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terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27064: As nossas geografias emocionais (536): a Nhacra que eu conheciu no final da guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)



Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 > Foto 249 > Fonte do Vale,  desvio para a estrada para Cumeré

Foto nº 249 do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav , MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)




Guiné > Bissau > Nhacra > Agosto de 1971 >  O João Moreira em cima do espaldão do morteiro 81

Foto nº 212  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 >Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, com anti-aéreas

Foto nº 227  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Fotos (e legendas): © João Moreira  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 


Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Aspeto da entrada e porta-de-armas do quartel


Foto (e legenda): © Eduardo Campos   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério":  esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de dezembro de 1972 a 17 de agosto de 1973.

 Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007)./ Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Condensação de 2 textos do  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano. Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008.

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas das suas memórias de  Nhacra, que ficava as escassas duas dezenas e meia de quilómetros, a norte de Bissau.


A Nhacra que eu conheci no final da guerra

por Eduardo Campos 




1. Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”


A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o subsector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite:

  • a Norte o Rio Mansoa, 
  • a sul o Rio Geba, 
  • a Oeste o Canal do Impernal 
  • e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa. Havia também a ligação entre Nhacra e Cumeré, em estrada asfaltada.

As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.

Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaraterísticas, em que os relevos praticamente não existiam. Er apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… 

Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.

Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.

A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies. Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os periquitos, além das perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos, sem esquecer  os jagudis. (...)



2. Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329, aquartelado em Oco Grande,  e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.


O IN não possuía dentro da nossa ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma atividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7; e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram:

  •  a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra,
  •  o itinerário Bissau–Mansoa;
  •  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia distribuíam-se por dois regulados: 
  • o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe; 
  •  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. 

Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, com a condicionante, porém,  do ancestral costume tribal que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. 

Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um ato não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. 

O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres ("choros").

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar,  em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham:
  • apoio médico/sanitário, 
  • transporte em viaturas militares, 
  • assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia,
  •  sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


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Nota do editor LG:


domingo, 13 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27012: Facebook...ando (89): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte VII: Os mercados de Bissau: de rua, central, Bandim...



Foto nº 1 e 1A  > Guiné-Bissau > Bissau > Mercado de rua  > Hora do almoço (e de dormir a sesta).. A vida é dura...


Foto nº 2   > Guiné-Bissau > Bissau > Mercado de rua  >  Sob os chapéus de sol da marca de cerveja  (portuguesa) Sagres


Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (1)


Foto nº 4 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (2)


Foto nº 5 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (3)


Foto nº  6 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (4)


Foto nº 7 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (5)

Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandi > Um dos maiores mercados de África, uma variantee do "souk" (em árabe), dentro das "medinas"...  Um estrangeiro facilmente se perde naquele emaranhado de ruelas...

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, 
CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


(i) é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha;

 (ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local); 

(iii) regressou há pouco tempo da sua viagem deste ano de 2025; 

(iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar. em plena zona histórica (Bissau Velho); 

(v) tem página no Facebook (João Reis Melo)

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares. Um deles é o "mercado de Bandim"... Outro o "mercado central de Bissau", reconstruído e inaugurado em 2022. Além dos pequenos mercados de rua, em Bissau. 

Dotado de grande sensibilidade sociocultural, o nosso "tigre do Cumbijã" dá-nos um fascinante retrato da Guiné-Bissau de hoje, na sua série de reportagens a que chamou "Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau". Ele  está atento aos lugares e às pessoas, ao passado e ao presente, á história e ao futuro, ao património, a cultura, as paisagens...

Escreveu ele na sua página do Facebook:

"Quem se deslocar a Bissau e não fizer uma visita ao famoso Mercado de Bandim, não sentiu o que é África e muito menos o que é a Guiné!

"Neste mercado, dos maiores de África, - onde tudo o que se necessita, se encontra - dá uma sensação estranha de estarmos próximos de tudo num emaranhado de pequenas ruelas que, quem não conhecer corre o risco de se pode perder!

"Eis umas fotos da nossa última visita em maio passado."

Veja-se também os seus pequenos vídeos:

Mercado central de  Bissau

O histórico Mercado Central de Bissau, construído pelos portugueses durante o conflito armado e que albergava centenas de vendedores ambulantes com o simples objetivo de os retirar das ruas, oferecendo-lhes melhores condições, foi destruído em 1998 quando da guerra civil que assolou o país. 

Foi reabilitado em 1999 e, um incêndio em 2005 destruiu-o de novo e quase na totalidade.
Finalmente e absolutamente renovado foi inaugurado em 2022 e está, além de muito bonito, em perfeitas e higiénicas condições!

Apresento-vos um pequeno vídeo que mostra umas bancas de frutas e legumes.

Espero que gostem! Assistam ao vídeo!

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor

Último poste da série > 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27002: Facebook...ando (88): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte VI: Passando por Bambadinca, Bambadincazinho...

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


Crachá da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 , "Brutos" (Tite e Fulacunda, 1968/69),
grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69) (*)


Joaquim Caldeira, ex-fir mil at inf,  CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf CCAÇ 2314 

Fotos (e legendas: ©  Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


A CARTA DE CONDUÇÃO

por Joaquim Caldeira (*)


Decorria o verão de 1969 e a situação política não alterara em nada a situação militar.

Era muito difícil sair dos buracos que nos estavam reservados. Só com uma forte justificação tal era consentido.

Mas forte justificação tinha eu quando solicitei autorização para me deslocar a Bissau a fim de fazer exame de condução, o qual tinha sido requerido havia mais de seis meses.

Deferido. Só faltava transporte para a cidade e marcar a data do exame, depois de ter alugado viaturas para tal.

E lá fui, desta vez não me lembro de que meio de transporte nem como decorreu. Sei que marquei o exame para o dia seguinte –
tinha prioridade por ser bicho de mato – e só faltava alugar a viatura. 

Desloquei-me à Escola de Condução Angélica da Conceição Racha (**), onde era instrutor um antigo soldado condutor que passara por Fulacunda e com quem eu fizera amizade.

Aluguei um camião com atrelado e uma mota para o exame das duas modalidades.
À hora marcada, o Paulo, o tal condutor, estava com as viaturas preparadas eis que chega o alferes examinador.

Comecei pelo código, a que respondi muito satisfatoriamente, depois das lições que o Durão me deu e que complementei com uma leitura rápida do livro e, passado nesta fase, passei à prática, obtida sem consentimento do Fernando Almeida.

– Um apito é para fazer dois oitos para a esquerda. Dois apitos são para fazer dois oitos para a direita. Três apitos são para regressar a este local e acabar o exame. 
Depois, passamos ao exame do camião   disse o alferes.

E lá vou eu, fazendo tudo muito certinho, regressando ao local de partida aos três apitos. Aí, quis brilhar. Lembrei-me de passar uma rasteira ao alferes e, quando quis travar para parar, a mota não parou. Entrou pela escola dentro.

– Azar, nosso furriel. Depois de uma prova tão boa não o posso passar. Deu muito nas vistas.

Fiquei vacinado e nunca mais pensei na mota. Fiquei-me pela carta de tractor com reboque.

Era assim. Agora, um pouco diferente. Vejam como circular nas rotundas.

Joaquim Caldeira


(**) Segundo a Wikipedia, citando a agência Lusa, em 2013 seria a escola de condução mais antiga da Guiné-Bissau.

Adaptou-se aos novos tempos, e depois independência da ex-colónia portuguesa, passou a denominar-se também por Escola de Condução 3 de Agosto. 

Dá ainda aulas em viaturas da época colonial. O parque automóvel é constituído essencialmente por viaturas bastante antigas

A escola já pertenceu a um português, migrado na ex-colónica portuguesa, de seu nome Telesfório Américo Racha. Tendo mais tarde pertencido a Augusto Soares, entretanto falecido. Actualmente o proprietário é João Augusto Soares, de 59 anos, irmão do anterior dono e conhecido em Bissau como “mestre Joãozinho”.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26942: As nossas geografias emocionais (534): Arábia Saudita, Mar Vermelho, Jeddah, "a porta de Meca", 2023 (António Graça de Abreu, Cascais)





Arábia Saudita > Mar Vemelho > Jeddah (ou Gidá) > 2023... Nas duas fotos de cima, a esposa do nosso camarada, Hai Yuan. médica.


(...) Gidá se chama o porto aonde o trato / De todo o Roxo Mar mais florescia, / De que tinha proveito grande e grato / O Soldão que esse Reino possuía. / Daqui aos Malabares, por contrato / Dos Infiéis, fermosa companhia / De grandes naus, pelo Índico Oceano, / Especiaria vem buscar cada ano. (...)



(Luís de Camões, "Os Lusíadas, canto IX, estrofe 3. Fonte: Luís de Camões: Diretório de Camonística)

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu  (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Mais um "postal" enviado pelo nosso  incansável, (e)terno viajante António Graça de Abreu (aqui na foto à direita com a sua Hay Yuan),.

(Publicado originalmente na sua página do Facebook em 2 de junho de 2025, 20:36, enviado no dia seguinte,  3/06/2025, 15:42.)





Jeddah, Arábia Saudita, 2012

por Antóni0 Graça de Abreu


Na esteira das palavras de Claude Roy (1915-1997), grande senhor das letras francesas, concluo que já viajei por tantos países que sou capaz de falar estrangeiro na perfeição.

Nesta passagem por Jeddah, segunda maior cidade da Arábia Saudita com quase cinco milhões de habitantes, centro económico e logístico deste país, vou conversar com quem, em que língua, eu que do árabe tenho na memória uns lampejos de meia dúzia de palavras? 

Talvez seja melhor eu permanecer calado, e olhar simplesmente para Jeddah.


Posição relativa de Jeddah no Mar Vermelho.
 Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)
Debruçada sobre o Mar Vermelho, a cidade tem sido ao longo dos séculos um importante porto de comércio e a porta de entrada para muçulmanos vindos de todo o mundo que se dirigem à sagrada cidade de Meca, situada a apenas 88 quilómetros de distância. Chegam para cumprir um dos cinco pilares do Islão.

A importância de Jeddah está assim intimamente ligada a esse caminho terrestre, às estradas que daqui abrem para Meca. Todos os anos, todos os meses, todos os dias,  milhões, centenas de milhares, milhares de muçulmanos procuram a divina Meca, a Kaaba, o imponente edifício no centro de Meca a rodear em marcha apressada ou mais lenta por sete vezes, circundar o cubo em pedra negra erigido em outras eras que se crê ter sido inicialmente levantado pelo profeta Abraão há três mil e oitocentos anos atrás, restaurado por Maomé no século VII e casa sagrada, desde sempre, onde reside o espírito de Alá, o Deus Supremo.

Hoje, o acesso a Meca está proibido a todos quantos não são muçulmanos. 

Fiquemo-nos então pela Cidade Velha de Jeddah e pela Porta de Meca, tudo Património Mundial pela Unesco. Comecemos com a ruína bem conservada mas desinteressante do portão do burgo, aberto para Meca e logo depois avancemos para os antiquíssimos casarões com três ou quatro andares, alguns mal se sustentando em estacas para não cair. 

Numa arquitectura não muito trabalhada são edifícios com varandas, sacadas e janelas de madeira, as portas abertas para permitir a entrada e visita rápida do turista de passagem, conforto no interior da casa, poucos móveis, tapetes, alfombras, tapeçarias cobrindo as paredes. 

Na rua, os homens, quase todos vestem o thobe, uma túnica branca com um lenço na cabeça chamado shemagh, um turbante que tradicionalmente protege os sauditas, do vento, do calor e das areias do deserto. 

As mulheres, que quase não vemos percorrendo as velhas ruelas, usam a abaya preta que as tapa da cabeça aos pés.

Depois Jeddah espraia-se por quilómetros e quilómetros, a cidade cresceu aos poucos em cima da areia dos desertos, tendo hoje por horizonte, bem mais para leste, os 142 poços de petróleo que fazem destas terras inóspitas, abrasadas em calor,  lugares onde vicejam algumas das maiores fortunas da terra. 

Que o diga o futebol e o nosso Cristiano Ronaldo, há anos a chutar a bola e a marcar muitos golos no campeonato da Arábia Saudita. E a encher merecidamente o bolso no seu Al-Nassr, de Riade, a capital do petróleo, da bola e dos ricaços. 

Nassr, a equipa do Ronaldo significa “Vitória”. Estão a ver como eu, de tão viajado, quase falo todas as línguas?

António Graça de Abreu

(Revisão / fixação de texto,  título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26915: As nossas geografias emocionais (52): Welcome to New York (António Graça de Abreu, Cascais)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26915: As nossas geografias emocionais (52): Welcome to New York (António Graça de Abreu, Cascais)


1. Mais um "postal" enviado pelo nosso (e)terno viajante António Graça de Abreu, em 10 de abril de 2025, 02:36.  Publicado originalmente na sua página do Facebook em 25 de fevereiro de 2025, 17:52

 
 Nova Iorque, Estados Unidos da América

Welcome to New York, it’s been waiting for you.


Uma curta semana em Nova Iorque. Tentar, de pés bem assentes no chão, avançar na descoberta e leve entendimento da cidade.

Pela primeira vez metido lá dentro, em Manhattan, rua 46, um pequeno apartamento alugado, segundo piso numa vetusta construção de cinco andares entre arranha-céus. Logo por baixo, fumega um restaurante de churrascos argentinos, largando um cheiro a parrilhadas de carne magra e gorda que tresanda. 

Ah, mas estou no coração da Big Apple. Aqui a norte, o Central Park -- um abraço a John Lennon, homem de todas as canções, de todos os sonhos --, ao lado Times Square e a Broadway, o excelso melting pot norte-americano, a Quinta Avenida, a ostentação e o luxo, o teatro das gentes.

Foram quilómetros e quilómetros a pé, por ruas e avenidas até ao sul de Manhattan. Chelsea, Tribeca, a Chinatown com estátuas de Confúcio (551 a.C - 469 a.C.) e Lin Zexu, o herói da Guerra do Ópio, em 1839/42. 

Mais a sul, tristeza, o memorial às vítimas dos aviões loucos que em 2001 colidiram deliberadamente com os dois edifícios do World Trade Center, provocando quase três mil mortos. Hoje a construção toda em vidro com nome de One World, levantado sobre as ruínas dos dois World Center é o sétimo maior arranha-céus do mundo, com 540 metros de altura e 104 andares. Não longe, Wall Street, e anexos, a exaltação do dinheiro, o maior centro financeiro do mundo.

Desta parte da Lower Manhattan se viaja no itinerário curto por barco para a ilhota onde se ergue a Estátua de Liberdade, com paragem em outra pequena ilha, Ellis Island. Aqui se procedia no passado à quarentena e exame médico dos pobres emigrantes europeus que buscavam a América na ilusão da terra do feliz concretizar de todos os sonhos. E quanta tragédia e vilania.

Ah, Nova Iorque tem tudo. Vêmo-la quase todos os dias entrando em nossas casas, com infindáveis histórias na TV. Temos o embeber das aventuras das quatro desvairadas mas brilhantes mocetonas do “Sex and the City”, os intrincados enredos nova-iorquinos de Woody Allen, quase nada e tudo “once upon a time in America.”

Sim, mas os museus de Nova Iorque com tanta Europa transplantada lá para dentro, (o dinheiro compra quase tudo). Que maravilha! A lenta passagem pelo Metropolitan Museum of Art, o Guggenheim, o MoMA e a Frick Collection.

 Fotografando e tomando notas do genial abrir da cor dos pincéis, dos encantos mil, do requintado alvoroço, corações batendo, o baloiçar do olhar. Escrevi:

  • El Greco em Toledo, águas negras do Tejo, prata pendurada nas nuvens, 
  • Velasquez, o retrato da infanta triste, no rosto, maçãs róseas de futuro, 
  • Breughel, o Velho, as ceifeiras crescendo no ouro ondulante das searas, 
  • Vermeer, um beijo na menina sem brinco de pérola, um sorriso iluminando o mundo, 
  • Goya, gatos, pássaros e a criança imaculada como o nascer do dia, 
  • Ingres, a duquesa azul, formosa e serena, uma deusa no céu, 
  • Cézanne, no vale do Oise, pintando o chilrear dos pássaros, 
  • Van Gogh nos trigais de Arles molhando os pincéis no orvalho das nuvens, 
  • Renoir, as crianças azuis com o sol poente embalando a lua, 
  • Picasso, as mãos no decote das meninas de Avignon, não disse nada, pintou tudo,
  • Modigliani, as mulheres nuas, sinuosos querubins, a dádiva, o prazer,
  • Gauguin, o sol quente entrando por dentro do mar, gáudio no rubor das ondas,
  • Chagall, o violinista verde e roxo, um sapato preto, outro branco, até um homem voa,
  • Warhol e Marilyn, a boca entreaberta, um ícone, o desenho dos deuses.

  • Frank Sinatra e Lizza Minelli, ainda com memórias de Leonard Bernstein, entoando loas a Nova Iorque. Assim:

    If I can make it there,
    I'll make it anywhere,
    Come on, come through,
    New York, New York.


    António Graça de Abreu

    (Revisão / fixação de texto, edição de foto, links, itálicos e negritos, para efeitos de publicação no blogue: LG)
    ________________


    Nota do editor:
    Último poste da série > 11 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26907: As nossas geografias emocionais (51): Jerusalém, Israel (António Graça de Abreu, Cascais)

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26907: As nossas geografias emocionais (51): Jerusalém, Israel (António Graça de Abreu, Cascais)




Israel > Jerusalém  e Nazaré, "lugares santos"> 2013 > Vista panorámica da cidade de Jerusalém; "Muro das Lamentações"; "Jesus, Maria e José"(presume-se que em Nazaré) 


Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2025). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O escritor, sinólogo, 
tradutor e "globe-trotter"  
António Graça de Abreu
com a esposa, médica,
Hai Yuan. O casal vive em
São Pedro do Estoril, Cascais
1. Texto enviado pelo nsso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74),  e já publicado, no passado dia 9, 22:29, na sua página do Facebook


“Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Eles serão os seus povos. Ele enxugará dos seus olhos todas as lágrimas.”

Apocalipse 21, 2-4

No mar tanta tormenta e tanto dano,Tantas vezes a morte apercebida.
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?



Luís de Camões, Os Lusíadas, 
canto I, 116


Ia à Palestina, minha senhora! Ia ver Jerusalém, o Jordão! (…) E havia de trazer apontamentos, minha senhora, havia de publicar impressões históricas.


Eça de Queirós, A Relíquia


As nossas geografias emocionais >
 Jerusalém, Israel

por António Graça de Abreu



Há muitos séculos é esta terra a sombra iluminada de cristãos, o lugar do acariciante respirar de Deus Pai, o altar supremo do sacrifício de Deus Filho. 

Para quem crê, aqui desceu o Espírito Santo em línguas de fogo ao encontro de Maria e dos apóstolos de Jesus, trazendo-lhes iluminação e sabedoria. 

Para os judeus é também a sua cidade sagrada, onde tomou forma o mundo, com reverências no Muro das Lamentações do tempo do rei Salomão (sec. X a.C.). 

Para os muçulmanos, aqui, na mesquita dourada de Al Aksa, construída logo por cima do Muro judeu de Salomão, subiu Maomé ao céu, três dias após a sua morte acontecida em Medina, a dois mil quilómetros de distância. 

Três religiões, duas mãos cheias de ódio e de lutas de morte entre pais e filhos transviados, gerados numa mesma terra. Onde encontrar a “Glória a Deus nas alturas e a paz na terra aos homens de boa vontade" ?

Venho desde Haifa, de autocarro até Nazaré. Almoço num kiboutz na estrada, estas unidades agrícolas criadas pelos judeus para cultivar e dominar um pequeno território que há mais de trinta séculos consideram como seu. 

Chego a Nazaré onde Jesus terá crescido e com seu pai, São José, terá aprendido a arte de carpinteirar. Venho de visita à casa da família, quase uma espécie de gruta. Antiquíssimas paredes de pedra, vetustos instrumentos para se trabalhar a madeira, Jesus passou por aqui.

Depois, a cidade de Jerusalém, a capital de David e Salomão, do Templo Sagrado, recordar maravilhas gravadas no Cântico dos Cânticos. E relembrar encantamentos e sobretudo sofrimentos de Jesus, da nossa velha fé cristã, da exaltação, da morte e ressurreição de Deus feito homem.

No Muro das Lamentações, caminho rodeado de judeus em permanente peregrinação. Votos e pedidos ao Yehowah, Deus dos hebreus, em papéis colocados nos interstícios da pedra antiquíssima. Preces pela paz. 

Logo acima, a cúpula dourada da Domo muçulmana e a mesquita de Al-Aqsa, depois de Meca e Medina, o lugar mais sagrado do Islão.

 Como é possível haver harmonia entre judeus e muçulmanos? Ao longo dos séculos, a fé e as crenças tão díspares, a terra que ambas as crenças religiosas reivindicam como apenas suas, tanto sangue judeu e muçulmano, algum também cristão a correr pelas lajes delapidadas de Jerusalém... Terra Santa e de paz, infindáveis ódios, ignomínias e guerras. As lágrimas descendo pela face dos deuses.

Avanço na esteira da divindade de Jesus. Nas ruelas de antiga Jerusalém, como outrora, os vendilhões de quinquilharia e pasmosa fancaria, parecem enraizados na pedra da cidade. 

Sigo pela Via Sacra, imagino o Senhor carregando a cruz até ao lugar do Calvário, hoje a igreja do Santo Sepulcro, quase uma fortaleza de pedra. Aqui veio morrer Jesus Cristo, crucificado entre dois ladrões, aqui os cristãos ajoelham diante das cruzes do sec. XII. Adiante, abre-se a estrutura circular no meio da qual se situa a construção que abriga o túmulo onde Cristo terá sido sepultado. Está sempre vazio porque, três dias após a morte, terá subido gloriosamente aos céus.

Todos nós, poderemos, talvez um dia, também na hora da morte, ressuscitar e ascender a paragens celestiais. Jesus Cristo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem acredita em mim, ainda que morra, viverá.” João, 11, 25-26.

Ah, homens de pouca fé – eu também, tanta incerteza e tanta dúvida, até em Jerusalém 
, porque duvido da palavra do Senhor?

domingo, 13 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26681: Histórias de vida (56): Berta de Oliveira Bento, a Dona Berta da Pensão Central, Bissau (1924 -2012)


Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Av Amílcar Cabral (antiga Av República)   > Do lado direito, de quem sobe,  e antes da Catedral e da Residencial Coimbra (hoje Hotel Coimbra), ficava  a Pensão Central, ou Pensão da D. Berta... A saudosa Berta de Oliveira Bento (1924-2012), cabo-verdiana,  radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos, incluindo antigos combatentes, cooperantes, professores, jornalistas, membros de ONGD, pessoal diplomático, etc., de diversas nacionalidades.

Foto (e legenda): © David Guimarães (2001). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné-Bissau > Bissau >  Av Amílcar Cabral (antiga Av República)   > 2024 > A antiga Pensão Central, hoje ocupada por uma universidade privada, Bimantecs, Bissau International Management and Technology School.


Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central >  c. 2007  > A Dona Berta e as suas "meninas", pensionistas, em noite de Natal (presume-se) ou na sua festa de anos (nasceu  12 de dezembro de 1924). A jovem da ponta direita, é a nossa amiga Sílvia Margarida Mendes, hoje esposa do músico luso-guineense Mamadu Baio (membro da nossa Tabanca Grande desde 28/1/2014). Na altura a Sílvia era professora do ensino secundário, cooperante (viveu cinco anos na Guiné-Bissau).



Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central > s/d > Sala de Jantar... A Dona Berta, ao fundo, do lado direito


Guiné-Bissau > Bissau > Embaixada de Portugal > 1994 > Berta Bento, então com 70 anos, condecorada pelo Presidente da República Portuguesa com a Medalha de Mérito... E em 2008 aos 84  anos foi também condecorada pelo Governo de Cabo Verde.


Guiné > Bissau > 1968 > Visita do Presidente da República, Américo Tomás... A Pensão Central toda engalanada.


Lisboa > Sede da CPLP > 21 de novembro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Ceitil (1947-2020), nosso grão-tabanqueiro, "Dona Berta de Bissau" (Lisboa, Ãncora Editora, 2013, 200 pp.).

Sinopse do livro na Âncora Editora:

 "Berta de Oliveira Bento nasceu na Ilha do Maio, em Cabo Verde, no ano de 1924. Foi 'o sétimo filho e a terceira rapariga' do casal cabo-verdiano Manuel Joaquim Bento e Margarida de Melo Oliveira Bento. Faleceu no dia 12 de Dezembro de 2012. Passou a infância e a juventude em Cabo Verde e, aos 24 anos, deslocou-se a Bissau para acudir a uma irmã mais velha. Foi ficando e afeiçoando-se à terra, criando laços tão fortes com as pessoas que não de lá mais saiu. Casou com um português. Não foi mãe, mas desenvolveu uma protecção maternal enorme e um coração onde cabiam, para além dos amigos, a imensidão de filhos, netos e sobrinhos, encantados e venerados para o resto de suas vidas. Conseguir fazer de um negócio, a Pensão Central, o centro do mundo, para tanta gente e tanta gente que ali procurava abrigo e encontrava vida, é um dos seus dons! A forma como se relacionou com os outros devia constar nos manuais de boas práticas de conveniência dos povos do mundo. É esse o legado que nos deixa."

Fonte: fotos recolhidas e editadas, com a devida vénia, da página do Facebook Pensão Dona Berta, Bissau
 

1. Mónica Caldeira Cabral, e  Arménio  Silva Vitória são dois dos administradores da página do Facebook  Pensão Dona Berta Bissau, Grupo Público. O Arménio Silva Vitória tem apresentado fotos do espólio da Pensão Central, algumas das quais utilizadas aqui por nós, com a devida vénia.

A Pensão Central, da Dona Berta, era um dos lugares de referência da Bissau do nosso tempo. Merece ser recordada aqui a vida desta mulher que, pelos testemunhos que li, era um coração de ouro. Tem cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue.

Berta Oliveira Bento, nascida na ilha de Maio, em 1924,  foi para a Guiné em 1948. 

Com a devida vénia, reproduz-se também a aqui uma notícia do jornal de Cabo Verde, "A Semana", de  1 de fevereiro de 2008.


Berta de Oliveirea Bento (1924-2012) (*)


A Semana >  1 de fevereiro de 2008  > Cabo-verdiana Berta Bento, avó dos portugueses na Guiné-Bissau, homenageada pelo Governo
  
01-02-08 – Jornal On-line A Semana

A avó cabo-verdiana de todos os portugueses radicados na Guiné-Bissau, Berta de Oliveira Bento, recebe hoje do governo de Cabo Verde a condecoração por mérito, numa cerimónia a realizar na Embaixada de Portugal em Bissau.

Já condecorada por Portugal, em 1994, com a medalha de mérito atribuída pelo então presidente português Mário Soares, Berta Bento, ou avó Berta como é carinhosamente tratada por todos que a conhecem, aguarda desde 2004 a condecoração de Cabo Verde.

“Estou muito feliz e emocionada, porque estou a viver na Guiné-Bissau há 63 anos”, afirmou a avó Berta à Agência Lusa em Bissau, sublinhando que esta sexta-feira é um dia para festejar.

Berta Bento, de 82 anos, é uma das figuras mais carismáticas da Guiné-Bissau, tendo a sua vida sido já retratada em vários jornais mundiais, nomeadamente no britânico Financial Times.

Neta de um português de Santa Comba Dão, grande comerciante em Cabo Verde na época colonial, Berta Bento chegou a Bissau para ajudar uma irmã que estava grávida. Mas a estada, que deveria ser só de um mês, foi prolongada por amor a um português com quem acabaria por casar e fundar a Pensão Central, no centro da cidade de Bissau.

“Vim apenas por um mês de férias, mas depois apaixonei-me por um português e nunca mais saí da Guiné-Bissau”, contou à Lusa.

Foi na Pensão Central que recebeu, a 25 de Janeiro de 1975, os primeiros 75 cooperantes portugueses do pós-independência, a pedido do ministro da Educação guineense. Desde então, a avó Berta e a Pensão Central recebem com frequência cooperantes portugueses, nomeadamente de várias organizações não-governamentais.

Outra das particularidades da avó Berta é a de apenas sair uma vez por ano da pensão. A saída, com traje a rigor, acontece a 10 de Junho para comemorar o Dia de Portugal na embaixada portuguesa em Bissau. “Este ano vou sair duas vezes”, disse entre sorrisos.

Sobre as histórias que tem para contar, a avó Berta referiu que se emociona sempre muito, mas um dos “momentos mais felizes” foi a altura em que recebeu os primeiros cooperantes portugueses.

Hoje, depois de receber a condecoração, a avó regressa à pensão de onde só tenciona voltar a sair a 10 de Junho

Fonte: Reproduzido com a devia vénia da página Pensão Dona Berta Bissau

2. Vd. também a recensão do livro do José Ceitil, feita na altura pelo nosso crítico literário Mário Beja Santos (**)

(...) "Para quem não sabe, a Pensão Central resistiu à guerra de 1963-1974, esteve sempre acima de todos os golpes de Estado, guerras civis e estados de sítio. Mesmo quando houve períodos de escassez de alimentos, o elementar não faltava na Pensão Central. Com a independência, a Pensão Central tornou-se um espaço de livre-trânsito para todos os cooperantes. 

Quando ali aterrei em 1991, tanto podia almoçar com holandeses ligados a projetos de saneamento de água em Canchungo como peritos do Banco de Investimentos de África, como jantar com os portugueses da Medicina Tropical ou italianos do Fundo Monetário Internacional. 

Naquele tempo ainda era possível atravessar meia Bissau a pé à noite, despedia-me da D. Berta e rumava para as instalações da CICER, era uma bela caminhada de quase dois quilómetros. Às vezes o Delfim Silva dava-me boleia, era encontros agradáveis sobretudo em noites sem lua. A D. Berta nunca me saiu do coração, estou em crer que nunca saiu da recordação de ninguém que comeu ou dormiu naquela pensão. 

Uma vez, já em Dezembro de 1991, estava eu desesperado com a inércia a que chegara o projeto que me levara à Guiné (criação de uma comissão interministerial de defesa do consumidor, havia decisão do presidente Nino Vieira, o ministro português Carlos Borrego criara uma linha de financiamento para as instalações, eu conseguira encontrar uma técnica para coordenar a comissão com o perfil adequado, mas nada mexia, as nomeações não se faziam, não era possível obter a concordância para o início das obras das instalações, sitas no antigo Quartel General), e a D. Berta vendo-me à varanda abatido, chegou ao pé de mim e com voz consoladora, disse-me: “Vá lá, pense na Guiné, que o trouxe cá de novo, pense no bem da nossa gente, o que não sair perfeito hoje dar-lhe-á saudades para voltar mais tarde...”. E o meu estado de espírito mudou. Infelizmente, nada avançou, fizeram-se ainda uns programas televisivos, creio que tudo caiu no olvido." (...)

(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10798: Notas de leitura (439): "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil (Mário Beja Santos)