sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2541: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (20): Campanha Uma Peça para o Nosso Museu de Guiledje

Guiné > Região de Tombali > Guileje > Crachá dos Gringos de Guileje : a açoriana CCAÇ 3477 (1971/73).

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

Um emissor-receptor, oferta de um Gringo de Guileje, o José António Carioca.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Uma carta e um aerograma do Fur Mil Op Especiais José Casimiro Carvalho. Na carta, escrita em Cacine e datada de 22 de Maio de 1973, o Carvalho dá a notícia, aos seus pais, da queda de Guileje (cujo SPM, código de Serviço Postal Militar, era o 2728) (1):

(...) Cacine, 22/5/73: Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência. Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…)".

São documentos como este que merecem ser acarinhados, preservados, tratados, divulgados, guardados e mostrados às gerações seguintes... Recorde-se aqui, mais uma vez, que o Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, actualmente residente na Maia, confiou-me, no primeiro encontro da nossa tertúlia, na altura em que tive o prazer de o conhecer pessoalmente - na Ameira, em Montemor-o-Novo, em 14 de Outubro de 2006 -, uma pequena colecção de aerogramas e cartas que escreveu à família durante o período em que esteve em Guileje e depois Cacine e Gadamael, coincidindo com o nosso abandono de Guileje. A unidade a que ele pertencia - a CCAV 8350, Os Piratas de Guileje - esteve lá entre Dezembro de 1972 e Maio de 1973.

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

1. Contribuições para o Museu de Guiledje serão bem vindas!

A comissão organizadora do Simpósio Internacional Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau vem lembrar-nso que o Muzeu de Guiledje "será tanto guineense como português, pertencendo a todos os que lá viveram e o defenderam, aos que o combateram e participaram no assalto final, aos filhos e netos de uns e outros, às populações locais que precederam a construção do quartel. Enfim, a todos os que se engajaram para preservar a sua memória colectiva.
A Iniciativa de Guiledje tem recebido inúmeras contribuições para a sua história sob a forma de fotografias, documentos, relatórios, testemunhos orais e visuais e de pesquisa documental".

É nesse sentido que vem apelar "a todos os que se desloquem para vir participar no Simpósio de Guiledje para que contribuam com uma recordação sob a forma de aerograma, crachá, livro da Unidade, fotografia, etc.".

O primeiro a dar o exemplo foi o José António Carioca, dos Gringos de Guiledje, o qual doou ao Museu um emissor-receptor do tipo que lá se usava. E a propósito, vamos pedir aos nossos especialistas da arma de transmissões para identificarem o aparelho.

O Núcleo Museológico de Guiledje, em construção, compreenderá:

(i) um Centro Documental que disporá de um Diorama do quartel, um grande Poster com as posições militares do PAIGC no momento do assalto final a Guiledje, uma exposição de fotografias e um serviço de computadores contendo um arquivo digital, documental e fotográfico, onde através de um conjunto de entrevistas em formato DVD estarão registados os testemunhos de muitos dos participantes guineenses, caboverdianos, cubanos e portugueses que por lá passaram durante a guerra colonial;

(ii) e um Museu, albergando armamento, equipamento e outro material, português e do PAIGC, que está a ser (ou venha a ser) cedido.

Embora o espaço do Museu vá ser restrito, pretende-se que disponha de:

(a) um Unimog e um Pentenclas, meios de transporte de referência de um lado e outro da barricada;

(b) armas do PAIGC: uma RPG-7 (ou RPG-2), um morteiro de 82 mm (ou 120 mm), uma metralhadora pesada Degtyarev (ou Goryunov), uma ligeira Degtyarev, uma pistola-metralhadora PPSH (costureirinha), Thompson, M-23, uma espingarda semi e automática AK-47 Kalashnikov, Simonov, Mosin-Nagant e uma pistola Tokarev e Ceska;

(c) armas de Portugal: uma espingarda automática G-3 e FN, uma metralhadora MG-42, uma espingarda Mauser, LGF Bazooka e Dante, um morteiro de 60 mm, 81 mm e 10,7 cm, e uma pistola Parabellum e Savage.

Seria bonito que a malta que vai à Guiné-Bissau participar no Simpósio, incluindo alguns camaradas da mimitertúlia de Matosinhos/Porto que já vão partir de jipe no próximo dia 21 de Fevereiro, e os outros que vão de avião, pudessem levar alguns objectos de interesse museológico, para enriquecer a colecção do nosso Museu de Guiledje...

2. Portanto, aqui fica o apelo à nossa sempre solidária Tabanca Grande, em particular, e ao pessoal da blogosfera, em geral:

Amigos & Camaradas:

Aceitam-se (e divulgam-se) ideias, sugestões, fotografias, aerogramas, postais, mapas, vestuário (civil e militar), latas de rações, garrafas com rótulos, pulseiras de missanga, mezinhos, medicamentos, pasta dentífrca, pomada antivenéria,, artigos religiosos (santinhos, terços...), livros, brochuras, planfletos, crachás, armas, objectos, grandes e pequenos... e até inclusive um obus 14, um matador, uma Fox, um T 6... Tudo com legenda, ano, utente ou proprietário, como manda a lei...

Dia 21 partem mais camaradas nossos através da rota do Lisboa-Dakar. Entre eles, o nosso campeão Xico Allen, que acaba de chegar de Bissau, e que já é mais mouro do que morcão...

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Nota dos editores:

(1) vd, poste de 24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

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