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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4338: Tabanca Grande (140): Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Especialista da FAP, BA 12, 1967/69

1. Mensagem de Vítor Oliveira, 1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69:

Amigo Luís
Aqui está o meu pedido de adesão.
1.º Cabo Especialista Melec - 1.ª de 1966
Estive na BA2 e Escola Militar Electromecânica entre 20 de Janeiro de 1966 e 19 de Abril de 1967.
No AB1 entre 20 de Abril e 8 de Outubro de 1967.
Na BA12 entre 9 de Outubro de 1967 e 31 de Maio de 1969.
Na BA4 entre 31 de Maio de 1969 e 12 de Janeiro de 1970.

Era conhecido na terra do branco pelo Canéças e na Guiné pelo Pichas.
Moro actualmente em Canéças. Estou reformado.
Um pormenor Benfiquista a sério.
Luís um abraço.


2. Honório e eu num abrigo em Madina de Boé. A nossa sorte

Estávamos em Nova Lamego a fazer proteção à coluna para Madina, quando um dia, pela manhã, carregam um caixão forrado a pano preto na DO para Madina. Aparece o Honório e diz-me:
- Pichas vamos a Madina.

Eu disse-lhe a gente lá nem tempo tinha para beber um copo. Quando íamos a Madina nem parávamos o motor.

No meio desta conversa apareceu um cabo do exército que pediu ao Honório se o levava, porque nunca tinha andado de avião. Ainda lhe perguntei se sabia onde se ia meter.

Bom, lá descolámos os três e eis que quando passávamos o rio, vinha uma coluna na direção do Cheche. O Honório quando a vê, toca de fazer as suas habilidades e o nosso cabo começa de gritar ao gregório, que não se podia estar dentro da DO.

Quando aterrámos, disse ao cabo para ir buscar água para lavar o avião.
Veio um alferes e um cabo num unimog que nos convidaram para irmos beber um copo. De repente ouvem-se uns tiros. Ao alferes e aos cabos nunca mais os vi. Eu e o Honório deitámo-nos debaixo da DO. O pessoal do quartel começou a chamar-nos. Levantámo-nos e lá vêm mais uns tiros. Ficámos debaixo do unimog e só à segunda tentativa conseguimos entrar no abrigo.

Abrigo esse em forma de L. Entrámos lá para dentro, para o fundo. Puxei dum cigarro, tremia como varas verdes, e o Honório a gozar comigo. Passada talvez meia hora e depois do pessoal do quartel ter mandado umas morteiradas lá para os montes, diz o Honório:
- Pichas vamos embora.

Perguntei pelo cabo, foram à sua procura e vi-o sair do abrigo em frente, havia salvo erro duas ou três tabancas. De novo se ouvem uns tiros e então ele entra a correr pelo abrigo dentro, dizendo-me que ali é que se estava bem.

Ao fim de mais uma hora, lá desatámos a correr para a DO. Foi chegar, pô-la a trabalhar e descolar, a rapar, direito ao monte.

Posso dizer que os nervos eram tantos que consegui fechar a porta da DO com o cinto de fora, meti a mão na janela, mas parti o acrilico da porta. Isto porque o inimigo tinha lá um artista a quem chamavam Osvald (que matou o Kennedy) e que punha o quartel em alvoroço.

Fui lá algumas vezes levar munições nas DO. Devemos ter sido os únicos da FA a conhecer aqueles abrigos.

Felizmente a sorte esteve do nosso lado.

Já agora gostava que me explicassem como é que aparece em livros editados fotografias de um T6G em reparação em Madina, uma vez que a pista mal dava para as DO e ficava no meio dos montes.

Um abraço
Vitor Oliveira

Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina

Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel.esta operação foi feita com a proteçção dos paraquedistas

Já não me lembro deste pessoal a não ser do sarg.ajudante Manuel Matacão

Este é o avião que o brigadeiro Hélio viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti

A carcaça ficou lá depois de incendiada


3. Comentário de CV:

Caro Vitor Oliveira, finalmente entraste nesta Tabanca de tropa, dita, macaca, onde se pode encontrar elementos da tropa especial, de que tu és um bom exemplo.

Muito obrigado por te juntares a nós e aos teus camaradas da FA que já colaboram neste Blogue.

Como sabes, além de Especialistas, temos Caçadores Pára-quedistas, Pilotos-aviadore e até uma Enfermeira Pára-quedista. Uma panóplia completa. Estás em família, portanto.

Temos cá umas fotos tuas que iremos publicar brevemente, logo mantém-te atento e poderás, mais tarde, enviares mais umas coisas para publicação.

Em nome da tertúlia e especialmente dos teu camaradas da FA, deixo-te um abraço.
CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4329: Tabanca Grande (139): Francisco Santos, ex-militar da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá - 1963/65)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4110: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (6): 'No melhor pano cai a nódoa' (Amílcar Mendes / Pereira da Costa)

1. Mensagem do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª CCmds (Brá, 1972/74 (na foto, à esquerda, na mata do Morés, em 1972):

Assunto - Direito à indignação, com pedido de publicação:

Amigo Mário Pinto, entendo a sua indignação (*). Vi a entrevista e tambem acho que houve algum excesso. Conheço o Sr general Almeida Bruno ,comandou o meu Batalhão na Guiné,não venho defendê-lo e nem ele precisa, mas pode querer que como tropa especial numca eu ou os camaradas com quem trabalhei no TO ,tivemos a mais leve desconsideração pela tropa a quem chamavam de "tropa normal".

Pelo contrário, sempre os respeitei e admirava o sacrifício de sobreviver dia a dia nas condições mais miseráveis, enterrados em destacamentos no cú de Judas, em que o unico passatempo era contar os rebentamentos e contabilizar os estragos.Com armamente rudimentar faziam milagres frente ao inimigo, e se não faziam melhor era porque a instrução que recebiam era muito rudimentar.

Apenas lhe dou um exemplo: o destacamento que vivia na ponte de CAIUN, na estrada de Piche - Bruntuma é exemplo do que a "tropa normal" passava,e acredite, amigo Mário Pinto, que dentro da "tropa especial" havia muito manjerico que nem na "tropa normal" se safava.

Quanto ao comentário do Sr. General, as vezes "no melhor pano cai a nódoa"

Um grande abraço do Amílcar Mendes ex 1ª cabo Comando


2. Mensagem do António José Pereira da Costa (ex-Cap Art CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, hoje Cor Ref, director da Biblioteca do Exército, Coimbra):


Olá, Camarada

Será lugar comum dizer que o Gen Bruno foi infeliz no que disse. Porém não me parece legítimo que se possam generalizar as suas afirmações. Fico com a ideia de que ele se estava a referir ao momento da chegada do Gen Spínola (MAI 68) e não podia (e não estava a) referir-se à tropa, em geral. Claro que havia sítios e sítios, assim como havia unidades e unidades...

Eu estava na Guiné nessa altura e possa testemunhar as profundas alterações que se deram. Havia mesmo unidades com actividades baixas e que só esperavam que o tempo passasse e que a sorte os protegesse. Outras havia que se batiam bem e com resultados um dos quais era manter o IN em respeito. Claro que o factor sorte também é importante. Destas variáveis resultava um situação complexa e que seria abusivo generalizar. O Cmdt do meu batalhão foi um dos que "regressou" antecipadamente e era verdade que houve casos de Cmdt que não localizavam as respectivas companhias no mapa.

Creio que o Mário Pinto não deverá tomar "à letra" o que foi dito. De outro modo, a maioria de nós estaria indignada e muito.

Talvez eu possa parecer demasiado conciliador, mas do que conheço do Gen Bruno, ele não é pessoa que apouque o esforço genuíno dos outros que somos todos.
Um Ab.
___________

Nota de .G.:

(*) Vd. postes anteriores:

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4094: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (5): Não esperava ouvir tal coisa (Manuel Amaro)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4092: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (4): Bolas, não nos deixam em paz! (Paulo Salgado)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4090: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (2): Recuso-me a ser um bandalho e um rato cheio de medo (David Guimarães)

28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

sábado, 28 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > O Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, junto a "restos de Gadamael": não é indicado o dia, o mês e o ano, mas presume-se que seja Junho de 1973, por ocasião da batalha de Gadamael, em que Jorge participou com os pára-quedistas do BCP 12 , as CCP 121 e 123, a que ele chama "excepcionais" (*).

Foto: © Jorge Canhão (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Canhão, a propósito do depoimento do Gen Almeida Bruno, no programa A Guerra, II Série, da autoria de Joaquim Furtado, que passou na RTP1, na passada na 4ª feira, da 25 de Março, e que está a causar indignação entre os membros da nossa Tabanca Grande e de outros camaradas que acompanham o nosso blogue:

Camarada Luís Graça:

Sou o Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72, sediada em Mansoa.
Em relação ao email (**) que nos enviaste sobre o último episódio da guerra colonial (12), informo-te que tenho todos os episódios gravados, e espero gravar tudo o que falta.

Sobre o depoimento do Gen Almeida Bruno, vou transcrever o que ele disse:

"Eu digo-lhe com toda a franqueza, sem qualquer crítica aos meus camaradas, mas esta é a verdade e a verdade tem de se dizer. A maioria esmagadora eram BANDOS, que estavam atrás do arame farpado, à espera que o inimigo atacasse para se defenderem. Havia muito pouca iniciativa, com excepção, como lhe disse, dos pára-quedistas e dos fuzileiros, isso de facto, esses nunca perderam, nunca perderam o rumo". (Transcrito, tal como está na gravação)

É, no meu entender, uma maneira muito vergonhosa de adjectivar os milhares de militares que, nas mais penosas condições, combatiam em nome de alguns poucos e do sistema que governava o País e as colónias. Muitos não tinham água, a comida era pouca, repetida e muitas vezes de péssima qualidade. As condições de habitabilidade, excepto nos quartéis das cidades e vilas, eram as que todos sabemos.

O treino militar a que fomos sujeitos era inadequado, as balas eram contadas, as granadas..., enfim tudo era contado pois não se podia gastar mais que o estipulado, e de maneira insuficiente.

No teatro de guerra, aí sim começava o verdadeiro treino, mas esse já era para valer, e aí verificávamos toda a nossa inferioridade de material de guerra em relação ao PAIGC.

Foi por isto que "os bandos" passaram, mas foram esses bandos que, à custa do seu sangue, mantiveram esta guerra por cerca de 11 anos, para que os militares do ar condicionado acumulassem comissões atrás de comissões.

Por agora fico-me por aqui, acho que me alonguei um pouco, mas enfim... saiu.
Abraços

Jorge Canhão

___________

Notas de L.G.:

(*) 18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Apresenta-se o ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72

(...) Chegámos à Guiné a 5/10/72, fizémos o IAO na zona do Cumeré e a 17/11/72 fomos para Mansoa.

A 18/6/73 deixámos o Batalhão e passámos a estar dependentes do COP 5 e do COT 9 como Companhia de Intervenção.

Fizémos operações nas zonas de Mansoa, Mansabá, Bissorã, Farim, Bula, Cacine e Gadamael, onde estivémos com as excepcionais Companhias de Paraquedistas 121 e 123.

A 12/5/74 deixámos de ser Companhia de Intervenção e regressámos ao Batalhão.

Em 26/8/74 embarcámos de avião para Portugal.

Em toda a comissão e após algumas centenas de operações, tivémos 2 mortos (um furriel e um soldado), 2 feridos graves (soldados) e uma dezena de ligeiros, entre oficiais, furriéis e praças. (...)


(**) Mails de Luís Graça, um copm data de 26 de Março e outro com data de 27, enviados a toda a Tabanca Grande:

Assunto - Direito à indignação:

Camaradas:

Quem viu ontem, do princípio ao fim, na RTP 1, o 'episódio' semanal de A Guerrra, do Joaquim Furtado, II Série ? Como estive em aulas até às 22h, só vi o fim, quando cheguei a casa...Estava-se a falar do desastre do Cheche, no Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969... (Temos no blogue um dossiê, bastante completo, sobre este trágico episódio da Guerra da Guiné).

Ainda reconheci o nosso camarada Paulo Raposo, mais novinho uns anos, em imagens de arquivo (presumo)... O Paulo pertencia à CCAÇ 2405, de Dulombi/Galomaro, que perdeu 17 homens (no total, foram 47 as vítimas)... Também ouvi de raspão o Cor Aparício (que comandava a outra companhia, que teve ainda mais baixas)... O Aparício repartiu culpas por toda a gente, à boa maneira de Pilatos...

Como perdi a maior parte do programa, não sei o que disse antes o Gen Almeida Bruno... E protanto não posso comentar.

Vejam, a seguir, o texto do nosso camarada Mário Pinto, que está indignado com as declarações do antigo ajudante de campo do Spínola... Alguém quer comentar, com vista uma eventual publicação no blogue ?

Um Alfa Bravo. Luís


Assunto - A Guerra, II Série - Programa de Joaquim Furtado > Último episódio (desastre do Corubal), que passou 4ª F, na RTP

Amigos e camaradas: Alguém gravou o episódio de 4ª feira ? Era importante, por causa das alegadamente polémicas e ofensivas palavras do Gen Bruno de Almeida (***) sobre a "tropa macaca"... Eu não vi, gostava de ver.


(**) A primeira mensagem, de protesto, foi-nos enviada , em 26 de Março, por Mário Pinto, ex-Fur Mil, CART 2519, Buba Mampatá, Aldeia Formosa (1969/71), e que não é formalmente membro da nossa Tabanca Grande:

Assunto - Direito à indignação

Ontem ao ver o programa Guerra do Ultramar na RTP1, fiquei indignado com a falta de respeito do Sr. General Almeida Bruno em relação aos nossos camaradas militares conhecidos por tropa macaca, como BANDO, que se limitavam a estar presentes dentro do arame farpado.

Sr. General, é preciso ter descaramento e ser insultuoso para criticar os nossos bravos militares que tão abnegadamente serviram a Pátria em condições de inferioridade táctica e material e desconhecendo o inimigo que defrontavam porque tiveram uma instrução deficiente, que é da sua responsabilidade e dos oficiais superiores que nos comandavam entre aspas. Porque estes, sim, é que estavam no arame farpado.

V. Exa. Sr. General, já se esqueceu que a guerra fora do arame farpado era comandada pelos milicianos e graças a eles lá fomos adiando o fim do Império Colonial.

Para terminar só posso acrescentar que fui ferido em combate e não dentro do arame farpado, louvado e premiado por actos de coragem e fui não foi dentro do arame farpado.

Cumprimentos, camarada Luis Graça

ex furriel Mário