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domingo, 18 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26814: Em bom português nos entendemos (27): "Caputo" e "chicoronho", aplicados aos habitantes brancos do sul de Angola, antes da independência (António Rosinha / Luía Graça)



Angola > Moçâmedes (hoje Namibe) > s/d > Página do Facebook Moçâmedes a nossa amada cidade - Liceu Almirante Americo Tomas - Angola | 27 de setembro de 2015 ·

(...) Alunos e professores no Liceu em Moçamedes — com Maria Almeida, Prof.Amélia V Pereira, Nela Mendes, Marieta Correia, Prof Neto, Nela Oliveira, Maria Paula Mendes, Margarida Veiga, Luisa Nascimento, Padre Menezes e Laura Victória Pereira. (Foto e legenda: reproduzidas com a devida vénia...)



Angola > Moçâmedes (hoje Namibe) > Página do Facebook  Moçâmedes a nossa amada cidade - Liceu Almirante Americo Tomas - Angola | 10 de novembro de 2015 ·

(...) De Angola até África do Sul. Fuga de muitos portugueses, em 1975, pelo deserto da costa dos Esqueletos, as dificuldades. (...) (Foto e legenda: reproduzidas com a devida vénia...)


 

1. Escreveu o António Rosinha em comentário ao poste P16812 (*):

(..) "A geração que fez a luta está em vias de extinção. Quer queira, quer não, vai acabar, mas o país não vai acabar. A estas novas gerações que lhes interessa o colonialismo, interessam-lhes é como vão sobreviver amanhã" (Júlio de Almeida) (...)"

(...) Quem nasceu no sul de Angola, que fosse branco, em 1940, pensava que em 1960  era facílimo fazer daquelas terras um paraíso, se o "colon", naquele caso o "caputo" ou "chicoronho", se voltasse para a sua terra e os deixasse a eles mandar naquilo.

Isto era a conversa de alguns, não muitos, embora naquelas regiões de Namibe (Moçâmedes) e Lubango (Sá da Bandeira) houvesse muita descendência de "chicronhos".


2. O que dizer "chicoronho" e "caputo", com referència aos habitantes (brancos) do sul de Angola, na época do colonialismo ? (**)

21. O que o Gemini IA / Google respondeu à minha pergunta:

O termo "chicoronho", aplicado aos habitantes brancos do sul de Angola na época do colonialismo, é uma corruptela da palavra umbundo "tchi-kolono".

Em umbundo, "tchi" é um artigo definido (semelhante a "o", "a", "os", "as" em português) e "kolono" significa "colono". Portanto, "tchi-kolono" significa "o colono".

Com o tempo e o uso informal, especialmente pela população local, esta expressão terá sofrido alterações fonéticas, resultando em "chicoronho".

Assim, "chicoronho" era uma forma como os habitantes locais, falantes de umbundo, se referiam aos colonos brancos na região do sul de Angola. É importante notar que, dependendo do contexto e da entonação, este termo podia ter uma conotação neutra, informal ou até mesmo ligeiramente depreciativa, marcando a distinção entre os colonizadores e a população nativa.

22. E sobre "caputo":

Em Angola, a palavra "caputo" era utilizada de forma depreciativa para se referir à autoridade administrativa portuguesa, ao chefe de posto ou a indivíduos brancos com poder ou autoridade, especialmente nas zonas rurais.

A origem mais provável do termo "caputo" deriva do quimbundo e de outras línguas bantu locais, a partir da junção de:

  • "Kapita": adaptação bantu da palavra portuguesa "capitão" ou "cabeça", significando guia ou líder.
  • "Putu": abreviação de "Portugal".

Assim, "caputo" pode ser interpretado como algo como "o chefe de Portugal" ou "a cabeça de Portugal", referindo-se à figura da autoridade colonial. O seu uso tinha frequentemente uma conotação de distância, estranheza ou mesmo antagonismo entre a população local e a administração colonial.

O comentário do António Rosinha ilustra bem o sentimento de alguns angolanos nativos em relação aos colonos brancos ("colon", "caputo" ou "chicronho") no sul de Angola por volta de 1960. A frase expressa a crença de que a região se tornaria um "paraíso" se os colonos regressassem às suas terras e permitissem que os próprios angolanos governassem.

O texto também confirma que nas regiões do Namibe (Moçâmedes) e Lubango (Sá da Bandeira) existia uma significativa população de descendentes de "chicronhos", ou seja, de colonos brancos.

Este excerto oferece uma perspetiva sobre as tensões e as diferentes visões sobre o futuro de Angola no período que antecedeu a Guerra Colonial. Reflete o desejo de autodeterminação por parte de alguns angolanos e a perceção de que a presença colonial era um obstáculo ao desenvolvimento do país.

(Revisão / fixação de texto: LG)

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26812: Agenda cultural (883): "Livros a Oeste, Festival do Leitor", 13ª edição: "Chegados Aqui Para onde Vamos ? " - Conversa com os escritores Miguel Szymanski, Júlio de Almeida (o antigo comandante do MPLA, "Juju") e Luís Reis Torgal... Sábado, 17 de maio, 17:00,

8 comentários:

João Carlos Abreu dos Santos disse...

O termo correcto, é chicoronho.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tenho dúvidas sobre a explicação dada pela IA em relação à palavra "caputo".

A palavra "cabeça" em português vem do latim "căput, capĭtis", que significa «cabeça». Em português evoluiu do latim vulgar hispânico "capitĭa", forma derivada de "caput".

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-palavra-latina-caput-e-a-portuguesa-cabeca/23837 [consultado em 18-05-2025]

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, as fotos, nesta página do Facebook sobre Moçâmedes (hoje Namibe) no sul de Angola, sugerem que Angola estava longe de ser, na época colonial, uma sociedade muito "inclusiva": nas escolas, nas festas, etc., aparentemente há muitíssimos mais brancos do que negros... apesar do desenvolvimento social e económico que marcam os anos 60/70, e, claro, da guerra (onde mais de 40% dos 65,6 mil dos efetivos exército, em 1973, eram do recrutamento local).

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, Moçâmedes, era a cidade da miss Portugal/71, Riquita, não era inclusiva nem exclusiva, era um verdadeiro oásis em pleno deserto, isolada entre o mar e o deserto, com uma actividade exclusiva, ou quase, de pesca, com barcos de armadores principalmente de algarvios e madeirenses.

A população indígena da região chama-se MUCUBAL que tinha a sua vida habitual de pastorícia, caça (muita abundância), os seus hábitos tradicionais respeitadíssimos, sem escola, sem igreja, sem impostos, portanto na sua tranquilidade e isolamento até de tribos entremeadas entre eles, e vestidos tradicionalmente, peles, da planta dos pés à cabeça.

A Riquita desfilou na miss universo com trajes de Mucubal, está no youtube, se quiseres ver.

Foi neste deserto que Henrique Galvão passou grandes férias em trabalho, quer dizer safaris, apaixonado por caça ao elefante.

Não creio que os Mucubais hoje vivam no seu paraíso, hoje quem manda alí é Luanda, que eles não sabiam o que era isso, nem onde ficava tal terra.

Não eram os Mucubais nem outros indígenas que mandavam o branco para a sua terra.

Eram os filhos do chicoronho , estudantes dos liceus e do império, talvez a própria Riquita tivesse essa ideia também.

Tenho a dizer-te,Luís, que houve nos anos trinta alguma violência contra os Mucubais por esses não quererem pagara imposto.

Alguns ainda foram levados para São Tomé.

O governo desistiu de os forçar e lá continuaram no seu deserto, tranquilamente.

Fico por aqui, Portugal pouco explorou, pouco colonizou, e mesmo assim exagerou.

Ainda lá deixou alguns escritores, os MUcubais que os leiam.

Quem não os lê são os Bacongos, de certeza.

Fernando Ribeiro disse...

Do meu pelotão em Angola fizeram parte sete soldados oriundos do centro e sul do território: seis ovimbundos (três do Bié e três do Huambo) e ainda um ganguela natural do leste da Huíla, paredes-meias com o Cuando-Cubango. Nas muitíssimas e longas conversas que tive com eles ao longo de mais de dois anos e dois meses de comissão militar, nunca nenhum deles empregou as palavras chicoronho ou caputo, qualquer que fosse o assunto. Nem uma só vez. Por outro lado, tive mais tarde uma colega de trabalho, que era branca retornada de Sá da Bandeira, que frequentemente se autodenominava chicoronha, explicando que esta palavra significava "colona". Fiquei por issso com a impressão de que as palavras chicoronho e caputo eram mais usadas entre os brancos do sul de Angola do que entre os negros, mas posso estar enganado.

A palavra chicoronho deve vir da língua umbundo (não confundir com quimbundo, que é outra língua), na qual o prefixo tchi- indica que a palavra se refere a uma pessoa, individualmente considerada. Segundo esta ordem de ideias, então tchicoronho quer dizer o mesmo que "colono". Porém, ao contrário do que diz o Gemini, a partícula tchi- não é um artigo definido, mas sim um prefixo. Em umbundo, à semelhança do que sucede em muitas outras línguas bantus, o artigo definido é o, tanto para o masculino como para o feminino.

A palavra caputo deve vir da língua quimbundo e significa "português". A rebuscada "explicação" dada pelo Gemini é, portanto, um completo disparate. Compare-se a palavra caputo com a palavra kaluanda, que significa "luandense" em quimbundo. Se tirarmos o prefixo ka- à palavra kaluanda, fica Luanda. Se tirarmos o prefixo ca- à palavra caputo, fica Puto, que é uma forma muito abreviada de dizer "Portugal". A palavra Puto, aliás, é tão antiga que já se usava em Angola no tempo da Monarquia e significava isso mesmo: "Portugal". Resumindo e concluindo, caputo significa "português".

Após a independência de Angola, os distritos passaram a ser chamados províncias, mas mantiveram quase sempre os mesmos nomes: Zaire, Malanje, Cuanza Sul, Cunene, etc. No caso concreto do antigo distrito de Moçâmedes e da sua capital (a cidade de Moçâmedes), o nome foi alterado, porque Moçâmedes era o apelido de um colonizador português. Terá sido ele que fundou, perdida entre as dunas do deserto e as ondas do Oceano Atlântico, uma cidade que tomou o seu nome, a cidade de Moçâmedes. Após a independência de Angola, o nome da cidade foi mudado para Namibe, mas a população local continuou, sempre e só, a chamar-lhe Moçâmedes. Reconhecendo este facto, há relativamente poucos anos o governo angolano reverteu a mudança de nome da cidade (mas só da cidade) e voltou a designá-la Moçâmedes. Portanto, agora estamos neste pé: a província do Namibe tem como capital a cidade de Moçâmedes. É oficial.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No poste de 5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10620: Questões politicamente (in)correctas (41): A origem da palavra Turra (António Rosinha), já tinha sido usado o termo "chicoronho" (já grafado num ou num dicionário, mas não no Houaiss, por exemplo):

A origem da palavra Turra, por António Rosinha


(...) "Tuga, portuga, caputo, chicoronho, cabeça de porco, baranco, chindele, e por fim cubano, já ouvi esses nomes dirigidos a mim e a outros, ao vivo e a cores. In loco. Nem todos eram depreciativos, mas alguns eram. Logo que sejam ditos em português, ou crioulo, madeirense ou carioca ou baiano, para mim é fabuloso.

Isto tudo para dizer qual o mês e o ano em que surgiu uma palavra que para muita gente não tem justificação: TURRA (terrorista) e a sua motivação. Pois, apesar da muita informação descarregada neste Blogue, penso que esta explicação que vou dar, e é dos livros, não foi lida aqui. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A IA às vezes também "inventa"...É preciso ter sempre presente a velha máxima dos informáticos da primeira hora: "Garbage in, garbage out" (se entra lixo, sai lixo).

Reformulação da pesquisa sobre a origem e o significado do vocábulo "chicoronho", e resposta do assistente da IA (Gemini / Google):

(...) O termo "chicoronho", aplicado ao habitante branco do sul de Angola na época colonial, tem uma origem etimológica incerta, mas existem algumas teorias:

Possível origem:

Corruptela de "colono": A hipótese mais provável é que "chicoronho" seja uma deturpação popular da palavra "colono". A pronúncia e a gíria locais podem ter transformado o termo ao longo do tempo. Esta teoria é reforçada pela definição encontrada no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, que aponta "chicoronho" como uma "deturpação da expressão os colonos".

Significado:

O termo "chicoronho" era usado para designar o colono branco, geralmente de origem portuguesa, radicado no sul de Angola, particularmente nas regiões de Sá da Bandeira (atual Lubango) e Moçâmedes (atual Namibe). Implicava frequentemente a ideia de um colono rude, com maneiras simples e talvez menos instruído em comparação com os colonos de outras regiões ou os da metrópole.

Em suma, "chicoronho" provavelmente surgiu como uma forma popular e possivelmente depreciativa de se referir aos colonos brancos do sul de Angola, derivada da palavra "colono" e carregando conotações de rusticidade. (...)

Antº Rosinha disse...

Havia na costa marítima daquele deserto chamado de Namibe ou de Moçâmedes três centros de pesca de uma riqueza fabulosa, e talvez que tenha sido a verdadeira riqueza extraída de Angola, a par do café no norte, que os portugueses podem ser considerados verdadeiros exploradores de alguma riqueza, nas colónias.

Era o peixe de Moçâmedes, Porto Alexandre e Baia dos Tigres, com salgas, secas de peixe, peixe enviado para as conserveiras na metrópole.

O peixe em Angola era baratíssimo e variadíssimo, assim como a carne e o açúcar e frutas tropicais, boas e baratíssimas e em abundância, até parecia que era facílimo governar e ser-se feliz naquele paraíso, de climas variados e tremendamente temperados.

Explorar petróleo para quê? para viver à grande em Cascais, Londres, Paris e Barcelona?

Fazer de Luanda uma Nova York? cubatas de 30 andares rodeados por 5 ou 6 milhões em rés-do-chão?

O chicoronho não sabe governar a sua terrinha, e vem para aqui atrasar a nossa vida.

Até que veio a guerra, e diziam os estudantes do império aos indígenas, "os brancos são desenvolvidos por causa das guerras deles, imagina que até tiveram a guerra de 100 anos"

Angola teve depois uma guerra de 28 anos a sério.