Queridos amigos,
Já não era sem tempo que vos mostrasse um tesouro filatélico de que me orgulho muito, os selos das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné.
É um tesouro e uma raridade, os trabalhos do artista Alberto Sousa no campo filatélico podem ser vistos no Museu das Comunicações, são de primeiríssima água; e uma raridade, duvido que haja meia-dúzia de exemplares com toda a coleção de selos à venda.
Como é dia de prodígios, junto a imagem de um impressivo quadro de Vassalo de Miranda que autorizou a sua reprodução no blogue. Leva-nos a comungar a dor que todos sentimos quando perdemos os nossos camaradas no campo de combate.
Um abraço do
Mário
1 - Uma preciosidade filatélica: Guiné, 1946
Beja Santos
No âmbito das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné (1946) foi editada uma brochura com um conjunto de selos da autoria de Alberto Sousa, conhecido artista plástico e colaborador no desenho filatélico muito apreciado. A autoria do texto da brochura pertenceu a Amadeu Cunha, ligado através da Agência Geral das Colónias a uma colaboração assídua na revista “Muito Português” exclusivamente dedicada à problemática colonial.
Era sentimento da época de que fora Nuno Tristão o descobridor daquela região da Guiné, hoje é mais do que problemático que tenha sido assim. Escreve o autor: “Nuno Tristão recebeu o encargo de levar vela o mais longe que pudesse, da Ponta da Galé, o que fez, alcançado Carlo Branco; em 1443, de novo a reconhecer, navegava para o Sul e descobria as ilhas de Arguim e das Garças e, mais distante, uma terra que se presume ser a que, em 1445, Dinis Dias nomeou de Cabo Verde. Mais um escudeiro do Infante, Lançarote, saindo com seis caravelas, numa das quais Gil Eanes voltava à faina descobridora, chegara às ilhas das Garças, Naar e Tider. Do mesmo ano foi a saída de Gonçalo de Sintra, a quem o Infante havia recomendado “que fosse diretamente à Guiné e que por nenhum caso não fizesse o contrário”. Mas fê-lo, afinal, “desejando avantajar-se sobre os outros”, porque disso tiraria tanta honra como proveito. Preferiu, pois atacar a gente de Arguim, e na ilha de Naar encontrou a morte com mais 12 companheiros. Em 1446, Nuno Tristão, tornava às suas andanças de descobridor, “mui desejoso desta vida”. Havendo entrado com 22 dos seus, um rio, porque a corrente houvera afastado muito da caravela os batéis, vira-se, em certo passo, salteado por uma chusma de almadias, que deram neles, e todos, à exceção de três, sucumbiram, feridos por frechas empeçonhadas. Por memoração foi posto a certo rio o nome do herói. Rio de Nuno ficou a chamar-se. Mais a identificação suscita dúvidas. Foi esse, ou terá sido outro, o Geba, que serviu de cenário ao episódio? Nuno Tristão deixava descoberta a atual Guiné Portuguesa, legendada pelo seu sangue e o de seus companheiros”.
A coleção de selos mostra o forte de Cacheu, que surgiu em 1588, a igreja de Bissau, Honório Pereira Barreto, o presidente norte-americano Ulisses Grant, a quem coube arbitrar a questão de Bolama e também o capitão Teixeira Pinto, sobre quem o autor escreve: neto e filho de bravos, tendo já ganho a Torre e Espada na guerra contra o Cuamato, passava em 1912 à Guiné. Desde logo tratou de elaborar um plano de ocupação definitiva. Compreendia quatro campanhas: a primeira, de Abril a Agosto de 1913, ao Oio; a segunda, de Janeiro a Abril do ano imediato, contra os Papéis e Manjacos de Cacheu; a terceira, de Maio a Junho, contra os Balantas de Mansoa; de Maio a Agosto de 1915, a quarta, que foi de todas a mais dura e mortífera, contra os Papéis de Bissau. A cada campanha correspondera um êxito”.
2 - Uma tocante homenagem ao Comando morto em combate
Tive a alegria de receber a visita de Vassalo de Miranda, um Comando que esteve na Operação Tridente e que é um dos mais distintos artífices da banda desenhada portuguesa, aqui no blogue já falamos de três livros seus dedicados a feitos na Guiné, envolvendo operações e a lancha 302, várias vezes atingida, teve uma vida atribulada nos rios da Guiné.
O Vassalo de Miranda veio oferecer-me mais banda desenhada e dar-me conta dos seus trabalhos pictóricos. Foi a remexer nestes que encontrei esta imagem que não precisa de palavras, tal o seu vigor representativo. O autor autorizou a sua reprodução no nosso blogue e até me prometeu que em breve nos iria oferecer os seus textos sobre a Operação Tridente. Discutimos o título deste quadro e assentámos que poderá ficar conhecido como “A dor do Comando”. Em nome desta confraria onde labutam prestigiosos camaradas do Vassalo de Miranda, como é o caso do Virgínio Briote, o nosso muito obrigado.
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16056: Nota de leitura (836): “Portuguese Africa, A handbook”, com coordenação de David M. Abshire e Michael A. Samuels, respetivamente doutorados nas universidades de Georgetown e Columbia, nos EUA (Mário Beja Santos)