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sábado, 18 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V


Foto nº 1A  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita da mancarra (ou milho painço?... É sorgo, diz o nosso especialista Cherno Baldé).

Aqui os homens também trabalham! Em Fulacunda praticamente não havia atividades. Cultivava-se apenas junto ao arame que rodeava a tabanca, alguma mancarra, milho painço, pescava-se muito pouco, apanhavam-se cestos de ostras que cozinhávamos como petisco ao final do dia e havia um milícia que às vezes caçava uma gazela e nos vendia a “preço de ouro”.


Foto nº 1B  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita de sorgo.



Foto nº 2A Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança. Durante a minha estada em Fulacunda, construíram-se apenas umas 3 moranças novas. As NT deram a sua ajuda preciosa


Foto nº 2B >  Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança (2).


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fonte dentro da tabanca. Furo feito pela companhia dos “Boinas Negras”, 1968/69 (?) [CCAV 2482, "Boinas Negras",  30 de junho de 1969 / 14 de dezembro de 1970]. 





Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Horta do Tobias. Alguns soldados e gente da tabanca, sob a orientação do furriel Tobias,  dedicaram-se a esta horta que, como se vê, era bem verdejante, mesmo na época seca. Graças a ela tínhamos, couves, alfaces, pimentos e outras hortaliças.No lado esquerdo, vè-se uma picota (para retirar água de um poço).


Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Avó com filho de soldado branco. Em Fulacunda, verifiquei que havia 4 crianças filhas de soldados brancos,  pertencentes a companhias anteriores. Também verifiquei que apenas uma das mães continuava a viver em Fulacunda.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Lavadeiras. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo (foto nº 3), feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [acções do IN].


Foto nº 7A > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Vista aérea do quartel (à direita) e "reordenamento" (à esquerda)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 7 > Vista aérea da pista, da tabanca e do aquartelamento de Fulacunda... Tentativa de reconstituição de:
  • perímetro de arame farpado (a amarelo, tracejado);
  • espaldões (artilharia, armas pesadas...) e abrigos (a vermelho, círculo);
  • área cultivável em redor do arame farpado (a verde, linha)... 

No sentido su-sudeste / nor-noroeste, vê-se a pista e o heliporto...Para a esquerda era o porto fluvial .  

Pelas minhas contas, o observando a foto aérea, a tabanca de Fulacunda não teria nesta altura mais de meia centena de moranças (300 e tal pessoas): 30 moranças com telhado de zinco e umas 20 com cobertura de colmo... 

A população  vivia em economia de guerra:  homens (milícias) e mulheres (lavadeiras) dependiam da tropa. Não havia bolanhas perto.... Não havia produção de arroz (cujo preço irá triplicar em finais de 1973/74). Nem devia haver nenhum comerciante. A região de Qiuínara foi muito afetada pela guerra (que "oficialmente", para o PAIGC, começou em 23 de janeiro de 1963 em Tite; na verdade, começou muito antes; Tite não tinha qualquer importância, e tinha menos população que outras tabancas da região de Quínara como Bissásserma, Iusse, Enxudé, etc. Fulacunda, sim, era sede de circunscroção admonistrativa... Isoladfa, entrouu em total decadència, e hoje não terá mais de 1500 habitantes.

(Com  o ataque estúpido,  precipitado e infantil a Tite, desencadeado por um "djubi" a quem deram uma pistola, Arafan Mané, abriu-se a "caixa de Pandora", e a Guiné tornou-se um inferno para todos... Porquê, para quê, Arafan ?)

No final da guerra, as NT deveriam ter cerca de 220 homens em armas em Fulacunda: além da 3ª C / BART 6520/72 (160 homens) ,o Pel Mil 221 (30 homens) e o 31º Pel Art (3 obuses 14 cm) (30 homens). O setor S1 (Zona Sul, 1) estava sediado em Tite. Havia quartéis e destacamentos das NT em Tite,  Bissássema, Enxudé, Nova Sintra, Ganjauará, Fulacunda (mais de 1100 homens em armas, segundo a minha estimativa ).(LG)


Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Jorge Pinto: (i) ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; 

(ii) natural de Turquel, Alcobaça; 

(iii) professor do ensino secundário, reformado; 

(iv) membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 6 dezenas de referências no blogue;

(v) tem o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada;

(vi) pela qualidade técnica e estética, pela sensibilidade sociocultural bem como pelo interesse documental dos seus "slides", estamos a republicar, depois de reeditadas, algumas das suas melhores fotos (*).

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26249: Notas de leitura (1753): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
Reiterando a muita admiração por quem coordenou este impressionante repositório de testemunhos e acervo fotográfico, convém recordar que a presente obra vem na sequência de uma anterior intitulada História das "Boinas Negras", focada na comissão da CCAV 2482, edição de 2018, as restantes unidades do batalhão bateram o pé e apresentam-se agora em A Guiné Que Conhecemos, ficamos pois com a fotografia um tanto detalhada do setor 1 da região do Quínara ao tempo da presença do BCAV 2867, com falcões, cavaleiros e dragões, e os boinas negras voltam ao palco. Para todos aqueles que ainda não possuem história da sua unidade, está aqui uma boa matriz, é preciso encontrar um coordenador que saiba trombetear colaborações, testemunhos, imagens, lembranças espúrias, é dessa conjugação de esforços e trabalho de equipa que se põe mais um tijolo do nosso relicário do dever de memória.

Um abraço do
Mário



A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (3)

Mário Beja Santos

O livro Histórias dos “Boinas Negras”, referente à comissão da CCAV 2482 foi o rastilho de pólvora para que as restantes unidades do BCAV 2867 se pusessem em movimento. Conforme refere o coordenador, Jorge Martins Barbosa, antigos combatentes dos “Falcões” da CCS, dos “Cavaleiros de Nova Sintra” da CCAV 2483 e dos “Dragões de Jabadá”, da CCAV 2484 aderiram com os seus testemunhos, assim surgiu este extenso documento que é um misto de história e de literatura memorial.

Não tenho qualquer rebuço em manifestar o meu profundo apreço pela lavra a que se entregou o coordenador Jorge Martins Barbosa, já impulsionador da História dos “Boinas Negras”, esta centrada na comissão da CCAV 2482, as outras unidades do BCAV 2867 não quiseram ficar de fora, e por isso aqui têm desfilado os “Falcões da CCS”, os “Cavaleiros de Nova Sintra”, demos seguidamente a palavra aos “Dragões de Jabadá” e vamos finalizar com os “Boinas Negras”, versão retocada e aumentada. Cuidadoso, Jorge Martins Barbosa entende contextualizar um pouco a história da Guiné. Aproveito a oportunidade para observar que com frequência fala-se da guerra da Guiné-Bissau, o que é um erro tremendo, a Guiné-Bissau é o nome de um Estado proclamado unilateralmente pelo PAIGC em setembro de 1973, logo reconhecido por largas centenas de países, mas a colónia ou província chamava-se Guiné portuguesa, foi aqui que combatemos, dela saímos em outubro de 1974 e na capital entraram dirigentes e militares do PAIGC, então na República da Guiné-Bissau.

É impressionante as colaborações que o autor agregou de todas estas unidades militares, bom seria que ele viesse aderir à nossa confraria e permitisse, bem como todos os seus camaradas de batalhão que um número impressionante de imagens aqui ficasse depositado.

Que significado têm as boinas negras? Este nome de guerra aparecia associado à cor negra do agasalho de cabeça reservado pelo regulamento para os militares de arma de cavalaria. Foram para a Guiné todos de boina castanha e por despacho do governador, de 28 de maio de 1970, foram autorizados a fardar com boina negra no teatro de operações da Guiné. De março a junho passaram em Tite (com exceção de um pelotão que foi para a intervenção em Nova Lamego), população predominantemente Balanta, mas não faltavam outras etnias, havia conivências inescapáveis entre gente à sombra da bandeira portuguesa e a guerrilha, e dá-se um exemplo: “Um dos chefes da base IN de Gã Formoso – de seu nome Vicente – era irmão da mulher de Djamil, comerciante na povoação de Tite, e recebia da irmão com alguma frequência uns macitos de tabaco Malboro e sabonetes Lux. Isto foi afiançado com orgulho, por Vicente, a António Júlio Rosa, quando este ex-alferes miliciano de artilharia (falecido em meados de 2020) passou, cativo, a norte de Fulacunda, de onde depois desceu, saindo pela fronteira junto a Guileje, a caminho de Kindia, na Guiné-Conacri, por ter sido aprisionado em Bissássema na madrugada de 3 de fevereiro de 1968.”

Também se conta o que o pelotão andou a fazer por Nova Lamego, com intervenções em Cabuca e Canjadude, é interessante como o autor põe em comparação relatórios portugueses com documentação subscrita por Amílcar Cabral, estabelecendo diretrizes para intensificar a guerrilha na região Leste. Não são esquecidas as edificações quer em Tite quer em Fulacunda, esta foi a segunda etapa dos “Boinas Negras”, o acervo de imagens é de um muitíssimo interesse, e de novo são invocados documentos do PAIGC referentes a esta região do Quínara, está aqui um bom suporte de trabalho para investigadores do futuro.

O relato acolhe episódio e testemunhos de militares, desde operações e segurança a aquartelamentos, situações passadas em patrulhamentos e escoltas, é lembrado que os “Boinas Negras” foram rendidos pelos “Capicuas” da CART 2772, também desta unidade se recolhe um depoimento de Armando Oliveira que tem voltado à Guiné para oferecer solidariedade. Aspeto curioso é o acervo fotográfico relacionado com Fulacunda das diferentes unidades que por ali passaram e imagens da povoação bem como de Tite até à atualidade.

E a obra finaliza com o elenco de convívios realizados com imensa regularidade desde 1996, o ponto culminante é o testemunho do coronel José Ferreira Durão sobre as atividades dos “Boinas Negras”, é uma peça tocante onde não se esquece o jornal publicado semanalmente, e sem falhar; bem como o testemunho do coronel Joaquim Correia Bernardo sobre os “Cavaleiros de Nova Sintra” e para encerrar o coronel Henrique de Carvalho Morais sobre os “Boinas Negras”.

Um belo trabalho, um acervo fotográfico com grande significado, um esforço coletivo que é um exemplo para muita gente.

Imagem de Tite do tempo do BART 1914 (1967-69), retirada do respetivo blogue, com a devida vénia
Fulacunda, imagem dos “Capicuas” (CART 2772), com a devida vénia
Tite, 19 de janeiro de 1973, o que restou da fuselagem do foguetão presentado pelo IN. Imagem de Joaquim Pereira da Silva do BART 6520/72, com a devida vénia
Chéché, Gabu, na atualidade, imagem retirada da página Society for the Promotion of Guinea Bissau, com a devida vénia
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Notas do editor

Vd. post anterior de 2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26226: Notas de leitura (1751): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 6 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26240: Notas de leitura (1752): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26226: Notas de leitura (1751): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
Quero, antes de mais, manifestar a minha profunda admiração pelo trabalho do coordenador deste livro recheado de testemunhos, relatos militares, alguns deles comparados com documentação do PAIGC depositada na Fundação Mário Soares, para além do acervo fotográfico, de uma abundância raramente vista. 

Se o primeiro episódio foi dedicado aos "Falcões", a CCS do BCAV 2867, passámos para Nova Sintra, seguimos em direção a Jabadá e voltamos aos "Boinas Negras" que andaram por Tite, Nova Lamego e Fulacunda. Esta unidade combateu na Guiné nos anos de 1969 e 1970, goste-se ou não são um exemplo acabado que mesmo na nossa idade avançada é sempre possível cumprir o dever de memória e deixar um belo testemunho para as gerações que nos sucederem e mesmo para os investigadores que seguramente quererão saber mais sobre aquele território e aquela guerra que mudou Portugal e trouxe a África a novos países.

Um abraço do
Mário



A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2)

Mário Beja Santos

O livro Histórias dos “Boinas Negras”, referente à comissão da CCAV 2482 foi o rastilho de pólvora para que as restantes unidades do BCAV 2867 se pusessem em movimento. Conforme refere o coordenador, Jorge Martins Barbosa, antigos combatentes dos “Falcões” da CCS, dos “Cavaleiros de Nova Sintra”, da CCAV 2483 e dos “Dragões de Jabadá”, da CCAV 2484 aderiram com os seus testemunhos, assim surgiu este extenso documento que é um misto de história e de literatura memorial.

Feitas as referências aos “Falcões” (CCS do BCAV 2867) caminhamos agora para Nova Sintra, vão testemunhar alguns dos “cavaleiros”. O 1.º comandante da CCAV 2483, Joaquim Manuel Correia Bernardo, gravemente ferido por uma mina antipessoal, faz o relato da viagem de Bissau para Bolama, daqui para S. João e depois o porto de Lala, em LDM.

“Nova Sintra era um aglomerado de abrigos enterrados dispersos em círculo e limitados por duas fiadas de arame farpado, no meio de uma mata ameaçadoramente densa. Fora do arame farpado estava uma pequena pista de aterragem e um campo de futebol. O povoado que dera nome ao aquartelamento distava cerca de 2 km e estava completamente destruído e invadido pelo matagal. O aquartelamento estava num estado lastimável. Limpámos, campinámos, abrimos as estradas para S. João e Tite, levantámos algumas edificações à superfície para nos ajudar a respirar melhor, melhorámos as captações da água e a pista de aterragem.” 

Refere a aziaga operação na região de Buduco em que se acidentou, manteve laços de amizade com estes cavaleiros e passado todos estes anos confessa que teve o privilégio de ter vivido com estes jovens e orgulho em ter feito parte dos “Cavaleiros de Nova Sintra”.

Há um outro relato de Aníbal Soares da Silva, furriel. Renova a observação do testemunho anterior sobre o estado do quartel que foram encontrar, conta umas boas peripécias, era vagomestre e não deixa de sublinhar as dificuldades no abastecimento: Bolama comprava todos os galináceos em S. João, as colunas do abastecimento conheceram minas anticarro e esmiúça os aspetos da alimentação: 

“Durante um mês, em 27 dias eram fornecidas refeições à base de enlatados: chouriço, sardinha, atum de conserva, dobrada liofilizada, que era intragável. Uma vez por mês eram recebidos géneros frescos (sardinha ou carapau, frango, ovos e alguns legumes), que tinham de ser consumidos em três dias, dada a precariedade das arcas congeladoras. Durante esses três dias e à noite, dois homens faziam vigilância ao bom funcionamento das arcas. Um frango (por homem) podia dar para duas refeições, mas tinha de ser consumido quase de imediato, porque senão estragava-se. O grão-de-bico, o feijão frade e branco, o arroz e o esparguete, eram a base diária das refeições. Depois, era só juntar o chouriço. Saía-se da monotonia quando se apanhavam javalis ou gazelas.” 

Dá-nos conta do que eram os entretenimentos e os dias de festa, mas foca a sua atenção nas tensões vividas nas colunas de reabastecimento. Mais adiante observa que terminada a permanência em Nova Sintra rumaram para Tite para completar os 22 meses de comissão.

Entram agora em cena os “Dragões de Jabadá”, que chegaram à sua base em 7 de março. O autor faz a apresentação do aquartelamento: 

“Jabadá estava situado, desde 1965, junto à margem sul do rio Geba, em Jabadá Porto, com cais acostável tanto para embarcações civis como para lanchas da Marinha. Junto, estava uma grande tabanca da população das etnias Balanta, Biafada e Papel, num total superior a mil almas – a mais numerosa de todo o setor. A maior parte das populações, obrigadas ou não, estava sob o controlo do IN, a quem tinham de dar apoio em alimentação e alojamento.”

Contribui com o seu testemunho o ex-soldado Carlos Alberto dos Santos Serra. Espertalhaço, tudo fez para se mostrar doente e incapaz para o serviço militar, os médicos não se compadeceram. Descreve assim Jabadá: 

“A aldeia estava concentrada num círculo e para a proteger estavam colocados abrigos 200 em 200 metros, pouco mais ou menos, e era nesses abrigos que nós vivíamos e nos defendíamos do inimigo. O povo normalmente jogava com um pau de dois bicos: davam-nos informações quase nunca precisas, mas a quem ajudavam era sempre o inimigo e, por esse motivo, de vez em quando, lá tínhamos nós de ir mandar uma dessas aldeias pelo ar, salvaguardando sempre a população, que, no caso de não ter tempo de fugir, nós acabávamos por trazer sem animosidades ou maus-tratos. Os soldados portugueses eram exemplares, mantendo sempre um comportamento calmo e pacífico, tanto com os inimigos capturados como com a população, na maioria das vezes trazida para Jabadá, onde eram alimentados e mais tarde distribuídos pelas casas de familiares e amigos, onde com o tempo se acabavam por integrar. Deste modo, íamos conquistando a população para o nosso lado, que com o tempo fez aumentar Jabadá quase para o dobro.” 

O Carlos Santos Serra tem uma escrita estimulante, é bom observador, gosta da galhofa e sabe curvar-se respeitosamente por quem sofre ou morre. Não esqueceu os dois meses passados em Tite, detalha a fuga do Cochicho para território da guerrilha, ele apareceu a falar na rádio Voz da Liberdade e voltou a Portugal depois do 25 de Abril. Relato extremoso, há sempre um sorriso nos lábios e uma impressionante lembrança de nomes e situações.

E vamos agora de novo falar nos “Boinas Negras”, sediados em Tite, novo preâmbulo para referir o inicio das hostilidades dos movimentos independentistas, depois vem a descrição da população de Tite, como um dos pelotões desta companhia foi transferido para Nova Lamego, lembra Cabuca e Canjadude, é referido um nosso confrade, o José Marcelino Martins. 

Soube-se em Nova Lamego que estava a ser planeado pelo PAIGC a operação Tenaz B que tinha como objetivos criar condições para atacar Gabu, Piche, Buruntuma, Canclifá e quartéis da área de Pirada, plano minucioso assinado por Amílcar Cabral em finais de março de 1969. Não são esquecidos os melhoramentos em Tite no aquartelamento e na tabanca. Mas ainda falta falar em Fulacunda, será matéria para o último texto desta apreciação de a Guiné que conhecemos, não é possível esconder admiração pelo desvelo do coordenador da obra, Jorge Martins Barbosa, que com muita paciência recolheu testemunhos e incorpora na obra um número admirável de imagens, comparando os relatórios das operações com a documentação do PAIGC coeva, depositada na Fundação Mário Soares.
A importância estratégica de Nova Sintra
Imagem proveniente do blogue BART 1914, pelo Alferes Vaz Alves, com a devida vénia
Aquartelamento de Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba, imagem retirada do nosso blogue

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 25 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26191: Notas de leitura (1749): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1) (Mário Beja Santos)

Post anterior da série de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26213: Notas de leitura (1750): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26191: Notas de leitura (1749): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
As Histórias dos "Boinas Negras" terão criado nas outras unidades do BCAV 2867 uma grande vontade de intervir, e de novo Jorge Martins Barbosa foi nomeado comandante-chefe de operação, arregimentou um bom punhado de autores, voltou a fazer uma súmula da história da Guiné e da presença portuguesa, não esqueceu a viagem no paquete Uíge, retomou a informação sobre a quadrícula do setor 1, no Quínara, entramos na matéria com os "Falcões" da CCS, esclarece-se a questão Buscardini e estamos já em 6 de maio de 1968, está a nascer o quartel de Nova Sintra, os "Cavaleiros" não têm mãos a medir, e minas antipessoal irão constituir um dos infernos das colunas. O leitor que se prepare, temos muito caminho para percorrer.

Um abraço do
Mário



A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1)

Mário Beja Santos

O livro Histórias dos “Boinas Negras”, referente à comissão da CCAV 2482 foi o rastilho de pólvora para que as restantes unidades do BCAV 2867 se pusessem em movimento. Conforme refere o coordenador, Jorge Martins Barbosa, antigos combatentes dos “Falcões” da CCS, dos “Cavaleiros de Nova Sintra” da CCAV 2483 e dos “Dragões de Jabadá”, da CCAV 2484 aderiram com os seus testemunhos, assim surgiu este extenso documento que é um misto de história e de literatura memorial. 

O coordenador começa por enunciar os diferentes colaboradores que se prestaram a depor com textos e imagens, e dá conta das fontes consultadas. Abre um excelente precedente, põe em paralelo um conjunto de relatórios de operações a que junta documentação do PAIGC constante nos Arquivos Casa Comum (biblioteca digital da Fundação Mário Soares).

Uma vez mais, o coordenador expende um relato histórico sobre os Descobrimentos, para se focar naquele ponto da África Ocidental onde se terá chegado ainda na primeira metade do séc. XV, descreve etnias, vicissitudes da presença portuguesa, mostra-nos o chão de cada uma das principais etnias e recorda que no início do séc. XX havia no norte da Guiné portuguesa uma importante comunidade de cabo-verdianos, na sua maioria descendentes dos que, em meados dos séc. XIX, se tinha fixado na zona de Farim, e que subsistiram com a produção de cana do açúcar e aguardente (tinham fugido da grande seca do arquipélago). Mais tarde, nos anos 1940, uma nova e intensa seca em Cabo Verde obrigou a mais uma emigração para a Guiné. Isto para notar, já em termos ideológicos, que o PAIGC contava com estas levas de cabo-verdianos para desencadear a guerra de libertação.

Retoma o posicionamento do BCAV 2867 na região do Quínara, era o setor 1, atuante nas zonas de Tite, Jabadá, Nova Sintra e Fulacunda. Havia outros povoados do Quínara, como Buba ou Empada que estavam fora do setor. O comando ficou sediado em Tite, bem como a CCS (“Falcões”). A distribuição das companhias operacionais: a CCAV 2482 (“Boinas Negras”) ficou em Tite; a CCAV 2483 (“Cavaleiros de Nova Sintra”) ficou sediada em Nova Sintra; e a CCAV 2484 (“Dragões de Jabadá”) em Jabadá. 

Observa o coordenador que durante o ano de 1969 o BCAV 2867 pôde contar com a colaboração da CCAÇ 2314, “Os Brutos”. Em agosto de 1968, foram colocados em Fulacunda, onde estiveram até serem substituídos pela nossa CCAV 2482. Duas outras unidades colaboraram em Tite, a CCAV 2443 e a CCAV 2765, houve operações conjuntas que o autor mostra claramente nos gráficos sobre as unidades militares de cavalaria que combateram nesta região.

Começando pelos “Falcões”, chamo a atenção para o seu diversificado papel que abarca a manutenção e conservação das partes comuns, a receção e a conferência de armamento, transportes, aprovisionamentos, secretariado, transmissões, manutenção auto, médicos e enfermeiros e capelania. Seguem-se depoimentos. O furriel miliciano Pinto Guimarães dá o seu testemunho, não esqueceu fases de sofrimentos como as minas antipessoal e minas anticarro, lembrou que fazia parte do contingente o furriel António Buscardini que, anos depois, e já na metrópole, julgou ser o chefe da polícia política do PAIGC e que fora assassinado no golpe de Estado de 14 de novembro de 1980 (ver-se-á que não foi este, mas sim um irmão). 

O furriel Sousa Cortez dá nota de que a CCS tinha a seu cargo o cais do Enxudé, recorda que houve uma flagelação a este aquartelamento. 

“A estrada Tite-Enxudé todos os dias era picada e instalados grupos de três homens. Ao longo do percurso, no entanto, por ordem do comandante do batalhão, essa rotina foi substituída por uma patrulha de autometralhadora e um jipe com militares. Um dia, num intervalo entre passagens, o IN colocou uma mina, provocando a explosão da auto e a morte de dois militares.”

Norberto Tavares de Carvalho, autor de um livro intitulado De Campo em Campo – Conversas com o comandante Bobo Keita, 2.ª edição do autor, novembro de 2020, testemunhou sobre António Alcântara Buscardini, nascido em Bolama em 1947. Foi chefe de posto em Bolama, antes de abraçar os ideários do PAIGC, prosseguiu os seus estudos na ex-Checoslováquia. Na noite do assassinato de Amílcar Cabral, teria sido violentamente espancado em Conacri. Depois da independência, dedicou-se à informação, e com sucesso. Foi mais tarde nomeado Secretário de Estado da Segurança e Ordem Pública. Assassinado em 14 de novembro de 1980. E Norberto Tavares de Carvalho observa: 

“A história dos fuzilamentos está muito mal contada. A começar pelas estatísticas alinhavadas e isentas de sustentos documentais… Quem pode acreditar que Nino, chefe absoluto das Forças Armadas, não tivesse conhecimento dos fuzilamentos? Justificar um golpe de Estado com tais argumentos e deixando à solta nas ruas, por exemplo, os comandantes militares como Irénio Nascimento Lopes, Iafai Camará e Quemo Mané, é faltar ao respeito dos guineenses, um autêntico escárnio à justiça e um opróbrio ao próprio partido de Cabral.” 

E esclarece qual dos Buscardinis era do PAIGC: 

“A foto do então furriel Buscardini que me foi enviada é do irmão mais novo de António Alcântara e chama-se José Manuel Buscardini, engenheiro agrónomo, depois da independência foi para a Guiné e trabalhou no Ministério da Agricultura.”

Entram agora em cena os “Cavaleiros de Nova Sintra”. Este quartel não existia antes de 6 de maio de 1968. 

“Nova Sintra era apenas, até então, uma zona de cerrada vegetação, sob o controlo do quartel de Tite. Estava a ocorrer uma restruturação das regiões operacionais, dentro de dias entram em funções Spínola, decidiu-se que Empada iria deixar de pertencer ao setor 1 para integrar o recém-criado COP 4, ficando Nova Sintra a constituir o aquartelamento mais estratégico a sul do setor 1.”

Nesse dia 6 de maio, um conjunto de forças militares, vindas de Tite e do destacamento de S. João, transportadas em dezenas de veículos com armamento e matéria de construção, começara a implantação do quartel, um esgotante trabalho de desmatação, de abertura de valas, de construção de abrigos, de latrinas e de uma pista de aterragem com 500 metros. O IN reagiu uma semana depois, causou a morte de um militar da cozinha do BART 1914. Nova Sintra situava-se no entroncamento de estradas provenientes de Tite, de Fulacunda e S. João, passou a ser uma zona bastante castigada pelo IN que, instalado junto ao tarrafo e nas matas de Brandão, Buduco e Bissássema, minavam todos os percursos e derrubavam frequentemente todos os pontões, visando dificultar o trânsito naquelas vias. 

Foi na estrada S. João-Fulacunda que explodiu em 2 de julho de 1963 a primeira mina anticarro da guerra da Guiné. E foi com minas que lamentavelmente, os “Cavaleiros de Nova Sintra” sofreram 5 mortos, todos no segundo semestre de 1969. O primeiro comandante da CCAV 2483 foi o capitão Joaquim Manuel Correia Bernardo, ferido gravemente por uma mina antipessoal em 11 de julho de 1969l. Iremos seguidamente ouvir o depoimento do furriel Soares da Silva que foi o vagomestre desta CCAV 2483.
Um detalhe da região do Quínara
Fonte de Tite, imagem do blogue Rumo a Fulacunda, com a devida vénia
Comandos portugueses em ação na Guiné, imagem retirada do jornal Correio da Manhã, com a devida vénia
Imagem de Nova Sintra, coleção do coronel Pais Trabulo, com a devida vénia
Aquartelamento de Nova Sintra, imagem retirada do blogue Lugar do Real, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 23 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26184: Notas de leitura (1748): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte II

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25821: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte IV: mortos na Guiné



Quadra de António São Romão (pseudóni9mo do poeta Almeida Mattos, reproduzida npo "Notícias de Fafe", 13 de maio de 1967. In: "O Concelho de Fafe e a guerra colonial, 1961--1974". pág. 164. (Almeida Mattos, Fafe, 1944 - Porto, 2020, era programador cultural, e poeta, muito querido na sua terra, e com projeção nacional;  fez o serviço militar na Guiné, em 1967/69)




Concelho de Fafe - Lista dos mortos durante a guerra colonial, no TO da Guiné, no período de 1967 a 1973 

Capa do livro
Fonte: SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal- In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 58-59.


1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor),   excertos do  extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva,  sobre os 41 mortos do concelho de Fafe,  na guerra do ultramar / guerra colonial. Nesta parte são os respeitantes ao TO da Guiné  (pp. 58-61).




Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal   Excertos ]  - Parte IV: mortos na Guiné  (pp. 58-61)


2.1 (...) B. GUINÉ > QUADRO 2 – Lista dos mortos de Fafe na Guiné [vd. acima ]

(...) O quadro referência com a identificação dos nomes dos militares de Fafe mortos indica-nos que na Guiné morreram onze militares de Fafe.

As causas da morte foram: 

  • Combate, 7 (Combate, um; ferimentos em combate, seis) (63,6%);
  • Acidente, 2 (Afogamento, 1; Arma de fogo, 1) (18,2%);
  • Doença, 2 (18,2%)

Quanto ao posto e especialidade: três são 1.ºs cabos e oito são soldados. Quanto aos 1.ºs Cabos, um era apontador da metralhadora Daimler (José Félix, de Fafe), outro Sapador (Armando Nogueira) e um terceiro Atirador (António Costa, de Estorãos).

Podemos verificar que há um militar fafense sepultado na Guiné no cemitério de Bissau. Trata-se do João David Oliveira, natural de Fornelos e falecido a 15 de junho de 1967, por ferimentos em combate. Pertencia à CCÇ 1588 / BCAÇ 1894.

  • José Félix Lopes, 1º cabo 1639/65

    José Félix Lopes. Fonte;
    "O concelho de Fafe
    e a guerra colonial
    (1961-1974)",
     pág. 128


O primeiro militar de Fafe a tombar na Guiné foi o José Félix Lopes, 1.º cabo 1639/65, o único militar casado antes de ser incorporado nas Forças Armadas. 

De acordo com o Arquivo Geral do Exército, é natural da freguesia de Fafe, tinha o posto de 1.º cabo apontador da Metralhadora Daimler e estava destacado no quartel em Tite, vindo a falecer a 1 de março de 1967, três anos após o início da guerra na Guiné, por ferimentos em combate. Está sepultado no cemitério de Fafe. Tinha casado com Maria Alice Bastos Lopes em 10 de janeiro de 1965 e tinham um filho nascido em 21 outubro de 1965.

Consultei o seu processo no Arquivo Geral do Exército em Lisboa, no dia 14 de janeiro de 2014, por deferência da esposa, que agradeço. No seu processo encontrei um documento, na altura confidencial, que nos dá a conhecer as causas da sua morte.

Trata-se do “Relatório do ataque ao Aquartelamento de Tite na noite de 1 mar 67” pelos guerrilheiros do PAIGC e assinado pelo comandante do BCAÇ 1860, ten cor Francisco Manuel da Costa Almeida:

(...) "Em consequência dos rebentamentos de granadas as NT  sofreram as seguintes baixas:

Morto - 1.º Cabo n.º 1639/65, José Félix Lopes, do Pel Aut Metr Daimler 1131.

Feridos – dois soldados do mesmo pelotão do José Félix; do Pelotão de Morteiros 1039, um alf mil  de armas pesadas e um soldadoda CCAÇ 1549, quatro soldados; do Batalhão de Engenharia 447 (adido à CCS),  um soldado; da Companhia de Comandados e Serviços (CCS) um alf mil art.

Total das nossas baixas no ataque ao quartel: 10 feridos e um morto.# (.,,)


Na ficha individual do José Félix, consta que em julho de 1966, mês do embarque para a Guiné, gozou dos dez dias de licença de 4 a 14.  

(...) "Tomou parte nos exercícios do campo do IAO nos dias 15,16 e 17. Marchou em 29 pelas 23H50, para Lisboa, nos termos da alínea a) do N.º 3 da O.T. N.º 41 da DSP/RSP/ME de 23.7.66, a fim de se apresentar no Cais da Rocha Conde de Óbidos, para embarcar para o Ultramar no dia 30.7.66." (...)

 Chega à Guiné a 5/8/66.  É promovido a 1.º cabo em 30 de julho de 1966. Recebe medalha de Segunda Classe de Comportamento (Art.º 188.º do RDM) a 2 de novembro de 1965.

  • Fernando Martins Castro, sold at inf, CCS/QG

 O último fafense a tombar na Guiné foi o soldado atirador Fernando Martins Castro, filho de Albino de Castro Pereira e Maria Rosa Martins Guimarães, natural da freguesia de Paços, solteiro e pertencente à CCS / Quartel-General (Messe de Oficiais). 

Morreu a 12 de setembro de 1973, e na relação dos militares de Fafe mortos no Ultramar, fornecida pelo Arquivo Geral do Exército, consta que faleceu no Hospital Militar de Bissau na sequência de afogamento por acidente. Está sepultado no cemitério de Paços.


2. Comentário do editor LG:

De quase todas as subunidades a que pertenciam os fafenses falecidos no TO da Guiné, te,os referências no nosso blogue. Sensibiliza-me particularmente o nonme do Fernando Soares, morto em combate na Op Abencerragem Candente, em 26/11/1970, no subsetor do Xime (setor L1, Bambadinca), em que eu também participei, e ajudei a resgartar e a transportar os corpos das vítimas (seis mortos, com o Fernando Soares, e mais nove feridos graves ). Pertencia à CART 2917 / BART 2917 (Xime, 1970/72).

Lidando com extensas listas alfanuméricas de militares que tiveram a infelicidade de morrer na guerra (em combate ou por acidente ou doença), não nos apercebemos muitas vezes que esses nossos camaradas tinham pai e mãe, irmãos, mulher ou namorada (e alguns,l filhos), além de  amigos e vizinhos, e tinham nascido, tal como nós, numa qualquer aldeia, vila ou cidade do nosso querido Portugal.  Têm ou tiveram uma história de vida. Importa não os esquecer. Paz às suas almas.

Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): (i)  foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii)  tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii)  viveu em Angola até 1974; (iv)  licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v)  professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de cultura e desporto; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;  (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem cerca de 90 referências no nosso blogue.


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sábado, 17 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25179: Fichas de unidade (34): CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67)

 

Guião da CCÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


1. Não temos cópia da história da CCAÇ 797, uma subunidade que foi comandada pelo ex-cap inf Carlos Fabião (1930-2006) e a que pertenceu, entre outros,  o nosso "brasileiro de Cinfães", o ex-1º cabo radiolegrafista Nicolau Esteves (*). 

Isso não nos impede de saber um pouco mais das suas andanças na Guiné, entre abril de 1965 e janeiro de 1967.  Atuou sobretudo na região de Quínara (Sector Sul 1, S1, Tite).

Há algunas referências no livro da CECA (2014) sobre a atividade operacional desta companhia, sempre no Sector S1, Tite. Aqui vão:

  • 9Mai65 - Op Ivo

No dia 9Mai65, na operação "Ivo", forças da CCav 677 e CCaç 797 destruíram um acampamento com dois grupos de casas, em Aldeia Nova e em Gambinta, onde sofreram uma emboscada.

Foi capturada 1 granada de mão, várias munições e documentos. 

No dia seguinte surpreenderam um grupo lN em Flaque Intela, causando-lhe baixas não estimadas e capturando várias granadas de mão.

 As NT foram flageladas em Feninque e Biogate (CECA, 2014, pág. 312).

  • 29Mai65 - Golpe de mão a leste de Saliquinhe

(...) Em 29Mai, forças da CCaç 797 efectuaram um golpe de mão a leste de Saliquinhe, tendo destruído 5 casas que aparentavam ser local de reabastecimento do lN, pois continham grandes quantidades de arroz, "vinho" de cajú, medicamentos, camas novas, mosquiteiros, colchões de palha e almofadas

Foram detidos 61 nativos que anteriormente residiam na tabanca Gã Sene. (...)

  •  6Jun65 - Golpe de mão a norte de Jufá

(...) Em 6Jun65, forças da CCaç 797, durante um golpe de mão, destruíram um acampamento a norte de Jufá; o lN sofreu 2 mortos e foram capturadas 11 espingardas, 1 pistola metralhadora e outro material de guerra. (CECA, 2014, pág. 313).

  • 14Dez65 - Op Onça na península de Gampará

(...) Em 14Dez65, o BCaç 1860, através das CCaç 797 e CCaç 1420, realizou a operação "Onça", na península do Gampará.

O lN opôs resistência durante o desembarque das forças da CCaç 797 em Ganquecuta; emboscou por 2 vezes as mesmas forças na região de Gambachicha, causando 3 feridos e flagelou forças da CCaç 1420, perto de Tumaná, sofrendo 5 mortos.

 As NT fizeram 10 prisioneiros e capturaram 1 espingarda (CECA, 2014, pág. 324).

9-10Jan66 - Op Orfeu, golpe de mão a sul de Fulacunda

 Forças da CCaç 797(-) e da CCaç 1487(-) executaram um golpe de mão sobre o acampamento ln localizado a sul de Fulacunda.

O acampamento era constituído por 15 casas de mato que foram destruídas.

Foi feito 1 ferido ao lN e capturado 1 lança-granadas foguete, 3 espingardas e 1 pistola, além de documentos e outro material (CECA; 2014, pág, 387).

Fonte: CECA (2014, pág. 389)


  • 10Fev66 - Op  Osso em JUfá

 Esta operação foi realizada por forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487(-) e CPara(-). )

Foi destruída a tabanca de Jufa e capturada 1 pistola metralhadora, munições e material diverso.

Também aniquilado acampamento em Flaque Sunha e destruída grande quantidade de arroz; capturados documentos, munições e 1 pistola metralhadora. Destroçados acampamentos em Bissilão e Flaque Cibe. Feitos 10 prisioneiros e 6 mortos ao lN (CECQA, 2014, pág. 392)

30Mar66 - Op Narceja

(...) Forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487 e 2 GCmds "Os Apaches" e "Os Vampiros", realizaram uma batida na região de Gã Formoso e Ganduá Porto.

Na região de Gã Formoso, foram derrubados 3 acampamentos; causado ao l N 4 mortos e aprisionado 1. 

As NT apreenderam 10  espingardas e material diverso, tendo destruído grande quantidadede arroz. Destruído 1 acampamento em Bedeta, causado ao lN 1 morto e capturada 1 espingarda e outro material.

 As NT sofreram 7 feridos (CECA, 2014, pp. 392/393)

  • 25Mai66 - Op Quezília

(...) Esta operação teve por objectivo uma batida às matas de Aldeia Nova, Vanandim, Gã Saúde, Louvado e Bila. Foi efectuada por forças da CCaç 1549 (-), 1 GComb/CCaç 797, 1 GComb/CCaç 1487 e 1 GComb/CCaç 1499.

As forças destruíram dois acampamentos e duas tabancas lN, capturando material, munições e documentos diversos. Foram destruídas grandes quantidades de arroz, chabéu", óleo de palma,gado e vários utensílios domésticos e recuperados 20 elementos da população das tabancas de Louvado e Bila. As NT causaram ao ln 3 mortos e várias baixas prováveis. (CECA, 2014, pág. 402)

(...) O conjunto de operações mais interessantes do período foi realizadono o Sector SI e correspondeu à batida sucessiva dos compartimentos de terreno a leste do rio Louvado

Da Op Osso, em que se procedeu à destruição extensiva dos recursos lN, resultou a diminuição do número de flagelações a Jabadá e na bolanha do rio Louvado. As operações Nebri e Narceja realizadas mais a leste foram caracterizadas por incidentes que obrigaram a uma constante adaptação do planeamento à evolução da situação; os resultados da última operação foram particularmente prejudicados quando, num golpe de sorte, o lN conseguiu imobilizar um helicóptero na zona de acção.

Foram alteradas as missões das Unidades para se garantir a protecção da aeronave, verificando-se uma excelente colaboração dos elementos dos três ramos das Forças Armadas que participaram no incidente. (CECA, 2014, pág. 397)

Anexo n° 1 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1965 (CECA, 2014, pág. 347)

(...) c. Agrupamento 17 (CECA; 2014, pág. 353)

(1) Comando - Zona Sul Bolama

(2) BCAÇ 599

- Comando - Sector Sl Tite

- CArt 565 Fulacunda

- CCav 677 (-) S. João

- 1 Sec/CCav 677 Ilha das Galinhas

- CCaç 797 (-) Tite | - 1 Pel/CCaç 797 Enxudé

- C I M Bolama

- 1 Pel CIM Ilha das Cobras

- Pel Caç 955 Jabadá

- Pel Mort 912 (-) Jabadá

- 1 Sec/Pel Mort 912 no Sector do BCaç 619

- Pel AMetr "Daimler" 807 (-) Tite

- 2 AMetr do Pel AMetr "Daimler" 807 Jabadá (...) 

Anexo n° 3 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1966 (CECA, 2014, pág, 463)

(...) Agrupamento 1975 - Comando Zona Sul  (CECA, 2014, pág. 472)

(...) • BCAÇ 1876 (CECA, 2014, pp. 475/476)

- Comando - Sector B Bissau

- CCaç 1488(-) Quinhámel

- 1 Pel Ilondé

- 1 Sec(+) Orne

- 1 Sec P.Vicente da Mata

- CCaç 1565 Bissau

- CCaç 728 Bissau

- CCaç 797(-) Nhacra  | - 1 Pel Safim | - 1 Sec(+) Ponte de Ensalmá | - 1 Sec(+) João Landim

- Pel Mort 1087 Bissau

- Pel AMetr "Daimler" 997(-) Bissau

- 2 AMetr na BA 12

- Comp Milícia 1O(-) Safim

- 1 Pel Nhacra (...) 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro I. Lisboa: 2014. pp. 314/316.
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2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


16 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25175: Faceboook...ando (51): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - II (e última)

(**) Último poste da série > 11 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25056: Fichas de unidade (33): BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74), CCAÇ 3544 (Buruntuma), CCAÇ 3545 (Canquelifá) e CCAÇ 3546 (Piche)