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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24088: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte III: A fuga para Dacar, nos princípios de 1960, com a ajuda do madeireiro e antigo deportado político Fausto da Silva Teixeira


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal). A Associação (também comhecida por Câmara do   Comércio de Bissau) ficava junto ao palácio do governador... O projeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves (1920-1981), e a remonta  à segunda  metade da década de 50. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974, a sede da Associação Comercial  passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou seja dos novos senhores da guerra, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.

Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que Portugal  deixou  em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.

Nascido em Santo Antão, Cabo Verde, J
orge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.

Foto: © Agostinho Gaspar (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Anúncio comercal, publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.  Digitalização: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné LG. O Mário Vasconcelos faleceu, infelizmente, em 2017.]

1. O madeireiro Fausto da Silva Teixeira podia ser considerado "simpatisante" da causa nacionalista (leia-se: do PAIGC). Mas nunca foi "militante"... Tinha serrações modernas, mecânicas, em Bafatá, Fá Mandinga e Banjara, antes da guerra.   A sua firma foi fundada logo em 1928. Sabemos que em 1947 já estava plenamente integrado na sociedade guineense, sendo um empresário respeitável... Como o próprio Amílcar  Cabral (AC), conceituado engenheiro agrónomo até 1960...

No nosso blogue temos uma dúzia de referências ao Fausto Teixeira. Num dos postes que já publicámos (*), reproduzimos um documento, de setembro de 1966, dactilografado, de 16 páginas (capa incluída), que tem a chancela do PAIGC, e  que se destinava a dar a conhecer (e a combater) "os interesses capitalistas estrangeiros (portugueses e não portugueses) na Guiné e Cabo Verde" (sic) (*). Estranhamente (ou nem por isso),  não vem o nome da firma Fausto da Silva Teixeira.

De facto, no ponto XII, há referências aos "madeireiros", mas as empresas citadas são apenas três, e nenhuma delas nossa conhecida... A omissão do nome do Fausto da Silva Teixeira, é capaz de fazer sentido.

Na altura dissemos que, em relação à fonte da informação documental, no essencial, e tendo em conta o detalhe dos dados, parecia-nos ser de origem portuguesa, fornecida pelos meios oposicionistas que então combatiam o regime de Salazar. (talvez a partir de Argel).

O nome de Fausto Teixeira  também  não aparece na lista das 600 personalidades que constam, como tal, no respetivo blogue e na respetiva página do Facebook ("notas biográficas de cidadãs e cidadãos que lutaram contra o fascismo e o colonialismo"). 

Mas o mesmo acontece com outros dos seus companheiros de desventura: de facto, também não contam dessa lista os nomes de Gabriel Pedro (1898-1972) (igualmente desterrado para a Guiné e depois para o Tarrafal, tal como o seu filho Edmundo Pedro) e de Manuel Viegas Carrascalão (1901-1977) (operário gráfico, anarcossindicalista, preso sob a acusação de bombismo e de pertencer, tal como Fausto Teixeira e Gabriel Pedro, à "Legião Vermelha", acabando por ser desterrado para Timor em abril de 1927, no navio "Pêro de Alenquer", numa viagem que vai demorar 5 meses, com passagem por Cabo Verde, Guiné, onde desembarcam alguns deles e entram outros, e Moçambique onde é rendido o comandante do navio.).

No caso do Fausto Teixeira, a omissão do seu nome,  talvez possa ser devida ao facto de lhe terem perdido o rasto, desde que, com vinte e poucos anos, foi desterrado para a Guiné, em 1925, não pelo "fascismo" da Ditadura Militar / Estado Novo,  mas ainda pela I República em fim de vida.

De qualquer modo, Guiné e Timor eram dois dos piores sítios do nosso glorioso Império para onde o Estado mandava os desgraçados dos "desterrados políticos", sendo ali entregues à sua sorte. Para este inferno, que eram estas duas colónias, iam em geral os indivíduos de profissões manuais ou, no caso de militares, os soldados e os marinheiros. Enfim, até no exílio e deportação, todos eram iguais mas uns eram mais iguais do que outros.

Em todo o caso sabe-se, desde pelo menos a publicação, em Portugal, em 1984, das memórias do Luís Cabral ("Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 464 pp., uma edição miserável, o livro, brochado, em que as folhas nems equer são cosidas, apenas coladas, desconjuntando-se todo...), que a fuga deste para Dacar, capital do  Senegal, em princípios de 1960, só terá sido possível com a cumplicidade  e ajuda de dois portugueses, deportados políticos, e oposicionistas ao Estado Novo:

(i)  Maria Sofia Carrajola Pomba [Amaral da Guerra, por casamento], farmacêutica, dona da Farmácia Lisboa, em Bissau (alguns dos seus ajudantes ou empregados destacar-se-iam depois como militantes  do PAIGC, o Epifânio  Souto Amado e o Osvaldo Vieira); apesar de ter ficha na PIDE, vai para a Guiné, nos princípios dos anos 50, com o marido:

(...) "o seu apoio, ao embrionário nacionalismo independentista, é reconhecido pelos históricos dirigentes do PAIGC  que não poupam elogios ao seu papel na luta anticolonialista, nomeadamente no auxílio à organização clandestina de reuniões, na prestação de informações relevantes sobre prisões iminentes, como a de Carlos Correia, e na preparação de fugas, como a de Luís Cabral (auxiliado também por Fausto Teixeira)" (**)

(ii)  Fausto Teixeira (há dúvidas sobre a sua idade: um seu neto diz que nasceu em 1900 e morreu em 1981, mas sabe-se que desembarcou na Guiné em 1925).

2. Vamos ver, na "Crónica da Libertação",  algumas passagens sobre a fuga do Luís Cabral (LC)

O LC era "guarda-livros" (noutras passagens intitula-se contabilista...)  na Casa Gouveia, que pertencia ao Grupo CUF. Mas o seu trabalho político clandestino, no seio do PAI (ainda não se usava a sigla PAIGC) começou a levantar suspeitas da polícia política, mais organizada e ativa depois dos "acontecimentos" de 3 de agosto de 1959 (greve dos marinheiros e trabalhadores das docas do Pijiguiti). 

Na altura o PAI ainda estava confinado a Bissau e era formado por pouca gente,  sobretudo de origem cabo-verdiana, pequeno funcionalismo de 3 ou 4 empresas: além da Casa Gouveia, a NOSOCO, o BNU, os CTT... E a versão sobre o Pijiguiti, onde a Casa Gouveia e o seu subgerente, António Carreira, tiveram muitas culpas no desfecho trágico da greve (pp. 65-70) está muito mal contada por  LC: o PAI quis chamar a si, indevidamente, os louros...

Em contrapartida, "na Casa Gouveia, o meu trabalho profissionalmente sério continuava dando os seus frutos, num momento em que os homens do grupo CUF (Companhia União Fabrl) começavam a aceitar a necessidade de alguma africanização dos quadros superiores da empresa" (pág. 81).

Com uma boa opinião dos patrões, gabinete novo, casa própria, um bom salário, a mulher também tinha um bom emprego, um casal com respeitabilidade e  prestígio na comunidade, etc., o LC tinha tudo para fazer uma boa carreira na empresa. Mas a sua opção foi outra: seguir o irmão, AC, na luta pela independência da Guiné e Cabo Verde. 

Estamos na véspera na inauguraçao da Associação Comercial, Agrícola e Industrial da Guiné, um edifício moderno, de arquitetura arrojada para a época, pago pelo Governo central.

Aristisdes Pereira,  que era chefe da Estação Telegráfica dos CTT (e o Fernando Fortes era  o chefe da Estação Postal, na prática os "donos" dos CTT) , em Bissau, consegue interceptar um telegrama em que o administrador da Gouveia (que tinha vindo  de propósito de Lisboa para assistiir às "festividades" em Bissau)  telefonou para a sede a pedir um novo guarda-livros para a empresa, já que o LC ia ser preso... Mas só "depois de encerradas as contas  do ano comercial findo",  a pedido da própria empresa...  (pág. 83), o que dá uma ideia da promiscuidade entre a PIDE e alguns meios empresariais...

A notícia, confirmada pela dra. Sofia Pomba Guerra (que tinha bons contactos com, pelo menos,  um oficial do exército), pôs em marcha o dispositivo para a fuga: "um antifascista português estava pronto a encarregar-se de me fazer sair, a todo o momento, do país" (pág. 83).

Fausto Teixeira é descrito como um "deportado político e muito conhecido pelas suas opiniões contra o governo fascista".

Pormenores da fuga, relativamente segura e discreta,  podem ser lidos nas páginas 83-87.

(i)  na véspera de partir o LC não escapou aos rituais da superstição que os seus "camaradas de Partido" lhe impuseram: ao sair de casa tinha que deixar cair um ovo no chão; se ele não se partisse,  devia desistir da viagem (!) (pág.  84);

(ii) o automóvel do Fausto era um Peugeot 203, pintado de cor azul forte ("se a memória não me falha") (pág .85);

(iii) o LC entrou no carro do Fausto, ja era noite, frente ao cinema UDIB, um dos sítios mais iluminados da Av. da República,  deitou-se no chão,  enquanto o carro  seguia lentamente pela Av. da República acima:

(iv) O condutor, por sua vez, "ia tranquilamente saudando as pessoas pelo caminho e  até parou  escassos segundos para dizer  algumas palavras ao inspector da PIDE que estava sentado na esplanada na Pastelaria Império " (pág. 85);

(v) a PIDE nunca suspeitou do plano: esperava que o LC caísse na armadilha de levar o seu próprio carro, daí ter posto guardas na ponte de Ensalma e à entrada de Mansoa: Fausto usou um dos seus camiões para ludibriar a vigilância dos guardas...

(vi) conhecido dos guardas, o Fausto não teve necessidade de parar: o LC atravessou a ponte escondido no  camião: já na estrada de Nhacra,  saiu do camião e voltou a entrar no automóvel e tudo correu bem até ao fim da viagem, perto da fronteira com o Senegal:

(vii) (...) "foi uma viagem agradável. O meu companheiro falou muito da sua vida política em Portugal, da sua prisão e do seu envio para a Guiné. Aqui o Governador deportou-o para a ilha de Bubaque, donde não podia sair.  Pouco a pouco a pressão  foi no entanto diminuindo, até ele poder viver como toda a gente" (pág. 85).

(viii) o LC acrescenta mais, para justificar o gesto altruísta do madeireiro:

 "Queria ajudar a luta de libertação da Guiné. (...) Considerava-se devedor dessa contribuição. Para já, estava em condições de tirar do pais qualquer militante que tivesse que sair. (...) Tinha pintado uma tira branca numa grande árvore, mesmo à entrada do entroncamento  que conduzia à serração, partindo da estrada de Mansabá a Bafatá" (pp. 86/87).

(viii) E conclui:

(...) "Entrámos na serração e logo a seguir continuámos em direção à fronteira, perto da localidade de Fajonquito. A  estrada tinha sido aberta pela Missão Geo-Hidrográfica e nunca era utilizada. A mata era tão cerrada que muitas vezes o caminho parece de longe não poder dar passagem a um carro. (....) Pouco depois, passávamos ao lado da tabanca de Fajonquito e  em seguida o meu companheiro parava o carro e mostrava-me  a tabanca senegalesa de Salekenié. (...) Devia ser por volta das três horas da madrugada quando nos separámos. (pág. 87).

Admitindo que o Fausto e o LC tenham partido às 20h00 de Bissau e chegado às 3h00 da manhã, à fronteira, logo a seguir a Canhanima (com Fajonquito à esquerda) e Cambaju (o "chão" do nosso Cherno Baldé) terão percorrido pouco mais de 200 km em 6/7 horas... Na época, e em plena estação seca (estávamos em janeiro), e ainda não havendo guerra (minas, emboscados, abatises...) até foi uma boa média... (No tempo das chuvas, e em plena guerra, eu cheguei a fazer um quilómetro por hora, na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho...)

Como não conhecemos outras versões deste episódio, não podemos confirmar ou infirmar a veracidade dos factos. Mas tudo indica que se terá passado mais ou menos assim como o LC descreve. (****)

PS - A grafia correta da aldeia fronteiriça senegalesa, em frente  a Cambaju,  deve ser Selikenié, segundo o mapa da Google,  e não Salekenié, como escreve o LC. (Mas aqui o Cherno Baldé deu-nos uma ajuda: a grafia portuguesa é Saliquinhé; não confundir com  Saliquinhedim, a sul de Farim, que os militares portugueses conheciam melhor por K3; os topónimos guineenses são tramados.)




Guiné > Carta da província (1961) > Escala 1/500 mil  > Provável percurso do Luís Cabral e do Fausto Teixeira, numa noite de janeiro de 1960, de Bissau até à fronteira do Senegal (Selikinié / Saliquinhé), passando por Mansoa. Mansabá, Banjara, Camamudo, Contuboel e Cambaju... Segundo o Cherno Baldé, os nossos homens teriam evitado Bafatá e seguido de Banjara para Camamudo, e depois apanhando a estrada Bafatá-Contuboel-Senegal... Fajonquito fica ao lado de Canhámina(estamos em pleno coração do "chão" do nosso amigo Cherno Baldé).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

___________

(***) Vd.postes de:


18 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (84): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)

16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (83): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...

8 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17447: (De) Caras (75): Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas (Fá Mandinga, Banjara...) a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e respeitável em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960..."Quem foi, afinal, o meu avô?", pergunta o neto Fausto Luís Teixeira (nascido em Ponte Nova, Bafatá, onde viveu até aos três anos)..

(****)  Vd. postes anteriores da série:

2 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24031: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos- Parte I: Ainda não foi desta que o autor nos contou toda a verdade...

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22806: Fotos à procura de... uma legenda (156): Os quatro membros da comitiva guineense (a saber Sene Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alagé Baldé, amigos do meu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres,) às Comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique, agosto de 1960 (Lucinda Aranha, escritora) - Parte I


Foto nº 1  > Sane Sané, régulo de Canquelifá, tenente de 2ª linha, descendente do último rei do império do Gabu (morto na batalha de Cansalá, em 1867), em traje cerimonioso. (Vd. foto dele com o nosso camarada Jorge Ferreira, em 1961, junto ao marco fronteiriço em Buruntuma).

Segundo o nosso calaborador permanente, Cherno Baldé, em mensagem de 27/11/2019, "o actual régulo de Paquessi ou Pakessi que abrange as aréas de Canquelifa, Camajaba e Buruntuma, é o Bacar Sané, um dos filhos do velho régulo dos anos 60."

Por sua vez, o Patrício Ribeiro informou-nos, na mesma data, que o José Bacar Sané, telemóvel nº 00254...119, morador em Canquelifa, é o actual régulo de Canquelifa e Buruntuma, já com alguma idade. (Foi antigo militar português do grupo de Marcelino do Mata)."

 
Foto nº 2 > Lisboa > Agosto de 1960 > Os quatro membros da comitiva guineense, a saber Sene Sané (, aqui trajado à europeia), Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alage Baldé ( este último,  padre muçulmano), à varanda da casa do Manuel Joaquim dos Prazeres (que foi o fotógrafo). O religioso  é o segundo a contar da esquerda, portador de um amuleto. O último, com cinto de 
fivela, seria um alferes de 2ª linha,  um dos Embaló. Segundo imformação do Patrício Ribeiro com data de 27/11/2019, atualmente "o Regulado de Piche é desempenhado pelo marido de Djana Embaló, residente em Dara. Em Piche, não há nenhum régulo."

A grafia correta do reliogos deve ser Alage (El-Hadj) Baldé ou Embaló. (Recorde-se que Alage ou El Hadj é um título honorífico reservado ao crente muçulmano que, em vida, consegue ter a felicidade de fazer, com sucesso, pelo menos uma peregrinação anual, Hajj, a Meca).

 
Foto nº 3 > Agosto de 1960 > Os nosos convidados à porta da casa... O dignitário religioso, é o primeiro da esquerda; o Sene Sané é o terceiro.


Foto nº 4 >Agosto de 1960 > Almoço dos quatro guineenses em casa do Manuel Joaquim dos Prazeres. Eram seus convidados, mas o pai da Lucinda Aranha não os acompanhou nas cerimónias. 



Foto nº 5 > Os quatro membros da comitiva guineense, com dois brancos que não sabemos identificar (podiam ser acompanhantes) junto às instalações da antiga Exposição do Mundo Português de 1940, que entretanto foram demolidas. As Comemorações do V Centenário da Morte do Infante Dom Henrique realizaram-se em Lagos e em Sagres, em 6, 7 e 8 de agosto de 1960, com desfile naval e a  presença dos chefes de Estado de Portugal e do Brasil. Mas realizaram-se outras cerimónias noutros pontos do país.  A Lucianda Aranha que já era aluna do liceu, em 1960, não se lembra se os convidados do seu pai deslocaram-se a Sagres e a Lagos.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Piche > 1969 > Os outros três membros da comitiva guineense em "trajes tradicionais", Sampulo Embaló, Alage Baldé e Duarte Embaló e  (, não sei se por esta ordem). 

Eram de Piche, pequena cidade da região do Gabú, onde o meu pai dava cinema a caminho de Canquelifá. Lembro-me de um deles ter dito que era padre e das abluções antes dos almoços. Segundo me explicaram, e penso que correctamente, usavam cinto de alferes  (Foto nº 5) e um deles uma "medalha" que o identica como religioso.



Foto nº 7 > Guiné > Região de Gabu > Piche > 1969 > Legenda no verso da foto nº 6: "Meu caro amigo Manoel Joaquim Prazeres, mando-te esta foto, a fim de lhe cervir (sic) como recordação. Sou eu, Sampulo Embaló e o Alage Baldé e Duarte Embaló. Piche, 11-12-969"


Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Lucinda Aranha, 7 de setembro de 2021:

Lucinda Aranha, foto à esquerda: (i) escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, (ii) autora de uma biografia ficcionada do pai, a que chamou "romance": "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.; (iii) autora também dos livros "Melhor que Cão é ser Cavaleiro" (Colibri, 2009) e "No Reino das Orelhas de Burro" ( Colilibri, 2012), este último recheado de histórias e memórias dos tempos em que o seu pai viveu, em Cabo Verde e na Guiné, desde os anos 30 até 1972; (iv) tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue; (v) é membro da nossa Tabanca Grande desde 15/4/2014;  (vi)  tem página no Facebook, Lucinda Aranha - Andanças na Escrita.

Bom dia, Luís e Carlos.

Espero que tudo esteja bem convosco e família. Aproveito ter de escrever para cumprimentar também o Carlos de quem há muito não tenho notícias.

Luís, infelizmente gravei mal o número de telemóvel da Lena
 [Carvalho], minha amiga de infância que vive nas Caldas, e perdi ainda o cartão dela. 

Acontece que com a morte da minha irmã Ju encontrei uma série de fotografias que estavam perdidas. A Lena está em várias delas e gostava de falar com ela a propósito. 

Encontrei também fotografias de África que me parecem muito interessantes, penso que algumas dizem respeito a sessões cinematográficas e outras de uns certos Sené Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alagé Embaló, algumas com uma "carta" no verso.

Enfim, acho um material interessante, vou pesquisar junto de amigos e conto com vocês os dois para me ajudarem porque penso que não ficariam mal no nosso Blogue.

Desculpem estar sempre a aborrecê-los. Beijos e saudades. Lucinda

2. Nova mensagem de Lucinda  Aranha

Data - Quarta, 8/12/2021, 19:22 
Assunto - Comemorações do quinto centenário da morte do infante D. Henrique

Boa tarde, Luís. Espero que estejas melhor dos teus achaques ósseos.

Como já te disse, encontrei umas fotos que penso podem interessar ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Envio-te só uma parte; há outras que penso serem de uma sessão de cinema mas ainda tenho muitas dúvidas. Se vires que não interessam tudo bem.


Comemorações henriquinas de 1960

Em Agosto de 1960, o Estado Novo comemorou os cinco séculos passados sobre a morte do Infante D. Henrique que a política nacionalista da ditadura guindou a figura primeira dos Descobrimentos portugueses. 

Esta tese é muito contestada por diversos historiadores, nomeadamente por Vitorino Magalhães Godinho que viu o infante como o émulo da expansão pela força das armas ao serviço dos interesses da nobreza.

1960 marca o início da ascendência dos países africanos recém-descolonizados na ONU. Um ano mais tarde, o Conselho de Segurança vota favoravelmente uma resolução condenando a política colonial portuguesa. Portugal enfrentava também ameaças na Índia e em Angola, que rapidamente se estendem a Moçambique e à Guiné-Bissau, onde crescem os movimentos autonomistas.

De nada valeu a Salazar o expediente de 1951, quando extinguiu o conceito de Império dando às Colónias o estatuto de Províncias Ultramarinas, integrando-as no território nacional. Nada fez parar o desejo de emancipação dos povos das Províncias Ultramarinas; a guerra pela independência a que a ditadura chamava guerra terrorista era imparável.

Também de nada lhe valeram outras comemorações que visavam criar a unidade, aproveitando-se datas com heróis insensados pelo regime.

Este pequeno texto procura contextualizar de forma sucinta as fotografias que se seguem pertencentes ao arquivo do meu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres, de cuja existência tinha conhecimento, mas cujo paradeiro era desconhecido.

Por um acaso, fiquei de posse destas fontes históricas que retratam acontecimentos do quotidiano relacionadas com as comemorações em causa.

Durante estas comemorações, recebemos, em visita social, em nossa casa, por diversas ocasiões, quatro membros da comitiva guineense, a saber Sene Sané, Sampulo Embaló, Duarte Embaló e Alage Baldé (Fotos nºs 1,2,3,,4,5,6 e 7)

Dos quatro, o de maior hierarquia era Sene Sané (Foto nº 1), régulo de Canquelifá, mandinga, descendente de Mana Djanque Vali, rei do Império do Gabú, que englobava uma parte do Senegal e a Gâmbia até ao nordeste da Guiné-Bissau. Morreu na batalha de Cansalá, 1867, vencido pelos Fulas de Gabu e do Futa Djalon vindos da Guiné Conacri. Assim acabou o reinado dos Mandingas que foram islamizados.

Quanto aos outros três membros da comitiva guineense cujos nomes já referi (Fotos nºs 2, 3 e 6), sei apenas que eram de Piche, pequena cidade da região do Gabú, onde o meu pai dava cinema a caminho de Canquelifá. Lembro-me de um deles ter dito que era padre e das abluções antes dos almoços. Segundo me explicaram, e penso que correctamente, usavam cinto de alferes e um deles uma "medalha" que o identica como religioso (Foto nº 2) 

A importância do Sene Sané  fica clara no título de Régulo, Tenente de 2ª linha, tendo inclusive sido eleito, em 1963, pelas autoridades das regedorias como um dos três vogais representantes das várias etnias ao Conselho Legislativo a funcionar na Província Ultramarina da Guiné, criado pela Portaria n.º 19921, D.G. n.º 150/1963, série I.
 [Os outros dois foram o régulo de Badora, Mamadu Bonco Sanhã, e o régulo de Cachungo, Joaquim Baticã Ferreira, fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência. LG ]

O dito Conselho reuniu pela primeira vez, em 1964, já sob a presidência de Arnaldo Schulz. Uma outra medida destinada a manter a integridade de todo o império, o que fica muito claro num artigo de O Arauto ( Ano XXII, nº 5338, 14 de junho de 1964, pp 62/63) intitulado "A política da não-discriminação...." Seguem-se alguns excertos do artigo:






Fonte:  Guiné, Bissau, "O Arauto", Ano XXII, nº 5338, 14 de junho de 1964,  pp 62/63 (Excertos)



Sobre o Sene Sané,  é de referir que morreu em 1969, um ano após o final do seu mandato no Conselho Legislativo.

Quero salientar, de entre os restantos vogais,   António Augusto Esteves e James Pinto Bull por terem sido amigos de família e com as respectivas famílias habitués de nossa casa. O primeiro foi padrinho de casamento de três das minhas irmãs; a mulher e os filhos do segundo viveram, por diversas vezes, quando vinham à metrópole na nossa casa ,em Lisboa, tendo também as nossas famílias convivido numa vivenda da Parede, em férias de verão.







Fotos (com legendas): Extraídas de O Arauto, 14 de junho de 1964

(Continua) 
__________

Nota do editor:

quinta-feira, 29 de abril de 2021

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20693: Efemérides (319): O "Jornal do Exército", fundado em janeiro de 1960, faz 60 anos (Jorge Araújo)


Capa do 1.º número do «Jornal do Exército» - Janeiro de 1960 (Tiragem: 20 mil exemplares). 


Cabeçalho do "Jornal do Exército", ano I, nº 1, janeiro de 1960, Preço: 2 escudos (convertidos em euros, a  preços de hoje, equivaleria a 0,89 €)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.  



EFEMÉRIDES: A PUBLICAÇÃO DO JORNAL DO EXÉRCITO, ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, FOI INICIADA HÁ SESSENTA ANOS (JAN 1960)



1. – INTRODUÇÃO

Numa das últimas pesquisas efectuadas a literatura de âmbito militar, foi com surpresa que dei conta das origens do «Jornal do Exército», informação que, sinceramente, desconhecia. Considerei, então, uma feliz coincidência.

Numa altura em que se comemorou o seu 60.º Aniversário (Jan 1960-Jan 2020), achei interessante dar conta, ainda que em síntese, de alguns detalhes que estão na génese do seu nascimento, e que fazem parte da História de uma época – a minha!

Sobre a existência deste órgão de informação do exército português, e como memória mais remota, recordo-me de ter manuseado/folheado alguns números, nomeadamente a partir do ano lectivo 1960/1961, ano em que ingressei no Liceu Camões em Lisboa, então disponíveis na Biblioteca e no Gabinete da Mocidade Portuguesa. Estávamos ainda, nessa ocasião, nos primeiros meses da sua existência.

Passadas que estão seis décadas, e porque não encontrei qualquer referência no blogue relacionada com este tema, entendi ser oportuno recordar, aqui e agora, esta efeméride.


2. – ANTECEDENTES HISTÓRICOS

De acordo com as fontes consultadas, foi a 7 de Dezembro de 1959, 2.ª feira, que a ideia da criação do «Jornal do Exército» é objecto de reflexão no seio militar, uma vez que a alínea c) do artigo 62.º do Decreto-Lei n.º 42564, de 7 de Outubro de 1959, aprovara a criação de um órgão de informação, cultura e recreio do exército português, na dependência directa da Direcção do Serviço de Pessoal e no âmbito das atribuições que a esta lhe estavam conferidas.

Assim, e para esse efeito, reuniram-se numa dependência do Colégio Militar, em Lisboa, o Brigadeiro David dos Santos (futuro 1.º Director do Jornal), os Majores Balula Cid (Professor de Desenho do Colégio Militar, caricaturista e futuro 1.º Chefe de Redacção), Pinto Coelho, Eduardo Fernandes e Tavares Figueiredo e o Capitão José Marques, onde os seus mentores redigiram a competente proposta para ser analisada superiormente.

Em 11 de Janeiro de 1960, 2.ª feira, decorridas cinco semanas, é publicado um despacho do Ministro do Exército, Brigadeiro Afonso de Almeida Fernandes [nome completo: Afonso Pinto de Magalhães Galvão Mexia de Almeida Fernandes (1906-1986)], com o seguinte teor:

"Aprovo com a maior satisfação a presente proposta que vem ao encontro de uma aspiração que há muito acalentámos e que as circunstâncias parecem tornar agora oportuna. Conviria que o primeiro número do Jornal saísse ainda no corrente mês, o que julgo possível, em face do trabalho preliminar já realizado. O Jornal intitular-se-á «Jornal do Exército» (…)."

Esse desejo foi possível concretizar ainda em Janeiro, com o primeiro número do Jornal a registar uma tiragem de vinte mil exemplares.

A 26 de Janeiro, 3.ª feira, ou seja quinze dias após a publicação do despacho do Ministro, o Jornal do Exército abandona o Colégio Militar e passa a ocupar o 2.º andar do n.º 61 da Rua da Escola Politécnica, em Lisboa.

A 14 de Julho de 1960, 5.ª feira, por Portaria do Ministério do Exército, é criado formalmente o «Jornal do Exército», definido como: Órgão de Informação, Cultura e Recreio do Exército Português.

(Fonte: https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2016/06/18/as-tm-no-no-1-do-je-jan1960/), com a devida vénia.



Legislação que aprova a criação de um órgão de informação do Exército Português (Decreto-Lei n.º 42564, de 7 de Outubro de 1959 e Portaria n.º 17843, de 14 de Julho de 1960) – Adaptado do Jornal do Exército n.º 100, de Abril de 1968, p 47, com a devida vénia.


3. – A MISSÃO A CUMPRIR PELO «JORNAL DO EXÉRCITO»


Cumprindo com o protocolo institucional, o Brigadeiro Afonso de Almeida Fernandes, na qualidade de Ministro do Exército (1958-1961), e considerado ainda como sendo o fundador do «Jornal», pois foi através do seu despacho que a revista foi criada, explicitou os fundamentos da "Missão a Cumprir" por este Órgão de Informação Militar, mas também aberto à sociedade civil, referindo:

(…) "Trata-se, como se disse, de um elemento de informação geral, sem a preocupação de versar problemas militares de natureza demasiadamente técnica e especializada, os quais interessam fundamentalmente às publicações das respectivas especialidades." (…), (Jornal do Exército, nº 1, janerio de 1960, p 5.)

Como pequena nota biográfica é de relevar o seguinte:

Afonso Pinto de Magalhães Galvão Mexia de Almeida Fernandes, conhecido na estrutura militar como Afonso de Almeida Fernandes, nasceu na Freguesia de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, em 12 de Dezembro de 1906.

Foi oficial da Arma de Engenharia, tendo-se licenciado em Engenharia Civil (1928) pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, onde conheceu a sua esposa, a engenheira Maria Amélia Sousa Ferreira Chaves Almeida Fernandes (1911-2017), a primeira engenheira portuguesa formada por aquele Instituto.

Como actividade docente, foi Professor da Escola do Serviço de Saúde Militar (1942-1943) e, ainda, Professor do Curso do Estado-Maior do Instituto de Altos Estudos Militares (1943).

No âmbito das suas competências institucionais, fez parte da missão militar de estudo e observação na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial (1942), da missão oficial junto do Estado-Maior Francês e da NATO, em Paris (1954), e da missão oficial junto ao Estado-Maior Espanhol, em Madrid (1955).

Foi subsecretário de Estado do Exército (1956-1958).

Em 1958, foi nomeado Ministro do Exército na mesma remodelação que nomeou o General [Júlio Carlos Alves Dias] Botelho Moniz (Lisboa, 12.01.1900-30.09.1970) para Ministro da Defesa, mantendo-se no cargo até 1961.

No governo, reorganizou a Escola do Exército e foi um grande impulsionador da defesa dos territórios ultramarinos.

Foi o criador, em 1960, do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego, Decreto-Lei n.º 42926, de 16 de Abril de 1960, onde se formaram as primeiras Companhias de Caçadores Especiais [CCE] que foram enviadas para Angola ainda antes do início da Guerra.

Nesta, o dia 4 de Fevereiro de 1961, sábado, surge-nos como o primeiro acto gravado na sua cronologia [outra efeméride, esta com cinquenta e nove anos], quando um grupo de cerca de duzentos angolanos, alegadamente ligados ao MPLA, atacou a Cadeia de São Paulo e a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, com o objectivo de libertar alguns correligionários presos, mas sem sucesso.

Afonso de Almeida Fernandes, no final da sua vida activa, seria aposentado com o posto de Brigadeiro do Exército.

In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_de_Almeida_Fernandes, com a devida vénia.







3.1 – «NOTA DE ABERTURA» DO DIRECTOR DO JORNAL DO EXÉRCITO – BRIGADEIRO DAVID DOS SANTOS

Depois da descrição dos principais fundamentos que estiveram na base do lançamento do «Jornal do Exército» e da "Missão a Cumprir" por este órgão de informação militar, da autoria do Brigadeiro Almeida Fernandes, Ministro do Exército, apresentados no ponto anterior, coube ao Brigadeiro David dos Santos, na qualidade de seu Director, acrescentar mais algumas "Notas" consideradas de "Abertura".

Considerando que a impressão do conteúdo relacionado com estas "Notas de Abertura", que serviu de base na elaboração deste trabalho, não reunia a qualidade para a sua reprodução, decidimos transcrevê-las.

O texto que segue está publicado nas páginas 5 e 20:


"Por decisão de Sua Ex.ª o Ministro do Exército é dado à luz da publicidade, no presente mês de Janeiro, o primeiro número do mensário «Jornal do Exército», Órgão de Informação, Cultura e Recreio das Forças Terrestres e que se destina também a uma difusão que se deseja tão larga e profunda quanto possível, no meio da população civil.

Tal decisão levanta um problema ligado, em grande parte, às actividades específicas do Serviço de Pessoal; não se estranhará, portanto, que Sua Ex.ª o Ministro tivesse determinado – não por méritos próprios, antes, em certa medida, por inerência de funções – que a Direcção da referida publicação fosse atribuída ao Director dos Serviços de Pessoal.

Nesta qualidade, lhe compete e lhe é sumamente agradável dizer duas palavras, à laia de «Nota de Abertura».

O sucesso de uma publicação periódica assenta, em primeiro lugar, no pressuposto de que os elementos do seu corpo redactorial ponham toda a capacidade, entusiasmo e calor, no desempenho das suas atribuições, fazendo dela, por esta forma, um órgão vivo, ligeiro, dinâmico, sugestivo e pleno de interesse. Onde tais requisitos falharem logo aí se abrirá uma brecha insanável.

Estou sinceramente convencido – porque conheço os homens designados para este sector do jornal – que neste ponto podemos ficar descansados.

Em segundo lugar, todo o jornal ou, mais geralmente, toda a publicação periódica corresponde sempre a necessidades comuns de uma certa massa de indivíduos, tanto na ordem material, como na ordem espiritual, moral ou profissional. No caso vertente, este traço de união é garantido e vinculado, em prioridade, pela evidente comunhão de interesses, de toda a ordem, dos elementos do ramo terrestre das Forças Armadas, se bem que se possam reservas naturais quanto à eficácia e profundidade da penetração do jornal no elemento civil, eficácia e profundidade que dependerão, sobretudo, da forma como os problemas militares forem apresentados no seu livre exame e para sua inteira compreensão.

A comunidade de interesses, anseios e aspirações militares que pressupõem a excelência das respectivas instituições existe porém e primariamente, «em potências».

O seu desenvolvimento «em acto» será iniludivelmente favorecido com a publicação deste jornal, se cada militar, qualquer que seja a sua graduação ou grau de responsabilidade, for efectivamente um agente da sua propaganda e expansão. Neste domínio todo o Comandante ou todo o Chefe deve considerar como ponto de honra e até como uma responsabilidade de comando ou direcção, a adopção das medidas necessárias para aquele efeito. Não é que se não devam fazer as observações e sugestões que a experiência for aconselhando para melhoria do jornal e que serão sempre bem-vindas. Mas – antes de mais – há que o amparar e fazer viver e prosperar.

Por último convém notar que a massa dos leitores interessados não é, neste caso, homogénea, tanto sob o ponto de vista de preparação e cultura, como no aspecto da sua capacidade de apreensão. Este ponto terá, pois, de ser considerado, em permanência e a um tempo, pelo corpo redactorial e pela colaboração espontânea ou solicitada.

O ideal seria que os artigos e assuntos tratados pelas várias secções do jornal fossem igualmente interessantes para qualquer dos seus leitores.

Não negamos e antes preferimos sublinhar esta dificuldade que exigirá um esforço constante para a sua superação.

Seja como for, estou sinceramente esperançado em que todos nós, militares das Forças Armadas, faremos tudo para evitar que o sucesso do jornal nos fuja das mãos e com ele o factor de prestígio e consideração que os elementos da classe civil, naturalmente e mercê da sua leitura e meditação, nos poderão conceder."


David dos Santos, Brigadeiro


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

08JAN2020
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Nota do editor:

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8952: Notas de leitura (294): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte III): Cupelom, Pilum, Pilom, Pilão..., um bairro que dava de tudo, fervorosos muçulmanos, bajudas giras, futebolistas talentosos, destacados militantes do PAIGC, bravos comandos africanos... (Luís Graça)

1. Continuação da leitura do livro de memórias do Bobo Keita (*)...

Norberto Tavares de Carvalho (abreviadamente, NTC) dedica bastante tempo e espaço à infância, adolescência e juventude de Bobo Keita (abreviadamente, BK). Grosso modo, até aos seus 21 anos, quando BK, jogador do Sport Bissau e Benfica,  decide “mudar de campo”. São cerca de 50 páginas, de um total de 300 (pp. 18-68). (*)



NTC nem sempre segue um fio condutor, lógico e cronológico, na longa entrevista (ou série de entrevistas) que ao longo de 2 anos conduziu com o comandante do PAIGC, até praticamente às vésperas (18/12/2008) da sua morte (que ocorreu em 29/1/2009, num hospital dos tugas).  


Há saltos e desvios, muitas vezes impostos pelo discurso torrencial do entrevistado. De qualquer modo é prodigiosa a memória de BK, capaz de recordar com grande acuidade e vivacidade episódios dos seus primeiros anos de vida, além de datas, lugares e nomes (para não falar já da sua dura vida como combatente e dirigente do PAIGC).


O livro, edição do autor [, aqui na foto à esquerda, com o seu amigo e nosso camarada A. Marques Lopes, em Lisboa, no verão de 2008] está dividido em cinco partes, por sua vez subdivididas em pequenos (às vezes minúsculos) capítulos: 


- De Sundiata Keita a Kwame Nkrumah (Parte I, pp. 18-46);
- Das rotas do sul ao tráfico de armas (Parte II, pp. 47-121);
- Cerco à volta de Amílcar Cabral (Parte III. Pp. 122-180);
- Aviões de caça, Mig 21 prontos a descolar (Parte IV, pp. 181-236);
- e Guerrilheiros caídos no campo da honra (Parte V, pp. 237-246).

Num total são cerca de 250 pp., com o epílogo e o posfácio (, da autoria do A. Marques Lopes). O resto são anexos, alguns despropositados, como as dez páginas de listas nominais não só dos governadores da Guiné e Cabo Verde, como dos presidentes e primeiros ministros destes dois novos países lusófonos. Despropositados, porque o horizonte temporal das conversas de NTC com BK vai dos seus primeiros anos de vida (ele nasceu em 1939) até à partida do último Governador português, Carlos Fabião, em Outubro de 1974.


Ao longo do texto, e inseridas no corpo do livro (e não em rodapé, como deveria ser) também há muitas notas, algumas bastante extensas e espúrias, com informação recolhida pelo autor (por ex., sobre o Cupelom, o futebolista Joãozinho Burgo, a PIDE) ou extraída de outras fontes secundárias (desde o livro de Luís Cabral, Crónica da libertação,  ao nosso blogue, passando pela Wikipédia), notas essas que cortam o fio e o ritmo de leitura.


Vamos tentar reorganizar e resumir a informação, de modo a perceber, por exemplo, a decisão do BK de se juntar, em Conacri, ao movimento liderado por Amílcar Cabral.


BK nasceu em 24/9/1939 no Cupelom de Baixo. Num das suas notas intercalares, NTC diz que o Cupelom era, desde os anos 40, um dos bairros mais populares e povoados de Bissau. Estava dividido em 2 partes, a de cima e a de baixo. O topónimo Cupelom foi imposto pela autoridade colonial. Para os seus habitantes, era o Pilum (ou Pilom). em crioulo. Os tugas, como eu, conheciam-no simplesmente como Pilão.


O pai era alfaiate e a mãe doméstica. A origem do pai remonta ao Mali, mas nasceu perto de Boké, na Guiné-Conacri, e onde o PAIGC vai ter uma base militar importantíssima. A mãe de BK, a quem o ligavam fortes laços afetivos, era oriunda de Bissau. A família era muçulmana, praticante.


BK tinha mais 3 irmãos, um rapaz e duas raparigas. O rapaz e uma das raparigas, esta como “socorrista”, também participaram na “luta de libertação”. De acordo com a tradição africana, BK deveria seguir a profissão do pai, que foi alfaiate por conta própria mas também assalariado da empresa francesa NOSOCO.

A família vivia numa casa de colmo, sem água, sem saneamento básico, sem luz elétrica. BK andava descalço, e de calções. As primeiras sandálias que teve foi na “escola do Padre” (p. 24).


Não conseguiu matricular-se na escola pública, de modo a poder frequentar o ensino primário. Alega que na escola primária, em Bissau, ao tempo (do Governador Sarmento Rodrigues, 1945-1950), “só aceitavam alunos da praça” (sic”), “filhos de funcionários [públicos e empregados das casas comerciais] e gente de primeira classe” (p. 28). Pelo que teve de ir bater à porta da escola das Missões Católicas.


Na “escola do Padre” (sic)  obrigaram-no a tirar o bilhete de identidade e adotar um nome português. O seu padrinho de ocasião, Padre Henrique Santos, “sem mais cerimónias pôs-me o nome de Henrique Santos Keita” (p. 28).


Na “escola do Padre” não havia turmas mistas (tal como não havia em lado nenhum, no Portugal da época, do Minho a Timor, segundo julgo saber). Além disso, BK era obrigado a ir à missa dominical e a fazer prova disso, sob a forma de senha de presença, a apresentar na 2ª feira seguinte, no início das aulas. Quem não ia à missa, apanhava falta.


BK devia ter nessa altura 9 anos. Estaríamos, portanto, em 1948 (p.29). A obrigação de ir à missa dominical (e eventualmente  o risco de ver o filho convertido ao cristianismo) encontrou no pai, fervoroso muçulmano, uma forte resistência. Felizmente que BK pôde contar com  o bom senso, a compreensão, a tolerância e a caridade do missionário. Foi dispensado de frequentar a igreja, atendendo que era um aluno com bom aproveitamento e assiduidade.


"Mas só fiz a escola primária" - acrescenta BK.  "Não cheguei a ir ao Liceu. Resolvi dedicar-me ao futebol. De qualquer modo,  diziam que o Liceu não era para  os coitados, pois aí só chegavam gente da praça, filhos de funcionários e malta bem situada" (p. 29).


BK tinha uma noção clara do seu lugar na fortemente estratificada sociedade colonial da época, tendo aprendido bem a lição de Amílcar Cabral, seu futuro professor em Conacri. "Na escala social daquela época colonial vinha logicamente a classe  representada pelos portugueses. Qualquer indivíduo, seja ele pobre e analfabeto ou abastado e instruído, uma vez que era branco ocupava um lugar social superior a todas as outras classes" (p. 54).


A seguir vinham os "grumetes", em geral portadores de nomes e apelidos portugueses e que tinham um papel auxiliar na administração colonial. Por fim, vinham "os negros civilizados que tiveram acesso à escola,  falam um bom português, vestem-se e comportam-se na sociedade como estes" (p. 54). Na base da pirâmide, estavam por fim os "gentios", a grande maioria dos guineenses que não eram "assimilados".


O gentio, segundo BK, era também designado por "indígena": nativo, animista, pagão, idólatra, "senão selvagem, bárbaro e sem bilhete de identidade", logo socialmente marginalizado, a não a ser para "pagar imposto"... Era gente, como os balantas, onde o PAIGC vai recrutar a sua base de apoio, os seus homens do mato... "Alguns deram bons militantes e quadros" (p. 55).






Guiné-Bissau > Bissau, capital do país > Planta da cidade, pós-independência. (Vd. mapa ampliado na página sobre sobre Bafatá e Bissau)

Cortesia de A. Marques Lopes (2005)





Sobre o bairro do Cupelom (ou Pilão, para os tugas), diz o NTC em nota intercalar: "As ruas não tinham nome, mas todos sabiam quem morava e onde. Neste bairro avizinhavam-se diversas classes e etnias que viviam em perfeita comunhão (...)". 


Havia uma numerosa comunidade muçulmana (ou islamizada), tanto no Cupelom de Baixo como no de cima, a par de cristãos e animistas, em especial Mancanhas no Cupelom de Baixo. Com o início da guerra colonial,  vieram outras gentes, mas o bairro continuou a ser  predominante de população islamizada. De dia, era um bairro com vida própria, com muita azáfama. À noite, enchia-se "dum certo secretismo ligado não só ao sector das ditas 'mulheres de vida' - escreve NTC com algum pudor - mas também às estranhas reuniões furtivas onde se falava de assuntos guardados preciosamente longe de orelhas indiscretas" (p. 56).

O Cupelom, para além de ter sido um "enorme canteiro de gente feminina que perfumava o bairo" (sic),  foi um viveiro de jogadores de futebol mas também de combatentes, quer de um lado quer do outro. "Vários  dos melhores jogadores de futebol foram aí recrutados, os mais destacados combatentes do PAIGC tiveram aí as suas influências e conhecidos elementos dos Comandos Africanos também aí fizeram história" (NTC, p. 56).

BK recorda com saudade os seus tempos de infância e adolescência no Cupelom.  Pilum era um bairro lindo, a gente hospitaleira, a juventude unida,  os  mais velhos protegiam os mais novos... Também tinha as suas histórias de conflitos de territória, por causa das "moças de outros bairros" (p. 57)...


Era, por outro lado, um lugar de passagem e de encontro, obrigatório, "para os que habitavam nos bairros circundantes" (Santa Luzia,  Plubá, Penha, Péfine, Calequir, etc.): "para descerem à cidade, [tinham de] passar pelo Cupelom", o que em si já era "um acontecimento" - sublinha o BK.(p. 56).

"Quando a mobilização começou nos anos 60, os jovens do nosso bairro foram os que mais aderiram à luta. Chamavam [ao] Pilum Bairro de Terroristas" (p. 56) (**). E porquê ? "A maior parte de nós não acreditava no futuro, não havia trabalho, a estiva pagava mal e era muito pesado, o desânimo era geral" (p. 57)...






Guiné > Bissalanca > Finais dos anos 50 > "Fotografia tirada na despedida do gerente da NOSOCO, Monsieur Boris, que nesse dia regressava a Paris (está ao centro de fato e gravata). O João Rosa, o guarda-livros, [e que foi um dos fundadores do MLG - Movimento de Libertação da Guiné] , está na segunda fila à direita; à sua frente, o 2º da direita é o Toi Cabral. Os restantes elementos da foto são alguns (quase todos) dos empregados do escritório da NOSOCO em Bissau (MD), incluindo eu próprio" (MD)... 


O terceiro elemento, a contar da esquerda, é o Armando Lopes (n. 1920), pai do nosso amigo Nelson Herbert, e antiga glória do futebol caboverdiano e guineense, e que o Bobo Keita, embora de outra geração, deve ter conhecido.  (NH/LG)


Foto (e legenda): © Mário Dias (2005).  Todos os direitos reservados. 




Mas voltando à adolescência do BK: aos 12/13 anos, por volta de 1951/52, teve a sua festa do fanado, na Granja do Pessubé, nos arredores de Bissau.  A cerimónia iniciática durou um mês. Foi circuncisado e tornou-se lambé (pp. 25-27).

Entretanto, a crise da NOSOCO  (onde, de resto, também trabalhou o nosso camarada Mário Dias, nos anos 50) levou o pai do BK  a procurar trabalho, no sul,  como alfaiate ambulante. Mas em breve deixou de dar notícias e a família perdeu-lhe o rasto.

BK tem agora de tomar conta da mãe e dos três irmãos. Pega na máquina de costura Singer que o pai deixara em casa, e começa a coser panos, a bordar, a vender. Os Saraculés é que tingiamos seus panos. Como jovem e como alfaiate, BK tinha a Guiné-Conacri como modelo de referência e fonte de inspiração (moda, vestuário, música e até política). Trabalhava muitas vezes até às tantas da madrugada.

Lembra-se da agitação que ia em Bissau no dia 3 de Agosto de 1959 (dia do chamado massacre do Pindjiguiti). Na altura, com quase 20 anos,  jogava à bola e trabalhava na "alfaiataria do tuga" (p. 24)... ...

No livro, BK refere-se sempre aos portugueses como tugas... NTC refere isso mesmo, "a irresístível tendência do ex-guerrilheiro em designar continuamente o português por tuga" (15)... O termo, depreciativo, designava originalmente os portugueses e, mais tarde por extensão,  os brancos.  Por parte dos combatentes do PAIGC, o termo era usado por oposição a turra (corruptela de terrorista)...

Este tratamento depreciativo do adversário é comum em todas as guerras, acrescenta NTC. Hoje o termo é usado, na Guiné-Bissau, com um outro sentido, sem a carga negativa que lhe atribuía Amílcar Cabral e os seus seguidores. Recorde-se, em todo caso, que o histórico fundador e dirigente do PAIGC sempre fazia questão de distinguir o povo português e os colonialistas,  Portugal e o regime político então em vigor...

O mais surpreendente é que BK não é coaptado diretamente pelo PAIGC. A sua ida para Conacri, largando tudo o que amava (a família, o bairro, a cidade, o futebol...), será contada em próximo poste. (**)


PS - Segundo informação do nosso camarada A. Marques Lopes, o livro está à venda no Porto, na UNICEPE, e em Lisboa, na Livraria Portugal, na Rua do Carmo, 70.

[Continua]

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Notas do editor

(*) Vd. 25 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)

(**) Vd. poste de 13 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6848. Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (6): 1966, o ano das prov(oc)ações

(...) Numa sessão da Câmara Municipal, o Major Matos Guerra que era o Presidente anunciou-nos que ia destruir, com uma bulldozer nova encomendada, e por ordem do Sr. Governador Arnaldo Schultz, o bairro do Cupelom, suspeito de ser um ninho de terroristas.


Repliquei, pedindo-lhe para nos informar onde é que a população iria ser alojada. Respondeu que não sabia. Dei-lhe como exemplo o bairro de Alvalade, em Lisboa, onde se construiu o bairro, primeiro, para depois se desalojar as pessoas. 

Foi uma discussão que durou, foi suspensa para o jantar e depois retomada até de madrugada. Nós, a vereação, coesa, recusámos a proposta de decisão, que ficou suspensa. Isto pode ler-se na acta da Câmara Municipal. (...).

(***) Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8949: Notas de leitura (293): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (José Manuel M. Dinis)