medidas que tomamos na altura em que se deu o caso do Luis Silva (Tchalumbé), em Conakry, e que permitiu a afirmação da liderança de Amilcar Cabral.

Caros senhores leitores, o nosso empenho e esforço nos primeiros anos da nossa luta da libertação da Guiné e Cabo Verde encontram-se seguramente nos documentos arquivados no Arquivo do PAIGC e está bem gravado na memória dos bons militantes e combatentes da primeira hora, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde.


A chegada de três enviados de Cabral e um novo impulso à luta clandestina

[...] Como dito anteriormente, a chegada daqueles responsáveis, enviados por Cabral, deu um impulso muito grande à nossa luta dentro do território nacional, sobretudo na Zona 0. Para além da Bandeira e da mensagem, os três trouxeram ainda 7 pistolas automáticas para exercitarem os jovens e vários emblemas para distribuir aos militantes. 

Como a minha mulher, Maria Rosa, já estava engajada nas nossas actividades, contei-lhe sobre a chegada daqueles nossos irmãos e também do material de propaganda trazido; ela ficou muito contente e com desejo de ver esses materiais. Assim, quando fui à Base, contei aos companheiros do interesse dela em ver a Bandeira e emblemas enviados de Conakry. Ainda sugeri aos companheiros que poderíamos aproveitar para levar esses materiais à D. Irene  [Fortes] e à D. Iva, mae do nosso líder, e às filhas, irmãs de Cabral. Todos os presentes concordaram.


Bandeira do PAIGC. Fonte: Wikipédia (com a devida vénia...)
Foi o Albino Sampa e o Paulo de Jesus que levaram tais objectos à minha casa, em Ga-Beafada. Para levar os materiais de propaganda e a Bandeira da nossa casa à casa do Fortes e da D. Irene, no Bairro de Tchada, Maria tinha que passar na zona do Palácio do Governo, por isso teve que usar a Bandeira como sua roupa interior, por ser a maneira mais segura. Ela levou os materiais primeiro à D. Irene e de seguida à D. Iva e as filhas. À pedido da D. Iva, deixou ficar tudo por uns dias em sua posse.

A D. Iva, por sua vez, mostrou os materiais à Helmer Barbosa Fernandes que, satisfeito em ver a bandeira do PAIGC dentro de Bissau, pediu a D. Iva que a deixasse levar à fim de ir mostrar à alguns amigos de sua grande confiança, tendo ela concordado; Helmer pega da bandeira e leva à Alfândega; chamava os seus amigos de confiança e os mostrava; eles olhavam para a Bandeira e perguntavam com muito interesse e com grande admiração, como é que ele, Helmer, conseguiu uma coisa assim. Ele contou-nos depois que respondia aos amigos: «djobe cu odjobú cala boca». Depois de ter mostrado a todos os amigos, devolveu a Bandeira à D. Iva. 

Foi dessa maneira que a Bandeira do PAIGC circulou pela primeira vez nalguns lugares da cidade de Bissau, naquelas horas primeiras da luta, e alguns guineenses e cabo-verdianos tomaram conhecimento de sua existência. 

Nesse período, o sr. Constantino conseguiu mobilizar mais jovens, como John Eckert, Venâncio Furtado e muitos mais; Nicolau Cabral conseguiu mobilizar Armando Faria, Otto Schartt, Hildeberto Soares de Carvalho, Helmer Barbosa Fernandes, Ocante, capitão do motor da Casa Gouveia, entre outras para o nosso Partido. Toda esta actividade foi desenvolvida entre Novembro e Dezembro do ano de 1961.

(Continua)




Guiné > Bissau > PAI > Secção de Informação, Controlo e Defesa > s/d  [c. 1961/1962 até março] > Mais um  documento, do Arquivo Amílcar Cabral, contendo a assinatura do Naci Camará. Tem a particularidade de já usar papel timbrado do PAIGC, mas a sigla continua a ser PAI (até finais de 1962)... Este documento, não datado, tem de ser anterior a março de 1962, altura em que o Zain Lopes e o Naci Camará foram presos.

Citação:

(s.d.), "Relatório sobre o desenvolvimento da luta em Bissau e no interior", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41686 (2020-3-4)

Fonte: Casa Comum
Instituição:Fundação Mário Soares
Pasta: 07196.157.022
Título: Relatório sobre o desenvolvimento da luta em Bissau e no interior
Assunto: Relatório assinado por Amadu Farrel (Secção de Informação), Zain Lopes, (Secção de Controlo) e Naci Camara (Secção de Defesa), dando conta da situação e das necessidades da luta em Bissau e no interior.
Data: s.d.  [c. 1961] 
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos 1960-1961.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

3 de março de  2020 > Guiné 61/74 - P20701: (D)o outro lado do combate (56): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte III (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)

2 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20698: (D)o outro lado do combate (55): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte II (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)

29 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20695: (D)o outro lado do combate (54): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte I (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)

(**) Vd. postes de:


25 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P569: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de fevereiro de  2006 > Guiné 63/74 - P571: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

Vd também o importante e esclarecedor artigo do António E. Duarte Silva- "Guiné-Bissau: a causa do nacionalismo e a fundação do PAIGC. "Cadernos de Estudos Africanos". 9/10, 2006,
pi. 142-167. [Disponível  em https://doi.org/10.4000/cea.1236].