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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25219: As nossos geografias emocionais (23): O Hospital Militar Principal (HMP), à Estrela, e o Anexo, a Campolide, que eu conheci (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / Antóno Tavares / Armando Pires)

Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O saudoso Carlos Filipe (Porto, 1950-Lisboa, 2017), radiomontador, CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74): esteve internado 32 dias em Bissau, no HM 241, antes de ser evacuado, com hepatite, para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde iria permanecer 173 dias...

Foto (e legenda);  © Juvenal Amado (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Eis alguns comentários (que republicamos) de camaradas nossos que conheceram o Hospital Militar Principal (HMP), à Estrela, e o seu anexo, em Campolide, na Rua da Artilharia Um, vulgo "Texas".

Antes, porém, convém lembrar que o HMP era constituído nos anos 60/70 por várias áreas fisicamente separadas (*), incluindo o Anexo, a Campolide, na rua  Artilharia 1.



Figura 1 – Esquema do HMP, evidenciando as três áreas geograficamente separadas:  a área 1 (o "núcleo histórico"), na Calçada da Estrela, contíguo ao Jardim da Estrela; a área 2 (nas traseiras da Basília da Estrela); e a área 3, delimitada pelo início da Av Infante Santo (no sentido descendente) e a Rua de Santo António à Estrela (que inclui o edifício de 12 pisos, a Casa de Saúde da Família Militar, construído já 8 em 1973).  O Anexo, a Campolide, não consta aqui desta figura.

(Com a devida vénia... Fonte: Anuário do HMP de 2004, citado por major Rui Manuel Pereira Fialho, "Alterações na estrtutura do Hospital Militar Principal", Revista Militar n.º 2566 - Novembro de 2015, pp 909 - 918. (Disponível aqui em pdf: https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1064).


Carlos Rios, ex-furriel mil, CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67)

(…) Fui dos que passou pelas instalações e sofri as piores atribulações [n]aquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo (Texas), do Hospital Militar Principal (HMP).

Ali passei seis anos com imensas operações, vindo a ficar estropiado, de 1966 a 72. 

O director era um déspota bem como a maioria do pessoal ligado àquilo que deveria ser o lenitivo para as misérias que nos atingiam mas que afinal se vinha a transformar como que um castigo por termos sido feridos. De tal maneira que já no Depósito de Indisponíveis, onde se encontrava o pessoal em tratamentos ambulatórios, termos sido metidos nas escalas de serviço, como se os doentes em tratamento estivessem numa Unidade.

Imagina um Oficial de dia,  quase maneta,  e eu próprio, já coxo, a fazer o içar da bandeira na porta de armas, vindo ao exterior a comandar a guarda e dar ordens militares para o caso. Fui um espectáculo macabro, eu só consigo andar com uma bengala. Calcula o ridículo.

No decrépito anexo não havia um espaço onde pudessemos ter um bocadinho de lazer, havendo apenas uma horrorosa cantina pequena para largas centenas de todo o tipo de doentes, cegos, amputados, loucos, etc...tudo á mistura. 

Não podiamos estar nas camas depois das nove horas nem sair para o exterior antes das catorze, exceptuando os acamados. Era-nos sugerido, quase obrigado, que não andássemos fardados. 

Enfim atribulações e peripécias dos pobres que eram arrancados às familias para servir alguém. (...) (**)

Rogério Cardoso, ex-fur mil, Cart 643, Águias Negras (Bissorã, 1964/66)

(…) Também eu passei as passas do Algarve no chamado Texas [na Rua da Artilharia 1]. Estive lá de fevereiro de 1966 a meados de 1967.

De facto o Director era uma pessoa intragável, assim como muito do pessoal lá destacado. Voltando ao director, assisti uma vez, ele dar uma bofetada num 2º sarg enf por ele não ter chamado á atenção de um fur mil que estava deitado em cima da cama, pelo meio da manhã. O homem até chorou, pela humilhação sofrida. (…)

 (…) Estou lembrado de mais uma cena humilhante. Nós, sargentos, instalados no anexo Texas,  frequentemente tínhamos consultas no HMP, à Estrela, estou a falar no ano 1966. A deslocação era feita numa carrinha Mercedes, salvo erro de 18 lugares. 

Até aqui tudo bem, mas a nossa vestimenta era pior do que a de um recluso. Calças de cotim com dezenas de carimbos com uma estrela, com os dizeres HMP, camisa branca sem colarinho tipo moço de estrebaria, também com carimbos, casaco cinzento de golas largas (capote cortado a 3/4) e barrete branco de algodão, igual aos que os velhotes usavam para dormir no século XIX, além de sapatilhas brancas.

A nossa vestimenta era mais do que ridícula, os reclusos eram uns "pipis" comparando. Era o tratamento a que os combatentes que tiveram azar, eram sujeitos. (…)  (**)


Jorge Picado, ex-cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72


(...) No Hospital, Anexo (ou "Texas"),  existente na Rua de Artilharia 1, tive as primeiras visões horríveis, do que me poderia esperar, qualquer que fosse o TO que me saísse na rifa. 

Isto aconteceu talvez nos finais de setembro de 1969, quando estava a frequentar o CPC em Mafra. Aí funcionavam, não sei se outras, as consultas de Ortopedia, para onde fui encaminhado pelo Oficial Médico mil da EPI, face aos problemas da coluna lombar de que já padecia.

Para chegar à zona das consultas tinha de percorrer vários corredores (ou seria só um muito comprido, mas dividido por várias portas?), atulhados com macas ocupadas por estropiados brancos e negros, meio ao "Deus dará". 

Da primeira vez fiquei meio "zonzo" com aquelas cenas e nas seguintes procurava chegar rapidamente ao local olhando par o ar...

Quanto ao Cap Med do QP, chefe da Ortopedia, fiquei com as piores recordações, respondendo-lhe "torto" e chamando-lhe a atenção que não estava a falar para um analfabeto, mas sim para um licenciado como ele, mas isso são outros contos. (...)(**)


António Tavares, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)


 (...) Em Janeiro de 1969 estive internado no anexo do Hospital Militar Principal, Rua Artilharia 1, onde vi e assisti a episódios sem classificação...

Impossível a sua descrição. (...) (**)

Armando Pires, ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70

(...) Conheci o Hospital Militar Principal, à Estrela, e o Anexo, na Rua de Artilharia Um, a Campolide, em dois momentos diferentes da minha carreira militar: primeiro como internado (Março a Maio de 67) e a seguir como enfermeiro (Junho/67 a Outubro/68).

 Em Outubro iniciei a formação do Batalhão  [BCAÇ 2861] e em Fevereiro parti para a Guiné. 

Vamos ao Hospital. 

(i) A Estrela [HMP], após o início da guerra, foi equipada  com o que de melhor havia e nela trabalhava obrigatoriamente a nata da classe médica portuguesa. 

(ii) O Anexo de Campolide [na Rua Artilharia Um] funcionava como centro de recuperação para os mutilados, para os necessitados de apoio psiquiátrico e psicológico, também como linha de apoio a várias especialidades médicas da chamada "medicina geral", e ainda como "depósito de feridos ou doentes de guerra" em regime ambulatório... porque era preciso criar vagas para os casos mais graces no Hospital Principal.  

Sim, têm razão quase todos os comentários que aqui foram produzidos sobre o Anexo. Decrépito, sem dignididade hospitalar, refeitório de miserável qualidade alimentar e roupas militares próximo da indigência humana. 

Mas, atenção, o chamado serviço 6, no topo norte do Anexo, onde eram recebidos para convalescênça os mutilados, era um lugar à parte. Digno! 

E já agora o pessoal. Por favor, não confundir os militares que ali eram colocados em serviço de linha com o pessoal médico e enfermeiros.

Sim, de acordo, o Director era uma besta! 

E já agora, nada de exageros. Ali não eram despejados cadávares e feridos. Os mortos tinham uma capela enorme para os manter em ambiente de dignidade antes dos funerais. 

Os feridos iam sempre, em primeiro lugar, ao Hospital Principal. 

Muito, mas muito, haveria para dizer. Mas este é apenas o espaço de comentário e pareceu-me haver aqui algum exagero e alguma injustiça. Só isso. As minhas desculpas e o meu abraço,  camarada. (...) (***)

 ____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela

(**) 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)

(***) Vd. poste de 22 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8459: (Ex)citações (142): Em defesa do Hospital Militar Principal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela


Fachada do Hospital Militar Principal,  Lisboa, â Estrela, s/d .  



Hospital Militar Principal de Lisboa 
(Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela)


Fonte: Adapt de Município de Lisboa


1. Quantos de nós passaram por aqui, pelo HMP, que não se resumia a este antigo edif´ciio conventual ?  Do complexo hospitalar da Estrela, fazai ainda parte o Anexo de Campolide... Algns andaram pelo HMP , em tratamento, recuperação e convalescença, um, dois ou até mais anos...  

Importa então relembrar a história do antigo Hospital Militar Principal (HMP) (que encerrou definitivamente em 2013) (*)... 

O edifício  (qeu vemos na foto) começou por ser,   originalmente,  um convento beneditino, fundado em 1572 e dedicado a Nª Sra. da Estrela. 

Em 1615, muito próximo deste, é fundado o Mosteiro de S. Bento da Saúde (no sítio onde é hoje o Palácio de São Bento) (**) . O primitivo convento da Estrela será, entretbato, transformado em colégio e casa de estudo da Ordem.

Em 1624 construiu-se no Convento das Janela Verdes, o Hospital Real Militar da Corte, mais tarde transferido para o colégio de Nossa Senhora da Estrela, passando a designar-se por Hospital Militar de Lisboa.

Com a Restauração e a guerra peninsular, a partir de 1640, desenvolve.se o Serviço de Saúde Militar e criam-se Hospitais de Guarnição.

O edifício da Estrela, tal como outras construções da cidade, fortemente abalado pelo terramoto de 1 de novemvro de 1755. Anos depois, em 1797, passa para as mãos do Estado, acolhendo um hospital militar que será utilizado por tropas auxiliares britânicas (ma também pelas tropas de Junot).

Em 1836, por parecer da 
Comissão de Saúde Militar, o  Hospital Militar Permanente instala-se definitivamente no edifício da Estrela.

Com a evolução dos tempos o Hospital foi alargando as suas instalações e em 1898 anexou-se a ala que dá para a Rua de S. Bernardo, para no ano seguinte alguns dos seus serviços serem instalados na "cerca" do Convento do Sagrado Coração de Jesus (Basílica da Estrela).

Em 1926, passa a designar-se Hospital Militar Principal. No ano seguinte, na "cerca",nas traseiras da Basílica da Estrela, será instalada a Escola do Serviço de Saúde Militar (ESSM)-

Posteriormente, com a abertura da Avenida Infante Santo, em 1950, ficou a referida "cerca" dividida ao meio: os pavilhões de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e o Laboratório de Análises Clínicas vão ficar no lado nascente (lado esquerdo da Infante Santo, quando se desce); o Bloco Operatório e o Pavilhão da Família Militar, construído na década de 1940, situam-se no lado poente (lado direito da Infante Santo, no sentido descendente) (***)

Sem entrar em detalhes, sobre a sua estrutura física e orgânica, que se foi alargando ao longo do tempo, o HMP (constituído por diversas áreas e diversos edificios, e com graves problemas de circulação "intra-hospitalar") vai ter um papel importante durante a guerra de África (1961/75). 
Faz parte das "geografias emocionais" de alguns de nós (****).

Em 1961, o Aquartelamento de Campolide deixou de ser ocupado pelo Regimento de Artilharia n.º 1, sendo aí instalado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, anexo do HMP (conhecido como o Anexo de Campolide), face ao grande número de evacuados do Ultramar.

Em 18 de Outubro de 1973 foi inaugurado a Casa de Saúde da Família Militar, localizada na "cerca" do hospital, com 12 pisos.

Em 1991 procedeu-se à concentração hospitalar dos três corpos de edifícios dispostos em volta do Largo da Estrela, de forma a permitir a alienação do referido Anexo de Campolide que se tornou desnecessário.

Durante a década de 90 o Hospital responde aos desafios da medicina moderna efectuando obras e melhoramentos em diversas áreas. O Hospital Militar de Belém como hospital complementar, integra os seus serviços clínicos no funcionamento hospitalar global.

Em 2009, avançava-se com um projeto para a criação de um Hospital Único das Forças Armadas. Porém, o Hospital Militar da Estrela acabaria por fechar em 2013. O seu destino ficou incerto. 

Anos depois, em 2022, o antigo convento e depois hspital militar, adjacente ao Jardim da Estreka, reabriu portas como espaço cultural, com o nome “House of Neverless” , prometendo eventos, workshops e formações. Tem dois pisos dedicados ao teatro e um terceiro para a academia. 
 
Fontes: 
Adaptado de página do Exército > Hospital Militar Principal > Historial

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

(**)  Mosteiro de São da Saúde de Lisboa > Historial 

(...) O Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa era masculino, e pertencia à Ordem e Congregação de São Bento.

Também designado por Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, Mosteiro de São Bento de Lisboa, Mosteiro de São Bento o Velho.

Em 1581, os monges beneditinos que estavam instalados no Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela de Lisboa, decidiram construir um novo edifício, na quinta da Saúde, também em Lisboa.

Em 1598, foram iniciadas as obras, pelo Geral da Ordem Beneditina, frei Baltazar de Braga, segundo o projecto do arquitecto Baltazar Álvares.

Em 1615, a 8 de Novembro, a comunidade transferiu-se para a quinta da Saúde. A invocação do Mosteiro teve a sua origem nesta nova residência, o qual viria a ser designado por São Bento de Lisboa ou por São Bento da Saúde de Lisboa.

A partir de 1755, os monges foram obrigados a ceder uma parte das suas instalações para vários fins. De 1755 a 1856, e de 1769 a 1772, foi sede da Patriarcal de Lisboa. Em 1757, e nos anos seguintes, serviu de instalação à Academia Militar. Em 1796 e 1798, serviu de prisão de pessoas notáveis. Entre 1797 e 1801, serviu de instalação ao Batalhão de Gomes Freire de Andrade. Entre 1756 e 1990, acolheu o Arquivo da Torre do Tombo.

Em 1822, os monges tiveram de abandonar o mosteiro, indo para o Mosteiro de São Martinho de Tibães de onde regressaram em 1823.

Em 1833, abandonaram o edifício definitivamente quando este foi cedido para local de reunião das Cortes Constituintes.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

Localização / freguesia: Lapa (Lisboa, Lisboa) (...)


(***) Vd. artigo "Alterações na estrtutura do Hospital Militar Principal", do major Rui Manuel Pereira Fialho, publicado na Revista Militar N.º 2566 - Novembro de 2015, pp 909 - 918. (Disponível aqui em pdf: https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1064)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25123: As nossas geografias emocionais (21): Cais de Buba (1973 e 2017) (João Melo, ex-1.º cabo op cripto, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74)


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 2  


Foto nº 2A

Guiné > Regiãn de Quínara > Buba > Cais de Buba em 1973 (Foto nº 1) e 26 de março de 2017 (Foto nº 2)

Fotos (e legendas): © João Melo  (2024) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74); é profissional de seguros, vive em 
Alquerubim, Albergaria-a-Velha:

Data - 30 jan 2024 15:05
Asssunto . Cais de Buba (1973 e 2017)

Boa tarde, camaradas!

Depois de ter lido e visto fotos comparativas. publicadas no nosso blogue, lembrei-me de que, entre algumas centenas de fotos que possuo,  tiradasa aquando das minhas visitas à Guiné para distribuir material pelas escolas de Cumbijã, como faço regularmente, tenho aqui algumas que podem ter interesse mostrar.

Anexo-vos duas fotos tiradas junto ao cais de Buba. Uma em 1973 e outra em 26 de março de 2017. Se encontrarem algum motivo de interesse em publicá-las no Blogue, força! Caso achem que não, tudo bem na mesma...

Um grande abraço com os votos de muita saúde!

João de Melo
Ex- Op Cripto
CCAV 8351 - "Tigres de Cumbijã"
Cumbijã /Guiné 1972/1974
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Nota do editor:

Último poste da série >  23 de dezemro de  2023 > Guiné 61/74 - P24993: As nossas geografias emocionais (20): Quinta de Candoz, "aguarelas" natalícias, com votos de Boas Festas (Luís Graça)

sábado, 23 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24993: As nossas geografias emocionais (20): Quinta de Candoz, "aguarelas" natalícias, com votos de Boas Festas (Luís Graça)

 




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> Quinta de Candoz > 21 de dezembro de 2023 > "Aguarelas" natalícias... No fundo do vale passa a linha do Douro (que liga Ermesinde ao Pocinho, numa extensão de 160 km)... O comboio é nosso vizinho, e funciona como sucedâneo do relógio da torre sineira da igreja que não há aqui em redor... Quando ele passa, apita e "dá as horas"... 

A ponte da Quebradas entre a estação do Juncal (concelho de Marco de Canaveses) e a de Mosteiró (concelho de Baião)  é visível numa das "aguarelas" aqui reproduzidas... A seguir é a Estação de Tormes, no lugar de Aregos, onde começa o Caminho de Jacinto até â Quinta de Tormes... do outro lado da serra (que vemos daqui de Candoz). 

Estamos em plena paisagem que Eça de Queiroz descreveu  tão magistralmemte no seu último romance "A Cidade e As Serras" (publicado postumamemente em 1901, e só parcialamente revisto pelo autor). 

É um dos meus livros de cabeceira, quando cá venho. E desta vez para celebrar antecipadamente o Natal, hoje, 23 de dezembro. (Não o celebramos amanhã porque ainda estamos de luto, por aquela que foi durante 40 anos a rainha de Candoz.

Éramos, entre adultos e canalha, perto de 3 dezenas de comensais, à volta de uma grande mesa em L: não faltaram o bacalhau lascudo, as batatas, as pencas, o ovo cozido, o pão de milho, o espesso molho de azeite, vinagre e alho,  o tinto maduro e o viçoso verde branco (já deste ano)... E, claro, os nossos bons queijos (que são dos melhores do mundo...) e a doçaria (que veio diretamente do céu)...  

Enfim, algumas das pequenas grandes razões para  há 130 anos o principe Jacinto ter trocado o palacete do número 202 dos Campos Elísios em Paris (a Cidade, a Civilização, a Europa) pela Quinta de Tormes (as Serras, a Ruralidade, o Portugal, puro e bruto ).

Caros amigos e camaradas, anónimos leitores: a Tabanca de Candoz deixa-vos aqui os votos de um Bom Natal de 2023 e de um Melhor Ano de 2024. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 20 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24980: As nossas geografias emocionais (19): Lisboa: Do Passeio Público à Avenida da Liberdade...

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24980: As nossas geografias emocionais (19): Lisboa: Do Passeio Público à Avenida da Liberdade...

 


Imagem nº 1 - A Avenida da Liberdade, o palácio Foz do lado esquerdo e o monumento aos Restauradores. C. 1906. Ainda não havia ao cimo, na Rotunda, a estátua do Marquês de Pombal (inaugurada só em 1934).


Imagem nº 2 - "O antigo Passeio Público do Rossio, demolido em 1883" 

 

1. Lisboa: A Avenida da Liberdade é, seguramente, a mais icónica artéria da cidade (Imagem nº 1). Liga a praça dos Restauradores, na Baixa,  à Praça do Marquês de Pombal. Inspirando-se no "boulevard" parisiense, a sua origem remonta ao Passeio Público (cujo início de construção data de 1764, ao tempo de Marquês de Pombal e da  reconstrução da cidade) (Imagem nº 2).

Mede c. 1100 m de comprimento, e 90 de largura.  Os seus largos passeios são decorados com jardins, fontes  estátuas de escritores e a famosa calçada à portuguesa. Nela se ergue também o Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

O Passeio Público foi desenhado pelo arquiteto Reinaldo Manuel. Era inicialmente murado, e só acessível à nobreza. Sofreu grandes alterações no 2º quartel do séc. XIX (anos 1830/40), da responsabilidade do arquiteto Malaquias Ferreira Leal. Democratizou-se com o liberalismo.
 
A  avenida, em si,  é mais recente: foi construída entre 1879 e 1886, e muito se deve à determinação e visão de Rosa Araújo (1840-1893), presidente da câmara municipal.   Passou a ser uma zona "in" para as  novas classes sociais em ascensão , a zona "chique" de Lisboa, com ligação ao Rossio e ao Chiado.

Apesar da sua terceirização e gentrificação, continua ainda hoje a ser um dos palcos preferidos para manifestações públicas, desfiles militares, festividades, etc.  (1º de Dezembro, 25 de Abril, 1º de Maio, 13 de Junho, iluminações de Natal...).

A Avenida da Liberdade foi classificada, em 2013,  como Conjunto de Interesse Público.


2. Sobre a publicação OCCIDENTE (O). REVISTA ILLUSTRADA DE PORTUGAL E DO ESTRANGEIRO

(i)  Publicou-se entre 1878 e 1915, ao ritmo de três números por mês;

(ii) Em 38 anos de edição, publicaram-se 1315 números ao longo dos seus 38 anos de edição;

(iii) O seu sucesso e longevidade devem-se a dois homens: Caetano Alberto da Silva, gravador e principal capitalista da empresa Occidente; e Manuel de Macedo, desenhador ilustrador;

(iv) A revista foi uma verdadeira escola de gravadores. com ateliê próprio;

(v) Acompanhou a evolução dos tempos, recorrendo  também à colaboração da nova figura emergente, o fotógrafo (e passaram por lá nomes conhecidos como  Joshua Benoliel (1873-1932), o primeiro fotojornalista português, e outros como Alberto Lima, Ciríaco Tavares da Silva,  Rocchini, Carlos Relvas, Carlos Vieira, J. Azevedo, F.G. Marques, Manoel Abreu, António P.A. Leite, etc.);

(vi)   "O Occidente" era uma revista muito diversificada, e cosmopolita, seguindo tendèncias estésticas e movimentos sociais (como a luta das sufragistas inglesas, etc.) mas evitando as armadilhas da política partidária; atravessou uma época de profundas mudanças (em todos os domínios), nasceu na monarquia constitucional e acabou na República, com o apoio à entrada de Portugal na Grande Guerra. (Fonte: Adapt. de Rita Correia / Hemeroteca Digital de Lisboa: Ficha hstórica, com a devida vénia...)

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sábado, 2 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24908: As nossas geografias emocionais (18): Boma ou a fonte de Bafatá do meu tempo da Mocidade Portuguesa (em 1973) e depois de estudante liceal (1975) (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 2010> A antiga fonte de Bafatá. "(...) em 1968/69 estava num grau de conservação normal, quando fui lá em 2010 o terreno, por força das chuvas, tinha subido mais de um metro subterrando o tanque. Também em 2010 já tinha desaparecido a placa com a data da construção." (...)

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > "Fonte Pública de Bafatá, 1918". Na foto, o Manuel Mata, que vive no Crato,  ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 do Esq Rec Fox 2640. Esta belíssima fonte, na zona da "Mãe de Água", também conhecida na época colonial como "Sintra de Bafatá", é portanto do início do desenvolvimento urbano de Batafá, ainda no tempo da República. Ainda chegou aos tempos do Cherno Baldé, quando, depois da independência, ele foi para Bafatá estudar.

Foto (e legenda): © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Fajonquito > 10 de junho de 1971 >  "O meu irmão Carlos (2 anos mais velho, hoje Farmacêutico, formado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Técnica de Lisboa), durante a alocução por ocasião do dia 10 de Junho de 1971, Dia de Portugal e de Camões, na escola primária de Fajonquito. Na imagem estão dois oficiais da companhia do cap Figueiredo (CART 2742), um dos quais, o alferes Félix encontrou a morte no mesmo dia que o seu capitão."

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P24805 (*):


Cherno Baldé, quadro superior
com formação em  economia e gestão,
vive e trabalha em Bissau;
colaborador permanente do nosso blogue:
 integra a Tabanca Grande
desde 19/6/2009; tem cerca de 290
referências no blogue.

Caros amigos,

A fonte (nascente) de Bafatá que conheci desde a minha primeira viagem a esta cidade na qualidade de "infante" da Mocidade Portuguesa ou mocidade "treco" (ou "tareco"), como nos apelidaram os colegas de Bafatá em 1973, praticamente serviu-nos de residência durante alguns dias, pois vindos do interior não conhecíamos ninguém na cidade, mas só durante o dia, porque à noite, por força do arvoredo, da escuridão e isolamento, o pequeno vale se transfigurava num local sinistro de que poucos se atreviam a atravessar. 

As pessoas que vinham ou saíam do Hospital para o Bairro de Ponte-Nova seguiam pelo trajecto que levava ao quartel da cavalaria (?), passando à frente da sua porta d'armas, antes de descer para o Bairro junto da entrada do Cemitério local.

Um ano depois, em 1975, já na qualidade de estudante do primeiro ciclo, voltaria a serviu-nos de local aprazível para estudos e passatempo, sempre no período diurno, pois ainda prevalecia o medo do local e durante a noite predominava a escuridão e o silêncio, nesse período, entre a malta jovem já era mais conhecido por Boma.

Em alguma parte das minhas memórias, falando da guerra de Bissau (junho de 1998-maio de 1999) nossa fuga de Bissau para Fajonquito, faço referência a minha passagem por Bafatá e ao Boma (fonte Bafatá) nosso local predilecto de estudos e brincadeiras.

Um abraço amigo,
Cherno Baldé (Bissau) (**)

(Seleção, revisão e fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor:

(*) V.d poste de 29 de outubro de  2023 > Guiné 61/74 - P24805: As nossas geografias emocionais (12): A fonte pública de Bafatá, construída em 1918, na zona conhecida como a "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde chegou a haver almoços dançantes ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71)

(**) Último poste da série > 25 de novembro e 2023 > Guiné 6mbro de 1/74 - P24885: As nossas geografias emocionais (17): Empada: a Fonte Frondosa (1946): uma foto tirada à minha mulher, no dia 25 de dezembro de 1969, dia de Natal (Eduardo Moutinho Santos, ex-cap mil grad, cmdt, CCAÇ 2381, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

sábado, 25 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24885: As nossas geografias emocionais (17): Empada: a Fonte Frondosa (1946): uma foto tirada à minha mulher, no dia 25 de dezembro de 1969, dia de Natal (Eduardo Moutinho Santos, ex-cap mil grad, cmdt, CCAÇ 2381, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > > A esposa do Eduardo Moutinho Santos, na Fonte Frondosa...que vem do tempo do governador-geral Sarmento Rodrigues... Vísivel no painel de azulejos a data: 1946. E pela foto vê-se que na época (1969). E sabemos que continuava a matar a sede aos viajantes em 2011 quando  Eduardo Moutinho e o Zé Teixeira a revisitaram em 2011, 65 anos depois da sua construção. 

Foto (e legenda): © Eduardo Moutinho Santos (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil,  CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhamel), e ex-cap mil graduado,  cmdt CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada) (1968/70); tem 26 referências no nosso blogue; juntamente com o Zé Teixeira, é o régulo da Tabanca de Matosinhos; profissionalmete é  advogado:

Data - 24 nov 2023, 18:54
Assunto - Fonte Frondosa, Empada

Luís Graça.

Que estejas bem.

Também tenho no meu Álbum de Guerra uma foto da Fonte Frondosa de Empada, ali tirada à minha mulher no dia 25 da Dezembro de 1969 - Dia de Natal. 

A Fonte tem a minha idade!!!

Aqui vai, caso queiras postá-la no Blogue.

Abraço

Eduardo Moutinho 
moutinhosantos-2044p@adv.oa.pt
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Nota do editor:

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24879: As nossas geografias emocionais (16): Empada: a Fonte Frondosa (1946), revisitada em 2011... e os amigos que lá deixámos, eu e o Eduardo Moutinho Santos (José Teixeira)



Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > O Eduardo Moutinho Santos e o Zé Teixeira na Fonte Frondosa, inaugurada em 1946... Sessenta e cinco anos depois ainda funcionava e a lápide em azulejo ainda lá estava.


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A visita obrigatória do Eduardo Moustinho Santos e o Zé Teixeira à Fonte Frondosa,


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > Outra perspetiva da bela fonte de Empada.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A janta à Fula, para alegria dos mais jovens e prazer dos mais velhos.


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > Moutinho Santos e o Braiama a saborear um bom momento de reencontro passados 41 anos.


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > O último abraço do Braiama (já faleceu).


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2011 > A alegria estampada no rosto que a câmara do meu filho colheu.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2005> O Kebá vestido de cor rosa, o Braima e o Xico Allen (1950-2022)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; tem mais de 400 referências no blogue; régulo, juntamente com o Eduardo Moutinho Santos, da Tabanca de Matosinhos): 

Data - segunda, 30/10/2023, 12:07

Assunto - Fonte Frondosa

Luís e Carlos.
Bom dia.

A propósito das Fontes espalhadas pela Guiné (*), junto um artigo, para publicar se entender que vale a pena.

Fraterno abraço do Zé Teixeira



Fonte Frondosa, em Empada

por Zé Teixeira


Era o local onde se tentava “matar” todas as sedes.

Era a fonte mais linda de todas as fontes. Á água era fresca, límpida, inodora e não contava que trouxesse coliformes fecais ou outros que tais, mas se trouxesse a sede era tão grande que matava toda a bicharada.

Estava situada, num baixio, um pouco atrás da casa do Chefe de Posto, o tal que foi corrido (só não foi a tiro, porque apareceu o capitão), mas esteve quase. Ousara dar ordem de prisão a um pobre sofredor, o Kebá, que vira duas das suas mulheres e seus filhos serem apanhados pelo IN.

o Kebá  Uns tempos mais tarde, encheu-se de coragem e foi ao interior da mata tentar recuperá-los e estes negaram-se a regressar a Empada, voltando ele de mãos a abanar. Era muito estimado dentro do quartel, como auxiliar de enfermeiro e tradutor, mas recusava-se a vestir uma farda e combater, e nós compreendíamos as razões.

Pois o Kebá não tinha dinheiro para pagar o imposto de palhota, ou do pé descalço, como também se chamava, e foi detido. Como castigo tinha de ir buscar todos os dias vários barris de água à fonte Frondosa para uso na casa do Chefe de Posto e regar o seu frondoso jardim.

Quando os militares descobriram a situação em que se encontrava o Kebá, alguns, entre os quais, este que vos está a relatar a situação, pegaram na G3 e cercaram a casa do homem. Valeu-lhe o Eduardo Moutinho Santos, então a comandar a cmpanhia,  que, alertado, apareceu e acalmou as hostes, mas o Chefe de Posto seguiu no dia seguinte sob prisão para Bissau, por ordem do Governador Spínola, e Empada só ganhou, pois, o capitão foi nomeado Chefe de Posto e as mudanças para melhor bem-estar da população, começaram a notar-se.

Mas voltemos à Fonte Frondosa. Manhã cedo, as bajudas, recolhiam as roupas dos militares e dirigiam-se para a fonte, o tal lugar sagrado para “matar” todas as sedes. Os nossos rapazes, sentavam-se no alto da pequena colina com todos os sentidos em alerta máximo. As bajudas desvencilhavam-se das roupas que as impediam de se meterem na água, deixando o “deusificado” corpo à vista, para mergulharem as camisas, as cuecas, as calças, etc. e as baterem bem batidas nas rochas circundantes e assim tentarem lavar as nossas roupas tão carregadas de suor e outros detritos acumulados pelo uso. Apenas uma pequena tarja lhe cobria as partes púdicas. 

Entretinham-se numa “algarviada” que os mirones não entendiam, mas sentiam ser de gozo, pela aproximação e desejos libidinosos bem expressos nos olhares, posicionamento do corpo, e expressões verbais. Os olhos eram o espelho do estado de espírito e brilhavam ao apreciar o fruto proibido imanado daqueles jovens corpos de tez escura, bem torneados e de beleza infinita, e sonhavam… se sonhavam! Alguns ousavam aproximar-se para tentar um toque de magia, um apalpão, mas recebiam um sonoro “nega”, “nega memo” e eram afastados ao empurrão, para gáudio dos camaradas.

A água para o quartel era retirada da Fonte Frondosa e, eu mesmo, e tantos outros, antes de sairmos para o mato, sempre que havia tempo, íamos lá encher o cantil de água bem fresquinha. Para matar a sede, quantas vezes, me debrucei sobre a bica para aparar a água na concha da mão e a saborear com deleite!

Passados quarenta e um anos (2011), eu, os meus dois filhos e o Capitão voltamos à procura da água da Fonte Frondosa para matar a sede, reviver e recontar aos vindouros as nossas histórias, e que belas histórias!

Os tempo de guerra também tem bons momentos de bem-estar e alegria que são (ou devem ser) recordados com saudade e alegria.

Já não encontramos o Kebá, tinha falecido em 2007, mas ainda conseguimos dar um abraço ao Braima, com cerca de 90 anos. Era o último dos combatentes locais, e enfermeiro, do tempo da CCaç 2381 (1968/70).

José Teixeira (**)

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sábado, 4 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24821: As nossas geografias emocionais (15): o reordenamento de Nhabijões (ou Nha Bidjon), 300 casas de zinco que terão custado mais de 2700 contos (c. 700 mil euros a preços de hoje), fora a mão-de-obra, civil e militar, e ainda os custos indiretos e ocultos


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca / CAOP 2) > Nhabijões (ou Nha Bidjon) > c. 1973 > Vista aérea do reordenamento de Nhabijões: o maior ou um dos maiores do CTIG, com 300 casas de zinco...(Fonte:  CECA, 2015, pág. 276)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca / CAOP 2) > Nhabijões (ou Nha Bidjon) > 197 2> Vista aérea do reordenamento de Nhabijões (Fonte:   "Diário de Lisboa",   31 de Agosto de 1972, com a devida vénia)


1. Ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) /CAOP 2), o redordenamento de Nhabijões tinha, a defendè-lo, um pelotão (da CCS) mais um 1 Esq do Pel Mort 2268, com morteiro 81. Continuou, no tempo do batalhão, que veio a seguir, o  BART 3873 (1972/74), com 1 pelotão (da CCS) mais 1 Esq do Pel Mort 2268... E por fim, no final da guerra,  com o BCAÇ 4616/73 (1974),  havia só 1 pelotão (da CCS).

Ainda lá estive, uma semana ou duas, a comandar um pelotão de "básicos" da CCS... Uma noite apareceu alguém, no destacamento, a gritar, histérico, "Turras no Nha Bidjon"... Veio,  em meu socorro, o piquete de serviço, de Bambadinca, comandado pelo Beja Santos (que estava em fim de comissão, e era uma força da natureza).

No final, não fora nada: os gajos do PAIGC entravam e saíam a seu bel prazer em Nhabijões, iam visitar os parentes, beber vinho de palmeira ou aguardente de cana, dormir com as bajudas, recolher as compras feitas em Bambadinca na loja do "tuga" Zé Maria (a quem chamávamos "turra"), estudar as rotinas da tropa  e, quando muito bem lhes apeteceu, puseram duas minas A/C, à saída do reordenamento, accionadas por duas viaturas nossas no dia 13 de janeir0 de 1971...

Nhabijóes tem 55 referências no nosso blogue. É um dos topónimos míticos da guerra no leste. O reordenamento foi um dos maiores sucessos da política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"... 

Mas também pagámos (a CCAÇ 12 e a CCS/BART 2917) um alto preço por este êxito: recordemos as duas minas A/C accionadas no dia 13 de janeiro de 1971, vitimando mortamente o sold cond auto da CCAÇ 12, Manuel da Costa Soares, e ferindo, com gravidade,  o alf mil sapador Luís Moreira (da CCS/BART 2917), os fur mil Joaquim Fernandes e António F. Marques (este, esteve dois anos no hospital), os sold Ussumane Baldé,  Tenen Baldé, Sherifo Baldé, Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12, 4º Gr Comb) e ainda um soldado da CCS / BART 2917 (cujo nome não me ocorre agora). 

No meu caso, foi o meu dia de sorte, ia na GMC, no lugar do morto, que accionou a segunda mina, a explosão deu-se n0 rodado duplo, traseiro, do meu lado...  Já aqui escrevi, "ad nauseam": 

(...) "Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele nome. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 404, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até Bambadinca, até ao nosso aeródromo onde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon. 

"Ainda hoje não sei explicar por que razão fui eu, além do condutor, o único do meu Gr Comb (a duas das secções) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC); a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc." (...) 


2. Da história da CCAÇ 12, reproduzo estes excertos:

(...) "A partir deste mês, novembro de 1969, 1 Gr Comb da CCAÇ 12 passaria a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projecto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852.

"Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle. As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à bolanha que confina com a margem sul do Rio Geba, tornava-se impraticável o controle populacional. 

"Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colabora com o IN." (...)

A CCAÇ 12 participaria directamente neste projecto de recuperação psicológica e promoção social e económica da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelos seguintes elementos (que f
oram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969):
  • alf mil at inf António Manuel Carlão (1947-2018) (originalmente o cmdt do 2º Gr Comb, que passou a ser comandado por um fur mil);
  • fur mil at inf  Joaquim Augusto Matos Fernandes (comdt da 1ª secção 4º Gr Comb):
  • 1º cabo at inf Virgilio S. A. Encarnação (cmd da 3ª secção do 4º Gr Comb);
  • e sold arv at inf Alfa Baldé (Ap LGFog 3,7, do 2º Gr Comb)
e ainda 2 carpinteiros (na vida civil):
  • 1º cabo at inf Sousa (?)
  • e 1º cabo aux enf Carlos Alberto Rentes dos Santos.
A CCAÇ 12, além de ficar desfalcado de seis importantes elementos operacionais (e dois grupos de comnbate desfalcados),  participou ainda indirectamente neste projeto.  criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase estava previsto levar a efeito:
  • a desmatação do terreno;
  • a fabricação de blocos de adobe;
  • a construção de 300 casas de habitação com portas, janelas e cobertura de zinco;
  • a construção de equipamentos sociais  (1 escola, 1 mesquita, fontes, acessos, etc.).
(...) "Durante este período a CCAÇ 12 realizaria várias acções, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

"A partir de Janeiro/70 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projecto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à colaboração prestada às NT.

"A partir de abril de 1970, o reordenamento em curso passaria a ser guarnecido por 1 Gr Comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb, durante vários dias.

"A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas e cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começaria quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Sector L1 (em 8 de junho de 1970).

"A partir de Julho, a CCAÇ 12 deixaria de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12." (...)


3. Uma estimativa grosseira do cust0 deste reordenamento aponta para 2700 contos, em 1972 (300 casas de zinco x 9 mil escudos).

Este valor, em 1972, equivaleria, a preços de hoje, a €703.942. Não se incluem os custos de mão de obra, gratuita (civil e militar) nem outros custos indiretos e ocultos (planeamento, formação, ferramentas, segurança,  etc.)... Falta ainda contabilizar a escola, a mesquita, as fontes e outros equipamentos sociais como o posto sanitário, os caminhos, etc.  (**)

O jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues (que vim a conhecer pessoalmente há uns anos), convidado especial de Spínola, para ver as "obras" do seu consulado, escreveu (**):

(...) "As aldeias de zinco, ordenadas e reluzentes, surgem por todo o lado, com a colaboração dos nativos que ambicionam casa melhor, à prova de incêndio e mais parecida com a casa dos brancos, embora menos defendida do calor do sol.

"Dantes só os régulos conseguiam ter casas de zinco. Mas agora 70 reordenamentos foram executados desde 1969, e muitos outros estão em construção, Nove contos cada, não contando a mão-de-obra gratuita. 

"Só na época seca de 1972, de janeiro a junho, foram construídas pelo exército 1642 casas de zinco e 689 casas de c0lmo, além de 42 escolas e 5 postos sanitários. Há reordenamentos de 200 ou 300 casas. 

"Os primeiros eram aldeias estratégicas onde se juntava a populção dispersa de várias tabancas, perto dos quartéis que asseguravam a defesa, e evitavam as infiltrações do PAIGC.  Neste momento   - garantiram-me em Bissau - os reordenamentos são instalados onde houver terreno arável, e, de preferència, nos locais indicados pela população.

"Segundo a doutrina do general Spínola, o reordenamento é um dos dois 'grandes marcos' da política de desenvolvimemto da Guiné" (...)

(...) "Infelizmente ainda tenho que dar tiros,  - explicou-me o outro dia o general - mas a guerra não se ganha aos tiros". (...) (***)
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Notas d0 editor:

(**) Vd. poste de 10 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23252: 18º aniversário do nosso blogue (14): até meados de 1971, o Serviço de Reordenamentos do BENG 447, com o apoio das unidades militares e as populações locais, construiram 8 mil casas cobertas a colmo e 3880 cobertas a zinco