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terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24025: Notícias Lusófonas (2): Morreu Luís Moita (1939 - 2023), grande amigo da Guiné-Bissau, especialista em relações internacionais, esteve com alguns de nós no Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008)




Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2000) > Sessão de encerramento, dia 7, de manhã > O Prof Doutor Luis Moita (*), em nome de todos os participantes portugueses e demais estrangeiros (com excepção cabo-verdeanos e dos cubanos Oscar Oramas e Ulisses Estrada, que fizeram intervenções autónomas) profere, de improviso, um caloroso e brilhante discurso de síntese sobre o balanço daquela "semana inolvidável" que foi o Simpósio Internacional de Guiledje e as perspectivas que se abrem para o futuro da Guiné-Bissau em matéria de democratização interna e de cooperação internacional ...

O conteúdo do discurso de 10 minutos centra-se à volta de quatro ideias-chave: Organização, Rigor histórico, Densidade humana, Qualidade política. É uma intervenção de grande qualidade intelectual e humana, que nos honrou a todos, e em que Luís Moita mostra, para além da sua faceta de talentoso orador, toda a sua grande cultura como especialista de relações internacionais, e sobretudo a sua grande inteligência emocional, como português e amigo da Guiné-Bissau.

Na altura escrevemos que era uma pena este vídeo não estar disponível para os Amigos e Canaradas da Guiné, e nomeadamente na véspera da inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje que vem celebrar, não a derrota de ninguém, mas a fraternidade dos povos, trinta e seis anos depois do fim da guerra colonial, e muito em particular vem contribuir para o reforço da relação especial que une o povo guineense e o povo português.

Recordo aqui a composição do Comissão de Honra do Simpósio (**):

  • Presidente da República da Guiné-Bissau, General João Bernardo Vieira
  • Dr. Francisco Benante, Presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau
  • Dr. Martinho N’Dafa Cabi, Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau
  • Doutor Nuno Severiano Teixeira, Ministro da Defesa de Portugal
  • Doutor João Cravinho, Secretário de Estado da Cooperação Internacional de Portugal
  • Professor Doutor Patrick Chabal, docente da King’s College, Londres, Grã-Bretanha
  • Professor Doutor Luís Moita, Vice-Reitor da Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal
  • Doutor Óscar Oramas, Ex-Embaixador de Cuba na Republica da Guiné-Conakry.
  • Professor Doutor João Medina, Professor Catedrático da Universidade de Lisboa, Portugal
  • Flora Gomes, Cineasta guineense
  • Professor Doutor Peter Mendy, docente no Rhoad Islands College, Boston, USA.

Vídeo (10' 14''): Luis Graça (2009). Alojado em You Tube > Nhabijoes


1. Morreu Luís Moita, que eu conheci pessoalmente na sequência do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008), e de quem guardo, eu e a Alice, gratas recordações desses dias que passámos juntos. Recordo sobretudo a sua afabilidade, empatia e inteligência emocional...ms também a sua inquietação crítica, face ao futuro da Guiné-Bissau  e do que restava da elite do PAIGC...

Sobre o seu currículo de vida (inclundo académico), não me vou aqui pronunciar, mesmo que ele tenha sido meu "vice-reitor" durante algum tempo, no ano lectivo de 1994/95, quando dei colaboração à sua universidade, a UAL - Universidade Autónoma de Lisboa. (Em boa verdade,  colaborei, com o Departamento de Ciências Sociais da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), na elaboração dos programas e na docência de novas disciplinas, a Administração de Serviços de Saúde e a Sociobiologia, no âmbito da licenciatura em Sociologia, em 1994/95, por convite do então regente da Cadeira de Ciências Sociais e Humanas da ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública, Dr. João Santos Lucas, mas nunca vi nem contactei o então vice-reitor Prof Luís Moita.)

Deixem-me no entanto destacar aqui alguns pontos do seu CV, relativos aos seus  últimos 20 anos, para se perceber melhor a sua relação com a instituição militar e a sua autoridade, como especialista em Relações Internacionais.

  • 2015-2018: Professor do Doutoramento em Relações Internacionais: Geopolítica e Geoeconomia
  • 2005-2018: Director do Departamento de Relações Internacionais da UAL 
  • 2005-2011: Professor do Curso de Estado Maior no Instituto de Estudos Superiores Militares 
  • 2004-2018: Professor do Curso de Promoção a Oficial Superior no Instituto de Altos Estudos da Força Aérea e no Instituto de Estudos Superiores Militares 
  • 2003-2018: Professor do Mestrado em Estudos da Paz e da Guerra 
  • 1998-2018: Conferencista regular do Curso de Defesa Nacional do Instituto de Defesa Nacional
  • 2010-2018: Director da revista JANUS.NET, e-journal of International Relations 
  • 2009-2011: Membro do Conselho de Ensino Superior Militar no Ministério da Defesa Nacional 
  • 2006-2018: Membro do Conselho Editorial da revista Nação e Defesa do Instituto de Defesa Nacional

Limito-me aqui a lamentar profundamente a sua morte, aos 83 anos, e a endereçar os meus votos (pessoais) de pesar à sua família e amigos íntimos.  Aproveito para  reproduzir alguns destaques da imprensa em língua portuguesa, disponível "on line".

Lembro que o Luís Moita  não faz parte da nossa Tabanca Grande, mas tem pelo menos uma dúzia de referências no nosso bogue. 

O seu funeral é hoje, terça-feira, dia 31, em Lisboa. (***)


Diário de Notícias > 28 de janeiro de 2023, 20:08 > "Até sempre Professor". Morreu Luís Moita

(...) Luís Moita, um dos últimos presos de Caxias a ser libertado, professor da Universidade Autónoma morreu este sábado. Tinha 83 anos. (...)

Expresso / Lusa, 28 de janeiro de 2023, 21:33 >  Marcelo evoca professor Luís Moita, "lutador pela justiça social" e "militante pela igualdade"

(...) O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou hoje a morte do professor Luís Moita, evocando-o como um "lutador pela justiça social" e "militante pela igualdade" e endereçou à família e amigos "um sentido abraço de pêsames". (...)

7Margens, 29 de janeiro de 2023 > Na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa: Funeral de Luís Moita dia 31, velório nesta segunda-feira

(...) O funeral de Luís Moita, professor universitário e um dos organizadores da vigília da Capela do Rato em 1972 contra a guerra colonial e pela paz, será nesta terça-feira, 31, às 15h, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa. Antes disso, o corpo será velado na mesma igreja a partir das 18h30 desta segunda-feira, 30 de Janeiro.

Nascido em 11 de agosto de 1939, Luís Moita, morreu sábado em Lisboa, como o 7MARGENS noticiou. Tinha 83 anos.

Tendo sido padre, Luís Moita doutorou-se em Roma em Ética, em 1967, na Universidade Lateranense. Abandonou depois o ministério e em Dezembro de 1972, foi um dos organizadores da vigília de católicos que demonstrou o afastamento de largos sectores católicos em relação à ditadura do Estado Novo. Foi preso pela polícia política e sujeito a tortura.

Depois da instauração da democracia, em 25 de Abril de 1974, Luís Moita foi fundador e dirigente do CIDAC (Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral), entre 1974 e 1989, dedicando-se depois quase exclusivamente à carreira académica, leccionando as áreas de Ética e Relações Internacionais.(...)

Esquerda.net > 28 de janeiro de 2023 > 19:47 > Luís Moita (1939-2023)

(...) Foi um dos protagonistas entre os católicos contra a guerra e a ditadura. Em democracia, dedicou-se à cooperação com África e mais tarde à academia na área das relações internacionais e do estudo da paz e dos conflitos armados. (...)
 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures no sector de Bendanda, no triângulo Iemberém, Cadique e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita ao antigo Acampamento Osvaldo Vieira (agora reconstituído) ... Dois exemplares da espécie Ui!ui! (****), uma variante albina: O Cor Cav Ref e escritor Carlos Matos Gomes e o Prof Doutor Luís Moita , vice-reitor da UAL - Universidade Autónoma de Lisboa, e antigo fundador e dirigente do CIDAC; os dois claramente deslocados do seu habitat natural, que é o mangal de Lisboa)


 Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
___________




(****) Vd. poste de 20 de outubro de  2009 > Guiné 63/74 - P5135: Humor de caserna (14): Curiosidades zoológicas: Os Ui!Ui!, animais nocturnos, do tarrafo do Rio Grande de Buba (José Belo)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19587: (D)o outro lado do combate (47): A Missão especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - Parte II: capa + pp. 4-8





1. Continuação da publicação, para conhecimento e análise crítica dos nossos leitores, do relatório, de 11 (onze) páginas,  policopiado, que tem por título em português "A Missão Especial da ONU na Guiné - Abril de 1972" (*). É uma versão, mais resumida do original, "Report of the Mission of the United Nations Special Committee on Decolonization after visiting the liberated Areas of Guinea-Bissau (A/AC. 109/L. 804; 3 July 1972)".

A cópia, em papel, de que dispomos foi-nos fornecida, com vista a uma eventual publicação no blogue, pelo nosso camarada António Graça de Abreu, por volta de 2010, na sequência dos comentários ao poste P5680 (**)

O documento que agora estamos a publicar parece corresponder à seguinte referência  que encontramos  na base de dados bibliográfica do CIDAC - Centro De Intervenção Para O Desenvolvimento Amílcar Cabral:

BAC-051/2

CIDAC

BORJA, Horácio Sevilla ; LOFGREN, Folke ; BELKHIRIA, Kamel
A Missão especial da ONU na Guiné Bissau, Abril 72 / Horácio Sevilla Borja, Folke Lofgren, Kamel Belkhiria . - [S.l.] : PAIGC, 1972. - 11 p

Portanto, a edição é atribuída ao PAIGC. É uma edição tosca, para não dizer mesmo, "pirata", do relatório da Missão Especial. Mas as partes traduzidas em português correspondem ao original em inglês. Não sabemos de quem é a tradução. Há diversos erros quer de datilografia quer de português. A autoria é atribuída aos três membros da Missão Especial, os diplomatas Horácio Sevilla Borja (Equador), Folke Lögfren (Suécia) e Kamel Belkhiria (Tunísia).

Não sabemos a origem do documento: o António Graça de Abreu poderá explicar-nos. É possível que tenha circulado antes do 25 de Abril, clandestinamente. De qualquer modo, é ainda pouco conhecido, ao fim destes anos todos. No tempo da ditadura, com o país em guerra, era impensável a censura deixar passar, na imprensa, referências detalhadas a esta Missão Especial da ONU e, muito menos, ao seu relatório. 

Em abril de 1972 ninguém sabia (nem podia saber...) desta "missão". De resto, o medo dos portgueses era...  "a guerra do Vietname" e a iminente derrota militar dos Estados Unidos: vejam-se os títulos de caixa alta dos jornais da época... "Guiné ?... Isso é longe do Vietname", ironizavamos nós, em 1969, no bar de sargentos de Bambadinca...

Os três membros do Comité Especial de Descolonização da ONU, mais dois membros do "staff" da ONU,  visitaram as "áreas libertadas da Guiné-Bissau" (sic), de 2 a 8 de abril de 1972, antes da época das chuvas, a convite do PAIGC, e à revelia do Governo Português. Claro que a missão tinha que ser secreta, por razões de segurança. Nesse curto espaço de tempo (menos de um semana), terão percorrido  200 quilómetros, quase sempre a pé, visitando 9 localidades diferentes, numa parte restrita da Região de Tombali:  sectores de Bedanda, Catió e Quitafine.

Os diplomatas focaram a sua atenção nas estruturas militares, tabancas,  escolas e armazéns, e fizeram depois apreciações, que constam no relatório, sobre "a situação no campo do ensino, da saúde, da administração da justiça, da reconstrução da economia e da formação de uma assembleia nacional". Os membros da missão vestiam fardas militares, com insígnias das Nações Unidas, e tiveram escolta de um bigrupo reforçado do PAIGC (cerca de 60 homens armados) sob o comando do Constantino Teixeira. 

No regresso, já a 6 de abril, a escolta passou a ser de 200 homens, provavelmente com o receio de alguma ação militar portuguesa com vista a capturar os diplomatas.

A principal base do PAIGC referida no relatório, dentro do território da então província da Guiné, era na zona de Balana / Gandembel, ou seja, no corredor de Guileje.

Já agora ficam aqui os nomes e os cargos dos cinco elementos que compuseram a Missão:

(...) Mr. Horacio Sevilla-Borja, Deputy Permanent Representative of Ecuador to
the United Nations (Chairman)~

Mr. Folke Löfgren, First Secretary of the Permanent Mission of Sweden to the
United Nations

Mr. Kamel Belkhiria, First Secretary of the Permanent Mission of Tunisia to
the United Nations

The Special Mission was accompanied by the following Secretariat staff: 

Mr Cheikh Tidiane Gaye (Principal Secretary) and Mr. Yutaka Nagata (photographer). 

(Fonte: relatório original em inglês)

Publicam-se mais 5 páginas do documento supracitado (pp. 4-8).

Repare-se no cuidado que o PAIGC teve com a segurança dos elementos da Missão Especial:  foram escoltados, à partida, por uma força de 60 guerrilheiros, de 1 a 3 de abril; na noite de 3 de abril, na viagem, da base central em Balana (corredor de Guileje) até ao setor de Cubucaré (zona de Catió), tiveram uma escolta de mais de 400 homens armados; na tarde de 6 de abril, iniciam a viagem de volta (até à fronteira com regressso a Conacri,via Kandiafara e Boké), com uma escolta armada de 200 homens...

O PAIGC levava a sério as forças armadas portugueses... O que não o impediu de, muito possivelmente,  encenar algumas situações para "onusiano ver": a Missão especial passa pela aldeia de Botche [Boche] Djate [Jate] [, vd. carta de Bedanda], por entre ruínas  das palhotas recém-queimadas, celeiros destruídos, grande quantidade de arroz queimada... E neste cenário não podia faltar uma bomba da FAP,  daquelas que não explodiam... A Missão tomou nota das inscrições na bomba: "The bomb bore the following markings: MI-7, 61A; TNT; BPE-I-124; 8/69; 50-7KG-0.035-M3."...

Atenção: o original tem 10 anexos, onde não faltam os itinerários, as datas e as horas e locais das visitas e entrevistas, a lista (fornecido pelo PAIGC) do armamento usado pelas Forças Armadas Portugueses, o  mapa da Guiné-Bissau (fornecida pelo PAIG), a lista (parcial) de filmes, livros e artigos sobre as "áreas libertadas", as fotografias tiradas pela Missão, e até os formulários usados pela administração nas "áreas libertadas"... 

O relatório do secretário geral do PAIGC sobre "a agressão (portuguesa) contra a Missão Especial da ONU" é o anexo III, reproduzido a seguir, mas que não faz parte do corpo do relatório no original...


(Continuação) (**)






-7-

-8-


(Continua)

________________

quinta-feira, 14 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19586: (D)o outro lado do combate (46): A Missão especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - Parte I: capa + pp. 1-3



Capa do relatório, de 11 (onze) páginas do relatório, policopiado que é uma versão portuguesa contendo a parte principal do "Report of the Mission of the United Nations Special Committee on Decolonization after visiting the liberated Areas of Guinea-Bissau (A/AC. 109/L. 804; 3 July 1972)"... 



1. Ainda não encontramos, na Net,  o documento original, em inglês, do Comité Especial para a Descolonização, das Nações Unidas, que visitou as "áreas libertadas" da Guiné-Bissau, em plena guerra colonial, em abril de 1972, a convite de...Amílcar Cabral. Ou, melhor, temos encontrado excertos... Mas o relatório original, em inglês,  está documentado com fotos, mapas, itinerários, etc.

A cópia, em papel,  de que dispomos foi-nos fornecida há anos [, por volta de 2010, na sequência dos comentários ao poste P5680 (*), e não foram poucos: cerca de duas dezenas e meia!] pelo nosso camarada António Graça de Abreu, com vista a uma eventual publicação no blogue.

O documento é capaz de corresponder à seguinte referência bibliográfica que encontramos no portal das Memórias de África e de Oriente:

BORJA, Horácio Sevilla - A missão especial da ONU na Guiné Bissau, Abril 72 / Horácio Sevilla Borja, Folke Lofgren, Kamel Belkhiria. - [S.l.] : PAIGC, 1972. - 11 p.. - Corresponde a: Relatório [...]
Cota: BAC-135|CIDAC.

A iniciativa da sua publicação e divulgação, em Portugal, logo na época, deve ter pertencido ao CIDAC - Centro De Intervenção Para O Desenvolvimento Amílcar Cabral, com sede em Lisboa. Aliás, o o documento, de 11 páginas, consta da sua base de dados bibliográfica.

Logo na página não numerada, entre a capa e a página 1, se explica qual é  a natureza e a autoria do documento:

(i) o texto editado, em português,  é "a parte principal do relatório escrito e apresentado pela Missão Especial";

(ii) três membros do Comité Especial de Descolonização da ONU visitaram as "áreas libertadas da Guiné-Bissau" (sic), de 2 a 8 de abril de 1972, a convite do PAIGC;

(iii) nesse curto espaço de tempo (menos de um semana), terão percorrido 200 quilómetros (ida e volta), quase sempre a pé, visitando 9 localidades diferentes (o que, convenhamos, é obra para quem, como nós conheceu a Guiné, ou uma parte dela, a "penantes" ou de "viatura militar": Unimog, GMC, Berliet, Jeep...);

(iv) o objetivo da visita, que se fez à revelia do governo português de então, e sob protesto deste, era "assegurar informações em primeira mão sobre as condições nas áreas libertadas" (sic) e, simultaneamente, "averiguar as intenções e aspirações do povo no que respeita ao seu futuro";

(v) além de dois  funcionários da ONU (,1 secretário e 1 fotógrafo),  os membros da missão eram  os seguintes diplomatas: Horácio Sevilla Borja (Equador), Folke Lögfren (Suécia) e Kamel Belkhiria (Tunísia); Borja foi o relator principal. (É hoje representante permanente do seu país na ONU, tendo sido até 2016, embaixador residente no Brasil.)

A edição do documento é atribuída. pelo CIDAC, ao PAIGC. Amílcar Cabral fez o que  lhe competia e convinha: tirou o máximo proveito  propagandístico desta polémica missão a que já nos referimos em poste anterior (*).
"
O documento, policopiado,  que agora reproduzimos tem a página 2 está pouco legível, as restantes estão com qualidade aceitável. Na página 2,  reconstituímos alguns parágrafos. O relatório foi digitalizado pelo nosso editor Luís Graça. Damos hoje início à sua publicação (, nove anos depois!...), esperando entretanto os preciosos comentários dos nossos leitores, e nomeadamente os que conheceram a região de Tombali, e em particular o "corredor de Guileje" por onde andaram os visitantes...vindos de (e regressados a) Conacri-Boké-Kandiafara. 

Na capa vem um mapa da Guiné, com o território assim distribuído: (i) "áreas libertadas"; (ii) "áreas onde há luta"; (iii) "áreas controladas pelo exército colonial português"; e (iv) "aquartelamentos do exército colonial"... Presume-se que o mapa seja da autoria do PAIGC e se reporte à situação militar no 1º trimestre de 1972. 

Salta logo à vista que faltam, no que diz respeito às posições das  NT em 1972,  inúmeros aquartelamentos, destacamentos e tabancas em autodefesa, com pelotões de milícia, em todas as três grandes regiões: Norte, Leste e Sul...Logo no setor L1, que eu conheci: há só referência a Bambadinca e Saltinho, faltam 3 importantes aquartelamentos (Xime, Mansambo e Xitole), fora os destacamentos do exército e das milícias...


2. Recorde-se o que aqui, neste blogue, já foi dito em 2010, no poste P568o (*): esta missão decorreu no sul, na atual região de Tombali. Representou para Amílcar Cabarl e o seu Partido uma suas maiores vitórias diplomáticas. A Região de Tombali engloba, hoje, os sectores de Bedanda, Catió, Como, Quebo e Quitafine, tendo um total de cerca de 3700 km2 e 90 mil habitantes. Na época teria muitíssimo menos população.

A missão da ONU  restringiu-se à zonas de Bedanda,  Catió  e Quitafine. Os diplomatas  focaram a sua atenção nas estruturas militares, aldeias, escolas e armazéns, e fizeram depois apreciações, que constam no relatório, sobre "a situação no campo do ensino, da saúde, da administração da justiça, da reconstrução da economia e da formação de uma assembleia nacional".  Os membros da missão vestiam fardas militares, com insígnias das Nações Unidas, e tiveram escolta de um bigrupo reforçado do PAIGC (cerca de 60 homens armados) sob o comando do Constantino Teixeira.

O(s) autor(es) do relatório inclui(em), nesta síntese, excertos de um relatório de Amílcar Cabral sobre "a agressão [portuguesa] contra a Missão Especial da ONU" (pág. 5, vd. no próximo poste)... Os números que utiliza são fantasiosos,  e faz referência as meios, alegadamente utilizados pelas NT que já não existiam, ou não existiam de todo no CTIG: por exemplo, os aviões de combate F-86 F, a artilharia de 130 mm... (confusão com a peça 11.4 e o obus 14).

Sabe-se qual foi a musculada resposta de Spínola, alguns meses depois: a decisão de reocupar o mítico Cantanhez, que o PAIGC controlava desde 1966, em termos territoriais e populacionais... A Op Grande Empresa, conduzida pelo recém-criado COP 4, teve início em 8 de Dezembro de 1972, com desembarque de forças e a sua instalação nas tabancas de Cadique Ialala, Caboxanque e Cadique. Seria também ocupada a região de Jemberém e construída uma estrada táctica a ligar as duas margens da península do Cantanhez...

Na sua mensagem de Ano Novo 1973, Amílcar Cabral denuncia e reconhece as tentativas de reocupação do Cantanhez, aos microfones da Rádio Libertação, três semanas antes de ser assassinado (Oiça-se o registo aúdio, disponível no Dossier Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares).





Página não numerada, que antecede a página 1 do documento, de 11 págunas e que vem a seguir à capa.





[resta, pântanos e savana. Durate o percurso, a Missão atrvessou três ribeiros e rios e cruzou numerosos arrozais. Algumas horas antes do amanhecer de 3 de Abril, a Missão chegou ao seu primeiro destino, no coração das florestas do setor Balana, uma base do exército do PAIGC, fortemente guardada,  formada por várias tendas,  cabanas e barracas, que é o Quartel General do Comissariado Político para a Região Sul.  Aqui a Missão encontrou , entre outros, os seguintes líderes e membros do Comité Executivo:  João Bernardo Vieira (Nino), comandante do exército de libertação; Vasco Cabral, ideó.]



[feitos por atilharia pesada: as culturas tinham sido destruídas com napalm e havia muitas palhotas e celeiros destruídos. Durante o percurso a Missão visitou a aldeia de Ien-Kuntei que foi totalmente destruída no dia seguinte por bombardeamentos aéreos, e passou a 2 km do acampamento militar português de Bedanda.

Na manhã de  4 de Abril, a Missão chegou à escola  Areolino Lopes Cruz, no sector Cubucaré (região Catió), onde ficou duas noites. Esta escola, que tem o nome de um dos primeiros professores mortos durante um ataque dos portugueses, ministra o ensino primário a 65 alunos, entre os 10 e os 15 anos. A maioria dos alunos são órfãos ou filhos dos soldados do PAIGC. Por]




(Continua)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5680: Efemérides (41): No 37º aniversário da morte de Amílcar Cabral, recordando o sucesso diplomático que foi a visita da missão da ONU às regiões libertadas, no sul, 2-8 de Abril de 1972


Na altura, em 22/1/2010, o António Graça de Abreu escreveu o seguinte, em comentário:

(...) Já havia esquecido, mas ontem fui aos meus papéis velhos sobre a Guiné e lá encontrei o relatório da "Missão especial da ONU na Guiné, Abril de 1972."

Está aqui comigo e recomendo a leitura e entendimentos a todos os que passámos pela Guiné na fase final do conflito. Esclarecedor, brilhante, também angustiante.As verdades dos factos. Talvez a publicar no blogue mas são dez páginas em A 4.

Em anexo ao texto dos homens da ONU, são publicados excertos do relatório então escrito por Amílcar Cabral sobre a visita dos homens da ONU.  No nosso blogue temos tido o gosto (eu não) de denegrir a capacidade militar das NT (Guileje, a guerra militarmente perdida, perdida em termos militares, etc.). Pois Amílcar Cabral faz exactamente o contrário, exalta e exagera a capacidade militar das tropas portuguesas em Abril de 1972.

Leiam as palavras de Amilcar Cabral no seu relatório sobre Missão da ONU:  "No dia seguinta da partida da missão (da ONU), o estado Maior Português, declarou o estado de prevenção para os 45.000 militares das tropas coloniais existentes no nosso país, dos quais 15.000 se encontram acampados no Sul (...) 10.000 homens das tropas especiais foram transportados durante alguns dias de Bissau para o Sul. Se juntarmos as forças da aviação e da marinha que operaram no decurso da agressão, o número total de homens mobilizados foi da ordem de 30.000."

Isto num pequeno país onde, segundo a missão da ONU,  3/4 do território eram "zonas libertadas pelo PAIGC" que dispunha de 5 a 6 mil combatentes, e onde (agora em Janeiro de 2010) segundo a opinião do diplomata equatoriano da ONU que fez parte da missão, os portugueses, "entrincheirados nos  seus quartéis" apenas "se deslocavam por via aérea."
Tanto dado falsificado! Difícil fazer a nossa História e a dos povos da nossa Guiné!" (...)


(**) Último poste da série > 27 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)