Lisboa > T/T Niassa > Navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice, construído em 1955, na Bélgica, registado no Porto de Lisboa, e abatido em 1979; comprimento: mais de 151 metros; arqueação bruta: c. 10.742 toneladas; potência: 6.800 cavalos ; velocidade normal: 16,2 nós; alojamentos para 22 em primeira classe, 300 em classe turistica, no total de 322 passageiros; nº de tripulantes: 132; armador; Companhia Nacional de Navegação - Lisboa.
Fonte: Navios Mercantes Portugueses (2004)página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante.
Manuel Traquina ex-Fur Mil, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70 (1)
Assunto - A Guiné, os Tempos de Guerra > CCAÇ 2382 (1968/70) > O velho Niassa (2)
O Velho Niassa... Foi este o navio que nos transportou à Guiné, e também de regresso a Portugal. Antes tinha sido um cargueiro, farto de cruzar oceanos, tal como o Uije, o Alfredo da Silva e outros. Foi no inicio da guerra colonial adaptado ao transporte de tropas.
Terá feito imensas viagens à Guiné, Angola e Moçambique, milhares de ex-militares ainda hoje se recordam da incómoda viagem, com os habituais enjoos, e também de um ou outro dia mais calmo que lhes dava tempo para dormir uma sesta no convés, e com um canivete entalhar na madeira o seu nome, a data, ou outra referência! Compreende-se que, depois das muitas viagens realizadas e dos milhares de militares transportados, aquele convés quase já não tinha um pedaço de madeira disponível para mais um nome!
Além dos enjoos e das noites mal dormidas a bordo, recordamos também que tinha uma agradável sala de jantar, destinada apenas a oficiais e sargentos. Já do alojamento para os soldados o mesmo não se pode dizer, em todos os cantos do porão tinham sido improvisados dormitórios, as condições eram deploráveis. A comida era razoável, no entanto a sopa, embora fosse a mesma todos os dias, no menu tinha todos os dias um nome diferente...
O bar onde se bebia whisky, cerveja e se jogava à lerpa, dispunha de um pequeno conjunto musical que à meia tarde tocava sempre os mesmos trechos musicais, enfim o seu repertório não era muito vasto…
Deste navio recordamos ainda o barulho característico dos seus potentes motores e das suas hélices, e também a luz do luar reflectida na imensidão das águas do Oceano Atlântico.
Um dos passatempos a bordo era enviar mensagens dentro de garrafas de cerveja que eram atiradas ao mar, curioso é que pelo menos uma delas foi encontrada, passado não muito tempo a resposta a uma dessas mensagens - calculem... - veio de uma praia do Sul de Espanha onde una Chica de corpo bronzeado (presume-se) a terá encontrado, e assim se arranjou madrinha de guerra que quase deu em namoro…
Porém não há mal que sempre dure: a guerra acabou, também para aquele velho barco as viagens terminaram, soubemos que ele terá sido vendido a quem lhe mudou o nome, e o levou para a América Central onde ultimamente desempenhava funções de barco/hotel.
No entanto, acho, que poderia ter um fim mais glorioso em Portugal, já que aqueles que nele viajaram nunca o irão esquecer, bem como as inscrições que nele foram feitas que representam também uma página da história da guerra colonial.
Manuel Batista Traquina
(Ex-Furriel Miliciano)
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Notas dos editores:
(1) Vd. postes de:
2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)
2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Histórias de Manuel Traquina (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida
(2) Vd. postes anteriores desta série:
12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)
19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)
15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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