Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta EUA. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta EUA. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".




Recortes de imprensa >  "Tribuna Portuguesa",  de 15 janeiro de 2025 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. (Reproduzido com a devida vénia...)


1. Pelo muito que fez (e continua a fazer) pela causa da reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes e a consagração do "Dia da Consciência" mas também pelo aumento da visibilidade, mediática, social e cultural,  da comunidade luso-americana, o nosso amigo e camarada, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, a viver em Nova Iorque, foi considerado  "Personalidade do Ano de 2024" pelo prestigiado jornal, bilingue, "Tribuna Portuguesa" / "Portuguese Tribune", que se publica na Califórnia, desde 1979.(Quinzenal, independente, é o único jornal  que se publica hoje, em português, na costa oeste dos EUA; foi fundado em setembro de 1979 pelo açoriano João P. Brum. )

(...) "Em 2004, este jornal iniciou o reconhecimento anual dos “Melhores do Ano”. Depois dos primeiros anos serem uma simples lista com poucas categorias que ocupavam apenas uma página, a atual lista já ocupa agora cinco páginas desta edição. Como um jornal comunitário, tentamos o nosso melhor para dar a conhecer os eventos comunitários, novas caras e talentos, para assim – juntos – valorizarmos a nossa 'prata da casa' ".

No editorial da edição de 15 de janeiro de 2025, Miguel V. Ávila destaca três personalidades do ano de 2024, um dos quais o nosso João Crisóstomo (vd. recorte acima). A iniciativa tem já 2 décadas.

(...) Não posso deixar de realçar as três “Personalidades do Ano”:

Tony Goulart, o reconhecido líder comunitário, continua a deixar um legado da “experiência luso-americana” por terras da Califórnia. Logo depois de escrever e publicar um importante livro sobre as filarmónicas portuguesas e os 125 anos da sua presença na Califórnia, coordenou a publicação do livro que faltava – Nossa Senhora da Assunção da autoria de Maria Cunha Carty. 

Lembro-me que nos anos 1990s, as comunidades portuguesas da Califórnia viviam sob as sombras das comunidades da Costa Leste; havia a sensação que seríamos inferiores e que a distância nos faria quase invisíveis para com o nosso país de origem. 

A liderança de Tony Goulart e de outros líderes comunitários muito mudaram essa perspetiva e agora as nossas comunidades luso-californianas são reconhecidas como exemplos na Diáspora portuguesa.

Ana Vargas-Smith tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do auto-estima da cidade de Santa Clara. Reconheceu que uma antiga tradição de 50 anos – o Desfile dos Campeões – tinha cessado durante 24 anos e que havia uma lacuna nos habitantes daquela cidade e que a antiga baixa da cidade merecia ser revitalizada. Colocou mãos à obra, criou uma associação sem fins lucrativos e lá reiniciou essa tradição que tinha sido criada por um luso-americano – Ed Cunha – para reconhecer os combatentes da Segunda Guerra Mundial quando regressaram à sua cidade em 1945.

Ana coordena as angariações de fundos e o desfile que agora conta também com um festival de rua. E a Ana tem a certeza que a comunidade portuguesa e associações portuguesas de Santa Clara desfilam... porque não podemos ser uma comunidade invisivel na sociedade americana." (...)

2. Já na edição de 1 de agosto de 2024, fora dado grande destaque à inauguração do Museu Aristides Sousa Mendes, sendo depois considerado, na edição de 15 de janeiro de 2025, como o "acontecimento cultural do ano", enquanto a Sousa Mendes Foundation  foi a "Associação do Ano 2024" .

Reproduz-se a seguir o belíssimo editorial do Miguel Ávila sobre "o museu que faltava para que a memória não falhe", a propósito da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na sua terra natal, Cabanas de Viriatos, Carregal do Sal, no passado dia 19 de julho de 2024. 

O evento foi na altura também noticiado por nós (*). E na ocasião o nosso amigo e camarada João Crisóstomo leu uma mensagem expressamente escrita pelo Papa Francisco associando-se à homenagem ao Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (1885-1954), que coincidia também com o seu 139º aniversário natalício.




João Crisóstomo lendo uma mensagem do Papa Francisco


O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa


Família de Sousa Mendes e famílias de refugiados que beneficiaram dos vistas passados pelo Cônsul de Bordéus


Recortes de imprensa > Tribuna Portuguesa, 1 de agosto de 2024 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. Fotos: pág. 19 (Conteúdos reproduzidos com a devida vénia..)


3. Excerto de mensagem do João Crisóstomo, com data de sábado, 12/04/2025, 08:33, dirigida aos filhos, Cristina e John, e com conhecimento ao nosso editor LG e a um amigo comum. o Rui Chamusco, também ele membro da nossa Tabanca Grande:


(...) Recebi , enviada por e- mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.

E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois se fossem meus irmãos eu não lhes poderia querer mais ou melhor, sem intuitos de ridículas presunções), partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:

Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluído no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião” (*)

E o segundo a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.” 

Em ambos os casos a minha colaboração e contributo não foram insignificantes pois que me valeram a distinção de "Homem do ano 2024." (...)

 4. A Tabanca Grande associa-se, com regozijo, ao reconhecimento público feito pela "Tribuna Portuguesa" ao nosso amigo e camarada, "régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona"  (**) que, depois de amanhã,  dia 25, vai estar no Convento de Varatojo, Torres Vedras, a partir das 10h00, num convívio com a família, os Crispins e os Crisóstomos, bem como com os amigos e camaradas da Guiné.  Convívio para o qual estamos todos convidados: é só aparecer: A missa é às 10h30, a que se seguirá um convívio no claustro do convento do séc. XV. O padre Vitor Melícias estará presente.

Quinta feira, dia 29, o João estará também no 61º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, a partir das 12h30, em Algés, no restaurante Caravela de Ouro.

sábado, 19 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26704: Boas amêndoas e melhores Páscoas de 2025 - Parte II (José Câmara, EUA / António Ramalho, V.F. Xira)


Cartão pascal que nos foi gentilmente enviado pelo António Ramalho



1. Mensagem de José Câmara, da Tabanca da Diáspora Lusófona:

Data - 19 abr 2025 03:47
Assunto - Boas e santas Páscoas

Caros amigos e familiares,
Independengtemente dos sentimentos religiosos de cada um, que o Cordeiro Pascal vos cubra com o Manto da Sua Graça. Tenham um Feliz e uma Santa Páscoa.
Haja saúde na companhia de todos aqueles que vos são queridos.
JC

2. Mensagem de António Ramalho, natural da Vila de Fernando, Elvas, a viver em Vila Franca de Xira:

Data - quarta, 16/04/2025, 12:36

Asunto - Uma santa e feliz Páscoa

São os meus votos para todos.
These are my wishes for everyone.

António Ramalho
_____________
Nota do editor LG:

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26702: Boas amêndoas e melhores Páscoas de 2025 - Parte I (José Belo, Key West, Florida, EUA / Luís Graça, Tabanca de Candoz)





Fotos: Joseph Belo (2025)




1. Mensagem de Joseph Belo (Key West, Florida, EUA)


Data - 18 abr 2025 16:30

Assunto - Páscoas Felizes  

Para ti e restantes Camaradas da Guiné os Votos de Páscoa Feliz com uma receita de folar do "deep south" dos States, o Sul profundo dos EUA.

Um abraço de despedida do J. Belo.

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, José. Já estávamos com saudades tuas. Ainda bem que temos a Páscoa e o Natal para trocarmos  uns brindes. Estou em Candoz, Marco de Canaveses (a terra onde nasceu a Carmen Miranda,em 1909, tendo morrido em 1955, em Beverly Hiils, Califórnia). 

Além do famoso anho assado com arroz de foro, come-se o "pão-de-ló", húmido, feito só com ovos caseiros... É uma das especialidades dos Doces do Freixo - Casa dos Lenteirões, cuja origem remonta a 1819... 

Troco galhardetes contigo. É um "cheirinho" da tua terra, natal, Pátria, Mátria, Fátria... E da nossa Tabanca Grande. Espero que não hibernes agora mais seis meses...Com os ursos de pé de guerra na Gronelândia, até os da Lapónia já sairam do buraco. Nós, por cá, não temos desses, mas temos outros. Cuida-te...Que eu já mandei o meu velho camuflado da Guiné para a lavandaria...


Típico pão-de-ló da Páscoa, Doces do Freixo - Casa dos Lenteirões, Marco de Canaveses...

Foto: Luís Graça (2025)

Guiné 61/74 - P26699: Tabanca da Diáspora Lusófona (32): Bom dia, desde a Eslovénia (João Crisóstomo, Nova Iorque)


1. Mensagem de João Crisóstomo (na foto à esquerda com a sua Vilma, na Eslovénia):


Data - sábado, 12/04/2025, 08:33


Meus queridos filhos Cristina e John Jr, caríssimos Rui Chamusco e Luís Graça,

Já estamos na Eslovénia. Fizémos uma viagem sem novidades exceto os "sempiternos atrasos" e estamos já completa e perfeitamente adaptados , sem qualquer vestígios de "jet lag”.

Está um tempo maravilhoso e a Vilma "está nas nuvens” por se encontrar na terra onde nasceu e com os seus queridos, especialmente as suas queridas manas. Como eu que tive nove irmãs mas nem um irmão sequer, ela também só tem irmãs.

O almoço de hoje vai ser o de boas vindas e reunião da família num lugar paradisíaco, aliás como toda a Eslovénia. Este fica junto a um pequeno lago a pouco mais de meia hora daqui, onde costumávamos ir a pé. Agora ainda aí vamos frequentemente, mas só de carro, que as mazelas da idade já não me permitem longas caminhadas.

Até eu, que tenho sempre tanta dificuldade em dormir, hoje consegui dormir a noite inteira. E agora o acordar foi também muito excepcionalmente bom: primeiro vi uma mensagem do Rui -- Obrigado meu caríssimo irmão! ---chegada durante a noite, desejando-nos uma boa viagem e anunciando ter deixado Boebau e suas crianças e a escola que nos é tão querida.

Sei bem o que sente, pois como em telepatia, o meu coração também se foi abaixo das canelas. E como ele tive de dizer para mim mesmo “Corações ao alto”! E que seja o que Deus quiser.

E depois recebi , enviada por e-mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.

E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois, se fossem meus irmãos, eu não lhes poderia querer mais ou melhor), sem intuitos de ridículas presunções, partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:

Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluido no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião”.

E o segundo, a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.” Em ambos os casos a minha colaboração e contributo não foram insignificantes pois que me valeram a distinção de "Homem do ano 2024."

Embora o artigo tenha sido publicado em ambas as línguas, eu copio apenas a reportagem em Português.

Um abraço com carinho e saudades,
Dad/ João C





Recorte de dois artigos da "Tribuna Portuguesa" que o João Crisóstomo nos remeteu, e que publicaremos oportunamente na sua série "Tabanca da Diáspora Lusófona".

(...) "Tribuna Portuguesa também conhecido por The Portuguese Tribune é um jornal bilingue português-inglês, quinzenal, editado na cidade de Modesto na Califórnia. É actualmente o único jorna(...) l português da Costa Oeste dos Estados Unidos da América" (Fonte: Wikipedia)

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26659: Tabanca da Diáspora Lusófona (31): Bom dia, desde Nova Iorque (João Crisóstomo, régulo)

domingo, 16 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26590: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (57): O "15 de Março de 1961": quem ganhou, quem perdeu ? Quem ficou na pior, previsivelmente, foram mesmo duas ou três gerações de angolanos.


1. Mensagem do nosso camarada António Rosinha (foto à esquerda, em Pombal, 2007, por ocasião do II Encontro Nacional da Tabanca Grande; foi fur mil, ainda do tempo da farada "amarela", em Angola, 1961/62; t
opógrafo em Angola, para onde foi adolescente, africanista de alma e coração, regressou a Portugal em novembro de 1974, emigrou para o Brasil da ditadura militar (que vigorou de 1964 a 1985), e mais tarde para a Guiné-Bissau do partido único, onde trabalhou, de 1978 a 1993,  na empresa TECNIL, ao tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira, "camaradas", "heróis da liberdade da pátria",  que ele conheceu bem no poder; entrou para o nosso blogue,  em 29/11/2006, é um histórico da Tabanca Grande; é autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho"; tem cerca de 150 referências no blogue).

Data - 16 mar 2925, 00:39 

Assunto - 15 de Março de 1961


Faz nesta data, 64 anos, aquele massacre do norte de Angola com que a UPA  (União dos Povos de Angola) tribalmente iniciou o chamado terrorismo, termo absolutamente correto, e que deu início à chamada guerra do Ultramar.

Hoje essa guerra tem muitos nomes.

A partir desta data o mundo ficou todo contra Portugal e contra Salazar, em particular.

Na ONU, essa coisa, hoje mais ou menos desrespeitada, votou contra Nós,  Portugal nas colónias africanas, entre todos os "amigos" de África, EUA e URSS, e abstiveram-se Inglaterra e França.

Estes dois já sentiam alguma vergonha, escondida, dos briosos golpistas que iam impondo nas suas ex-colónias,  e que iam protegendo à base de conselheiros mercenários.

Mas Portugal e Salazar tinham um grande amigo que disfarçadamente, sem a URSS se aperceber, mandou o seu embaixador oferecer os seus préstimos a Salazar e este agradeceu: «Ouvi-o atentamente e agradeço-lhe a sua visita. Muitos cumprimentos ao Presidente Kennedy. Muito boas tardes, senhor embaixador.» (Franco Nogueira)

Passados 13 anos a URSS levou a melhor, viu-se, pelo menos pareceu.

Quem ficou na pior, previsivelmente, foram mesmo duas ou três gerações de angolanos.

E a Europa ficou com inúmeros países vizinhos que criou, a pedir "explicações".

O Salazar não queria este fim para a Europa e para África.

Cumprimentos, Antº Rosinha.

PS - Mas a Europa já nessa altura, já não podia com uma gata pelo rabo!


______________

domingo, 2 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26544: Tabanca Grande (569): Vilma Crisóstomo, esposa do nosso camarada João Crisóstomo, que se senta no lugar n.º 900 sob o nosso "poilão sagrado"


1. Mensagem de ontem, 1 de Março de 2025, dia de aniversário da nossa nova Amiga Grã-Tabanqueira Vilma Crisóstomo, do nosso editor Luís Graça:

Ao lado de um grande homem está uma grande mulher.  A história de amor do João e da Vilma foi aqui partilhada no blogue, em 2013[1], e a Vilma já há muito que faz parte da Tabanca Grande. A nossa melhor prenda (minha, do Carlos e do João) é mandar-lhe a seguinte mensagem:..

"Dear Vilma, on your birthday our best gift is to tell you that from today onwards you will be a member of our Tabanca Grande, please sit in your seat number 900, under our Poilão, the great, symbolic, fraternal, and sacred tree, where we all fit with everything that unites us and even with what can separate us. If João is the leader of the Tabanca of the Lusophone Diaspora, you are his pillar: behind a great man (and best friend) there is always a great woman (and best friend), even more so a beautiful woman, born in a lovely European country like Slovenia. Good health and long life, you deserve everything."

Tradução para português:

"Querida Vilma, em dia de aniversário a nossa melhor prenda é dizer-te que a partir de hoje passas a ser membro da nossa Tabanca Grande, por favor senta-te no lugar n.º 900, à sombra do nosso Poilão, a nossa grande árvore, simbólica, fraterna, sagrada, onde cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar. Se o João é o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, tu és a sua trave-mestra: ao lado de um grande homem (e bom amigo) há sempre uma grande mulher (e boa amiga), ainda para mais uma mulher bonita, nascida num país europeu adorável como a Eslovénia. Muita saúde e longa vida, que tu mereces tudo."


2. Comentário do coeditor CV:

De há muito que a nossa Grâ-Tabanqueira Vilma Crisóstomo faz parte do léxico da Tabanca Grande. Podemos dizer que, onde está o João, está a Vilma, seja em convívios dos companheiros da Guiné, do marido, seja nas mais variadas actividades sociais e culturais onde o João está presente. Este nosso estimado camarada, sabemos, esteve e está envolvido em inúmeras iniciativas, podemos dizer a nível mundial, sendo as mais notáveis, o Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor Leste e o Dia da Consciência. A primeira causa pressionou a oponião pública e política internaciona a favor da independência daquele antigo território português e a segunda na perpetuação da memória do herói nacional que foi Aristides Sousa Mendes. 
Seja onde e como for, a Vilma está sempre presente com o seu cativante sorriso.

Temos, portanto, muita honra em receber entre nós, velhos combatentes, esta simpática senhora que não nos é desconhecida de todo porque esteve já presente, no dia 25 de Maio de 2019, em Monte Real, no XIV Encontro da Tabanca Grande.

XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > 25 de Maio de 2019 > O casal João e Vilma 

_____________

Notas do editor:

[1]- Vd. post de 23 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11448: Os nossos seres, saberes e lazeres (51): WE HAVE IT!!!.... Um linda história de amor, um reencontro ao fim de 40 anos, um casamento em Nova Iorque... E agora, que sejam felizes para sempre, meus queridos João (Crisóstomo) e Vilma (Kracum)! (Tabanca Grande)
e
29 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11499: Os nossos seres, saberes e lazeres (52): João e Vilma Crisóstomo, "just married", são notícia no New York Times e no LusoAmericano

Último post da série de 25 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26527: Tabanca Grande (568): Homenagem ao capitão e cavaleiro Leite Rodrigues (Aveiro, 1945 - Matosinhos, 2025), ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), membro da Tabanca de Matosinhos: passa a sentar-se, simbolicamente, no lugar n.º 899, sob o nosso poilão, a título póstumo

sábado, 25 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26425: O segredo de... (46): António Medina (1939-2025) - Parte II: em 24 de junho de 1964, a CART 527 sofreu uma emboscada no regresso a Jolmete...Como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte pelo comando do BCAÇ 507, sediado em Bula, e executados pelas NT, dois meses depois


Guiné > Região do Cacheu >  Carta de Pelundo (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Jolmete e Ponta Nhaga, na margem esquerda do rio Cacheu. Pelundo ficava a sudoeste de Teixcira Pinto. E Bula a leste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


 
O António Medina
na mata da Caboiana (c. 1964)

O António Medina (1939-2025) nasceu na ilha de  Santo Antão, Cabo Verde.

Foi fur mil inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

Trabalhou no BNU em Bissau (até à independência) e  depois em Lisboa.

Emigrou para os EUA em 1980. 

Morreu no princípio de 2025 em Medford, Massachusetts (onde vivia), aos 85 anos.






Guiné > Zona Oeste > CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > s/l > s/d > O fur mil OE António Medina e a sua secção.



Guiné > Região do Cacheu > Zoan Oeste > Pelundo > O António Medina, em primeiro plano, com miúdos e adolescentes da tabanca... Atrás,  instalações do quartel protegidas por bidões com areia.

Fotos (e legendas): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Medina,2016

Região do Cacheu > Setor Oeste > Teixeira Pinto, Pelundo, Jolmete, Ponta Nhaga >  24 de junho de  1964, emboscada  do IN e suas consequências

por António Medina (1939-2025)
 

I. Já lá vão precisamente cinquenta anos que carrego um facto bastante sombrio e macabro que a minha memória, vencendo o tempo e as mazelas deixadas em mim pela doença do Parkinson, conseguiu preservar no silêncio até hoje, pela maneira desumana e cruel que um julgamento sumário foi executado, ditado pelo Comando do Batalhão de Caçadores 507, de Bula [sendo na altura seu comandante o tenente coronel Hélio Felgas].

Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma ação bastante degradante e vergonhosa, devidamente escondida e “abafada” pelos militares e a PIDE, porque das vítimas nada reza.

Por questão da minha própria ética procurarei evitar denunciar aqueles responsáveis que estiveram diretamente envolvidos em tal processo.

Desejo também esclarecer neste caso especifico que, como furriel operacional,  fui um dos indicados a participar com a minha secção no cerco à  tabanca de Jolmete que a seguir mencionarei, na captura de elementos considerados subversivos e na escolta dos mesmos para Teixeira Pinto onde ficaram sob a nossa guarda dentro daquele perímetro militar. 

Quando “Sargento Dia” em escala como qualquer um outro, assisti o corpo da guarda na distribuição de água e sobras do rancho para o sustento dos mesmos.


II. Por determinação do Comando de Bula, assiduamente as tabancas de Ponta Nhaga e de Jolmete eram visitadas pelas nossas forças, dentro do espírito do programa de reconhecimentos como retenção a possíveis infiltrações inimigas.

Sentiamo-nos confiantes e familiarizados,  mais com os residentes de Jolmete, pela simpatia e maneiras com que éramos distinguidos, muitas vezes dando-nos as boas vindas, exibindo as suas danças e cantares na cadência de um bater de palmas e pés no chão, ao som de um batuque não ensurdecedor, pelo contrário harmonioso no qual um ou outro soldado por graça se juntava.

No clima amistoso que se vivia, [a gente] se estendia no chão de papo para o ar em qualquer sombra, as cartucheiras debaixo da cabeça para melhor conforto e a arma ao lado, conversa amena entre soldado e nativo, negociando particularmente um frango para um delicioso churrasco no regresso ao quartel, um ou outro apreciando em silêncio as curvas de uma bajuda de “mama firmada” que bem parecia mais ter sido talhada a canivete, comportamento que fugia às regras e normas de segurança exigidas pelo status da guerra e que bem poderiam custar a nossa própria vida, o que estávamos ignorando.

A pedido do sargento encarregado do rancho e sob a discrição e consentimento do régulo que fixava os preços, quantas vezes se comprou frangos, ovos, cabritos e bananas que tivessem disponíveis, oferecendo-nos o gostoso e fresco vinho de palma (seiva da palmeira) sem todavia pressioná-los. 

Como “labaremos” (agradecimento),  se distribuía garrafões e latas vazias e algum arroz que o inventário do vagomestre classificava como sobra na existência do fim de cada mês.

A nível de pelotão, repetitivamente e em roulement,  lá íamos em coluna auto pela estrada de terra batida totalmente despreocupados, sem qualquer referência a minas ou outras armadilhas porque delas ainda nada ou pouco se falava, de Teixeira Pinto, passando por Pelundo,  seguindo em direção de Ponta Nhaga, depois regressar a Teixeira Pinto passando por Jolmete,  e vice-versa na semana seguinte.

Quando menos se esperava, no dia de S. João, 24 de junho de 1964, à tardinha durante o nosso regresso de Jolmete para Teixeira Pinto,  fomos surpreendidos e emboscados por um grupo armado a cerca de quatro quilómetros da tabanca, causando-nos algumas baixas com certa gravidade.

De madrugada chovia a potes, encharcados mas agora conscientes da presença inimiga, cautelosos e com medo, reforçados,  regressámos a Jolmete, com um percurso a fazer a pé depois de Pelundo, para que o factor surpresa nos beneficiasse na operação sob o comando do capitão de Teixeira  Pinto.

 As instruções eram taxativas para se prender todos os homens,  inclusive o régulo, deixando apenas mulheres e crianças. Que fossem transportados para Teixeira Pinto onde ficariam sob a nossa custódia até novas instruções. Assim tudo foi feito em cumprimento, sem qualquer resistência .

Conhecíamos o neto do régulo de Jolmete,  de nome Celestino, rapaz de cerca de 22 anos de idade, simpático, vestido e calçado, expressando-se bem em português, com o segundo ano dos liceus já feitos no Honório Barreto em Bissau onde dava continuidade aos seus estudos. Sempre que chegava a Teixeira Pinto era ele hóspede da nossa messe para uma refeição e bate-papo connosco,  furriéis. Acontece que naquela manhã o Celestino estava na Tabanca do avô e também foi preso.

III. Levados para Teixeira Pinto ficaram fechados no edifício do celeiro que se situava dentro da área do quartel, cedido pelo Administrador do Concelho, numa estadia de quase dois meses sob nossa guarda.  

Pelos resultados colhidos nos interrogatórios  se constatou que o grupo armado planeava atacar na nossa hora de ociosidade, com receio de alguma represália da tropa a posteriori, o régulo e o neto felizmente convenceram-lhes que alterassem seus planos para uma acção fora da tabanca, o que de nada serviu mais tarde como atenuante para lhes poupar a vida.

Entretanto o Comando de Bula [BCAÇ 507] ditou-lhes a pena capital,  para que todos fossem fuzilados em local secreto, com exceção do Celestino que continuaria preso em Teixeira Pinto. Que fossem transportados pela estrada de Jolmete em dia a indicar onde estaria tudo já preparado pelos participantes de Bula.

Eram eles cerca de vinte homens, o régulo de Jolmete já homem velho, de barbas e cabelos brancos, fraco pela má alimentação, outros mais novos, todos sendo transportados em GMC  sob escolta do segundo pelotão [da CART 527].

 No local indicado já os esperava um dos capitães de Bula, com uma vala aberta por uma escavadora e um outro pelotão alinhado à distância, olhando de frente para a vala, de costas para a estrada. 

O pelotão da CART 527 cuidou apenas da segurança da área para que o trabalho fosse ultimado sem qualquer interferência do inimigo.

De mãos atadas, os prisioneiros foram alinhados de costas para a vala. O capitão de Bula ali estava como oficial mandante da ordem. Através de um intérprete explicava a razão daquele procedimento, quando um dos presos consegue se soltar e fugir em direcção à mata. 

Nesse interim de confusão o pelotão disparou precipitadamente sem ter recebido ordem de fogo, restando corpos sem vida caídos na vala, à podridão, sem direito sequer a um choro, à dança das mulheres grandes ou a um toque de bombolom.

A vala comum foi fechada e armadilhada com minas anti-pessoal plantadas por sapadores de Bula. No dia seguinte essa acção da tropa colonial foi revelada pelos órgãos do PAIGC .

O Celestino continuou preso em Teixeira Pinto até que um dia a sua pena também capital não tardasse a chegar. 

Um furriel seria indicado para executar a sentença, que para nós era bastante pesaroso e em nada dignificante, dado o relacionamento e bom trato que mantínhamos com ele até se retratar como informador, para depois ser prisioneiro de guerra sem qualquer possibilidade de defesa.

Desta maneira, logo se soube da execução a ser cumprida, naquela tarde os furriéis saíram quanto mais cedo do quartel procurando uma forma de evitar participar no fuzilamento.

 Eu, como exemplo, decidi sem que ninguém desse conta visitar um senhor cabo-verdiano empregado comercial de uma casa libanesa, pai de uma linda morena a quem ia eu fazendo olhos bonitos para um possível namoro “caliente”. Me permitiu aquele senhor,  meu patrício, arrastar um pouco mais a minha visita naquela noite, sem todavia lhe dar a entender do que se estava passando. 

O facto foi consumado por um colega furriel miliciano e sua secção nas imediações do pequeno aeródromo de Teixeira Pinto

Viveu-se alguns dias em clima de pesar e tristeza no quartel, evidenciado pelos soldados nativos (eram eles distribuídos pelos pelotões e tinha eu três deles na secção) que praticamente se afastaram das outras praças. 

No dia seguinte da execução fui instruído para fazer uma patrulha de reconhecimento com o meu grupo em determinada área, notei que no momento de um pequeno descanso que achei por bem todos fizéssemos, os três militares se afastaram do grupo e se sentaram, de armas na mão como todos nós. 

Tive certa apreensão no momento o que me levou a aproximar e ficar junto deles em conforto, sem todavia ter havido nenhuma conversa, pelo contrário um silêncio absoluto de quem se sentia bastante magoado e triste. Felizmente nada aconteceu talvez pela disciplina, tratamento amigo e igual para todos que sempre implementei.

Regressámos algum tempo depois à tabanca de Jolmete e constatámos que tinha sido destruída, suas palhotas queimadas não pela tropa, abandonada pelos sobreviventes que se puseram em debandada para local desconhecido.

Acreditámos nessa altura que tivessem procurado lugar que para eles fosse mais seguro, em apoio também ao PAIGC por jamais merecermos sua confiança.

Uma vasta área foi limpa do capim, árvores e arbustos para que fosse construído para a nossa defesa e logística um verdadeiro ”fortim” com troncos de cibos, chapas de bidões e zinco, terra batida, conforme as fotos em anexo.

António Medina, 
Medford, Massachusetts, USA,  junho de 2014

(Revisão / fixação de texto, negritos, parênteses retos: LG)
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26205: (In)citações (269): Hoje, Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving Day, nos EUA: que haja paz entre os homens (José Câmara)



1. Mensagem de ontem, quarta, 27/11/2024, 23:38, do nosso amigo e camarada José Câmara, daTabanca da Diáspora Lusófona:


Familiares, amigos, companheiros,

Amanhã, 5a. Feira, os EUA celebram a sua grande festa familiar, o Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving Day. 

Se me permintem, convido-vos a participar comigo esta tradição que aprendi a viver e a repeitar. Tal como então haja Paz entre os Homens. Abraço do tamanho do mundo.

Haja saúde para todos vós e familiares.
Abraços e beijinhos.
JC


___________


Nota do editor:

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26009: S(C)em Comentários (47): Com portugueses deste calibre Portugal estava longe de poder ganhar o que fosse... (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P26005 (*).

Caros amigos,

Aqui vai um pequeno excerto de mais um 'cabeça brilhante' e péssimo patriota, na minha ótica, com ideias estapafurdas que não tinham fundamento ainda em 1966 e nem se confirmaram depois de 1970, uma pena. 

Com cidadãos deste calibre Portugal estava longe de poder ganhar o que fosse, independentemente de as guerras serem justas ou não. A América (EUA) nunca ajuda nenhum país a ganhar uma guerra, a América persegue os seus interesses geoestratégicos no mundo e estava (ontem), está (hoje) e estará sempre pouco se lixando com os interesses dos outros países, incluindo Portugal. (**)

3 de outubro de 2024 às 16:03 
 

"(...) Assim, bem podemos bradar aos quatro ventos que o IN ataca indistintamente brancos e negros. Será que também não haverá maus negros, traidores que a troco de uns patacões estão prontos a lutar (e alguns bastante bem) do nosso lado?

Nem tudo que é do lado de lá está o lugar deles e efetivamente é lá que está a grande maioria. E porquê? Quando nós dissemos aos Felupes, aos Sossos, aos Fulas, aos Balantas, aos Mandigas, a todos esses selvagens que se odiavam de morte, que eram todos portugueses, todos filhos do mesmo Deus que também era o nosso, quando os afastámos dos seus usos, deturpámos e aviltámos os seus sítios, os arrancámos à tabanca e os lançámos na cidade, não fizemos mais que criar as condições que permitiram a atual situação. 

Quando o IN proíbe severamente o tribalismo e os privilégios tribais, chama-os a todos guineenses, dá-lhes o português como língua única, limita-se a continuar aquilo que nós iniciámos e que incompreensivelmente continuamos. 

Quanto a mim, tendo em linha de conta um e outro dispositivo, a derrota é inevitável, a menos que se alterem certos fatores externos que influem decisivamente e são suscetíveis de alterar profundamente a situação. Eles tocam, mas não são eles os donos dos instrumentos.

Parece-me que o fator mais importante é a atitude que os EUA possam vir a tomar. Até que pontos os ianques estarão dispostos a auxiliar-nos a ganhar esta guerra (no fundo, trata-se somente de impedir os outros de a ganharem, já que nós somos insuficientemente incompetentes para o fazer)." (...)


 3 de outubro de 2024 às 16:03 

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26005: (De) Caras (311): Correspondência da Guiné para Paulo Osório de Castro Barbieri (3)

(**) Último poste da série > 22 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25967: S(C)em Comentários (47): A visita do Yussuf Baldé, filho do Cherno Baldé, ao Valdemar Queiroz

sábado, 31 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25897: Timor: passado e presente (19): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte X: O ano de 1944, de intensos bombardeamentos dos Aliados sobre Díli






Timor > Díli > c. 1945 > Ruínas de Díli após a II Guerra Mundial. Relatório do governo da colónia de Timor, 1946-47. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino. Cortesia de RTP > 4.A II Guerra Mundial e o início das descolonizações (com a devida vénia...)






Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive. O livro é publicado trinta anos depois dos acontecimentos. O autor terá nascido na primeira década do séc. XX.




António Oliveira Liberato, capitão: capas de dois dos seus livros de memórias: "O caso de Timor" (Lisboa, Portugália  Editora, s/d, 242 pp.)  e "Os Japoneses estiveram em Timor" (Lisboa, 1951, 33 pp.). São dois livros, de mais difícil acesso, só disponíveis em alguns alfarrabistas e numa ou noutra biblioteca pública.



Carlos Cal Brandão: "Funo: guerrra em Timor". 
 Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.




Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia). Assinalado a vermelho a posição relativa de Maubara e Liquiçá, a oeste de Díli, onde se situava a zona de detenção dos portugueses, imposta pelos japoneses (finais de 1942 - setembro de 1945)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


Timor Leste > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Antiga colónia portuguesa, tornou-se independente desde 2002, depois de ter sido  invadida e ocupada pela Indonésia durante 24 nos, desde finais de 1975.

Infografia : Wikipédia > Timor-Leste |  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Estamos a publicar notas de leitura e excertos do livro do médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive.


Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) 

Parte X:   O ano de 1944, de intensos bombardeamentos dos Aliados sobre Díli (pp. 80-87)


(i) 1944 é  mais um ano de martírio para a pequena colónia portuguesa de Timor,  para a população timorense (que não seria mais do que 400 mil em 1940) e para a não-timorense (umas escassas 3 centenas de portugueses) com frequentes bombardeamentos da aviação dos Aliados, por um lado, e a continuação das arbitrariedades e prepotências dos ocupantes japoneses, por outro. 

O ano fica marcado pela prisão de dois elementos-chave da população portuguesa da colónia, o engenheiro Artur Resende do Canto e o tenente António Oliveira Liberato. O primeiro pertencia à Missão Geográfica de Timor, e estava a exercer, voluntária, abnegada e corajosamente,  as funções de administrador do concelho de Díli. O segundo era o adjunto da Companhia de Caçadores, que já tinha perdido, em 1942, o seu comandante, o cap inf  Costa Freitas.

Há uma novo cônsul nipónico, que fala espanhol, e um vice-cônsul que fala português (sendo casado com uma brasileira). Mas nem por isso a situação dos portugueses, detidos na ilha, vai melhorar. 
Nem muito menos a da população autótone, 
que os japoneses insidiosamente tentaram virar contra Portugal.

Quando se comemora os 25º aniversário do referendo de 30 de agosto de 1999, em que 4 em cada 5 timorenses (78,5%) se manifestaram livremente pela independência do território, curvamo-nos à memória de todos aqueles que, durante a ocupação japonesa, 
na II Guerra Mundial, 
 deram-nos exemplos de dignidade, coragem e patriotismo.  

A questão de Timor chegou a ser um foco de tensão entre Portugal e os seus velhos aliados ingleses. A invasão por tropas autralianas e holandesas foi a gota de água e o pretexto de que os japoneses precisavam para, por sua vez, ocuparem o território,  de importância estratégica para ambos os lados,

 Portugal chegou a estar em risco (ou foi ponderada a hipótese pelos ingleses) de entrar na II Guerra Mundial por causa da minúscula e longínqua parcela do império que era Timor, segundo revelam documentos do arquivo do Foreign Office, estudados pelo diplomata e investigador português, Carlos Teixeira da Mota (1941-1984),  "O caso de Timor na II Guerra Mundial : documentos britânicos", Lisboa,  Instituto Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 1997, 202 pp.   

Em 28 de novembro de 1944, Portugal assina finalmente um acordo (secreto) com os EUA (com mediação inglesa):  em troca da concessão de facilidades militares nos Açores (ilhas de Santa Maria), Portugal conta com a ajuda americana para recuperar a soberania de Timor, território ocupado prlosd japoneses e objeto da cobiça dos australianos.

Timor é paradigmático: é aqui, no Sudoeste Asiático (mas também no norte de África, ambos sangrentos palcos de guerra) que, em boa verdade,  começa(m) a(s) descolonização(ões)...


(...) A 23 de janeiro recebemos em Lahane comunicação de Liquiçá informando-nos que, no dia anterior, aviões australianos haviam atacado Liquiçá tendo metralhado a enfermaria onde estava hasteada a bandeira portuguesa!

Haviam ficado feridos quatro timorenses e a esposa do chefe dos correios Fortunato Mourão, senhora D. Aida Cassagne Mourão, que ali estavam internados, tendo esta última cegado de um dos olhos atingido por um estilhaço de bala.

No dia 17 de fevereiro, com evidente prazer nosso embora não isento de natural desconfiança sobre as suas intenções, retiraram os japoneses as guardas ao hospital e ao palácio, cessando daí em diante qualquer fiscalização do trânsito dos portugueses entre esses dois edifícios. (...)

Em princípios de março, o engenheiro Canto trouxe de Liquiçá para Lahane, acompanhada de sua mãe, uma menina de 17 anos, filha do velho colono sr. Gregório José Morato. Apresentava uma volumosa tumefacção sobre a omoplata esquerda que diagnostiquei ser um lipoma que facilmente seria extirpado por uma operação de pequena cirurgia, se os dois médicos portugueses a praticassem, dispondo dos meios normais que antes tinham, sobretudo de material asséptico.

Verificada por mim a impossibilidade de tratarmos a menina pediu o engenheiro Canto a ajuda nipónica, no respectivo consulado, conseguindo que a operação se viesse efectuar no hospital japonês, no dia 15, sendo a menina, logo após a operação, transportada para a nossa ambulância onde terminou o tratamento.

Por este tempo, constou à população portuguesa que o engenheiro Canto havia pedido a exoneração do cargo de administrador do concelho de Díli. De facto, ele há tempos me confidenciara que a sua atuação em Liquiçá e Maubara se apresentava cada vez mais cheia de escolhos, sobretudo por nada de importante poder resolver, no momento preciso e no local, pois todas as medidas necessárias que poderia aplicar para a resolução de problemas prementes e urgentíssimos tinham, obviamente, de esperar por despacho favorável do Governador, necessariamente moroso pela dificuldade de comunicações entre a zona e o palácio.

Assim, ele estava na disposição inabalável de se demitir, no caso de o Governador não o nomear seu delegado na zona de concentração. Confirmada a apresentação do pedido de exoneração do administrador do concelho de Díli, foram presentes ao Governador duas exposições, uma de chefes de família e outra de «mulheres e mães portuguesas» pedindo a sua não concessão.

Redigidas e assinadas pela grande maioria da população da zona, foi, a primeira, trazida ao hospital de Lahane onde lhe foram apostas as seguintes assinaturas (1) : José dos Santos Carvalho, Roque da Piedade Pinto e Rodrigues, António de Oliveira Oscar Lemos, Manuel da Costa, Júlio Madeira, Adão Exposto, Joaquim Francisco da Silva.

O despacho do Governador a estas petições (1) não pôde ser favorável, o que nele era lamentado, pelo que foi nomeado administrador do concelho o capitão Manuel do Nascimento Vieira, por portaria de 9 de março de 1944. (...)


(ii) A visita, de uma semana, iniciada em 19 de março de 1944,  do cap art José Joaquim da Silva e Costa, ajudante do governador de Macau, fazendo-se transportar numa aeronave japonesa, não trouxe benefícios percetíveis à população do território.

Em 29 de abril, dia em que se comemorava o aniversário do imperador do Sol Nascente, Dília sofre forte bombardeamento por parte da aviação  dos Aliados.  O engº Canto e o tenente Liberato são presos. Sabe-se também da prisão do tenente Pires, antigo administrador de Baucau.


(...) Após estes acontecimentos foi a população informada de que estava para chegar a Timor um enviado do Governo de Portugal.

De facto, no dia 19 de março aterrou no campo de aviação de Díli um avião japonês que trazia o capitão de artilharia José Joaquim da Silva e Costa, ajudante do governador de Macau comandante Gabriel Teixeira, o qual vinha a Timor como delegado especial do Governo português.

Neste mesmo avião viajaram o novo cônsul japonês em Timor, senhor Sotaro Hossokawa e o vice-eônsul, senhor Suzuki.

O capitão Silva Costa demorou-se em Timor uma semana,  tendo-se deslocado a Liquiçá e Maubara, para entrevistar vários portugueses e assistido a um almoço no palácio e a um jantar no consulado, para os quais o engenheiro Canto e eu fomos convidados e em que estiveram presentes o general comandante dos japoneses e os seus oficiais ajudantes, os dois cônsules, o Governador e o seu ajudante, capitão Vieira.

Das entrevistas que o capitão Silva e Costa teve comigo e com outras pessoas, depreendeu-se que ele estava a fazer um inquérito sobre os acontecimentos passados e a situação atual na Colónia. Bem informado, regressou a Macau no dia 26, seguindo no mesmo avião o ex-cônsul, senhor Yodogawa e o chanceler senhor Irie.

O novo cônsul japonês falava espanhol e o vice-eônsul senhor Suzuki, falava fluentemente português, pois, segundo referiu era casado com uma senhora brasileira. O novo chanceler do consulado, senhor Yanaguiwara, não comprendia ou falava senão o inglês.

A vinda do capitão Silva e Costa não trouxe melhoria de situação, como se esperava. Logo a seguir a ela, no dia 9 de abril, o tenente Liberato foi preso, na sua residência em Liquiçá, por três agentes da Kêmpy, dois dos quais eram o sargento Nerita e o cabo Kato, acompanhando-os como intérprete o chinês Há-Hói, filho do comerciante Mie-Hap de Díli, e três soldados armados de espingardas (2).

Levado de automóvel para Díli, pelo sargento Nerita, foi metido na cadeia de Díli e aferrolhado numa cela. No dia seguinte começaram os seus interrogatórios, sempre acompanhados de pancada e violências físicas, feitos pelo comandante da Kêmpy, tenente Akusawa, e pelo sargento Nerita, com o Ha-Hói como intérprete (1).

No dia 29 de abril, manhã cedo, apareceram as barracas dos aquartelamentos nipónicos, à roda do hospital de Lahane, ornamentadas com bandeiras japonesas, nas portas e outros espaços, inclusivamente nos telhados, sentindo-se bem um ar de festa e alegria da tropa. Mais tarde soubemos pelos criados timorenses que era o aniversário do Imperador do Japão que estava a ser comemorado.

Porém, ainda não eram nove horas a sereia japonesa anunciou a aproximação de aviões inimigos que não se fizeram esperar. Seguiu-se um terrível bombardeamento por dezenas de aviões que, conforme era de prever pelo tremendo estrondo e depois soubemos, reduziu a escombros a cidade de Díli, não havendo qualquer espaço que não tivesse sofrido a acção aliada.

As bandeiras nipónicas, escusado seria dizê-lo, logo desapareceram como por encanto e nunca mais as vimos em qualquer lugar, até ao fim da guerra.

Também, este bombardeamento deu origem à destruição por cargas de dinamitei das altas e elegantes torres da catedral de Díli, o que constou ter sido motivado por constituírem um precioso ponto de referência para os aviões atacantes.

Aquando do bombardeamento, estava o tenente Liberato aferrolhado numa cela da cadeia de Díli pelo que pôde num dos seus livros (2) descrever o terrífico espectáculo com um realismo que ainda hoje nos esmaga.

Atingido o compartimento onde se encontrava, transferiram-no para outra dependência menos danificada e onde já tinham sido reunidos os restantes presos, entre os quais reconheceu, a custo por estar magríssimo, ferido na cabeça, e coberto de cabeça, o chefe de posto Augusto de Melo Matos e Silva (2) .

Recebeu deste, então, algumas informações. O tenente Pires havia voltado da Austrália, num submarino americano e ficara em Timor, em serviço de observação, com um pequeno grupo de portugueses, oferecendo informações aos aliados (3).

Obrigado o grupo a fraccionar-se, para escapar às "colunas negras", haviam sido, sucessivamente, presos o tenente Pires, os chefes de posto José Tinoco e Matos e Silva, o enfermeiro Serafim Pinto e os irmãos, cabos Cipriano Vieira e João Vieira (3).

Presos, durante meses, em Baucau, foram mais tarde transferidos para Díli (3) e aí havia já falecido o chefe de posto José Tinoco e os irmãos Cipriano e João Vieira (2) . Quanto ao enfermeiro Serafim Pinto nada sabia, pois vira-o entrar um dia na prisão, de olhos vendados, mas desconhecia o destino que lhe haviam dado. Provavelmente, já não pertencia, também, ao número dos vivos (2) .

O senhor Matos e Silva, ferido na cabeça por um estilhaço de bomba, foi transferido, tempos depois, para uma casa de China Rate, onde se presume que tenha morrido (3), a 8 ou 9 de maio (2) .

«Fora de dúvida é que todos eles sofreram horríveis maus tratos e as agruras da fome, que os japoneses impunham a todos os seus prisioneiros» (3).

No dia 4 de maio, o tenente Liberato foi algemado, vendaram-lhe os olhos, meteram-nos num automóvel e levaram-no para China Rate onde o meteram na casa que era das máquinas da T.S.F., num compartimento sem janela. Aí viveu ( !) sessenta e sete dias, completamente incomunicável, a juntar aos vinte e inco passados na cadeia de Díli (2) .

Por estes tempos e, infelizmente, nos que se lhe seguiram, o cabo Kato, chefe da polícia japonesa em Liquiçá, continuava  fazer tropelias, insultando e vexando com prepotência os não- timorenses da zona de concentração.

No dia 5 de julho registou-se um ataque aéreo aliado, com fogo de metralhadoras, a Liquiçá e Maubara. Em Liquiçá ninguém foi atingido, mas em Maubara sofreram ferimentos graves  (...).

Uma das mais infelizes e inexplicáveis prepotências da polícia japonesa surgiria, com uma bomba, a 10 de julho. Cerca do meio-dia, apareceu no hospital de Lahane o sargento Nerita acompanhado de alguns soldados armados, transortado num automóvel do exército.

Não procurando o engenheiro Canto, como costumava fazer, dirigiu-se à sala onde estava instalado o telefone que estabelecia comunicação com o palácio, arrancou-o e levou-o consigo.

Apareceu, então, o Engenheiro e logo compreendemos ser ele a vítima escolhida, pois o sargento não o cumprimentou, antes lhe disse qualquer coisa, com modos bruscos, que nós não ouvimos, por estarmos afastados.

O  Engenheiro dirigiu-se, então, ao seu quarto, já acompanhado por soldados, enquanto c sargento foi procurar o gerente do Banco Ultramarino, senhor João Jorge Duarte, para o intimar a acompanhá-lo, também. Tal com estavam, em mangas de camisa, tiveram de seguir com os esbirros, levando o Engenheiro uma malinha de mão e despedindo-se com um olhar que, para sempre, ficou no nosso
pensamento.

Logo que o automóvel se afastou, o chefe de posto Torresão correu para o palácio com o fim de avisar ao Governador, seu primo, o sucedido. Mas, em vão atuou. Chegado ao cruzamento com a estrada que liga ao palácio aí encontrou um soldado japonês que lhe impediu a passagem, forçando-o a regressar ao hospital.

No dia seguinte já não houve entraves e o Governador pôde ser inteirado do acontecimento, não tendo os protestos que, pronta, enérgica e repetidamente, pessoalmente apresentou no consulado nipónico, obtido resultado favorável nem qualquer explicação para tão arbitrário ato. (...)


(iii) Surpreendente, ou talvez ou não, é a situação do tesouro público: o gerente do BNU é preso, e o seu quarto fica trancado...É lá que ele guardava parte do pecúlio da colónia, ou seja, o "mealheiro" do Governador, o cofre forte do  banco... ~

Como pagar agora aos funcionários, civis e militares,  que restam na colónia, incluindo os deportados (que também comiam à "mesa do Estado" )?... Sem esse dinheiro, agravar-se-ia  a situação de miséria em que já todos viviam, apesar da solidariedade de muitos timorenses  que, apesar de tudo, tinham os seus meios de subsistência... 

Uma solução "ad hoc", expedidta, à portuguesa foi encontrada, o clássico "desenrascanço"... Um momento algo hilariante no meio de um drama coletivo...

 (...) Entretanto, verificáramos no hospital de Lahane que o Gerente havia fechado a porta do quarto onde estava instalado e não pudera entregar a chave aos seus dois funcionários ali presente ou a qualquer de nós, pois nem sequer lhe fora permitido calçar uns sapatos em substituição das chinelas que trazia quando foi preso.

Conforme, então, o Dr. Tarroso Gomes (4) me contou,  situação complicava-se porque o Gerente, visto lhe ser impossível ir ao edifício do Banco, situado em Díli, conservava guardados no seu quarto, uma parte dos fundos da Colónia. 

Aguardaram-se vários dias, na esperança de a detenção ser temporária, mas como não houvesse indícios duma libertação próxima, o Governador, obrigado pelas circunstâncias e porque não  era possível deixar a população sem dinheiro, porque isso representava a fome, determinou que se arrombasse a porta do quarto e se retirassem os fundos da Colónia que passariam à responsabilidade do Dr. Tarroso.

Coube esta tarefa a uma comissão, nomeada pelo mesmo espacho que determinou o arrombamento, constituída pelo capitão Vieira, o Dr. Tarroso, o secretário e o tesoureiro do Banco Nacional Ultramarino, senhores Anselmo Bartolomeu e Almeida e Fausto do Amaral e eu e o sargento Vicente, como testemunhas.

Encontrou-se bastante dinheiro em gavetas e malas, mas havia vários cofres que só mais tarde o deportado, senhor Serafim Martins, habilíssime serralheiro, vindo de Liquiçá para o efeito, conseguiu arrombar e depois tornar a reparar à força de muito trabalho e competência técnica.


 (iv) A "zona de concentração" fica agira reduzida a Liquição, com a transferência forçada dos portugueses "residentes" em Maubara, que perdem os seus parcos haveres e as suas pequenas hortas...

Os bombardeamentos continuam, mais intensos em outubro e novembro. Díli é agora um monte de ruinas. 

Timorenses e portugueses vão entrar no último ano da guerra, sem saber qual é o seu desfecho, completamente isolados do mundo...


(...) Em meados de setembro surgiu mais uma grande crise para a população não-timorense de Maubara que na sua totalidade, não poupando as mulheres e crianças, foi obrigada pelos japoneses e abandonar a vila, onde tinha todos os seus haveres e cultivava hortas pelos próprios meios, e seguir para a já superpovoada Liquiçá, fazendo o percurso a pé!

Chegaram esses desgraçados, mortes de fome e de cansaço,  Liquiçá, no dia 15, tendo pernoitado na noite da véspera em palhotas de timorenses caridosos que fraternalmente os acolheram (5).

Assim, na vila de Liquiçá mais se agravou o problema alimentar que só não se tornou completamente desesperado por os japoneses permitirem que alguns nossos serviçais timorenses se dedicassem a trabalhos agrícolas na Granja Eduardo Marques, fornecendo géneros alimentícios. 

Outra grande ajuda foi sempre a da plantação de Fátu-Béssi que nunca foi ocupada los japoneses, embora eles requisitassem daí o melhor para as suas tropas. Porém, a diplomacia do senhor Jaime de Carvalho conseguiu furtar-lhes quantidades preciosas para entregar aos seus famintos compatriotas.

No mês de outubro, violentos bombardeamentos aéreos incidiram sobre a área onde os japoneses se tinham instalado em Lahane, bem junto do nosso hospital, os quais só por milagre não nos atingiram. Ficaram memoráveis para nós os realizados nos dias 14, 29 e 30 (de setembro).

Continuaram os ataques aliados em novembro, ainda a Lahane, mas, agora, nas proximidades da residência do governador. Assim, no dia 8, caíram dezoito bombas a uma distância, entre 20 e 50 metros; no dia 10, sete bombas, à mesma distância; e no dia 15, mais nove, oito das quais muito próximas (entre 20 e 30 metros) e uma que providencialmente não rebentou, a dois metros de um dos torreões da frente da residência, onde cavou um buraco. (6) .

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos, comentários, reordenação das notas de rodapé: LG)

________________

Notas do autor (JSC):

(1) As exposições da população ao governador Ferreira de Carvalho, pedindo para não conceder a exoneração ao engenheiro Canto, podem ler-se no In Memoriam a Artur do Canto Resende, publicação do Sindicato Nacional dos Engenheiros Geógrafos, Lisboa, 1956, pp. 37 a 41.

(2) Vd. Capitão António de Oliveira Liberato, "Os japoneses Estiveram em Timor". Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade. Lisboa, 1951.

(3) Vd. Carlos Cal Brandão: "Funo: guerrra em Timor".  Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.

(4) O Dr. Tarroso Gomes, desde Dezembro de 1942 que vinha regularmente a Díli, uma vez por mês, a fim de levantar da caixa de tesouro os fundos necessários para as despesas oficiais do mês e despachar com o governador os assuntos da Repartição de Fazenda. Hospedou- se  sempre no hospital.

(5) A odisseia dos portugueses de Maubara foi-me relatada pelo Dr. Tarroso Gomes que assistiu à sua chegada a Liquiçá onde o seu mísero estado provocou, em todos a maior indignação e profundos desejos de vingança.

(6) Os efeitos dos bombardeamentos da zona vizinha do palácio do governador, foram por mim directamente observados. O número de bombas caídas foi-me referido pelo próprio governador.
_____________

Nota do editor LG: 

(*) Vd. postes anteriores da série >