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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26686: Notas de leitura (1789): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Há algo de emocionante nos depoimentos de um punhado de convocados para falar de Rui Alexandrino Ferreira, da vida no Quebo, daquelas emboscadas duríssimas no chamado corredor de Guileje e suas variantes, nos patrulhamentos ininterruptos junto da fronteira; trata-se de gente de dois batalhões, de companhias de intervenção que conviveram com a CCAÇ 18, que jamais esqueceram que para além dos riscos de toda aquela operacionalidade chamada contrapenetração havia a vida na tabanca militar, alugaram-se junto da população civil habitações onde houve introduzir algum conforto, desviou-se cimento, tirou-se uma baixada de eletricidade, ninguém esqueceu o quarto do então capitão Rui Alexandrino que tinha um ambiente de casa de diversão noturna, não faltavam fotografias da Playboy, três ventoinhas, um gira-discos, uma pequena geleira, encontrou-se algum mobiliário de quarto, fez-se uma zona de balneário, instalou-se uma sanita, todos recordam aquele quarto como ponto turístico da Aldeia Formosa, uma vulgar e mísera palhota tornou-se um lugar de refúgio para muitos, ninguém esqueceu este ousado capitão que, como escreveu Pezarat Correia, aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom-senso.

Um abraço do
Mário



Memórias do Quebo, da CCAÇ 18, o testemunho de amigos (2)

Mário Beja Santos

"Quebo, Nos confins da Guiné", Palimage (palimage@palimage.pt), 2014, é o segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) que fez duas comissões na Guiné. 

A primeira deu origem a uma obra de consulta obrigatória para quem estuda a literatura da guerra colonial, "Rumo a Fulacunda", Palimage, 2000; a segunda é "Quebo" que nos leva à sua segunda comissão, é já capitão e comanda uma companhia de tropa guineense, a CCAÇ 18. Começa por justificar as razões que o levaram, já na disponibilidade, em dezembro de 1967, e tendo regressado a Sá da Bandeira, onde pensa que iria encontrar readaptação, veio a descobrir que não era numa repartição de fazenda pública que sonhava viver, e decidiu então regressar à vida militar. 

Na primeira comissão recebera a condecoração da Cruz de Guerra de 1.ª Classe, descobrira o sentido da liderança e a vocação para comandar homens.

Arribou à Guiné, andou no Pelundo, recebeu ordem de ir formar uma companhia de caçadores africanos, a 18. E partiu para Aldeia Formosa, conviveu com dois batalhões, resolveu passar ao papel as recordações da segunda comissão, o relato tem singularidade de convocar amigos e camaradas desta segunda comissão, é o caso do capitão Horácio Malheiro, comandante da CCAÇ 3399, estacionada no Quebo entre agosto de 1971 e agosto de 1973, por curiosidade já tinham ambos feito comissão em 1967 e casualmente percorreram as mesmas estradas e trilhos. Lembra que os oficiais não tinham residência dentro do aquartelamento, alugavam na tabanca casas dos indígenas, punham algum conforto como telhados de chapa de zinco, portas e janelas, a luz vinha do gerador do quartel, fizeram-se latrinas e balneário. 

Não esqueceu os acontecimentos da noite de 24 de dezembro de 1971, houve tiroteio entre tropa metropolitana e guineense, tudo nasceu de um desacato, os guineenses puxaram pelas armas, houve um morto e feridos, Spínola apareceu prontamente, arengou, quis conhecer os autores do desacato, houve expressões azedas entre Spínola e Rui Alexandrino, Spínola deu umas bofetadas e mandou conduzir sob prisão para o avião um conjunto de militares, aplicando uma pesada pena ao comandante do batalhão, foi automaticamente removido do cargo.

Recorda as atividades da CCAÇ 18 e os seus sucessos nas emboscadas; dá especial ênfase à Operação Muralha Quimérica, previa-se a entrada na Guiné de elementos da ONU que vinham verificar a existência de zonas libertadas, a CCAÇ 3399 e a CCAÇ 18, bem como os paraquedistas, os comandos africanos e o grupo especial do Marcelino da Mata percorreram a região do Cantanhez, foi uma operação que durou 12 dias, não houve encontro com as forças do PAIGC e os visitantes. 

Refere Horácio Malheiro que comandou a companhia operacional que esteve mais tempo em intervenção em toda a guerra da Guiné, com missões no corredor de Guileje, em múltiplos patrulhamentos na fronteira, oito meses de proteção à abertura de uma estrada alcatroada dirigida a uma das principais bases do PAIGC no Sul, Unal-Salancaur e colunas de reabastecimento entre Aldeia Formosa e Buba. A guerra tinha evoluído, abrira-se uma nova frente de atividades com a construção de uma nova estrada, Mampatá-Colibuia-Cumbijã-Nhacobá, e de três novos quartéis em Colibuia, Cumbijã e Nhacobá, foi um período de atividade muito intensa e desgastante. Diz-se que o quartel de Nhacobá foi ocupado em 21 de maio de 1973 e abandonado a 25 de maio, por não oferecer condições de segurança mínimas e ter ataques contínuos com duração de horas.

O autor recorda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer na já referida noite de 24 de dezembro de 1971 e dá a palavra a um conjunto de intervenções de amigos e camaradas, como Alexandre Valente, Aristóteles Tomé Pires Nunes, Carlos Naia, Carlos Santos, Eduardo Roseiro, Hélder Vaz Pereira, João Manuel Marcelino e Joaquim dos Reis Martins, há neste acervo observações muito curiosas, dão para perceber como ia evoluindo a guerra, Aldeia Formosa passou a ser flagelada, conta-se a história do sargento Hélder Vaz Pereira que foi graduado em alferes dada as suas qualidades de combatente e chefe, traz-nos um belo depoimento, dizendo a dada altura: 

“Com a partida do capitão Rui, em setembro de 1972, a tabanca da 18 perdeu todo o encanto que tinha e foi desativada.” 

E despede-se com agradecimentos: 

“Aos que comigo se alegraram nos bons momentos e aos que me ajudaram a suportar e superar as dores dos maus momentos, as angústias, os temores, as incertezas, os medos, os pesadelos e as desilusões que muito me ensinaram, a todos manifesto o meu mais profundo reconhecimento, do capitão Rui Ferreira ao último dos soldados, a todos, fico devedor para toda a vida.”

Rui Alexandrino despede-se rememorando histórias rocambolescas da guerra que escaparam ao seu primeiro livro "Rumo a Fulacunda", recorda a sua participação na Operação Muralha Quimérica, guarda muitas perguntas sem resposta, tais como: 

  • Estaria a Guiné em condições de se tornar independente? 
  • Quem mandou matar Amílcar Cabral? 
  • Foi apurada a responsabilidade de alguém sobre a tragédia do Corubal onde morreram 47 militares portugueses? 
  • Por que não se realizou, relativamente ao abandono de Guileje, o julgamento de Coutinho e Lima? 
  • Por que não prosseguiu o julgamento todo o caminho que lhe faltava?

 Pedro Pezarat Correia tece um grande elogio ao autor no seu depoimento:

“Há uma característica da liderança que considero o tempero decisivo capaz de se conferir virtude a determinados atributos de comando que, sem ela, podem tornar-se excessivos e transformar-se em defeitos perversos. Refiro-me ao bom-senso, o equilíbrio moderador que impede que a coragem resvale para temeridade gratuita empurrando os seus homens para riscos desnecessários, que evita o culto da disciplina pelo lugar ao autoritarismo desumano, que a tolerância resvale para o laxismo, que o gosto pela decisão rápida caia na precipitação, que o excesso de ponderação conduza à hesitação. O bom-senso confere sangue-frio a situações de pressão emocional, presença de espírito quando à volta se instala a ansiedade. É uma virtude que, normalmente, se adquire com a idade, com a experiência, com a dimensão da responsabilidade. Apesar da sua juventude, o capitão Rui Alexandrino Ferreira aliava ao seu entusiasmo contagiante uma notável dose de bom-senso, o que lhe permitiu aplicar a usa coragem, o seu sentido de disciplina, o seu gosto pela decisão, na medida e no sentido convenientes.”

Que fique a boa memória do Tenente Coronel Rui Alexandrino Ferreira.

Aldeia Formosa, 1973, fotografia de José Mota Veiga já publicada no nosso blogue
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Nota do editor

Último post da série de 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26678: Notas de leitura (1788): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 5 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26554: Ainda o desastre do Cheche (Virgínio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e Sáo Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Rio Corubal > CART 1742 > c. set 1967 / c. abr 1968 > A jangada com estrado assente em três canoas... O Abel Santos diz que a a foto é de janeiro de 1968, ou seja, um ano antes da Op Mabeco Bravios.


Foto (e legenda): © Abel Santos (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Texto enviado pelo Virgílio Teixeira (ex-mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e Sáo Domingos, 19567/69), comj data de 10 de fevereiro passado, 16:27: "Caro Luis, estive a desfolhar o meu imenso arquivo a que chamo "CTIG 67/69". E enciontro tantas coisas...  Vi este tema do Cheche, que já saiu, embora diferente há uns anos. Se vires interesse em repescar mais alguma coisa, podes dispor. Fiz uns pequenos aumentos, que na época deixei passar. Um abraço. VT."


CHECHE - AINDA ALGUNS CONTRIBUTOS PARA A TEORIA DO ACIDENTE

por Virgílio Teixeira



O DESASTRE DO CHE-CHE - PARTE I

Alguns contributos para a tentativa de, senão esclarecer, pelo menos contextualizar, no tempo e no espaço, aquele terrível acidente, que por muito tempo que ainda andemos por cá, nunca será esclarecido, é um daqueles mistérios, que ninguém quer ver revelados, é a minha opinião, sem qualquer intenção de julgar, até porque nada sei mais do que os outros.

O Abel Santos, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, e
steve em Nova Lamego e Buruntuma (julho 1967/ junho 1969). É mais antigo que eu, gostava de lhe poder perguntar se esteve lá no mesmo período que eu, em Nova Lamego (NL): 21-09-67 até 26-02-68. 


A CART 1742 fazia parte de um grupo de 17 subunidades que estiveram naquele período sob o comando do meu BCAÇ 1933. Mas e
u não conhecia bem as instalações da chamada Companhia de Baixo, em Nova Lamego.

A CART 1742, ao contrário em São Domingos, com a CART 1744, que conhecia e bem e confraternizávamos, pois, aquilo era mais pequeno. Sei que, no setor de Nova Lamego, ficou na dependência do BCav 1915, depois do meu  BCaç 1933 e ainda do BCaç 2835. 

Tomou parte em operações realizadas nas regiões de Ganguiró, Canjadude, Cabuca e Sinchã Jobel, entre outras e ainda em operações conduzidas em outros sectores da zona Leste, bem como em escoltas a Béli e Ché-Ché. Em meados de abril de 1968, foi transferida, para Buruntuma, a fim de render a CCaç 1588... Portanto, já estava no setor L5 quando se realizou a Op Mabecos Bravios e se deu o desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969. (Regressaria à metrópole em junho de 1969.)
 
Estive a ler a História da Unidade (BCAÇ 1933), todos os acontecimentos no período de Nova Lamego, e não encontro referência a muita coisa, não sei qual o critério que seguia  essa brochura.

Contudo vejo que a CART 1742 estava sediada em NL, apenas o 3º pelotão estava em Camabajá. O Abel não sei de que pelotão era.

Ele diz que a foto nº 1  é de janeiro de 1968 (*), estava eu lá, em Nova Lamego, e notava-se sempre grande burburinho com as famosas colunas para Madina e Béli, tudo se agitava à volta deste tipo de acontecimentos, eu tenho reportagens feitas de madrugada a quando da saída das colunas.

Na história da Unidade (HU) não consta por exemplo a emboscada que provocou a morte do alferes Gamboa e outros, perto de Piche, da CCAV 1662, e que foi no 4º trimestre de 67.

Como também não refere aqui um caso que muito chocou a malta em NL, a emboscada de uma coluna vinda de NL, após rebentamento de minas perto do Cheche, e na sequência da qual foi morto com uma bazuca o major Ruas, entre outros. Este acontecimento causou grande consternação, em especial à mulher e família que estavam em Bissau. Os pormenores foram-me contados por um dos meus amigos, um soldado condutor, que estava lá presente, e que eu encontro com frequência em Vila do Conde, é um empresário da Têxtil em Guimarães, que me tem muito em consideração, e que eu retribuo.

Este oficial, major Ruas, que eu conheci na messe, pertencia ao Batalhão de Engenharia, e vinha com frequência a NL, pois era o responsável pela operacionalidade da jangada da morte.

Nunca me ocorreu, mas agora pergunto: essa foto nº 1 seria já de uma nova jangada com as 3 pirogas mandada construir pelo major Ruas? Não sei mais nada.

Mas a HU que não sei quem a supervisionava, era escrita pelo tenente Albertino Godinho, mas seguia as instruções do Comando, penso eu, mas nada sei.

Falhou muita coisa que eu vi e seria objecto de uma nota, nem que fosse pequena. Constava por exemplo coisas de nenhum interesse, passo a citar:
 
  • No dia X o comandante do batalhão deslocou-se a Piche;
  • No dia Y o comandante do batalhão deslocou-se em coluna a Pirada, acompanhado pela esposa do nosso Médico, vestida a rigor de camuflado...

Esqueceram-se de mencionar, por exemplo, um facto inédito:

  • No dia Z um alferes miliciano do CA, deslocou-se a Susana, comandando um grupo de 5 homens, num barco da Engenharia denominado de Sintex, para ir levantar alguns mantimentos que não existiam em S. Domingos, sede do Batalhão. Depois de 3 ou 4 dias, regressou no mesmo barco, carregado de vários mantimentos, entre eles um saco de batatas da Manutenção militar.
  • Só que o piloto do mesmo barco, com grande experiência dos imensos rios e riachos, acabou por se perder sem se saber onde fomos parar, a uma pequena povoação de Felupes.
  • Não tendo Rádio para transmissões, o piloto fez várias tentativas por rios que nunca acabavam, até que acabou mesmo foi a gasolina dos dois motores. Sem rações de combate, sem bebidas por ali esperamos que fosse avistado um meio aéreo, que naturalmente teria sido pedido uma vez que a data de saída de Susana foi transmitida ao comando do BCAÇ 1933, mas a chegada nunca aconteceu no tempo certo.
  • Após dois dias de calor, fome e sede, lá vimos uma avioneta a rondar o nosso frágil meio de transporte e depois deu-se a evacuação, já nem me lembro como foi.
  • Sendo eu o "comandante" daquela força expedicionária, não sabia o que fazer, muito menos os outros, e passei o tempo, ou parte dele, a dormir na banheira em cima do saco de batatas.
  • Por ignorância e coisas da idade, nunca me preocupei, pois pensei sempre que nos vinham buscar, antes se possível, de sermos levados como reféns para Conacri!

A razão desta falta (referência na HU), penso eu, ainda hoje, deve-se à ocultação do facto por ter sido um oficial dos SAM a comandar aquela força militar por sítios que nunca conheci, e não tinha formação militar para isso, foi um abuso de poder do major de operações, na falta do nosso original comandante, evacuado por ferimentos em combate.

Há um cabo das transmissões que mantinha informações permanentes com a BA12 e sabia do que se passava e foi com a sua insistência que acabaram por nos encontrar, isso deu muito que falar, mas poucos sabem do que realmente se passou.

E assim os Felupes não tiveram o gosto de comer carne humana, num churrasco num sítio que só podia ter sido no cu de judas (estiy a reinar, sei que eles só praticavam o necrogafia, cortando para isso a cabeça dos inimigos). E gostava de saber em que povoação fomos parar. 

Então a HU não conta tudo, só o que for relevante para as operações militares e não só.

Isto bem contado com os pormenores que não sei, até dava uma série televisiva (...).

No dia 17 de janeiro de 1968, dá-se a operação Lince, nome dado à operação de retirada da CCaç 1589 de Madina, e substituída pela CCAÇ 1790 do meu Batalhão e do capitão José Aparício.

Esta operação de 5 dias mobilizou enormes meios humanos e materiais, e lembro-me de ter assistido à chegada dos homens daquela companhia a NL completamente pirados, com o devido respeito, tinham passado um ano naquela fogueira, isolados do mundo.

O Abel, caso tenha participado nesta operação deve saber muito mais, e pelo menos sabe mais do que eu mesmo que não tivesse estado nessa operação.

Fica aqui o meu pequeno contributo, para a história deste caso, macabro.


O DESASTRE DO CHE-CHE  > PARTE II - PASSAGEM DE TESTEMUNHO

Acerca das dúvidas aqui levantadas, o porquê de irem primeiro alguns membros das companhias e batalhões, posso esclarecer com o meu caso.

O BCAÇ 1933 tinha feito o IAO em Santa Margarida, onde estive, quando vem uma Nota para seguirem à frente alguns oficiais e sargentos, com o objectivo de passar o testemunho, era assim que se dizia. Ou seja, tomar conta do espólio deixado pelas unidades que iam ser substituídas por outras e tomar conta dos acontecimentos mais relevantes:

Assim, consta na HU que o meu BCAÇ1933, tinha a CCS, as CCAÇ 1790, 1791 e 1792. Embarcaram para a Província da Guiné gvia Aérea, num velho DC6, do tempo da 2ª guerra mundial e com carga diversa, os seguintes oficiais e sargentos:

OFICIAIS DO COMANDO E CCS:

Tenente Coronel de Infantaria, Armando Vasco de Campos Saraiva, Comandante;
Major de Infantaria, Graciano Antunes Henriques, Oficial de operações;
Alferes Mil do SAM, Virgílio Oscar Machado Teixeira, Conselho Administrativo

COMPANHIA DE CAÇADORES 1790:

Alferes Mil de Infantaria, Evélio F. S. Amorim, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, Carlos de Oliveira, Comandante de Secção

COMPANHIA DE CAÇADORES 1791:

Alferes Mil de Infantaria, Antero T. Igreja, Comandante de Pelotão
2º Sargento de Infantaria, José Carlos A. Canas, Comandante de Secção

O restante pessoal do batalhão, o grosso dele, seguiu em 27 de setembro de 1967, no navio T/T Timor, chegando a Bissau em 03out67.

A CCAÇ 1792, não veio neste transporte, seguiu no Uíje um mês depois, juntamente com o BCAÇ 1932, e nunca mais esta Companhia esteve junto ao seu Batalhão orgânico.

A razão de ser desta força militar ir à frente, tem a ver com a tal passagem de testemunho, e pelo que toca aos Alferes das 2 companhias, eles são talvez dos mais antigos.

O NIM (Nº de Identificação Mecanográgico) acaba em 66 para o Eurélio, é, portanto, da inspecção de 65, nascido em 45, incorporado em 1965. Os outros são terminados também em 66 ou 65. O NIM do Igreja acaba em 65, inspecção de 64, nascido em 44, e possivelmente incorporado em 1964. Os outros são terminados em 65.

Para o meu caso, que nada tem a ver com estes, o NIM acaba em 64, inspecção de 63, nascido em 29-01-1943, e devido a adiamentos incorporado em Mafra, EPI, em 03-01-1967.

Quanto aos Sargentos, também me parece que é pela antiguidade, uma vez que os Furriéis são todos mais novos, e os 1º Sargentos eram da Secretaria, e não faziam parte destas contas.

Curiosamente, eu fui substituir o meu homólogo do BCAV 1915, do qual herdei imensos problemas, que tiveram de ser resolvidos por mim, e que ele nunca me agradeceu.

Por outro lado, o meu homólogo do BCAÇ 1932, seguiu junto das restantes tropas e não sei se os comandos foram também à frente de avião. Sei que regressou comigo, por isso fez menos um mês de comissão do que eu.

Salvo alguns lapsos, acho que dei conta da nossa situação, que era generalizada para todas as Unidades.


O DESASTRE DO CHE-CHE >  PARTE III

Cumprimento o Abel Santos, pelo desempenho e pormenor dos seus comentários, e fica claro que não quero falar em nome de ninguém e casos que não conheço no terreno.(**)

Infelizmente, nunca tive a oportunidade de viver no terreno, as experiências terríveis de combates, minas, emboscadas, apenas levei com bombardeamentos no quartel, e chegou.

Começo por dizer que não estamos aqui a julgar ninguém, nem nada, eu apenas me limitei e fazer eco daquilo que se dizia, mas nunca vi nada, porque não tinha de estar lá nem ver.

Muito menos quero fazer da minha intervenção casuística, um caso de justiça ou investigação.

O Abel não confirmou, mas pelas datas da sua estadia em Nova Lamego, estivemos lá na mesma época, sem dúvida. Como a vila era relativamente grandinha, não dava para se ver ou encontrar tanta gente que lá fazia o seu serviço militar.

Vou fazer um reparo, que pode confirmar-se ser engano, ou troca de números, pois, segundo diz, a sua CART 1742, foi substituir em 14set67 a CCAV 1963 (ou 1693?). Erro gráfico.

(i) Caso alferes Gamboa: Como disse estive com ele, conforme foto já divulgada nos postes, pouco antes da sua morte. Fiz várias vezes, colunas, entre NL-Piche - NL, e nunca aconteceu nada de especial, graças a Deus. Tive conhecimento da trágica morte deste amigo, uns dias depois, e cada um conta à sua maneira, como aliás tantas vezes aqui se contradizem uns aos outros.

E já agora, acho que não vi isso aqui escrito, mas falou-se que os terroristas, lhe arrancaram o coração, e no seu lugar colocaram os galões de tenente que ele trazia consigo, pois estava à espera da sua promoção para breve, o que nunca chegou a acontecer, infelizmente.

(ii) Caso major Pedras: conheci-o na messe de oficiais, embora diga-se que não sabia na altura qual era a sua função, o que se confirma agora, pois já falei com as minhas fontes. Este soldado condutor, que fazia parte de um grupo restrito dos petiscos, fez várias colunas para o Cheche, Medina e Beli, conduzindo a sua GMC. 

Ele contou, exactamente o que o Abel diz, o major Pedras,  do Serviço de Material, ia na viatura da frente juntamente com o furriel Jorge, da Engenharia, que nunca conheci, julgo eu. Este ex-militar contou-me há cerca de meia dúzia de anos aquilo que ele presenciou, nos termos em que contei e não vou repetir. 

Mas se o Abel estava lá, deve ter a sua versão, que, com bazuca ou com minas e armadilhas e emboscadas, o certo é que ele foi gravemente ferido e evacuado, acabando por falecer no HMP 241. E que tendo o tal soldado condutor ajudado a transportar o corpo para o Heli. Como não conheço estes factos, fico por aqui, e tanto faz para o efeito.

(iii) A jangada: Já foram aqui apresentadas várias versões do acidente mortal da fraca jangada, que nada tem a ver com essa da foto 1. Como eu não estava lá, nunca a vi, ficam as imagens que vão aparecendo nos Postes.

Com isto termino a minha intervenção.

Obrigado pela chamada aos postes desta tragédia que nunca deveria ter acontecido. E aproveito para desejra as melhoras do Abel Santos, que afinal é meu vizinho aqui do Norte.

Virgílio Teixeira
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31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)

(**) Vd. postes de:


2 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22059: (In)citações (183): A propósito da(s) jangada(s) do Cheche... e lembrando aqui mais mártires do Boé: o major Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, e o fur mil Jorge, do BENG 447 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26473: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (34): O amola-tesouras (Rui Felício, nado e criado no Bairro Norton de Matos, em Coimbra)



1. O Rui Felício, que foi uma das vítimas do desastre do Cheche (ia na  trágica jangada, tendo perdido 11 homens do seu pelotão em 6/2/1969) (*),  é um dos históricos do nosso blogue. 

Entrou para a Tabanca Grande em 12/2/2006 (a par do Paulo Raposo). Ex-afl mil, CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70), tem 35 referências. Advogado, é  autor do blog Escrito e Lido 2010-2014, colabora no blog Encontro de Geraçóes do Bairro Norton de Matos . É um talentoso contador de histórias: tem pelo menos umas 10 na série "Estórias de Dulombi", que gostaríamos de poder retomar.

Natural de Coimbra, vive na Ericeira.


Rui Felício > Blog Escrito e Lido > quinta-feira, 28 de março de 2013 > Amola-tesouras


A minha memória , entre várias figuras que percorriam as ruas do Bairro, guarda ainda a imagem do amola-tesouras.

Com a boca deslizando numa gaita de beiços, primeiro num sentido e depois no contrário, percorria totalmente a escala musical, dela extraindo uma melodia estridente e inconfundível.

Era desta forma que anunciava a sua própria presença, chamando as donas de casa que tivessem facas e tesouras para afiar, panelas e tachos rotos para remendar, ou mesmo pratos rachados para lhes serem colocados “gatos”.

Dizia-se que a sua vinda previa chuva iminente. A profecia muitas vezes batia certo, apenas porque era no inverno que o amola-tesouras aparecia com maior frequência. Por causa dos consertos nos guarda-chuvas, que também fazia...

O seu principal instrumento de trabalho era constituído por uma roda feita de pedra de esmeril, que fazia rodar a grande velocidade, impulsionando um pedal acoplado à roda de bicicleta que àquela estava ligada por uma correia de transmissão em cabedal.

Fascinava-me observar o trabalho de afiar as facas e as tesouras. Da pedra de esmeril em contacto com o metal, soltava-se uma miríade de faíscas que me lembravam os fogos de artifício que eu tinha visto nas festas da Rainha Santa.

E, a tantos anos de distância, dou por mim a reflectir como os tempos mudaram de maneira tão acentuada.

Hoje em dia, os hábitos de consumo que nos foram sendo incutidos, tornam quase impensável mandar consertar utensílios e ferramentas do nosso quotidiano.

Se um guarda-chuva se estraga, deitamos fora e compramos outro na loja dos chineses. Se as lâminas da faca ou da tesoura embotaram, se o prato rachou, se o tacho furou, fazemos a mesma coisa.

Displicentes, apressados, nós próprios também quase descartáveis... (**)


Rui Felício


(Reproduzido com a devia vénia...)
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 7 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5778: Efemérides (45): O desastre do Cheche, visto por quem esteve lá e perdeu 11 homens do seu grupo de combate (Rui Felício, Alf Mil, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26220: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (32): da "pubela"... ao vidrão, sem esquecer a "cesta-secção" e a "poubellication" (Luís Graça)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26467: Efemérides (450): 6 de fevereiro de 1969, o desastre do Cheche: quando os relatos de futebol eram dados em direto, e efusivamente, e a guerra em diferido, resumida a telegráficas notas oficiosas








Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1




Citação:
(1969), "Diário de Lisboa", nº 16573, Ano 48, Sábado, 8 de Fevereiro de 1969, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_7148 (2019-2-6)


Fonte: Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06597.135.23237 | Título: Diário de Lisboa | Número: 16573 | Ano: 48 | Data: Sábado, 8 de Fevereiro de 1969 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Edição: 2ª edição | Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine". | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa.

(Com a devida vénia...)


1. A notícia chegou tarde às redações dos jornais. O "Diário de Lisboa", que era vespertino,  e do "reviralho" (não-situacionista,  conotado com a "oposiçáo democrática"), deu-a em título de caixa alta só na 2ª edição, dia 8 de fevereiro de 1969,  que era um sábado. Fez ainda uma 3ª edição.

De qualquer modo, o jornal limitava-se a transcrecever a notícia dada pela agência oficiosa L [Lusitânia], com proveniência de Bissau e com data de 8 de fevereiro... As autoridades da província (leia-se: o general Spínola) levaram dois dias a recolher e a tratar a informação...

Omite-se, por certo intencionalmente, e alegadamente por razões de segurança militar, os seguintes elementos factuais:

(i) o "acidente" ocorreu na manhã de 5ª feira, dia 6 de fevereiro de 1969, faz hoje 56 anos (*);

(ii) no  final da Op Mabecos Bravios, ou na seja, na sequência da retirada do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento de Cheche..

2. Os portugueses  de hoje não sabem, por um lado felizmente,  o que era isso, mas  os jornais (o "Diário de Lisboa" e os outros) eram "visados pela censura": havia uns senhores todo poderosos, em geral militares, coronéis do exército ou equivalentes,  que tinham um "lápis azul", e que passavam a pente fino, previamente (ou seja, antes da publicação), todas as notícias que saiam na imprensa escrita

A grande maioria dos portugueses na época, e nomeadamente os da nossa geração, nascera já no Estado Novo, o regime de Salazar (e depois Caetano),  pelo que não sabia o que era a  liberdade de imprensa, escrita e falada... 

A guerra ao longo de 13 anos foi dada na imprensa escrita  só através de "comunicados das Forças Armadas" (em geral, com a telegráfica e fria notícia dos mortos) " ou "notas oficiosas" do Governo. Raros eram os jornalistas que iam ver "in loco" e falar com os combatentes.

O título de caixa alta,  "Desastre na Guiné", da responsabilidade do editor do jornal, era suscetível de causar alarme e consternação, nomeadamente entre as famílias dos militares que estavam então no CTIG: 47 mortos (militares, em rigor 46 militares e 1 civil guineense) era o balanço do "trágico acidente".

Acrescenta  a "nota oficiosa": "O Governo da Província lamenta profundamente este trágico acidente que causou a perda de tão elevado número de vítimas de generosos militares que aqui se batem no cumprimento do seu sagrado dever para com a Pátria"...

Acrescente-se, todavia, que estávamos em plena "Primavera Marcelista", o Mário Soares tinha acabado de regressar há 3 meses da sua deportação na Ilha de São Tomé, e havia a ilusão, no seio  de alguma opinião pública mais esclarecida, que desta vez o regime se iria "autorreformar"... Sabemos bem que as mudanças foram apenas de cosméstica: a censura passou a chamar-se "exame prévio", a PIDE "deu lugar" à DGS, a União Nacional foi rebatizada Ação Nacional Popular", e a Cilinha, do Movimento Nacional Popular, deixou de ter acesso privilegiado ao palácio  de São Bento...

Nessa altura, eu estava em Castelo Branco, no BC 6, a dar instrução militar, como 1º cabo miliciano, e em véspera de ser mobilizado para a Guiné (que era o "terror" para qualquer mancebo naquele tempo). 

A  notícia deste "desastre" mexeu comigo... A notícia da minha mobilização chega a 27 desse mês...Na noite seguinte, às 3h41 ocorre o violento sismo de magnitude 8 na escala de Richter (o maior depois de 1755), com epicentro no mar, a sudoeste do cabo de S. Vicente, na planície da Ferradura, se fez sentir em Portugal, Espanha e Marrocos. Eu nessa noite dormia o "sono dos justos", depois de ter dado de beber à dor da notícia da minha mobilização... Não dei conta de nada, da barafunda provocada pelo tremor de terra na caserna: caíram objetos, desprendeu-se mobiliário, terá havido gritos e alvoroço, mas ninguém ficou  ferido...

Voltando à notícia da agência oficiosa Lusitânia:  houve logo a preocupação, pelo menos, por parte do "governo da província da Guiné", de dar o número exato de mortos e desaparecidos (não se faz a distinção, fala-se em "vítimas") e listar os seus nomes.

O balanço era, de facto, trágico: na lista das 47 vítimas, por afogamento (parte das quais nunca chegarão a ser encontradas), constavam: 

(i) 2 furriéis milicianos; 

(ii) 7 primeiros cabos; 

e (iii) 38 soldados (na realidade, um dos nomes era de um civil). 

Mas os termos da notícia eram lacónicos, secos, quase telegráficos, como  de resto era habitual nos comunicados oficiais ou oficiosos em assuntos "melindrosos" como este (que podiam afetar o moral das tropas, ou até pôr em perigo a ordem pública e sobretudo a tranquilidade  e a paz de espírito dos portugueses, daquém e dalém-mar):

(...) "Na passagem do rio Corubal, na estrada para Nova Lamego, afundou-se a jangada que transportava uma força militar, havendo a lamentar, em consequência deste acidente, a morte, por afogamento, de 47 militares". (...)


E a notícia ficou por ali: não se voltou a falar do "trágico acidente", nas edições seguintes, nem muito menos o jornal se podia dar ao luxo de, por sua conta e risco, mandar à Guiné uma equipa de reportagem para aprofundar o assunto... Voltou-se à rotina da atualidade nacional e internacional, e os nossos valorosos camaradas que estavam na Guiné lá continuaram a "aguentar o barco" por mais cinco dolorosos  anos...

Para não dar azo, entretanto,  a perigosas  especulações, o ministro do Exército nomeou (e mandou de imediato para o CTIG) o cor cav Fernando Cavaleiro, um militar prestigiado,  o "herói da ilha do Como" (1964), infelizmente já falecido,  a fim de instruir localmente o processo de averiguações. 

Não sabemos quanto tempo levou a instrução do processo, mas temos um resumo das conclusões preliminares do cor cav Fernando Cavaleiro, publicado no jornal "Província de Angola", em data desconhecida, conforme recorte que nos foi enviado pelo nosso camarada José Teixeira, e que já aqui publicámos em poste de 25 de julho de 2015 (**).

Cinquenta anos depois, ainda não tivemos acesso ao relatório original (nem sabemos se existe cópia no Arquivo Histórico-Militar), mas tudo indica que há nele erros factuais graves, permitindo tirar conclusões enviesadas que acabam por escmotear, ignorar ou branquear a responsabilidade do 2º comandante da operação, que  terá ultrapassado o oficial de segurança, o alf mil Diniz.

Hoje sabemos que, na última e trágica viagem, em vez de 2 pelotões, a jangada levou o dobro, contrariamente às regras estabelecidas pelo alf mil Diniz... Mas este era o "elo mais fraco" da cadeia hierárquica e acabou por ser ele o "bode expiatório" de toda esta história que ainda continua mal contada... Julgado em Tribunal Militar, seria ilibado.

3. Hoje evocamos os 56 anos deste trágico evento, por iniciativa do nosso camarada Virgílio Teixeira (*)... E muita água ainda há-de ainda passar sob as pontes do rio Corubal até que se saiba a verdade ou toda a verdade (se é que algum dia se chegará a saber...), sobre esta tragédia que ensombrou o primeiro ano do consulado do Spínola e provocou grande comoção entre os combatentes no CTIG.

Ainda continua  por realizar o prometido encontro, há anos,  do nosso editor Luís Graça com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (da CART 2338), responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé.

Uma peça fundamental para eventual encontro será ou seria o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz. Já falámos ao telefone. 

 Dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer o encontro a três. Nem sei se nos chegaremos ainda a  encontrar,  com a idade e as mazelas que já todos temos. Mas seria bom que o nosso camarada ex-alf José Luís Dumas Diniz escrevesse (ou ditasse para o gravador) a sua versão dos acontecimentos na sua qualidade de oficial de segurança da Op Mabecos Bravios. Se calhar já o fez, em tribunal, depoimento a que não temos acesso.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26466: Efemérides (449): Aos 47 mortos da Op Mabecos Bravios (Cheche, 6 de fevereiro de 1969): a minha homenagem (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Guiné 61/74 - P26466: Efemérides (449): Aos 47 mortos da Op Mabecos Bravios (Cheche, 6 de fevereiro de 1969): a minha homenagem (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Virgílio Teixeira
1. Homenagem do Virgílio Teixeira, aos militares mortos na travessia em jangada do Rio Corubal, no aquartelanmento de Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios, comandada pelo cor inf Hélio Felgas, cmdt do Cmd Agrup 2957, Bafatá).

 Porque faz hoje 56 anos dessa trágica ocorrência (*), não posso esquecer os valorosos militares da CCAÇ 1790/ BCAÇ 1933, bem como da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, além de um guia nativo, perfazendo um total de 47 vítimas. 

Chamaram acidente! Porque não mortos em combate ?!

A verdade morreu na praia, nunca ninguém foi acusado e deve haver alguém muito culpado. Não éramos uma tropa amadora.

 Esta mensagem singela  é só para lembrar este nefasto acontecimento. Onde quer que vocês estejam, camaradas, saibam que aqui na terra dos vivos há sempre akguém que vos não esquece.
 
Obrigado pela vossa dedicação a esta causa perdidas nas entranhas da política.

Eu vivi algum tempo com os quadros da CCAÇ 1790 do meu BCAÇ 1933,

Viva Portuugal

6 de fevereiro de 2025

Virgílio Teixeira,

 ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) (*)

2. Nota do editor LG:

É importante lembrar esta trágica efeméride, e as suas vítimas inocentes. Infelizmente, não há dados novos para aprofundar o nosso conhecimento deste dossiê da nossa guerra, que continua por fechar... 

A culpa morreu solteira, como noutros "desastres" de guerra... "Desastre" é sempre um eufemismo. A verdade é que estes nossos camarada não morreram por ação direta do inimigo, pelo que sabemos das "crónicas" da época e dos testemunhos dos sobreviventes, como por exemplo o nosso grão-tabanqueiro Rui Felício, ex-alf mil, cmdt do 3º Gr Comb, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Dulombi, 1968/70).

Virgílio, fizeste bem em lembrar esta efeméride. Foram 47 camaradas que morreram pela Pátria, mas não estão na lista dos heróis... Quem se lembra deles, 56 anos depois  ? Nós e os seus familiares e amigos... A vida continua, a Pátria continua... E alguém sabe lá onde era esse sítio de cambança do Rio Corubal, que uns chamavam Cheche, outros Ché-Ché... (não "cheché"). (Na carta de Jábia, o cartógrafo grafou "Ché-Ché" e a gente devida seguir a carta...).

Sobre  a Op Mabecos Bravios, e mais especificamente sobre o desastre do Cheche, temos algumas dezenas de referências:


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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26415: Efemérides (448): o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963, há 62 anos, na versão do Arafan Mané (1945-2004), um "cabra-macho" de 17 anos que, com outros ainda mais novos (Malan Sanhá, 1947-1978), deu o primeiro tiro simbólico de um guerra estúpida e inútil (Luís Graça / José Teixeira)
 
(**) Vd, também poste de 6 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22974: In Memoriam (426): Paz para a alma de todos os nossos camaradas que morreram no desastre de Cheche, faz hoje 53 anos...Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade... Estupidamente!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22974: In Memoriam (426): Paz para a alma de todos os nossos camaradas que morreram no desastre de Cheche, faz hoje 53 anos...Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade... Estupidamente!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)




Infografia: Jorge Araújo (2019) (*)


1. Mensagem de Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM,  CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):


Data - 6 frev 2022 18:26  
Assunto - Desastre do Cheche

Luis, boa tarde

Lembrei me agora que faz 53 sobre o desastre do Cheche,  com a jangada,  que ninguém ainda hoje sabe o que aconteceu na realidade.

Foram 47 vidas ceifadas na flor da idade. E estupidamente!  Da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 e da CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933.

O Cap José Aparício, comandante da nossa CCAÇ 1790,  já não nos podes contar, dizem que est
á doente, com doença degenerativa de evolução prolongada.

Paz para a alma de todos. (**)
.
Luís, se puderes fazer uma referência agradecia.

Saúde para todos.

Virgílio Teixeira (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de  2019 > Guiné 61/74 - P19788: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (Parte III)


(***) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19474: Efemérides (298): A minha homenagem às 47 vítimas da tragédia do Cheche, há 50 anos, os mortos da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 e os mortos da CCAÇ 1790, do meu batalhão, BCAÇ 1933: que Deus e a Pátria jamais os esqueçam (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sábado, 22 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22931: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (2): CART 2338, "Os Incansáveis" (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)



CART 2338, "Os Incansáveis"  (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)


 1. Contrariamente à sua "irmã-gémea", a CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69),  a que pertenceram saudosos camaradas e amigos nossos, como o Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça, dois históricos do nosso blogue, a CART 2338 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paunca, 1968/1969) não tem ninguém que aqui a represente condignamente.  

Tem escassas 14 referências no nosso blogue (, contrariamente à CART 2339, que tem 213) mas não tem nenhum representante registado. 

O único nome que temos é do ex-alf mil  José Luís Dumas Diniz, responsável pela segurança da coluna da retirada de Madina do Boé, a fatídica coluna que teve o trágico acidente, na travessia de jangada, no Rio Corubal, em Cheche, em 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).  

Falei um vez com ele ao telefone e convidei-o para integrar a Tabanca Grande.  Cheguei até ele através do seu ex-colega de trabalho, amigo e contemporâneo, o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e também meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). 

Foi o Fernando Calado que me falou dele e me pôs em contacto com ele, José Luís Dumas Diniz. É uma peça-chave para a história do desastre de Cheche. Já correram rios de tinta sobre este trágico acidente,  mas mas ainda nos falta, em primeira mão, o depoimento deste ator-chave, o nosso camarada da CART 2338 que era responsável pela segurança da jangada... Ele vive entre Cascais e Coruche, se bem percebi... Mostrou-se disponível para dar a sua versão, a publicar no blogue.

O Diniz foi julgado, creio, em tribunal militar, e foi absolvido... O próprio Spínola terá sido uma das testemunhas de defesa... Era preciso um "bode expiatório", o elo mais fraco da cadeia hierárquica...

Prometemos que um dia destes, eu, ele e o Fernando Calado, iríamos  até à Casa do Alentejo para pôr a conversa em dia... Dificuldades de agenda, de parte a parte, não nos permitiram  realizar esse encontro, dificuldades eesas que se agravaram com a história da pandemia de Covid-19. Mas o assunto não está esquecido, mesmo que já se tenham passado mais de meio século sobre os aconteciment0s (, 53 anos, em 6 de fevereiro de 2022).


Companhia de Artilharia n.º 2338

Identificação: CArt 2338

Unidade: Mob: RAL 3 - Évora

Cmdt: Cap Mil Art João Carlos Palma Marques Alvesn | Cap Art Manuel João de Azevedo Paulo

Divisa: "Os Incansáveis"

Partida: Embarque em 14Jan68; desembarque em 21Jan68 | Regresso: Embarque em 04Dez69

Síntese da Actividade Operacional

Em 24Jan68, seguiu para o aquartelamento de Fá Mandinga, a fim de efectuar instrução de adaptação operacional, na região de Xitole, de 06 a 13Fev68 e seguidamente tomar parte na actividade do BArt 1904, tendo actuado em diversas acções e operações nas regiões de Galo Corubal, Enxalé, Mato Cão, Ganguiró e Dongal Siai, entre outras.

Em 13Abr68, foi colocada em Nova Lamego, a fim de substituir a CArt 1742 na função de intervenção e reserva do sector do BCaç 2835 e cumulativamente do Agr 2957.

De 12Jul68 a 26Mar69, estabeleceu a sua base operacional em Canjadude, com um pelotão destacado em Ché-Ché (desde 04Ju168 até à sua evacuação em 10Fev69, na operação "Mabecos Bravios"), tendo actuado em diversas acções e operações, patrulhamentos e escoltas realizadas nas regiões de Canjadude, Ché-Ché, Galo Corubal e Satecuta, entre outras.

Em 20Abr69, por saída da CCaç 1790, assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Nova Lamego.

Em 22Mai69, foi substituída pela CCaç 2317, tendo seguido por escalões, em 11 e 22Mai69, para Buruntuma, a fim de efectuar a sobreposição e rendição da CArt 1742; em 29Mai69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá-Ponte do Rio Caium, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2857.

De 19 a 310ut69, por troca, por escalões com a CCaç 2401, foi transferida para o subsector de Pirada, com um pelotão destacado cm Paúnca, voltando à dependência do BCaç 2835 e integrando-se no seu dispositivo e manobra.

Em 01Dez69, foi rendida no subsector de Pirada pela CCaç 2617 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n.º 82 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 458.
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2  fevereiro de 1969 >  Canjadude foi o local onde as NT se reuniram para o início, propriamente dito, da Operação. À esquerda os pilotos da FAP Cap Pilav José Nico (filmando) [, hoje ten gen pilav ref] [1] e o Sarg mil  Honório [2] e o Cmdt da Operação,  Cor Inf Hélio Felgas [, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70][3].



Foto nº 2 Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2 de fevereiro de 1969 >  Concentração das NT em Canjadude, quartel guarnecido pela CCAÇ 5.



Fotos (e legendas): © Hilário Peixeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há dias falou-se aqui do cor inf ref Hilário Peixeiro, que foi capitão no CTIG, cmdt da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá MandingaOlossato e Mansabá, 1968/70, mas de quem não temos notícias há já uns anos largos (*). 

Num poste já antigo, de 16/5/2011, há documentação interessante (texto e fotos) sobre a participação da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851 na operação de retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios) (**). Reeditamos agora esse materal, valorizando em especial a documentação fotográfica. (***) 

Recorde-se que o desastre do Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, fez 47 vítimas mortais. Foi há 52 anos. É uma efeméride difícil de esquecer por todos nós.


 Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403

por Hilário Peixeiro (**)


Durante o mês de Janeiro [de 1969] tiveram lugar os preparativos e reconhecimentos na zona do Boé, com vista à Operação de evacuação de Madina do Boé, denominada “Mabecos Bravios”.

Para além da CCaç 1790, local, comandada pelo Cap inf Aparício,  participaram na operação outras 6 Companhias [, incluindo da CCaç 2405, Destacamento F].

A 2 de Fevereiro [de 1969] a CCaç 2403, com 3 G Comb  (...)  [Destacamento ], deslocou-se para Canjadude e depois para o Cheche onde chegou já no final do dia, transportada nas viaturas destinadas ao transporte, no regresso, dos materiais da CCaç 1790 e da população de Madina. Desta vez todos os Gr Comb eram comandados pelos respectivos Alferes.

Juntamente com a CCaç 2405, do Cap Jerónimo [Destacamento F], atravessou o Corubal numa das jangadas, recém-construídas para o efeito, indo cada uma ocupar as colinas que flanqueavam a estrada para Madina, á esquerda e á direita. 

Quando as Companhias se separaram, já noite fechada, o IN lançou 2 granadas de morteiro sobre a estrada, sem consequências o que, 15/20 minutos antes, poderia ter tido resultados bem diferentes. 

Na manhã seguinte [, 3 de fevereiro], as Companhias seguiram, apeadas, rumo a Madina, sempre sobrevoadas por 1 T6 ou 1 DO até ao final do dia.

 
Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório



Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório


A meio da manhã [do dia 3 de fevereiro] houve um reabastecimento de água, planeado e, mais à frente, não planeado, um fortíssimo ataque de abelhas à CCaç 2405  {Destacamento F] que deu origem à evacuação de alguns homens no heli do Comandante da Operação, Cor Felgas, que aterrara entretanto.

Este contratempo provocou grande atraso na coluna e a certa altura o efeito do calor e das abelhas fez-se sentir mais acentuadamente sobre a CCaç 2405, tendo a CCaç 2403 [, Destacamento D] que ia na retaguarda, passado para a frente com o intuito de pedir a Madina reabastecimento de água para o pessoal mais atrasado que estivesse em dificuldades. 

Quando, cerca de 10 minutos depois, um Gr Comb se preparava para sair do quartel, chegou a outra Companhia [, CCAÇ 2405].

Enquanto o pessoal foi instalado,  os Capitães receberam do Comandante a missão para o dia seguinte  [4 de fevereiro] que consistia na ocupação dos morros que se estendiam a sul de Madina entre esta e a República da Guiné.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969  > Evacuação de vítimas de ataques de abelhas e insolação,  com o helicanhão a sobrevoar a zona.

 

Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 3 de fevereiro de 1969 > Viaturas das NT abandonadas (Mercedes)



Foto nº 7  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé  > 3 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 8  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 4/5 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios >  Madina do Boé > 5 de fevereiro de 1969 > Reparação
 de GMC (rebocada) e sem paragem da coluna, de regresso a Cheche,


Quando se fez dia  [em 5 de fevereiro de 1969] o pessoal ficou surpreendido com o cabeço a que Madina estava encostada e os que a rodeavam. Eram autênticas “montanhas” na Guiné, onde tudo era plano. 

As Companhias ocuparam as elevações que lhes foram indicadas e aí permaneceram nesse dia enquanto as viaturas chegaram e no dia seguinte enquanto se procedeu ao seu carregamento com os materiais da guarnição e da população civil que ia ser deslocada para Nova Lamego. 

No dia 6 [de fevereiro], logo que se fez dia, deslocaram-se para a coluna que já se encontrava em movimento a caminho do Cheche, assumindo a segurança dos flancos e retaguarda. 

Antes de atingir o rio Corubal,  a coluna ainda foi alvo de mais um feroz ataque de abelhas que só provocou, como vítimas, a morte de dois cães da população.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



As viaturas e pessoal foram atravessando o rio até só restarem as 2 Companhias e parte da CCaç 1790 de Madina. Comandava a Operação de carregamento da jangada o Cap Aparício [, da CCAÇ 1790]. 

Na penúltima travessia foram transportadas a CCaç 2403 e parte da CCaç 2405, tendo a primeira recebido imediatamente ordem do Cor Felgas para montar a segurança do flanco esquerdo da coluna que partiria, logo que pronta, rumo a Canjadude.

Para a última travessia, seria embarcado o pessoal que restava das CCaç 2405 e CCaç 1790, muito menos de 100 homens. 

Enquanto se aguardava a chegada do pessoal que faltava para a coluna se pôr em marcha foram disparadas 1 ou 2 granadas das armas pesadas do Destacamento do Cheche. 

Pouco depois surgiu um soldado a correr em direcção ao rio, a chorar, dizendo que a jangada se havia virado e que muita gente tinha caído à água no meio do rio. 

Através do rádio do Capitão,  foi ouvido o Cor Felgas em comunicação com o General Spínola, que não esteve no local, dizendo que havia muitos homens desaparecidos no rio. 

Com grande atraso em relação à hora prevista, a coluna iniciou o deslocamento para Canjadude onde pernoitou.

No dia seguinte [, 7 de fevereiro] chegou a Nova Lamego, onde o Comandante-Chefe falou às tropas participantes na Operação.

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego,  a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (...) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. (...)

[Revisão / fixação de texto: LG]

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Notas do edidtor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)

Vd. poste de 13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)


(...) 2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38..

(...) Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. 

Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Gr Comb – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Gr Comb  – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Gr Comb  – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo]. (...)

1 de fevereiro de 1969

(...) O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. (...)

2 de fevereiro de 1969

(...) A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos,  tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

3 de fevereiro de 1969

(...) O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  (...)

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu [, cmdt da CCAÇ 2405,] devia levar até Madina.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego  (...)

O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

O Dest D [CCaç 2403[ passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. 

Atingimos Madina [do Boé] por volta das 19.00h [do dia 3 de fevereiro ] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente (...)

4 de fevereiro de 1969

(...) No dia 4 (D + 2)  o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá, ilegível] ocupando a posição 3 que se atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.(...)

5 de fevereiro de 1969

(...) Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h,  recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. 

Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate]. 

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

6 de fevereiro de 1969

(...) Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.(...)

(...) Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido. (...)

(...) Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. (...)

7 de fevereiro de 1969

(...) Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. 

Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,] que se deslocou propositadamente para a fazer.