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terça-feira, 19 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24671: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XII: Cutia: capinadores, missa, coluna para Mansoa, Berliets

Foto nº 1A


 Foto nº 1


Foto nº 2

Foto nº 2A

Foto nº 3


Foto nº 4A


Foto nº 4A


Foto nº 5


Foto nº 5A

Foto nº 6


Foto nº 6A

Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  Cutia > C. Outubro de 1969

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71). 

Anexa-se a penúltima parte da série de fotos sobre Cutia, destacamento e a tabanca que ficava a meio caminho entre Mansoa e Mansabá. (*)

Na altura, havia em Cutia um Pelotão da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2855 (Mansoa, 1969/71) e ainda o Pel Caç Nat 61 (ou Pel Caç Nat 57) e ainda um Esquadrão do Pel Mort 2004. A AM Daimler que se vê na foto nº 6, deveria pertencer ao Pel Rec Daimler 2048 (que tinha dois esquadrões em Mansoa) (parece estar equipada com uma metralhadora Madsen), rendido depois pelo Pel Rec Daimler 2208.

A organização e a seleção das fotos são feitas pelo seu amigo e nosso camarada, o médico Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa), tendo passado depois pela Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Deve estar com 87 anos (!). Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Estamos-lhe muito gratos pela sua generosa partilha.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de julho de  2023 > Guiné 61/74 - P24513: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XI: Cutia, imagens diversas do quotidiano da tabanca e destacamento

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23449: Os nossos seres, saberes e lazeres (513): Retomadas as festividades à Senhora de Antime, em Fafe (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414, Catió (1963/64) e Cabo Verde (1964/65), com data de 18 de Julho de 2022, com a notícia das festividades à Sanhora de Antime, retomadas após o intervalo de dois anos por causa do Covid-19:

Bom dia caro camarada,
Para o nosso blogue aqui vai acontecimento de há longos anos importante em Fafe.

Um grande abraço,
Manuel Castro
(Tabanqueiro n.º 793)


A SENHORA DE ANTIME

A cada segundo domingo de Julho, em Fafe celebra-se o culto a Nossa Senhora de Antime, festa secular que, desconhecendo-se embora o seu início, sabe-se que já existia em 1736, isto é, há cerca de 300 anos.

Já por volta de 1860 Camilo Castelo Branco em “Memórias do Cárcere” descrevia: “A Senhora de Antime é de pedra e pesa com a charola vinte e quatro arrobas. Os mais possantes moços pegam ao banzo do andor…”

A tradição mantém-se tendo-se transformado na maior manifestação de fé deste concelho e uma das maiores do Minho. Dado a pandemia nos dois anos anteriores esteve suspensa sendo retomada este ano.

Assim, às dez horas saiu em procissão da Igreja Matriz de Fafe a charola da Senhora das Dores, aos ombros dos Bombeiros Voluntários de Fafe, acompanhados pelos grupos de escuteiros do concelho, em direcção à ponte de S. José, fronteira das freguesias de Fafe e Antime, onde se encontrará com a procissão que acompanha a charola da Senhora da Misericórdia, levada por dez valentões e uma multidão de fiéis.

Seguem daí rumo à Igreja Matriz, num percurso de mais de três quilómetros, ladeado de fiéis e de curiosos que à passagem aplaudem as Senhoras e após paragem em frente à Câmara Municipal para a recepção das autoridades municipais e largada de pombos, seguem para o seu termo na Igreja Nova de São José.

À tarde, pelas dezoito horas, dar~se-á o regresso da Senhora da Misericórdia à sua residência, Igreja de Antime.

Esta é uma festa religiosa que, como quase todas, tem a sua parte profana cujo início antecede a religiosa. Também ela de grande fama e muito concorrida.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23434: Os nossos seres, saberes e lazeres (512): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (59): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 4 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22373: Tabanca do Atira-te Ao Mar (7): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte I: "Pagadores de promessas"

Foto nº 1 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > O grupo de "romeiros" fotografaddos no adro, tendo ao fundo a achada principal da igreja: da esquerda para a direita (...e para "memória futura"), o Joaquim Pinto Carvalho (Porto das Barcas, Lourinhã) o António Pinto da Fonseca (Estrada, Peniche),o Joaquim Jorge (Ferrel, Peniche), a Esmeralda Silva Costa (irmã do Jaime) e o marido, Francisco Costa (Lourinhã), a Lurdinhas (a prima do Jaime e da Esmeralda) (Seixal, Lourinhã), a Alice Carneiro (Lourinhã), o Jaime Silva (Seixal, Lourinhã) e o José Carvalho (Roliça, Bombarral). O fotógrafo foi o nosso editor, Luís Graça.



Foto nº 2 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Os "quatro magníficos", os "romeiros" que vieram a pé desde a Praia da Areia Branca e chegaram à meta: da esquerda para a direita, Maria do Céu Pinteus, Joaquim Pinto Carvalho, Jaime Silva e Esmeralda Silva Costa.



Foto nº 3 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Painel de azulejos afixado na parede do lado sul, com listagem, por ordem alfabética, dos círios que aqui vêm (ou vinham) tradicionalmente.  O painel foi oferta da Misericórdia de Óbidos e remonta a 2008. Oito das povoações que realizam (ou realizavam) círios, num total de 33, são da Lourinhã (Atalaia, Areia Branca, Miragaia, Moledo, Reguengo Grande, Reguengo Pequeno, Toledo e Vimeiro)... Só um é da terra (Peniche), o que vem dar razão ao provérbio popular, "Santos da casa, não fazem milagres"...



Foto nº 4 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 >  Jaime Silva, um "pagador de promessas"...


Foto nº 5 > Peniche > Restaurante "Toca do Texugo" >  13 de julho de 2021 >   O José Carvalho, um "barão do K3", que veio expressamente do Bombarral, para se juntar, na parte final,  aos "caminheiros" da Tabanca do Atira-te ao Mar... Viu, a tempo, a notícia no nosso blogue (*)...  Aqui à conversa com o régulo Joaquim Pinto Carvalho, seu vizinho do Cadaval... Contemporâneos na Guiné , descobriram agora que andaram no mesmo colégio, pelo menos um ano...



Foto nº 6 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 > Sala de oferendas, onde se acendem velas à Virgem e se depositam ex-votos.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar andam agora... "numa" de peregrinações, romarias, romagens, círios, caminhadas a pé até a um lugar de culto sacro-profano... desde que seja num raio de 20/30 km... 

Uns movidos pela fé, outros para pagar promessas antigas, outros ainda pela nostalgia da infância, e a maior parte... pela simples vontade de (con)viver!... Bolas, três anos de tropa e guerra e, agora, ano e meio de pandemia, não há cristão que aguente!... É caso para erguer as mãos aos céus e perguntar: "Que mal fiz eu a Deus ?!... Se foi o pecado original, bolas, já está mais que pago pago ao fim de tantas e tantas gerações!"...

Há dias foi o "círio" ao Senhor Jesus do Carvalhal (c. 26 km / cinco horas, da Lourinhã ao Carvalhal, no concelho vizinho de Bombarral). Anteontem, 13,  foi a "romaria" à Sra. dos Remédios, em Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro (c.18 km / 4 horas, pela orla costeira, partindo da Praia da Areia Branca, e seguindo por Paimogo, São Bernardino, Consolação. Peniche, Remédios).

A organização foi da parelha Joaquim Pinto de Carvalho / Jaime Silva, dois "antigos combatentes", o primeiro na Guiné (alf mil at inf, CCAÇ 3398, e CCAÇ 6, Bula e Bedanda, 1971/73) e o segundo em Angola (alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72), e ambos membros da nossa Tabanca Grande.

O Jaime contou-nos, em grupo, que foi pagar uma promessa, atrasada, de meio século. E ele não me levará a mal que eu partilhe aqui esse "pequeno segredo"...com a Tabanca Grande.

Quando ele regressou de Angola, "são e salvo", depois de uma dura comissão, sobretudo no Leste, que lhe deu direito a uma cruz de guerra, a mãe, naturalmente aliviada mas emocionada, confessou-lhe:
– Agora, meu filho, temos que ir a pé à Senhora dos Remédios, pagar a promessa...
– Ó senhora minha mãe, temos que ir ?!...Que história é essa ?... Eu não fiz nenhuma promessa!... E muito menos a de ir a pé à Senhora dos Remédios!
– Ó filho, fui eu que pensei por ti!...
– Então, vá a mãe, que eu estou cansado de andar a pé pelas chanas do leste de Angola...

Fez-se silêncio, criou-se um impasse... Mas a mana mais nova, a Esmeralda, que estava a assistir à conversa, veio salvar a honra da família:
– Ó mano, se não te importas, eu vou por ti!...

E foi, com a mãe, a pé, do Seixal da Lourinhã até aos Remédios, em Peniche,  pagar a promessa à santa, que era devida pelo facto de o Jaime ter regressado "são e salvo"... Enfim, uma "história bonita"...

Quase cinquenta anos depois, em homenagem ao gesto solidário da irmã mas também à grandeza de alma e coração da mãe (já falecida), o nosso camarada Jaime Silva planeou este "círio" (sem vela...). E liderou o grupo dos 4 magníficos que, partindo às 7h30  da Praia da Lourinhã, e seguindo pela costa, chegaram, frescos e felizes, à meta, por volta das 12h30, com uma "paragem técnica", pelo caminho... para "verter águas" e beber um café... (Fotos nº 1 e 2).


2. Os "círios" e os "pagadores de promessas"

Nos anos 60/70 do século passado, os nossos santuários (a começar, "naturalmente", pelo de Fátima) eram locais, muito concorridos, por peregrinos, muitos deles "pagadores de promessas", como os militares, regressados do Ultramar, e/ou suas famílias... (Isso está devidamente documentado nas reportagens da RTP antes e depois do 25 de Abril: Soldados em peregrinação a Fátima (11 de julho de 1965); Peregrinação a Fátima ( 13 de agosto de 1969); Silva Cunha recebe peregrinos da Guiné (22 de maio de 1972);  Assistência aos Peregrinos em Fátima (17 de novembro de 1975)...

"Manifestações de fé" do povo português, escreviam em títulos de caixa alta os jornais da época (, mais apolegéticos do que críticos, e sobretudo rigorosamente vigiados pelos "senhores coronéis da comissão de censura"), sobre as peregrinações a Fátima (Nossa Senhora do Rosário), que ocorriam ao dia 13 de cada mês, entre maio e outubro.

Fátima era então (e continua a ser) o mais "mediático" e "popular" santuário mariano do país. Mas havia (e há)  outros, inúmeros, alguns não  menos conhecidos do que Fátima, de Norte a Sul do país: São Bento da Porta Aberta (Terras de Bouro), Sameiro (Braga), Bom Jesus do Monte (Braga), Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), Nossa Senhora da Abadia (Amares), Penha (Guimarães), etc.  todos no Norte, curiosamente...

Outros há, espalhados pelo país, que também eram (e continuam a ser) procurados pelos fiéis, embora a uma escala mais reduzida, local e regional... É o caso, por exemplo, do Senhor Jesus do Carvalhal (Bombarral) e da Senhora dos Remédios (Peniche) ou ainda o da Nossa Senhora da Misericórdia (Misericórdia, Moita dos Ferreiros, Lourinhã)...

O êxodo rural, a emigração (interna e externa), a guerra do ultramar / guerra colonial, a industrialização e urbanização do país, a par do aumento da escolaridade, tiveram reflexos na mudança de "usos e costumes", incluindo as normas e as práticas da religiosidade dos portugueses...

Com a emigração e a guerra do ultramar / guerra colonial, muitas terras ficaram  sem homens adultos... E a incerteza dos tempos terá ajudado a retomar e/ou a fomentar práticas mais tradicionais de religiosidadee como as "peregrinações" e o "pagamento de promessas"... Ia-se a Fátima ou à Senhora dos Remédios (tanto em Lamego como em Peniche) "pedir graças" e "pagar promessas", que a religi~so dos portugueses também era a do "deve e haver": dás-me isto (o "milagre" da cura ou do regresso de um filho da guerra, "são e salco") e eu pago-te (em orações, penitências, ex-votos, dinheiro, géneros...).

Numa época em que a mobilidade ainda era reduzida, e o poder de comnpra reduzido,  e ir a Fátima ficava longe e era caro, ia-se de preferência aos santuários da região, a pé, ou de carroça (só depois de motocultivador, tractor e carro...).

Em todo o lado, este culto é sacro-profano, realizando-se de preferência no verão, findo o essencial dos trabalhos agrícolas... Não é só uma "manifestação de fé", tem sempre uma componete lúdica e festiva. As romarias no Norte metem sempre muito fogo de artifício, música, comes & bebes...

Mas voltemos ao início da nossa conversa... ou ao ponto em que estávamos...

(Continua)
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Nota do editor:

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22331: Tabanca do Atira-te ao Mar (5): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte III: Os painéis de azulejos com os nomes dos círios


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel com os nomes das terras da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras) que, historicamente, realizam os círios ao Santuário



Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras >  Painel do Merendeito (Lourinhã), Carvalhal (Bombarral), Papagovas (Lourinhã)  e Seixal (Lourinhã)



Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  de Ribeira de Palheiros (Lourinhã), Maxial  (Torres Vedras), Ferrel (Peniche), Atouguia da Baleia (Peniche) e Bolhos (Peniche)



Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > 
 Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Casais do Rijo e das Campaínhas (Lourinhã), Carrasqueira (Torres Vedras), Sobral do Parelhão (Bombarral) e Casalinho das Oliveiras (Lourinhã)
 


Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  da Marquiteira (Lourinhã), Adão Lobo (Cadaval), Campelos (Torres Vedras), Cabeça Gorda (Lourinhã e Torres Vedras)


 1. Azulejos, pintados à mão, do altar campal, construído no sítio das antigas cocheiras. Não sabemos a data nem conseguimos identificar o autor e a fábrica. Mas devem ser relativamente recentes. Talvez de finais do séc. XX. (Talvez sejam da Oficina Brito, Caldas da Rainha.)

Para além do eventual valor estético e documental, têm inegável interesse socioantropológico, para o estudo daquele santuário e da história dos seus círios. Não resisti a fotografá-los, por ocasião do 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã).(*)

A Lourinhã, com 8 círios, é o concelho que mais vezes aflui a este Santuário ao longo do ano. Segue-se Torres Verdas (com 4), Peniche (com 3), Bombarral (com 2) e Cadaval (com 1). Mas parece que fica aqui o círio da Bufarda (Peniche), que se realiza a 29 de junho. (De qualquer modo, este ano não vimos lá ninguém, talvez devido à pandemia; e a verdade é que o da Bufrada não consta do registo da página oficial do Santuário.)

Para o ano, a Tabanca do Atira-te ao Mar vai oficializar a sua candidatura a Círio do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal. Os tabanqueiros gostaram e já apontaram a data nas agendas: 29 de junho de 2022... 

O próximo "círio" será ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Em data a anunciar.... Aceitam-se inscrições. Almoço: Restaurante Toca do Texugo.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22330: Tabanca do Atira-te ao Mar (4): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte II: O que resta dos ex-votos dos antigos combatentes da guerra do ultramar


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Móvel com ex-votos de militares, na sua maioria do tempo da guerra do ultramar,  sob a forma de retratos emoldurados, como prova de gratidão ao Senhor Jesus... Esta amostra é o que resta de uma coleção muito maior, que foi destruída por cheias aqui ocorridas há anos. Na realidade, trata-se de um "nucleo museológico", composto de algumas centenas de peças, e que ocupa apenas uma sala térrea,
 

Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Mais um aspecto das peças que estão expostas, sem legendas nem qualquer tratamento temático.


Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >  Ex-voto:

 "Ao Nosso Senhor Bom Jesus do Carvalhal ofereço a foto de militar para que me proteja sempre nas terras do Ultramar, Angola, João Carlos Jesus Marques"

 Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu >Ex-voto: 

"Boas festas a todos os visitantes ao Senhor Bom Jesus do Cavalhal…

Meu Bom Jesus do Carvalhal: aqui lhe ofereço e outras coisas mais, eu não pude cá vir, mas mandei [ pelos] meus queridos pais este retrato doloroso: é de um homem cheio de fé, ao tirar este retrato encontrava-se em defesa da província da Guiné.

Meu Bom Jesus, eu estou na Guiné a lutar, peço a Deus e a Todos os Santos para sempre me acompanhar, este forte pedido lhe faço. Julgo ser aquilo que eu penso, um pedido com muita fé. Eu um dia o recompenso no regresso da Guiné.

 Meu Bom Jesus, eu de si me despeço, cheio de fé, este soldado fiel que se encontra na Guiné e foi criado no lugar de Ferrel.

Soldado João Miguel da Purificação Rosa, nº 155326/72, A.P. Morteiro, SPM  4238".

 

Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"João da Costa, lugar das Matas, freguesia de Lourinhã"




Foto nº 6 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto: 

"Senhor Jesus, tenha piedade de mim e de todos aqueles que lutam pela Pátria. Manuel Pinto da Fonseca. Peniche"
 

Foto nº 7 > Bombarral > Carvalhal > Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 >  Museu > Ex-voto:

" Ofereço a fotografia do meu querido irmão ao Bom Jesus do Carvalhal ao ter cumprido o tempo do seu serviço militar sem novidade alguma. Maria Alice Lima [ ?]  Alexandre, Adão -Lobo  [ Cadaval]." 

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Não temos falado aqui dos ex-votos, ofertados por antigos combatentes (ou seus familiares), e que existem em todos os nossos santuários, de Norte a Sul do País... Não sei se há estudos sobre estas manifestações de religiosidade, cristã, mas de origem pagã, como muitas outras práticas...

Diz o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

ex-voto
ex-voto | n. m.
ex·-vo·to |ó|
(latim ex voto, por causa do voto)

nome masculino

[Religião católica] Peça de cera, de plástico ou de madeira que representa uma parte do corpo humano, podendo ser também uma madeixa de cabelo, um quadro, uma placa ou outro objecto, que os crentes oferecem a Deus, a Nossa Senhora ou a algum santo e que depositam em lugar de culto ao cumprirem um voto ou uma promessa (ex.: o tecto da capela está repleto de ex-votos pendurados em sinal de gratidão).

"ex-voto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ex-voto [consultado em 30-06-2021].


2. Não frequento santuários, a não ser em viagens turísticas (*). Por feliz acaso, apanhei ontem aberto o "museu" (sic) do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal (**).

Sabemos que os edifícios, adjacentes ao Santuário do Carvalhal (casa dos romeiros, cocheiras, parque de merendas,  etc.) degradaram-se com o tempo. A recuperação e a remodelação do Santuário e espaço envolvente foram feitas pelos diversos párocos da freguesia do Carvalhal e pela comunidade cristã local. Não sabemos exatamente ao que aconteceu aos ex-votos ali deixados, ao longo do tempo. Terão ficado ao abandono e uma grande parte terão sido destruídos pela água, em resultado de inundações, foi o que me disse o meu amigo e camarada Jaime Silva.

Aqui ficam algumas fotos que fiz ao acaso, sem qualquer critério. Pode ser que suscitem o interesse dos estudiosos ea curiosidade dos nossos leitores. (LG)

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21596: Notas de leitura (1327): "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", por António Marujo; Círculo de Leitores e Temas e Debates, Outubro de 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2020:

Queridos amigos, 

É uma incursão inédita sobre o culto a Nossa Senhora de Fátima na envolvente da guerra colonial, militares, familiares e amigos, todos envolvidos. António Marujo é um jornalista credenciado na temática religiosa, "enfrentou" a leitura de cerca de 50 mil mensagens entre as milhões existentes, privilegiou o período que vai de 1917 a 1974, consultou personalidades avisadas, os temas da paz e da guerra são dominantes nos pedidos à Mãe de Deus, sem detrimento de muitos outros que vão desde a conversão da Rússia a pedidos de saúde ou de emprego, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, desilusões amorosas, angústias existenciais, até afloram situações de pedofilia, mas há muito mais. 

Um livro que nos permite ir conhecendo melhor o país através do analfabetismo, da pobreza e da falta de proteção social, uma obra que nos permite igualmente entender o papel desempenhado por Fátima na fé dos combatentes, seus pais, mulheres, noivas e namoradas, madrinhas de guerra e grandes amigos. Até hoje.

Um abraço do
Mário



Mãe, Senhora, ouve-me, que o meu filho venha são e salvo da guerra:
Uma assombrosa viagem pelo correio dirigido a Nossa Senhora de Fátima


Mário Beja Santos

A obra de investigação de que resultou esta reportagem jornalística intitula-se "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", é seu autor António Marujo, um jornalista com largos créditos e pergaminhos na área da temática religiosa; afoitou-se à leitura de um bom número de dezenas de milhar de mensagens dirigidas a Nossa Senhora de Fátima, com os temas mais díspares (declarações, pedidos de saúde ou de emprego para o próprio ou para outras pessoas, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, orações pela paz no mundo e pela conversão da Rússia, pedidos angustiantes para que filhos, maridos e familiares envolvidos nas guerras viessem sem beliscadura, obra editada pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, outubro de 2020. (*)

Investigação estimulante, o próprio autor observa que estas mensagens revelam muito do que era o país, há poucas décadas, marcado ainda pelo analfabetismo, pobreza e falta de proteção social.

Antes de nos centramos nas mensagens em tempo de guerra colonial, atenda-se às observações do autor. O país que estas mensagens revelam num acervo como não existe outro em Portugal, podemos ver quem era escolarizado ou não, saber que predominavam as mulheres, pois quem escrevia era quem ficava, não que os jovens que partiam não levassem a incumbência de rezar o terço ou ter no peito a medalhinha de Nossa Senhora ou contarem com ela as horas de aflição.

 Há depois a natureza da comunicação, mais a intimidade que a pura veneração, daí as invocações de Mãe, Mãezinha, Mãe Adorada, Querida Mãezinha do Céu, Minha Mãe Santíssima, Adorada Mãezinha do Céu, Minha Querida Nossa Senhora de Fátima, e muito mais. 

A mãe é protetora, é uma espiritualidade que se entrelaça com maternidade, envia-se mensagens a alguém que nos está próximo, pronto a ouvir, capaz de perceber que estes milhares de modos de escrever e falar, os pedidos são inúmeros, tem a ver com a saúde, com as fraquezas e traições, com as dúvidas de fé, pedidos de arrimo para os estudos, para se conseguir o amor dos pais, dos filhos ou do marido, pedidos para sair da pobreza, para curar a doença, pedido de amor quando se está em desespero. 

Há também nestas mensagens uma ligação estreita com a doutrina dos Papas, Paulo VI, surpreendentemente, em 13 de maio de 1967, centrou a sua mensagem na paz, Fátima nascera na I Guerra Mundial, houvera depois outra mais mortífera e o Papa tem conhecimento que Portugal vive numa guerra colonial, importa não esquecer que as primeiras questões postas por Lúcia tinham a ver com o fim da guerra.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo e o António Camilo colocando a imagem na sua base.
Imagem de Nossa Senhora de Fátima, na capela do  Núcleo Museológico Memória de Guiledje.  Foi doada pelos nossos camaradas Luís Branquinho Crespo e António Camilo.  
Imagem do nosso blogue (**)


Consolidadas as mensagens de Fátima, e esta transformada em santuário com fama universal, desenvolveu-se cumulativamente a evocação anticomunista, falava-se na conversão da Rússia, não esquecer que se vivia em Guerra Fria e a imprensa portuguesa fazia o possível para revelar as perseguições da Igreja na Rússia. 

E António Marujo discorre sobre as cartas de mães aflitas a pedir que os filhos regressem salvos da guerra. É vasto o correio de Nossa Senhora quanto a testemunhos de angústia no tempo da guerra colonial, e logo desde 1961.
 
O autor escreve:

“As cartas que se referem à guerra dão conta da aflição ou da dúvida, do pedido genérico de paz ou da súplica dos mais próximos, da convicção ideológica alinhada pelo discurso oficial ou, mesmo se residualmente, da contestação ao regime e à guerra, de uma diversidade enorme: o soldado que envia a fotografia com uma mensagem escrita no verso, a mãe que pede pelo filho, a noiva que lembra o seu prometido, o soldado que quer regressar para ver os filhos, as madrinhas de guerra ou as crianças que nas escolas fazem trabalhos a pedir a paz no mundo e para Portugal. Neste último caso, há vários exemplos de mapas de Portugal e dos então territórios ultramarinos, desenhados em folhas de papel para as crianças colorirem ou preencherem com pequenas frases, junto a uma representação da Nossa Senhora de Fátima”.

Há também mensagens em que se pede para o filho não ir para a tropa ou não ir à guerra, há mensagens a pedir paz para todos os soldados que combatem nas frentes, há pedidos como este: “Salvai Portugal e os soldados que dão a vida pela Pátria”

Outro aspeto curioso que o autor regista são as mensagens referindo a guerra como um castigo pelos maus comportamentos da humanidade, há guerra porque os pecadores ainda não se converteram, há guerra porque é um castigo de Deus, porque ainda não se cumpriu a mensagem, perdoa Mãe Santíssima a estes filhos desavindos. E mais adiante:

  “Quando falam da guerra colonial, a esmagadora maioria das cartas são escritas por mães e irmãs, há depois as esposas, avós ou outras familiares aflitas, namoradas ou noivas esperançadas”.

Está hoje bem identificado que a mulher foi um grande apoio dos combatentes, procuravam dar estímulo e esperança no seu correio para o familiar na guerra, até conjuntamente se faziam promessas para ir agradecer a Nossa Senhora quando ele regressasse são e salvo.

Mais adiante, o autor fala dos jovens que regressaram são e salvos e que “reavivaram uma religiosidade de gratidão”. E veja-se um exemplo:

“A gratidão é o sentimento de Manuel Antunes, das Caldas da Rainha, hoje emigrante em Wasaga Beach (Canadá), onde casou. Todos os anos faz questão de estar no santuário português, acompanhado da esposa e do filho. Nos seus anos de guerra (Moçambique, 1967-69) rezava todos os dias a Senhora de Fátima. ‘Era a minha protetora, a minha fé foi fortificada na guerra e Nossa Senhora de Fátima fortificou a minha fé’, diz ele, durante a estadia em Portugal que o levaria ao santuário, em 10 de maio de 2019.

Consigo, Manuel transportava sempre um pequeno papel com os dados pessoais, para o caso de lhe acontecer alguma coisa. ‘Choro, lamento, mas amanhã irei para o mato. Mas irei: Nossa Senhora de Fátima me acompanha’, escreveu na pequena folha, hoje ainda legível. ‘Regressei, regressei, mas alguns ficaram lá…’, recorda, comovido. ‘Venho cá todos os anos e venho sempre a Fátima, rezo na Capelinha… Não vou pagar nada, só agradeço, tudo, tudo, agradeço por aquilo que me tem feito. É a minha fé”
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Imagem do Santuário nos anos 1970

António Marujo também recorda episódios dolorosos como o de António Guerreiro Calvinho, antigo presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas  (ADFA), que não esqueceu Fátima na sua poesia. Sempre equacionando o papel da Mãe de Deus com a Mãe Natural, o autor recorda a importância da canção “Mãe” do Conjunto Oliveira Muge. Escrita por António Policarpo, a sonoridade da composição era semelhante a outras baladas pop de estrutura simples desses anos 1960. 

E há as madrinhas e namoros, envolvendo Nossa Senhora de Fátima. Há a história de Joaquim Gregório, taxista na Batalha, que embarcou nos primeiros contingentes enviados para Angola. Participou na tomada de Nambuangongo, todos os dias rezava o terço com vários camaradas, invocando a Senhora de Fátima. Ferido com gravidade, Gregório chega a ser dado como morto. Depois de regressar foi a Fátima várias vezes em agradecimento. E António Marujo lembra o poema “Nambuangongo, meu amor”, de Manuel Alegre, provavelmente o mais poderoso poema de toda a literatura da guerra colonial, que assim começa:

“Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.”


O autor discorre sobre a relação de Fátima com o tema da guerra e da paz logo encetado em 13 de maio de 1917, quanto à guerra colonial nem tudo era linear entre católicos, com o evoluir da guerra a chamada linha do catolicismo de vanguarda afrontou o regime, primeiro refletindo sobre o direito dos povos à autodeterminação e depois condenando a inflexibilidade em não se dialogar com quem queria ser livre.

Tratando-se de uma investigação inédita, julgo que também é inédito o alargado olhar sobre o papel de Fátima na guerra colonial. Uma leitura estimulante para entender a fé dos combatentes e dos seus familiares.
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Notas do editor

(* Último poste da série de 26 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21584: Notas de leitura (1326): família, casamento e sexualidade, comentário de Cherno Baldé a uma das "Estórias cabralianas" ["Cabral, salvador das bajudas desfloradas"], da autoria de Jorge Cabral (Lisboa, ed. José Almendra, 2020, pp. 93-94)

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20274: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VII: Em Fulacunda, também havia milagres...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  A famosa "torre de vigia" que já existia no tempo dos Boinas Negras, a CCAV 2482 (1968/70)


Foto: © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1/ CAC 7, 1969/71) > Parte VII


[ Foto acima: Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda]





Estou a viver os primeiros dias em Fulacunda e os dias irão decorrer de acordo com a normalidade corresponde às razões da nossa mobilização.

Oficiais e sargentos partilham uma messe conjunta e periodicamente faziam-se umas paródias de confraternização. Cantava-se, improvisavam-se instrumentos musicais e o "Pitchas", como era alcunhado o Zé Luís, arranhava na guitarra. O Comandante acompanhava ao xilofone e eu tinha uma bateria improvisada com os invólucros das munições do obus 10,50cm, que tinham um som estridente e ao mesmo tempo suave. Tocava com umas "baquetas" que um soldado tinha feito de forma artesanal. Havia dois ou três dos presentes que emprestavam a voz e lá íamos comendo uns camarões e bebendo umas "cervejolas".

Periodicamente, o nosso 1º Sargento trazia-nos de Bissau uns camarões que constituía sempre uma noite especial.

Com os meus soldados do 22º PEL 
ART (Pelotão de Artilharia) e a colaboração sempre imprescindível dos meus camaradas e amigos, os furriéis Jacinto e Branco, íamos construindo os espaldões para os três obuses 10,50cm que tinham sido posicionados junto à pista de aviação.

Algumas árvores foram abatidas para permitir a redução do chamado "ângulo de sítio",  sempre que se fizesse fogo com os obuses e, mais importante, podermos fazer tiro direto.



Embora estes trabalhos 
tenham sido levados a efeito pelos soldados da artilharia, não devo esquecer aqui a ajuda de soldados "Boinas Negras” [, CCAV 2482, Tite e Fulacunda, 1968/70], do qual o único que mais me marcou foi um rapaz chamado Lérias. Corpulento de físico, mas com uma disponibilidade para ajuda e uma alma grande como se ajudasse os amigos da paróquia.

Sempre atento, o Comandante [, cap cav Henrique de Carvalho Maia,] indagava-me se tudo estava bem e se precisava de alguma coisa.

Recordo que aos fins-de-semana havia futebolada. Por vezes a disputa era acesa e a luta aquecia. Era o reflexo da adrenalina que vinha ao de cima e que era necessário controlar q.b.


Um dia sou convidado para jogar. Recusei, porque não era dotado para aquela prática, ao contrário do Jacinto que era um craque e por isso sempre disputado para a equipa A, ou B. Havia também um rapazito africano, o Seco, nome de um jovem de Fulacunda que trabalhava na messe conjunta dos Oficiais e Sargentos, servindo à mesa.

De vez em quando éramos alvo de umas rajadas de "costureirinha" [ A irritante Shpagin PPSH 41, de calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha", de origem soviética]. Embora o aquartelamento fosse defendido segundo o método de "postos avançados" e com a artilharia sempre a postos, normalmente não se respondia ao fogo IN, por ser de fraca in
tensidade. 


Se bem me lembro, enquanto eu estive em Fulacunda, teremos respondido ao fogo uma ou duas vezes. Da que tenho mais presente, mas cuja data não menciono aqui, deu-se ao fim da tarde de um determinado dia, com morteirada forte.
Perto da hora do jantar estamos na messe.  Com o fogo intenso, o Comandante sai para subir à "torre de vigia" para tentar referenciar a origem do fogo e por analogia a posição do IN. Sigo o Capitão e,  na subida à torre pela escada exterior, passa-nos um rocket, que de raspão bate na parede da torre e não explode. É aí que sinto ficar ferido muito ligeiramente no braço esquerdo.

- Vem do lado da pista! -  grita o Comandante.

Desço da torre de vigia com a intenção de me deslocar rapidamente para os obuses.  Um dos alferes dá-me a chave de um dos jipes e vou acelerando para junto da pista onde estavam os 10,50cm.

Junto à casa do antigo Chefe de Posto, uma morteirada cai a uns 80 metros à frente do jipe. Um clarão que não impediu que o jipe se desviasse do trajeto. Sigo em frente e, já junto aos obuses, dou instrução de tiro:

- Vamos apontar para a orla da mata, rápido, rapazes, vamos lá mostrar como se faz fogo.

Os três obuses continuam a fazer fogo por cima da pista para a orla da mata. O IN, entretanto, tinha cessado o fogo.

Passados uns minutos, tudo fica em silêncio. A tensão mantém-se, o alerta é total.

Já não tenho presente o detalhe da situação, mas lembro-me de o Comandante ter chegado junto dos obuses um pouco "exaltado", por não estarmos a fazer fogo para o local que ele tinha identificado quando fez a observação da torre de vigia. Teríamos feito tiro na direção correta, mas para a orla da mata, estando o IN, entre a orla e a pista de aviação. O tiro passou por cima.

Ainda estamos nesta fase de tensão e eis que chega junto dos obuses o alferes que me tinha dado a chave do jipe. Ele estava confuso e confuso eu fiquei quando me diz que a chave que eu trouxe não era do jipe que eu tinha 
conduzido. Que teimosia se estabeleceu... Fomos experimentar.

Na verdade, a chave que eu tinha não entrava na ignição do jipe que eu tinha trazido. Experimentou-se com a chave que o alferes trazia na algibeira e foi uma "palhinha",  entrou na ignição e o jipe começou a trabalhar que nem uma máquina de costura.

Curiosidades destes aspetos da guerra. Afinal, não deve haver milagres, mas na ânsia de pôr aquele jipe a trabalhar devia ter enfiado a chave com mais pressão que a normal. Suavemente não entrava.

Mas..., ainda estávamos no rescaldo do ataque IN.

Pela manhã cedo do dia seguinte, um pelotão sai do aquartelamento e vai em reconhecimento ao local de onde se supunha ter vindo o ataque no dia anterior. Solicito autorização ao Comandante para acompanhar o pelotão de reconhecimento, que me foi concedida.

Após alguns minutos de marcha com a cautela que as condições recomendavam, lá encontrámos, em frente á pista de aviação, os vestígios do grupo terrorista atacante de véspera. Várias "camas" no chão sobre o capim vergado, com invólucros de munições espalhadas e vestígios diversos de que houve ali gente.

Passámos pela orla da mata e verificou-se a zona de fuga do IN.

De volta ao quartel, passámos pela pequena capela existente no aquartelamento onde os crentes podiam fazer as suas orações e assistir à realização da missa.

Um grupo de soldados está junto à capela,  o que revelou que algo se passava aos que se aproximavam. A Capela tinha sido construída sem a parede frontal e o telhado era de zinco. Na parede de topo da Capela, havia um nicho, estando nela colocada uma imagem de Nossa Senhora. Mas qual o espanto e a justificação de tantos à volta e dentro da capela, naquele preciso momento?

É que a capela tinha sido atingida com mais do que uma morteirada, a avaliar pela picagem das paredes e do estado das chapas de zinco que constituíam a cobertura. Perante tais morteiradas, tudo pareceria normal, não fosse o facto de o nicho e a imagem de Nossa Senhora estarem intactas. Isto é, sem o mais pequeno vestígio de estilhaço. Na prática, o telhado de zinco quase tinha ficado desfeito, as três paredes de suporte da Capela todas picadas pelos estilhaços da explosão das morteiradas.

A perplexidade de todos era, sem dúvida,  a circunstância da imagem de Nossa Senhora e o nicho onde esta se encontrava estarem incólumes.

Milagre, clamavam alguns..., mas, a vida é o que é e a crença pertence a cada um. O respeito por situações não compreensíveis ou inexplicáveis à luz da razoabilidade é o mínimo que se deve ter.

Os "Boina Negras" tinham uma relação fácil, amistosa e recíproca com grande parte da população de Fulacunda. Havia muitas crianças que, no tempo de "inverno", corriam contra o vento com uns panos passados pelos ombros acompanhando os braços, parecendo "Ícaros" a pretenderem levantar voo. 


No período em que eu estive em Fulacunda estes meninos não tinham escola. Porém, pouco tempo depois da minha saída passaram a ter aulas com a chegada de professoras primárias, naturais da Província. 

(Continua)
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Nota do editor:


ÚLtimo poste da série > 20 de outubro de  2019 > Guiné 61/74 - P20260: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VI: Eusébio, um preso que eu mandei tratar com dignidade e que me vai ficar reconhecido

terça-feira, 5 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

C O N V I T E



1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 4 de Março de 2019:

Meus amigos
O meu segundo livro está editado e até já começou a ser vendido. No entanto a apresentação do mesmo só será feita no dia 30 de Março.

Estão todos convidados para a apresentação do meu livro "Orando em Verso II".

A receita da venda deste livro, (depois de deduzidas as despesas de edição), será inteiramente entregue às Irmãs Clarissas de Monte Real, para ajudar as obras do Mosteiro que recentemente construíram em Timor.

O livro pode ser adquirido também enviando um mail para orandoemverso@gmail.com e na resposta serão dadas todas as indicações para o poder receber em casa.
Ainda restam alguns, poucos, exemplares do primeiro livro, "Orando em Verso", cuja receita de venda foi e é entregue à Paróquia da Marinha Grande para a construção do Centro Pastoral de imensa necessidade para a paróquia. Pode ser adquirido também com envio de mail para o mesmo endereço electrónico acima referido.

Muito obrigado a todos pelo vosso apoio e colaboração.

Envio também convite e poster feitos pela Paulus para o evento.
Se quiserem colocar nos blogues respectivos agradeço e as Irmãs Clarissas também.

Abraços amigos e gratos do
Joaquim Mexia Alves
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Nota do editor

Último poste da série de1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)