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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24984: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (22): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Dezembro de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

22 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

João Moreira



MÊS DE DEZEMBRO DE 1970

A. SITUAÇÃO

1. TERRENO

Dadas as condições climáticas e um certo adiantamento do período seco, possibilitando as queimadas de capim, a actividade operacional tem decorrido com menos dificuldades.

2. NT
A CCAV 2721 deixa de pertencer, operacionalmente, ao BCAÇ, para pertencer ao COP 6.
A missão da CCAV 2721 é a seguinte:
" - - Mantém 1 GComb no Destacamento do Maqué.
" - - Executa acções ofensivas, helitransportadas ou não, à ordem, em qualquer ponto da ZA do COP 6.
" - - Mantém uma actividade normal de patrulhamento, emboscadas e batidas na área geral definida por:
BINTA 505.12 - ROLOSSATO - BINTA 5G4.27 - CANCUNCO - CINDARÉ - MADINA MANDINGA (excl) - CÃ QUEBO (excl) - CANICÓ (incl) - ROLOSSATO até BINTA 7H1.68 - CRUZ BINTA F7-34 - est. MANSABÁ/BISSORÃ - Lim W do COP 6.
" - - Apoia e fornece os meios necessários à actividade operacional".
Esta actividade está conjugada com a actividade da CCP 121 (-) que se encontra no Olossato desde 14 do corrente.

3. ​POPULAÇÃO CIVIL
Os trabalhos agrícolas continuaram.
Tal como se previa, é opinião geral e facto que se vem consumando que a produção agrícola deste ano é bastante superior à do ano transacto, o que é factor importante no âmbito do OLOSSATO, principalmente se atendermos ao péssimo ano em toda a província.
A chegada da CCP 121 (-) é acontecimento que influencia o moral das gentes do OLOSSATO.

B. ​ACTIVIDADE

Decorreu normalmente com os patrulhamentos diários. Além disso:
- Em 10DEZ70 realizou-se um patrulhamento integrado na Operação "HERA BRANCA" a BINTA 8H4. Nada de especial a referir. Somente se aponta o facto de não haver quaisquer vestígios recentes e os trilhos estavam irreconhecíveis.
- Em 17DEZ70 foi detectada uma mina A/P pelo 2.º GComb da CCP 121, tendo sido levantada por pessoal da CCAV 2721.
- Em 18DEZ70 foi detectada e levantada uma mina A/P em BINTA 8E8.19.
Refere-se que ambas as minas são de implantação antiga.
- Em 21DEZ70 efectuado um patrulhamento com emboscada, integrado na Operação "HIDRA BRANCA", a BISSANCAGE.
Assinala-se o facto do trilho que passa em BISSANCAGE, vindo de MADINA MANDINGA estar batido e de terem passado dois indivíduos calçados, momentos antes de ser montada a emboscada.
- Em 30DEZ70 foi efectuado um golpe de mão a CANJAJA "UNHADA" (BINTA 8F2.65) a 02 GComb da CCAV 2721 + 02 GComb da CCP 121.
Foi destruído o acampamento da população, tendo sido recuperados 01 (H), 07 (M) e 06 (C). Houve 2 elemento da população que estavam armados e fizeram fogo durante a fuga, tendo alguns elementos das JFANTJFA respondido, causando 1 ferido provável.
No deslocamento para o OLOSSATO, o IN bateu a zona com morteiro 60.
Foi capturada uma espingarda MAUSER.
- Em 30DEZ70, cerca das 20h00 o aquartelamento e povoação do OLOSSATO, foram flagelados com 4 foguetões, de bases na direcção do Fajonquito, provavelmente de MANACA ou IAROM. As NT reagiram com mort. 81. (de início ainda não se tinha a certeza das armas com que o IN nos flagelou e com artilharia, batendo as áreas mais prováveis de instalação do IN, tendo dois foguetões caído antes do aquartelamento e passado por cima foi cair perto do ROLOSSATO, na bolanha. Para as NT e POP não houve consequências.

RESULTADOS
- Baixas ao IN
Ferido - 1 elemento armado (provável)
Recuperados - 14 elementos da população.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24953: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (21): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Novembro de 1970

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21703: Álbum fotográfico de José Carvalho (2): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (Parte I)



Foto nº 7 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Em finais de Abril de 1971, estava concluída a ligação, por estrada alcatroada, Farim-Mansabá... Finalmente, a população podia   deslocar-se de Farim (ao fundo), para vários destinos,  até Bissau, com maior segurança


Foto nº 6 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Asfaltagem  da estrada Farim-Mansabá, à entrada do K3. Heliporto, edifício do comando, zona dos chuveiros, enfermaria


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Construção da estrada Farim - Mansabá > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K> Auto tanque do BENG 447 que accionou mina anti-carro, colocada na facha lateral da nova estrada, utilizada para a circulação de viaturas, envolvidas nos trabalhos do novo troço.



Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Edifiício do Comando


Fotos (e legendas): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de 28 do corrente,  do camarada José Carvalho [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72); médico veterináruio, a residir no Bombarral]:
 
Caros Amigos Luís e Carlos,

Os meus votos de Boas-Festas e um Ano Novo, que nos devolva a normal vivência, com Paz e Saúde, para vós e Família. São igualmente os meus votos, para todos membros da Tabanca Grande.

Envio-vos em anexo um texto, complementado com fotos do tempo em que os “Barões” passaram por Saliquinhedim / K3 e que poderá ter algum interesse para os que antes, durante e depois, por lá passaram.

Deixo ao vosso inteiro critério a sua publicação.

Com amizade, abraço do
José Carvalho


2. Álbum fotográfico do José Carvalho  > CCAÇ 2753 - ”Os Barões” e o K3  (Parte I )


No 3º dia de Março de 1971, a CCAÇ 2753 deixa o destacamento provisório de Madina Fula (*) e ocupa as instalações militares de Saliquinhedim, mais conhecidas por K3, por se situarem ao Km 3 da margem sul do Rio Farim, afluente do Rio Cacheu, ficando Farim na margem oposta.[Há 100 referências ao K3 no nosso blogue,]

Nessa mesma data, uma mina A/C, destrui um autotanque do BENG 447, causando quatro feridos, sendo dois graves.[Foto nº 1, acima].

As novas instalações onde permanecemos cerca de um ano, eram de “muitas estrelas”, face às que a companhia desfrutou, nos anteriores três meses.

Contudo as construções eram bastante precárias, com telhados de zinco, muito ondulados e esburacados, que se repartiam por vários locais em redor de uma edificação dita do Comando (secretaria, quartos dos oficiais e posto de transmissões). [Foto nº 2, acima]



Foto nº 3 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Memorial ao Cap Mil Inf Corte - Real, cmdt da CCAÇ 1422, 
morto em combate, em 12/6/1966


Em frente da referida construção, a parada, com um memorial ao Capitão  [Mil Inf Dinis] Corte-Real, Comandante da CCaç 1422, que terá sido o primeiro  Capitão,  vítima da guerra na Guiné, a poucas centenas de metros do quartel. [Foto nº 3].



Foto nº 4 >   Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 >   Telheiro/cozinha, com o forno ao lado esquerdo


A estrada Mansabá - Farim dividia o quartel, ficando o edifício do comando, o heliporto, as casernas, a enfermaria, a cantina e a messe de oficiais e sargentos de um lado e um telheiro com um forno de lenha
apelidado de cozinha, a escola, a zona de oficinas auto, e um terreiro com balizas de futebol, do outro lado.

A primeira noite no K3, jamais saiu da minha memória, pois foi com grande satisfação que voltei a dormir numa cama, com a sensação de alguma protecção, que nos era dada pelas frágeis paredes e cobertura com troncos de palmeiras, encimada por folhas de zinco.

O telheiro que cobria o forno, na realidade o local onde se preparava a alimentação para quase duas centenas de seres humanos, era aterrador. Quem nos sucedeu encontrou condições muito mais aceitáveis. [Foto nº 4]

A CCAÇ 2753, integrada no COP 6, toma a responsabilidade do Sub - Agrupamento B, que englobava outros efectivos;

1 Pelotão da CCAÇ 2549
1 Sec AML/ERec 2641
1 Pelotão Milicias  (nº 282)
1 Sec Mort./ Pel Mort 2116
1 Sec Sap./ Pel. Sap/BCaç 3832

A missão da CCaç 2753 mantinha-se com a segurança próxima e imediata dos trabalhadores e máquinas, envolvidas nos trabalhos de reabertura da estrada, até à margem do rio Cacheu e a protecção da população de Saliquinhédim, na maioria Fula, que rondava as 200 pessoas.


Foto nº 5 >  Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2753 >  Destacamento do K3 > Centenas de trabalhadores no final do dia de trabalho, recebendo géneros alimentícios, (sal e arroz) antes de serem transportados para Mansabá

Missão da CCÇ 2753:

(i) Ocupa, organiza e defende a povoação e quartel de Saliquinhedim:

(ii) Executa e apoia a Autoridade Administrativa de Farim, no sub-sector atribuído;

(iii) Intersecta com carácter de continuidade, por acção combinada de patrulhamentos ofensivos e emboscadas, os movimentos do IN do Biribão para o Morés, entre o Bironque e Colimansacunda;

(iv) Executa à ordem do comando do COP  6, em coordenação com outras forças, acções ofensivas em áreas fulcrais de intervenção (Biribão - Ionfarim - Irabato - Colimansacunda - Madina Fula – Madina Madinga - Tiligi, etc.) e também segurança a frequentes colunas auto, dada a grande
movimentação das populações no itinerário Farim - Mansába, depois de cinco anos inactivado;

(v) Garante o funcionamento do Posto Escolar Militar de Saliquinhedim.

Em finais de Abril de 1971, a estrada chegou à margem sul do rio Farim / Cacheu,  ficando restabelecida a ligação Mansabá - Farim. [Foto nº 7, acima]

A partir da conclusão dos trabalhos de construção da estrada, a CCAÇ 2753, passou a ser a única força militar no K3.

 (Continua)



Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954)  > Escala 1/50 mil) >  Pormenor: localização de Saliquinhedim / K3, entre o Olossato e Farim. (Não confundir com o verdadeiro Olossato, que fica a sudoeste de Farim, e que está localizado na carta de Binta.)

Infografia; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20213: Notas de leitura (1224): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Esta saga sobre os paraquedistas na Guiné aparece redigida sob um documento muito contido, factual, sem enxúndia nem pompa. Mas há os picos de orgulho, e justificados. Caso daqueles dias de Agosto de 1968, em Gandembel, esta tropa especial lança-se num ataque aos guerrilheiros do PAIGC, este procura ripostar, quatro homens tombam, mas a força resiste, repele os guerrilheiros.
E escreve-se: "Cai a noite quando, quase no limite das suas forças, chegam a Gandembel. Transportam os seus feridos e mortos e algumas centenas de quilos de material de guerra capturado. Formados na parada do quartel, sombras cambaleantes curvadas pelo dor e exaustão, escutam o seu comandante de pelotão que pede voluntários para bater na madrugada próxima toda a zona onde se tinham desenrolado os combates. Perfilando-se orgulhosamente, olhos cintilando nas faces cavadas, cansaço vencido, todos avançam como se fossem um só homem".
Esta a história de 11 anos de uma força especial cujo desempenho foi crucial para a luta que se travou nas matas e bolanhas da Guiné.

Um abraço do
Mário


História das tropas paraquedistas na Guiné (2)

Beja Santos

“História das Tropas Paraquedistas Portuguesas”, Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12, é responsável pela redação e pesquisa o Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão, edição do Corpo de Tropas Pára-Quedistas, 1987.

A segunda parte da obra, que vamos analisar, coincide com o período entre 1968 e o termo das hostilidades, 1974. Spínola irá introduzir alterações na política do emprego operacional das tropas do BCP 12. Como se escreve no documento, “às missões de combate helitransportadas, de curta duração e sob comando directo do seu comandante, irão suceder-se as operações em que os militares pára-quedistas se vão manter durante períodos muito dilatados em áreas distintas do seu aquartelamento em Bissau, em missões de reforço de tropas de quadrícula”. Em Agosto de 1968 assume o comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné/BA 12 o Coronel Tirocinado Piloto-Aviador Diogo Neto.

Enuncia-se a atividade operacional entre Junho de 1968 a Dezembro de 1971, destaca-se a criação dos Comandos Operacionais, onde se vão integrar uma ou mais companhias do BCP 12. Tem destaque a operação Júpiter, que se estendeu por quatro períodos, desde Agosto até Dezembro de 1968. Atua-se nas regiões de Guileje, Mejo, Gandembel e Porto Balana, sob o comando do COP 2, cuja missão era a de reorganizar o dispositivo das forças aquarteladas. No final do primeiro período da operação Júpiter estas tropas paraquedistas tinham causado ao PAIGC 33 mortos, um prisioneiro e um número incontrolável de feridos, com a apreensão de grandes quantidades de armamento, os paraquedistas sofreram dois mortos, um ferido grave e dois ligeiros, e as tropas em quadrícula sofreram dois feridos graves. São descritas as sucessivas fases desta operação e a resposta do PAIGC, logo com um poderoso ataque contra Gandembel. No dia 11 de Setembro, das 20 horas desse dia até às 5 horas do dia seguinte, rebentaram na área do aquartelamento de Gandembel mais de 500 granadas de morteiro 120, 82 e de canhão S/R. Desde as 3h30 da manhã, tentaram o assalto ao aquartelamento, após rebentar as redes de arame-farpado com torpedos bengalórios; repelido, voltou por mais duas vezes à carga, houve mesmo grupos suicidas que tentaram ultrapassar as últimas defesas das nossas tropas, só ao amanhecer é que os atacantes retiraram, e os paraquedistas lançaram-se na sua perseguição. Segue-se um ataque a Guileje e de novo a Gandembel. Os atos de coragem praticados pelas tropas paraquedistas e pelos militares da CCAÇ 2317 mereceram destacadas citações individuais. A campanha de Gandembel, extenuante, chegará ao fim em Dezembro, o COP 2 será extinto, encerrando-se a operação Júpiter. Em 1969 é criado o CAOP 1, com sede em Teixeira Pinto, aposta-se no Chão Manjaco, cujas populações concediam escasso apoio ao PAIGC. Sucedem-se as operações Aquiles 1, Titão, Orfeu, Talião, Adónis, na operação Jove é capturado o capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta. A par da intervenção em Teixeira Pinto, o corredor de Guileje merecia destaque na atividade operacional do BCP 12, a operação Crocodilo Negro foi um enorme sucesso, em 17/18 de Janeiro de 1970, na região de Porto Balana.

Sucedem-se as operações enquanto as companhias paraquedistas intervêm no CAOP 1, no COP 6 e 7, irão ganhar fôlego operações helitransportadas.

O documento, com o título “A Escalada”, reporta a atividade operacional entre Janeiro de 1972 a Dezembro de 1973. O novo comandante da unidade, a partir de Dezembro de 1969 foi o Tenente-Coronel Paraquedista Sílvio Araújo e Sá que manifestou reticências ao modo como estavam a ser utilizadas as tropas paraquedistas. “Em sua opinião, o comandante do BCP 12 deveria dispor sob seu comando directo e em permanência, de duas Companhias de Pára-quedistas. Só assim seria possível lançar operações frequentes e rápidas nas áreas mais sensíveis do teatro de operações, devolvendo às tropas pára-quedistas as suas verdadeiras características operacionais de forças de intervenção”. Mas Spínola não o ouviu. Merecem realce a operação Mocho Verde, realizada na região do Sara, os paraquedistas entraram na chamada “Barraca de Mantém” após uma aproximação apeada de cerca de 15 km. Recuperaram-se 12 elementos de população e apreendeu-se um número significativo de material. A operação mais importante realizada pelo BCP 12 durante o ano de 1972 teve o nome de código “Muralha Quimérica”, e decorreu na região de Unal-Guileje. Para esta operação convergiram três companhias de paraquedistas, duas companhias de comandos africanos, três companhias de caçadores e um grupo especial COE. Dispersou-se temporariamente a força inimiga e apreendeu-se um número impressionante de armamento.

Segue-se a descrição das operações em 1973, até que se chegou à grande ofensiva lançada pelo PAIGC em torno de Guileje e Guidage. As tropas paraquedistas foram lançadas em Gadamael-Porto e atuaram para contrair o cerco de Guidage. O aqui se relata é hoje matéria desenvolvida em diferentes livros, o dado mais significativo é o comportamento admirável dos paraquedistas na defesa de Gadamael e as missões de patrulhamento que posteriormente desenvolveram até interromper a pressão sobre Gadamael-Porto.

O derradeiro capítulo é dedicado à extinção do batalhão, desvelando a atividade operacional entre Janeiro a Maio de 1974. Em Janeiro o comando do BCP 12 passa a ser assegurado pelo Tenente-Coronel Pára-quedista António Chumbito Ruivinho. Os paraquedistas vão participar na operação Gato Zangado 1, sobre o controlo operacional do CAOP 2, que decorrer na região de Bajocunda-Copá-Canquelifá. A última operação militar das forças paraquedistas foi a denominada “Obstáculo Hermético”, levada a cabo entre Abril e Maio na região de Canquelifá. Chegara-se se ao fim da guerra, em Agosto as tropas paraquedistas regressaram a Portugal. As instalações do BCP 12 passaram então a ser utilizadas pelas tropas do Exército que aguardavam transporte de regresso a Portugal. No dia 13 de Outubro de 1974 findou a presença militar das tropas paraquedistas na Guiné, o Capitão Albuquerque Pinto fez a entrega a um representante do PAIGC de todas as instalações do BCP 12. Em 15 de Outubro do mesmo ano um decreto-lei do Conselho dos Chefes de Estados-Maiores das Forças Armadas consumou a extinção legal do BCP 12. Assim se encerravam 11 anos de vida e presença efetiva das tropas paraquedistas na Guiné.

Um "Pára" ferido em combate aguarda a evacuação

Canhão S/R B-10 apreendido durante a operação Muralha Quimérica

Enfermeira do PAIGC capturada pela CCP 121
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20190: Notas de leitura (1222): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20205: Notas de leitura (1223): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (26) (Mário Beja Santos)

sábado, 18 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17154: O Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos que eu conheci (3): Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72, nosso coeditor


Guine > Região do Óio> Mansabá > CART 2732 (1970/72> 28 de novembro de 1971 > Interior do quartel: O Carlos Vinhal (à direita) com o o Dias, Fur Mil Mec Auto.

Foto (e legenda): © Carlos Vinhal  (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


Guiné > Região do Oio > Mapa de Farim (1954) >  Escala 1/50 mil > Detalhe: Posição relativa de Mansabá e Manhau... A norte fica Farim.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


1. Texto, recebido a  3 de novembro de 2006, há mais de 10 anos, da autoria de Carlos Vinhal,  ex-fur mil art, Minas e Armadilhas,  CART 2732, Mansabá (1970/72), nosso coeditor, e publicado sob o poste P1325 (*)

(...) Sobre nosso Coronel de Cavalaria António Valadares Correia de Campos (**), vou contar um episódio onde eu e ele fomos intervenientes.

Em 10 de Agosto de 1971 chegou a Mansabá a CART 3417, companhia independente como a nossa, para fazer o seu IAO connosco. Faziam alguma instrução no quartel e acções de patrulhamento e emboscadas no mato. A princípio integrados em pelotões da CART2732, em fase mais adiantada, sozinhos.


O Major Cav Correia de Campos, 
Comandante do COP 6

O Comandante desta Companhia [CART 3417] era um capitão muito jovem, daqueles que a determinada altura começaram a proliferar pela Guiné em virtude do desgaste dos capitães mais velhos e com algumas comissões de serviço em teatro de guerra.

No dia 28 de Agosto de 1971, pela manhã, saíram para o mato acompanhados por alguns elementos do Pelotão de Milícias 253, para uma zona não muito distante, mais propriamente para a zona da Bolanha de Manhau, a leste de Mansabá.

Por volta das 13 horas dirigia-me eu à messe para almoçar, quando o então Comandante1 do COP 6, Major Correia de Campos, encontrando-me na parada, me ordenou para eu avisar o oficial de piquete de que era preciso organizar imediatamente uma coluna auto para ir a Manhau e que o furriel de Minas e Armadilhas deveria ir também.


O Comandante da CART 3417, vítima de uma mina A/P 

na bolanha de Manhau, em 28 de Agosto de 1971

O Major Correia de Campos acrescentou que o comandante da CART 3417 tinha pisado uma mina antipessoal, precisando de evacuação urgente e que havia mais minas detectadas, pelo que era preciso neutralizá-las. Informei-o que era o meu pelotão que estava de piquete e que eu mesmo era o furriel de Minas e Armadilhas. Disse-lhe também que iria providenciar no sentido de que as suas ordens fossem cumpridas imediatamente.

Organizada a coluna, prontamente ele subiu para a viatura da frente. De pé, ao lado do condutor, com uniforme não camuflado e com os galões nos ombros, viajou até ao local para recolhermos o ferido e para eu me inteirar da quantidade de minas a neutralizar. O dia estava cinzento, caía uma chuva miudinha incessante e o percurso foi feito em picada por zonas de alto risco de contacto com o IN e de alta probabilidade de aparecimento de minas anticarro. Nem mesmo assim ele se protegeu da intempérie e das possíveis vistas do IN.

Chegados, deparámos com o capitão já assistido pelos enfermeiros da sua companhia. Tinha já a perna garrotada e estava a soro. Vociferava contra a sua falta de sorte e estava visivelmente nervoso. O caso não era para menos. Era muito novo e tinha sido ferido logo na sua primeira comissão de serviço no Ultramar.

Como se pode depreender, o moral das tropas estava muito em baixo. Foram sujeitos à mais dura provação. O seu comandante tinha sido, cedo de mais, vítima da guerra. Não estavam em condições de continuar a instrução daquele dia pelo que iriam regressar connosco.

Organizou-se a coluna de regresso ao quartel. O nosso Major e o sinistrado vieram na minha viatura. O percurso foi feito devagar para evitar solavancos exagerados.

O capitão recolheu à enfermaria para ser devidamente tratado e esperar por um heli para o evacuar para o HM 241. Eu fui aprontar o meu equipamento para voltar a Manhau, a  fim de rebentar as minas detectadas e trazer de volta os militares da CART 3417. A chuva continuava e a fome apertava, mas o dever obrigava.

Em Manhau rebentei três minas antipessoais e regressámos trazendo connosco o pessoal da 3417. Cerca das 15h00 pude comer qualquer coisa, requentada, só para não ficar em branco.


Uma coluna auto até ao HM241, em Bissau e, regresso a Mansabá: um pesadelo de 200 quilómetros

Cerca das 17h00 veio a ordem do nosso Major Correia de Campos para evacuar o comandante da CART 3417, em coluna auto, uma vez que a chuva não abrandava e os helicópteros não tinham condições para levantar.

O melhor que puderam, os enfermeiros acondicionaram o capitão numa das viaturas, para que a viagem de quase cem quilómetros até Bissau (!), debaixo de chuva intensa, se tornasse para o ferido o menos penosa possível. Só pedíamos a Deus que não tivéssemos nenhum contacto com o IN até Mansoa, porque então seria o bom e o bonito. Já bastava a chuva para complicar. O estado geral do sinistrado não era o melhor, porque já tinha passado bastante tempo desde a triste ocorrência. As horas de sofrimento físico e psicológico somavam-se.

Lá nos pusemos a caminho em marcha moderada, convencidos de que só iríamos até Mansoa. O normal seria as tropas dali continuarem até Bissau, mas não. Constatámos que não estava prevista nenhuma coluna, pelo que com muita resignação, espírito de sacrifício e altruísmo, continuámos nós a viagem até ao HM 241 onde chegámos cerca das 18h30. A viagem não se pôde fazer em velocidade elevada para não fazer sofrer ainda mais o ferido.

Voltámos tão rápido quanto possível, porque a noite já ia alta. A chuva que nos tinha acompanhado até Bissau, continuou até Mansabá.

Voltando ao senhor Coronel Correia de Campos, quem sou eu para enaltecer a sua figura? Sei apenas que era chamado para as situações mais complicadas no CTIG. A determinada altura deixou o comando do COP 6 [, em Mansabá,]  para assumir o comando noutra zona complicada da Guiné onde a sua presença era mais necessária.

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas
CART 2732
Mansabá, 1970/72
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1325: Memórias de Mansabá (7): O Comandante do COP6, Correia de Campos, e as Minas na Bolanha de Manhau (Carlos Vinhal)

quarta-feira, 15 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17140: Em busca de... (274): uma foto do tenente-coronel de cavalaria António Valadares Correia de Campos, comandante do COP 3 e um dos bravos de Guidaje... Precisa-se, com urgência, para documentário sobre o 25 de Abrilm, a realizar pelo cineasta António Pedro Vasconcelos

1. Mensagem da Teresa Sousa, "assistant executive producer" da Just Up:

Data: 14 de março de 2017 às 15:56

Assunto: Documentário sobre o 25 de Abril

Boa Tarde

A Just Up, produtora de audiovisuais, encontra-se na fase final de produção do documentário sobre o 25 de Abril, "A Vox e os Ouvidos do MFA". O documentário será exibido na RTP1 e é realizado por António Pedro Vasconcelos.

Retrata as duas noites anteriores ao 25 de Abril, quando um grupo de 20 soldados fizeram a instalação de um cabo telefónico desde Benfica até à Pontinha, que veio permitir ao Posto de Comando do MFA ter acesso às escutas dos telefones do governo.

Para além de entrevistas aos militares envolvidos nesta operação, necessitamos também de algumas
imagens de arquivo. Durante a pesquisa para o documentário, chegamos até ao vosso blogue sobre as campanhas na Guiné onde fazem referência ao tenente coronel Correia de Campos. Neste contexto venho saber se têm na vossa posse algumas fotos com  o sr. tenente coronel Correia de Campos que possamos usar no nosso documentário.

Desde já os meus agradecimentos.

Melhores Cumprimentos,
Teresa Sousa



2. Resposta do editor LG:

Olá, obrigado pelo contacto.. Temos poucas referências, uma meia dúzia, ao então tenente coronel António [Valadares]  Correia de Campos,  comandante do COP 3 e um do bravos de Guidaje.

Os oficiais superiores não se deixavam facilmente fotografar... pela "tropa macaca"... Talvez o nosso camarada José Manuel Pechorro a possa ajudar...Ele foi também um dos bravos de Guidaje e foi entrevistado pelo Joaquim Furtado para série "A Guerra"... Junto segue 9 contacto de email do Pechorro, membro da nossa Tabanca Grande. Outrso camaradas nossos também o conheceream e sercviram sob as suas ordens. Creio que era de Viseu e já faleceu.

Boa sorte,
Luís Graça


3. Resposta da Teresa Sousa:

Boa tarde

Muito obrigada pela sua resposta.

Tem sido uma aventura encontrar uma foto do tenente coronel Correia de Campos! Nem Centro de Documentação 25 de Abril nem Associação 25 de Abril... só uma,  do Arquivo do Exército,  mas péssima. Estou a tentar encontrar alguém que tenha convivido com o senhor e que talvez possa ter 1 foto da época.

Muito obrigada pelas informações
Se precisar de alguma coisa, disponha. (**)

Teresa Sousa
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de:


29 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1325: Memórias de Mansabá (7): O Comandante do COP 6, Correia de Campos, e as Minas na Bolanha de Manhau (Carlos Vinhal)

16 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

2 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973


12 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8663: (Ex)citações (147): Guidaje – 1973. Esclarecimentos (José Manuel Pechorro)

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16988: Em busca de.. (273): Armindo da Luz (ou Cruz?) Ferreira, ex-1.° cabo n.° 300, 1.° Batalhão Expedicionário do RI 11 (Cabo Verde, Ilha do Sal e Ilha de Santo Antão, junho de 1941 - dezembro de 1943), avô de Albertina Gomes (médica, Noruega)... Diligências do nosso blogue e colaboradores, Augusto Silva Santos e José Martins

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15763: Blogoterapia (275): Paisagens que dão tanta beleza à vida, abulia e esquecimento (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 13 de Fevereiro de 2016:


PAISAGENS QUE DÃO TANTA BELEZA À VIDA, ABULIA E ESQUECIMENTO

Para combater o excesso de peso, e a ferrugem dos músculos e articulações, males provocados pela idade e  pelos excessos alimentares, muitas vezes na companhia de amigos e camaradas, faço muitos passeios sozinho, em marcha forçada, no Parque da Cidade que fica perto da minha casa. Habituado desde muito jovem na minha aldeia, às longas caminhadas que me levavam a todos os sítios da sua área agrícola e florestal, ultimamente  comecei a sentir saudades desses espaços mais  amplos e diversificados, com outra lonjura dos caminhos do Parque, que consigo percorrer numa hora.

Pelo prazer das caminhadas, dos espaços amplos e das paisagens que entram pelo olhar e dão tanta beleza à nossa vida, recordo-me também dos anos da Guiné e das caminhadas que fiz por lá, com melhores pernas do que actualmente.

Porto - Vista do Parque da Cidade

Nos primeiros meses em Buba, fiz grandes caminhadas com o pelotão, que já mostrava alguns sinais de cansaço para acompanhar o periquito, que eu era, pois eles já tinham sete meses de mato.
Sem nunca sair para fora da área que estava atribuída à companhia eu achava que devia ter conhecimento do terreno, para maior segurança psicológica, pela utilidade que poderia ter nalguma emergência, por outro lado era também levado pela curiosidade em explorar as paisagens de floresta e bolanha que me rodeavam. Nesses  longos "passeios" tivemos a sorte de nunca nos cruzarmos com o inimigo, e confesso que como amante da vida ao ar livre e da natureza, foi das melhores experiências que tive na Guiné.

Problemas e azares, de que já falei, houve depois, nos últimos meses da comissão, para lá dos ataques mensais ao aquartelamento, que o Nino Vieira parecia fazer para cumprir calendário, que nos assustavam mas  nunca magoavam ninguém. A norte da bolanha dos Passarinhos, que tínhamos que cruzar na estrada de terra batida, que nos ligava a Nhala, para fazer protecção às frequentes colunas de reabastecimento, havia  uma enorme bolanha, que já não recordo se seria a sua continuação ou outra. Nesta grande área de bolanha só estive uma vez, com toda a companhia e terá sido das poucas vezes que o capitão saiu. Gostei muito de conhecer esse enorme descampado pouco arborizado e rodeado de floresta, talvez por alguma nostalgia da parte planáltica da minha aldeia, onde se cultivava o trigo e o centeio.
A nossa imaginação transporta para toda a parte as cópias das gentes e das paisagens onde nascemos e fomos criados e gostamos de as encontrar projectadas noutros ambientes. Fui algumas vezes na direcção de Fulacunda, que sendo bastante distante de Buba, parecia-me que havia entre as duas tabancas, muita terra de ninguém que poderia ser controlada pelo PAIGC. Fulacunda que talvez por ter um nome sonante e quase mágico e pela vizinhança confinante com Buba ainda que um pouco distante, sempre foi para mim um mistério a  despertar a minha curiosidade.

O José Teixeira, que fez tropa em Buba, antes de mim, e é um grande andarilho, que já voltou algumas vezes à Guiné, falou-me duma povoação nessa direcção, não muito longe de Buba, controlada pelo inimigo, segundo testemunho que recolheu junto de habitantes dela. Nunca soube ou não me apercebi da existência dessa tabanca. Saindo de Buba, próximo da pista de aviação, havia um troço de estrada abandonado, onde já crescia algum mato, que segundo parece não levava a parte nenhuma, que eu nunca percorri em toda a sua extensão até por ser um caminho muito exposto. Terá sido uma tentativa frustrada de abrir uma estrada, no tempo de companhias anteriores, na direcção de Aldeia Formosa.
Na direcção de Empada, a sudoeste, só me recordo de ter ido duas vezes com dois pelotões, numa espécie de patrulhamento sem outro objectivo definido, que não fosse observar se haveria vestígios da passagem ou actividade do inimigo, que por vezes nos atacava dessa zona, ainda perto do quartel, do outro lado do Rio Grande Buba.

Paisagem da Guiné - Pôr-do-sol no Pelundo

Depois de Buba, rumei para Mansabá, recomendado, por erro de casting, como bom combatente, como me chegou a dar a entender o Capitão Abreu, Comandante do COP, e para aborrecimento do capitão miliciano da companhia, que chegou uns dias depois de mim, Economista na vida civil e que tinha tanto jeito como eu para a vida militar.  Bom homem esse capitão, pois se ele fosse rigoroso na aplicação do RDM, eu provavelmente teria cumprido mais alguns meses de Guiné.
Mal recordo a actividade operacional. Lembro-me de fazermos uma operação, no sentido contrário à mata do Morés, não recordo qual o objectivo. Sei que andei muito tempo a pé por uma mata bastante densa e não me recordo porque motivo cheguei a andar de helicóptero, talvez para ver a paisagem.
Foi nessa ou noutra operação, que de manhã cedo a companhia estava toda formada na parada à minha espera, e o capitão danado pela minha demora, e eu a chegar  impassível e abstracto a olhar para ele.
Já escrevi algures no blogue que por muita pena minha nunca pude entrar na mata do Morés, por proibição conjunta do PAIGC e das autoridades militares, já que nessas operações somente eram utilizadas tropas especiais. Mas eu gostaria tanto de conhecer essa grande extensão de floresta, de preferência sem tiros nem bombas.

Pelo prazer que sempre tive em conhecer os campos e florestas da Guiné, se revelam as minhas origens camponesas. Se pudesse tinha dado a volta a toda a Guiné a pé.

Por causas várias que talvez não consiga analisar objectivamente, ou porque isso não me agrade agora, reconheço que nos meses passados em Mansabà, já estava um pouco "apanhado pelo clima" e o meu comportamento reflectiu bastante isso, confirmado recentemente pela minha irmã, mais próxima da minha idade, que há dias me falou do meu regresso a casa.

As nossas irmãs, essas jovens que desde cedo desenvolviam em relação a nós, uma mistura de sentimentos fraternais e maternais e alguma admiração e curiosidade pelas  nossas diferenças físicas e psicológicas.
As nossas irmãs, que nesses anos de aflição das famílias, acrescentavam tanto carinho e afectividade à que nos era dedicada pelos pais e que, segundo ela, eu tratei com tanta indiferença quando regressei. Nunca demos muito realce ao amor e sofrimento dessas jovens como se elas fossem obrigadas a isso por dever familiar. Tantos anos passaram e só agora esta irmã me fez esta "queixa", que surgiu somente, por acaso, no decorrer de uma conversa sobre o passado comum.

Outros factos que não sabia e outros que esqueci, por exemplo que a minha mãe chorava muito porque eu não dava notícias, e ela culpava as filhas por me escreverem pouco quando isso até não seria verdade. Note-se que a nossa mãe tinha a quarta classe mas bastante ocupada nas múltiplas tarefas que tinha que fazer no lar, cozinhar, costurar, chulear, tecer e outras, entre as quais ir na burra à horta, uma grande paixão para além dos filhos, encher as alforjes com as diferentes qualidades de hortaliça, atribuía a responsabilidade da escrita dos aerogramas às filhas.

Talvez esse estado de espírito, de que falei, em que se misturava abulia e esquecimento tenha varrido da minha memória muito do que se passou e vivi em Mansabá. Algumas recordações conservo e já aqui falei delas, sobretudo a cordialidade e camaradagem que senti da parte de todos.

Durante muitos anos, como muitos camaradas, voltei as costas à Guiné, quis esquecê-la e riscar da minha vida os dois anos que por lá passei. Há três anos, com a descoberta do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" e com a premência causada pelos dias intermináveis dos primeiros meses da reforma e o avançar da idade, comecei a sentir mais a necessidade de fazer um balanço da minha vida pelo que tentei explicar e integrar esses dois anos na corrente e sucessão dos outros de forma a reconciliar-me com a memória dos tempos de brasa da juventude.

Um abraço.
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15737: Blogoterapia (274): Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto, CART 3493, Mansambo, Fá Mandinga, Bissau, 1972/74)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12316: Blogoterapia (240): Penso na Mata do Morés e chego a sonhar que a conheci (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista*, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 12 de Novembro de 2013:

Sete meses em Mansabá na CART 2732, tão perto do Morés e nunca lá entrei. No Morés o PAIGC tinha uma base importante e por esse motivo, de acordo com a estratégia da guerra adoptada nesse tempo pelos nossos comandantes militares somente as tropas especiais eram mobilizadas para operações de ataque a bases do inimigo.

Em finais de 1971, estava eu em Mansabá, houve uma grande operação realizada por duas Companhias de Comandos Africanos, segundo recordo e onde foi de heli o Major Gaspar (conhecido por Siga a Marinha) na altura comandante do COP 6.

Na antevéspera do dia da operação foram deslocadas armas pesadas de longo alcance para o destacamento de Cutia que bombardearam durante muito tempo.as referidas bases. Aviões, bombardeiros e a jacto também bombardearam intensamente a zona.

No dia da operação segundo o major Gaspar que me encontrou no bar quando regressou somente encontraram população, velhos, mulheres e crianças que não terão sido muito bem tratados. Depois do barulho dos morteiros, dos obuses e dos aviões dos dias anteriores, que nós sentimos no quartel, não seria de prever outra coisa. O objectivo da operação seria penso eu, amedrontar as populações sujeitas à influência do inimigo e expulsá-las dessas áreas Para esse tipo de operações, já que praticamente não havia confronto com a guerrilha talvez, por outros motivos, até fosse mais vantajoso usar tropa normal.
Porém a guerra limpa ou suja era feita nos gabinetes de ar condicionado, pelos nossos comandantes em Bissau e ordens não se discutiam.

Terá sido a última operação em que o major Gaspar participou pois alguns dias depois foi chamado a Bissau e constou-se que numa noite de bebedeira andou ele e outro camarada aos tiros à bandeira nacional. Foi internado por psiquiatria e enviado para Lisboa. Segundo já li no nosso bloge terá morrido cedo. Foi uma vitima de muitas guerras. Esteve na Índia, na Guiné duas vezes e não sei se também Angola ou Moçambique. Por tédio, desilusão, cansaço da vida, terá procurado no álcool a paz que não encontrou na realidade dura duma guerra muito prolongada. Era um homem bem disposto e com tiradas muito cómicas, de que ouvi falar antes de o conhecer e que eram comentadas por toda a Guiné. Do pouco tempo que convivi com ele guardo a impressão dum homem bom e sensível. Um poeta que por erro de vocação foi para a vida militar e que por uma contingência histórica desfavorável teve que combater em vários teatros de operações.

Voltando ao Morés, o que me atraia nele não era o confronto militar mas antes a possibilidade de percorrer uma grande floresta tropical.
Na Guiné havia muitas árvores, havia muita matas, mas a mata grande de que se falava era a do Morés.


Na aldeia onde nasci e vivi até à idade adulta havia e há muitas árvores, muitas matas. Cresci a contemplar essas árvores tão variadas entre elas, umas mais largas e frondosas, outras mais altas, com folhagem em vários tons de verde, umas de folha perene, outras de folha caduca.
Há uma área grande de oliveiras, plantadas pelo homem, em décadas e séculos anteriores em socalcos nas encostas do rio Sabor. Quando a cultura do trigo e do centeio deixou de ser rentável os lavradores passaram também a plantar no planalto onde já há grandes olivais.

Nos vales e lameiros, zonas mais frescas, há ainda muitos freixos. Havia também muitos olmos mas há cerca de 30 anos veio uma praga da Europa e os olmos secaram todos. Havia também um grande souto de castanheiros que estando embora em terrenos pertencentes à Junta da Freguesia eram propriedade dos naturais da aldeia. Infelizmente também veio uma doença, o cancro do castanheiro e morreram todos.Alguns pinhais, não muito extensos.

Há uma mata de sobreiros bastante extensa, com muitos arbustos sobretudo giestas e estevas a disputar-lhe o espaço.
Há outras árvores dispersas tais como o carvalho, o carrasco, o zimbro, a amoreira e a figueira.

Todas úteis pela gama de produtos variados que proporcionam à economia da terra, casca, folhas, frutos, madeira, lenha e até uma sombra acolhedora nos dias quentes de verão. Do sobreiro estrai-se a cortiça para o fabrico de rolhas e outros derivados, dá ainda a bolota para alimento dos animais. Da oliveira o azeite. As folhas do freixo e do olmo também eram boas para alimento dos animais.

Todas as árvores e até os arbustos tais como as estevas e giestas boas para queimar nas lareiras, cozinhar os alimentos e aquecer as noites frias de inverno.
Da madeira de algumas também se faziam os arados, os carros de bois, as vigas das casas e outros bens necessários à comunidade.

Durante muitos anos ajudei a família a extrair os vários produtos que elas generosamente proporcionavam, aprendendo a conhecer a sua utilidade, sem me surpreender com a sua beleza. A distância, a ausência, a novidade ajudam a revelar o encanto e a beleza que o convívio quotidiano por vezes esconde.

Pela distância aprendi a amar mais a minha terra, aprendi a amar mais as árvores da minha aldeia quando estive longe delas na Guiné. Lá aprendi a amar as suas grandes árvores tropicais pela sua altura e pelo mistério das suas florestas semelhantes a grandes catedrais com muitas colunas verdes.

A idade dá-nos também uma visão mais calma, mais abrangente. A experiência dos anos ensina-nos a utilizar os vários sentidos e a conjugá-los com o raciocínio mental. A beleza na sua plenitude revela-se mais quando atingimos as alturas da idade e da nossa sabedoria.

Há muita poesia nos olhos dos mais velhos. Quem não recorda a miséria das populações da Guiné, que tinham de ser alimentadas com arroz importado pelo governo, por causa da guerra e apesar disso os homens grandes das tabancas tinham sempre um ar nobre e calmo.

Porque nasci no campo, porque fui lá criado, tinha muita curiosidade em conhecer os campos e as florestas da Guiné, daí a minha vontade em conhecer a mata do Morés.

A floresta da minha aldeia é muito diferente. É floresta mediterrânica ao passo de que a da Guiné é floresta tropical. Mas quem aprendeu a amar uma também facilmente pode gostar da outra. Dos meus tempos de Buba recordo com saudade uma árvore enorme e frondosa que havia não longe do terminus do rio Grande de Buba. Bem, este era um falso rio, já que na realidade era um braço de mar, como havia tantos na Guiné, a cerca de 3 quilómetros de Buba acabava o rio. Não longe, numa mata de árvores com alguma extensão sobressaía uma pela altura, pelo um tronco largo, com veios salientes que entravam na terra e pela ramagem farta.
Aquela árvore era um monumento vivo. Hoje quando penso em Buba ela vem quase sempre associada. Tinha saúde para viver ainda muitos anos, oxalá ainda exista.

Penso na mata do Morés e chego a sonhar que a conheci.

Um abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12186: Blogoterapia (239): O meu primeiro contacto com a África selvagem e misteriosa (Francisco Baptista)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12293: Breve historial da madeirense CCAÇ 2446 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 11 de Outubro de 2013:

Bom dia
Conforme explicação dada no próprio texto, segue a história da Companhia de Caçadores 2446, mais uma Companhia Madeirense, como tributo à memória de mais um dos nossos valentes enfermeiros, desta feita o Ângelo Jorge Conde Vitorino.

Bom fim de semana.
José Martins






segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11957: Tabanca Grande (408): Francisco Maria Magalhães Baptista, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Francisco Maria Magalhães Baptista*, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 8 de Agosto de 2013:

Pretendo escrever uma breve história da minha passagem pela Guiné, mas entretanto, há poucos dias estive com uma irmã, mais nova que eu dois anos, que me que me surpreendeu com uma história do meu regresso, que eu não lembro de todo, e passo a contar pela impressão que me causou e pelo facto de a ter apagado completamente da memória.

A minha história da Guiné começa pelo fim.
Regressei a Lisboa, de avião, em 19 de Março de 1972, integrado na CART 2732, onde estive os meus últimos oito meses de comissão.
Depois do desembarque tínhamos que passar por um corredor, envidraçado dum lado, que nos separava duma sala com poucas condições (mais parecia um curral), onde estavam os nossos familiares e amigos que nos esperavam. Não podíamos contactar com eles logo pois tínhamos que ir primeiro cumprir certas formalidades que hoje não recordo.
O meu pai e esta irmã foram esperar-me.

Ainda antes do nosso desembarque, segundo a minha irmã, entrou nessa sala uma jovem senhora muito chorosa e revoltada, querendo saber o que teria acontecido ao marido, que era da companhia que chegava. Ela face a elementos e desconfianças que não são claros hoje, não acreditava muito na morte dele nem na versão oficial que lhe tinham dado. Punha até a hipótese de ele estar vivo e preso por lá. Queria falar com camaradas dele para se informar devidamente, pois não queria acreditar nas explicações dadas.

Nessa idade deve ser muito difícil acreditar que alguém que amamos, que praticamente faz quase parte da nossa identidade morreu. Porque essa pessoa vive em nós pois o amor confunde corpos e almas sobretudo quando se é jovem. Compreende-se a atitude de descrença dessa jovem senhora na morte do marido. Além do mais ela de certeza que não viu o seu homem morto um aspecto muito importante para se puder fazer o luto. Até nisso as viúvas e familiares dos nossos camaradas mortos nas antigas colónias foram duplamente castigados, pois penso, que nunca podiam confirmar essa notícia.
Na opinião da minha irmã essa jovem senhora era muito bonita.

O nosso pai terá ficado muito nervoso e sensibilizado, pela dor e pela beleza da jovem e querendo ajudá-la disse-lhe que o filho vinha nesse avião e possivelmente lhe daria informações.

Quando passamos no corredor essa senhora terá tentado falar comigo, através da divisória de vidro, não sei se conseguiu, a minha irmão não se recorda.
Posteriormente quando pudemos contactar os nossos familiares, o meu pai ter-me-à pedido para eu falar com ela. Eu não terei acedido ao seu pedido, tendo até ficado aborrecido com a sua insistência.
O meu pai viveu mais 5 anos e terá perguntado algumas vezes pelo nosso camarada, marido dessa senhora. As minhas respostas terão sido lacónicas e evasivas.

Olho para trás e não me reconheço porque eu tenho muitos defeitos mas sempre fui solidário como qualquer pessoa normal e este comportamento é até pouco humano
Desde o meu regresso já se passaram cerca de 43 anos, é natural que o tempo vá apagando muitas coisas da memória mas há acontecimentos como este que deviam deixar marcas quase perenes mas eu não recordo nada desta história triste, é natural que algum camarada ou familiar se tenha apercebido do que se passou, não sei. Pelo conhecimento que tenho da minha irmã tenho a certeza que esta senhora existiu, mas talvez pelo tempo já passado os pormenores poderão estar esbatidos ou um pouco alterados pela imaginação dela. Oxalá esta jovem senhora tenha conseguindo respostas satisfatórias às suas perguntas de forma a poder aliviar a enorme dor que terá sentido com a morte do marido.

Fui convidado pelo amigo Carlos Vinhal, com quem estive oito meses na CART 3732 e reencontrei neste blogue, a aderir a esta tertúlia e como me identifico com os seus ideais e objectivos, decidi apresentar a minha candidatura, pois será uma honra pertencer a este grande batalhão que cobre Portugal e a Guiné inteira, comandado com muito mérito pelo Luís Graça e outros camaradas que colaboram, entre os quais o Carlos.

Uma saudação fraterna a todos os camaradas, pois nalgum tempo e espaço, já todos fomos irmãos, nas vivências; no sol quente e por-dos-sóis multicolores, nas paisagens maravilhosas do mar, das florestas e bolanhas, nas chuvas sem fim que alagavam os dias e as terras, nos fados da Amália e baladas do Zeca Afonso, em noites de nostalgia e bebedeira, nos medos das minas, das emboscadas e bombardeamentos, na dor e na raiva dos camaradas mortos e feridos.
Mas julgo que todos nós conservámos as qualidades primordiais que fazem com que o jovem que cada um era, não se deixasse degradar demasiado com o passar dos anos e não perdesse o que deve ser perene na alma humana, a solidariedade, a amizade, enfim a boa camaradagem.

A todos um grande abraço
Francisco Baptista


2. Comentário do editor CV

Caro camarada e amigo Francisco
Em boa hora me contactaste, descobrindo-me através deste Blogue, que é maior que o Mundo, onde os ex-combatentes da Guiné se vão encontrando e convivendo.

Vens juntar-te, no Blogue, a mim, ao ex-1.º Cabo Inácio Silva, que estava instalado no "condomínio/abrigo" da Mancarra e ao ex-Cap Mil Jorge Picado que teve a honra e o privilégio  de comandar a nossa CART durante sensivelmente 3 meses. Vê tu que até foi a Fátima a pé nesse espaço de tempo. Vê o recorte da carta de Binta:

Fátima, localizada a leste de Madina Mandinga. Carta de Binta

Tens aqui uma foto dos felizes condóminos da Mancarra. Em primeiro plano, de cócoras o ex-1.º Cabo Ornelas, apontador do morteiro 60, da minha secção/3.º Pelotão do ex-Alf Mil Bento, de quem te deves lembrar, e sentado, o Inácio Silva que tinha seu cargo uma Breda para contrariar as investidas dos nossos indesejáveis vizinhos. O Ornelas, como não podia enviar as suas granadas de dentro do abrigo, fazia-o cá fora ao ar livre. Homens valentes, estes madeirenses.
No teu tempo já o Inácio Silva estaria impedido na secretaria do COP 6.
Ainda hoje, felizmente, mantenho contactos regulares com ambos.

Era esta a malta do abrigo da Mancarra que assegurava a defesa de Mansabá no sector Norte do aquartelamento
Foto ©: Inácio Silva

Para guardares, deixo-te também aqui uma vista aérea de Mansabá, do nosso tempo. Vê se te lembras onde era o teu quarto.

Vista aérea de Mansabá
Foto ©: Carlos Vinhal

Tive o imenso prazer de te reencontrar em Leça da Palmeira, naquele famoso restaurante, propriedade de um colega de escola primária da 1.ª à 4.ª classe do ensino primário. Vê tu, onde me fizeste passar pela vergonha de me homenageares pelo trabalho que aqui faço, com imenso prazer. Valeu-me a presença de alguns amigos comuns para que não ficasse de todo inibido.

Quanto à tua história, a misteriosa senhora que queria falar contigo poderá ter sido quem pensamos, mas não podemos confirmar, logo ficamos por aqui. Já agora fica aqui declarado por quem sabe, eu, que tu não estavas em Mansabá na altura daquele funesto acontecimento.

Como este poste já vai longo, quero deixar-te um abraço em nome dos editores e da tertúlia, e os votos de que remexendo no fundo das tuas memórias, encontres matéria para nos enviares histórias passadas nas duas unidades em que militaste.

Abraço do camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Notas do editor

(*) Vd. postes de:

26 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11873: O Nosso Livro de Visitas (167): Francisco Maria Magalhães Batista, ex-Alf Mil, integrado na CART 2732 em Setembro de 1971 (Carlos Vinhal)
e
29 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11882: Blogpoesia (351): "Conversas sem pressas", por Maria de Lourdes dos Anjos (Francisco Batista)

Último poste da série de 9 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11919: Tabanca Grande (407): José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6690: O Nosso Livro de Visitas (93): Morais da Silva, de Fá a Gadamael (1970/72): Instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael


1. Por lapso, não chegou a ser convenientemente apresentado, na devida altura, o Cor Art Ref Morais da Silva, nosso leitor, autor de um pequeno estudo estatístico sobre a Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate, já aqui publicado:


Nota enviada, por mail, a pedido do editor L.G., com data de 28/4/2010


(i) Combati em Angola como Alferes (Lucusse e Ninda) e onde frequentei o curso de Comandos;

(ii) Regressei a Lamego onde fui instrutor de tropas Comando;


(iii) Parti para a Guiné em Setembro de 1970;

(iv) Fui instrutor da 1ª Comp Cmds Africana sobre combate de rua (Fá, Setembro/Outubro de 1970;

(v) Fui adjunto do COP 6 em Mansabá (estrada Mansabá-Farim) em Nov/Dez 70 e Janeiro de 71; 

(vi) Avancei no fim de Janeiro de 1971 para o comando da CCaç 2796,  em Gadamael,  quando da morte em combate do seu comandante, meu camarada de curso e amigo Capitão de Infantaria Assunção Silva;

(vii) Fiquei, a meu pedido, no comando desta companhia até ao final da comissão em Outubro de 72.

Regressado à Metrópole...

(viii) Fui Comandante da 1ª Companhia de Alunos da AM [, Academia Militar];

(ix) A partir de 1978, com interrupções para fazer tempo de comando, tempo de guarnição e cursos (no IAEM e EUA),   fui professor, na AM, de Tiro de Artilharia, Táctica de Artilharia, Geometria Descritiva e Investigação Operacional.

(x) A partir de 1991 mantive a cadeira de Inv Oper na AM e passei a colaborar com o Instituto Superior de Gestão onde regi a disciplina até 2005;

(xi) Por algum tempo, regi esta disciplina na Universidade Moderna e na UAL.
Eis, em síntese, a minha vida profissional e académica. Agora pago a promessa de fazer este trabalho, divirto-me a manter o meu site de Inv Operacional, em www.moraissilva.com, (esteve fechado por razões de saúde e começa agora a recuperar "freguesia"), apoio os filhos dos meus amigos e extasio-me a ver crescer um neto de 3 anos.
Morais da Silva


[ Revisão / fixação de texto: L.G.]
 ___________________



Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de  7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6687: Controvérsias (93): Nunca entendi a querela QP-Milicianos... O fim do serviço militar obrigatório foi um desastre nacional (Morais da Silva, Cor Art Ref)