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sexta-feira, 6 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23237: Efemérides (367): Faz hoje precisamente 55 anos que um estrangeiro, o ten-cor H. Meyer, adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa, participava, com as NT (CART 1525, Bissorã, 1966/67) na Op Beluário... Não sabemos em que circunstâncias nem a que título (Virgínio Briote)


Guiné > Carta de Mansoa > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bissorã, a norte de Biambe e de Mansoa, bem como de  Queré (onde em 1967 o PAIGC tinha uma base)...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)



Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Descobrimos há dias, eu e o Virgínio Briote, esta "preciosidade" que reproduzimos a seguir.  Trata-se do relatório sucinto da Op Beluário, que vem na página 65 do historial da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67). Foi um dos nossos camaradas do Arquivo Histórico-Militar, cujo nome não fixei, que deu a "dica" ao Virgínio Briote.

Confirmámos a informação, que consta da história da página de "Os Falcões", uma das mais antigas,  existentes  na Internet, das páginas dos ex-combatentes da Guiné.  Achámos por bem fazer este poste na série Efemérides (**). Na realidade, a Op Beluário realizou-se há precisamente 55 anos, em 6/5/1967.

O que torna digna de registo a Op Beluário, para além do "desenrolar da ação" (comum a muitas outras operações realizadas no TO da Guiné), é que nela participou  um estrangeiro, o tenente coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa...  Era para todos os efeitos um estrangeiro, embora representando um país amigo de Portugal, e aliado da NATO.

Não sabemos a que a título, nem em que circunstâncias, integrou esta operação. Nem sabemos se foi armado ou levou guarda-costas. Tanto quanto sabemos, não era "normal" a participação de militares estrangeiros em operações do exército português no TO da Guiné. Todavia, o adido do Adjunto Militar Americano em Lisboa, podia estar de visita à Guiné, ao tempo do gen Arnaldo Schulz. Podia ter visitado Bissorã e ter sido convidado pelo comandante da companhia, o Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (**), para "fazer o gosto ao dedo"... Por certo que não foi uma "missão secreta", para  tal facto, honroso para "Os Falcões",  vir mencionado na história da unidade. Humor à parte, talvez o camarada Rogério Freire possa satisfazer a nossa natural curiosidade.



2. C
ART 1525, "Os Falcões", Bissorã (1966/67) >Atividade Operacional > 41. Operação Beluário 

QUERÉ,  carta de  Mansoa, 06Mai67

MISSÃO

Golpe de mão ao esconderijo onde se presumia a existência de armamento pesado, seguindo-se uma batida a toda a zona.

FORÇA EXECUTANTE

- Comandante da Companhia;
- Companhia (Comandos e 1º Gr Comb), um Pelotão de Milícia e um Pelotão de Polícia Administrativa;
- Tomou parte na operação o Exº Ten Coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa (negritos nossos);
- Actuou ainda na zona a CART 1612;
- Apoio Aéreo.

DESENROLAR DA ACÇÃO

Saíram as NT pelas 00h00, seguindo pela estrada do Biambe, e atingindo a zona do objectivo pelas 05h00. O deslocamento fez-se sem incidentes. 

Chegados ao local indicado pelo guia, este não deu quaisquer indicações dignas de crédito, confundindo-se e provando cabalmente que desconhecia por completo qualquer refúgio do IN, onde ele albergasse o seu armamento. 

Feita uma pequena batida na zona indicada inicialmente pelo guia, em Mansoa 2 C/5, nada de especial foi referenciado, a não ser vestígios de comida e permanência inimiga, debaixo de uns mangueiros. No intuito de provocar o IN,  obrigando-o a referenciar-se, iniciou-se então uma batida para S, a W da bolanha do Queré. 

Pouco depois de a mesma se haver iniciado, o IN efectivamente reagiu à penetração das NT, com intenso tiro de LRock (10 granadas), Mort 60 (6 granadas) e Mort 82 (2 granadas), ML e PM, durante cerca de 30 minutos. 

O fogo foi aberto do nosso lado esquerdo, sensivelmente em Mansoa 2 D1/51, e muito perto das tropas que seguiam desse lado da batida (Pol Adm), ocasionando imediatamente 12 feridos (9 Pol., l Mil. e 2 soldados). 

Entretanto, na reacção, as NT tentaram envolver o IN na sua posição, cercando-o por S, mas este mal se apercebeu da nossa manobra retirou sem mais fogo. 

Pelas 06h45 surgiu o PCV, sendo-lhe pedido o indispensável apoio e meios para as evacuações, que contudo só terminaram cerca das 08h30. 

Por indicação do PCV, continuou-se depois a batida mais para S, até se atingir a bolanha de Camã. Aqui foram incendiadas algumas tabancas abandonadas e, próximo do local (Mansoa 2 B8/41), foi destruída uma escola, com capacidade para cerca de 50 alunos. 

Continuando-se a batida, no dispositivo adequado, e sem que o IN jamais se tenha vindo a revelar, destruíram-se mais algumas tabancas, junto à orla O da bolanha do Queré. 

Pelas 10h00 e debaixo de um sol escaldante, iniciaram as NT a retirada, a qual por esse facto se tornou particularmente penosa, vindo a atingir a estrada do Biambe, e ali serem recolhidas em viaturas, chegando a Bissorã pelas 12h00.

Fonte: Página da CART 1525, "Os Falcões", Bissorã, 1966/67, criada, administrada e editada pelo nosso amigo e camarada, ex-alf mil mil MA, Rogério Freire, ex-alf mil art MA, membro da nossa Tabanca Grande desde 13 de outubro de 2005. 

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de maio de 2022 > uiné 61/74 - P23219: Efemérides (366): "O primeiro 1.º de Maio", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorã-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)


Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A  vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Recentemente,  na Guiné-Bissau, a 26 de setembro último, à noite, no troço da estrada que liga as povoaçoes Bissorã-Encheia [, v d. mapa, a tracejado, a vermelho], um miniautocarro (vulgo, "toca-toca") pisou um engenho explosivo abandonado, provocando a morte de 23 pessoas e diversos feridos.

Especulou-se de imediato se o referido engenho, descrito  como uma "mina antitanque" (, possivelmente uma mina A/C,  reforçada, ) remontaria ao tempo da "luta de libertação/guerra colonial", se à guerra civil iniciada a 7 de junho de 1998 (*)...

De qualquer modo, e para além do trágico balanço em mortos e feridos, para nós, antigos combatentes,  este brutal acidente veio-nos trazer logo, à memória, mais uma vez, o pesadelo das minas, e suscitar a inevitável pergunta: Encheia, Bissorã, onde é que isso fica no mapa ?

Com a devida vénia, fomos à página do nosso querido amigo e camarada, grã-tabanqueiro da primeira hora,  Carlos Fortunato (ex-fur mil trms,  CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71), e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga), "desenterrar" esta pequena crónica, já velhinha, sobre "a estrada do Biambe - 15/03/1970".  Estamos-lhe gratos e mandamos-lhe, daqui, uma alfabravo fraterno,

Reparo, entretanto, que a CCAÇ 2531 não está representada por ninguém na Tabanca Grande,  o que é uma pena...

Sempre solidários, e lutando contra ventos e marés, o Carlos Fortunato e demais amigos da ONGD Ajuda Amiga (de que fazem parte vários membros da nossa Tabanca Grande) prepararam já o próximo Contentor de Ajuda 2015, como se pode ler aqui, em notícia de 16 de julho último:

(...) A ONGD Ajuda Amiga,  depois de ter enviado e distribuído 2 contentores em 2014, prepara agora o envio do próximo contentor em 2015, o qual está planeado para ocorrer em Janeiro de 2015, 2/3 dos bens estão já em caixas etiquetadas e prontos a seguir. (...)

Está também em marcha a campanha contra o ébola:

(...) A Ajuda Amiga juntou-se aos que combatem o ébola e iniciou este mês [outubro de 2014]  a campanha de recolha de apoios e preparação para o combate preventivo contra o ébola, com o objectivo de evitar a sua disseminação à Guiné-Bissau, o que a acontecer será uma catástrofe para a Guiné-Bissau face ao pobre sistema de saúde existente, e será também uma porta que se abre para facilitar a sua entrada em Portugal. (...)

Contactos da Ajuda Amiga: telemóvel >  937 149 143;  Email: jcfortunato@yahoo.com

(LG)

2. Memória dos lugares > A estrada do Biambe - 15/03/1970 (**)
por Carlos Fortunato  [, foto atual à esquerda]

Numa das confraternizações realizadas no bar do aquartelamento do Biambe, entre a recém chegada CCAÇ 13, e a CCAÇ 2531, o capitão Goulão ofereceu um whisky ao alferes Pimenta, e este aceitou pedindo um whisky com gelo, mas o Goulão disse-lhe que gelo era coisa que não havia.
–  Não há aqui gelo, mas em Bissorã há. –  retorquiu o Pimenta.
–  Mas não há estrada, pois esta foi cortada, quando as pontes foram destruídas. –  explicou o Goulão.
–  Abre-se uma estrada. –  insistiu o Pimenta.

A estrada de Biambe para Bissorã estava efectivamente cortada, pois tinha sido destruída a ponte que fazia essa ligação; de igual modo estava cortada a ligação de Encheia para Bissorã, pois tinha sido também destruída essa ponte; assim apenas a estrada do Biambe para Encheia estava operacional.

A CCAÇ 2531 tinha feito recentemente um reconhecimento da zona e havia ficado com uma ideia por onde esta poderia passar, que era seguir pela estrada do Biambe para Bissorã, atravessar uma pequena zona de mato, abrindo uma ligação para a estrada Bissorã-Encheia, pois a partir desse ponto, não existiam pontes e poderia chegar a Bissorã facilmente.

As boas regras mandavam que a estrada fosse picada previamente, pois poderia estar minada, e que existissem grupos a fazer segurança ao longo da mesma, dada a sua proximidade da base do Queré, mas o alferes Pimenta era um homem dos rangers, e trazia consigo uma certa dose de loucura, e o capitão Goulão, era conhecido como o "maluco do Biambe", ou seja,  foi o mesmo que juntar gasolina com fogo, e lá se partiu para Bissorã para ir buscar gelo, com uma GMC à frente a servir de rebenta minas.

Loucuras que se cometem quando se é jovem...

A guerrilha alertada esperou o regresso da coluna, e flagelou a mesma, mas foi rapidamente colocada em fuga face à resposta dada.

Esta estrada serviria mais tarde para a CCAÇ 13 regressar a Bissorã.

A história da CCAÇ 2531 narra assim esta acção, a 15 de Março de 1970:

"Acção 'Borla'

Coluna auto Biambe-Bissorã com a finalidade de abrir o itinerário entre as duas localidades.

Forças empenhada - 03 G. Comb.

A acção teve início às 14h00, durou 04 horas.

Às 17h40 quando as NT regressavam ao Biambe, 01 grupo In com cerca de 40 elementos emboscou-as, utilizando morteiro 60 e armas automáticas, durante 15 minutos na região de Mansoa 2A8 (estrada) causando 02 feridos ligeiros (01 oficial e 01 sargento)."



Publicado em 29/02/2003, por Carlos Fortunato

[Portal CCAÇ 13 - Leões Negros]
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13705: (In)citações (69): Quando a rotina é traiçoeira ou o flagelo das minas que continuam a vitimar civis na Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

(**) Último poste da série > 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)