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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25845: Em busca de... (327): Esclarecimentos sobre a morte do meu amigo Ilídio Fidalgo Rodrigues de Jesus, Soldado Básico da CCAÇ 2382 (Juvenal José Danado, ex-Fur Mil Sap Inf)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Danado, ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS / BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71) com data de 12 de Agosto de 2024, enviada ao blogue através do Formulário de Contacto do Blogger:

Camarada e amigo Luís Graça:
Sendo possível, gostaria que o texto seguinte fosse publicado no nosso blogue.
Muito obrigado pela atenção e aquele abraço.



CCaç 2382 / Buba

Ilídio Fidalgo Rodrigues de Jesus (o Esgota-Pipas), mortalmente atingido no ataque a Buba, em 14/02/1969

Li um texto publicado neste blogue em 28 de maio de 20161, no qual o companheiro e furriel miliciano Manuel Traquina, fala do Ilídio Fidalgo Rodrigues de Jesus, soldado ferido durante o ataque a Buba de 14/02/1969, ferimento que lhe provocou a morte.

O texto interessou-me sobremaneira, porque o Ruço (alcunha por que toda a gente na aldeia tratava o Ilídio) era um querido amigo com quem convivi e partilhei muitas brincadeiras na infância e na adolescência. Somos os dois naturais de Aires, aldeia do concelho de Palmela. Jogámos muitas vezes à bola no Largo da Fonte e no olival contíguo à sede do Grupo Desportivo Airense, andámos aos pássaros (ele era exímio com a fisga), estivemos em bailaricos, nadámos no tanque de rega da quinta para onde me mudei aos 13 anos, parodiámos muito, fomos amigos, irmãos de coração.

O Ruço tinha o nome próprio do pai e pertencia a uma irmandade de cinco, contando com ele. O pai era trabalhador rural, como a maior parte dos pais da aldeia, e a família tinha poucos recursos, razão pela qual o Ruço nunca foi à escola, começando a trabalhar muito cedo, a pastar ovelhas.

Fiquei admirado quando li que ele «foi dispensado das saídas para o mato e colocado como ajudante de cozinheiro». Sendo analfabeto (não foi à escola), ele teria de ser básico, «especialidade» que o livraria das saídas para o mato, reservadas a atiradores, pessoal de transmissões, de enfermagem e informações, sapadores. E normalmente, segundo creio, os básicos ajudavam nas cozinhas.

A minha comissão (Batalhão 2892 - 1969/71) foi passada entre Aldeia Formosa, Nhala e Buba. A história que eu apurei, nas indagações que fiz em Buba, foi a seguinte: o meu amigo trabalhava na messe de sargentos, como ajudante de cozinheiro; durante um ataque noturno correu para se abrigar na messe, uma granada explodiu por cima da porta onde ia a entrar, e ele foi atingido por estilhaços que o vitimaram, dias depois, já em Bissau.

Gostaria que o Manuel Traquina ou qualquer outro membro da Companhia 2382 fizesse o favor de me esclarecer, com os pormenores possíveis, deixando desde já os meus agradecimentos.

Um grande abraço aos companheiros da 2382, a todos quantos visitam o nosso blogue e aos que o mantêm atualizado e vivo.

Cumprimentos,
Juvenal José Cordeiro Danado

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Notas do editor

1- Vd. post de 28 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16141: In Memoriam (258): Soldado Ilídio Fidalgo Rodrigues, o "Esgota Pipas" da CCAÇ 2382, morto por um estilhaço de um projéctil IN (Manuel Traquina, ex-Fur Mil)

Último post da série de 13 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25838: Em busca de... (326): Camaradas do malogrado Fur Mil Op Esp Dinis César de Castro, da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, que morreu em combate, no dia 12 de Outubro de 1970, durante a emboscada a uma coluna auto no itinerário Mansoa-Infandre

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22429: In Memoriam (402): 1.º Cabo Miliciano Fernando Pacheco dos Santos, da CART 2673, caído em combate, em Empada, no dia 7 de Julho de 1970 (Juvenal Danado, ex-Fur Mil Sapador Inf)

1. O nosso camarada e novo tertuliano Juvenal Danado[*], ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71) presta aqui homenagem ao seu amigo Fernando Pacheco dos Santos, ex-1.º Cabo Miliciano da CART 2673[**] (Empada e Brá, 1970/71), morto em combate no dia 7 de Julho de 1970.


Um herói de Troino

Venho falar de juventude sacrificada na Guerra Colonial, de heróis que pagaram o cumprimento de deveres a que foram obrigados ou para que se ofereceram, com o mais elevado dos sacrifícios, o sacrifício da vida. Fernando Pacheco dos Santos, setubalense de Troino (bairro de Setúbal) morto em combate na Guiné-Bissau, é um desses lídimos heróis.

Encontrei-o em Nhala, sul da Guiné, uma aldeia onde estava sediada uma companhia do meu batalhão. Por se situar numa zona difícil, a unidade era reforçada com pelotões que vinham de outras companhias do setor. Cada grupo de combate permanecia ali umas semanas, ocupando-se em patrulhas e emboscadas, sendo depois rendido por outro.

Fui pra lá com quatro rapazes do meu pelotão, para construirmos a rede de arame farpado em torno da aldeia – os postes, a rede e os cavalos de frisa estavam a desfazer-se, e havia o perigo de um assalto do inimigo, o que acontecera numa comissão anterior. O Fernando era 1.º Cabo-Miliciano (estranho, dado que todos os cabos milicianos eram promovidos a furriéis quando eram mobilizados – não me recordo se chegámos a falar sobre o assunto) de um grupo de combate de Empada, povoação a cerca de trinta quilómetros. Conhecíamo-nos da Escola Industrial e Comercial, mas a lidação era pouca. No entanto foi quanto bastou para nos abraçarmos como grandes amigos e confraternizarmos quando foi possível, falando das "nossas guerras" e, inevitavelmente, de Setúbal, da Escola e do Vitória, das praias e da sardinha assada, da família e dos amores, dos medos, das saudades que amargavam tanto.

A guerra dele decorrera até então sem grandes sobressaltos. Além disso, a região de Empada era farta em animais de abate, caça, peixe (do Rio Grande de Buba, ali à mão), hortícolas, uma abundância contrastante com as penúrias da Guiné, o que permitia comerem bem no quartel – coisa que não acontecia em Nhala. Era em Empada que o Fernando se sentia bem, e estava desejando de abalar – considerava Nhala um sítio muito perigoso, e era, de facto, além de detestar as misérias do rancho.

Na manhã em que o Pacheco regressou à sua unidade, desejámos um ao outro as maiores felicidades para o tempo que faltava cumprir, e que não era pouco, nos dois casos. E ele, meio a brincar, meio a sério, incitou-me a acabar a rede de arame farpado o mais breve possível, para me "raspar dali" com os meus homens.

Pouco tempo após o regresso a Empada, o pelotão do Pacheco saiu uma vez mais para o mato. Passo a descrever o que me foi relatado pelo comandante do pelotão, o aspirante a oficial miliciano (também não sei dizer porquê, uma vez que deveria ser alferes) Agostinho Correia Silva, numa viagem de avioneta que fizemos de Aldeia Formosa, o meu aquartelamento, até Bissau.
Itinerário onde ocorreu o encontro entre os nossos militares e o PAIGC que levou à morte o 1º Cabo Mil Fernando Pacheco dos Santos entre outros nossos camaradas.

Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta de Empada, 1:50.000

Emboscados, viram surgir um numeroso grupo inimigo. Travou-se o combate, com muitas baixas do nosso lado, logo aos primeiros disparos e rebentamentos. Capazes de combater, restaram uns poucos, entre eles o aspirante, com ferimento ligeiro. Aguentaram sucessivas investidas dos guerrilheiros. Valeu-lhes não terem sido todos mortos ou levados, o socorro que entretanto chegou do quartel. No final, os nossos sofreram 7 mortos[***], 8 feridos graves e três ligeiros. O comandante de pelotão, apercebendo-se de que o Pacheco estava ferido, ordenou ao enfermeiro que o socorresse.

O meu amigo, ferido por um estilhaço numa virilha, rejeitou tratamento, garantindo que aguentava e que outros estavam mais necessitados de ajuda do que ele. Pouco tempo passado, porém, chamou o aspirante e, numa grande aflição, pôs-se a dizer-lhe: "Eh, pá, vou morrer! Vou morrer!". O oficial desviou-lhe a mão que ele tinha sobre o ferimento e viu como o sangue brotava da artéria. Daí a nada, o Pacheco morria-lhe nos braços. Aos 22 anos, caía a tarde de 7 de julho de 1970.

Fiquei deveras consternado quando soube. Parecia-me mentira que aquilo tivesse acontecido ao Fernando Pacheco, a ele, que me confessara, há duas ou três semanas, ter medo de estar em Nhala e desejar o regresso "ao céu", como chamava a Empada.

Aqui lhe presto a minha singela, mas muito magoada homenagem, alargando-a aos outros 8 rapazes que frequentaram a Escola Industrial e Comercial de Setúbal, aos 38 do concelho, aos 199 do distrito e aos quase 9000 que perderam a vida na Guerra Colonial.

Até sempre, amigo Fernando Pacheco! Repousem em paz, companheiros!

Memorial existente no átrio da entrada principal da antiga Escola Industrial e Comercial de Setúbal. O Fernando Pacheco dos Santos é referido como furriel miliciano, posto a que terá sido promovido postumamente.

Brasão da Companhia de Artilharia 2673, unidade do Fernando Pacheco dos Santos
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Fontes utilizadas, com os devidos agradecimentos:
- Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – publicações do ex-furriel miliciano e ex-combatente José Marcelino Martins;
- Portal UTW Dos Veteranos da Guerra do Ultramar;
- Núcleo da Liga dos Combatentes de Setúbal;
- Caderno da edição do jornal «Expresso» de 30/04/1994.
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Notas do editor:

[*] - Vd. poste de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

[**] - Vd poste de 12 DE JUNHO DE 2010 > Guiné 63/74 – P6581: Fichas de Unidades (7): Companhia de Artilharia 2673 - CART 2673 (José Martins)

[***] - Foram estes os militares mortos na emboscada de 7 de Julho de 1970:
- 1º Cabo At Agostinho do Vale Almeida (Seia)
- Sold Mil Ansumane Jaló (Cacheu)
- Sold Mil Ansumane Mané (Fulacunda)
- Sold At Ercílio da Silva Medeiros (Odemira)
- 1º Cabo Mil Fernando Pacheco dos Santos (Setúbal)
- Sold At José Constantino Gonçalo (Caldas da Rainha)
- CMDT Sec Mil Malan Cassamá (Fulacunda)

Último poste da série de 27 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22409: In Memoriam (401): Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho (1936-2021), com quem trabalhei lado a jado e fiz amizade, em 1971, na Rep ACAP, no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, e hoje médico)

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22428: Tabanca Grande (524): Juvenal José Cordeiro Danado, ex-Fur Mil Sapador de Inf da CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 847

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 31 de Julho de 2021:


Caros amigos Editores,

Tenho o grato prazer de vos enviar o "pedido de adesão" ao Blogue por parte do nosso camarada da Guiné, Juvenal José Cordeiro Danado. Pediu-me para "apadrinhar" o pedido (quando chegar a Páscoa não sei se terei capacidade para fazer o que o Vinhal disse ser a minha obrigação de padrinho...) e para tal enviou-me o texto de apresentação, com as duas fotos da praxe, onde de forma breve dá conta do seu percurso militar.

Acrescenta também um texto, em jeito de "jóia", que penso que pode muito bem ser publicado, no seguimento da apresentação, ou em "post" próprio, como melhor entenderem, já que se trata de uma homenagem póstuma a um camarada falecido em consequência de ferimento em combate.

O Juvenal, para além da actividade que desenvolveu, inicialmente na indústria e posteriormente no ensino, do qual se reformou recentemente, tem desenvolvido interessante e valiosa actividade de colaboração no jornal "O Setubalense", com artigos variados, desde o recordar episódios da sua passagem pela Guiné até assuntos do quotidiano, sempre com elevado sentido humanista e de preocupação social.

Mais recentemente, porque passou a ter mais tempo, também intervém num grupo do Facebook dedicado a "Coisas de Setúbal", onde fez publicar o texto de homenagem que se anexa.

Saudações
Hélder Sousa


********************
Juvenal Danado, Fur Mil Sapador de Infantaria,
CCS/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1970/1971)

Sou Juvenal José Cordeiro Danado, natural de Aires (uma aldeia do concelho de Palmela), onde nasci a 19 de maio de 1948, e em cuja escola fiz o ensino primário.
Frequentei depois a Escola Industrial e Comercial de Setúbal, onde tirei o curso de Formação de Serralheiro. Foi como serralheiro que trabalhei até à tropa.

Fui Furriel Miliciano Sapador de Infantaria na Guiné, de janeiro de 1970 a setembro de 1971.

Fiz a minha recruta no Destacamento da Escola Prática de Cavalaria (Santarém, 2º turno de 1969). A especialidade decorreu no CISMI de Tavira. A seguir fui colocado no RI 16 (Évora), como Cabo Miliciano, e aí fui mobilizado para a Guiné, para a CCS do BCaç 2892, sede em Aldeia Formosa - Quebo.

Juvenal José Cordeiro Danado, "hoje"

Quando regressei, vim viver para Setúbal, onde resido, no gozo (e nas mágoas) da aposentadoria, após uma carreira profissional e contributiva repartida pela indústria e pelo ensino.

Sou seguidor do blogue e decidi solicitar a adesão. Para tanto, envio uma foto dos tempos da Guiné e a mais atual que possuo.

Segue também um texto que fiz publicar recentemente no grupo «Coisas de Setúbal» (facebook), em que procuro homenagear um amigo e colega da EICSetúbal e, por seu intermédio, os restantes alunos da EICS e todos os nossos camaradas que perderam a vida na Guerra Colonial. Se lhe acharem algum interesse para publicação no blogue, façam o favor.


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2. Comentário do editor:

Caro Juvenal

Deixa-me dar-te os parabéns pelo padrinho que escolheste, o Hélder Valério de Sousa, é uma pessoa muito estimada entre nós, não desmerecendo os restantes camaradas que compõem a nossa tertúlia, porque é alguém que procura o equilíbrio entre posições e discussões, às vezes acaloradas, na defesa de pontos de vista nem sempre concensuais. Não é por acaso que se disponibilizou para a função de colaborador permanente, que o faz manter atento ao que por aqui se passa, principalmente aos ataques de alguns "penetras" que tentam a todo o custo deixar o seu "veneno" a coberto do anonimato mais ou menos camuflado.

Mas hoje é o teu dia. Aqui não temos praxes nem cerimónias de iniciação, só a alegria de ver juntar-se a nós mais um camarada de armas, daqueles que como os que já cá estão, palmilhou aquele pequeno território de África, tão estranho, em todos os sentidos, a quem tinha deixado a sua família, o seu emprego e os seus estudos.

É já um lugar-comum a afirmação de que fomos fazer uma guerra que não queríamos e para a qual nada tínhamos contribuído até então. Muitas vidas em vão se perderam e muitas das mazelas que trouxemos só a terra as vai curando.

Fica o convite/pedido para o teu contributo no espólio do nosso Blogue, até porque terás, agora, mais um pouco de tempo disponível. Aceitamos fotos, acompanhadas das respectivas legendas, e textos das memórias dos tempos passados na Guiné.

Amanhã sairá a tua primeira colaboração, a homenagem que fizeste ao teu (nosso) camarada Fernando Pacheco dos Santos.

Deixo-te-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia, que somos nós todos afinal. Vais sentar-te no lugar 847, como todos, à boa sombra do nosso "poilão sagrado".

Ao teu dispor, o camarada e novo amigo
Carlos Vinhal

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22426: Tabanca Grande (523): O cap art Otelo Saraiva de Caravalho, com quem trabalhei na Rep ACAP, QG/CCFAF, em 1971, ao tempo do major inf Ramalho Eanes e do ten cor inf Mário Lemos Pires (Ernestino Caniço)... Em sua memória,.é reservado o lugar nº 846, à sombra do nosso poilão

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21450: (In)citações (170): Comover-me-ei até ao último dos meus dias, cada vez que penso nos farrapos da farda do fur mil MA Ferreira, da CCAÇ 2616, dependurados nas árvores, no local da explosão da mina A/C armadilhada, na estrada Aldeia Formosa-Buba (Juvenal Danado, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2892, Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1969/71; vive em Setúbal)


Foto nº 1 > Rio Grande de Buba. o cais e a maré a encher (*)


Foto nº 2 > Rio Grande de Buba, Buba, 1974, a partida da LDG 105 Bombarda (que também navegava no Rio Geba)




Foto nº 3 > Rio Grande Buba, Buba, 1974 > A ingrata missão do meu Grupo: carregar do chão os víveres a granel para as viaturas. (**)


Algumas das melhores fotos do Rio Grande de Buba... Álbum do António Murta, ex-alf mil inf, Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Buba > Rio Grande de Buba > 1974



1. Comentário do nosso camarada Juvenal Danado, professor (que julgamos aposentado), a viver em Setúbal, onde colabora com alguma regularidade no jornal da região, "O Setubalense".

Tem escritos comentários no nosso blogue. O último foi a propósito de minas e armadilhas, no poste P21435 (***)



(... ) Fui furriel miliciano sapador de infantaria ( Pelotão de Sapadores / CCS/ BCAÇ 2892, Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1969/71), especialidade tirada no CISMI de Tavira.

A abordagem do furriel à desmontagem da mina (***) também não parece nada correta, pelos motivos apontados: as mangas em baixo, o empecilho do cinturão com as cartucheiras, a posição do corpo, a pá (?!!!).

Desmontar uma mina (ainda por cima as anti-carro, frequentemente armadilhadas) nestes descuidos, era meio caminho andado para se ficar reduzido a picadinho.

Como ficou o desditoso furriel Ferreira, da companhia 2616 do meu batalhão (sediada em Buba), que ignorou os avisos, lá de longe, do alferes do pelotão: «Tem cuidado, Ferreira, que essa merda pode estar armadilhada!», quando, em dia de coluna, procurava desimpedir a estrada Aldeia-Buba de um destes engenhos.

Ao que contavam os assistentes à tragédia, o Ferreira (atirador com curso de minas e armadilhas tirado em Bragança) escavou à volta da mina com a faca de mato, como se deve fazer, enfiou a mão por baixo para ver se detetava algum fio, e hesitou. A coluna vinha a caminho e ele sentia-se pressionado, tinha de limpar o caminho.

Agarrou na mina uma primeira vez e fez menção de a levantar; fê-lo uma segunda vez e continuou a hesitar. O alferes voltou a avisá-lo. À terceira, contavam, terá gritado: «Foda-se, ou ela ou eu!». E puxou a mina para si.

A mina estava armadilhada. Diziam alguns que tiveram a sensação de vê-lo subir no ar e depois desfazer-se. O bocado maior que encontraram dele (um mocetão que pesaria à volta de 80kg) foi um pedaço da coluna vertebral, transportada para Buba dentro de uma caixa de ração de combate, e o que os pais receberiam dentro da urna que lhes enviaram.

Aquela mina e as outras anti-pessoal que o Ferreira desmontou naquele fatídico dia, eram para mim (era a minha vez), que estava em Bissau de regresso da licença na Metrópole, quando recebi a notícia.

Daí a uns dias, fui mandado a Buba, como comandante da coluna de reabastecimento. A certa altura dos 30 km que mediavam de Aldeia a Buba, a coluna parou. Preparei-me para a batalha, uma vez que não estávamos muito longe do carreiro de Uane, onde um ou dois bigrupos do PAIGC passavam constantemente. Não era isso. Era o pessoal a homenagear o Ferreira. Nas árvores por cima do local onde se dera a explosão, farrapos da farda do Ferreira, pendurados nos ramos, pareciam acenar-nos.

Comover-me-ei até ao último dos meus dias, cada vez que penso/falo nisto. Descansa em paz, Ferreira.

Juvenal José Cordeiro Danado (****)

2. Comentário do Juvenal Danado ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande (***)

Eu acho que faço parte da Tabanca Grande, desde que a descobri, caro Luís. Peço desculpa pelo atrevimento, mas não sabia que era necessário ser convidado.

Não sei se já o disse no pouco que por aqui comentei, mas este blogue presta um serviço inestimável a todos quantos passaram alguns dos melhores anos da sua mocidade na Guiné-Bissau, numa guerra que poderia ter sido evitada, evitando tanto sofrimento.

A Tabanca Grande é um cantinho onde nos podemos encontrar como num recanto confortável de um café, entre amigos, e partilhar as nossas experiências e mágoas. Grande trabalho, Luís. As minhas felicitações e os meus agradecimentos.

Um grande abraço, alargado a todos os companheiros, os que aqui escrevem e todos quantos passaram pela Guiné.

3. Comentário do editor LG:

Obrigado, em nome da Tabanca Grande, pelos teus dois comentários que nos enriquecem (***)... O teu testemunho sobre a morte do furriel mil Ferreira, da CCAÇ 2616, e  a tua ida, a a seguir,  a Buba, numa coluna logística, é muito forte, Também ainda guardo imagens dessas, ao fim destes anos todos... Eu próprio caiu numa A/C com uma GMC carregada de pessoal...

De facto, tu de há muito que deverias estar sentado, à sombra do nosso poilão... Afinal, faltam apenas aquelas pequenas formalidades: um pedido explicito para integrar a Tabanca Grande, um endereço de email válido, duas fotos (uma atual e outra do antigamente) e uma curta apresentação do teu curriculo militar...

Pedi ao Hélder Sousa, teu vizinho, para te contactar e "apadrinhar" a tua entrada na Tabanca Grande, Tens o nº 820, à tua espera, se te despachares ainda hoje... 

Um alfabravo (ou um abracelo, abraço com cotovelo,  neste raio de tempo de calamidade).

Luís Graça

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 22 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14916: Memória dos lugares (309): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (2) (António Murta)

(**) Vd. poste de 20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14903: Memória dos lugares (307): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (1) (António Murta)

(***)Vd. poste de 9 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21435: Fotos à procura de... uma legenda (126): O sapador só se engana três vezes: a primeira, a única e a última (António J. Pereira da Costa)

(****) Último poste da série > 21 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21380: (In)citações (169): Onde esteve a Cruz Vermelha Portuguesa durante a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África ?