domingo, 10 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23420: Blogpoesia (774): "Já não entendo este mundo", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

© ADÃO CRUZ


Em mensagem do dia 6 de Julho de 2022, o nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68) enviou-nos este seu pema:


Já não entendo este mundo

Não entendo este mundo moribundo
este mundo escuro nascido sem sol e sem luar
já não entendo esta onda de sismos e cifrões
esta dor de milhões de cabeças rolando como esferas
para o fundo dos abismos.
Não entendo este mundo dilacerado e sem vida
já não aguento este frio de quatro paredes
este jogo do cemitério da história
este profundo alarido
este diabólico mistério de morte concebido
esta vida sem sentido a que chama mercado e democracia
a argentária escória.
Não entendo este mundo de olhos vendados com barras de ferro
este silêncio absorto e abstracto
no assalto impune a soberanas nações
este mundo de vidas e almas sem direitos nem justiça
este mar de sangue escorrendo pelas garras dos algozes
este rasgar de corações
este martírio dolorosamente tatuado na pele dos inocentes
por tanques e aviões por mísseis e canhões.
Já não entendo as metástases deste cancro da guerra
este perigo sistémico diariamente arquitectado
esta inelutável evolução para a desordem suprema.
Já não sou capaz de aguentar
o peso do crime chamado superlucro
brilhando como a luz do inferno na ponta dos punhais.
Já não entendo este mundo apodrecido
na secura do grande rio da esperança.
Não entendo este mundo escorraçado para as bocas da fome
pela infame corrida a um podium inglório
por entre as malhas da ganância enlouquecida
neste imparável caminho do caos e da fatalidade
na ensanguentada bandeira erguida para o nada
no constante apunhalar da liberdade.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)

1 comentário:

Unknown disse...

Belo poema!!!!
Uma dolorosa análise do quotidiano que nos cerca e nos asfixia a alma e o coração.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela