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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26050: E as nossas palmas vão para... (25): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, de Viseu, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)...Pela sua pronta e generosa colaboração na cedência de imagens do T/T Niassa



Viseu > 2014  > A Jessica Nascimento, que vive em Viseu, é neta do Luís Nascimento (ex-1.º Cabo Cripto na CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71) e sua "secretária particular" (é ela que nos manda, através do seu email, a correspondência do avô).  Ela tem muito orgulho em dizer que é, naturalmente, a "a melhor neta do mundo"...Avô e neta são dois membros da Tabanca Grande,o que é caso raro... 

Foto (e legenda): © Jessica Nascimento (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tudo começou, em meados de agosto passado, com um pedido da investigadora Maria José Lobo Antunes (ICS-ULisboa):

terça, 20/08/2024, 15:12

Caro Luis Graça,

Espero-o bem.

Sou investigadora da Universidade de Lisboa e faço parte da equipa da Confederação, colectivo de investigação teatral do Porto, que está a trabalhar no projecto Memoratório... Miragaia foi à guerra. Em pesquisas no vosso blogue, deparámo-nos com esta fotografia do navio Niassa e gostariamos de saber se vos é possível ceder-nos uma digitalização de boa qualidade.

Muito obrigada pela vossa ajuda.

Cumprimentos, Maria José Lobo Antunes

ICS-ULisboa
últimas publicações | latest publications Ninguém faz a guerra sozinho, Topoi (Rio J.) 2023 | Curating the Past, Photography in Portuguese Colonial Africa, 2023 | Instantes da guerra, Mensário do AHS, 2023| A crack in everything, History and Anthropology 2022.



2. Resposta do nosso editor Luís Graça:

22/08/2024, 10:47

Olá, Maria José... (Devemos ter-nos encontrado na Escola Nacional de Saúde Pública, há muitos anos, não ?!)

Quanto ao seu pedido... Temos mais de 60 referências ao N/M Niassa, um ícone da guerra colonial...(também fui nele para a Guiné, em 24 de maio de 1969, eu e mais 1700 militares, entre eles o futuro dirigente do PCP, o Jerónimo de Sousa)... Vou ver se lhe arranjo duas ou três boas fotos...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/11/guine-6174-p20365-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/11/guine-6174-p22722-nossa-guerra-em.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/12/guine-6374-p10864-efemerides-114-22-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/02/guin-6374-p2533-o-cruzeiro-das-nossas.html

... Mas, se calhar, a melhor foto ainda é deste sítio sobre antigos navios da marinha mercantes:

https://www.geocities.ws/naviosvelhos/niassa.jpg


Boa saúde, bom trabalho, Luís Graça



3. Resposta da investigadora:

2 set 2024, 11:54

(...) Muito obrigada pela sua pronta resposta e desculpe a demora na minha reacção, mas estive de férias.

É verdade, cruzámo-nos na Escola Superior de Saúde Pública, provavelmente em 2003 :-)

Para os filmes nos quais estamos a trabalhar, interessar-nos-iam fotografias que mostrem o navio com soldados.

Acha que será possível obter cópias digitaliizadas de boa qualidade das fotos 1 e 2 desta página e a 2ª foto desta página?

Obrigada e um abraço, Maria José

4. Esclarecimento posterior de Luís Graça:

27 set 2024, 16:43

Maria José: logo por azar essa foto é uma reprodução de uma outra, de má qualidade, numa brochura fotocopiada, "Histórias da CCAÇ 2533"... 

Tente entrar em contacto com a Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, o editor do livro, que vive em Viseu... A Jéssica pode agora viver fora de Viseu, na altura era estudante. Há anos que não contacto com ela (o avô não tinha email quando entrou para o blogue, ela é que é/era o elemento de contacto). Dou-lhe conhecimento desta mensagem. Ela se puder, ajuda-nos. (...)


5. A Jéssica Nascimento, respondeu-nos logo de imediato, às 22:23:



(...) Olá, boa noite! Espero que se encontrem bem.

Amanhã com mais calma vou ver se consigo arranjar a foto. Obrigada! (...)



6. No dia seguinte, 28, às 9:49, respondi à Jéssica Nascimento, que é membro da nossa Tabanca Grande desde 29/10/2014:


Obrigado, minha querida. Um xicoração para ti, um alfabravo para o avô. Luís Graça.


7. E logo nesse dia, às 14:20, a Jessica responde, mandando-nos as imagens pretendidas:

(...) Juntamente com o meu avô, conseguimos encontrar a foto no livro Histórias da C.CAÇ. 2533. A qualidade não é a melhor, mas espero que ajude. (...)



8. Abreviando a troca de emails (ao todo são 21 os emails trocados...), um elemento da equipa da Confederação, o Miguel Ramos, entrou em contacto com a Jéssica, neta do nosso camarada Luís Nascimento (foto à esquerda)":

30 set 2024, 09:30

Olá, Jéssica.

Daqui o Miguel (faço parte da equipa do "Miragaia foi à Guerra").

Antes do mais, muito obrigado pelo cuidado.

Como está a fazer com estas imagens? Está a digitalizar as mesmas ou a fotografar? Pergunto isso, pois, a qualidade está bem melhor do que a que tinhamos, mas nos parece que fotografou e não digitalizou. Estou certo?

Caso isso lhe seja complicado, nós podemos tentar encontrar o livro e digitalizar as imagens.

Lhe deixo [AQUI] link para anteriores Memoratórios nossos, para que melhor entenda a nossa necessidade de boas digitalizações.

Muito grato por todo o seu cuidado. Miguel Ramos

CONFEDERAÇÃO

Morada Rua de Costa Cabral, nº 120, 4200-208 Porto, PORTUGAL
Site http://www.confederacao.pt
Facebook facebook.com/confederacao.pt | Youtube (Click aqui) | VIMEO (click aqui)





Fotos do T/T Niassa, digitalizadas pelo Miguel Ramos / Confederação, com base no livro "Histórias da CCAÇ 2533" (ed. autor, s/l, s/d)



Capa da brochura "Histórias da CCAÇ 2533, ed. de autor, s/l, s/d, elaborada sob a coordenação de Joaquim Lessa, ex-1º cabo quarteleiro, e impressa na tipografia Lessa (Maia); esta publicação é uma obra coletiva, feita com participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

Como tantas outras publicacões, esta brochura faz parte da "literatura cinzenta da guerra colonial" (que não chega, infelizmente, à Biblioteca Nacional de Portugal, nem à PORBASE - Base de Dados Bibliográficos Nacionais):  um exemplar em papel e em formato digital, chegou-nos às mãos através do empenho do Luís Nascimento.  

Com a autorização do editor e autores demos a conhecer aos nossos leitores as andanças do pessoal da CCAÇ 2533 (Canjambari e Fararim, 1969/71)... Recordo que a minha CCÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12), e a CCAÇ 2533, do Nascimento e do Lessa, viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, tendo nós regressámos juntos, a 17 de março de 1971, no T/T Uíga, uma incrível coincidência!... (LG)

9.  Sempre amável e prestável, a Jéssica sugeriu ao Miguel Ramos o empréstimo  do livro para efeitos de digitalização:

30 set 2024, 21:07:

Boa noite Sr. Miguel.

Prefere que lhe envie o livro para a morada em baixo indicada? Talvez seja mais útil. Quando não precisar mais, envia para a minha morada. (...)


10. E assim aconteceu: a Jéssica cedeu o livro, em papel, "Histórias da CCAÇ 2533" (que não existe na Biblioteca Nacional...) e foram feitas as devidas digitalizações:

3 out 2024, 11:32

Bom dia,  cara Jéssica.

Livro recebido e digitalizado.
Partilho abaixo as fotografias:

FOTO 1 [AQUI]
FOTO 2 [AQUI]
FOTO 3 [AQUI]

Hoje mesmo o livro regressa a Viseu com um pequeno souvenir:)

Quando chegar nos avise sff.

PS: estamos em contactos com Viseu, a tentar levar aí o Caderno e as Photo-conversa em 2025.

Abraço nosso desde o Porto, Miguel Ramos (...)
11.  Da nossa parte, podemos dizer que levámos a "carta a Garcia"...
Temos consciência de que o nosso blogue é (ou pode e deve ser também) fonte de informação e conhecimento, prestando, de algum modo, um "serviço público" a todos os antigos combatentes, mas igualmente a todos/as aqueles/as que se interessam pelo estudo da guerra do ultramar / guerra colonial. 
Na medida dos nossos escassos recursos humanos,  financeiros e técnicos (o blogue é uma iniciativa "pro bono", e vive da carolice de alguns de nós),  vamos dando resposta aos pedidos que nos chegam, desde produtores de cinema e televisão a jornalistas, de doutorandos e mestrandos  e demais investigadores (em ciências sociais e humanas) a familiares de antigos combatentes, etc.
A nossa Jéssica Nascimento (e, por tabela, o seu avô) merece as nossas palmas pela forma célere e generosa  como respondeu ao nosso pedido.
Daremos oportunanente notícia do evento “Memoratório… Miragaia foi à Guerra” – Confederação & Maria José Lobo Antunes, a realizar no Porto:
  • Data: Sábado, 4 de novembro de 2024
  • Horário: 17:00
  • Local: Auditório do Grupo Musical de Miragaia
  • Endereço: R. da Arménia, 10-18, Porto
  • Entrada: Gratuito
________
Notas do editor:
Último poste da série > 5 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25037: E as nossas palmas vão para... (24): Nuno Rubim (1938-2023), autor do Diorama de Guileje, uma pequena obra-prima, que levou dois anos de trabalho, paixão, rigor... Foi oferecido, em 2008, ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25977: (In)citações (263): Eduardo Estrela, espero poder dar-te um abraço, ao vivo, com um atraso de 55 anos (!), na próxima quinta feira, em Algés, no 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha (Luís Graça, editor)

1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, Vila Real de Santo António; membro da Tabanca Grande desde 29/2/2012;


Data - quarta, 18/09/2024 14:29 
 
Assunto - Afastados e tão próximos (*)

Luís!!

Há 55 anos, uns mal encarados indivíduos inscreveram-nos numa viagem para a qual não nos tínhamos voluntariado.

Durante o tempo da mesma fomos companheiros de mais de mil jovens portugueses lançados para a defesa da pátria e do império, tendo a casa Gouveia como seu representante local. 

Quantas vezes nos teremos cruzado no Niassa, no bar ou na sala de jantar. Quantas vezes teremos assistido à trágica e criminosa forma de transportar pessoas amontoadas como bichos nos porões do navio. 

Antes já tinhamos sido contemporâneos no CISMI em Tavira, durante o quarto trimestre de 1968.

Não obstante, não nos conhecemos pessoalmente.

Na Guiné reforçámos a nossa revolta perante uma situação absolutamente irracional e que continuava a contribuir para aumentar a perda de vidas e de estropiados.

Fomos capazes de regressar, com o beneplácito dos bons irãs e da fé que transportamos connosco duma forma ou outra.

Deixámos dois dos nossos melhores anos de juventude nos tarrafes e bolanhas da Guiné. Ainda hoje há mosquitos descendentes dos que nos golpearam.
 
Sofremos, lutámos, embebedámo-nos com álcool e com companheirismo.

No blogue que,  em hora de felicidade criaste,  é possível o reencontro. É possível falar, é possível trocar ideias contrárias e é possível aumentar a carga emocional de amor pela terra vermelha e pelas gentes que lá vivem e que trazemos no coração.

Bem hajas.
Um dia destes vamos poder dar um abraço fraterno.

Eduardo Estrela





N/M Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979. Dados técnicos:  (i) comprimento: mais de 151 metros; (ii) arqueação bruta: c. 10.742 toneladas; (ii) potência: 6.800 cavalos ;  (iv) velocidade normal: 16,2 nós; (v) alojamentos:  22 em 1ª classe, 300 em classe turistica, no total de 322 passageiros; (vi)  nº de tripulantes: 132;  (vii) armador; Companhia Nacional de Navegação - Lisboa. 

Tendo embarcado no Niassa a 24 de maio de 1069, a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), juntamente com outras Companhias independentes como a 2591 e 2592 [futuras CCAÇ 13 e 14], chegou ao CTIG em 29, pelas 21h00, tendo desembarcado em Bissau no dia seguinte de manhã.





Lista (ainda) provisória dos 71 inscritos no 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 5ª feira, dia 26 de setembro de 2024 (**). Quatro deles pelo menos (António F. Marques, Eduardo Estrela, Humberto Reis e Luís Graça) partiram do Cais da Rocha Conde d' Óbidos, para o CTIG, no mesmo dia e no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969.


2. Comentário do LG:

Eduardo,  estivemos juntos em Tavira, no 4º trimestre de 1968,  e partimos para a Guiné, no mesmo navio, o T/T Niassa, em 24/5/1969, tu integrado na CCAÇ 2592 e eu na CCAÇ 2590... 

No meio de 1735 homens, entre oficiais, sargentos e praças, não deu para  nos conhecermo-nos pessoalmente; foi afinal o blogue que nos aproximou... Espero poder dar-te  um abraço, ao vivo, com o atraso de 55 anos!... A ti, e aos demais passageiros desse "cruzeiro inesquecível", que vão estar connoso (o António F. Marques  e o Humberto Reis)... Até 5ª feira, em Algés, na Magnífica Tabanca da Linha (**)
_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25974: (In)citações (262): "No dia em que deixarmos de sonhar, mandem-nos flores brancas!" (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16 - Mansoa, 1964/66)

(**) Vd. poste de 22 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25965: Convívios (1006): 57º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 5ª feira, 26 de setembro de 2024: 60 inscritos até hoje

domingo, 7 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25722: Facebook...ando (60): Fotos do A. Marques Lopes (1944-2024): viagem no T/T Niassa, e chegada a BIssau, em maio de 1968, para a segunda parte da comissão, (CCÇ 3, Barro, 1968/69)

 

 
Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Ponte-cais > Maio de 1968 > A. Marques Lopes e outros alferes milicianos qie vieram, em rendição individual,  da metrópole no T/T "Niassa" (ao largo, na foto).



Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Ponte-cais > Maio de 1968 >  Em primeiro plano, o draga-minas NRP  "Faial" (?)  e,  fundeado no estuário do Geba,  o N/M "Niassa"


Foto nº 3 > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 >  O A. Marques Lopes, acabado de chegar no N/M "Niassa"; ao fundo, o porto de Bissau, a ponte-cais (*).



Foto nº 4 > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 > N/M Niassa > Transbordo de tropas, em LDM (1)


Foto nº 4A > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 > N/M Niassa > Transbordo de tropas, em LDM (2)


Foto nº 5 > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 > Final da Av da República (hoje, Av Amílcar Cabral). A estátua que se vê , era a de Nuno Tristão (de costas para o rio Geba e instalações portuárias, e ao fundo o N/M "Niassa"), erigida por ocasião do 5º centenário do seu desembarque em terras da Guiné (1446).
(Não confumdir com estátua de Diogo Gomes, que estava na praça com o mesmo nome, entre  a fortaleza da Amura  e a ponte-cais.) (*)



Foto nº 6 > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 > O A. Marques Lopes no "jardim ao pé do porto de Bissau"


Foto nº 7 > Guiné > Bissau >  > Maio de 1968 > Forte da Amura (1)


Foto nº 8 > Guiné > Bissau >  Maio de 1968  > Forte da Amura (2): o A. Marques Lopes, à civil


 
Foto nº 9 > Guiné > Bissau >  Maio de 1968  > Cais do Pidjiguiti... Ao fundo, do lado direito, o ilhéu de Rei


Foto nº 10 > Guiné > Bissau >  Maio de 1968  > Arredores da cidade: o A. Marque Lopes à civil... "Calmamente", acrescenta ele, na legenda.


Foto nº 11 > Guiné > Bissau >  Maio de 1968  > Arredores da cidade... Ao fundo, descortina-se a catedral de Bissau, na Av da República (que vinha da Praça do Império até ao rio).



Foto nº 12 >  Lisboa- Guiné  >  A bordo do N/M "Niassa" > Maio de 1968  > Um grupo de oficiais milicianos, entre eles o A. Marques Lopes (o segundo à direita)



Foto nº  12A > Lisboa- Guiné  >  A bordo do N/M "Niassa" > Maio de 1968  >  Um grupo de oficiais milicianos acabados de chegar (pormenor). UM deles parece ser capitão, e mais velho (o primeiro da direita)


Foto nº  12B >   Lisboa-Guiné > A bordo do T/T "Niassa" > Maio de 1968  >  Um grupo de oficiais acabados de chegar (pormenor)


Grupo de oficiais que viajaram com o A. Marques Lopes (o segundo a contar da direita, de óculos escuros e um livro debaixo do braço).  Entre eles o Almodôvar (o quarto a partir da direita), amigo do Torcato Mendonça e do Paulo Raposo (**). O Marques Lopes regressava do Hospital Militar Principal, em Lisboa. Depois de ter estado, em Geba, em 1967, na CART 1690, onde foi ferido, acabou o resto da sua comissão em Barro, na CCAÇ 3.

 Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Agora que o nosso amigo e camarada A. Marques Lopes (Lisboa, 1944-Matosinhos, 2024) nos deixou para a "derradeira viagem" (a que não tem retorno: "adeus, mas não há regresso!"..., terão sido as suas últimas palavras!), deu-nos uma saudade imensa, e fomos "revisitar" a sua página no Facebook (***)...

E antes que essa página desapareça,  fizemos uma seleção das fotos do seu álbum: em princípio, as que reproduzimos serão todas de maio de 1968, quando ele voltou à Guiné, pela segunda vez, para ser colocado na CCAÇ 3 (Barro, 1968/69), ainda mal recuperado de uma grave ferimento com uma mina A/C. Será na região do região do Cacheu que ele acabará a sua comissão.

Regressará a Lisboa, no N/M "Uìge", em março de 1969 (****)

PS - Não temos a certeza se as fotos são todas da mesma época, maio de 1968 (nomeadamente, as nº  7, 8, 9, 10 e 11)


(****) Vd. poste de 23 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15401: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (4): No regresso a Lisboa, em março de 1969, no N/M Uíge: 1246 passageiros, distribuídos pela 1ª (n=57), 2ª (n=133) e 3ª classes (n=1056)

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25406: Em busca de... (324): António Gameiro, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2884 (Pelundo, 1969/71) (Manuel Resende, ex-alf mil, CCAÇ 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)



T/T Niassa >Maio de 1969  A caminho da Guiné > Região do Cacheu >
BCaç 2884 >  O capelão António Gameiro celebrando missa a bordo.


Guiné > Região do Cacheu > Jolmete > CCaç 2585/BCaç 2884 > O capelão António Gameiro, celebrando a missa.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1,  Mensagem de Manuel Resende (ex-alf mil, CCaç 2585/BCaç 2884  Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto,  1969/71); régulo da Tabanca da Linha;

 
Data . segunda, 15/04/2024 , 22:44 
 
Assunto -  Identificação de pessoas

Caro amigão Luis:

Publicaste hoje na tua grandiosa página do Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné um assunto que li e reli. Falas do Capelão do BCAÇ 2885, o Sr. Padre José Torres Neves.(*)

Acontece que eu ando procurando há já muito tempo o meu capelão, o Padre António Gameiro.

Viajámos todos, o BCAÇ 2884 (o meu) e o BCAÇ 2885 no mesmo dia e no mesmo Barco.

Hoje estive a ler os ocupantes do Uíge no nosso regresso em fins de fevereiro de 1971 e consta dois Capelães: o Neves e o Gameiro.

Tenho procurado incessantemente pelo P. Gameiro. Já fui ao Seminário da Consolata em Fátima e não ha rastos dele.

Será que este camarada dele, o José Torres Nves, pois foram e vieram juntos,  saberá algo dele?
Num convívio disseram-me que tinha deixado de ser padre, não sei se é verdade. Mas gostava de saber dele.(**)

Será que o Padre Neves pode dizer algo? Não tenho contactos. Tenho algumas fotos dele, se for necessário.
Abraço
Manuel Resende


2. Resposta do nosso editor LG:

quarta, 17/04/2024, 09:06
 

Obrigado, Manel, não há dúvida que o António Gameiro esteve na Guiné como capelão. É nº 56 da lista de todos os capelães que passaram pelo CTIG. E o José Torres Neves é o nº 57. UM e outro foram e vieram na mesma dta  (vd.  poste P16636 (***)
 



O dr. Ernestino Caniço, nosso camarada e grande amigo do Zé Torres Neves (que está em África, já com , pode dar-nos uma ajuda. Vou reencaminhar para ele a tua mensagem. Mas, para já sugiro que façamos um poste com o teu pedido e uma foto dele, António Gameiro.

Fica bem. E até a um próximo reencontro na Tabanca da Linha. Luís


3. Rsposta do Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fez 1971, hoje médico, a residir em Tomar) ), esta manhã, às 8:36:


Caros amigos, votos de ótima saúde.

Já enviei uma msg ao Padre Zé Neves (que está numa missão em África) solicitando alguma informação sobre o assunto.

Não tenho grande fé na resposta pois o Padre Neves não me tem respondido, não sei se pelo isolamento ou pela idade.

Se tiver alguma informação voltarei ao contacto.
Um abraço, Ernestino

4. Resposta do Manuel Resende, na volta do correio, às 16:12

Junto duas fotos que tenho do Sr. Padre (Capelão) António Gameiro.

Uma é no T/T Niassa que nos levou para a Guiné em 7 de Maio de 1969.

Outra tirada em Jolmete, numa das visitas que ele nos fez ainda em 1969. Ele estava no Pelundo com o Batalhão, tal como o médico Dr. Calado, e visitavam as Companhias.

Estou a tentar obter mais fotos dele, já comecei, mas ontem foi-me confirmado que ele abandonou o sacerdócio. Já tinha ouvido essa versão. Aguardemos por algo mais concreto.

Abraço aos amigos Luis e Caniço.
Manuel Resende

domingo, 14 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25383: No dia 25 de Abril eu estava em... (28): A viver na Bobadela, a trabalhar em Setúbal... Meti dispensa de serviço depois do almoço e fui a correr até ao Carmo, ainda a tempo de ver a saída da chaimite com o deposto Marcelo... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms, TSF, Piche e Bissau, nov 70/ nov 72)

Hélder Valério : ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, nov 70/nov 72;  ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), engenheiro técnico electrotécnico: consultor na área da higiene e segurança no trabalho;  vive em Setúbal; membro da Tabanca Grande de 11 de abril de 2007; tem 200 referências no nosso blogue; nosso colaborador permanente, é provedor do leitor...

1. Passaram 50 anos do 25 de Abril de 1974... O Movimento dos Capitães começou na Guiné. Clandestinamente. 

Poucos de nós se aperceberam de que estava em marcha um golpe de Estado que iria derrubar um regime velho e caduco de quase meio século (nascido, também, ele, de um golpe de Estado, em 28 de Maio de 1926). 

Poucos de nós suspeitavam ainda,  no início de 1974,  que o fim da guerra se aproximava. Alguns de nós estavam lá, na Guiné, Angola, Moçambique;  outros já estavam cá, ainda na tropa, à espera de lá bater com os quatro costados; uma parte, dos que regressaram, tinha escolhido os duros caminhos da emigração, e nomeadamente para a França, mas também para os EUA e o Canadá (no caso dos nossos camaradas das "ilhas adjacentes da Madeira e Açores"...) para melhorar o seu futuro e o bem-estar da sua família... Mas a grande maioria, que  já estava na "peluda", tratava da vidinha, no ramerrame do costume... 

Havia gente que protestava e até lutava (em organizações clandestinas) contra o regime e a guerra. No dia 9 de abril de 1974, por exemplo, o nosso velho conhecido N/M Niassa, que transportava tropas para a Guiné, foi alvo de um atentado à bomba, felizmente sem vítimas pessoais: o embarque foi atrasado, o navio sofreu estragos materiais, quando se preparava para partir...


Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambujeira e Serra do Calvo aos seus combatentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013, numa iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira e Serra do Calvo.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-se], / Que eu hei-de regressar"...  Infelizmente, nem todos regressaram.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís
 Graça & Camaradas da Guiné]




Recorte da primeira página do "Diário de Lisboa", 
edição de quarta-feira, 10 de abril de 1974,
nº 18424, Ano 54º;  diretor: A. Ruella Ramos.


2. Desde 27 de abril de 2007 que temos vindo aqui a recolher respostas à sacramental pergunta do jornalista e escritor Baptista-Bastos (1937-2017): "Camarada (ou amigo/a), onde é que tu estavas no 25 de Abril de 1974 ?"... 

Temos três dezenas de testemunhos, o que é pouco (*).  O Hélder Sousa já cá estava, tinha regressado em novembro de 1972 da Guiné... Trabalhava na Sapec, em Setúbal. Conta-nos como foi esse dia na sua vida...


Estava a viver na Bobadela, a trabalhar em Setúbal... Meti dispensa de serviço depois do almoço e fui a correr até ao Carmo, ainda a tempo de ver a  saída da chaimite com o deposto Marcelo...

por Hélder Sousa

Olá, venho aqui "à antena" para dar também algum testemunho, principalmente impulsionado pelo que escreveu o Eduardo Estrela quanto a essa coisa de "comissão liquidatária". (**)

Quando acabei a minha comissão, na primeira quinzena de Novembro de 1972, ao despedir-me do meu substituto na função, munido duma fé qualquer que não sei explicar, disse-lhe mais ou menos isto: 

- É, pá, estou muito contente por me ir embora, só tenho pena é que tenhas vindo para a liquidatária e eu não esteja aí nesse momento, pois um ou dois desses gravadores ainda haveriam de ser para mim"... 

E realmente ele veio para a "liquidatária", já que o 25 de Abril apanhou-o com ano e meio de comissão.

Quanto aos momentos do glorioso dia de 25 de Abril de 1974,  fui vivendo de formas diferentes. 

À data estava a viver na Bobadela e a trabalhar em Setúbal.

Apanhei o comboio cedo e fui até Santa Apolónia. Naturalmente que dali até ao Terreiro do Paço apercebi-me e vi o que se estava a passar. Por essa ocasião, e por algumas coisas que ia sabendo, intuí o que eram e quem eram as tropas que estavam no terreno, mas não dava ainda para saber qual seria o desfecho.

Era cedo, apanhei o barco para Cacilhas, tomei depois a camioneta para Setúbal e, aqui chegado, apanhei outro transporte para a Sapec onde tinha começado a trabalhar em Fevereiro.

Entretanto, pelo caminho encontrei um camarada que esteve no meu pelotão de instrução em Santarém, na EPC,  e que ia trabalhar para a Setenave e dei-lhe conta do que entendi do que se passava.

Naturalmente, os acontecimentos eram a motivação de todas as atenções e assim, a seguir ao almoço, meti dispensa de serviço e vim para Lisboa a tempo de estar no Largo do Carmo aquando da saída da chaimite com o deposto Marcelo.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25374: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XV: as ondas hertzianas também chegavam a Nhala, Gadamael, Pirada, Canquelifá...

1. O nosso camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71) escreveu em comentário ao poste P25364 (*):


(..:) "Não vivi o 25 de Abril de 1974 na Guiné, mas lembro-me bem de a bordo do Niassa, depois de termos zarpado de Lisboa em 24 de maio de 1969, alguém ter dito em surdina que éramos nós que íamos fazer a comissão liquidatária da Guiné.

Infelizmente não foi assim e muitos outros ainda foram enviados para o matadouro. Mas por este pormaior se pode ver a enorme vontade que já havia em acabar com uma guerra que nunca devia ter começado." (...)

Pois é, Eduardo, fomos juntos no T/T Niassa, que ainda muitas viagens teve que fazer, levando e trazendo tropa, armas e bagagens... No dia 9 de abril de1974, já não partiu do Cais da Rocha Conde Óbidos: foi vítima de bomba, num atentado atribuido às Brigadas Revolucionárias. Ninguém soube, ou muita pouca gente... A censura continuava de lápís azul na mão...

Em Bissau, também se conspirava há muito... O gen Bettencourt Rodrigues parece que foi o último a saber, na madrugad de 26 de Abril de 1974 (*).

Continuamos a publicar mais alguns singelos testemunhos de camaradas nossos que lá estavam, no CTIG, cumprindo o seu dever... E que foram apanhados, como todos nós, aui na metrópole,mpelas notícias que rapidamente se propagaram pelas ondas hertzianas...


António Murta, ex-alf mil, 2ª CCaç / BCaç  4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

 (...) «25 de Abril de 1974 – Estava no mato a uns quilómetros de Nhala. Eram umas 3 ou 4 horas da tarde quando chegou numa Berliet um furriel “periquito”  com uma escolta, aos berros,  para que regressássemos porque a guerra ia acabar. Na Metrópole tinha havido uma revolução! 

Fiquei doido. O pessoal do meu grupo parece que não percebeu muito bem a notícia. Mas subiram alegres para a viatura. Eu e o furriel “periquito”, sentados nos guarda-lamas da Berliet, à frente, berrávamos para o ar e agitávamos as espingardas. Os soldados riam-se e faziam barulho. Pergunto ao furriel por mais pormenores e ele:
— Não se sabe mais nada. Houve uma revolução em Lisboa e prenderam os Pides. Não se sabe mais nada.

“...e prenderam os Pides”. O meu coração quase rebentava. A comoção perturbava-me. Chegámos ao quartel e estava tudo na maior confusão, agarrados aos rádios, mas pouco se adiantava. Quis ver e interpretar as caras das pessoas, ver as suas reacções e, de facto, elas eram diferentes, embora a generalidade estivesse radiante. Ainda era cedo para as pessoas se definirem e manifestarem, quer pela sua despolitização, quer pela incerteza dos pormenores dos acontecimentos».

A desinformação era tal, que os acontecimentos só me mereceriam nova referência em 5 de Maio, onde dou conta de ocorrências graves em Bissau: rebentamentos nas ruas, perseguições a Pides e, até, a agressão à esposa de um deles, frente ao Mercado de Bissau, em que a senhora foi completamente despida. A tropa interveio e impediu coisas certamente mais graves. Eram os rumores que iam chegando. (...) (**)

C. Martins,ex-cmdt., 15º Pel Art (Gadamael, 1972/74)


(...) Bem,eu estava em Gadamael,e após fazer a minha ronda higiénica,  liguei o rádio em onda curta e percorri as ondas do "éter"..."rádio Habana, Cuba, território libre in America", nada; "rádio Moscovo", nada; "Deutchsvella", nada: "rádio Globo", nada.."BBC.. golpe militar em Portugal, general Spinola, coiso e tal"... O  quê ?... Porra,.finalmente!...

Contactei o Sr. comandante H. Patrício, dizendo-lhe que estava a decorrer um golpe militar,e este pergunta se era o nosso General Spínola que estava à frente... E eu..claro que é.. (eram 7 da manhã e eu não fazia a mais pequena ideia)... Ah, sendo assim eu alinho...Boa.

Não houve a flagelação da ordem, já não saiu uma companhia para o mato  e o resto continuou tudo como dantes... Apenas troca intensa de mensagens com Bissau, que pouco ou nada sabiam,ou não queriam dizer.

Foi assim o meu 25A.(***)

Carlos Ferreira, ex-fur mil at cav,  3ª CCav/BCav 8323 (Pirada, set73/set74)

Um dia inesquecível, para mim. Estava em Pirada, em uniforme nº. 2, pronto para embarcar numa aeronave, com destino a Bissau, via Lisboa, para gozar as minhas férias disciplinares. Nesse interim, fomos atacados pelo IN, com um potencial de fogo muito superior ao do ataque que tivemos em Março.

Saltei para a vala mais próxima e aguardei que acabasse a flagelação. Não houve vítimas militares, mas pereceram, creio que 8 senegaleses, que se encontravm ao balcão, de uma loja, de um comerciante local. (***)

Joaquim Vicente da Silva, ex- 1º cabo at cav, 3ª/BCav 8323 (Pirada, set1973/set1974

(...) Vou contar a história do violento ataque que sofremos em Pirada,  exactamente no dia 25 de Abril de 1974.

No dia 25 de Abril de madrugada, saímos dois pelotões, mais os sapadores. Fomos levantar algumas minas que estavam na picada em direcção a Gabu (Nova Lamego). Regressámos a Pirada por volta das dez da manhã. Participei nesta saída, tínhamos de fazer a protecção aos sapadores.

Eram mais ou menos dez e meia, eu já tinha tomado banho e estava no meu quarto, abrigo nº. 1, deitado em cima da minha cama e ouvi um pequeno estalido. Um colega que estava cá fora sentado num banco, gritou logo:

- Saiam para a vala que isto é o início de um ataque!...

Naquele dia o PAIGG bombardeou Pirada com muitos mísseis e morteiros, alguns caíram bem perto do local onde eu me encontrava, eu não morri por sorte. A meu lado, morreram três africanos nossos colegas, um míssil caiu-lhes aos pés e cortou-os em pedaços. Nunca tinha visto nada daquilo. Fiquei horrorizado, ainda hoje mexe comigo.

Nós, soldados brancos, não morremos nenhum, porque estávamos bem agachados nas valas ou trincheiras. Vieram juntar-se a nós vários oficiais, incluindo o alferes médico que nos disse para nos espalharmos mais pelas valas porque aquilo estava a ficar feio.

Este bombardeamento durou cerca de duas horas. Nós respondemos com os morteiros 81, os nossos obuses 10.5 e o nosso obus 14 que estava junto à pista de aviação  de Pirada.  Bajocunda também nos deu apoio de fogo com o obus 14 deles. Foi um inferno. Só se ouviam bombas a voar, outras a assobiar e a rebentar por cima ou perto de nós.

Assim que terminou o ataque, mandaram-nos equipar para sair. Fomos patrulhar em volta de Pirada e encontrámos, para o lado do Senegal,  o mato todo a arder, mas felizmente não vimos ninguém do PAIGC. Caiu um míssil na casa de um comerciante branco, de nome António Palhas, que escapou ileso, mas morreram seis africanos que estavam noutro compartimento da casa.

Nesse dia,  nós, cabos e soldados,  não sabíamos nada do que estava a acontecer cá na Metrópole. Só à noite, através da BBC é que tivemos conhecimento do golpe de Estado. Foi uma grande alegria para todos nós porque pensámos logo que a guerra acabava naquele dia. Festejámos com muitas cervejas.

No dia seguinte na telefonia, começámos a ouvir a Grândola, Vila Morena e outras músicas do Zeca Afonso. A guerra ia acabar, que alegria! (...) (****)

Carlos Costa, ex-fur mil,  2ªC/BCAÇ 4516 /73 (Aldeia Formosa, Mampatá, Colibuia, Canquelifá, Ilone, Canquelifá, Bissau, jul73/set74)

Nesse dia estava eu em Canquelifá, a notícia foi recebida com natural surpresa e curiosidade de saber o que na verdade se estaria a passar. Escutávamos a rádio,  ávidos de saber notícias. 

No dia seguinte o capitão chamou,  a uma reunião, sargentos e oficiais, comunicando-nos que tinha duas mensagens para nos transmitir, um seria dada a conhecer naquele momento e a outra passadas 24 horas. Assim a mensagem lida de imediato anunciava que estaria iminente mais um ataque do PAIGC. 

Passaram-se as 24 horas, debaixo de uma enorme tensão, à espera do primeiro "buuu, BCAÇ m" que não chegou a acontecer. Foi então lida a 2ª mensagem que revelava ter havido os primeiros contactos do MFA com os movimentos de libertação das colónias, tendo sido acordado que as escaramuças seriam evitadas: não haveria mais ataques e, se encontros houvesse no mato, haveria apenas alguns tiros para o ar, sinalizando a presença, seguindo cada força em sentidos opostos. 

Os dias que se seguiram foram calmos,  com uma excepção,  com os paraquedistas em segurança de uma coluna,  um deles pisou uma mina, perdeu a vida. 

Como eu era do batalhão de intervenção da Guiné BCAÇ 4516/73, , passado algum tempo regressámos (a 2ª Companhia) a Bissau e,  até Setembro, mês do regresso à metrópole,  fizemos segurança à cidade.


José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op. Cripto, 2.ª CCAÇ/BCAC 4513
Nhala, 1973/74

Camarada António Murta: Embora me encontre na Alemanha junto aos meus netos (deixaram-me agora respirar um pouco), entrei no Blogue e vi a tua mensagem.  (..:)

Como me lembro dessa noite em que recebemos a mensagem sobre a revolução e que dizia o seguinte; 

252245NABR RELAMPAGO “Agências noticiosas informam Governo Professor MARCELO CAETANO derrubado por movimento Forças Armadas “. 

A festa que foi feita nessa altura por toda a companhia e, se a memória me não falha,  já ninguém foi mais para a cama e penso que até o “cantinas“ foi abrir a mesma mas já não tenho a certeza.  (...) (*****)
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Notas do editor:
 
(*) Último poste da série > 10 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25364: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIV: Foi pela rádio, a BBC e outras emissoras, que a malta ouviu a notícia do golpe de Estado em Lisboa... Uns em Bissau, outros em Bissorã, Canssissé, Guidaje, Xitole...

(**) 15 e abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12988: No 25 de abril eu estava em... (20): No mato, algures entre Nhala e Buba, emboscado, junto à estrada nova que ligava as duas povoações... (António Murta, ex-al mil, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74)