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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27491: Recortes de imprensa sobre o império colonial (3): a nau "Portugal", vida e morte de uma réplica de um galeão quinhentista, que foi uma das principais atrações da monumental Exposição do Mundo Português (Lisboa, 1940) - Parte II



Lisboa > Exposição do Mundo Português (23 de junho a 2 de dezembro de 1940 > A "Nau Portugal", réplica de um galeão da carreiar da Índia (Fonte: Cortesia de Wikimedia Commons. Imagem do domínio público.)


1. A nau “Portugal” foi construída nos estaleiros navais da Gafanha da Nazaré, do mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com o propósito de integrar a Exposição do Mundo Português de 1940.

 Idealizada pelo cineasta Leitão de Barros com o objetivo de mimetizar um galeão português da carreira da Índia, teve uma história atribulada: o seu lançamento á água correu mal e o fim foi trágico.

De facto, no dia do "bota-abaixo",  7 de junho de 1940, a nau acabou por tombar, para grande desilusão e tristeza de todos os presentes.

Esse momento, e os trabalhos de recuperação  da Nau "Portugal", podem ser visionados num excerto do documentário,  realizado por António Lopes Ribeiro, em 1940, para o Jornal Português  no. 22. (O vídeo está disponível na Cinemateca Digital da Cinemateca Portuguesa: vd. A partir de 12' 26''.

Ficha técnica:
Lançamento ao mar da nau "Portugal"
Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema
373 mil visualizações

Jornal Português nº 22 | A Nau Portugal (a partir de 12' 26'') 
Portugal, 1940
Género: Atualidades
Duração: 00:16:02, 24 fps
Formato: 35mm, PB, com som
AR: 1:1,37
 





Anúncio da Exposição do Mundo Português. "Diário de Lisboa", 7 de setembro de 1940, pág.2. O jornal avulso custava 40 centavos. O ingresso geral na Expo 40 era de 2$50 (e 3$50, com entrada no "parque de atrações,  com direito a um divertimento grátis"). Para uma família lisboeta de classe trabalhadora era caro. Mesmo assim, a Expo 40 teve 3 milhões de visitas.


Fonte: (1940), "Diário de Lisboa", nº 6393, Ano 20, Sábado, 7 de Setembro de 1940, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_25593 (2025-12-4)




Anúncio da Exposição do Mundo Português. "Diário de Lisboa", 18 de agosto de 1940, pág.2

Fonte: (1940), "Diário de Lisboa", nº 6373, Ano 20, Domingo, 18 de Agosto de 1940, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_25723 (2025-12-4)


Levou 3 meses a recuperação da nau, depois do desastroso "bota-abaixo" (que afetou a reputação dos estaleiros Mónica, considerados um dos melhores do país em matéria de construção de navios em madeira, responsável pela renovação de grande parte da Frota Bacalhoeira, sob os auspícios do Estado Novo, estaleiros que a partir de 1953 entraram em decadência). 

A Exposição do Mundo Português foi inaugurada em 23 de junho de 1940, e a Nau Portugal só passou a estar pronta para receber visitas a partir de 7 de setembro, já o certame ia a meio. Nesse dia, o ingresso geral na Expo passou era de 1$5'( nos outros dias, 2$50). A inauguração contou com a presemça do Chefe de Estado e de Governo.

2. Mas o que é correu mal com a Nau "Portugal" ? Terão sido sobretudo os aspetos técnicos do desenho e construção.

Aqui ficam os principais aspetos técnicos ligados à construção da nau “Portugal” em 1940,  e as razões pelas quais acabou por se revelar tão instável e .... inavegável. Naufragou no "bota-abaixo"

(i)  Construção pensada como “cenografia”, não como "navio para navegar" 

A nau foi desenhada sobretudo para efeito cénico e  visual na Exposição do Mundo Português. Isto significa que muitas das decisões, na ausência inexplicável de um engenheiro construtor naval  (!),  subordinaram-se a critérios estéticos:

  • estruturas reforçadas onde era preciso “parecer robusto”, e  não “ser robusto” 
  • ausência de cálculos rigorosos sobre estabilidade transversal;  proporções idealizadas com base em gravuras e pinturas, não em planos navais históricos.

Este é o ponto de partida para quase todos os problemas seguintes.

(ii) Problemas de estabilidade e centro de gravidade

O erro mais crítico terá sido o centro de gravidade que estava demasiado alto. Eis as razões: 

  • as superestruturas (castelos de proa e popa, mastros, ornamentação) eram pesadas e elevadas;
  • a quilha e as obras vivas (a parte submersa) estavam subdimensionadas;
  • o  casco tinha forma pouco profunda e sem lastro adequado.

Resultado: quando foi lançada à água ( "bota-abaixo", como se diz na gíria),  a nau tombou para o lado, exatamente como um objeto mal equilibrado.

Num galeão do século XVI/XVII, o casco seria muito mais profundo e largo na linha de água, garantindo estabilidade mesmo com mastros altos. A réplica ignorou isso.

(iii) Materiais utilizados

Apesar do aspeto histórico, a nau não foi construída como um navio tradicional:

  • madeiras diversas, algumas não adequadas à resistência estrutural;
  • revestimentos decorativos sobrepostos a estruturas simples;
  • elementos “fingidos”: peças feitas para parecerem pesadas sem o serem, ou vice-versa.

Isto contribuiu para uma distribuição de peso caótica.

(iv)  Falta de planos navais rigorosos

Na década de 1940 Portugal não tinha acesso completo a planos originais de galeões quinhentistas: muitos simplesmente não existiam ou eram incompletos.  Mas tinham bons engenheiros construtores navais.

A solução que se adotou foi “recriar” com base em:
  • iconografia dos Descobrimentos;
  • descrições literárias;
  • modelos estilizados do imaginário imperial do Estado Novo.

Ou seja: não se tratou de uma reconstrução te nica e científica fundamentada, mas de um idealização estética.

(v) ) Modificações de emergência após o acidente

Depois de tombar, a nau teve de ser reequilibrada à pressa:

  • adição de lastro no fundo;
  • pequenas correções de peso;
  • fixação para ficar estática como peça cénica.

Mesmo assim, nunca ficou realmente estável. Por isso a nau não navegou: foi de reboque do porto de Belém até ao rio Tejo, ficou sempre ancorada, essencialmente como cenário flutuante. 

O seu interior foi ricamente ornamentado com obras de arte, mobiliário, tapetes e talhada dourada do património nacional (que depois levaram sumiço...). Foi inaugurada em 7 de setembro com a presença do presidente da república gen Oscar Carmona e o presidente do conselho Oliveira Salazar.

3. Falaremos, em próximo poste, sobre o ou um dos  "projetistas" da réplica,  comandante Quirino da Fonseca (Funchal, 18634 - Lisboa, 1939, oficial da Marinha Portuguesa e um dos maiores especialistas portugueses em arqueologia e arquitetura navais, da época dos Descobrimentos, sendo autor de obras de referência como "Os Portugueses no mar: memórias históricas e arqueológicas das naus de Portugal" (1926).

O projeto foi baseado nas suas investigações aprofundadas em desenhos antigos e descrições técnicas de navios dos Descobrimentos. 

Quirino da Fonseca não era um engenheiro construtor naval... E isso ajuda a explicar por que é que o projeto final, executado para a Exposição, teve sérios problemas de estabilidade. O mestre construtor, Manuel Maria Bolais Mónica, da Gafanha da Nazaré, chegou a expressar dúvidas de que a embarcação pudesse estabilizar ao ser lançada à água, o que infelizmente se confirmou com o naufrágio da nau, no dia do lançamento, necessitando de métodos "pouco ortodoxos" para ser recuperada, reabilitada e rebocada para Lisboa  (aonde chega a 2 de setembro) e cumprir a sua função  expositiva.

Para ver mais imagens: 



4. Comentário adicional de LG:

É bom recordar que a Exposição do Mundo Português (que decorreu de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940) foi naugurada e realizada no auge da Segunda Guerra Mundial, especialmente após a queda da França em junho de 1940:

  • ínício da invasão alemã (ataque aos Países Baixos e à França): 10 de maio de 1940.
  • entrada Alemã em Paris (e queda de Paris): 14 de junho de 1940.
  • assinatura do Armistício Franco-Alemão: 22 de junho de 1940;
  • entrada em vigor do Armistício: 25 de junho de 1940.

É verdade que Portugal era neutro. Sob regime do Estado Novo, liderado por António de Oliveira Salazar, Portugal manteve uma política de neutralidade durante o conflito (embora fosse uma "neutralidade colaborante", envolvendo-se em atividades económicas e de acolhimento de  refugiados). Este estatuto permitia ao país, em teoria, isolar-se dos horrores imediatos da guerra, embora se temesse uma possível invasão (quer dos alemães e dos espanhóis, quer dos Aliados). 

A Exposição fazia parte das Comemorações do Duplo Centenário(fundação e restauração da independência, 1140 e 1640, respectivamente) e foi um dos eventos politico-culturais mais importantes da história do  Estado Novo. 

O seu principal objetivo era a exaltação nacionalista, a glorificação da história de Portugal (em particular os Descobrimentos) e a afirmação da grandeza do Império Colonial Português.

Apesar da guerra lá fora (para além dos Pirinéus e no Atlântico), Lisboa, como capital de um país neutro, tornou-se um porto de abrigo e uma cidade cosmopolita, cheia de espiões e, mais importante, refugiados de guerra (muitos dos quais visitaram a Exposição). Havia uma bolha de aparente normalidade e festa em contraste com a tragédia europeia. Apesar do racionamento de bens essenciais e do "credo na boca"...

Para o regime, realizar um evento grandioso como a Exposição, celebrando a glória e a paz da Nação em contraste com o caos da Europa em guerra, servia para reforçar a imagem de estabilidade e ordem do Estado Novo e o seu papel providencial na História.

Visto à distância de 85 anos, o contraste era brutal: de um lado, a maior guerra da história, do outro, uma grande festa de propaganda nacionalista. Para o  regime do Estado Novo, a realização da Exposição em tempo de guerra foi sobretudo uma afirmação política e ideológica da sua "visão" para Portugal e o seu Império,

(Pesquisa: LG + Net + IA (Gemini, ChatGPT)

(Condensação, revisão / fixação de texto, título,. edição de imagens: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 2 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27484: Recortes de imprensa sobre o império colonial (2): a nau "Portugal", vida e morte de uma réplica de um galeão quinhentista, que foi uma das principais atrações da monumental Exposição do Mundo Português (Lisboa, 1940) - Parte I

domingo, 30 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27479: Recortes de imprensa sobre o império colonial (1): Sociedade Agrícola do Gambiel, Lda, Aldeia do Cuor, Bambadinca: entrevista a um administrador ("Portugal Colonial", nºs 55-56. set/out 1935)

 














Fonte: Excertos de Portugal Colonial: Revista de Expansão e Propaganda Colonial (Diretor: Henrique Galvão, 1895 - 1970-), Lisboa, nºs 55-56, setembro / outubro de 1935, pp. 12-13 (Cortesia de Câmara Municipal de Lisboa / Hemeroteca Digital)

Veja-se aqui a excelente ficha história sobre a recvista mensal "Portugal Colonial", de 9 páginas,  de Rita Correia. Publicaram-se 72 números, de março de 1931 a fevereiro de 1937. 

(...) Entre todas as colónias, Angola foi a que mereceu maior atenção, sobretudo nos primeiros anos. O assunto era caro ao diretor da Portugal Colonial, que ali viveu uma curiosa experiência, entre 1927 e 1929, que o catapultou da condição de degredado à de governador da província de Huila. 

Mas sobretudo porque a crise económica de Angola, filiada numa não menos gravosa crise financeira, teve um impacto significativo na vida da metrópole. Desde logo porque significou uma quebra nas trocas comerciais entre ambas, mas que foi mais penalizadora para a produção nacional,  em particular para a indústria têxtil e o setor dos vinhos, repercutindo-se também na atividade da marinha mercante, nas receitas tributárias, e nas transferências bancárias. 

MoDepois, porque desencadeou uma sequência de episódios e decisões que contribuíram para a clarificação do quadro político da Ditadura Militar, instituída pela revolução de 28 de Maio de 1926. (...) 


1. Há muitas referências no nosso blogue a esta Sociedade Agrícola do Gambiel Lda, que foi um fiasco, bem como ao regulado do Cuor, à Aldeia do Cuor, e ao rio Gambiel... 

Estes eram domínios do "Tigre de Missirá", o nosso amigo e camarada Mário Beja Santos (cmdt, Pel Caç Nat 52, 1968/70). Ele ainda hoje fala do Cuor com emoção e paixão.

 E outros camaradas do nosso blogue, como o saudoso Jorge Cabral,  cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) bem como a malta da CÇAÇ 12 (eu próprio, o Humberto Reis, etc.), temos recordações ainda muito vivas desses lugares, que palmilhámos muitas vezes, em patrulhamentos ou a caminho de operações mais a norte... 

Mas eu, pessoalmente, já não me recordo de ver os restos das instalações e das máquinas da Sociedade Agrícola do Gambiel Lda, se é que ainda existiam no nosso tempo... O Beja Santos julgo que sim, deve lá ter andado a vasculhar o sitio... 

Para quem ainda acredita, piamente, que o colonialismo  (português) nunca existiu, leia, com o devido distanciamento e espirito critico, este resumo de uma entrevista, que tem 90 anos, ao então administrador desta empresa agrícola, o ribatejano Sebastião Nunes de Abreu (que veio em 1930, de Angola, para se enterrar naquelas terras palúdicas do Cuor). 

Em 1935, ainda havia a distinção entre portugueses da metrópole, "assimilados" e "indígenas"... Mas uma empresa agrícola como aquela, onde foi enterrado bastante dinheiro em máquinas e equipamentos, não conseguia recrutar gente para nela trabalhar...

O entrevistador foi Armando de Landerset Simões, que  terá nascido em Moçambique, Caconda, em 1909. Além de funcionário da administração colonial, foi escritor e etnógrafo, tem 8 referências na Porbase. como Simões Landerset. Destaque para a sua obra, "Babel negra: etnografia, arte e cultura dos indígenas da Guiné" (Porto, Oficinas Gráficas de O Comércio do Porto, 1935) (prefácio de Norton de Matos).


2. Para melhor contextualizar a entrevista, acrescente-se que, em 1935, o diploma legal que regulava o trabalho indígena nas colónias portuguesas, incluindo a Guiné, era o Código do Trabalho dos Indígenas nas Colónias Portuguesas de África (sic), aprovado pelo Decreto n.º 16:199, de 6 de Dezembro de 1928.

Este Código estabelecia o regime jurídico do trabalho para os africanos considerados "indígenas" e tinha caráter obrigatório, embora a legislação colonial o apresentasse como uma forma de combater a "ociosidade" e promover a "civilização" (sic).

Todo o "indígena" á partida "não gostava de trabalhar": este era o preconceito básico do administrador, do chefe posto, do colono, do comerciante, de missionário e do soldado. Logo, "era preciso obrigá-lo". 

Principais aspetos do Código de 1928:

(i) Obrigatoriedade: impunha o trabalho obrigatório aos indígenas do sexo masculino, com exceções limitadas (como régulos, sobas e outros  chefes gentílicos, repatriados por seis meses, e homens alistados no exército);

(ii) Curador: criava a figura do "Curador dos Indígenas" e seus agentes (delegados, administradores), responsáveis pela "proteção, tutela e fiscalização" dos trabalhadores, mas também por distribuir os encargos de trabalho;

(iii) Contratos: regulava os contratos de trabalho, estabelecendo direitos e deveres para patrões e trabalhadores, mas com garantias que, na prática, permitiam o uso de métodos coercivos por parte dos patrões para manter a disciplina e evitar o abandono do trabalho (veja-se o drama dos "contratados" das roças de São Tomé);

(iv) Estatuto diferenciado: este Código integrava um sistema jurídico mais amplo que consagrava a inferioridade jurídica do indígena, afastando-o da legislação civil e penal aplicável aos cidadãos portugueses da metrópole (o chamado "Estatuto do Indigenato");

(v) a legislação sobre o trabalho indígena, depois de muitas críticas  (de instâncias internacionais como  a OIT - Organização Internacional do Trabalho, etc. ) foi posteriormente revista e alterada ao longo do período colonial, sendo o Código de 1928 substituído pelo Código do Trabalho Rural em 1962, através do Decreto n.º 44309.



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955)   (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Aldeia do Cuor, Rio Gambiel (afluente do Rio Geba), Missirá, Fá Mandinga e Bambadinca, uma das regiões mais exuberantes da zona leste, pela sua vegetação e hidrografia... 

O rio Geba (Estreito) entre o Xime, Mato Cão, Bambadinca e Bafatá espraiava-se por aquelas terras baixas como uma autêntica cobra, e originava riquíssimas bolanhas e lalas. No tempo das chuvas, redesenhava-se o curso do rio.  Imaginem uma viagem, de  "barco turra" no Xaianga (ou Geba Estreito).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27406: Agenda cultural (907): Museu Nacional de Etnologia, Belém, Lisboa: Prolongada até 30/11/2025 a Exposição: “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” ... Saiu, entretanto, a 2ª edição, revista e aumentada, do livro homónimo (Lx., Colibri, 2025, 360 pp.)


Benfica, mais do que um símbolo, uma "marca nacional"...  Foto da equipa, campeã europeia, tirada em frente ao Padrão dos Descobrimentos, outro ícone do Estado Novo.

Capa da revista "Benfica Ilustrado",  abril de 1961, nº 43. 
(Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa). 


"Ao serviço do Benfica e de Portugal"...Mais um exemplo da utilização (abusiva= do Futebol na propaganda do Estado Novo... (neste caso, da responsabilidade da direção do clube)

 Fonte: revista "Benfica Ilustrado", novembro de 1963, nº 74 (Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal).

Recorde-se quem eram os presidentes do Benfica nesta "época de ouro":  (i) Maurício Vieira de Brito foi o presidente durante a temporada 1960-61, culminando com a vitória na Taça dos Campeões Europeus; (ii) sucedeu-lhe em 1963 António Cabral Fezas Vital, que esteve no cargo até março de 1964; (iii) tendo-lhe sucedido Adolfo Vieira de Brito, irmão do Maurício...

O Futebol era então, pretensamente, um dos 3 Efes da nossa "identidade como povo" : Futebol, Fátima e Fado, ou Fado, Fátima e Futebol (a ordem dos factores era arbitrária).

Duas imagens que ilustram a Exposição, no painel sobre o lusotropicalismo e o(s) seu(s) uso(s) colonial(ais).






O futebol do Portugal  "plurracial e pluricontinental" foi outro dos domínios onde o "lusotropicalismo" assentou que nem uma luva... Veja-se a utilização da figura do moçambicano Eusébio ou da equipa do Benfica de 1961/62...

Imagens da exposição “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades”. Fotos: LG (2025)



1. Diz o António Rosinho que aqui falta a voz do "colonizado"... Bom, respondi-lhe que ela está presente,  nesta exposição, transmitida sobretudo pelos antigos estudantes da Casa do Império que depois vão ser os novos "senhores da guerra" (Amílcar Cabral, Agostinho Neto, etc. ). Há vídeos que são transmitidos em simultâneo com a exposição, com a sua cara, a sua voz, os seus discursos...

Concordo com o Rosinha num ponto (que é central): como todas as exposições sobre temas complexos de história, esta também é inevitavelmente redutora, como eram as aulas dadas no meu tempo, na universidade,   através do recurso ao "power point"  (e, antes,  das famosas "micas", em retroprojetor).

O objetivo é também didático e pedagógico:  a exposição há de a seguir, em  2026, passar por escolas de várias partes do país... "Uma seca, dirão os putos"... que já não gostam de ler e muito menos de história.

Com meia dúzia de "slides", neste caso, uns tantos pósteres, em oito painéis temáticos , arruma-se  uma período da nossa história co.um,  nossa e das ex- colónias africanas, agora países lusófonos africanos, que foi doloroso, fraturante e ainda é incómodo para muitos de nós,  portugueses, cabo-verdianos, guineenses, sao- tomenses, angolanos, moçambicanos, etc. 

É que as "guerras de descolonização" também foram "guerras civis" ou "interétnicas"... Só na Guiné cerca de 15 mil guineenses combateram, do lado das NT, contra o PAIGC... Este facto histórico não pode ser ignorada pelos historiadores... Claro, o mesmo aconteceu na Indonésia, na Argélia, no Vietname....

Falta também a crítica do anticolonialismo e pós-colonialismo, os seus mitos e realidades, incluindo os seus crimes (execuções sarias, fuzilamentos em massa, trabalho forçado nas "áreas libertadas"...).

Falta também a voz dos antigos combatentes ou dos últimos soldados do Império... Foram ignorados nesta exposição como "escória da História"... (Mas, concordo,  isso seria outra exposição, outra encomenda, outros olhares, outros arquivos, outras fontes.)

Faltam eventualmente outras abordagens teórico-metodológicas da colonização e descolonização... Está é ainda dominada pelo pensamento único. Falta-lhe o contraditório...

A história é uma ciência, mas ainda com muita conflitualidade de "escolas", isto é, conflitualidade  teórico-ideológica... Ainda é, e sempre o será.  

A Isabel de Castro Henriques e a sua equipa pertencem a uma "escola", o que não retira mérito ao enorme (diria mais: espantoso)  trabalho realizado, e que ainda pode ser vista até ao fim deste mês de novembro, no nosso Museu Nacional de Etnologia, instituição cultural pela qual eu nutro um especial carinho (mas que já teve dias melhores, nomeadamente com o meu amigo é professor Joaquim Pais de Brito: a falta de recursos humanos é gritante, chocou-me).

De qualquer modo, todos concordamos que uma foto e uma legenda "não dizem tudo", pode ser um cliché... E depois a maior parte destes especialistas, gente da academia, não viveu África (nem sequer lá esteve) como eu e o "colón" e retornado António Rosinha. Não viveu a África, colonial, a quente, a cores e ao vivo...Falta-lhes o "sangue, suor e lágrimas", o que não quer dizer que  não se pode fazer boa ciència, e logo boa história, sem estes "ingrientes" da ação. 

Os historiadores, de facto,  não têm que ser atores.  E muito menos cronistas. E na maior dos casos nem contemporâneos são dos acontecimentos. De qualquer modo, nenhum deles (e delas) terá apanhado o paludismo... nem muito menos bebeu a água do Geba ou do Quanza ou do Zambeze... 

As referências à Guiné nesta exposição são, de resto,  pobrezinhas, é a minha impressão, que já lá voltei para uma segunda visita, com visita guiada por uma afável brasileira, de origem portuguesa.  Mas a Guiné não conta, nem sequer era uma colónia de povoamento. Ou só conta porque é, equivocamente, a Pátria do Amílcar Cabral, de pai cabo-verdiano.  Que continua a ter auréola de santo junto de muito boa gente, enquanto o Spínola é diabolizado. 

E, por fim, e não menos importante: que fique clara a minha posição: o colonialismo (enquanto sistema de dominação política e económica) é indefensável. Hoje. Monárquicos e republicanos há 100 anos eram todos colonialistas. 

Temos de "descolonizar o nosso imaginário", Isabel ? Seja, mas não se pode passar com uma esponja sobre a nossa (portuguesa) presença histórica em África e no resto do mundo. 

Desta vez comprei o livro homónimo, 2ª edição, revista e aumentada. Está no catálogo da Colibri, a 36,00 euros, já com desconto. Uma boa prenda de Natal, que dei a mim mesmo, antecipadamente. 

Mas, por favor,  não percam a a exposição. Até ao fim do mês. E comentem! Não deixem que sejam os outros a comentar por vocês. Desde que o façam dentro das boas regras do nosso blogue. 







Avenida Ilha da Madeira, 1400-203 Lisboa
Telef: 21 304 11 60

Horário > 3ª feira: 14h00 – 18h00 |  4ª feira a Domingo: 10h00 – 18h00


Exposição >  “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” 

Museu Nacional de Etnologia, Lisboa, Belém, 
30 out 2024 / 30 nov 2025


Folha de sala:

(i) estará patente ao público na maior sala de exposições temporárias do Museu Nacional de Etnologia entre 30 de outubro de 2024 e 30 de Novembro de 2025;

(ii) é co-organizada pelo Museu Nacional de Etnologia (Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E.) e o Centro de Estudos Sobre África e do Desenvolvimento (Instituto Superior de Economia e Gestão, UL);

(iii) realiza-se no contexto da prioridade que o Museu confere ao estudo de proveniência das suas coleções extraeuropeias e da reflexão sobre o contexto colonial em que o museu foi fundado e procedeu à recolha das suas primeiras coleções, procurando o envolvimento do público e das comunidades na valorização e divulgação das suas próprias culturas;

(iv) concebida e coordenada pela historiadora Isabel Castro Henriques, a exposição visa apresentar as linhas de força do colonialismo português em África nos séculos XIX e XX;

(v) tem como objetivos:

  • desconstruir os mitos criados pela ideologia colonial;
  • descolonizar os imaginários portugueses;
  • e contribuir, de forma pedagógica e acessível, para uma renovação do conhecimento sobre a questão colonial portuguesa.

(vi) dois eixos centrais estruturam a narrativa da exposição:

  • o primeiro eixo organiza-se em painéis temáticos, nos quais texto e imagem se articulam, pondo em evidência as linhas de força do colonialismo português dos séculos XIX e XX, e dando a palavra ao conhecimento histórico;
  •  o segundo eixo pretende “fazer falar” as obras de arte africanas, como evidências materiais do pensamento e da cultura africanas, evidenciando a complexidade organizativa dos sistemas sociais e culturais destas sociedades, permitindo mostrar a criatividade, a vitalidade, a sabedoria, a racionalidade, a diversidade identitária e as competências africanas e contribuindo para evidenciar e desconstruir a natureza falsificadora dos mitos coloniais portugueses.

(vii) este segundo eixo da exposição é constituído por uma seleção de 139 obras, repartidas entre coleções do Museu Nacional de Etnologia, incluindo algumas peças em depósito da Fundação Calouste Gulbenkian e do colecionador Francisco Capelo, e obras de arte africana contemporânea dos artistas Lívio de Morais, Hilaire Balu Kuyangiko e Mónica de Miranda;

(viii) realizada no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, este projeto resulta das pesquisas desenvolvidas pela equipa de cerca de trinta investigadores que nele colaboraram, tendo igualmente contado com o indispensável contributo de muitas entidades, nacionais e estrangeiras, que cederam a profusa documentação iconográfica apresentada nos painéis explicativos em torno dos quais se desenvolve a narrativa da exposição:

(ix) a Comissão Executiva da Exposição é presidida por Isabel Castro Henriques e integrada por Inocência Mata, Joana Pereira Leite, João Moreira da Silva, Luca Fazzini e Mariana Castro Henriques, e a sua Comissão Científica, igualmente presidida por Isabel Castro Henriques, é constituída por 20 elementos, entre os quais António Pinto Ribeiro, Aurora Almada Santos, Elsa Peralta, Isabel do Carmo e José Neves;

(x) a museografia, instalação e apresentação ao público da totalidade das obras das coleções do Museu Nacional de Etnologia foi assegurada pela própria equipa do Museu, que igualmente assegurou a produção da exposição, com a colaboração da equipa da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E; 

(xi) o Projeto Expositivo e de Comunicação da exposição é da autoria do P 06 studio.

(xii) de entre o programa paralelo a desenvolver entre 2024 e 2025 no âmbito deste projeto, destaca-se-se a realização de exposição itinerante, de caráter exclusivamente documental, que circulará por escolas e centros culturais em Portugal, assim como em diversos espaços de língua portuguesa, em África e no Brasil;

(xiii) ainda em 2024 terá início, no âmbito desse programa paralelo, o ciclo Cinema e Descolonização, com projeções de filmes relacionados com a realidade pós-colonial, a decorrer no ISEG e no Museu Nacional de Etnologia, encontrando-se prevista a realização de outras ações de caráter científico, nomeadamente Conferências e Colóquios, também em parceria com outras entidades;

(xiv) a  realização da exposição é acompanhada pela edição de livro homónimo, publicado pelas Edições Colibri, em cujas 344 páginas os c. de trinta investigadores que colaboraram neste projeto,  desenvolvem os vários temas abordados. (A 2ª edição, revista e aumentada, saiu em maio de 2025, e tem 360 pp.).

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série : 24 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27350: Agenda Cultural (869): António Graça de Abreu, "Conversas Sábias: Os fascínios de uma grande cidade, Pequim"... 30 de outubro, quinta-feira, 17:30, Auditório do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM)

/**) Vd.postes de:

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte V

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte IV

 23 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26608: Os 50 Anos do 25 de Abril (37): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte III

15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26499: Os 50 Anos do 25 de Abril (36): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte II


domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27379: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte I: um grande evento social e político



Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > A chegada do vapor Moçambique, com os participantes do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), entre os quais se contaria Ruy Cinatti (1915-1986), engenheiro agrónomo, poeta, antropólogo que iria mais tarde estabelecer uma relação especial com Timor. Era amigo do nosso camarada Beja Santos.

O N/M Moçambique esteve ao serviço da Companhia Nacional de Navegação (CNN), entre 1912 e 1939; com mais de 5700 toneladas, 122 m de comprimento e 133 tripulantes fazia a carreira da África Oriental; seria desmantelado em 1939.).


Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > "Guarda do Palácio do Governador. Foto de Manuel Emídio da Silva, no âmbito do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935).



Angola > Agosto de 1935 > Visita à Fazenda Tentativa (no Caxito a 60 km a norte de Luanda), no âmbito do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente  ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935). Foto da autoria de Sam Payo.

Fonte: O Mundo Português, Vol II, nºs 21-22, Setembro-Outubro de 1935 (Exemplar pessoal de Mário Beja Santos; digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Guiné > Zona Leste > Bafatá > c. 1931 > "Jangada no Rio Geba. Passagem entre Bafatá e Contuboel"... Imagem reproduzida em "O Missionário Católico, Boletim mensal dos Colégios das Missões Religiosas Ultramarinas dos Padres Seculares Portugueses, Ano VIII, n.º 81, Abril de 1931, p. 169 (Exemplar oferecido ao nosso blogue por Mário Beja Santos).


Digitalização, edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935),  de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano -  Parte I


1. 
 Diz o António Rosinha, em comentário ao poste p27363 (*);

"Uma coisa penso que o Alberto Branquinho se esquece: é  que Caetano foi ministro das colónias, com visita prolongada às colónias. e tinha ideias bem claras, e opostas ao pensamento de Salazar, mas em 1968 já tudo estava nas mãos de Spínola e dos capitães. Caetano já não tinha as ideias de Salazar desde que foi ministro das colónias , está na Internet à mão de todos."

Rosinha: sei que és um leitor apaixonado da história do nosso país, e atento ao que se escreve e se publica sobre o período do Estado Novo e em especial sobre a colonização e a descolonização da "menina dos teus olhos", que era/é  Angola... (Descolonização que foi, estamos os dois de acordo, uma tragédia imensa, para todos; a história poderia ter sido escrita de outra maneira.)

Claro que entre Salazar e o seu sucessor político havia diferenças substanciais na maneira de ser, pensar, estar e fazer... Substanciais mas não antagónicas..."A solução na continuidade" acabou por nos levar a um beco sem saída, com o regime alienando o apoio (que era vital) das Forças Armadas.

Tenho dúvidas sobre o que dizes, que Marcelo Caetano "conhecia bem o ultramar"... 

Seguramente que conhecia melhor que o Salazar que nunca sujou as botas com a terra vermelha de África,  nunca lá foi, de resto, mal saía de São Bento, era um homem que sofria de claustrofobia social.  (Foi a Espanha, não foi comprar caramelos como qualquer português na época da "pesetita", foi  a 1ª vez encontrar-se secretamente com Franco, em 10 de fevereiro de 1942. par ter a garantia de que o homem não tinha intenções de "engolir" o pequeno Portugal e o seu grande império.)

 Muito antes de ser de comissário nacional da Mocidade Portugues (1940/44) e ,a seguir, a ministro das Colónias (1944/47), Marcelo Caetano já era uma "vedeta" do Estado Novo, um dos seus brilhantes "intelectuais orgânicos". Licenciado em direito, em 1927, será o primeiro doutorado (em ciências político-económicas), em 1931, pela Faculdade de Direito de Lisboa.

Oriundo da extrema-direita (católico, monárquico, integralista lusitano), foi um dos apoiantes da Ditadura Militar e depois do Estado Novo.  Participaria na redacção do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933. E chegaria rapidamente a número 2 do regime, até que as suas relações com Salazar esfriaram logo em 1947 e depois em  1958. Ironicamente, será escolhido pela extrema-direita do regime (na pessoa do então presidente da República, Américo Thomaz), para suceder, em 1968, a Salazar. 

Em relação a Salazar,  o Caetano tinha a vantagem de "conhecer bem o  Ultramar". Conhecer ? Bom, foi pela primeira vez  à Guiné, por exemplo,  como "turista", em agosto de 1935, e depois em 1969, em 14 de abril, como presidente do Governo, alás, espantosamente, a primeira visita de um chefe de governo ao ultramar, e para mais oito anos depois do início da guerra. (**)

De facto, em 10 de agosto de 1935, vemo-lo partir, de Lisboa, no 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, a bordo do paquete Moçambique, com cerca de 200 (3e náo 250, como estava previsto...) excursionistas, uma boa parte estudantes. Ia fazer 29 anos no dia 19. Houve, por certo, grande festa a bordo.

A iniciativa partiu da revista "O Mundo Português", tendo juntado cerca de duas centenas de "estudantes, professores, médicos, engenheiros, advogados, artistas, escritores, industriais e comerciantes" (incluindo famílias dos estudantes)... Embora subsidiado pelo Governo, com 150 contos, havia 3 classes de passageiros (e respetivos precários; veremos em próximo poste mais alguns aspetos da viagem, que não foi um mar de rosas, até por que o "Moçambique" era velho navio, ronceiro, a vapor!)

O cruzeiro teve claramente um propósito de propaganda colonial, a mobilização dos jovens portugueses para o Império colonial, enfim, um “banho de portuguesismo” (sic).

O cruzeiro foi organizado pela revista "O Mundo Português" ( propriedade da  Agência Geral das Colónias e  da SPN - Sociedade de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, esta última criada em 1933 e que, em 1945, passaria  a chamar-se SNI - Secretariado Nacional de Informação).

Marcelo Caetano (1906-1980), então já professor universitário, conceituado especialista em direito administrativo, ficou encarregue  da parte cultural do cruzeiro, com “preleções, conferências e palestras” durante a viagem. (O que deve ter sido uma grande 'seca' para os putos.)

O navio visitou as colónias portuguesas da África Ocidental ou “Ocidente”: Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola. Aproveitou-se as férias escolares. O cruzeiro terminou a 4 de outubro de 1935. Quatro anos depois a Europa (e a seguir o Mundo) estaria em guerra. Impossível repetir aquele cruzeiro.

No arquivo biográfico de Marcello Caetano, na Torres do Tombo, consta que a colecção “6.ª Colecção/Série – Cruzeiro de férias às Colónias (1935-Agosto)” se refere à documentação produzida no âmbito do cruzeiro. 

(Continua)

2.  Marcelo Caetano (Lisboa, 1906-Rio de Janeiro, 1980): nota biográfica sobre

(...) "Marcelo José das Neves Alves Caetano nasceu em Lisboa, em 17 de Agosto de 1906, filho de José Maria Alves Caetano e de Josefa Maria das Neves Caetano. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, em 13 de Julho de 1927, com a informação final de Muito Bom, com 18 valores.

"Exerceu funções de oficial do Registo Civil, em Óbidos, colaborando, em simultâneo, em vários periódicos e revistas científicas e de especialidade. A convite de António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças, tomou posse como auditor jurídico do mesmo ministério, em 13 de Novembro de 1929, declarando, no entanto, por ocasião do convite, o seu objectivo de seguir a carreira docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

"Com esse fim, doutorou-se em 17 de Junho de 1931, com a dissertação "Depreciação da moeda depois da guerra", e, em Agosto de 1932, concorreu a uma vaga de professor auxiliar "do terceiro grupo da Faculdade de Direito (Ciências Políticas)", com a dissertação "Do poder disciplinar no Direito Administrativo Português", tendo sido aprovado por unanimidade e tomado posse do respectivo lugar em 12 de Julho de 1933.

"No ano lectivo de 1938-1939 é já apresentado, no Anuário da Universidade de Lisboa, como professor catedrático contratado, sendo simplesmente apresentado como professor catedrático no anuário para o ano lectivo de 1940-1941.

"Ao longo da sua carreira docente leccionou as cadeiras de Direito Administrativo, Administração Colonial, Direito Internacional Público, Direito Corporativo, Economia Política, Direito Penal e Direito Constitucional, publicando uma vasta obra com vertentes jurídica, histórica e de intervenção sociopolítica.

"Foi reitor da Universidade de Lisboa, de 20 de Janeiro de 1959 a 12 Abril de 1962 (cargo de que se demitiu por divergências com o Ministro da Educação, na sequência de oscilações de atitude do Governo perante as manifestações estudantis de Abril de 1962, em Lisboa)." (...)


Fonte: Arquivo Nacional Torre do Tombo > Arquivo Marcello Caetano. ara saber mais clicar aqui.
 
________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 29 de outubro de 2025  > Guiné 61/74 - P27363: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (1): A minha (im)possibilidade de desertar

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27288: Humor de caserna (214): O dono daquilo tudo, do Cuanza ao Cunene, o "colón", o retornado", o "coronel" e o "grão-tabanqueiro" António Rosinha

 


Infografia: LG | Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné | Assistente de IA/ChatGPT (2025)




1. António Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, fugindo da miséria da sua aldeia nas Beiras); fez em Angola a tropa e não viu a guerra, em 1961/62; "retornado" em 1975, os seus caixotes vieram parar a Lisboa, Belém; emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), é um dos últimos  "africanistas"; membro do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné; membro da Tabanca Grande desde 2006; tem um olhar irónico, bem humorado, sobre o passado colonial, o "Botas", e os estudantes do Império, que irão ser depois os donos das colónias do último império do mundo.

Pedi à assistente de IA / ChatGPT que nos fizesse uma ilustração para um comentário recente dele, sobre os "retornados" (*).

O Rosinha comentara uma foto conhecida, de 1975, de um fotojornalista estrangeiro, de uma agência internacional  (que nunca cá mais pôs os pés, mas em 1975 Portugal ainda estava na moda...) com os "caixotes dos retornados", os. "cacos do império"  junto ao "icónico monumento aos Descobrimentos", em Lisboa, Belém.

O  tom do comentário do Rosinha é brincalhão, irónico, pícaro, que ele nada tem de provocador, panfletário, reacionário, saudosista, e muito menos de colonialista, racista, e outros epítetos que os "tugas" gostam de usar como "armas de arremesso" uns contra os outros, quando a seleção nacional de futebol perde contra uns "ba(r)damecos" do antigo bloco da  Europa de  Leste.

(...) " Lá estava o meu caixote junto ao monumento dos Descobrimentos. Lugar mais apropriado não havia, devem ter ido parar lá, só para a fotografia. 

"Trouxemos nos caixotes tudo o que havia à mão, não deixámos nada para o MPLA e os outros. 

"Nos caixotes dos retornados de Angola, trazíamos grandes riquezas, não deixamos lá quase nada, desde diamantes, ferro e manganês e petróleo. 

"Não sobrou nada para os filhos e filhas de Savimbi, Holden Roberto, Neto, Eduardo dos Santos. Consta que é habitual ver descendentes dessa gente e de vários coronéis, de mão estendida à caridade, na Avenida da Liberdade em Lisboa, em Cascais, e consta que até em Barcelona e até em Dubai. 

"Os retornados foram muito malandros, onde teriam ido buscar o seu ADN? Deve ter sido uma selecção especial e rara do génio de Salazar. Ainda bem que foram desmascarados, e não foram comidos pelos 'tubarões' porque, afinal, sabiam nadar". (*) 

2. Minha querida assistente de IA (a IA é feminina e a assistente também): eu sei que tu queres que eu faça um "upgrade" da tua IA, a tua "menina dos olhos", a tua "coqueluche"... Mas, olha, agora não me dá jeito nenhum gastar mais "patacão" contigo... Podes vir a tornar-te uma amante cara e eu já não tenho vinte anos nem "graveto" para sustentar os teus caprichos... Por enquanto, a gente ainda se entende, apesar das rasteiras que me passas e das "galgas" que me enfias, quando te pões a delirar.

(...) Mando-te também uma foto do Rosinha , na tropa, a marchar, de óculos escuros e pistola-metralhadora, FBP, na marginal de Luanda. Para sorte dele nunca deu um tiro (nem levou).

Profissionalmente foi topógrafo. É um grande ser humano e é muito querido na nossa tertúlia bloguística. Já está na casa dos 80 e tal  (faz as contas: em 1961 era furriel, agora já deve ser coronel, na situação de reforma). 

Queríamos homenageá-lo. Por tudo, e também pela sua existência, persistência, resiliência, coerência, elegância no confronto de ideias e  opiniões, sabedoria, inteligência emocional, mas também lealdade, dedicação, pachorra, etc,. que tem mostrado em relação ao nosso blogue, onde tem cerca de 160 referências e um sem número (centenas) de comentários (que só aparecem na montra traseira do blogue). (**)

Olha, eu que sou um dos editores do blogue com direito a "lápis azul" (leia-se: "moderador"), devo confessar-te que nunca cortei um comentário dele: o que é espantoso... É uma pessoa que "sabe-ser e sabe-estar". E isso é  o que mais me encanta nos seres humanos (que eu distingo dos bichos-homens).

Agora aí vai o meu pedido: podes fazer-me um "cartoon" (cartum, em português europeu), uma tira de banda desenhada, enfim, um "boneco", engraçado, a partir das 3 fotos que te enviei, e do curriculum resumido do meu/nosso amigo e camarada de armas  ?... A última foto dele é de 2007, tirada no nosso encontro nacional, em Pombal. Tenho poucas fotos dele (**).

3. O "boneco" que saiu, da cabeça do "Sabe-Tudo" e da caneta do "Faz-Tudo", espero que consiga  surpreender o nosso Rosinha, o nosso "colon",o nosso  "retornado" de estimação,  o nosso "mais velho" (ou um dos "nossos mais velhos"), sempre ativo, proativo, interveniente,  e que trouxe consigo o melhor de África, as pequenas histórias e as felizes memórias das suas gentes e paisagens, das cabindas aos sobas, sem esquecer os estudantes do Império e o "Botas" (que nunca lá os pés, no Império, nem apanhou o paludismo), tudo rapazes da geração dele, os estudantes, não o professor.., 

Só faltam os cheiros de África, mas por  enquanto ainda não conseguimos reproduzir os cheiros... ou exportar os cheiros usando a IA...

Espero  que este miminho meu, da Tabanca Grande e da atrevida assistente de IA / ChatGTP te  ajude, Rosinha,  a alegrar o  teu dia-a-dia. Sabemos afinal pouco sobre ti, o teu quotidiano, a tua saúde... Nem o teu número de telemóvel temos...

Tu és a discrição em pessoa: não és de chorar, fazer birras, cenas, greves, manifs,  etc. Não és "carroceiro", demagogo, populista, mentiroso compulsivo, fabricador de notícias falsas, etc., coisas que hoje em dia até é chique ser ou parecer ser.  Julgo que tu não vives longe de mim, no Oeste estremenho, lá para os lados de Vila Franca de Xira (?), junto de filhos, netos e bisnetos (que deves ter,  para espalhar o teu ADN)...

Olha, saúde e longa vida para ti, que tu mereces tudo, incluindo tudo (ou quase tudo) o que tu "roubaste" aos angolanos, e que trouxeste para Lisboa, em 1975, em gigantescos contentores, mas também em caixotes e malas de cartão:  diamantes, ferro, manganês, petróleo, café, pau preto, máscaras, missangas, marfim, obras de arte, mulatas, cabritas, cabindas, impalas, palancas, etc. (e até, dizem,  o caminho de ferro de Benguela, desmontado)...

Ainda quiseste  trazer o resto do  pouco que sobrava, do Cuanza ao Cunene, mas já não tinhas caixotes em número suficiente. Nem navios da nossa gloriosa marinha mercante. Em 1975, tudo o vento levou... 

E, depois, quando foste para a Guiné, então aí é que já não havia mesmo nada para "roubar"...Farto de caju e ostras de Quinhamel, decidiste regressar ao "Puto" em 1993. E eu acho que  fizeste bem. Afinal, és e sempre serás um "retornado". Um bom filho à casa (re)torna. (***)

PS - Olha, não fui eu que te promovi a "coronel", foi a minha assistente de IA que tem uma imaginação levada da breca. Eu até tenho medo de lhe perguntar mais coisas sobre ti... Por hoje já chega, tenho que ir descansar...

_________________


Notas do editor LG:

(*) 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

(**) Vd. poste de 18 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25083: O segredo de... (41): António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62; topógrafo da TECNIL, Bissau, 1987/1993): Luís Cabral, a camarada Milanka, eu e o 'mau agoiro' do meu patrão

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P25156: Capas da Ilustração Portugueza - Parte XI: as "campanhas de pacificação e ocupação" do sul de Angola; o desastre do Vau do Pembe (em 25 de setembro de 1904)

 


Tropas portuguesas da guarnição de Angola, a caminho do interior,  preparando um bivaque (segundo um croquis)


Capa da Illustracão Portuguesa, I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904 (Edição semanal, Empresa do Jornal O Século, Lisboa; editor, José Jourbert Chaves) (Cortesia de CM Lisboa / Hemeroteca Digital) (*)


1. O semanário dedica a capa e as duas páginas centrais às "Guerras de África: alguns oficiais portugueses na guerra dos cuanhamas" (pp. 0776/0777), que se traduziu por um "terrível desastre":


"A notícia deste terrível desastre impressionou vivamente o país e veio lançar o luto sobre as armas portuguesas. Habituados a constantes vitórias em África, vitórias que têm colocado os nossos soldados entre os melhores do mundo, a derrota agora sofrida cai sobre nós como uma calamidade e vem demonstrar a razão que tinha a imprensa, quando, com o Século à frente, achava insuficiente o número de expedicionãrios. Para demais s já desde 1896 se sabia as forças de que dispunham esses inimigos, pois tendo ido em comissão o capitão Luna de Carvalho teve ocasião de dizer algumas coisas sobre




a situação dos cuanhamas. O régulo Jula vivia em Oujiva e em sua residência havia mobiliário europeu, e ele vestia à europeia, como os seus grandes. Os cuanhamas tinham cerca de 10.000 guerreiros, armados à moderna, dispunham entre eles de bons cavaleiros e esse número deve ter aumentado consideravelmente até agora, calculando-se em 50.000 homens as forças atuais.

Foi por isso uma temeridade atacar esses vizinhos dos herreros, famosos guerreiros que noutros encontros têm batido as tropas alemães; porém decerto os nossos teriam vencido se fosse



mobilizado maior número, como tantas vezes se aconselhou. O destacamento que ia ao encontro dos cuanhamas, era composto de dois pelotões de infantaria europeia, quatro pelotões de infantaria indígena, duas bocas de fogo e uma secção de artilharia, na totalidade de 409 homens, dos quais foram mortos 254, contando entre eles 16 oficiais e 13 sargentos.

O corpo principal da coluna não entrara em fogo e concentrou-se no dia seguinte no Humbe, tendo-se dado a chacina pela noite na margem do Cuneme, sendo os atacantes os cuamatas, povo aliado


dos cuanhamas e como eles dispondo de forças importantes. O comandante das tropas era o capitão de engenharia João Maria d' Aguiar, governador da Huila, que se encontrava com a coluna, pois do contrário teria sido vítima com os seus camaradas.

Oficial valente e distinto, sem dúvida tirará uma brilhante desforra deste desastre que tanto vem enlutar a pátria portuguesa.

Fonte: Excertos de Illustracão Portuguesa, I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904, pp. 0776/0777)

(Revisão / fixação de texto: LG)


1. Uma efeméride trágica: foi em 25 de setembro de 1904, vai fazer agora 121 anos, que o exército português sofreu uma sério revés nas campanhas de pacificação e ocupação do sul de Angola.


A cerca de 500 quilómetros da costa, uma coluna comandada pelo governador da Huíla, o capitão de engenharia João Maria de Aguiar (de que fazia parte Gomes da Costa, mais tarde líder do golpe de estado militar do 28 de maio de 1926), internou-se para lá do rio Cunene, através do vau do Pembe.  

Portugal estava decidido a bater o pé aos alemães que que estavam a expandir, para norte, a sua colónia do Sudoeste Africano Alemão (1884-1915) (hoje Namíbia, independente da África do Sul, desde 1990). (**)

(..) "Só em 1904 é que os portugueses lançaram a primeira grande campanha além-Cunene, para ocupar o Reino do Cuamato Pequeno, do Cuamato Grande e o Reino Cuanhama mas esta redundou numa derrota na Batalha do Vau do Pembe

"O 'Desastre do Pembe' galvanizou os ovambos, em particular os cuamatos, que começaram a atacar tribos sob a protecção de Portugal e até a ameaçar fazendas na margem norte do Cunene mas galvanizou também a opinião pública portuguesa, que forçou o governo português a intervir na região." (...) (Vd. Wikipedia > Campanhas de Pacifiocação e Ocupação).


Os Portugueses, apanhados numa emboscada, caíram às mãos de outra tribo do grupo dos Ambós, os Cuamatos, e deixaram no local duas centenas e meia de mortos (mais de cem,. de origem metropolitana), o que representou, à escala africana, uma trágica surpresa para a Europa colonizadora (Portugal, Alemanha, Grã-Bretanha).

A ermboscada do Vau do Pembe (um ponto de travessia do rio Cunene) foi descrito pela "Ilustraçáo Portuguesa",  duas semanas depois (na edição de 10 de outubro de 1904) como um desastre  para as tropas portuguesas lideradas pelo capitão Luís Pinto de Almeida, que trouxe imensa dor e luto para a pátria portuguesa.

 João Roby (1875-1904), oficial da armada, é uma das figuras centrais da memória da Batalha do Vau do Pembe (também conhecida como Combate de Umpungo).
 
(Imagem à esquerda:  foto de João Roby,  "IIustração Portuguesa",I Ano, nº 49, 10 de outubro de 1904, pág. 0776).
 
_______________

Notas do editor LG:


(**) Com a ajuda do ChatGPT, apurei o seguinte sobre este "protetorado alemão" (1884-1915):

(i) em 1884, a  Alemanha (com o chanceler Otto von Bismarck, o pai-fundador da Alemanha Moderna),no contexto da “Partilha de África” (Conferência de Berlim, 1884-1885), declarou protetorado sobre a região costeira do atual Namibe/Namíbia, a pedido de comerciantes e colonos alemães, nomeadamente Adolf Lüderitz (1834-1886), que já tinha adquirido, de maneira fraudulenta,  terras aos chefes locais;

(ii) a colónia foi chamada Deutsch-Südwestafrika (Sudoeste Africano Alemão) e foi a primeira e a mais importante colónia de povoamento alemã em África;

(iii) tinha, desde 1891, a capital em  Windhoek;  o número de colonos alemães andava à volta dos  15 a 20 mil (antes da Primeira Guerra Mundial);

(iv) a economia colonial assentava sobretudo na criação de gado, na agricultura e, a partir de 1908, nas importantes minas de diamantes descobertas em Lüderitz;

(v) o "protetorado" encontrou forte resistência por parte das populações locais:  Herero, Nama (também chamados Hotentotes, povo nómada), Damara e San;

(vi) 1904-1908: genocído dos Herero e Nama: rebeliões contra a ocupação alemã, foram reprimidas de forma extremamente violenta; o general Lothar von Trotha aplicou  uma política de extermínio; como resultado: dezenas de milhares de pessoas (entre 65% e 80% dos Herero e cerca de 50% dos Nama) morreram em massacres, perseguições no deserto, inanição, envenenamento de poços  e campos de concentração (no que foi considerado mais tarde, pela ONU,  o primeiro ou um dos primeiros genocídios do séc. XX).

(vii) extinção do protetorado: em 1915, no decurso  da Primeira Guerra Mundial, forças da União da África do Sul (do Império Britânico) invadiram e ocuparam o território;

(viii) em 1919, pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha perdeu todas as suas colónias; o Sudoeste Africano passou a estar sob  mandato da Sociedade das Nações (antecessora da ONU), administrado pela África do Sul, situação que se prolongaria até à independência da Namíbia em 1990. 

(Condensação, revisão/fixação de texto: LG)