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quinta-feira, 30 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24177: Dossiê Pidjiguiti, 3 de agosto de 1959 - Parte III: A nossa obrigação de contribuir para a desmistificação das inverdades e meias-verdades que se contam (Leopoldo Amado / Mário Dias)


Guiné > Bissau > A pacata cidadezinha colonial do início dos anos 60. A Praça da República. Postal da época. Cortesia de João Varanda, ex-fur mil, CCAÇ 2636  (que esteve em Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70, e depois Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).


Guiné > Bissalanca > 1959 >   Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata)  [nº 1, a amarelo]. O avião era, naturalmente, da Air France [5].

O João Rosa [2], o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné e um dos primeiros contactos políticos de Amílcar Cabral, tendo feito reuniões clandestinas, na sua casa, com o próprio Amílcar Cabral e outros nacionalistas guineenses; morreria no hospital, na sequência da sua prisão e tortura pela PIDE, em 1961, segundo informação do Leopoldo Amado], está na segunda fila à direita ; à sua frente, o segundo da direita é o Toi Cabral [António da Luz Cabral, irmão do Luís Cabral e meio-irmão do Amílcar Cabral] [3]. 

Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau, entre eles, talvez o Mário Dias, ou talvez não: não conseguimos ainda identificá-lo, mas  já lhe pedimos em tempos  para "validar" esta legendagem... Ele pode (ou não)  ser o elemento que está a seguir ao nº 4, e que se apresenta em calções e meia branca; em 3 de agosto de 1959 ele estava a acabar a recruta, tendo frequentado o 1.º CSM - Curso de Sargentos Milicianos, realizado na Guiné.  Parece que foi na altura em que ele estava na tropa que a NOSOCO encerrou as suas portas, conforme se depreende do que ele escreveu no poste P268, de 14/11/2005:

(...) "Já agora, e apenas também como curiosidade, eu fui trabalhar para o Sindicato porque, enquanto estava no serviço militar (com o Domingos Ramos, Rui Jassi, Constantino Teixeira, etc. etc.), a NOSOCO, firma comercial francesa onde eu trabalhava, encerrou a sua actividade na Guiné.

A sede da NOSOCO ficava junto ao rio, estendendo-se as traseiras para a actual Rua Guerra Mendes, mesmo junto a um dos baluartes da Amura. Ao lado era a PSP, comandada pelo major Pezarat Correia, pai do actual brigadeiro (ou general?) ligado ao 25 de Abril de 1974. Este edifício foi, durante a guerra, sede e armazém da Manutenção Militar. "(...)

O quarto elemento conhecido do grupo [4] é, a contar da esquerda, o Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Herbert, e velha glória do futebol guineense... (Esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial; viveu depois, trabalhou e casou em Bissau. Conhecido como o Armando 'Bufallo Bill', seu nome de guerra, foi o melhor futebolista da UDIB, e do Benfica de Bissau, tendo sido nternacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa...).

Recorde-se que o apelido Herbert, no caso do nosso amigo Nelson, antigo jornalista na VOA (Voz da América), vem do avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e que, com a NOSOCO e a SCOA, foi um das peças importantes do sistema colonial francês.

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006), Todos os direitos reservado. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Temos vindo a recuperar alguns postes com versões de contemporâneos dos tristes acontecimentos de 3 de agosto de 1959, a que o futuro PAIGC e a historiografia com ele alinhada chamaram, inapropriadamente ou não,  o "massacre do Pidjiguiti". Uma das versões é do nosso camarada Mário Dias, ainda a fazer a recruta, em Bissau, nessa data, e a outra é do Luís Cabral, que trabalhava então na Casa Gouveia como guarda-livros (*).

É possível que o assunto pouco interesse  aos nossos leitores, e nomeadeamente aos antigos combatentes que só conheceram a Guiné dos anos 60 e 70... Mesmo assim, e tendo em conta a divergência na descrição e interpretação dos factos, é bom que se acrescentem mais algumas achegas, incluindo as do historiador guineense, e nosso saudoso amigo Leopold0 Amado,  precocemente desaparecido (morreu de Covid-19 em 2021,  com pouco mais de 60 anos).

Lembrando-nos que tudo tem o seu verso e o seu reverso, Leopoldo Amado (1960-2021) (que era doutorado em história pela Universidade de Lisboa) escreveu o seguinte (em 16/2/2006) (**)  s0bre o depoimento do Mário Dias:

(...) A importância do texto que Mário Dias produziu sobre o Massacre de Pindjiguiti ou assim chamado, interpelou directamente a minha sensibilidade de interessado nessa guerra enquanto historiador guineense, mas também enquanto cidadão do mundo, pelo que aqui fica a minha promessa de nos próximos dias produzir um comentário crítico sobre o mesmo, não obstante ver-me antecipadamente e desde já na contingência de dar os meus vivos parabéns ao autor por mais esta importante contribuição que, além de animar um debate que reputo construtivo e altruísta, ainda possui o condão – assim espero – de trazer ao de cima senão toda a luz e toda a verdade (porque imossível, ao menos irá contribuir para a desmistificação histórica dos aspectos próprios dessa guerra, reduzindo consequentemente as zonas cinzentas, as inverdades ou as meias-verdades que essa recente historiografia necessariamente comporta, porquanto é igualmente recente o correspondente sujeito histórico. (...)


2. Texto do Mário Dias (originalmente publicado no poste P572, de 26 de fevereiro de 2006) (***):

Caro Luis

Estive a ler atentamente, e com a compreensível dose de emoção, o texto que o Leopoldo Amado anexou à sua mensagem.(**)

Começo por dizer que tão excelente trabalho só poderia vir de alguém que, tal como Leopoldo Amado, seja possuidor de uma extraordinária cultura, conhecimentos académicos e poder de síntese.

Fiquei mais rico e esclarecido sobre as movimentações que existiam no seio dos nacionalistas guineenses, que eu sabia que existiam mas cujos recortes me escapavam (tal como disse em recente poste).

Assim, este texto lança um pouco de luz sobre o desconhecimento daquilo que "do outro lado" se passava e confirma o que várias vezes tenho referido: o empolamento na informação dos acontecimentos por parte de ambos os contendores.

Do PAIGC, pela necessidade de afirmação perante a comunidade internacional e apoio psicológico aos seus combatentes. Das nossas tropas... bom, aqui a motivação (isto não passa de uma opinião pessoal) parece-me outra: a vontade de "mostrar resultados" subindo no conceito dos superiores hierárquicos e com isso... todos sabemos. Que me perdoem os muitos que sempre foram verdadeiros nas suas informações e relatórios operacionais. Felizmente, constituem a maioria.

Porém, o resultado prático traduziu-se no exagerar dos feitos praticados, principalmente no número de baixas causadas e, conforme muito bem refere Leopoldo Amado, facilmente chegamos à conclusão que não podem ser as apontadas pelo nosso Estado-Maior.

Outro aspecto referido neste texto prende-se com a intensa actividade existente nos movimentos nacionalistas que vieram, na prática, a desembocar no PAIGC e que, fiquei agora a saber, é bastante posterior ao evento do Pidjiguiti. A minha admiração - que já era muita - pela eficácia conseguida e pelo sigilo de todas as movimentações aumentou bastante mais. Tudo "me passou ao lado".

Em jeito de "desculpa esfarrapada" por tamanha ignorância e ingenuidade,  tenho a meu favor a pouca idade à época dos factos. Só queria divertir-me como é próprio da idade. Assuntos tão transcentes estavam, confesso, fora das minhas cogitações.

Reiterando os meus agradecimentos e admiração ao Leopoldo Amado, termino respondendo à sua estranheza por eu não ter referido a presença no cais do Pidjiguiti do Domingos Ramos, Constantino Teixeira e outros soldados africanos. Claro que eles lá estiveram, não no recinto do cais propriamente dito, mas nas imediações do mesmo tal como os restantes soldados. Eles faziam parte da companhia que regressava do aeroporto e para lá foi desviada.

Pareceu-me supérfluo estar a nomear a constituição dessa companhia (o que, aliás, nem conseguiria) e que era formada na sua esmagadora maioria por soldados africanos. Não me moveu qualquer espécie de reserva ou tentativa de manipulação com "meias verdades", defeito que não faz parte dos muitos que tenho. 

Podem todos crer que se alguma omissão ou menor exactidão houver em comentários meus, passados ou futuros, será apenas e exclusivamente por compreensível falha de memória.

Um grande abraço para todos os tertulianos.
Mário Dias

PS - Antes de enviar este mail, fui dar uma espreitadela ao blogue e vi que já começaste a postar o notável texto do Leopoldo Amado. Talvez seja melhor aguardar a publicação integral do mesmo, antes deste meu desabafo, caso aches que deva ser publidado.

Como tem sido recentemente muito referido o João Rosa, guarda-livros (actualmente designados contabilistas ou técnicos de contas) da NOSOCO, resolvi anexar uma fotografia tirada em Bissalanca na despedida do gerente da referida firma, monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). 

O João Rosa está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita, é o Toi Cabral. Não sei se será o mesmo que o Luis Cabral refere como um dos principais obreiros na fuga do Carlos Correia. Gostaria obter essa confirmação mas não sei como consegui-la. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau.

[ Fixação / revisão de texto / negritos: L.G.]
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


24 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24166: Dossiê Pidjiguiti, 3 de agosto de 1959 - Parte II: A versão do guarda-livros da Casa Gouveia, e dirigente do PAI, o Luís Cabral

(**) Vd. postes de;

16 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P525: Pidjiguitgi, o verso e o reverso da verdade:comentários ao post do Mário Dias

Vd. também postes de:

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19481: Notas de leitura (1148): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (72) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
A franqueza, por vezes brutal, o completo desassombro, o rigor dos números e das propostas, deixam-nos estupefactos. Estes apontamentos que Castro Fernandes, figura lídima do Estado Novo, envia à governação do BNU em 1957, não poderá deixar insensíveis os estudiosos da História da Guiné.
Castro Fernandes não mascara as situações de conflito, os enredos e as intrigas, o que pensa sobre o funcionalismo e os comerciantes, o que há de bom e de mau na exploração dos recursos económicos. Salta à vista que está muitíssimo bem documentado e veremos que quando refletir sobre os problemas que interessam diretamente ao BNU, tem soluções na manga. Não se conhece, ao tempo, documento mais importante sobre o que era a Guiné e os remédios para a desenvolver, numa perspetiva colonial.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (72)

Beja Santos

Os apontamentos elaborados pelo Administrador António Júlio de Castro Fernandes depois da sua viagem à Guiné, que ocorreu entre março e abril de 1957, trazem uma outra iluminação sobre conceitos coloniais, instituições, pessoas, potencialidades económicas e até o sistema financeiro. É, não vale a pena iludir, um relevantíssimo documento que abre também caminho a sabermos mais sobre as propriedades do BNU na Guiné e o que era esperado por este Banco quanto à Sociedade Comercial Ultramarina.

Falou largamente sobre o contencioso do Perfeito Apostólico com o novo Governador, Álvaro da Silva Tavares, não descurando a observação de que, fruto da intensa islamização, não era o mais acertado recorrer às escolas das missões, mas sim às escolas laicas para incrementar a alfabetização.
E esboça um retrato do atual Governador:
“Foi Delegado do Procurador da República na Guiné durante quatro anos, Juiz no Bié e em Luanda, Procurador da República junto da Relação de Goa, Secretário-geral do Estado da Índia. É um homem novo, de 42 anos, bastante culto, com uma boa leitura, e manifestamente inteligente. Conhece a Guiné e os seus problemas. É muito trabalhador. Pareceu-me, apenas, hesitante ao passar do pensamento à acção – tem talvez o defeito de examinar as soluções por todos os lados de forma que encontra sempre razões para ter receio de as adoptar…
Não é fácil a sua tarefa: actua num meio extremamente complicado, não tem colaboradores, tem de se mover numa orgânica que, a meu ver, não corresponde hoje às necessidades das Províncias Ultramarinas”.

Tenho para mim que alguns dos parágrafos mais elucidativos sobre a vida colonial guineense saíram do punho de Castro Fernandes quando ele fala do meio social. Recorda que a população civilizada da Guiné é constituída por 1500 metropolitanos, 1700 cabo-verdianos, 4000 guineenses e uns 500 libaneses, núcleo de cidadãos concentrados nas cidades e vilas.
São todos ou comerciantes ou funcionários:
“Os comerciantes são, acima de tudo, traficantes – o indígena é, dizem, a principal riqueza da Guiné. O comércio tem por missão explorar esta riqueza. De resto, o indígena já o sabe e tanto que o Balanta diz para o branco ‘furta me ma piquinino’.
Os funcionários são, de uma forma geral, do pior que há. Só vão para a Guiné ou os castigados ou os que não têm classificação para serem colocados noutra Província ou como ponto de passagem para outro lado. Como nível cultural, não vão além do Reader’s Digest, como nível social está pouco acima, se está, do possidonismo da pequena burguesia das nossas vilórias. Claro que há excepções e que talvez eu exagere um pouco a caricatura – assim, fiquei espantado ao saber que os discos de música clássica se esgotavam logo que eram postos à venda; encontrei algumas pessoas com certo interesse e até com boas maneiras, mesmo no Interior.

A intriga é, além do consumo do whiskey por parte dos homens e da canasta por parte das senhoras, o entretenimento favorito dos cidadãos e cidadãs de Bissau. Serve de pretexto desde os negócios sentimentais até ao corte dos vestidos.
A vida – apesar de os ordenados dos funcionários serem pequenos – é contudo agradável no aspecto da comunidade. Um Chefe de Posto, que é evidentemente pessoa modesta, geralmente de extracção social modestíssima, vive confortavelmente: tem uma boa casa, a geleira repleta de boas coisas (com conservas de frutas, sumos, fiambres, etc.), sipaios para todos os serviços de casa, etc. Os Chefes de Circunscrição são principezinhos. Tanto uns como outros são presenteados largamente – quer pelos indígenas, quer pelos comerciantes – e conseguem fazer economias que geralmente estoiram durante as licenças graciosas passadas em Lisboa.

Em Bissau vive-se bem. Como as exigências não vão muito além da boa mesa, têm-na farta. E todos têm automóvel. E bons aparelhos de telefonia com gira-discos moderníssimos. E fatos de bons tecidos. E vestidos janotas. E perfumes e águas-de-colónia. E casas agradáveis… embora de péssimo gosto.
De resto, sem este mínimo de conforto, a vida seria impossível – dada a hostilidade do clima.
Este quadro, apenas esboçado, dá ideia das dificuldades de encontrar pessoas capazes de levarem a cabo uma obra de grande envergadura.
Os vícios inerentes a um meio como este não podem facilitar uma acção que pretenda sanear a vida económica e política da Província, criando maior riqueza ou preservando a que existe.
Salvo o devido respeito – que é muito – pelos que conhecem profundamente os problemas ultramarinos, afigura-se-me que o principal drama da Guiné (como de Cabo Verde), no aspecto da categoria dos funcionários técnicos, reside principalmente na existência dos dois quadros, o metropolitano e o ultramarino.

Examinemos, por exemplo, os serviços da agricultura. Do Instituto Superior de Agronomia sai todos os anos uma fornada de agrónomos. Todos procuram ingressar nos quadros do Ministério da Economia, onde são colocados como agrónomos de terceira classe com ordenado modesto de entrada, mas onde lhes é possível exercer outras actividades ligadas à profissão. Vão para o Ministério do Ultramar, normalmente, os que ou não tiveram possibilidade de ficar por lá ou os que têm necessidade, logo de entrada, de um ordenado maior. Destes, os que podem vão para Angola ou Moçambique, os outros, pobres deles, vão parar com os ossos à Guiné ou a Cabo Verde. E, então, sucede que o Director dos Serviços Agrícolas, por exemplo, da Guiné ou não tem categoria para o lugar, porque é fraco profissionalmente, ou porque não teve a prática necessária para desempenhar eficazmente tal cargo.
A meu ver, a Guiné, como Cabo Verde, como provavelmente São Tomé (limito-me às Províncias do meu pelouro) só terão resolvido o seu problema de pessoal técnico quando os funcionários, todos do mesmo quadro, forem destacados em comissão durante um certo período (refiro-me, já se vê, ao pessoal dirigente). No estado actual das coisas, não me admira que o Engenheiro-Agrónomo Director dos Serviços Agrícolas da Guiné vá pedir ao Agrónomo-Chefe de Ziguinchor que lhe dite um relatório sobre a mancarra…
Quanto aos quadros – a sua exiguidade é perfeitamente lancinante. Basta dizer que à Repartição dos Serviços de Agricultura e Veterinária está consignada, no orçamento deste ano, a verba de 2 mil contos”.

E desloca a sua análise para outro estrato social, os comerciantes:
“Os comerciantes, à parte os quatro grandes – de que me ocuparei na devida altura – ou são libaneses ou gente sem nível e sem preparação.
Não existe um comércio diferenciado, constituído por indivíduos com iniciativa, recursos, capacidade.
Na Guiné desagua o aventureiro ou o desiludido. Sujeitos que para ali foram tentar a vida e que se limitam, com maior ou menor êxito, a explorar o indígena, comprando-lhe os produtos que vendem aos grandes, e vendendo-lhes o que podem. Mais pormenorizadamente me ocuparei adiante da forma como o comércio é exercido. Neste capítulo, limito-me a denunciar o baixo nível social desta classe”. E conclui: 
“De modo que, o meio social da Guiné Portuguesa é constituído pelo funcionalismo – de uma forma geral mau, embora se devam apontar algumas excepções (e honrosíssimas), sobretudo no pessoal das missões encarregadas da execução do Plano de Fomento, no quadro clínico da Missão do Sono, na Missão Geoidrográfica, etc. – e pelo comércio cujo nível já se denunciou. O restante são empregados onde predominam os cabo-verdianos”.

Seguir-se-á um apanhado detalhado sobre recursos económicos. Logo o amendoim ou a mancarra. Constitui o principal produto de exportação da Guiné, a produção é da ordem das 35 mil toneladas e a exportação de sementes de amendoim para a Metrópole em 1952, foi também de 35 mil toneladas. A produção tem vindo a aumentar de ano para ano, tendo passado para o dobro desde 1926/30 a 1946/50. A Guiné Portuguesa é o quarto exportador do continente africano e o principal abastecedor da Metrópole. A cultura da mancarra é feita inteiramente pelos indígenas em regime de rotação. A área de maior produção coincide com a circunscrição de Farim e parte norte de Bafatá a Gabu. O aumento da produção não deve fazer-se à custa do actual equilíbrio do meio natural, isto é, o aumento da produção pelo incremento da destruição vegetal e pelo encurtamento dos pousios conduzirá à senegalização dos solos. Este aumento, que pode crescer consideravelmente, tem de ser feito pela progressiva melhoria das sementes, pela sua distribuição ao indígena, pela armazenagem do produto, pela adaptação de técnicas culturais mais perfeitas.

O amendoim é quase todo embarcado para o exterior por descascar. A casca representa em peso 25% da semente. Só a Casa Gouveia possui um descasque no Ilhéu do Rei. A Sociedade Comercial Ultramarina é a única que possui uma instalação para produzir óleo de amendoim. Esta situação da exportação da mancarra em casca é hoje única em toda a África. A exportação da ginguba (mancarra descascada) teria como vantagens óbvias uma considerável economia no transporte, uma melhor selecção do produto, mão-de-obra que ficava na Província. Tem sido preconizado que o indígena fosse obrigado a apresentar ao comércio o produto sem casca, ou que o descasque se efectuasse em pequenas máquinas instaladas nos centros de compra mais afastados dos pontos de exportação.
O problema da selecção de sementes e da construção de celeiros para o seu armazenamento começa agora a ser encarado.
O comércio da mancarra obedece aos princípios em que assenta todo o comércio da Guiné: exploração do indígena, corrupção de funcionários, concorrência desenfreada.

Existem na Guiné quatro grandes casas exportadoras – Casa Gouveia, Sociedade Comercial Ultramarina, Barbosas, Nosoco – logo seguidas por Aly Suleiman, que é um pequeno exportador e, ao mesmo tempo, vendedor à Casa Gouveia, além de mais umas seis firmas. As grandes firmas operam, essencialmente, por duas formas: através das suas operações ou lojas estabelecidas no interior, pela compra do produto aos intermediários, pequenos comerciantes independentes espalhados pela Província. A compra ao indígena faz-se por dois processos: ou vão directamente às tabancas ou o indígena vem às lojas vender o produto (na generalidade, os pequenos e médios comerciantes queixam-se da faculdade que a todos é concedida de comprarem a mancarra nas tabancas; argumentam que se o indígena fosse obrigado a vender a mancarra nas lojas, compraria panos, contas, etc. e que, assim, recebem o dinheiro e, pago o imposto, gastam o resto em aguardente; além de que tal prática facilita a concorrência”.

O relator refere os preços de compra ao indígena em várias localidades da Guiné e observa igualmente que o negócio consiste sobretudo em cada um assegurar-se da maior quantidade possível de produto.

E esta análise de recursos económicos irá continuar com o coconote, arroz, produtos têxteis, e muito mais.

(Continua)

Imagem de uma Festa da Luta Felupe (Eran-ai), tirada em Sucujaque, em 8 e 9 de Abril de 2012, enquanto em Bissau decorria o golpe de Estado. 
Fotografia cedida por Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, a quem agradecemos a gentileza.

Aeroporto de Bissalanca, anos 1950

Imagem de uma guineense, retirada de um postal à venda no eBay.
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Notas do editor

Poste anterior de1 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19459: Notas de leitura (1146): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (71) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19469: Notas de leitura (1147): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (3) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17780: Historiografia da presença portuguesa em África (90): a nossa conhecida NOSOCO - Nouvelle Société Commerciale Africaine, uma das patrocinadoras da Exposição Colonial Internacional de Paris, em 1931



Cartaz da Exposição Colonial Internacional de Paris, 1931, onde Portugal esteve representado (*).  Foi um retubambante sucesso, e uma manifestação da glória imperial gaulesa, cun espaço expositivo de  110 hectares / 220 campos de futebol, em Vincennes, Paris, Três anos depois, Portugal quis também reforçar, mais para consumo interno, a mensagem propagandística de que não éramos um país pequeno (Henrique Galvão dixit...).

O cartaz promocional da exposição de Paris foi uma oferta da nossa conhecida NOSOCO - Nouvelle Société Commerciale Africaine [NOva SOciedade COmercial africana], com delegações em Senegal, Casamance e Guiné Portuguesa.

Foto: © Mário Beja Santos (2017) . Todos os direitos reservado. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné].


Guiné > Bissalanca > c. 1958/59 > Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata) [nº 1, a amarelo]. O avião era, naturalmente, da Air France [5].

O João Rosa [2], o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné e um dos primeiros contactos políticos de Amílcar Cabral, tendo feito reuniões clandestinas, na sua casa, com o próprio Amílcar Cabral e outros nacionalistas guineenses;  morreria no hospital,, e 1961, na sequência da sua prisão e tortura pela PIDE, em 1961, segundo informação do Leopoldo Amado], está na segunda fila à direita ; à sua frente, o 2º da direita é o Toi Cabral [António da Luz Cabral, irmão de Amílcar Cabral] [3]. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau, entre eles, supomos, o Mário Dias [que não conseguimos ainda identificar, e a quem já pedimos para "validar" esta legendagem...].

O quatro elemento conhecido do grupo [4] é, a contar da esquerda, o Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Herbert, e velha glória do futebol guineense... (Festeve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial; viveu depois, trabalhou e casou em Bissau. Conhecido como o Armando 'Bufallo Bill', seu nome de guerra, foi o melhor de futebolista da UDIB, e do Benfica de Bissau, tendo sido nternacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa..).

Recorde-se que o apelido Herbert, no caso do nosso amigo Nelson, antigo jornalista na VOA (Voz da América), vem do  avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e  que, com a NOSOCO e  a SCOA,  foi um das peças importantes do do sistema colonial francês.

Foto (e legenda): © Mário Dias (2006) . Todos os direitos reservado. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A NOSOCO eram uma das empresas comerciais, estrangeiras, e nomeadamente de capital francês, que operavam na Guiné. A sua presença já era efetiva em Bissau, desde pelo menos 1915.  (A partir de 1930, passa a fazer parte da multinacional Unilever.)

Outras casas comerciais francesas poderosas era,: (i) a Companhia Francesa da África Ocidental (CFAO); e (ii) a Sociedade Comercial do Oeste Africano (SCOA). Nesta última onde trabalhou o Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC, e o Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (membro da nossa Tabanca Grande). A SCOA foi fundada em 1907 e tinha sede em Paris, e sucursal em Manchester,  agências em Nova Iorque e Casablanca... Objeto da actividade económica: "toutes opérations commerciales, industrielles et financières en Afrique"...

Embora sendo um "filho da Guiné",  Cadogo Pai, nascido em 1929,  foi admitido como de auxiliar de escriturário, em agosto de 1946, na firma francesa, SCOA – Sociedade Comercial do Oeste Africano (proprietária do edifício onde está hoje a Pensão Berta), com várias lojas pela Guiné (Bissau, Bolama, Bissorã…). Foi transferido para Bolama no final do ano. Em 1949, nasceria aí o seu filho, Carlos Gomes Júnior, futuro empresário, dirigente do PAIGC e primeiro ministro. Em 1951 é encarregado, na mesma firma e sente a pressão da concorrência dos encarregados (europeus) das outras casas, e nomeadamente portuguesas: Gouveia, Ultramarina, Pinto Grande, Ernesto Gonçalves de Carvalho, etc.

Nas suas memórias, Cadogo Pai conta que é por essa altura, na 1ª metade da década de 1950, que a SCOA e as outras empresas francesas, NOSOCO e CFAO, começam a sentir restrições na sua atividade comercial, dada a posição monopolista da Casa Gouveia: tendo vocação exportadora, eram "obrigadas a vender os seus produtos à Gouveia" (sic)... Na realidade, a CUF (, através da Casa Gouveia, ) detinha o monopólio da exportação do amendoim da Guiné, até à independência da Guiné-Bissau. (**)

É nessa altura que o Cadogo Pai (que eu conheci pessoalmente em Bissau, em março de 2008)  começa a ponderar a hipótese da demissão e começar a trabalhar por conta própria. O seu chefe, francês, não apoiou logo a ideia; em contrapartida, ter-lhe-á proposto... "uma transferência para Paris, dada a confiança que ganh[ara] em toda a organização, a exemplo de muitos colegas que foram transferidos na altura para Ziguinchor, Dakar, etc." E mais: tê-lo-á avisado que "o vento da independência iniciada nos países vizinhos (Conakry, Senegal, etc.) chegaria à Guiné-Bissau", pelo que , se ficasse na Guiné, iria passar mal, como veio a acontecer... 

O Cadogo Pai irá estabelecer-se  por conta própria em 5 de setembro de 1955. Em contrapartida, não sabemos nem quando nem como os franceses cessaram a sua actividade económica na Guiné... Presumivelmente com a guerra e por causa da guerra, e a consequente quebra (brutal) da produção de oleaginosas, e nomeadamente da "mancarra" (**)


Anúncio comercial reproduzido, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. Na foto, o moderno edifício da loja da NOSOCO, em Bissau.

Numa lista, de 18 pp.,  com  mais de 150 empresas coloniais da África Ocidental Francesa (AOF), em 1925, vem a seguinte informação  sobre a NOSOCO, sociedade anónima com um capital de 8 milhões de francos. Dedicava-se à importação e exportação. Na Guiné, tinha sucursais no Cacheu, Bissau e Bolama:

"NOUVELLE SOCIÉTÉ COMMERCIALE AFRICAINE [NOSOCO], 9, cours de Gourgue,
Bordeaux (Gironde). T. 852. Codes: A.B.C. 5e éd., Lieber. Soc. an. au cap. de 8.000.000
de fr. Conseil d'adm.: Prés.: M. Pascal Buhan; MM. Gaston Thubé fils, Amédée Thubé,
adm. Direction: 2, av. de Launay, Nantes (Loire-Inf.). T. 11-49. Ad. t. Nosoco-Nantes.
Comptoirs: Sénégal: Rufisque, Kaolack, Fondiougne; Casamance: Ziguinchor; Bissao
[Bissau]: Cacheo, Bissao, Boulam. Importation et exportation au Sénégal, en Casamance et en Guinée. (2-38657)." 

Vinte e seis anos depois, no anuário de 1951, das 441 empresas coloniais francesas da AOF  + Togo (78 pp.), a situação da NOSOCO já era outra: (i) faz  parte do grupo Unilever (tal como mais outras quatro); (ii) tem sede em Dacar; (iii) continua a ser uma "sociedade anónima"; (iv) o capital social é de 220 milhões de francos CFA; (v) na Guiné Portuguesa (sic), está em Bissau, Bolama, Farim e Bafatá: (v) exporta matérias-primas, importa produtos manufaturados, como qualquer boa empresa colonialista...

"244 — Nouvelle Société commerciale africaine (NOSOCO)[Unilever],
Siège social: 131 [ou 31 ?], boulevard Pinet-Laprade, DAKAR (Sénégal)[= 204] [a mesma sede da Cie du Niger français (C.N.F.)[Unilever]
Capital. — Société anon., 220 millions de fr. C. F. A.
Objet. — Import. et export. au Sénégal, en Casamance et en Guinée portugaise.
Exp. — Arachides, palmistes, caoutchouc, cire, cuirs, gommes, etc.
Imp. — Tissus, riz, huile, sucre, conserves, quincaillerie, épicerie et toutes
marchandises.
Comptoirs. Sénégal: Dakar, Thiés, Diourbel, Fatick, Kaolack;. Foundiougne. —
Casamance: Ziguinchor, Kolda. — Guinée portugaise: Bissao, Boulame, Farim, Bafata.
Conseil. — MM. Arnaud Faure, présid. dél. M. Gérard, G. Rouzaud, Wallerston, L.
Leibosis, admin."

(Fonte: Les Entreprises Coloniales Françaises)

Fotos: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Segundo dados que recolhemos na Net, a NOSOCO foi criada em 1879, no Senegal, tendo-se tornado uma das maiores empresas na área da importação /  exportação. O seu negócio principal será a exportação de oleaginosas... Na Guiné portuguesa, estava em competição com a Casa Gouveia (Grupo CUF) (como vimos, socorrendo-nos das memórias de Cadogo Pai).

A NOCOSO, sociedade anónima,  acabou por se tornar uma filial da ainda mais poderosa UAC - United Africa Company, de origem britânica que, antes da II Guerra Mundial, detinha 40% do total do comércio da África Ocidental, mas já como subsidiária da transnacional Unilever, de capital britânico e holandês. (A UAC, com a crise do capitalismo de 1929, estava à beira da banca rota, sendo então comprada pela Unilever;  seria totalmente absorvida em 1987 pela empresa-mãe, a Unilever,  deixando portanto de ter existência, de facto e de direito).

Será interessante saber que a Unilever  nasce justamente em 1930 através da fusão da Margarine Unie (fabricante holandês de margarina) e da Lever Brothers (fabricante inglês de sopas). É hoje um dos gigantes mundiais do agroalimentar, das bebidas, dos produtos de limpeza e cuidados pessoais... Os "factos" falam por si:  c. 400 marcas, c. 170 mil empregados, c. 52,7 mil milhões de euros de faturação, c. 2,5 mil milhões de clientes... (Como termo de comparação, refira-se o montante das exportações portuguesas em 2016: c. 26,3 mil milhôes de euros, segundo dados da PORDATA).

E tudo (ou quase tudo ou uma grande parte ) começou em África... com o colonialismo europeu. Em África,  que continua pobre e subdesenvolvida...(***) (LG)
___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de setembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17772: Historiografia da presença portuguesa em África (88): Exposição Colonial Internacional de Paris, 1931 (1) (Mário Beja Santos)

(**) Vd. poste de 31 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15309: Historiografia da presença portuguesa em África (64): Cem pesos era "manga de patacão" para o camponês guineense, produtor de mancarra... Era por quanto venderia um saco de 100kg ao comerciante intermediário... Em finais de 1965 o governo de Lisboa garante a compra pela metrópole da totalidade da produção exportável da mancarra guineense e fixa o preço por quilo em 3$60 FOB (Free On Board)

Vd. também poste de 7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14126: (Ex)citações (258): A prosperidade de Bafatá não se deveu tanto ao "patacão da guerra" como ao negócio da mancarra (Cherno Baldé)

(***) Último poste da série > 17 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17775: Historiografia da presença portuguesa em África (89): Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14176: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte V (Mário Vasconcelos): 4 firmas de Bissau: Benjamim Correia (fundada em 1913), NOSOCO (francesa), Augusto Pinto Lda, e C. J. Matoso (talho moderno)








Fotos: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, da em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*). Tem inegável interesse documental.

São uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, deste edição, no espólio do seu falecido pai.

E, a propósito, faz hoje 52 anos que se iniciou, oficial ou oficiosamente, a guerra colonial na Guiné, com o ataque a Tite, na região de Quínara, em 23 de janeiro de 1963. Tenhamos um pensamento de homenagem a todas as vítimas desta guerra, civis e miliaters,  de ambos os lados.


2. Numa destas firmas, a NOSOCO - Nouvclle Société Commerciale Africaine [e não Africane, mais uma gralha], com sucursais em Bafatá, Farim, Bolama, Bissorã, Sonaco e Nova Lamego, trabalharam camaradas nossos como o Mário Dias [. ex-srgt comando, reformado], bem como o pai do nosso amigo Herbert Lopes, mas também conhecidos militantes do PAIGC, como o João Rosa, que guarda-livros...

A NOSOCO era então uma das principais firmas da Guiné, na opinião (qualificada) do nosso amigo e camarada Mário Dias, a propósito dos acontecimentos de 3 de agosto de 1959, no cais do Pidjuiguiti: "as principais casas comerciais da Guiné (vou designá-las pelo nome abreviado como eram conhecidas, Casa Gouveia (CUF), NOSOCO, Eduardo Guedes, Ultramarina e Barbosas & Comandita, tinham ao seu serviço frotas de lanchas - umas à vela e outras a motor - que utilizavam no serviço de cabotagem transportando mercadorias para os seus estabelecimentos comerciais e, no regresso, traziam para Bissau os produtos da terra, principalmente mancarra e arroz. A maioria deste tráfego era pelo rio Geba, até Bafatá e, para o Sul, até Catió e Cacine."

Segundo Carlos Domingos Gomes. Cadogo Pai, as empresas francesas sediadas na Guiné (SCOA, NOSOCO,  CFAO) começaram a ter problemas de liberdade comercial, face à posição monopolista da Casa Gouveia, ligada ao grupo CUF. O Luís Cabral, meio irmão de Amílcar Cabral, era empregado da Casa Gouveia, guarda-livros. As casas comerciais de Bissau, tal como o futebol e o 1º curso de sargentos milicianos, de 1959, deram fornadas de gente... ao PAIGC!


Guiné > Bissalanca > c. 1958/59 > Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). O João [da Silva] Rosa, o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné e um dos primeiros contactos políticos de Amílcar Cabral, tendo feito reuniões clandestinas, na sua casa, com o próprio Amílcar Cabral e outros nacionalistas guineenses, segundo informação do Leopoldo Amado, e que morreu em 1961, no hospital, na sequência da sua prisão pela PIDE], está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita é o Toi Cabral. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau (MD)

O terceiro elemento do grupo, a contar da esquerda, é Armando Duarte Lopes, o pai do nosso amigo Nelson Herbert, e velha glória do futebol guineense... (Esteve em 1943 no Mindelo, sua terra natal, integrado numa força expedicionária, vinda do continente, que veio reforçar o sistema de defesa da Ilha de São Vicente durante a II Guerra Mundial; viveu depois, trabalhou e casou em Bissau.

Como nos relembrou o Nelson, o pai era então "um jovem, robusto, futebolista conhecido na Guiné (Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor de futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa..). Foi encarregado, por muitos anos, do porto fluvial de Bambadinca, e ainda se lembra de episódios do djunda djunda (braço de ferro) entre a JAPG (Junta Autónoma dos Portos da Guine) e a tropa, relativamente a um batelão, propriedade do primeiro e que fazia regularmente o trajecto Bambadinca-Bissau, mas que a tropa insistia em açambarcar... para revolta das população da zona leste, já que dessa boleia dependia o escoamento da produção local (caprinos e produtos hortícolas) para os mercados de Bissau... (Seria o BOR?).

O apelido Herbert vem de outro lado, de um avô materno francês, que foi o representante local, na Guiné, da CFAO - Compagnie Française de l'Afrique Occidentale, fundada em 1887, e que continua a ser um importante grupo económico, líder da distribuição especializada em África e nos territórios franceses do Ultramar.

Foto: © Mário Dias (2006) . Todos os direitos reservado

2. Temos inúmeros postes sobre a cidade de Bissau. Alguns de nós fizemos lá comissão, tendo por isso um conhecimento das suas ruas, praças, monumentos,  restaurantes, esplanadas, casas comerciais, etc.  É o caso por exemplo do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º cabo  trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70):

Vd. poste de 20 de abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

Outros camaradas viveram lá anets e depois da tropa, acompanhando o progresso da cidade, nos anos 50/60, como foi o caso do Mário Dias (ex-srgt comando, ref, trabalhou e viveu em Bissau na sua aolescência e juventude, tendo frequentado em 1959 o 1º curso de sargentos milicianos que se realizou no CTIG):


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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7148: Memória dos lugares (102): Gadamael Porto e o enigma da sigla ou acrónimo A. S. C. O. num dos seus edifícios abandonados (Luís Graça / Pepito / Manuel Reis)

 Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Detalhe (foto nº 1) de um edifício abandonado (Foto nº2), possivelmente dos anos 30/40 do Séc. XX > "Antiga messe de oficiais e depois hospital", escreve o Pepito, na legenda...

Surpreendentes são, para mim, editor (que nunca estive neste local), a sigla ou acrónimo A.S.C.O. que encima a parte superior da parede lateral do edifício, com as letras ainda perfeitamente legíveis e bem conservadas, contrariamente ao resto do edifício, em ruínas... Tudo indica que essas letras tenham sido fixadas na parede em data posterior à construção do edifício (*)... (LG)



Foto:  © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem enviada ao Pepito, com conhecimento a diversos camaradas que podem dar uma ajuda no esclarecimento do assunto, por uma razão ou outra (conhecem ou conheceram bem a Guiné: caso do Pepito, do Mário Dias e do António Estácio Estácio; ou estiveram em Gadamael, no calor da batalha, entre finais de Maio e meados de Julho de 1973: caso do João Seabra, do Manuel Reis e do J. Casimiro Carvalho, três Piratas de Guileje, entre outros).


Pepito, António Estácio, Mário Dias:

Estou intrigado com a sigla ou acrónimo A.S.C.O. , existente na parede lateral de um edifício de Gadamael Porto... A foto foi o Pepito que ma mandou. Já a publicámos no blogue (*)... Na legenda, o Pepito diz: "Antiga messe de oficias e depois hospital" (sic)...

Inicialmente pensei numa casa comercial... Mas troquei os nomes: NOLASCO em vez de NOSOCO... Agora inclino-me para
ASCO - The American Society of Clinical Oncology... Será que os americanos tiveram lá, depois da independência, uma pequena clínica, ligada à investigação sobre o cancro ? É pouco provável, mas mesmo assim é uma hipótese a ponderar... Mas há também empresas industriais que incluem, na sua denominação, a palavra ou o acrónimo ASCO... Não fiz uma pesquisa exaustiva na Net...

Amigos e camaradas: têm alguma ideia do que seja (ou possa ter sido) ? Será alguma empresa comercial da época colonial ? Ou associação ou ONG sediada aqui no pós-independência ? Que utilizações terá tido este edifício antes e depois da guerra ? Mesmo de Gadamael, pré-Guileje (ou seja antes da batalha de Maio/Junho de 1973), sabemos muito pouco... Há muitas perguntas que ficam no ar: qual terá sido a função inicial do edifício ? Casa de habitação civil, não me parece... Edifício administrativo, entreposto comercial, armazém, loja ?  De que época será a sua construção ? Pela traça,  não me parece ser um produto típico da nossa arquitectura colonial, pelo menos como aquela que eu conheci no leste...


É bom não esquecer que a região de Cacine, no usl,  foi dada, pelos franceses, aos portugueses em troca de Casamansa, no norte, em finais do Séc. XIX , na sequência da Conferência de Berlim e como resultado da convenção franco-portuguesa de 1886 que levou à rectificação das fronteiras dos  actuais países independes da África ocidental, então colónias disputadas pela França (Senegal e Guiné-Conacri) e Portugal (Guiné-Bissau).

É também bom lembrar que nesta região operaram diversas empresas comerciais, nomeadamente de capital francês, como a Companhia Francesa da África Ocidental (CFAO), a Sociedade Comercial do Oeste Africano (SCOA) (onde trabalhou o Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC, e o Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai, membro da nossa Tabanca Grande), a Nova Sociedade Comercial (NOSOCO) (de que foram empregados o nosso Mário Dias e o Armando Duarte Lopes, velha glória do futebol africano, pai do nosso Nelson Herbert, mas também o João Rosa, outro dos co-fundadores do PAIGC)...  Estas são algumas de que me recordo, e que estão ligadas à história da Guiné-Bissau (para além da Ultramarina, da Casa Gouveia, etc., de capitais portugueses)...

Obrigado pela vossa ajuda no esclarecimento do "enigma". Um abração. Luís

PS - Em anexo, seguia o detalhe da foto em questão (reproduzida em cima)... Temos já uma resposta do António Estácio, a reproduzir oportunamente. Publica-se também um excerto do comentário (*) do Manuel Reis, que foi Alf Mil da CCAV 8350, e que conheceu bem o inferno de Gadamael, depois da retirada de Guileje, em 22 de Maio de 1973. (**)

2. Comentário do Manuel Reis (*):

(...) Estive lá [, em Gadamael,] em full time de 22 de Maio a 18 de Julho de 1973, período crítico da guerra, e apenas consegui ver [, na foto, ] a enfermaria e uma vala, ainda visível.

Essa vala ficou gravada na minha memória como o abrigo povidencial que partilhei com outro camarada, no dia 2 de Junho, quando o Comandante-Chefe Spínola decidiu aterrar a 20 metros do edifício, perante a correria desenfreada do Coronel Durão e dos gritos desesperados do meu companheiro de ocasião. (...)


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7142: (In)citações (12): Gadamael Porto, saúda-vos! (Pepito)
(**) Último poste desta série, Memória dos lugares > 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6942: Memória dos lugares (89): Bolama, a antiga capital colonial, um património em ruínas (Patrício Ribeiro)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7142: (In)citações (13): Gadamael Porto, saúda-vos! (Pepito)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Antiga messe de oficiais e depois hospital...

[Surpreendentes são, para mim, as letras ...ASCO que encimam a parte superior da parede lateral do edifício; não conheço Gadamael Porto nem a sua história, mas dada a sua posição geográfica privilegiada, estar na zona mais rica de produção de arroz (todo o Cantanhez), e ter acesso ao Rio Cacine, é possível que este edifício fosse um entreposto comercial e tenha pertencido a um comerciante ou família de comerciantes, de apelido NOLASCO; tenho ideia de já ter lido algures uma referência ao apelido NOLASCO; não confundir com a empresa francesa NOSOCO, onde trabalhou, em Bissau, nos anos 50, o nosso camarada Mário Dias(LG)].

Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Posto de sentinela junto ao porto


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Mamadu Mané, faxineiro



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >  Sené Mané, milícia de Gadamael, militar de Guidaje, CCAÇ 3




Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Suleimane Dabô, amigo do Furriel Alexandre, de Braga, cuja mulher lhe mandava brinquedos [para as crianças]




Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Laminé e Mussá



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 >Rui Sene N'Tchasso, aluno de Nuno, Barros, Furriel Chaves, Furriel Enfermeiro Gil e de Valentes, dos Açores






Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Suleimane Queita, soldado atirador



Fotos (e legendas):  © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação das fotos que nos mandou o Pepito, tiradas em Gadamael, no passado dia 10 (*).

Ele esteve lá, numa reunião com a população daquela zona fronteiriça. A AD está intensificar a sua intervenção na zona compreendida entre Balana a Gadamael (corredor de Guileje) no quadro do reforço da coordenação das acções ambientais transfronteiriças (corredores de animais selvagens e preservação das florestas comuns).

A população local (onde se incluem antigos milícias e militares que fizeram a guerra do nosso lado) fez questão de mostrar os vestígios do antigo quartel (que, na opinião do Pepito, estariam melhor preservados que os de Guiledje), e de enviar calorosas saudações para os militares que com quem lidaram  e de quem se tornaram amigos. 


O Pepito acaba também de nos mandar mais uma valiosa colecção de fotos recentes de Guileje, com novos "achados arqueológicos"  da passagem, entre 1964 e 1973, de tropas portuguesas por aquela tabanca e aquartelamento (abandonado em 22 de Maio de 1973).




Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d > Tabanca, reordenada pelas NT. Em Maio de 1973, a guarnição de Gadamael era constituída pela Companhia de Caçadores 4743, que dependia operacionalmente do COP 5, com sede em Guileje. Havia ainda um pelotão de canhões S/R, com cinco armas, e um pelotão de artilharia de 14 cm, com três bocas de fogo. 


Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).

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segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P268: Memórias de Turpin e da Bissau do seu tempo (Mário Dias)

Elisée Turpin (n. 1930, em Bissau), co-fundador do PAIGC (1956).

Fonte: PAIGC (2003) > Depoimento de Elisée Turpin

Mais informações, pormenorizadas, sobre o Turpin, por parte do Sargento Mário Dias, dos comandos, ex-camarada do Virgínio Briote (por cujo intermédio chegou esta mensagem:

Ao passar pelo foranada li as memórias do Elisée Turpin de quem me recordo perfeitamente. Era empregado no escritório da SCOA que ficava num edifício com a estrutura em grande parte de ferro, ao lado da catedral.

O Elisée Turpin tinha um irmão, de nome Antoine, que eu conheci quando estava em Farim. Ele era o encarregado do armazém de produtos (mancarra e coconote) que a NOSOCO tinha em Binta. Ali estive muitas vezes com ele quando embarcávamos os referidos produtos nos barcos da SG que iam carregar ao porto de Binta.

Mas voltando à SCOA, onde o Turpin foi empregado de escritório: Depois do encerramento dessa casa comercial, esse edifício serviu como sede do Sindicato e da Caixa Sindical onde curiosamente eu trabalhei no período que mediou entre a minha passagem à disponibilidade - Outubro (?) de 1960 - e o regresso ao serviço militar activo, em Janeiro de 1963. Actualmente esse edifício é uma pensão, segundo tenho visto publicado no blogue - onde inclusivamente dele existe uma foto.

Já agora, e apenas também como curiosidade, eu fui trabalhar para o Sindicato porque, enquanto estava no serviço militar (com o Domingos Ramos, Rui Jassi, Constantino Teixeira, etc. etc.), a NOSOCO, firma comercial francesa onde eu trabalhava, encerrou a sua actividade na Guiné.

A sede da NOSOCO ficava junto ao rio, estendendo-se as traseiras para a actual Rua Guerra Mendes, mesmo junto a um dos baluartes da Amura. Ao lado era a PSP, comandada pelo major Pezarat Correia, pai do actual brigadeiro (ou general?) ligado ao 25 de Abril de 1974. Este edifício foi, durante a guerra, sede e armazém da Manutenção Militar.



















A pacata Bissau colonial dos anos 60. A Praça da República. Postal da época.

Imagem enviada por João Varanda, ex-militar da CCAÇ 2636 (Có, 1969/71).

Das pessoas referidas pelo Elisée (1) recordo-me perfeitamente de:

- Benjamim Correia, que tinha uma loja de bicicletas e acessórios e era um conceituado comerciante muito estimado e considerado entre a população da Guiné, "colonos" incluídos;

- Rafael Barbosa, que era funcionário das Obras Públicas e tinha uma pequena deficiência numa perna que o obrigava a mancar;

- Quanto ao Inácio Semedo, o único Semedo de que me recordo era o guarda-redes do Sporting de Bissau, alcunhado de "Swift"; talvez não seja o mesmo;

- Luís Cabral, irmão do Amílcar, trabalhava na Casa Gouveia.

Porém, aqueles de quem melhor me lembro - por com eles ter lidado mais de perto - são:

- Fernando Fortes que era funcionário dos Correios em Bissau: tinha um irmão (Alfredo, salvo erro) que nos meus tempos de Farim (1953/55) era o Delegado Aduaneiro naquela localidade;

- João Rosa foi meu colega de trabalho na NOSOCO. Era o guarda-livros. Fui muitas vezes a casa dele no Chão Papel (2). Era muito meu amigo e fui visitá-lo ao hospital quando ali foi internado, já sob prisão da PIDE;

- João Vaz era o alfaiate dos serviços militares. A oficina era na Amura e era ele que fazia o fardamento para os recrutas e demais militares. Ainda tenho comigo um camuflado que ele me fez sob medida.

E chega por hoje. Se me ponho a desbobinar as recordações da Guiné, nunca mais paro.

Mário Dias
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(1) Vd. post de 12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXV: Antologia (24): Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC.

(2) Vd. planta da cidade de Bissau (pós-independência): o Chão de Papel ficava a sudoeste da cidade, contígua a Bandim.