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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25434: Meu pai meu velho meu camarada (70): Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe (Luís Gonçalves Vaz) - II (e última) Parte




Guiné > Bissau > Sala de operações do QG/CTIG > 11 de Julho de 1973 - Da esquerda para a direita; (i) Brigadeiro Banazol, comandante do CTIG; (ii) Coronel Galvão de Figueiredo, 2º comandante do CTIG; e (iii) o Chefe do Estado-Maior/CTIG, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz: este último responde, na sala de operações do QG, ., ás palavras do CMDT do CTIG, numa cerimónia de transmissão de funções do CEM/CTIG.



Guiné > Região do Cacheu > Pelundo >  1973 > Instrução das milícias >  Da esquerda para a direita; (i) Delegado do Governo no Chão Manjaco, Tenente-coronel de Art Sousa Teles; (ii) Comandante Geral das Milícias, Major Mário Arada Pinheiro (membro da nossa Tabanca Grande); (iii) CEM/CTIG, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz, em inspeção á instrução das milícias, representando o 2º CMTE do CTIG.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > Setembro de 1973 > Coronel Henrique Vaz,  com o Brigadeiro Banazol (comandante do CTIG), perante um desfile de um pelotão de milícia, no âmbito do encerramento da instrução.



1- Segunda parte do texto do Luís Gonçalves Vaz



Cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (Barcelos, 1922- Braga, 2001)


Fotos (e legendas): © Luís Gonçalves Vaz  (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG,
foi também um cavaleiro com classe - II (e última) parte (*)

por Luís Gonçalves Vaz



A carreira profissional do Coronel Henrique Gonçalves Vaz tem duas grandes etapas: (i) como cavaleiro, enquanto oficial subalterno de Cavalaria (vd. Parte I) (*); e (ii)  como Oficial do Quadro do Corpo do Estado-Maior.

Como oficial CEM, desempenhou funções nos Quarteis Generais da Região Militar do Norte, na Região Militar de Angola e no CTIG /CCFAG na Guiné Portuguesa.
 
Em 20 de Novembro de 1963, é destacado, em comissão de serviço, para servir no
Quartel General da Região Militar de Angola, onde exerce em 63/64 as funções de Oficial Adjunto da 4ª Repartição e,  em 1965, as de Chefe da 1ª Repartição, regressando à “Metrópole” neste ano.

 Os serviços prestados nesta comissão, pelo então Major Vaz, são reconhecidos
superiormente, nomeadamente pelo General Comandante da Região Militar de Angola e pelo próprio Ministro do Exército, reconhecimentos estes que se traduzem em Louvores e em Condecorações atribuídas. 

Entre 1966 e 1970, desempenha, na Região Militar do Norte (RMN)
na cidade do Porto, as funções, primeiro de subchefe e, nos últimos dois anos, a de Chefe do Estado-Maior da RMN.

Entre 1971 e 1972, comanda o Regimento de Cavalaria  nº 6 (RC 6), no Porto, onde uma vez mais se distingue como se pode comprovar no Louvor concedido pelo General Comandante da Região Militar do Norte, “... pela maneira altamente distinta e plena de dignidade como comandou o RC6 ....que revelaram um oficial distinto que valorizou a sua unidade e prestigiou a Região e as Instituições Militares...”.

No ano seguinte, 1973, é nomeado para servir, novamente, no “Ultramar”, desta vez no Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), como Chefe do Estado-Maior, sob o comando do General Spínola e posteriormente do General Bettencourt Rodrigues, numa altura de grandes ofensivas do PAIGC, 

A partir do 25 de Abril de 1974, e por instruções superiores (do Brigadeiro Fabião ), é o principal responsável em realizar os “Planos de Entrega dos Aquartelamentos na Guiné”, com a colaboração do sr. Major Mourão. 

Os últimos “Planos de entrega de aquartelamentos” foram entregues ao Brigadeiro Fabião no dia 10 de Outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. 

A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia foi efetuada no dia 13 de Outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português” a ser entregue, foi entregue apenas no dia 14 de Outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné. Só regressará a Lisboa no dia 14 de outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril. 

Em 31 de Agosto de 1976, é colocado no 1º Tribunal Militar Territorial do Porto, assumindo, no ano seguinte, a função de Juiz Presidente. Em março de 1978, passa à situação de Reserva, mas continua a exercer o referido cargo naquele tribunal. É reconduzido nas mesmas funções, desde 9 de setembro de 1979, por novo biénio.

Em 1 de Janeiro de 1982, deixa de prestar serviço efetivo no Quartel General da Região Militar do Norte.

Braga, 18 de abril de 2024
Luís Beleza Gonçalves Vaz (foto à esquerda)
(filho do biografado)

________

Nota do editor:

terça-feira, 23 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25430: Meu pai meu velho meu camarada (69): Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe (Luís Gonçalves Vaz) - Parte I



Cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (Barcelos, 1922- Braga, 2001)



Elvas > Setembro de 1954 > Concurso Hípico de Elvas, Capitão
Henrique Vaz


Porto > 26 de Julho de 1950 > Concurso Hípico do Porto,  Tenente Henrique Vaz

Lisboa > 17 de Março de 1947 > Concurso Hípico de Lisboa,  Alferes Henrique Vaz


Mafra > CIE > s/d > Tenente Henrique Vaz e "Rovuma"


Lisboa > s/d > Concurso Hípico de Lisboa, Federação Equestre Portuguesa, 
Alferes Henrique Vaz



Torres Novas > Escola Prática de Cavalaria > Março de 1945 > 
 Aspirante Henrique Vaz na descida das Ferrarias, montando o "Vapor"


Fotos (e legendas): © Luís Gonçalves Vaz  (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Luís Gonçalves Vaz mandou-nos, com data de 18 do corrente, 16:32, um trabalho sobre o seu pai, Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, que foi também um distinto cavaleiro.  (Tem 26 referências,  no  nosso blogue,  o pai; e 77, o filho.)

Como o Luís Gonçalves Vaz, nosso tabanqueiro, também foi militar (e de cavalaria), faz todo o sentido publicar este artigo, na série "Meu pai, meu velho, meu camarada", em dois postes (*).

O Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz tem uma publicação com a biografia do seu pai (Barcelos, 2004, 21 pp.).

 Luís, Boa tarde:

Conforme combinado, segue em anexo o Artigo para publicação. Podes rever o Artigo e corrigires o que entenderes. Acabei por enquadrar a fase de cavaleiro do meu falecido pai, com a fase de oficial superior do Estado Maior. 

Quando faleceu, a sua farda tinha apenas os símbolos de cavalaria , não os símbolos de oficial do Estado Maior, de acordo com as suas instruções em vida ao seu filho Comandante da Marinha Portuguesa, o meu irmão comandante Gonçalves Vaz. 

Depois diz alguma coisa.

Abraço, Luís Gonçalves Vaz

Anexo - Artigo "Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, foi também um cavaleiro com classe"


Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado Maior do CTIG/CCFAG, 
foi também um cavaleiro com classe

por Luís Gonçalves Vaz


1.  A carreira profissional do Coronel Henrique Gonçalves Vaz tem duas grandes etapas, a primeira como cavaleiro, enquanto oficial subalterno de Cavalaria, e a segunda como Oficial do Quadro do Corpo do Estado-Maior, tendo desempenhado funções nos Quarteis Generais da Região Militar do Norte, na Região Militar de Angola,  e no CTIG /CCFAG,   na Guiné Portuguesa.

Na primeira, como cavaleiro, virá a demonstrar ser um excelente praticante de Hipismo, talvez um dos melhores do seu tempo a nível militar. Para além de ter sido, durante cinco anos 1947-48-50-52 e 53, o 1º classificado da Arma de Cavalaria em Provas de Hipismo Regimentais, participou também em muitos concursos hípicos nacionais e internacionais onde obteve também boas classificações, principalmente com dois cavalos, o “Fiado” e o “Fantoche”, cavalos do Exército Português.

Desde alferes até capitão, de 1945 a 1957, dedica-se ao Hipismo com participação em concursos hípicos, na cidade do Porto, em Pedras Salgadas, em Espinho, em Mafra, em Elvas, em Évora e mesmo participando no concurso Hípico de Lisboa.

Neste período foi contemporâneo de grandes cavaleiros portugueses como Pimenta da Gama, Henrique Callado, Jorge Mathias, Fernando Cavaleiro, Ribeiro de Carvalho, Ivens Ferraz e mesmo o cavaleiro António de Spínola, entre muitos outros. Henrique Vaz manteve por muitos anos a prática de equitação, mesmo depois de deixar de competir em provas de hipismo com obstáculos.

Como exemplo de bons resultados em Provas Nacionais de obstáculos, poderemos apontar as seguintes (vd. imagens em baixo):

  • Um segundo prémio numa prova hípica em Mafra, no mês de setembro do ano de 1951;
  • Um terceiro e nono lugar com cavalos distintos (o "Fantoche" e o "Fiado") na prova “Omnium - 1ª série”, no Concurso Hípico de Espinho em 1949; nesta Prova o capitão Gonçalves Vaz consegue mesmo dar luta ao cavaleiro Henrique Callado;
  • Em agosto de 1952, Henrique Gonçalves Vaz disputou em Pedras Salgadas a Prova “Hotéis Pedras Salgadas”, onde concorreram 46 cavaleiros, e obteve com o “Fiado”, um prestigiado 6º lugar, à frente de um grande cavaleiro como Ivens Ferraz, cavaleiro que representou Portugal nos jogos Olímpicos.


Revista de Cavalaria, setembro de 1951



Classificação (2º lugar, prémio monetário 200$00, equivalemte hoje a c. 550 euros), para Henrique Vaz, prova "Caça", 1ª série, Escola Militar de Equitação, setembro de 1951


Como jovem oficial de cavalaria nunca deixará de praticar desportos, tendo-se dedicado também à prática de esgrima na Região Militar do Norte. Posteriormente, após concluir o Curso Geral do Estado-Maior em 1955 e o Curso Complementar do Estado-Maior em 1959 ingressa, em 1960, no Quadro do Corpo do Estado-Maior, começando a segunda fase da vida profissional onde virá a demonstrar ser um excelente e distinto oficial do Estado-Maior, como comprovam todas as suas nomeações profissionais e todos os louvores e condecorações quelhe foram concedidas.

(Continua)


Braga, 18 de abril de 2024
Luís Beleza Gonçalves Vaz
(filho do biografado)
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 24 de agosto de  2022 > Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25120: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte I: embarque de tropas expedicionárias para Cabo Verde, em junho de 1941.... "Partiram alegres e confiantes"...





Legenda (não há idicação do autor da foto):  "Partiram alegres e confiantes os soldados que constituíam o último destacamento de tropas expedicionárias enviadas para o arquipélago de Cabo Verde". (Há aqui um lapso factual: depois deste embarque, em junho de 1941, houve pelo nenos um outro posterior, no mês seguinte, em 18 de julho, no T/T Mouzinho.) 


(A imagem foi reditada, com a devida vénia... LG)




(i)  surgiu em 22 de Maio de 1941, em Lisboa, em plena II Guerra Mundial;
(ii)  publicou-se até no final de 1946, totalizando 278 números;
(iii) teve como diretor José Cândido Godinho (Setúbal, 1890- Lisboa, 1950), e como editor e proprietário Joaquim Pedrosa Martins;
(iv) redação e administração: Rua Garrett, 80-2º Lisboa, telefone 25844.
(v) o nova publicação era apresentada como "documento vivo do que vai pelo mundo", um jornal que "pela ilustração, esclareça e informe e oriente o público - com esse poder de verdade que mais do que a palavra falada ou escrita, a imagem traduz".




Fonte: "Diário de Lisboa" (diretor: Joaquim Manso), sexta-feira, 18 de julho de 1941, p. 5, Cortesia da Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos. (*)

Citação: (1941), "Diário de Lisboa", nº 6700, Ano 21, Sexta, 18 de Julho de 1941, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_24851 (2017-8-29)

(Com a devida vénia...)


1. Lembrei-me, ao deparar-me com esta capa da "Vida Mundial Ilustrada", do "meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012) (*), que fez parte da força de 6 mil e tal homens que foram reforçar a defesa do arquipélago de Cabo Verde durante a II Guerra Mundial.  Esteve sempre no Mindelo, São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943.

Foram também como "expedicionários" para Cabo Verde outros pais de camaradas nossos, como o Hèlder Sousa, o Luís Dias e  o Augusto Silva Santos,  ou o nosso amigo, guineense, de origem cabo-verdiano, Nelson Herbert Lopes. Mas também o tio do Mário Fitas. o Joaquim José Fitas.

O meu pai, natural da Lourinhã,  era 1º cabo atirador de infantaria, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5 (Caldas da Rainha), unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde, 1941/43). Partiu no T/T Mouzinho, em 18 de julho de 1941, do Cais da Rocha Conde de Óbidos. O Salazar fez questão de lá ir pessoalmente despedir-se das tropas expedicionárias.  Regressou doente, o meu pai, em setembro de 1943. Casou em 2/2/1946. E eu vim a nascer a 29/1/1947.

Quem foi na mesma data, 18 de julho de 1941,  e no mesmo navio, o Mouzinho,  foi o  sold aux enf, Porfírio Dias (1919-1988): lisboeta,  integrava 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5, a mesma unidade do meu pai.  Esteve lá dois anos anos e dez meses. É pai do nosso camarada Luís Dias.

Outro expedicionario foi o Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), pai do nosso camarada Hélder Sousa, natural de Vale da Pinta, Cartaxo, ex-1º cabo n.º 816/42/5, da 4ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria do RI 23...   Esteve na Iha de São Vicente.

Por sua vez, na Ilha do Sal, entre junho de 1941 e março  de 1943, na 1ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11, esteve o 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989), pai do nosso camarada Augusto Silva Santos. Ele e os seus camaradas foram depois destacados para a ilha de Santo Antão (até dezembro de 1943).

O Nelson Herbert Lopes (que foi jornalista da VOA - Voz da América) também já aqui evocou o seu pai, Armando Duarte Lopes, uma antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Búfalo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB e do Benfica de Bissau, tendo sido também internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa:

(...) O meu velho entrou para a tropa a 15 de agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,Depois do juramento da bandeira (...) é transferido para Lazareto e São Pedro [na parte oeste, sudoeste da ilha].

Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam... (...)  (**)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII

 

Cabo Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 11h11 >  Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 14h45 > Praia da Lajinha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo.


Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h59 > O calçadão da Praia da Lajinha.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h11 >  Edifício da Câmara Municipal (trasnformado em hospital militar em 1941, com a chegada de tropas expedicionárias)

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 16h45 > Rua típica, de traça colonial, com vendedeiras ambulantes.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 >  Algumas das fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas

Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura  de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris,  Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte do imaginário da minha infância e à qual nunca cheguei a ir... Foi lá o João por mim, e pelo avô... em 2012. Espero ainda lá poder  ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)


Fotos (e legendas): © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Ao João, 
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.


Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.

Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!

Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.

Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?

Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.

Luís Graça

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo]

 

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Hospital de São Vicente, fundado em 1899, no reinado do Rei Dom Carlos I (1889-1908). Foto do álbum do expedicionário, 1º Cabo Luís Henriques, nº 188/41. Foto; arquivo da família

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Título de caixa alta do “Diário de Lisboa”, 3 de setembro de 1945.



7. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques (Lourinhã, 18/8/1920 – Atalaia, Lourinhã, 8/4/2012), conhecido popularmente na sua terra natal como "ti Luís Sapateiro": 
“Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra”, lia-se no jornal “Alvorada”, Lourinhã, nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26. 

Assinalando a efeméride do seu centenário, em 202o, o seu filho editou, em pdf,  uma brochura, de cerca de 100 páginas de que temos estado a publicar alguns excertos, ilustrando com maior detalhe  a sua passagem por Cabo Verde,  durante a II Guerra Mundiaçl: foi 1º cabo atirador de infantaria, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5 (Caldas da Rainha), unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde), 1941/43) (**).  

De maio a agosto de 1943, esteve hospitalizado, no Mindelo, com problemas pulmonares. De regresso à Lourinhã, em setembro de 1943, vinha "afanado" e cheio de saudades… de comer uvas. 

Depois de passar à disponibilidade, fará sociedade, durante mais de 10 anos, com o seu irmão Domingos Inocêncio Severino.  Abriram a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda, no atual nº 40 (se não erro). Chegam a ter bastantes empregados. Na época ainda não havia produção industrial de calçado. 

Recorde-se que, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã ( atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres). E é na empresa do tio, na Rua Grande  (R  João Luís de Moura) que aprende o ofício de sapateiro, que era a sua profissão antes da tropa.

O seu pai, e meu avô, Domingos Henriques (que terá nascido na década de 1890), casara 3 vezes: do primeiro casamento, não teve filhos, do segundo teve o meu pai, Luis, e o meu tio (e padrinho) Domingos, do terceiro teve mais mais 11. Com uma família tão numerosa e com as dificudades da época (anos 20/30), tanto o meu pai como  o seu irmão germano acabaram por ser criados pela  família do lado materno (***).

Mas, no verão de 1945, ainda voltará  a ser “chamado para a tropa”, para se integrar no desfile das forças expedicionárias portugueses que se iriam juntar às brasileiras, em Lisboa, em 3 de setembro de 1945. (Não sabemos se chegou a participar nesse desfile, uma vez que entretanto  partiu uma costela quando estava no quartel.)

Recorde-se este episódio, documentado em filme da então SPAC –Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográfcias, documento hoje guardadoCinemateca Nacional:

(...) No dia 2 de setembro de 1945, aporta ao estuário do Tejo o navio “Duque de Caxias”, levando a bordo um regimento composta 162 oficiais e 1.636 sargentos e soldados, parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutara na Itália, integrada no exército dos Aliados,  na   segunda guerra mundial, vem  do porto de Nápoles com destino final ao Rio de Janeiro .  

No dia seguinte, 3 de setembro de 1945, o Exército Português recebe os bravos militares brasileiros  com um desfile que envolveu mais  de 14 mil  soldados, viaturas militares de diversos tipos,  das armas de  infantaria e cavalaria. A Força Aérea, voando sob  os céus de Lisboa, associou-se ao evento. Milhares de pessoas assistiram entusiasticamente ao desfile.

O regimento expedicionário  brasileiro desfilou igualmente, saindo do Terreiro do Paço,  passando pela Rua Augusta, Rossio, Praça dos Restauradores, e subindo a Avenida da Liberdade até chegar a Praça do Marques de Pombal. Aí o general António Óscar Fragoso Carmona, presidente da república portuguesa, condecorou a bandeira do batalhão de infantaria da FEB com a Medalha de Valor Militar em grau de Ouro, a mais alta condecoração portuguesa.

O “Diário Popular”, desse dia, referiu-se ao evento, em título de caixa alta como “uma epopeia jamais vista em terras lusitanas”. O “Diário de Lisboa”, por sua vez, sublinha que “as tropas brasileiras (…) causaram esplêndida impressão e foram muito aclamadas”.

À noite, houve jantar com fados para oficiais e sargentos,  portugueses e brasileiros, em locais diferentes. Na Feira popular, militares e civis se misturaram numa confraternização  raramente vista em terras lusitanas. (...)


Lourinhã, Praça Cor António Maria Batista > 2 de fevereiro de 1946 > “Just married”, Maria da Graça e Luís Henriques, ela com 23 anos, ele com 25. A boda foi em Peniche, onde o Luís Henriques tinha primos…  Um dos luxos foi a lagosta, que com a II Guerra Mundial e o afluxo de refugiados em Portugal, começava a estar na moda….O casal parece estar junto ao automóvel de aluguer que os levou ao restaurante, em Peniche. 

Foto: arquivo da família.

Luís Henriques casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe,  criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia e da Lourinhã, desde tenra idade. Namoravam-se  há já uns anos, ainda antes da tropa.  [Foto à direita].

Ela era filha de Manuel Barbosa, natural do Nadrupe, e de Maria do Patrocínio, natural da Lourinhã.  O apelido Graça não é de família: ela nasceu no dia 6 de agosto, dia da festa da padroeira da terra, a N. Sra. da Graça… A última (ou uma das últimas senhoras) onde ela serviu, foi a dona Rosa Costa Pina, professora primária, oriunda das Beiras.


Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-2014) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012). 

Foto: arquivo da família.


A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. E 18 meses depois, a Graciete (que riá casar com o Cristiano Sardinha Mendes Calado,  Alter do Chão, 19/1/1941- Lourinhã, 21/5/2021). 

Até 1964, haverá ainda mais duas raparigas: Maria do Rosário e Ana Isabel.

O Luís Henriques continuará (pelo menos até ao início da década de 1950) a jogar futebol, como atleta amador, e ao mesmo tempo a participar na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o SCL - Sporting Club Lourinhanense, até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia e a colegiada de N. Sra.dos Anjos. É mordomo de festas locais (como a da Sra dos Anjos e de São Sebastião).



Lourinhã > c. 1950> Os dois filhos mais velho, Luís Manuel e Graciete. 
O meu pai sempre me tratou do "Lis Manel"

Foto: arquivo da família.



Alcobaça > 2 de julho de 1977 > No casamento da filha Maria do Rosário 
com o Mário Anastácio, filho de Bernardino Anastácio (Toledo, Lourinhã, 28/11/1925 - Lourinhã, 23/8/2017), 
barbeiro, músico, acordeonista. Ao seu lado direito, a filha mais nova, 
Ana Isabel. Na outra ponta, ao lado do noivo, a Maria da Graça.
 Foto: arquivo de família.

(Continua)
________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de 20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21272: Meu pai, meu velho, meu camarada (62): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte I

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23549: Meu pai, meu velho, meu camarada (67): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VI

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Agosto de 1941 > "Dias depois da nossa chegada. O regresso do banho da linda praia da Matiota". [Luís Henrique está assinalado na foto, é o primeiro do lado esquerdo, da 3ª fila]. Foto: arquivo da família.


Verde > S. Vicente > Mindelo > Praia da Matiota > Maio de 1943 > "Matiota e a sua baía que é a melhor de S. Vicente, aonde se passa um bocado divertido". 

O meu pai falava muito deste local. Tendo nascido à beira-mar, e gostando de nadar, muito provavelmete passou aqui muitas das suas horas de lazer.  As forças do RI 5 (Caldas da Rainha), entretnato integradas no RI 23, estavam aquarteladas no Lazatero, no sopé do Monte Cara,a oeste do Mindelo. Na altura não havia aeroporto (hoje em São Pedro). Nem a Baía das Gatas (na ponta leste da ilha) era uma praia turística...

Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Outubro de 1941 > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco [o ilhéu dos Pássaros]". Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época,  foto Melo. Coladeira do S. João"  [ou cola san djon] >  Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de São João, no dia de São João , no interior (?) de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943". 

A festa de São João Baptista  continua a ser uma das festividades maiores das ilhas do Barlavento  e da comunidade cabo-verdiana da diáspora, por exemplo, no bairro da Cova da Moura, Amadora; ainda hoje, "em São Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo um pouco: missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbicada. A anteceder o dia de São João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (lumenaras)" . Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo (ou Ribeira de Julião?) > c. 1943 > "Jantar em San Vicente. Nos tera. Nativos em festa. Recordação da minha estada em C. Verde (Expedição). 1941-1943. Luís Henriques". Presumimos que se trata de uma Foto Melo. Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > "A cidade do Mindelo e ao fundo o Monte Verde. Vê-se parte da baía da Galé". 

A cidade na altura deveria ter 15 mil habitantes. O nº de militares aquartelados na ilha era de 3421: 3015 militares metropolitanos (oficiais: 145; sargentos: 233; praças: 2637) e 406 praças de recrutamento local,  o que dava um rácio de 228:1000 (228 militares por mil habitantes, ou mais do que um militar para cada cinco habitantes).  Os metropolitanos eram conhecidos, em São Vicente, como "mondrongos", termo depreciativo. Na fase da instalação da tropa houve inevitavelmente alguma perturbação e incidentes, mas em geral : "Entre os incómodos e transtornos, por um lado, e os benefícios e vantagens, por outro, o saldo da presença dos militares nas ilhas foi dum modo geral consideradi positivo. E a sua maior evidência é  o sentimento de nostalgia e saudade que a tropa metropolitana deixou nas populações cabo-verdianas" (Adriano Miranda Lima - Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial. Mindelo, São Vicente, 2020, ed. de autor, pág. 95).

Foto: arquivo da família,


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > “Em 18/5/1943. No dia em que fui para o Depósito de Convalescentes. Os comandantes das esquadras de metralhadoras ligeiras do 2º Pelotão, 3ª secção: [da esquerda para a direita: ] A. C. Pratas, J. C. Filipe e Luís Henriques. Junto à porta da nossa caserna, no Lazareto”. 

Curiosamente, o meu pai (e os seus camaradas) aparece na foto, de cigarro na boca. Julgo que devia ser para a fotografia. Nunca vi o meu pai fumar. Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), com a seguinte legenda: "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea  [do Monte Sossego]  depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Lourinhã,] no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (médica)."

Segundo o autor e a obra acima citados (Adriano Miranda Lima - Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial. Mindelo, São Vicente, 2020, ed. de autor), morreram em São Vicente, entre 1941 e 1946, 40 militares das forças expedicionários (pág. 172) e 28 na ilha do Sal (pág, 173).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


6. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques, ex-1º cabo at inf,  3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde), 1941/43) (*).

Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943. Era natural da Lourinhã. Faria 102 anos, se fosse vivo, no dia 19 de agosto de 2022. 

A pandemia de Covid-19 impediu, há dois anos atrás, a realização de uma pequena sessão, pública, da homenagem que a família e alguns amigos lourinhanses queriam prestar-lhe por ocasião do seu centenário. 

 O seu filho mais velho, o nosso editor Luís Graça, reuniu entretanto, numa pequena brochura de 100 páginas, o essencial da informação documental sobre a sua vida (*).

Publicam-se hoje mais umas tantas fotos, legendadas, desse período de 26 meses em que  esteve no Mindelo. 

(Continua)
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(...) Antes de partir para Cabo Verde, o jovem Luís Henriques foi ao Nadrupe reiterar a sua vontade de continuar a namorar a filha do senhor Manuel Barbosa, pequeno agricultor com terras próprias (e outras de renda), e sete bocas para alimentar (a esposa e seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas)…

O futuro sogro terá sugerido que rompesse o namoro, porque não se sabia o que podia acontecer, “podia morrer ou arranjar outra” (sic)… Mas o meu futuro pai manteve-se fiel à promessa de continuar a namorar a Maria da Graça (que também assinava Maria da Graça Barbosa, mas no seu BI era apenas a Maria da Graça, nascida em 6 de agosto de 1922, no dia da festa local, o da N. Sra. da Graça). (...)

(...) À semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos). 

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época. (...)

(...) Tinha memórias muito fortes (incluindo registos fotográficos, de que se selecionam aqui alguns) dos difíceis tempos que passou no Mindelo, Ilha de São Vicente (26 meses, entre julho de 1941 e setembro de 1943; nos últimos 4 meses esteve hospitalizado, por problemas pulmonares, entre maio e agosto de 1943). Mas voltemos à partida, em 18 de julho de 1941, do paquete "Mouzinho de Albuquerque, que teve honras de título de caixa alta no vespertino "Diário de Lisboa" (...)


(...) Um mês antes do Luís Henriques partir para Cabo Verde, no T/T “Mouzinho” (em 18 de julho de 1941), Portugal acabava de perder um barco de pesca e um navio da marinha mercante:

(i) o barco de pesca "Exportador I" fora cobarde e miseravelmente atacado a tiro de canhão por um submarino italiano. a sul do Cabo de São Vicente, em 1/6/1941....

(ii) o navio da marinha mercante portuguesa, de carga e passageiros, da Companhia Colonial de Navegação, o “Ganda”, de 4.333 toneladas brutas, com 72 tripulantes e passageiros a bordo, tinha sido atacado e afundado, em 20/06/1941, ao largo da costa de Marrocos, pelo submarino alemão U-123, sob o comando do capitão tenente Reinhard Hardegen (1913-2018): moreram 5 tripulantes e os s náufragos foram deixados à sua sorte, num salva-vidas, mas mais tarde recuperados por um navio de pesca português e outro espanhol.(...)


(...) Era casado com Maria da Graça (1922-2014), doméstica. Deixou, como descendentes, 4 filhos (Luís, Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel), 12 netos, 8 bisnetos. Era filho de Domingos Henriques Severino, natural do Montoito, e de Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã, mas com raízes em Ribamar.

Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques Severino, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar. Ficou órfão, aos 2 anos, de sua mãe, Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã. (...) 

sábado, 21 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22472: Meu pai, meu velho, meu camarada (67): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte V


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > c. 1943 > A cidade, a baía o Porto Grande e o Monte Cara ao fundo.  Ao centro,  em segundo plano, o edifício de maior volumetria é o Liceu Gil Eanes, por onde passou a elite do Mindelo e onde estudou Amílcar Cabral (que ali completa o 7º ano do liceu, em 1944, seguindo depois para Lisboa onde se licenciou em engenharia agronómica, no Instituto Superior de Agronomia
). 

Cortesia de Adriano Miranda Lima / Blogue Praia de Bote (2012). Informação complementar de Adriano Miranda Lima: “Foto de origem desconhecida mas que parece ser da Foto Melo ou do José Vitória”. 



Estrada Lourinhã-Peniche EN 8-2], cruzamento para a Praia da Areia Branca > 7/9/1942 > Foto enviada pelo irmão, Domingos Severino, o primeiro a contar a esquerda. Possivelmente foi em “dia de sortes”, do grupo dos nascido em 1922… Reconhece-se o Toni, o segundo a contar da esquerda;  o Carlos Fidalgo,  o terceiro; e o Rei, o quinto;  todos falecidos. Não 
é possível identificar o 4º elemento e 6º (de bicicleta). Foto: arquivo da família.



Lourinhã, estrada Lourinhã-Peniche, 7/9/1942... Uma fotografia com amigos, contemporâneos do meu pai... Do grupo da foto anterior. Nenhum deles está hoje vivo, se bem os reconheço. O segundo do lado esquerdo, é o meu tio, irmão do meu pai (dois anos mais novo) e meu saudoso padrinho de batismo, Domingos Henriques Severino. O terceiro é o Toni. O quinto  é o Carlos Fidalgo (, mais trade sócio da firma Fidalgo & Matos Lda) e o sexto o José Frade. A foto, enviada para Cabo Verde, está assinada pelo Domingos Severino.



Lourinhã > 6/12/1942 > Da esquerda para a direita: Nazaré, Ascensão e Maria Adelaide, três vizinhas e amigas de Luís Henriques, fotografadas na ponte sobre o Rio Grande, Lourinhã. Foto enviada para o amigo e vizinho, expedicionário em Cabo Verde, com "votos de verdadeira e sincera amizade". A primeira parte da legenda é ilegível.

Lembro-me de todas elas. A Maria Adelaide já morreu. Da Ascensão perdi-lhe o rasto. A Nazaré, conhecia-a bem, era a tia da Mariete, a família toda foi para a América,   em meados dos anos 50. E julgo que casou por lá... Será que ainda é viva ? Era "ajuntadeira" (costureira de calçado), e trabalhou muito para o meu pai, sapateiro, que dava trabalho a muita gente na Lourinhã.

Lembro-me bem da ti Adelina, mãe da Nazaré, nossa vizinha, e que era um, espécie de curandeira lá do bairro... Nós morávamos na rua dos Valados, ou do Castelo, e elas na rua, paralela, a do Clube... Quando puto, e quando doente, ela - a tia Adelina - aplicava-me as suas mezinhas, receitas da medicina popular com séculos de eficácia simbólica e terapêutica... Lembro-me, com repulsa, das suas unturas, na garganta, feitas com “gordura de galinha”, para tratar da papeira... Foto: arquivo de famíl



Lourinhã > s/d > c. 1940/50 > Passeando com primos e primas… Luís Henriques é o primeiro da esquerda. Na outra ponta, o primo António Francisco Sousa (que emigrará, muito mais tarde, para Moçambique). Foto: arquivo de família.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > “Maio de 1943. O jardim de Mindelo onde respirei lufadas de perfume e pó de arroz: isto quando se passava por grupos de senhoras ou meninas. Quando se ouvia tocar a música, à volta deste jardim passeavam milhares de transeuntes”. Foto Melo, pertencente ao arquivo da família.

Na realidade, tratava-se da Praça Nova, ajardinada (hoje, Praça Amílcar Cabral), onde havia/há um coreto, um quiosque, um lado e os bustos de dois insignes portuguesa, o poeta Luís de Camões e o Marquês Sá da Bandeira (Santarém, 1795 - Lisboa, 1876), 
uma grande figura, como militar e político do liberalismo, que  liderou a  luta contra o esclavagismo no Portugal do séc. XIX.




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > O jardim de Mindelo. A estátua de Luís de Camões, inaugurada em 1940… Foto: arquivo de família


Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Junho de 1943. Alguns internados do depósito dos convalescentes. Entre eles, estou também eu, sentado, lendo [o livro ] ‘Os Bastidores da Grande Guerra’. Luís Henriques , 1º Cabo nº 188/41, 1º Batalhão Expedicionário, R.I. nº 5. S. Vicente. C. Verde".

 [ O meu pai é o primeiro da 1ª primeira fila, do lado direito, assinalado com um círculo a vermelho; esteve internado cerca de 4 meses, já no final da comissão, por doença de pulmões; a morbimortalidade entre os expedicionárias era elevada; o livro em, questão podia o ser de Adolfo Coelho, "Nos bastidores da grande guerra", documentário, editado em 1934, em Lisboa, pela Livaria Clássica Editora].



Cabo Verde > S. Vicente > 1/12/1942 > "Uma das fases do jogo de voleibol no dia da festa da Restauração, organizada pelo R. I.  nº 5, em Lazareto, 1/12/1942, S. Vicente, C.Verde. Luís Henriques". Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Cais acostável, baía e o Monte Cara, ao fundo > “Agosto de 1942- A nossa maior alegria, depois dos trabalhos, o banho, em que tantos aprenderam a nadar. Entre tantos, estou eu, Luís Henriques. Em cima do cais, estão os nossos sargentos Peralta e M. Pereira (falecido)”.

 Segundo nos contava, ainda chegou a salvar mais do que um camarada, em risco de se afogar… Um deles, ao que parece, terá tentado o suicídio, uns meses antes do regresso a casa: sofria de sífilis, um das doenças sexualmente transmissíveis que mais afligia o contingente expedicionário, numa altura em que ainda não exista a “bala mágica”, o antibiótico… Recordo-me de o meu pai me dizer que no Mindelo “até as pedras tinham vénereo” (sic)… Segundo o nosso camarada Adriano Lima, a penicilina só chegou a Cabo Verde no início de 1945. Foto: arquivo da família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


5. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques, ex-1º cabo at inf, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, unidade mais tarde integrada no RI 23 (*). Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943. Era natural da Lourinhã. Faria 101 anos,se fosse vivo, no dia 19 de agosto de 2021. A pandemia de Covid-19 impediu a realização, o ano passado, da homenagem que a família e alguns amigos lourinhanses queriam prestar-lhe.  O seu filho mais velho, o nosso editor Luís Graça, reuniu entretanto, numa pequena brochura de 100 páginas, o essencial da informação documental sobre a sua vida (*).
 

Antes de partir para Cabo Verde, o jovem Luís Henriques foi ao Nadrupe reiterar a sua vontade de continuar a namorar a filha do senhor Manuel Barbosa, pequeno agricultor com terras próprias (e outras de renda), e sete bocas para alimentar  (a esposa e seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas)… 

O futuro sogro terá sugerido que rompesse o namoro, porque não se sabia o que podia acontecer, “podia morrer ou arranjar outra” (sic)… Mas o meu futuro pai manteve-se fiel à promessa de continuar a namorar a Maria da Graça (que também assinava Maria da Graça Barbosa, mas no seu BI era apenas a Maria da Graça, nascida em 6 de agosto de 1922, no dia da festa local, o da N. Sra. da Graça).

Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa, Maria da Graça. Eis algumas quadras que chegaram  até nós:

Deus ao fazer as três Graças,

Sua obra deu por finda,

Nasces tu, Maria da Graça,

A quarta Graça, a mais linda.

(c. 1941)

Desterrado nesta terra,

A saudade me consome,

Que Deus nos livre da guerra,

Já nos basta a sede e a fome.

 

Estou farto de engolir pó,

Nesta ilha abandonada,

Mas sinto-me menos só,

Quando penso em ti, minha amada.

 

Maria, minha cachopa,

Não me sais do pensamento,

Logo que eu saia da tropa,

Vou pedir-te em casamento.

 

 (c. 1942)

 


Lourinhã > Lourinhã > Abril de 1991 > Luís Henriques (1920-2012), com 70 anos, com a esposa, Maria da Graça (1922-2016). Celebravam nesse ano os 45 anos de casados ( e as "bodas de ouro", em 1996). Foto: arquivo da família.


Correspondia-se também com vizinhos, amigos e amigas da Lourinhã. Infelizmente, essa correspondência perdeu-se, com o tempo. Escrevia em papel fino, e ia mandando fotos, em geral de formato reduzido, legendadas no verso e algumas vezes a tinta verde.

Nos tempos livres, dedicava-se ao desporto: futebol, voleibol, natação. E gostava de ler e escrever. É natural que houvesse uma biblioteca  pública no Mindelo. E o próprio RI 23 deveria ter alguns livros para ocupação dos tempos livres dos expedicionários.

Era um leitor compulsivo. Lembro-me de me ter citado, entre outros, o romance do escritor austríaco, de origem judaica, Stefan Zweig (1881-1942), “Vinte e quatro horas na vida de uma mulher” (1935), que eu, confesso, nunca li.

Sinopse: "A rotina de um hotel na Riviera é abalada por uma notícia escandalosa. Uma mulher abandona o marido e as duas filhas, em nome de uma paixão por um jovem que havia acabado de conhecer. Este episódio despoleta uma acesa discussão entre os hóspedes do hotel e leva a Senhora C., uma aristocrata inglesa de sessenta e sete anos, a recordar um episódio secreto da sua vida que a tortura há mais de duas décadas. Vinte e quatro horas na vida de uma mulher é um relato apaixonante e intimista sobre a vida de uma mulher que se liberta das correntes do pudor e do preconceito social em nome de uma paixão avassaladora." (Fonte: A Esfera dos Livros).

Em 1942, o escritor e a mulher haviam-se suicidado em Petrópolis, no Brasil, país que os acolheu, no exílio.  Antes tinham passado duas vezes por Portugal. O meu pai deve ter tido acesso à edição de 1937, com a chancela da Civilização, Porto, trad.  Olando Alice. Terá sido um dos livros que  mais o marcou na sua vida, a avaliar pelo número de vezes que o citava. 

Em Cabo Verde, Luís Henriques foi contemporâneo dos pais de outros membros  da Tabanca Grande, nossos camaradas  (Hélder Sousa, Augusto Silva Santos, Luís Dias) ou amigos (Nelson Herbert)... Recorde-se os seus nomes: 

  • Ângelo Ferreira de Sousa (1921- 2001) (nascido no Cartaxo, a 28 de abril de 1921);
  • Armando Duarte Lopes (1920-2018) (nasceu no Mindelo; emigrará depois para a Guiné, onde foi futebolista);
  • Feliciano Delfim Santos (1922-1989) (esteve na ilha do Sal) (nascido a 22 de abril de 1922);
  • Porfírio Dias (1918-1988) (esteve no Mindelo, quase 3 anos, entre julho de 1941 e maio de 1944) (nasceu em Lisboa, em 30 de julho de 1919).

(Continua)

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série > 


22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21282: Meu pai, meu velho, meu camarada (65): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte III

20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21273: Meu pai, meu velho, meu camarada (63): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte II