Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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segunda-feira, 21 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P27042: (in)citações (276): Os sinais de Deus (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Especiais)
1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Undunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 20 de Julho de 2025:
OS SINAIS DE DEUS
Era para ser uma consulta normal de oftalmologia.
Na quarta feira a caminho de Lisboa, pareceu-me sentir algo diferente na minha vista direita mas não dei importância por já ter alguns problemazitos anteriores que eram, aliás, motivo da consulta.
Na consulta a médica, muito simpática e competente, (amiga do meu filho mais velho e da minha nora), mandou-me ler com a vista direita as habituais letras do quadro e foi então que percebi que não via nada daquela vista, estava tudo negro, excepto uma pequena nesga do lado direito que ainda tinha imagem.
O susto foi enorme e feitos os exames competentes logo se chegou ao diagnóstico de um grave descolamento da retina que necessitava de intervenção cirúrgica urgente.
A competência e dedicação da médica foram inexcedíveis e conseguiu que uma sua colega arranjasse tempo para me operar no fim da manhã seguinte.
Assim aconteceu e, para encurtar razões, já me encontro em casa, em repouso prolongado para garantir o bom êxito da operação.
Como em tudo o que me acontece hoje em dia tento sempre ver a presença de Deus e o que Ele me quer dizer no que me vai acontecendo.
Assim escrevo este texto que vai ser o último destes próximos dias.
Os sinais de Deus
A mão de Deus
Esta consulta já tinha sido adiada por mim.
Se fosse quando estava marcada inicialmente o problema não teria sido detectado.
A mão de Deus guiou-me para o tempo certo e as circunstâncias certas.
Nas coisas de Deus não há coincidências, há “deuscidências”.
Sinal de Deus
A constatação de que nada via da vista direita, como se fosse uma cortina preta, excepto a pequena nesga do lado direito, levou-me a reflectir que muitas vezes nós colocamos essas “cortinas” na nossa relação com Deus e apenas O queremos ver em pequenas partes das nossas vidas.
Também precisamos de uma “operação espiritual” que remova essas “cortinas” da nossa visão de Deus.
A presença de Deus
Depois do enorme susto de perceber a perda da visão naquela vista, sobreveio uma grande serenidade, aceitação e entrega à vontade de Deus.
Entreguei tudo por aqueles que podendo ver Deus querem continuar cegos à Sua presença nas suas vidas.
Nas horas que fui passando nos cadeirões e macas, fui invocando o Espírito Santo e servindo-me dos dedos das mãos para ir contando as contas do Rosário, sentindo assim bem viva a Sua presença com Maria nossa Mãe junto de mim.
O amor de Deus
As médicas, as enfermeiras, auxiliares, administrativos daquele Hospital dos Lusíadas, foram de uma simpatia e dedicação a toda a prova, (e reparei que não era só comigo), e isso foi para mim o amor de Deus a rodear-me.
A minha comunidade paroquial da Marinha Grande com os seus grupos a que pertenço com enormes amizades, as minhas amigas e amigos do Renovamento Carismático Católico, no CHARIS, Pneuma, Comunidade Emanuel também do Alpha com as suas orações, foram também, sem dúvida, sinal visível do amor de Deus para mim.
O meu “velho” grupo de amigos de Lisboa com o Grupo de Forcados de Montemor e não só, já desde a juventude, com a sua amizade e solidariedade, foram uma expressão muito sentida deste amor de Deus que une os amigos. Um deles até escreveu logo que esperava um texto sobre o “acontecimento”!
Os meus filhos, nora e genro, a minha mulher, a minha irmã e irmãos, a minha família e ligados a ela, com o seu carinho e ternura foram e são sempre a parte mais visível e próxima do amor de Deus na minha vida.
A todos, muito, muito obrigado.
Guardo-vos nas minhas orações
Deus vos abençoe, proteja e guarde sempre.
Realmente o amor de Deus não tem largura nem comprimento, é incomensurável, eterno e manifesta-se das mais variadas formas.
Obrigado meu Deus por tanto que me dás e eu dou-Te tão pouco.
Marinha Grande, 19 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves
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Notas do editor
- Este texto pode ser lido na página do facebook do nosso amigo Joaquim Mexia Alves, clicando no título
- Último post da série de 4 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26982: (in)citações (275): Jorge Ferreira, "um dos nossos mais velhos"... "Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... É só preciso ter cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (Luís Graça)
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26450: Os nossos seres, saberes e lazeres (667): Rescaldo da apresentação do livro "Orando em Verso III", da autoria do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, levada a efeito no passado dia 24 de Janeiro de 2025, na Igreja Matriz da Marinha Grande
Na sexta-feira, 24 de janeiro, o Salão 1 da Igreja Paroquial da Marinha Grande acolheu a apresentação pública do livro “Orando em Verso”, da autoria de Joaquim Mexia Alves. O evento contou com a presença do padre Armindo Castelão Ferreira, pároco da Batalha, que teve a honra de fazer a apresentação da obra.
“Orando em Verso” reúne uma seleção de orações poéticas escritas por Joaquim Mexia Alves ao longo do tempo. O autor, colaborador habitual do website da Diocese de Leiria-Fátima e da Revista Digital REDE, partilha com os leitores textos que refletem sobre a fé, a espiritualidade e a meditação, frutos da sua vivência pessoal.
A receita da venda do livro será integralmente destinada à paróquia da Marinha Grande, com especial enfoque na construção do Centro Pastoral, um projeto muito aguardado pela comunidade local.
Na sua intervenção, o padre Armindo Castelão Ferreira destacou a generosidade e a entrega de Joaquim Mexia Alves, lembrando que o autor, ao escrever estas orações poéticas, oferece ao público não apenas palavras, mas uma expressão da sua vida de fé e de oração. “Estes poemas são ‘oxigénio para a alma'”, afirmou, referindo que os textos do autor podem ser uma fonte de consolo tanto nos momentos felizes como nos difíceis, levando os leitores a Deus em oração e meditação. O padre Armindo exortou todos a seguirem o exemplo de Joaquim Mexia Alves, que, ao partilhar o seu talento e dedicação, demonstra um profundo compromisso com a comunidade e com a fé cristã.
O padre Armindo referiu ainda que este é o terceiro livro publicado por Joaquim Mexia Alves e que, desde o primeiro lançamento, o autor tem demonstrado uma dedicação constante à partilha da sua fé através da escrita. Recordou com carinho as palavras que escreveu aquando da apresentação do primeiro livro de Joaquim, e quando soube que o terceiro estava prestes a ser publicado, expressou a sua felicidade e o seu apoio incondicional ao projeto.
“Orando em Verso III é expressão viva do teu viver em Cristo e da tua vida na comunidade cristã”, concluiu o padre Armindo, deixando uma mensagem de gratidão e encorajamento, na esperança de que Joaquim possa continuar a partilhar com todos os frutos da sua vida de fé. E, com um tom de leveza, disse que aguardam ansiosamente o próximo livro, Orando em Verso IV.
Joaquim Mexia Alves, por sua vez, revelou que para ele a escrita das orações e dos versos não é uma tarefa difícil, mas um prazer e uma forma de se encontrar com Deus. Agradeceu a todos que tornaram possível a realização deste livro, destacando a colaboração do padre Patrício, responsável pela edição e pelo prefácio, e da fotógrafa Daniela, que contribuiu com uma excelente imagem para a capa.
O evento, além da apresentação do livro, foi uma celebração de comunhão, com a presença de diversos membros da comunidade da Marinha Grande. Através deste gesto de partilha, o autor quis também expressar a sua gratidão pela paróquia que o acolheu em tempos difíceis, tornando-se para ele uma verdadeira família em Cristo.
O livro “Orando em Verso” está disponível para venda, com a totalidade da receita a reverter para os fundos do Centro Pastoral da Marinha Grande.
(Com a devida vénia à Diocese de Leiria-Fátima e ao Blogue da Tabanca do Centro)
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Notas do editor:
Vd. post de 16 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26397: Os nossos seres, saberes e lazeres (663): Convite para a apresentação pública do livro "Orando em Verso III", da autoria do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, dia 24 de Janeiro de 2025, pelas 21h30, no Salão 1 da Igreja Matriz da Marinha Grande
Último post da série de 1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26447: Os nossos seres, saberes e lazeres (666): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (190): From Southeast to the North of England; and back to London (9) (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26397: Os nossos seres, saberes e lazeres (663): Convite para a apresentação pública do livro "Orando em Verso III", da autoria do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, dia 24 de Janeiro de 2025, pelas 21h30, no Salão 1 da Igreja Matriz da Marinha Grande
Na sexta feira, dia 24, às 21h30, no salão 1 da nossa igreja da Marinha Grande, terá lugar a apresentação do meu terceiro livro “Orando em Verso III”.
A apresentação será feita pelo meu amigo Padre Armindo Castelão Ferreira, que aceitou o nosso convite para viver connosco esta minha alegria.
Tenho de agradecer muito ao Padre Patrício Oliveira, meu amigo e meu pároco, todo o trabalho que teve na concepção, paginação, etc., deste livro, bem como a óptima fotografia do autor colocada na badana do livro e que também está impressa neste convite.
Muito obrigado pelo fantástico trabalho.
Tenho também de agradecer muito à minha amiga Daniela Sousa a excelente fotografia da capa do livro, que engrandece o livro, sem a mínima dúvida.
A fotografia é do grande crucifixo que faz parte do espólio artístico da Paróquia da Marinha Grande.
Claro que o meu maior agradecimento vai para Deus, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, que, no Seu infinito amor, conseguiram moldar a “pedra dura” que eu era, (e ainda sou um pouco), e levar-me a escrever coisas que eu próprio não consigo, por vezes, abarcar.
À minha Mãe do Céu, dizer obrigado por tantas vezes me dar a mão quando me perco no caminho.
Todos estão convidados a juntarem-se a nós nesta noite de grande alegria para mim.
A receita da venda deste livro reverte inteiramente para a Paróquia da Marinha Grande, particularmente para o fundo para a construção do Centro Pastoral, que tanto desejamos e necessitamos na nossa paróquia.
Quem não quiser ou puder estar presente, mas quiser adquirir o livro, pode fazê-lo enviando um email para – orandoemverso@gmail.com – expressando essa intenção e na resposta será indicado o modo como poderá adquiri-lo.
Marinha Grande, 15 de Janeiro de 2025
Joaquim Mexia Alves
Joaquim Mexia Alves nasceu em Maceira Liz em 1949, mas viveu sempre em Monte Real e Lisboa. Desde 2003, vive na Marinha Grande. Passou por África numa comissão militar na Guiné (1971-1973) como alferes miliciano de operações especiais e trabalhou em Angola nos anos 1974 e 1975.
Educado por pais católicos, frequentou colégios católicos dos irmãos Maristas, Franciscanos e Dominicanos. Ainda frequentou dois anos do curso de Medicina. Na adolescência, afastou-se da fé cristã e da Igreja, mas por volta dos 40 anos encontrou, no Renovamento Carismático Católico, a espiritualidade que o fez reencontrar a fé cristã e marcou o seu regresso empenhado à Igreja.
Fez o Curso Geral de Teologia, no Centro de Formação e Cultura da Diocese de Leiria-Fátima. Pertenceu aos órgãos nacionais do RCC e é, hoje em dia, membro do Board Nacional do Percurso Alpha. Pertence à equipa de liderança pastoral da sua paróquia da Marinha Grande, onde é também ministro extraordinário da comunhão.
É casado, pai de quatro filhos e avô de cinco netos. É autor de dois livros, Orando em Verso e Orando em Verso II, ambos editados pela Paulus.
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Nota do editor
Último post da série de 11 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26378: Os nossos seres, saberes e lazeres (662): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (187): From Southeast to the North of England; and back to London (5) (Mário Beja Santos)
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24671: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XII: Cutia: capinadores, missa, coluna para Mansoa, Berliets

Foto nº 1A
Foto nº 2A
Foto nº 3
Foto nº 6
Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Cutia > C. Outubro de 1969
Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).
Último poste da série > 28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24513: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XI: Cutia, imagens diversas do quotidiano da tabanca e destacamento
quinta-feira, 21 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23449: Os nossos seres, saberes e lazeres (513): Retomadas as festividades à Senhora de Antime, em Fafe (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Bom dia caro camarada,
Para o nosso blogue aqui vai acontecimento de há longos anos importante em Fafe.
Um grande abraço,
Manuel Castro
(Tabanqueiro n.º 793)
A SENHORA DE ANTIME
A cada segundo domingo de Julho, em Fafe celebra-se o culto a Nossa Senhora de Antime, festa secular que, desconhecendo-se embora o seu início, sabe-se que já existia em 1736, isto é, há cerca de 300 anos.
Já por volta de 1860 Camilo Castelo Branco em “Memórias do Cárcere” descrevia: “A Senhora de Antime é de pedra e pesa com a charola vinte e quatro arrobas. Os mais possantes moços pegam ao banzo do andor…”
A tradição mantém-se tendo-se transformado na maior manifestação de fé deste concelho e uma das maiores do Minho. Dado a pandemia nos dois anos anteriores esteve suspensa sendo retomada este ano.
Assim, às dez horas saiu em procissão da Igreja Matriz de Fafe a charola da Senhora das Dores, aos ombros dos Bombeiros Voluntários de Fafe, acompanhados pelos grupos de escuteiros do concelho, em direcção à ponte de S. José, fronteira das freguesias de Fafe e Antime, onde se encontrará com a procissão que acompanha a charola da Senhora da Misericórdia, levada por dez valentões e uma multidão de fiéis.
Seguem daí rumo à Igreja Matriz, num percurso de mais de três quilómetros, ladeado de fiéis e de curiosos que à passagem aplaudem as Senhoras e após paragem em frente à Câmara Municipal para a recepção das autoridades municipais e largada de pombos, seguem para o seu termo na Igreja Nova de São José.
À tarde, pelas dezoito horas, dar~se-á o regresso da Senhora da Misericórdia à sua residência, Igreja de Antime.
Esta é uma festa religiosa que, como quase todas, tem a sua parte profana cujo início antecede a religiosa. Também ela de grande fama e muito concorrida.
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Nota do editor
Último poste da série de 16 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23434: Os nossos seres, saberes e lazeres (512): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (59): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 4 (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 15 de julho de 2021
Guiné 61/74 - P22373: Tabanca do Atira-te Ao Mar (7): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte I: "Pagadores de promessas"
Foto nº 2 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Os "quatro magníficos", os "romeiros" que vieram a pé desde a Praia da Areia Branca e chegaram à meta: da esquerda para a direita, Maria do Céu Pinteus, Joaquim Pinto Carvalho, Jaime Silva e Esmeralda Silva Costa.

Foto nº 4 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro > 13 de julho de 2021 > Jaime Silva, um "pagador de promessas"...
Foto nº 5 > Peniche > Restaurante "Toca do Texugo" > 13 de julho de 2021 > O José Carvalho, um "barão do K3", que veio expressamente do Bombarral, para se juntar, na parte final, aos "caminheiros" da Tabanca do Atira-te ao Mar... Viu, a tempo, a notícia no nosso blogue (*)... Aqui à conversa com o régulo Joaquim Pinto Carvalho, seu vizinho do Cadaval... Contemporâneos na Guiné , descobriram agora que andaram no mesmo colégio, pelo menos um ano...
quinta-feira, 1 de julho de 2021
Guiné 61/74 - P22331: Tabanca do Atira-te ao Mar (5): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte III: Os painéis de azulejos com os nomes dos círios
Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel com os nomes das terras da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras) que, historicamente, realizam os círios ao Santuário
Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel do Merendeito (Lourinhã), Carvalhal (Bombarral), Papagovas (Lourinhã) e Seixal (Lourinhã)
Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Ribeira de Palheiros (Lourinhã), Maxial (Torres Vedras), Ferrel (Peniche), Atouguia da Baleia (Peniche) e Bolhos (Peniche)
Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Casais do Rijo e das Campaínhas (Lourinhã), Carrasqueira (Torres Vedras), Sobral do Parelhão (Bombarral) e Casalinho das Oliveiras (Lourinhã)
Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel da Marquiteira (Lourinhã), Adão Lobo (Cadaval), Campelos (Torres Vedras), Cabeça Gorda (Lourinhã e Torres Vedras)
29 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22325: Tabancas da Tabanca Grande (7): O "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal parte hoje, às 7h00 da manhã...
quarta-feira, 30 de junho de 2021
Guiné 61/74 - P22330: Tabanca do Atira-te ao Mar (4): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte II: O que resta dos ex-votos dos antigos combatentes da guerra do ultramar
Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Móvel com ex-votos de militares, na sua maioria do tempo da guerra do ultramar, sob a forma de retratos emoldurados, como prova de gratidão ao Senhor Jesus... Esta amostra é o que resta de uma coleção muito maior, que foi destruída por cheias aqui ocorridas há anos. Na realidade, trata-se de um "nucleo museológico", composto de algumas centenas de peças, e que ocupa apenas uma sala térrea,
Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Mais um aspecto das peças que estão expostas, sem legendas nem qualquer tratamento temático.
Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Ex-voto:
Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu >Ex-voto:
"Boas festas a todos os visitantes ao Senhor Bom Jesus do Cavalhal…
Meu Bom Jesus do Carvalhal: aqui lhe ofereço e outras coisas mais, eu não pude cá vir, mas mandei [ pelos] meus queridos pais este retrato doloroso: é de um homem cheio de fé, ao tirar este retrato encontrava-se em defesa da província da Guiné.
Meu Bom
Jesus, eu estou na Guiné a lutar, peço a Deus e a Todos os Santos para sempre
me acompanhar, este forte pedido lhe faço. Julgo ser aquilo que eu penso, um pedido
com muita fé. Eu um dia o recompenso no regresso da Guiné.
Meu Bom Jesus, eu de si me despeço, cheio de fé, este soldado fiel que se encontra na Guiné e foi criado no lugar de Ferrel.
Soldado João
Miguel da Purificação Rosa, nº 155326/72, A.P. Morteiro, SPM 4238".
Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Ex-voto:
Foto nº 6 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Ex-voto:
Foto nº 7 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > Museu > Ex-voto:
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
ex-voto | n. m.
ex·-vo·to |ó|
(latim ex voto, por causa do voto)
nome masculino
[Religião católica] Peça de cera, de plástico ou de madeira que representa uma parte do corpo humano, podendo ser também uma madeixa de cabelo, um quadro, uma placa ou outro objecto, que os crentes oferecem a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo e que depositam em lugar de culto ao cumprirem um voto ou uma promessa (ex.: o tecto da capela está repleto de ex-votos pendurados em sinal de gratidão).
"ex-voto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ex-voto [consultado em 30-06-2021].
(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Guiné 61/74 - P21596: Notas de leitura (1327): "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", por António Marujo; Círculo de Leitores e Temas e Debates, Outubro de 2020 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2020:
Queridos amigos,
É uma incursão inédita sobre o culto a Nossa Senhora de Fátima na envolvente da guerra colonial, militares, familiares e amigos, todos envolvidos. António Marujo é um jornalista credenciado na temática religiosa, "enfrentou" a leitura de cerca de 50 mil mensagens entre as milhões existentes, privilegiou o período que vai de 1917 a 1974, consultou personalidades avisadas, os temas da paz e da guerra são dominantes nos pedidos à Mãe de Deus, sem detrimento de muitos outros que vão desde a conversão da Rússia a pedidos de saúde ou de emprego, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, desilusões amorosas, angústias existenciais, até afloram situações de pedofilia, mas há muito mais.
Um livro que nos permite ir conhecendo melhor o país através do analfabetismo, da pobreza e da falta de proteção social, uma obra que nos permite igualmente entender o papel desempenhado por Fátima na fé dos combatentes, seus pais, mulheres, noivas e namoradas, madrinhas de guerra e grandes amigos. Até hoje.
Um abraço do
Mário
Uma assombrosa viagem pelo correio dirigido a Nossa Senhora de Fátima
A obra de investigação de que resultou esta reportagem jornalística intitula-se "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", é seu autor António Marujo, um jornalista com largos créditos e pergaminhos na área da temática religiosa; afoitou-se à leitura de um bom número de dezenas de milhar de mensagens dirigidas a Nossa Senhora de Fátima, com os temas mais díspares (declarações, pedidos de saúde ou de emprego para o próprio ou para outras pessoas, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, orações pela paz no mundo e pela conversão da Rússia, pedidos angustiantes para que filhos, maridos e familiares envolvidos nas guerras viessem sem beliscadura, obra editada pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, outubro de 2020. (*)
Antes de nos centramos nas mensagens em tempo de guerra colonial, atenda-se às observações do autor. O país que estas mensagens revelam num acervo como não existe outro em Portugal, podemos ver quem era escolarizado ou não, saber que predominavam as mulheres, pois quem escrevia era quem ficava, não que os jovens que partiam não levassem a incumbência de rezar o terço ou ter no peito a medalhinha de Nossa Senhora ou contarem com ela as horas de aflição.

Imagem do nosso blogue (**)
Consolidadas as mensagens de Fátima, e esta transformada em santuário com fama universal, desenvolveu-se cumulativamente a evocação anticomunista, falava-se na conversão da Rússia, não esquecer que se vivia em Guerra Fria e a imprensa portuguesa fazia o possível para revelar as perseguições da Igreja na Rússia.
O autor escreve:
“As cartas que se referem à guerra dão conta da aflição ou da dúvida, do pedido genérico de paz ou da súplica dos mais próximos, da convicção ideológica alinhada pelo discurso oficial ou, mesmo se residualmente, da contestação ao regime e à guerra, de uma diversidade enorme: o soldado que envia a fotografia com uma mensagem escrita no verso, a mãe que pede pelo filho, a noiva que lembra o seu prometido, o soldado que quer regressar para ver os filhos, as madrinhas de guerra ou as crianças que nas escolas fazem trabalhos a pedir a paz no mundo e para Portugal. Neste último caso, há vários exemplos de mapas de Portugal e dos então territórios ultramarinos, desenhados em folhas de papel para as crianças colorirem ou preencherem com pequenas frases, junto a uma representação da Nossa Senhora de Fátima”.
Há também mensagens em que se pede para o filho não ir para a tropa ou não ir à guerra, há mensagens a pedir paz para todos os soldados que combatem nas frentes, há pedidos como este: “Salvai Portugal e os soldados que dão a vida pela Pátria”.
Está hoje bem identificado que a mulher foi um grande apoio dos combatentes, procuravam dar estímulo e esperança no seu correio para o familiar na guerra, até conjuntamente se faziam promessas para ir agradecer a Nossa Senhora quando ele regressasse são e salvo.
Mais adiante, o autor fala dos jovens que regressaram são e salvos e que “reavivaram uma religiosidade de gratidão”. E veja-se um exemplo:
“A gratidão é o sentimento de Manuel Antunes, das Caldas da Rainha, hoje emigrante em Wasaga Beach (Canadá), onde casou. Todos os anos faz questão de estar no santuário português, acompanhado da esposa e do filho. Nos seus anos de guerra (Moçambique, 1967-69) rezava todos os dias a Senhora de Fátima. ‘Era a minha protetora, a minha fé foi fortificada na guerra e Nossa Senhora de Fátima fortificou a minha fé’, diz ele, durante a estadia em Portugal que o levaria ao santuário, em 10 de maio de 2019.
Consigo, Manuel transportava sempre um pequeno papel com os dados pessoais, para o caso de lhe acontecer alguma coisa. ‘Choro, lamento, mas amanhã irei para o mato. Mas irei: Nossa Senhora de Fátima me acompanha’, escreveu na pequena folha, hoje ainda legível. ‘Regressei, regressei, mas alguns ficaram lá…’, recorda, comovido. ‘Venho cá todos os anos e venho sempre a Fátima, rezo na Capelinha… Não vou pagar nada, só agradeço, tudo, tudo, agradeço por aquilo que me tem feito. É a minha fé”.
“Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.”
O autor discorre sobre a relação de Fátima com o tema da guerra e da paz logo encetado em 13 de maio de 1917, quanto à guerra colonial nem tudo era linear entre católicos, com o evoluir da guerra a chamada linha do catolicismo de vanguarda afrontou o regime, primeiro refletindo sobre o direito dos povos à autodeterminação e depois condenando a inflexibilidade em não se dialogar com quem queria ser livre.
Tratando-se de uma investigação inédita, julgo que também é inédito o alargado olhar sobre o papel de Fátima na guerra colonial. Uma leitura estimulante para entender a fé dos combatentes e dos seus familiares.
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Notas do editor
(* Último poste da série de 26 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21584: Notas de leitura (1326): família, casamento e sexualidade, comentário de Cherno Baldé a uma das "Estórias cabralianas" ["Cabral, salvador das bajudas desfloradas"], da autoria de Jorge Cabral (Lisboa, ed. José Almendra, 2020, pp. 93-94)
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Guiné 61/74 - P20274: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VII: Em Fulacunda, também havia milagres...
Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > A famosa "torre de vigia" que já existia no tempo dos Boinas Negras, a CCAV 2482 (1968/70)
Foto: © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

[ Foto acima: Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda]
Estou a viver os primeiros dias em Fulacunda e os dias irão decorrer de acordo com a normalidade corresponde às razões da nossa mobilização.
Oficiais e sargentos partilham uma messe conjunta e periodicamente faziam-se umas paródias de confraternização. Cantava-se, improvisavam-se instrumentos musicais e o "Pitchas", como era alcunhado o Zé Luís, arranhava na guitarra. O Comandante acompanhava ao xilofone e eu tinha uma bateria improvisada com os invólucros das munições do obus 10,50cm, que tinham um som estridente e ao mesmo tempo suave. Tocava com umas "baquetas" que um soldado tinha feito de forma artesanal. Havia dois ou três dos presentes que emprestavam a voz e lá íamos comendo uns camarões e bebendo umas "cervejolas".
Periodicamente, o nosso 1º Sargento trazia-nos de Bissau uns camarões que constituía sempre uma noite especial.
Com os meus soldados do 22º PEL ART (Pelotão de Artilharia) e a colaboração sempre imprescindível dos meus camaradas e amigos, os furriéis Jacinto e Branco, íamos construindo os espaldões para os três obuses 10,50cm que tinham sido posicionados junto à pista de aviação.
Algumas árvores foram abatidas para permitir a redução do chamado "ângulo de sítio", sempre que se fizesse fogo com os obuses e, mais importante, podermos fazer tiro direto.
Embora estes trabalhos
tenham sido levados a efeito pelos soldados da artilharia, não devo esquecer aqui a ajuda de soldados "Boinas Negras” [, CCAV 2482, Tite e Fulacunda, 1968/70], do qual o único que mais me marcou foi um rapaz chamado Lérias. Corpulento de físico, mas com uma disponibilidade para ajuda e uma alma grande como se ajudasse os amigos da paróquia.
Sempre atento, o Comandante [, cap cav Henrique de Carvalho Maia,] indagava-me se tudo estava bem e se precisava de alguma coisa.
Recordo que aos fins-de-semana havia futebolada. Por vezes a disputa era acesa e a luta aquecia. Era o reflexo da adrenalina que vinha ao de cima e que era necessário controlar q.b.
Um dia sou convidado para jogar. Recusei, porque não era dotado para aquela prática, ao contrário do Jacinto que era um craque e por isso sempre disputado para a equipa A, ou B. Havia também um rapazito africano, o Seco, nome de um jovem de Fulacunda que trabalhava na messe conjunta dos Oficiais e Sargentos, servindo à mesa.
De vez em quando éramos alvo de umas rajadas de "costureirinha" [ A irritante Shpagin PPSH 41, de calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha", de origem soviética]. Embora o aquartelamento fosse defendido segundo o método de "postos avançados" e com a artilharia sempre a postos, normalmente não se respondia ao fogo IN, por ser de fraca intensidade.
Se bem me lembro, enquanto eu estive em Fulacunda, teremos respondido ao fogo uma ou duas vezes. Da que tenho mais presente, mas cuja data não menciono aqui, deu-se ao fim da tarde de um determinado dia, com morteirada forte. Perto da hora do jantar estamos na messe. Com o fogo intenso, o Comandante sai para subir à "torre de vigia" para tentar referenciar a origem do fogo e por analogia a posição do IN. Sigo o Capitão e, na subida à torre pela escada exterior, passa-nos um rocket, que de raspão bate na parede da torre e não explode. É aí que sinto ficar ferido muito ligeiramente no braço esquerdo.
- Vem do lado da pista! - grita o Comandante.
Desço da torre de vigia com a intenção de me deslocar rapidamente para os obuses. Um dos alferes dá-me a chave de um dos jipes e vou acelerando para junto da pista onde estavam os 10,50cm.
Junto à casa do antigo Chefe de Posto, uma morteirada cai a uns 80 metros à frente do jipe. Um clarão que não impediu que o jipe se desviasse do trajeto. Sigo em frente e, já junto aos obuses, dou instrução de tiro:
- Vamos apontar para a orla da mata, rápido, rapazes, vamos lá mostrar como se faz fogo.
Os três obuses continuam a fazer fogo por cima da pista para a orla da mata. O IN, entretanto, tinha cessado o fogo.
Passados uns minutos, tudo fica em silêncio. A tensão mantém-se, o alerta é total.
Já não tenho presente o detalhe da situação, mas lembro-me de o Comandante ter chegado junto dos obuses um pouco "exaltado", por não estarmos a fazer fogo para o local que ele tinha identificado quando fez a observação da torre de vigia. Teríamos feito tiro na direção correta, mas para a orla da mata, estando o IN, entre a orla e a pista de aviação. O tiro passou por cima.
Ainda estamos nesta fase de tensão e eis que chega junto dos obuses o alferes que me tinha dado a chave do jipe. Ele estava confuso e confuso eu fiquei quando me diz que a chave que eu trouxe não era do jipe que eu tinha conduzido. Que teimosia se estabeleceu... Fomos experimentar.
Na verdade, a chave que eu tinha não entrava na ignição do jipe que eu tinha trazido. Experimentou-se com a chave que o alferes trazia na algibeira e foi uma "palhinha", entrou na ignição e o jipe começou a trabalhar que nem uma máquina de costura.
Curiosidades destes aspetos da guerra. Afinal, não deve haver milagres, mas na ânsia de pôr aquele jipe a trabalhar devia ter enfiado a chave com mais pressão que a normal. Suavemente não entrava.
Mas..., ainda estávamos no rescaldo do ataque IN.
Pela manhã cedo do dia seguinte, um pelotão sai do aquartelamento e vai em reconhecimento ao local de onde se supunha ter vindo o ataque no dia anterior. Solicito autorização ao Comandante para acompanhar o pelotão de reconhecimento, que me foi concedida.
Após alguns minutos de marcha com a cautela que as condições recomendavam, lá encontrámos, em frente á pista de aviação, os vestígios do grupo terrorista atacante de véspera. Várias "camas" no chão sobre o capim vergado, com invólucros de munições espalhadas e vestígios diversos de que houve ali gente.
Passámos pela orla da mata e verificou-se a zona de fuga do IN.
De volta ao quartel, passámos pela pequena capela existente no aquartelamento onde os crentes podiam fazer as suas orações e assistir à realização da missa.
Um grupo de soldados está junto à capela, o que revelou que algo se passava aos que se aproximavam. A Capela tinha sido construída sem a parede frontal e o telhado era de zinco. Na parede de topo da Capela, havia um nicho, estando nela colocada uma imagem de Nossa Senhora. Mas qual o espanto e a justificação de tantos à volta e dentro da capela, naquele preciso momento?
É que a capela tinha sido atingida com mais do que uma morteirada, a avaliar pela picagem das paredes e do estado das chapas de zinco que constituíam a cobertura. Perante tais morteiradas, tudo pareceria normal, não fosse o facto de o nicho e a imagem de Nossa Senhora estarem intactas. Isto é, sem o mais pequeno vestígio de estilhaço. Na prática, o telhado de zinco quase tinha ficado desfeito, as três paredes de suporte da Capela todas picadas pelos estilhaços da explosão das morteiradas.
A perplexidade de todos era, sem dúvida, a circunstância da imagem de Nossa Senhora e o nicho onde esta se encontrava estarem incólumes.
Milagre, clamavam alguns..., mas, a vida é o que é e a crença pertence a cada um. O respeito por situações não compreensíveis ou inexplicáveis à luz da razoabilidade é o mínimo que se deve ter.
Os "Boina Negras" tinham uma relação fácil, amistosa e recíproca com grande parte da população de Fulacunda. Havia muitas crianças que, no tempo de "inverno", corriam contra o vento com uns panos passados pelos ombros acompanhando os braços, parecendo "Ícaros" a pretenderem levantar voo.
No período em que eu estive em Fulacunda estes meninos não tinham escola. Porém, pouco tempo depois da minha saída passaram a ter aulas com a chegada de professoras primárias, naturais da Província.
(Continua)
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Nota do editor:
ÚLtimo poste da série > 20 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20260: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VI: Eusébio, um preso que eu mandei tratar com dignidade e que me vai ficar reconhecido