sábado, 16 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23434: Os nossos seres, saberes e lazeres (512): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (59): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 4 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
Não tinha a veleidade de numa semana percorrer de fio a pavio a minha ilha mágica, condicionei-me a andar a saltitar por localidades da costa sul e a acantonar-me nas Furnas, aqui larguei a âncora. Mas não faltou vontade de rever os Arrifes, em cujo quartel dei duas recrutas. Num outro passeio percorri São Vicente Ferreira e Fenais da Luz, ficara-me a lembrança dos crosses durante as ditas duas recrutas. Aqui ficam as imagens de locais esplendorosos como os Mosteiros e a Lagoa das Furnas, e deixa-se o aviso aos amantes da Natureza que o Parque Terra Nostra, em frondosa primavera, está mais belo do que nunca.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (59):
De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 4


Mário Beja Santos

São dias conduzidos ao sabor da memória, feita a deambulação por Ponta Delgada, houve lembranças dos primeiros passeios dados, logo uma ida de autocarro até à Lagoa das Sete Cidades, carreira com horário estranho, partiu-se ao despontar da manhã, e só havia regresso a meio da tarde, o mais grave era não se encontrar um sítio para amesendar, houve que pedir de mão estendida a alguém que fizesse uns ovos mexidos com linguiça, o turismo então era miragem fora da cidade, das povoações mais habitadas, havia o Hotel São Pedro e o das Furnas, locais para comer com tradições, o bife do Alcides, uns recantos panorâmicos para saborear as lapas com molho Afonso, e uns passarinhos da Ribeira Grande. Décadas depois, tudo mudara. Tinha saudades dos Mosteiros, daquele mar bravio inextinguível, o dia estava ensolarado, era promissor de águas azuladas, como se confirmou. Na Avenida, subi para o autocarro em direção aos Mosteiros, é aquele belo percurso da costa sul, revi Feteiras, Candelária, Ginetes, tive pena de não ir à Ponta do Escalvado, mas era dos Mosteiros que eu queria matar saudades, como mais tarde irei noutra carreira até João Bom, enfim, havia também lembranças da Bretanha. Saio da viatura e inicio a peregrinação, a beleza do mar e depois os Mosteiros, há grandes mudanças neste mais de meio século, é ponto de turismo, estamos a cerca de 30 km de Ponta Delgada, talvez a Freguesia tenha mais de mil habitantes, deve para aqui haver muita casa secundária, hei de comer um peixinho com alemães, franceses e ingleses à volta. Mas, entretanto, ando de olhar lavado pela ponta dos Mosteiros e a avistar os ilhéus.

Regresso a Ponta Delgada e vou até São Pedro, aproveito para prestar homenagem a Roberto Ivens que aqui nasceu, sigo para a igreja barroca posta em lugar ermo, é um dos mais ricos templos religiosos dos Açores, veja-se aquela talha dourada, a pintura do teto, foi pena ter começado a faltar a luz para não poder captar em todo o seu colorido um belo quadro de Pedro Alexandrino de Carvalho intitulado O Pentecostes.
Sigo agora para a cidade da Lagoa, aqui vim há mais de meio século comprar louça, e aproveito toda e qualquer circunstância para aqui me sentar à mesa, há repastos deliciosos. É nisto que dou com um monumento dedicado aos combatentes, aproximo-me e vejo que há referências de camaradas que tombaram na Guiné. E curvo-me respeitosamente na sua memória.
Impunha-se agora dar uma certa ordem à vagabundagem, já saltitei por aqui e por acolá, vou agora estacionar nas Furnas, enveredo por um passeio pedestre, não chega a 10 km, não tinham conto as saudades de percorrer esta lagoa, começa-se pela subida ao longo da vila, passa-se perto da Poça da Dona Beija, segue-se em direção ao Pico do Milho, a vista que aqui se desfruta é de estalo, segue-se estrada fora em direção à Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, uma construção neogótica que se deve a José do Canto, insere-se este templo religioso na Mata Jardim do mesmo José do Canto, temos na berma da estrada a Casa dos Barcos, mais à frente avista-se o Centro de Monitorização e Investigação das Furnas, tem-se a contemplação da maior araucária classificada da Europa. A partir de agora anda-se em caminho de terra plano, é uma esplendorosa passeata até ao Recinto das Caldeiras. Começam a chegar autocarros de turismo, vêm desfrutar a atividade geotermal e ver enterrar ou desenterrar o cozido tradicional preparado com o calor interno do vulcão das Furnas. Aqui faz-se uma pausa, ainda há muito para palmilhar, ganha-se coragem e caminha-se para o Miradouro do Pico do Ferro, há que ter cuidado com o trânsito, encontra-se depois um caminho que nos vai levar ao centro da freguesia, já estou a aguar, quero ir comer o cozido ao Miroma, a primeira vez que aqui estive foi almoço com o Melo Bento e o José Medeiros Ferreira, meteram-me numa boa encrenca, fazer uma conferência no Ateneu Comercial de Ponta Delgada, acabou tudo em bem, houve gente que me quis conhecer, não esqueço um jantar memorável em casa do Dr. Armando Côrtes-Rodrigues, tive direito a receber livros autografados.
Vou passar a tarde no Parque Terra Nostra, que saudades, Deus meu! Vou partilhar convosco algumas das imagens deste cenário idílico, cada vez que o visito o parque deslumbramento é permanente, são constantes as surpresas deste mundo florar com espécies de todo o mundo.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23418: Os nossos seres, saberes e lazeres (511): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (58): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 3 (Mário Beja Santos)

1 comentário:

justo disse...

Cheguei ontem dessa "nossa" bela terra. Lºa passei 11 dias maravilhosos, com passagem por diversas ilhas. E um "orgasmo" de prazer, de cultura, de bem estar e de simpatia. Foi a minha terceira ida a essas terras e espero nao ter sido a ultima.