sábado, 10 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18306: Os nossos seres, saberes e lazeres (252): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 22 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Conheço muita boa gente que tem uma imagem desconsoladora de Bruxelas. São sobretudo os funcionários que desembarcam na cidade ao fim da tarde e que no dia seguinte se encerram numa sala a conferenciar ou a ouvir outros a palestrar, regressando ao centro quando a luz se foi. E então dizem que se come bem mas não há nada praticamente para ver naquela cidade escura e que não dá sinais de ser muito acolhedora.
Tive a sorte de ser iniciado a conhecer lagos e jardins, museus extraordinários, artérias cheias de vida, com gente de 184 países. Bruxelas tem eventos culturais a um ritmo impressionante.
Vinha desta vez com o objetivo de rever e comparar a evolução da capital nos últimos 40 anos e exaltar uma nobre amizade. O que aqui se mostra é que tais objetivos foram alcançados.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (2) 

Beja Santos 

O viandante programou um dia azafamado, sai de Watermael-Boisfort em direção a Ixelles, vai a uma venda solidária de um empreendimento original e que goza de grande reputação por toda a Bélgica, dele se falará adiante. Faz todo o sentido, seguidamente, vadiar por Ixelles, uma comuna de larga superfície e que goza de um património imobiliário notável, e depois de matar a fome é imperativo visitar os locais que o deslumbraram, exatamente 40 anos atrás. Logo à saída de casa, este belo espetáculo das cerejeiras do Japão como incendiadas pelo Outono, todos os dias, enquanto o viandante aqui estiver, haverá um olhar de fascínio e ternura.



Só por pudor é que não se tiraram dezenas de imagens no interior desta venda solidária organizada pelos Compagnons Depanneurs, dedicam-se a prestar serviços a pessoas no limiar da pobreza. O viandante não sabia, mas um quinto da população belga vive em habitações com grandes problemas que vão da humidade à deterioração passando pelo excesso de pessoas vivendo em condições precárias. Trezentos companheiros prestam serviços de pintura, de arranjo do chão das casas, tratando de avarias em canalizações e eletricidade, facultando móveis utilitários, a sua consigna é de assegurar uma habitação decente e agradável a todos os que têm fracos rendimentos.
Os companheiros precisam de solidariedade, que não lhes é regateada, por todo o país. Naquele dia abriam as portas a uma venda solidária na Rue de la Glacière, ali se chegou para ver um edifício inteiro transformado numa caverna de Ali Babá: divisões com móveis e utensílios domésticos, divisões com eletrodomésticos, tapetes de todas as formas, tamanhos e feitios, quadros e mais adornos de paredes, divisões de bijuterias, roupas para todas as idades, material informático, cd’s, dvd’s, livros… O viandante tem limites severos de carga, ainda se assombrou com um espelho de parede, mas foi afeição de pouca dura, não resistiu a vários livros e alguns cd’s. Passeou-se por todos aqueles espaços, feliz por ver viçoso um projeto que visa a dignidade humana. Combateu o frio com uma boa sopa e uma saborosa sandes. E atirou-se ao trabalho, havia que calcorrear Ixelles, uma comuna cheia de história, um misto de Bairro Latino, Montparnasse e área residencial das classes médias, por ali pululam cafés com estudantada, uma livraria pejada de obras revolucionárias de todo o século XX, pequenos restaurantes, marcas concretas de que a comuna tem população vibrante.


O viandante gosta de fruir uma habitação cuidada ou renovada, contemplou esta que terá sido uma residência familiar, hoje deverá ter vários apartamentos, mas é um gosto ver tudo retocado, com as muitas bicicletas à porta. A cidade é plana e os ciclistas não desfalecem mesmo quando são confrontados com oceanos de carros que atravessam a cidade, há bicicletas com estranhíssimos atrelados onde vai a garotada. Bruxelas é outra coisa com o frémito deste tráfego a duas rodas.



Este é o edifício comunal, o Hotel de Ville, respira prosperidade, sempre teve, a comuna tem este privilégio de uma intensa vida intelectual, Bruxelas não dispõe de uma cidade universitária, os seus equipamentos estão dispersos, mas é aqui que os estudantes gostam de viver, misturados com as gentes de todas as categorias. O viandante delicia-se com esta arquitetura, faz uma pausa, toma um café e apanha um transporte para o centro da cidade.


Convenhamos que a imagem em si nada tem de fulgurante, merece uma explicação. Quando o viandante aqui arribou há 40 anos, em frente à Gare Central era como que um deserto, pontuava a um canto uma igreja, de nome Santa Maria Madalena, deu depois para aprender que é uma das mais antigas da cidade, que conheceu como todas acrescentos e reconstruções. Duranta a última fase de restauros, em meados de 1950, meteram-lhes estes vitrais, nalguma profusão. Foi um movimento artístico que as novas gerações hoje passam ao lado. Finda a II Guerra Mundial, ignorou-se o classicismo e o academismo, emergiu uma arquitetura de vanguarda que ocupou os espaços destruídos pela guerra, a pintura encontrou outros motivos, e o vitral também. Passadas estas décadas, aquilo que era modernidade para o viandante, ainda por cima um arrojo de inserir num edifício estruturalmente talhado nos séculos XV, XVI e XVII, é hoje um dado assente, já foi modernidade. E ainda bem que assim é.


Estamos num espaço icónico, daqui avista-se o Hotel de Ville de Bruxelas e a sua agulha majestosa, quem entra na Grand Place não resiste a contemplá-la demoradamente. Preferiu-se naquele dia registá-la de outro modo, de uma rua lateral, havia pressa em bater à porta do teatro La Monnaie, a mais bela casa de ópera e de música da cidade.


O viandante chegara aguado, esperançado em poder ver a ópera Lucio Silla, do jovem Mozart. Tem um certo historial afortunado de entradas nesta casa, e a preços altamente abordáveis. Recorda-se sempre que desembarcara na cidade aí pelas 17h, no dia seguinte estaria em reunião até ao fim da tarde, regressando a Lisboa no último avião. Arrumada a trouxa no hotel, rumou sem propósito definido até La Monnaie, eram 17h50 quando chegou à bilheteira para farejar se havia algum espetáculo. Sim, dentro de minutos começaria uma récita de Tristão e Isolda. Lamentavelmente, só havia um bilhete de 10 euros lá para o último andar, quase a tocar o teto. Não hesitou, saiu dali pela meia-noite, consolado com uma das obras-primas de Wagner, o pior foi encontrar um sítio para matar a fome, e não foi fácil. Vinha com esperança de mais um golpe de sorte, os bilhetes que restavam orçavam os 100 euros, foi pronta a desistência. Lucio Silla nem de longe nem de perto tem a genialidade de Don Giovanni, os estudiosos já anotaram as pequenas falhas do jovem Mozart, mas também não deixam de se surpreender como aquela criança pôs em música a profundidade das emoções humanas e como precisou psicologicamente bem a personalidade narcísica do Lucio Silla, o homem mais poderoso do seu tempo, mas a quem faltava o amor. Paciência, fica para a próxima, o viandante confia que não lhe faltem oportunidades de regressar a Bruxelas.


Serve de consolo à despedida registar o teto da grande entrada de La Monnaie, é um festival de cor e garridice naquele átrio que exibe majestade e convencionalismo. Chega de deambulação pelos lugares matriciais que o viandante tanto aprecia. É fim de tarde, vai embrenhar-se numa livraria de obras em segunda mão. Será afortunado, imagine-se que encontrou um livro de história de arte… escrito por Jorge Pais da Silva, que foi seu professor de História de Arte. Contente e feliz, regressa a penates, amanhã também será um dia grande – num dia curto de Outono.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18281: Os nossos seres, saberes e lazeres (251): Em Bruxelas, para comemorar 40 anos de uma amizade (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18305: Parabéns a você (1389): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18298: Parabéns a você (1388): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18304: Notas de leitura (1039): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (21) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,
Não conheço documento mais demolidor do que este. Li os trabalhos de Carvalho Viegas, vários estudiosos apontam-no como figura exemplar, na sequência de Velez Caroço. O que aqui se lê não é só pouco abonatório para Carvalho Viegas, o que o gerente do BNU de Bissau informa a aquele que virá a ser ministro das colónias é que a administração da Guiné é o maior lamaçal do mundo, lavra a maior das corrupções é como se o governador tivesse agradavelmente cercado por uma alcateia de ladrões.
Na verdade, nada é definitivo na História, pensamos num homem íntegro, dotado de ousadia e bravura, com os olhos virados para o desenvolvimento, e sai-nos um cafajeste.
Cuidado com a História...

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (21)

Beja Santos

Estamos em 1938 e o gerente Virgolino Teixeira envia com o caráter de absolutamente confidencial um documento verdadeiramente explosivo ao Presidente do Conselho Administrativo do BNU, nada de mais demolidor se podia escrever sobre o Governador Luiz de Carvalho Viegas. Documento extenso, com um ponto de vista tão representativo, só se corta aquilo que não é verdadeiramente essencial. Trata-se de uma carta prometida onde o gerente envia informações que lhe parecem interessantes “para identificar os tristíssimos aspetos morais, os económicos, administrativos e políticos que a Guiné vem atravessando” e começa por apresentar o governador, mais brutal não podia ser:
“A imoralidade do seu viver particular é, positivamente, afrontosa para a vida moral da colónia, pelo reflexo que tem na sua vida pública que é também imoralíssima porque nela campeia a mentira e o embuste político, próprio de indivíduo que serve por mero interesse uma situação política mas espera ficar bem com outra que supõe poderá vir, pelo pior que seja, com tanto que ele a sirva e se sirva a si próprio”. E mais adiante diz que o governador está rodeado da pior escumalha que há na colónia e que dela se serve para todos os fins. “E ela serve-se dele para conseguir os seus fins também. Assim é o que vai por esta pobre Guiné e se conhece bem, mas contra o que não pode haver reação porque o honrado que a denunciara é esmagado pela matilha insaciável”.

Vejamos os aspetos morais denunciados por Virgolino Teixeira.

Logo o Chefe de Gabinete, Neves Ferreira, cujo estado normal é de permanente embriaguez. “Vivendo publicamente com uma meretriz, em casa do Estado, fazia falcatruas por onde podia. Dias depois de ele assumir a gerência desta agência queria um crédito de dez contos alegando que pagaria com dinheiro que o Estado lhe devia, o que era falso. É claro que não foi atendido".

Agora, o mais inconcebível atentando à moral. “No hospital de Bolama, entra a amante do senhor governador para o Dr. Eurico d’Almeida lhe fazer um aborto, conforme ordem superior que recebeu. Sai-se mal. A mulher fica em perigo. Chama-se o médico Pimentel que, com desassombro e para não ficar amarrado ao que de mal se passara grita alto e bom som que vai ali porque uma vida está em perigo e não porque tenha nada a ver com o aborto. Até à data não deixou de ser perseguido pelo Governador Viegas. Mais tarde, uma desavença entre o médico abortador e o padre de Bolama, um pobre homem de fraquíssima figura; aquele queixa-se ao senhor governador que este lhe atira à cara o aborto. O senhor governador mandou o médico esbofetear o padre e este cumpriu. O padre pediu justiça mas não a houve de parte nenhuma”.

Para o gerente, o governador é um dos homens mais vingativos do mundo, além de lúbrico. O próximo atentado à moral vem do Gabu e diz o gerente que a região dos Fulas, “raça esta que tem, segundo os entendidos, as mulheres mais esbeltas da Guiné. Passava muito por lá o senhor Governador Viegas e o administrador parece que não era esquivo a forçar indígenas a prestar vassalagem total ao seu senhor. Apareceu uma Fula, tipo estátua, e sua excelência mandou-a seguir para o palácio do governo. Pouco depois, a Fula retirava-se fazendo agravos sérios ao senhor governador e transmitindo-os ao administrador que fez deles eco. Resultado, o administrativo foi perseguido como se fosse cão danado, esteve meses e meses sem pão para a família e continua perseguido”.

A próxima história passa-se em Bolama em que há um administrador crónico que é sabedor e esperto. Obriga os indígenas da região a darem-lhe dinheiro. “É público que no tempo da campanha do arroz persegue os indígenas obrigando-os a irem vender o produto a comerciantes de quem recebe dinheiro. Ao homem que vendia pólvora aos Canhabaques e que hoje é o herói da pacificação que nunca existiu se não em informações ao senhor ministro – falsas como judas – exigiu o administrador de Bolama, só de uma vez, 13 a 14 contos para tapar um furto que tinha no cofre a seu cargo. Depois, não lhe pagou e exigiu-lhe mais dinheiro, que ele foi obrigado a passar, declarando que não lhe deve nada”.

Vem agora à baila uma figura bastante conhecida na época, Landerset Simões:
“Para os Bijagós é enviado o Chefe de Posto Landerset Simões, com ordem de mandar relatos em cima de relatos garantindo a pacificação dos Canhabaques. O homem chega lá e quase não os vê. Não tem sequer quem lhe vá buscar uma bilha de água. Não encontra respeito nem subordinação da parte dos indígenas. Castiga severamente um, mais insubmisso e atrevido. Escreve claro, a dizer que, na verdade, era mentira os Canhabaques estarem submissos. Processo feito, com andamento rápido. Conselho disciplinar formando por gentes submissas a ordens que, antes do julgamento, marcavam sentença. Reúne tal tribunal e porque um membro se insurge a sentença não podia ser a que se ordenara. Lavra-se a sentença esperada pelo ajudante do senhor governador que a leva urgentemente a Bolama e volta com ordens terminantes para que os doutos juízes lavrem imediatamente outra sentença à vontade do governador. Assim se fez”.

O rol de imoralidades continua:
“Nomeia-se chefe de posto interino um imoral de nome Ruy Moutinho Teixeira que não merecera confiança numa interinidade que fizera na alfândega. Chegado ao posto, veste-se de farda e sapato de polimento e vai participar aos sobas o seu casamento, exigindo 500 escudos a cada um, sob ameaças. Pouco depois, alia-se a um cadastrado mulato – Mário Lopes – e fazem contrabando de pólvora, do chão francês para o nosso, obrigando os indígenas a carregá-la e a distribuí-la. Um alfandegário descobre o crime – bem grave – e denuncia-o. Querem calar a denúncia mas o funcionário não retira a queixa. O criminoso é julgado por um tribunal especial – especialíssimo, cujo presidente me disse horas antes da sessão principiar: ‘Venho salvar este coitadinho, por ordem do senhor governador’. Devido a uma atitude de um dos componentes do tribunal. O homem não pode ser absolvido e foi condenado numa pena leve e ficou… preso a fingir até à extinção da pena. O registo criminal não acusa este crime porque o senhor governador intimou o tribunal a não fazer o respetivo boletim para o criminoso sair logo da colónia com um boletim limpo”.

Em tudo quanto à corrupção, Carvalho Viegas está presente, é o que diz o gerente do BNU. E vem mais uma história:
“O senhor governador é íntimo de um inspetor administrativo que veio fiscalizar os serviços da Guiné. Chama-se Capitão Salvação Barreto e eu conheço-o do tempo em que, sendo ele administrador do concelho de S. Tomé, se locupletou antecipadamente com as percentagens do imposto indígena e queria depois que eu, como gerente do banco, lhe emprestasse esse dinheiro sem garantia e sem ninguém saber (sic), por uns dias (?) a fim de se safar às malhas de um processo-crime. Este homem é uma nulidade insanável. A sua incapacidade é notória. A sua moralidade é duvidosa. Como inspetor, alojou-se na casa particular dos que vinham inspecionar, bebendo e comendo à custa deles, para que eles lhe ensinassem a fazer o serviço de inspeção. É espantoso mas é assim mesmo. Caiu num ridículo tremendo. Íntimo do senhor Governador Viegas, era-lhe tão leal que me chegou a vir avisar de propósito que aquele me andava abrir o meu correio particular desde que eu tinha chegado à colónia, porque se supunha que eu fosse um espião do Sr. Dr. Francisco Machado”.

Seguem-se mais denúncias que envolvem o Secretário da Administração de Bolama que se apropria de dinheiro à farta, ninguém se queixa, têm medo das perseguições. No dizer do gerente de Bissau até o Capitão Velez Caroço, familiar do antigo governador, Secretário dos Negócios Indígenas, vende munições e carabinas, tal como aconteceu na revolta dos Felupes. A podridão chega às obras públicas, oiçamos Virgolino Teixeira:
“Nas obras públicas é engenheiro diretor interino um celebérrimo Alambre. Rouba-se por todos os lados. O Secretário Leite de Magalhães denuncia o roubo, o ladrão é preso. Era dos mais íntimos do senhor Governador Viegas. Procede-se com todo o vigor, para dar brado. Passa o tempo, o ladrão é solto, o processo não anda. O gatuno volta à intimidade do senhor Governador Viegas. Pronunciado ainda, entregam-se-lhe as obras do Estado. As roubalheiras crescem então às culminâncias. O ladrão ganha (?) centenas de contos fazendo as maiores porcarias que pode. Na abundância de dinheiro, nasce a abundância de cerveja e uísque – é tudo para o pessoal das obras públicas. Ao denunciante Magalhães, o ladrão empresta alguns contos. Tudo se sabe mas nada se coíbe”.

É um rol extensíssimo, vamos continuar. Quem estuda Carvalho Viegas e todos os trabalhos que nos legou fica convencido que houve por ali um governador íntegro. Virgolino Teixeira tinha o cargo em jogo, caso se lhe soltasse injúria ou calúnia. É por isso que se deve atribuir muita atenção a este documento carregado de vitríolo e trotil.




(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 2 DE FEVEREIRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18279: Notas de leitura (1037): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (20) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 5 DE FEVEREIRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18286: Notas de leitura (1038): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18303: Da Suécia com saudade (58): No dia nacional Sápmi [Lapónia], 6 de fevereiro... Recordando o(s) colonialismo(s) escandinavo(s) e russo (José Belo)





 Suécia > Sápmi [Lapónia] e samer [lapões]... O seu dia nacional é a 6 de fevereiro

Fotos do arquivo do José Belo / Tabanca da Lapónia (2018). Cortesia do autor.[Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo, o português mais "assuecado" (ou o sueco mais "aportuguesado"...) da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande

[Fotos à esquerda e direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem 125 referências no nosso blogue]




Data - 2 fev 2018
Assunto - "Santos da casa näo fazem milagres"...ou...talvez pior...


Nos anos sessenta a Suécia estava na vanguarda de todas as votacöes anticolonialistas nas Nações Unidas.

O Reino Sueco contribuía com generosidades de largos milhares de Koroas anuais para tudo o que eram auxílios em material sanitário, hospitais, escolas, alimentos, viaturas, motores para barcos, etc, etc, etc.

Ao mesmo tempo que um povo autóctone habitava, desde há  mais de 2.500 anos,o extremo norte do Reino Sueco, bem dentro do Círculo Polar Árctico. Um povo cujos direitos, liberdades e outras condições sociais eram."limitadas" pelo governo central. ( Uso o termo "limitadas", para ser diplomático).

A língua local era proibida de ser usada fora do círculo familiar, querendo isto dizer em termos concretos....unicamente dentro da própria casa. Nem em documentos administrativos ou declaracões oficiais;nem nas escolas, igrejas, ou mesmo nas trocas comerciais em mercados.
O modo típico de cantar,assim como os instrumentos de música locais e cânticos radicionais, estavam proibídos.

Todas as formas artesanais representativas da ancestral religião local, fossem elas em madeira, pedra, tecidos ou peles,eram regularmente recolhidas entre as poucas aldeias locais e queimadas, normalmente junto das igrejas, em típicos "autos de fé" locais.

A mesma igreja (, considerada até há bem poucos anos parte integrante do Estado sueco), que, ao aperceber-se das oportunidades comerciais,em impostos sobre a vasta fauna, negócios de peles, carne, pesca, assim como das infindáveis riquezas  minerais, obteve do governo, (entäo empenhado em iniciativas missionárias de ocupação), a garantia de lhe ser concedida uma área circular de 10 quilómetros em volta de cada uma das igrejas por ela construídas.

À primeira vista,e tendo em conta a vastidão infindável da Lapónia, 10 quilómetros poderá fazer sorrir. Posso dar como exemplo o facto de o vizinho mais próximo(!) da minha casa estar a uma distância de 274 quilómetros  [, o equivalente ao percurso Lisboa-Faro]...

Mas, e inteligentemente, os locais escolhidos para as construções das igrejas foram sempre os mais ricos em fauna, pesca,ou minérios. E não só, pois também tinham em conta os locais de convergëncia das caravanas de renas, e de todas as feiras comerciais resultantes.

Para mais,e como todos os outros povos considerados primitivos pelo civilizador branco, os locais (näo sabendo nem ler nem escrever) näo dispunham de documentos comprovativos de posse de qualquer palmo de terra, mesmo nos terrenos tradicionalmente habitados por um povo entäo maioritariamente nómada ,acompanhando as manadas de renas em deslocaçöes contínuas de pastagens em pastagens de acordo com as estações do ano.

Assim,o tal círculo de 10 quilómetros à volta das igrejas construídas tornou-se mais "espiritual" do que material, passando a crescer (digamos milagrosamente) de ano para ano.

Desde Estocolmo o governo procurou estabelecer uma administração local com quadros de funcionários, centros judiciários, polícia,  escolas e professores, assim como alguns quarteis militares.
Obviamente que os locais, totalmente analfabetos, não tinham condições de ocupar tais cargos.
Tornou-se necessário criar condições "convidativas" para fazer deslocarem-se para a zona os quadros minimamente necessários.

Não só em termos salariais, como também em prerrogativas das mais variadas, estas eram sempre em prejuízo dos habitantes locais. Tendo em conta que a Lapónia se encontra 1.500 quilómetros ao norte de Estocolmo,e que tradicionalmente a maioria da populacão  vive ao sul da capital, não foi fácil o recrutamento para os cargos.

Numa época em que as poucas estradas existentes não eram transitáveis na maioria do ano, e o caminho de ferro ainda não tinha sido inventado, 1.500 quilómetros somados
as condiçõees extremas do Círculo Polar, fizeram com que a maioria dos que vieram a estabelecer-se não seria a "nata" da sociedade sueca de então.

Muitos ambiciosos e aventureiros na busca de fortuna rápida que acabaram por comprar por precos mais do que "simbólicos" imensidões de florestas, áreas ricas em minérios de primeira qualidade,e lucrativos entrepostos comerciais.

A maior mina europeia de ferro de primeiríssima qualidade cá está em Kíruna, a indústria de madeiras que veio a criar a gigantesca indústria de papel sueca, as companhias hidroelécticas, fornecendo energia para toda a Escandinávia e continente, só para citar algumas.

Numa outra página negra nas relacöes do governo central com a população local,(agora nos tão
próximos anos de 1940 a 1956),foi estabelecido todo um programa de estudos rácicos, enquadrado por docentes do mais alto nível universitário, médico e antropológico, centrado na famosa universidade de Uppsala, com o fim de estudar e examinar detalhadamente milhares de lapões,de ambos os sexos e de todas as idades.

Os indivíduos, completamente nus, eram fotografados em várias posições, e entre outras observações ,os crânios eram medidos meticulosamente com aparelho especial, numa busca de estabelecer "científicamente" as diferençaas entre os escandinavos e estes...inferiores.

Tudo se encontra criteriosamente arquivado em vastos volumes,acompanhados dos álbum fotográficos e de esqueletos retirados dos cemitérios tradicionais, contra a vontade dos familiares.
Toda esta documentação, obtida no mesmo período em que a Alemanha nazi efectuava estudos semelhantes, está hoje aberta aos que a queiram consultar na Universidade.

No aspecto educacional, enquanto em toda a Suécia os programas escolares eram centralizados (e iguais) quanto ás disciplinas normais europeias, na Lapónia até 1966 (!!!) o ensino liceal era todo orientado para a criação de renas e para as técnicas florestais e cinegéticas.

Aparentemente muito lógico tendo em conta as realidades locais (apesar de hoje em dia só 14% dos lapöes se dedicarem á criacäo de renas). Mas,em verdade, não dando aos locais por falta das habilitações escolares necessárias, qualquer possibilidade de acederem ás universidades ou a outro ensino técnico superior, tão necessários para empregos na Escandinávia.

E,repetindo-me...isto até ao ano de 1966! A tal década em que a Suécia tanto votava nas Nações Unidas pelos direitos dos povos...colonizados.

Hoje, 6 de Fevereiro,  é oficialmente o dia nacional Sápmi. De uma Sápmi que tem já universidades locais; um Parlamento próprio que cria as leis regionais feitas em colaboração com os Samer da Noruega e Finlândia, e com um estatuto especial reconhecido pelos governos destes países; a língua local é ensinada de novo nas escolas e usada nas cerimónias oficiais.

Dispöe de televisão e estações de rádio também locais, com programas transmitidos para toda a Escandinávia. Com bandeira a ser hasteada ao lado da sueca em todos os edifícios oficiais,ou isolada, aquando dos feriados locais reconhecidos pelo governo central.

O "ambiente de fundo" já näo é hoje o mesmo do anterior. Apesar de ainda surgirem ,de vez em quando cenas de pugilato entre jovens de famílias locais e outros de famílias "escandinavas", tanto em discotecas como infelizmente em liceus ,(näo menos... na zona norueguesa).

Como curiosidade histórica,o método usado na zona da lapónia Russa quanto á "integração" durante os tempos soviéticos foi o de retirarem as crianlças em idade escolar do seio das famílias,enviando-as para receberem educapção primária ,liceal e universitária, em zonas muito afastadas culturalmente das tradicionais.

Os mesmos só podiam regressar ás famílias depois de terminada a educacäo escola. O sistema funcionava melhor que o escandinavo no respeitante à educação escolar dos indivíduos. Mas a falta total de contacto com as famílias e tradições em todo um longo período de formação, levava a que muitos já não se sentiam "em casa" ao regressar, acabando por afastar-se de novo para outros locais, não utilizando assim, dentro das zonas tradicionaisos, os conhecimentos adquiridos.

Por este motivo é hoje difícil saber-se o número total de indivíduos deste grupo étnico  existente na Rússia, sendo todas as estatísticas "aproximadas".

Um abraço.
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18301: Da Suécia com saudade (57): Algumas coisas que um tuga tem que saber quando vier à Tabanca da Lapónia (José Belo)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18302: Agenda cultural (627): Foi inaugurado hoje, às 14h30, o Dino Parque da Lourinhã: mais de 400 milhões de anos de vida na terra, no maior museu ao ar livre do país... Mais de 120 réplicas de dinossauro em tamanho natural... Um projeto de ciência, educação e entretenimento, na Lourinhã, a "capital dos dinossauros"





Horácio Mateus (1950-2013). Cartoon de Simão Mateus, seu filho, hoje diretor científico do Dino Parque Lourinhã. Como ele estaria feliz hoje, se pudesse estar entre nós...







Foto da inauguração. 



1. O DINO PARQUE DA LOURINHÃ ACABA DE SER INAUGURADO ESTA QUINTA-FEIRA

Tal como estava agendado, realizou-se hoje,às 14h30, a abertura do Dino Parque da Lourinhã numa cerimónia exclusiva para entidades oficiais e convidados.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de convidado, não pôde estar presente   por  questões de agenda. Em nome do Governo, esteve o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, antigo presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, além do presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado.

Segundo informação do quinzenário regionalista Alvorada, este equipamento (o maior museu ao ar livre de Portugal) vai  abrir oficialmente as portas esta sexta-feira, 9, às 10h00. Situa-se na Rua Vale dos Dinossauros, na Abelheira (GPS: 39.278501, -9.293023), a cerca de cinco minutos do centro da Lourinhã e aproximadamente a 45 minutos de Lisboa. 

Para o ano em curso, o horário de funcionamento é o seguinte:

(i)  nos meses de Fevereiro, Outubro, Novembro e Dezembro,  das 10h00 às 17h00 (última entrada às 15h30);

(ii)  em Março, Abril e Maio,  das 10h00 às 18h00 (última entrada às 16h30); 

(iii) e em Junho, Julho, Agosto e Setembro, das 10h00 às 19h00 (última entrada às 17h30), incluindo sábados, domingos e feriados. 

O Dino Parque encerra apenas do dia 25 de Dezembro. 

Preçário:

(i)  9,50 euros para crianças dos 4 aos 12 anos; (Grátis, dos 0 aos 3 anos);

(ii) 12,50 euros para jovens e adultos a partir dos 13 anos; 

(iii) 11,50 euros para bilhete de grupo com mais de 20 pessoas; 

(iv) e 8,50 euros para bilhete de grupo com mais de 20 crianças.

Todas as pessoas residentes no concelho da Lourinhã irão receber numa das próximas facturas da água, um desconto de cinco euros em cada bilhete (dois adultos + duas crianças). 

Todos os alunos do concelho terão também direito a uma entrada anual gratuita e haverá ainda condições especiais para a hotelaria/alojamento local. 

Será ainda permitida a entrada de cães com trela, sendo obrigatório ter saco de plástico para recolha dos dejectos, havendo contudo a possibilidade de o adquirir no local. O parque possui também total acessibilidade para pessoas com necessidades de assistência especial.

Fonte: Adapt de jornal ALVORADA. ! 


2. Mais informações sobre o Dino Parque da Lourinhã:

Morada:

Rua Vale dos Dinossauros, 25 – Abelheira 2530-059 Lourinhã.
GPS: 39.278501 , -9.293023


Como chegar:
(i) Pela A8, direção Sul - Norte

Seguir na saída N8-2 Lourinhã (km 44) , seguir as sinaléticas até à Vila da Lourinhã.
Seguir pela estrada N247 em direção a Peniche por cerca de 7 km, no cruzamento voltar à direita e seguir a estrada N247-1 por mais 2,5 km e chegará ao Dino Parque.

(ii) Pela A8, direção Norte - Sul

Seguir na saída em direção a IP6 – Peniche (km 72) , continuar até à saída Atouguia da Baleia/Lourinhã.
Seguir pela estrada Nacional por cerca de 7 km até ao cruzamento, virar à esquerda pela estrada Nacional 247-1 por cerca de 2,5 km e chegará ao Dino Parque.


Linha de apoio ao cliente:

Tel.: +351 261 243 160 // +351 915 888 207

Página oficial: Dino Parque da Lourinhã

Página no Facebook: Dino Parque Lourinhã

Ver aqui aqui a reportagem da RTP1 | País, 5 de fevereiro de 2017 (vídeo, 2' 09 '')

3. Ver aqui a reportagem da TSF, com a devida vénia, sobre este evento.


Parque de dinossauros abre na Lourinhã para divertir e fazer ciência

08 DE FEVEREIRO DE 2018 - 13:29

O Dino Parque afirma-se como "o maior museu ao ar livre do país" e pretende captar o interesse de futuros cientistas pela paleontologia. Tem um museu, um laboratório e 120 dinossauros em tamanho real. 


Visita ao Dino Parque da Lourinhã, uma reportagem de Rui Silva com sonoplastia de Pedro Picoto

Vinte e um anos depois da ideia inicial, abre ao público esta sexta-feira, dia 9, o Parque de Dinossauros da Lourinhã (PDL), um espaço temático de lazer, implementado num pinhal a poucos quilómetros da Lourinhã.

O Dino Parque, como também é apelidado, ocupa uma área de 10 hectares ao longo dos quais foram desenhados quatro percursos pedestres correspondentes aos últimos 420 milhões de anos, "desde a época em que os dinossauros começaram a sair da água", explica o diretor científico do PDL, Simão Mateus.

Ao longo do percurso, o visitante vai encontrando vários tipos de dinossauros estáticos (incluindo as espécies descobertas na Lourinhã) com um "realismo impressionante", enfatiza o diretor-geral, Luís Rocha, explicando que a ideia "não foi apenas espalhar dinossauros pelo parque", mas sim criar encenações de como seria o quotidiano e o habitat natural dos animais naquele tempo.

Acreditando que "o nível de detalhe fará a diferença para o visitante", Luís Rocha pretende que as crianças possam aprender de uma forma divertida. "Quem sabe se não descobrimos uma nova geração de paleontólogos", questiona.

Além dos percursos pedestres, o Dino Parque tem um pavilhão com várias atividades para adultos e crianças, uma exposição permanente de fósseis e pegadas de dinossauros pertencente ao Museu da Lourinhã e um laboratório científico que "está aberto a estudantes e investigadores" de paleontologia.

O protocolo estabelecido entre a empresa de capitais alemães gestora do PDL, a Câmara Municipal da Lourinhã e o Grupo de Etnografia e Arqueologia da Lourinhã (GEAL) prevê que uma parte das receitas seja destinada a "continuar a investigação científica" sobre os dinossauros, para mostrar que "a história de Portugal não começou em D. Afonso Henriques".

O Dino Parque representa um investimento de 4 milhões de euros, demorou um ano a ser construído e vai empregar 30 pessoas.

Fonte: TSF (com a devida vénia...)

4. Relembro aqui o meu amigo, conterrâneo e geálico nº 1, Horácio Mateus (1950-2013), que nos deixou prematuramente há cinco anos


Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, maio 01, 2013

Horácio, querido amigo,
grande lourinhanense,
geálico nº 1… 

És o primeiro a partir, nessa viagem solitária e sem retorno
que todos teremos que fazer um dia.
Só não sabemos quando nem em que lugar,
só o velho barqueiro de Caronte
é que tem a lista dos passageiros
e os horários e os percursos da última viagem
da terra dos vivos.
Mas estamos tristes,
infelizes,
inconsolados,
porque achamos que partiste cedo demais.
Tinhas direito a realizar os teus sonhos. 


E alguns levaste-os contigo para sempre, 
sem os poderes partilhar connosco.
Alguns desses sonhos realizaste-os e deves ter orgulho neles;
o grande amor da tua vida,
a Isabel,
os teus filhos,
o Simão e o Octávio,
que seguiram as tuas peugadas,
a tua filha Marta,
o GEAL, o museu…
Poucos são aqueles que são profetas
na sua terra.
Tu podes orgulhar-te de ter sido um deles.
E um dia o Parque Jurássico
pelo qual lutaste,
há-de fazer jus
ao teu nome, ao teu exemplo, à tua obra, à tua memória.

Sem a tua saudável loucura,
tua, da Isabel, do Octávio, do Simão,
e de outros tantos geálicos,
alguns presentes nesta hora
em que viemos despedir-nos de ti,
não haveria lugar a alguns dos sonhos bonitos
que aconteceram na nossa terra,
e que irão continuar a acontecer,
sob a tua inspiração e proteção.
Tu foste um exemplo de paixão pela vida,
pela terra,
pelos seres que o habitam ou habitaram,
pelas artes e ofícios dos nossos antepassados,
pelas pedras das suas casas,
pelos muros dos seus caminhos,
pelas árvores dos seus campos…
Cultivaste a paixão pela história,
pela ciência,
pela cultura,
pelo património de todos nós. 

És também um exemplo de amor
pela tua (e nossa) terra, Portugal e a Lourinhã,
mesmo quando a tua terra
nem sempre te compreendia,
ou te reconhecia
ou te amava,
como devia,
e como tu esperavas.
Julgo que terá sido Fernando Pessoa a dizer
que quando um português sonha,
alto e bom som,
há logo alguém que o acusa de estar
fora de escala
e de ser doido varrido...

Pois bem, tu tiveste o mérito de nos desassossegar,
desinquietar,
e de juntar alguns de nós,
e pôr-nos a sonhar alto
e a fazer coisas,
com paixão,
com inovação,
com verdade,
com rigor e credibilidade.
E isso às vezes incomoda os que se sentam na cadeira
da inércia, da mediocridade, do comodismo, da inveja.

Obrigado, Horácio, pela tua saudável loucura,
pela tua criatividade (muitas vezes imprevisível),
pelo teu humor (às vezes inconveniente e corrosivo
mas sempre inspirador),
Obrigado pelas flores que soubeste cultivar
no teu jardim do amor, da amizade e da convivialidade.

Foste um homem bom, um bom cristão
como Cristo possivelmente gostaria
que fosse um bom cristão,
um ser humano que soube nesta terra
praticar as obras de misericórdia
que vêm no evangelho do teu homónino,
São Mateus…
Lembras-te ? Sete eram corporais:
Remir os cativos e visitar os presos;
curar os enfermos;
cobrir os nus;
dar de comer aos famintos;
dar de beber a quem sede;
dar de pousada aos pobres e aos peregrinos;
e enterrar os mortos…
Ou de dar um barco ao náufrago,
como diz o livros dos mortos dos antigos egípcios…

E as outras sete obras de misericórdia eram espirituais:
ensinar os simples;
dar bom conselho a quem o pede;
castigar com caridade os que erram;
consolar os tristes desconsolados;
perdoar a quem nos errou;
sofrer a injúrias com paciência;
rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Na tua vida, tão rica e tão curta, fizeste tudo isso,
sem alarde,
sem pompa nem circunstância,
foste um homem misericordioso.


Onde quer que estejas, tens direito a estar em paz.
Se existe o céu, será aí a tua morada.

Nesta terra,
que foi a tua terra da alegria,
mas também às vezes uma das estações do inferno,
serás sempre lembrado
por aqueles que querem e podem honrar a tua memória.
Quanto a nós, vamos ter muitas saudades tuas.
À boa maneira dos nossos antepassados romanos,
dir-te-ei: Requiescat in pace.
Descansa em paz, Horácio,
Descansa finalmente em paz!

Lourinhã, Capela de Nossa Senhora dos Anjos, 30 de abril de 2013


___________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18301: Da Suécia com saudade (57): Algumas coisas que um tuga tem que saber quando vier à Tabanca da Lapónia (José Belo)


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > O José Belo com as seus "canitos" de estimação"... "a caminho da praia". (Chamei-lhes "renas", dou um "lapsus lingau


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > A "praia"... [Há dias estavam por lá 48º graus abaixo de zero...]


Suécia >Sápmi [Lapónia] > s/d > "Home sweet home" ou a "minha alegre casinha" (na versão dos "Xutos & Pontapés")...  A morança, que funciona como sede da Tabanca da Lapónia, de que o José Belo é régulo e, por enquanto,  o único membro vivo e registado.



Suécia > Sápmi [Lapónia] > s/d >  "Laponas", diz o régulo  [Samisk kvinna]...

Fotos do arquivo do José Belo / Tabanca da Lapónia  (2018). Cortesia do autor.[Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo, português "assuecado", 
que vive na diáspora:

[Foto acima à direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem  125 referências no nosso blogue]

Data: 6 de fevereiro de 2018 às 02:14
Assunto: Respostas às tuas perguntas quanto à Lapónia

Desde os finais de 1700 o termo "lapão" foi usado tanto na Suécia como na Noruega e Finlãndia, como um termo profundamente depreciativo para com os locais. Ao mesmo nível do que o termo "negro" é hoje encarado nos Estados Unidos.

Lapão em Sueco diz-se "Lapp", que também significa exatamente "remendo". Com conotações facilmente associadas a "pobres remendados",e também tendo em conta as roupas tradicionais fabricadas com tecidos de cores separadas que, a querer-se ir por aí, pode dizer-se aparentarem ser feitas por diferentes "remendos".

Facto é que o termo "Lapp" e "Lapónia" não é hoje usado pelos locais, nem pela maioria dos suecos mais jovens. Isto apesar de o termo continuar a ser usado a nível administrativo central (!) como referência geográfica à zona.

Lapónia para os lapões é... Sápmi.

Lapöes é... Samer

Um Lapão é... Same

Mulher da Lapónia é... Samisk kvinna.


Os lapöes estão divididos em vários grupos e subgrupos,  sendo 4 os principais, dispondo também de dialectos próprios.

Os que vivem nas zonas mais ao sul da Lapónia têm as suas renas guardadas em currais,enquanto os do centro norte mantêm os animais em liberdade total e integrados em vastas manadas, mas imediatament reconhecidos pelos donos por marcações efectuadas à faca nas orelhas que,e por muito que possa parecer incrível, todas são diferentes.

As tiras de cores diverssas existentes nas mangas e colarinhos dos vestuários tradicionais ( usados em festas familiares, festas locais,cerimónias oficias, festas religiosas, funerais, e em todos os trabalhos ligados à criação de renas) indicam todas as referências familiares, geográficas e de grupo ou subgrupo, tornando obviamente fácil a identificação imediata de toda a "história" do indivíduo.

Quanto à criação de renas em grandes números, a mesma só é permitida (por lei da administração central sueca) aos indivíduos de origem lapónica.
Actualmente só cerca de 14% dos Lapões vivem da criação de renas apesar de a carne ser vendida a preços muito elevados em toda a Escandinávia e na Alemanha que é o maior importador. (Felizmente que a minha dúzia de renas de trenó e "estimação", não é número a ser abrangido por lei!)

É erro tradicional, cometido por turistas ou mesmo visitantes de outras zonas da Escandinávia, o perguntarem ao criador de renas quantos são os animais que constituem a sua manada. A resposta sempre brusca e irónica é do tipo :"Olhe lá! Eu perguntei-lhe quanto dispõe na sua conta bancária?"

O criador paga imposto ao Estado por cada uma das renas da manada; daí não estar interessado num número "exacto"....impossível de ser verificado por as renas viverem em estado totalmente livre todo o ano, por montes,vales, estepes e florestas. Só há possibilidade de as contar (sempre mais ou menos!) quando as mesmas são anualmente reunidas para abate ou venda.

Há sempre um número considerável de renas ,tanto adultas como jovens, que são mortas pelos númerosos lobos, ursos e outros predadores locais, assim como ao atravessarem linhas dos caminhos de ferro que dia e noite transportam o minério local.
As estradas e autoestradas são também uma armadilha mortal por serem diariamente preparadas com sal e areia para facilitarem o tráfego no gelo. O sal é irresistível para estes animais e, nos nevões e neblinas locais, pode-se dispor nos SUV dos faróis mais modernos e potentes...os resultados....


A  Lapónia (a vermelho).
Infografia: José Belo (2018)
De qualquer modo, o Estado paga ao criador o custo dos animais perdidos. Como em toda a parte,as tentativas de fraudes e as histórias à volta delas são infindáveis.
As estatísticas quanto a estas perdas estão registadas desde há cerca de noventa anos,tornando-se fácil para os responsáveis administrativos pagarem somas...mais ou menos certas...para números de animais também...mais ou menos certos. (No fundo, o Estado Sueco tem uma boa economia que permite algumas destas "brincadeiras").

Existem cerca de 80.000 lapões na "Sameland" que engloba os extremos norte da Noruega, Suécia, Finläândia e Rússia Europeia.

Na Suécia-20.000
Na Noruega-58.000
Na Finländia-6.000
Na Rússia o número é indeterminado ao nível administrativo local.

Um abraço.
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18297: Da Suécia com saudade (56): por não ter existido anteriormente um único "luso-lapão", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico, e duvidando fortemente que outro venha a surgir, sinto-me obrigado a responder às vossas dúvidas sobre a Lapónia, os lapões... e o colonialismo sueco (José Belo)

Vd. também poste de 7 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14228: Da Suécia com saudade (48): (Sobre)Viver na Lapónia (José Belo / Miguel Pessoa)

Guiné 61/74 - P18300: Estórias do Juvenal Amado (59): Histórias com Pharmácias

Com a devida vénia a Visite São Pedro da Aldeia


1. Em mensagem de 2 de Fevereiro de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

58 - Histórias com Pharmácias

Na pintura da Crisal, onde ingressei com 14 anos, fui testemunha da ida e do regresso de trabalhadores que ora embarcavam ora chegavam ocupando o posto de trabalho que tinham deixado dois ou três anos para trás.
Assim tomei conhecimento com quem regressou de Angola, Moçambique, Guiné, etc. em várias alturas do conflito e era com deleite que ouvia contar as peripécias deles por terras africanas.
Era tudo longínquo, apaixonante, aventureiro e felizmente raramente trágico o que eles contavam.

Também vi ir o meu irmão mais velho, bem com os irmão mais velhos dos meus colegas de escola, que depois foram incorporados comigo e mobilizados na sua esmagadora maioria.

O Félix era irmão do Zé Cafézinho, que foi meu colega na 4.ª classe na escola do professor Pires e posteriormente meu camarada no RI6 no Porto, amizade sobre que escrevi já para aí em 2010 no blogue. O Félix era também um grande contador e estórias e tinha imensa graça quando juntava à volta dele os colegas da secção de pintura, que estavam na incubadora de ir bater com os costados em África como eu fui (alguns 7 e 8 anos depois). Dessas tertúlias ficou-me para sempre gravada uma história verdadeira, com mais graça por conhecermos todos os intervenientes, para além do nosso Félix.

A Crisal era o que se pode considerar uma grande família onde por vezes trabalhavam famílias inteiras e com a particularidade de namoros e celebração de muitos casamentos. Assim aconteceu a mim e à grande maioria de colegas da secção. Nas outras secções aconteceu o mesmo.

Quando ele regressou da Guiné, contou-me sobre a sua comissão lá e os costumes da população, estórias que depois revi pessoalmente, mas esta é uma estória de quando ele garoto foi aprender pintura na empresa.

O Félix era aprendiz de pintor na Crisal de Alcobaça e era natural o encarregado mandá-lo fazer pequenos recados, coisa que não desagradava ao jovem, uma vez que andar na rua era bem melhor do que estar na secção a repetir vezes sem fim os mesmos serviços.
Ora ia levar alguma coisa à esposa do encarregado, senhor João Neto, ou ia buscar o lanche para ele, enfim era aprendiz mais novo e por isso mais há mão de semear para esses pequenos serviços.

Um dia o chefe enviou-o à farmácia buscar uma caixa de preservativos da marca tal, que aliás ele já sabia de cor e salteado, uma vez que era useiro e vezeiro nesse recado.
Na nossa idade lembramos de como era difícil chegar à farmácia e pedir tal “equipamento”. Não era raro vermos homens de parte, assim como não quer a coisa, à espera do momento oportuno para pedir ao empregado ou mesmo dono do estabelecimento a famosa e milagrosa caixinha, que evitava inconvenientes ou males maiores nos relacionamento amorosos.

Ora o nosso herói chegou à farmácia onde era empregada uma senhora e era naturalmente de bom-tom evitar-se de pedir os “ditos” a ela, assim que a senhora via um homem assim de lado, arranjava alguma coisa que ir fazer lá dentro ao armazém, para que respectiva transacção fosse feita por colega longe dos seus olhares.
Mas do garoto nada disso havia a temer e à pergunta “o queres menino”, logo recebeu o pedido assim a frio:
- Quero uma caixa de preservativos da marca tal.

A empregada fez-se encarnada até às orelhas e logo retorquiu que não tinha lá nada disso, tentando desviar-se do incómodo. Mas o nosso Félix não era de deixar a coisa por metade e alargando um belo sorriso, pois sabia ele bem onde aquilo estava, disse prazenteiro apontando para a prateleira muito satisfeito por estar a prestar um serviço:
- Há, há, estão ali.

Pagou, pois já levava o dinheiro à conta e todo satisfeito, nem se apercebeu dos engulhos que tinha criado.

Hoje os tempos são outros e compram-se em qualquer farmácia ou supermercado sem constrangimentos de maior, mas o Félix, sem saber, fez a sua parte na transformação do tabu de então e na alteração dos comportamentos.

Depois de vir da Guiné, o Félix casou com uma colega da fábrica e também se fez à vida para a “estranja” que aqui a “coisa” era curta. Voltou já reformado, e a última vez que estive com ele, falámos da Guiné e do blogue a propósito do que eu tinha escrito sobre o seu falecido irmão “cafezinho”.

Também faleceu entretanto e só desejo que a terra lhe seja leve e que esteja em Paz

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (57): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

Guiné 61/74 - P18299: (In)citações (117): Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia, datado de Bissau, 1/2/2018 (António Graça de Abreu / PEN Club Português)

Bandeira da República da Guiné-Bissau
1. Através do nosso camarada e escritor, António Graça de Abreu, sócio efetivo (e membro dos corpos gerentes, para o triénio de 2015-2018) do PEN Club Português,  recebemos o pedido, por parte da direção daquela agremiação literária, de divulgação do Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia, datado de Bissau, 1 de fevereiro de 2018:

(...) A pedido dos nossos colegas da Guiné-Bissau, que estão em vias de constituir um Centro PEN, aqui enviamos um texto que eles nos pediram que divulgássemos por entre os nossos sócios. Evidentemente que a divulgação pode ser extensiva a outras pessoas, nomeadamente ligadas à comunicação social. (...)


Manifesto de Intelectuais Guineenses sem Filiação Partidária
pela Unidade Nacional, Estabilidade e Democracia

Nós, abaixo assinados, cidadãos e intelectuais guineenses, sem filiação partidária,
Vimos:

- Manifestar a nossa profunda preocupação face à degradação do ambiente social e político a que o povo da Guiné-Bissau tem sido submetido nos últimos anos, fruto da disputa político-partidária, protagonizada por uma classe política que não tem medido as consequências dos seus actos quando se trata da luta pelo acesso e conservação do poder;

- Manifestar a necessidade de se promover a paz social e consolidar a unidade nacional, através da estabilidade sociopolítica, do progresso socioeconómico e da defesa dos valores democráticos consagrados na Constituição da República da Guiné-Bissau;

- Trazer ao conhecimento público a percepção geral dos guineenses segundo a qual a Comunidade Internacional, particularmente as Nações Unidas, a União Africana e a CEDEAO, não têm feito, no quadro do seu mandato, o suficiente no sentido de se encontrar uma solução efectiva e duradoira à crise vigente na Guiné-Bissau.

Os legítimos anseios do nosso Povo a uma melhoria das suas condições de vida têm vindo a ser sucessivamente adiados. As cíclicas crises que têm caracterizado a nossa história recente, que em 1998 conduziram a uma guerra fratricida, têm tido um impacto extremamente negativo em todos os sectores da vida nacional, afectando sobremaneira os alicerces de uma das maiores conquistas da Luta de Libertação: a Unidade Nacional.

O ambiente de pobreza e de precariedade extrema – incluindo a intelectual e espiritual – de impunidade e de intimidação que se instalou no país conduziu, por sua vez, a uma conflitualidade crescente, criando feridas profundas na sociedade guineense.

Face aos recentes acontecimentos ocorridos no país, nós, como cidadãos e intelectuais cientes dos seus direitos e deveres, não desejamos a reabertura de tais feridas.

Neste contexto, rejeitando o reacender das hostilidades, e em defesa das conquistas democráticas obtidas e garantidas constitucionalmente,

- Manifestamos a nossa indignação perante os sucessivos atropelos dos direitos e violação das garantias e liberdades conquistadas, que têm sido perpetrados pelos detentores do poder político por intermédio da Polícia, e do poder judicial através dos Tribunais e do Ministério Público;

- Alertamos para uma nova forma de repressão que consiste na usurpação da liberdade de expressão e do direito à informação, censurando conteúdos nos órgãos de comunicação públicos e impedindo o debate livre de ideias num momento delicado da nossa democracia e em que o pensamento crítico e independente se torna uma necessidade imperiosa;

- Repudiamos vivamente a negação do direito de manifestação e de reunião, expresso, por exemplo, no acto deliberado de intimidação, reprovando o cerco à sede de um partido político legalmente constituído, acto inédito na história da nossa democracia;

- Exigimos o respeito das regras básicas que garantem a existência de um Estado de direito.
Enquanto cidadãos comprometidos com a Guiné-Bissau, crentes numa solução pacífica, justa e duradoira:

- Exortamos a Comunidade Internacional presente na Guiné-Bissau, em particular as Nações Unidas, União Africana e CEDEAO, a que apoiem a promoção e protecção de todos os direitos na Guiné-Bissau;

- Apelamos a todos os guineenses, no país e na diáspora, que nunca deixem de lutar pelos seus direitos e que continuem a acreditar que os ideais fundadores do nosso Estado ainda devem ser valores fundamentais da nossa luta pela liberdade e consolidação da democracia, paz e desenvolvimento durável.

Bissau, 1 de Fevereiro de 2018

Nome | Actividade 

Abdulai Sila | Engenheiro, Escritor
António S. Lopes (Tony Tcheka) | Jornalista, Poeta
Aladje Baldé | Biólogo, Prof. Universitário
Abdel-Aziz V. Cruz | Linguista, Escritor
Anaxore Casimiro |  Médico
Carlos Cardoso | Filósofo, Investigador
Carlos Lopes | Economista, Prof. Universitário
Cátia N. Neto | Jurista
Edson Incopté | Gestor de Projectos, Escritor
Fátima Candé | Linguista, Prof.ª Universitária
Helena N. Abrahamson | Jurista, Activista Direitos Humanos
Lassana Sanó | Sociólogo, Activista Ambiental
Miguel de Barros | Sociólogo, Investigador
Patricia G. Gomes | Historiadora, Prof.ª Universitária
Paula F. Cabral | Jornalista, Activista Social
Peter Mendy | Historiadora, Prof. Universitário
Raul M. Fernandes | Antropólogo, Prof. Universitário
Rita Ié | Socióloga, Activista Cívica
Welket Bungué | Actor
_________________

Guiné 61/74 - P18298: Parabéns a você (1388): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18289: Parabéns a você (1387): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18297: Da Suécia com saudade (56): por não ter existido anteriormente um único "luso-lapão", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico, e duvidando fortemente que outro venha a surgir, sinto-me obrigado a responder às vossas dúvidas sobre a Lapónia, os lapões... e o colonialismo sueco (José Belo)


S/d, s/l, sem legenda... Foi enviada pelo régulo da Tabanca da Lapónia, Joseph Belo, para os lapões, (Zé, simplesmente, para os amigos e camaradas da Guiné)... Não sabemos a quem atribuir os créditos fotográficos, dúvida que remetemos para o arquivo do José Belo... mas a verdade é que uma imagem vale mil palavras... Fica, entretanto, outra dúvida, se este é um dos "cães dos colonialistas"... suecos, ou se  é um dos "canitos" (lapões) que, corajosamente, enfrentou e afugentou a ursa (talvez russa, não se sabe...),  enquanto o Zé foi a correr a casa buscar a espingarda... Este foi, de resto,  um dos momentos dramáticos por que passou o nosso régulo luso-lapão, há uns meses atrás, e que originou um não menos (quase) épico soneto, assinado pelo nosso editor Luís Graça:

Infelizmente em Candoz os ursos foram extintos há mais de um século, pelo que eu nunca poderia sentir as emoções fortes do Zé Belo quando, lá na Lapónia, foi à pesca do salmão e deu de caras com uma ursa e duas crias... Valerem-lhe os seus nobres cães polares!...

Fico feliz por saber que a notícia da sua morte, comido por uma úrsula menor, foi um bocado exagerada... Mas fica o aviso e a lição: é preciso ter cuidados redobrados com os ursos e com o que se lê... na blogosfera.
 

Na ártica tundra do círculo polar
Vejo um temerário luso-lapão
Que, lesto, vai à pesca do salmão,
Não livre de um urso encontrar.

Não é urso, é ursa com seus filhotes,
Mas são os cães quem, com nobre coragem,
Salvam o dono de uma iminente carnagem,
O nosso Zé Belo, o último dos Dons Quixotes.

Sem pinga de sangue azul, instintivo,
Corre a casa, saca lá da G3,
E diz aos seus cães em tom efusivo:

"Amigos, hoje há rancho melhorado,
Falo com o meu coração português
Que pulsa sob este corpo assuecado." (*)



1. Em dia de anos, a 4 do corrente,  escrevi ao Joseph Belo o seguinte (**):

Zé Belo: que Deus, Alá e os bons irãs da nossa Tabanca Grande te continuem a proteger dos rigores do círculo polar ártico, das mudanças climatéricas, dos espirros e dos esbirros do Putin e do Trump, enfim, da peste, da fome e da guerra... e do bispo da nossa terra.

Olha, podes não acreditar, mas temos saudades tuas e das tuas renas... Bebo um vodca à tua, à nossa! À vida, à saúde, ao futuro e à amizade luso-lapónica!...
Luís Graça

PS - Zé, assalta-me um dúvida, logo no dia dos teus anos... Escrevi: "Bebo um vodca à tua, à nossa! À vida, à saúde, ao futuro e à amizade luso-lapónica!"...

Tu és o representante máximo dessa amizade, mais do que isso,  o embaixador dos "lapões" (povo sami...) na pátria lusa, mesmo que não te paguem o frete...

Mas eu pergunto: pode-se dizer "amizade luso-lapónica"? (Lapónia, lapónico, por analogia com Japão, japónico, embora a gente use mais o adjetivo "nipónico": amizade luso-nipónica... Não sei qual é o feminino de "lapão"... E o dicionário não me ajuda... Corrige-me lá tu... Entretanto, vou perguntar ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa...


Joseph Belo
2. Resposta do régulo da Lapónia (que só se representa a ele próprio, mas tudo somado são duas Nações, dois povos, duas culturas... ou se calhar três, já que ele é também cidadão sueco...) no dia 5 do corrente:

Colocaste no blogue algumas perguntas quanto a alguma "nomenclatura" lapónica.

Por saber não ter existido anteriormente um único "lusitano-lapäo", sobrevivendo quatro décadas no Círculo Polar Ártico e duvidando fortemente que outro venha a surgir... sinto-me mais do que "obrigado" a responder em futuro, e mais detalhadamente, por e-mail.

[Foto acima à direita: José Belo, ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive na Suécia há 4 décadas, e onde formou família: reparte o seu tempo entre a Suécia, a Lapónia Sueca e os EUA, onde família tem negócios; tem cerca de 125 referências no nosso blogue]


3. Mail do dia 6, enviado pelo Joseph Belo (Zé, para os amigos e camaradas) e que eu interpreto como um sinal de  boa vontade,  a de querer "retomar" a sua série "Da Suécia com saudade", interrompida (ou dada mesmo por finda) em outubro de 2015] (***)

Data: 6 de fevereiro de 2018 às 02:36
Assunto: Colonialismo(s)

Como os "santos da casa não fazem milagres", a exploração colonial sueca na Lapónia, desde há muitos séculos, era acompanhada nos recentes anos sessenta (!) pelos contínuos votos anticolonialistas da delegação sueca nas Nações Unidas.

Eu diria, dentro de uma perspectiva humanista... ainda bem!

Só que, moral para o fazer (como muito gostavam de demonstrar),  talvez o tivessem unicamente  fora de fronteiras.

A julgares haver interesse em publicá-los num blogue sobre a Guiné, posso enviar-te alguns dados históricos que referem factos pouco conhecidos, e ventilados, tanto para a maioria dos suecos, hoje pouco interessados "nestas coisas", como para a quase totalidade dos que olham a sociedade sueca desde fora.

Um abraço.


4.  Resposta do nosso editor LG:

Pois é, Joseph, és um exemplar único de uma espécie que, se calhar, morre contigo... Não conheço mais nenhum luso-lapão... Obrigado pela foto do teu "canito" (como se diz no Alentejo)... 

Fico então a aguardar a douta lição sobre a arte lusitana de (sobre)viver na Lapónia e tudo o mais que queiras partilhar connosco... Espero bem que tenhas tido um dia de aniversário com doces lembranças e muito carinho dos teus filhos e amigos... 

Somos 'aquarianos', não é por acaso... Fiz a 29 de janeiro.
Alfabravo.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de julho 2017 > Guiné 61/74 - P17572: Manuscrito(s) (Luís Graça) (120): A notícia da morte do Zé Belo, comido por uma úrsula menor quando ia à pesca do salmão lá na Lapónia... foi um bocado exagerada!

(**) Vd. poste de 4 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18282: Parabéns a você (1386): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

(***) Último poste da série > 20 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15270: Da Suécia com saudade (55): Despedida do blogue, dos editores e de todos os de mais camaradas... Afinal, também há 4 décadas saí do nosso querido Portugal sem bilhete de ida e volta... Os amigos terão sempre uma "casa portuguesa" ao dispor, na Lapónia sueca, em Estocolmo, ou em Key West, Flórida, EUA (José Belo)