Vídeo (7' 39'') by João Reis Melo / You Tube
1. Obrigado, João Reis Melo, grande "Tigre do Cumbijã". Aquela terra "verde-rubra" (sem conotações saudosistas...) ficou-te no coração. A ti e a nós... Parabéns pelo vídeo, é uma ternura da tua parte...
Mas deixa-me dizer-te que foi pena não teres identificado, no final do vídeo, na ficha técnica, o autor e os intérpretes do tema que escolheste como música de fundo ... Temos a obrigação de divulgar a música guineense e ajudar os seus músicos.
Quis saber mais sobre o tema musical que escolheste para o teu vídeo. Confesso que a letra e a música "mexeram comigo", apanhei algumas frases em crioulo afrancesado, por parte da voz feminina... e fiquei rendido essa belíssima e poderosa voz (que não é da Guiné-Bisau mas da Costa do Marfim...), a Monique Séka (n. 1965), que tem aqui uma participação especial neste tema pungente que é a "Guiné Nha Tera", do cantor guineense Binhan (n. 1977).
“Guiné nha Terra” (feat. Monique Séka) é uma canção que vem incluída no álbum “Lifante Pupa” (2015) (à letra: Beijo do Elefante) do Binhan.
É um tema de homenagem à Guiné-Bissau, que combina ritmos de kizomba/zouk com elementos tradicionais.
Monique Séka é a considerada a rainha do afro-zouk. Binham é um cantor e compositor de temas intimistas mas também de intervenção social. Tem uma história de infància duríssima: com um ano, doente, foi considerado uma criança-irã e esteve condenado a morrer, por abandono, por decisão paterna. Nasceu no Biombo, mas cresceu em Catió.
O problema do infanticídio ainda é ums realidade (e complexa) na sociedade guineense, tal era na sociedade portuguesa até ao séc. XIX.
(...) Binham, 38 anos, tem uma canção sobre o pai que nunca gravou na sua discografia: aquela em que conta como ele o quis matar quando ainda era bebé.
(...) Binham tinha um ano quando foi abandonado para ser levado pela maré porque, reza a tradição, algumas crianças são espíritos que têm que ser devolvidos à natureza.
A lei da Guiné-Bissau protege este costume e atenua a pena de quem matar bebés, seguindo a crença. Mas nem era preciso, porque as comunidades encobrem os casos logo à partida e nunca ninguém foi investigado ou julgado.
O pai de Binham encomendou a cerimónia porque o filho adoecia com frequência e estava a levar muito tempo para começar a andar, sinais de uma “criança irã“.
A lei da Guiné-Bissau protege este costume e atenua a pena de quem matar bebés, seguindo a crença. Mas nem era preciso, porque as comunidades encobrem os casos logo à partida e nunca ninguém foi investigado ou julgado.
O pai de Binham encomendou a cerimónia porque o filho adoecia com frequência e estava a levar muito tempo para começar a andar, sinais de uma “criança irã“.
Deficiência, convulsões e gémeos são outros motivos para abandonar bebés que são também “bodes expiatórios” de “coisas negativas”, como “a morte da mãe no parto”, explica Filipa Gonçalves, 28 anos, psicóloga e coautora do estudo “Crianças irã: uma violação dos direitos das crianças na Guiné-Bissau“.(...)
Fonte: Olhares sobre a Guiné-Bissau >2 de julho de 2028 > História do músico guineense Binham Quimor
Letra:
Guiné Nha Terra (feat. Monique Seka)
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Binhan (n. 1977), jovem cantor e compositor, grande revelação dos últimos anos |
Binhan:
Su bin na bai Guiné
Su bin na bai nha tera u ta leba nha inkumenda
Si kontra bu bin na bin
Si bu bin na bin bu ta tisin nha rekadu
També
Nha rekadu, uu nha rekadu
Monique Seka:
Guiné-Bissau abo i nha tera, tera di mi
Guiné-Bissau abo i nha tera, tera di nha papes
Ma si Deus kiri Guiné lantau firma
Bu ka na fika sin mas na ba ta tchora
Nha tera di povos kansadu
Ma si Deus kiri Guiné bu na midjora
N' ka misti odjau na kansera
N' ka misti odjau na sufrimentu
N' ka misti odjau na kansera ô Guiné ô
Liberta bu fidjus, bu da amor
Amor, filisidadi, armonia pa bo Guiné
Amor, filisidadi, armonia pa tudu fidjus di Guiné
Ki guintis ku ka misti odjau sabi, ô Guiné
Ê na kansa kabesa só
Ninsi bu misti bu ka pudi bida mas
Bu na sedu, Guineense te na dia ku muri
O Guiné-Bissau, o nha tera, o nha pubis uuu
Guiné-Bissau si Deus kiri bu na sai des kansera
Deus na lumia korson di bu fidjus
Fidjus ki toma reransa pa e rena pa sabura ten
Skola, lus, saudi, iagu pa i ka falta
Tcevi lile, tcevi a li le o
Afrika mamu bwe wolo ami pla o
Abla boku u mamo bin fle o
Afrika mamo bin fle o mabe
Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau
(Alo alo alo Guiné)
Alo alo nha tera
(N' misti odjau Guiné na sabi um dia)
Guiné Guiné-Bissau
(Bu povu na para kansa kurpu ê)
Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau
Alo alo alo Guiné
Alo alo alo Abidjan
Alo alo alo Guiné
Alo alo alo Douala
Alo alo nha tera
Guiné Guiné-Bissau
Tradução do crioulo para português: LG + assistente de IA / ChatGPT
2. Nhacobá, o dia mais longo, Op Balanço Final (17-23 de maio de 1973): assalto e ocupação...Um notável poste do Joaquim Costa, que merece ser relido, meditado, comentado...
(...) Este era de facto um posto de “mala-posta", muito importante neste corredor de Guileje, onde os guerrilheiros descansavam e se alimentavam em trânsito para operações militares na região sul. Todo o arroz aqui apreendido dava para alimentar um exército durante vários dias.
O elevado número de moranças, os abrigos subterrâneos, bem camufladas na vegetação, a quantidade de arroz (as suas rações de combate), bem como a grande quantidade de tabaco e material de propaganda, era a confirmação de estarmos perante uma importante base do PAIGC no interior da Guiné. Esta ação foi em rude golpe na logística do PAIGC no abastecimento de parte da zona sul da região.(...)
Corredor de Guileje, corredor da morte, para as NT; carreiro do povo, estrada da liberdade, para o PAIGT... Cada um chamava-lhe o que lhe dava na real gana... Mas continua por fazer o "balanço final" dos combatentes que, de um lado e do outro, lá tombaram...
Nhacobá, marco luminoso da "estrada da liberdade da Pátria", ponto fulcral do "carreiro do povo", base logística do PAIGC...hoje não existe mais. É apenas um ponto do mapa do Google, perdido na mancha verde do coberto florestal, nas proximidades do Cantanhez...
Que diria o homem grande, Amílcar Cabral, agora curvado sob os seus 100 anos, se ainda fosse vivo ?!
(...) Este era de facto um posto de “mala-posta", muito importante neste corredor de Guileje, onde os guerrilheiros descansavam e se alimentavam em trânsito para operações militares na região sul. Todo o arroz aqui apreendido dava para alimentar um exército durante vários dias.
O elevado número de moranças, os abrigos subterrâneos, bem camufladas na vegetação, a quantidade de arroz (as suas rações de combate), bem como a grande quantidade de tabaco e material de propaganda, era a confirmação de estarmos perante uma importante base do PAIGC no interior da Guiné. Esta ação foi em rude golpe na logística do PAIGC no abastecimento de parte da zona sul da região.(...)
Corredor de Guileje, corredor da morte, para as NT; carreiro do povo, estrada da liberdade, para o PAIGT... Cada um chamava-lhe o que lhe dava na real gana... Mas continua por fazer o "balanço final" dos combatentes que, de um lado e do outro, lá tombaram...
Para quê, afinal ?!, perguntas tu, pergunto eu, perguntamos nós, Joaquim, Luís, João...
Nhacobá, marco luminoso da "estrada da liberdade da Pátria", ponto fulcral do "carreiro do povo", base logística do PAIGC...hoje não existe mais. É apenas um ponto do mapa do Google, perdido na mancha verde do coberto florestal, nas proximidades do Cantanhez...
Nhacobá foi arrasada pelos "bulldozers" da engenharia militar... A população, resignadda, aceitou, ser "reordenada" em Cumbijá, em 1973/74... E lá está até hoje com a "autoestrada" do sul a atravessar a tabanca, que até já tem uma equipa de futebol, os "Tigres do Cumbijã", e um patrocinador, "tuga", o João dos Reis Melo...
Que diria o homem grande, Amílcar Cabral, agora curvado sob os seus 100 anos, se ainda fosse vivo ?!
Afinal, o povo quer é pão e circo...Ontem como hoje e amanhã... Os sucessores de Amílcar Cabral não perceberam isso, que ideologia(s) não enche(m) barriga(s).
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Nota do editor LG:

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