Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 4 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12542: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (2): G - Localização dos Órgãos, Unidades e Serviços do Exército (1961-1974) (1): Municípios de Abrantes a Coimbra
1. Segunda parte da "Fábricas de Soldados", trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao nosso Blogue em mensagem do dia 18 de Dezembro de 2013:
(Continua)
____________
Nota do editor
Primeiro poste da série de 2 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12534: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (1): Introdução, Biografia, Índice das Unidades, Estruturas Militares, Órgãos de Comando e Número de Unidades mobilizadas
Guiné 63/74 - P12541: Os nossos seres, saberes e lazeres (63): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (7) (Tony Borié)
1. Em mensagem do dia 29 de Dezembro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 7.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.
Companheiros, o Ano Novo vai começar, vamos esquecer por alguns momentos a guerra, o “Bom ou Mau Tempo na Bolanha”, os “contra-guerrilheiros, do companheiro combatente JD”, que me vai desculpar de eu me ter aproveitado daquelas “geniais” palavras que pelo menos para mim, eram novas na nossa linguagem de antigos combatentes, mas quer queiramos ou não, fazem algum senso, sim senhor.
Não abusando da paciência do “comandante” Luís, dos seus mais directos colaboradores, das análises e comentários de todos, pois os vossos comentários “ajudam-me”, não importa que gostem ou não gostem, são a vossa sincera expressão, saem da boca e são escritas pela mão de companheiros combatentes que andaram lá, sentiram o cheiro daquela terra vermelha, mas em particular e sem “beliscar” nenhum de vocês, as análises do companheiro Hélder Valério, que gostava de ter encontrado lá na Guiné, “true, encourage them, who knows what he writes, are special”, desculpem de a mensagem ir em inglês, mas é a maneira mais fiel de me expressar, do sempre dedicado Carlos Vinhal, que com a sua maneira de estar no tempo, firme e honesta, nunca se esquece do seu trabalho, se alguma coisa nos escapa, ele está lá e lembrar-nos, a corrigir-nos, a explicar que aquele texto “não está adequado”, ou que daquela maneira, o texto, “está muito bem adequado”, contribuindo assim para o bom nome do “nosso blogue”, que com a sua “ bondosa paciência”, vai aturando este “Tó d’Agar, este Cifra, este Tony”, que também foi combatente, e que pela conversação que tem mantido com o Carlos, já o considera “a friend, also special”, e claro de todos vocês, que como já expliquei por diversas vezes, constituem a minha segunda família.
Vamos então divertir-nos um pouco com a continuação da nossa viajem do ano que já lá vai, que era aquele há muito tempo, há uns dias, na semana que passou.
Não se lembram onde parámos para dormir no último dia?(*)
Eu lembro foi na cidade de Mitchell, lá no estado de Dakota do Sul.
Pela manhã o tempo não estava muito mau, demos uma volta pela cidade de Mitchell, ainda em Dakota do Sul, dizem que quem lhe deu o nome foi um senhor muito rico, que até era presidente dos caminhos de ferro de Chicago, Milwaukee e St. Paul, que se chamava Alexander Mitchell, esta a razão do nome Mitchell.
O tanque ainda tinha gasolina que dava para umas tantas milhas, portanto rumámos ao Atlântico, ou seja para leste, esperando encontrar a gasolina a um preço mais acessível o que aconteceu passado umas horas, ainda em Dakota do Sul, próximo da cidade de Sioux Falls, onde estando na estação de serviço, portanto com alguma segurança, começa uma enorme tempestade, com chuva, vento e trovoada, por um período de mais de uma hora, inundando toda a zona, e com todos os carros e camiões de longo curso, saindo da estrada, a quererem refugiar-se na estação de serviço. Foi aquilo a se chama “um engarrafamento”, demorámos quase outra hora para sair da estação de serviço, mas saímos “secos” e em segurança.
Continuámos a nossa rota, entrando no estado de Minnesota, que é o maior estado da região centro-oeste dos Estados Unidos em extensão territorial. Só as cidades de Saint Paul, que é a capital, e Minneapolis, abrigam mais de 60% da população do estado. O solo da região sul de Minnesota é um dos mais férteis do mundo, e é uma das líderes nacionais na produção de trigo e soja. Minnesota, inicialmente fez parte da colónia francesa de “Nova França”, mas em 1763, a região, passou sob os termos do “Tratado de Paris”, para controle britânico, e claro após a independência dos Estados Unidos, em 1783, a região sul de Minnesota passou ao controle dos Estados Unidos, enquanto a região norte passou a controle Espanhol, mas esta última região passaria novamente a controle francês em 1800, mas foi anexada pelos Estados Unidos em 1803, na “Compra da Luisiana”, de que já aqui falámos em anteriores textos.
A palavra Minnesota, vem de duas palavras “sioux”, “mine”, que significa “água”, e “sota”, que significa “cor-do-céu”, portanto em “sioux”, o seu verdadeiro nome é “Águas Cor-do-Céu”.
Fomos ao centro de boas-vindas, informando-nos dos pontos importantes a ver no estado, o que fizemos, pois fomos ver o “Fort Belmont”, onde dizem que alguns exploradores, como os irmãos William, George e Charles Wood, vindos de Indiana, no ano de 1856, estabeleceram-se por aqui, construindo um local para se abrigarem, a que deram o nome de “Springfield”, pois a primavera aproximava-se. Foram chegando pessoas vindas do leste, depois passou a ser um posto avançado de trocas, entre os índios da região, as pessoas que viajavam para oeste, onde alguns por aqui ficaram.
Também fizemos paragens nas cidades de Worthington, Fairmont, Albert Lea, Austin, Rochester, entrando no estado de Wisconsin ainda ia o sol alto.
O estado de Wisconsin, possui um dos maiores rebanhos de gado bovino dos Estados Unidos, dizem que é o maior produtor nacional de queijo e manteiga, e o segundo maior produtor de leite. Foi o primeiro estado a abolir a pena de morte no país. Os primeiros exploradores europeus no Wisconsin foram os franceses, e fez parte da colónia francesa de “Nova França”, até 1763, quando passou a ser controlada pelo Reino Unido, mas em 1783, após a independência, o Wisconsin passou a ser administrado pelos Estados Unidos, fazendo parte de diversos territórios até 1836, quando o “Território de Wisconsin” foi fundado, mas só em 1848, é que o Wisconsin se tornou o 30.º estado norte-americano. O Wisconsin é uma palavra de origem nativa, mas ninguém sabe ao certo o seu significado, que pode muito bem significar, “agrupamento de águas”, “campos selvagens de arroz”, “terra natal” ou “grande rocha”.
Aqui a paisagem já era diferente, havia vegetação, havia algumas subidas e descidos na estrada, já não era só planície, paramos na cidade de Madison, comprámos queijo, num estabelecimento que só vendia queijo, e tinha queijos gigantes, da altura de um homem, de todas as qualidades, de todas as cores!
O preço, não era muito convidativo, o Tony ficou com a ideia que se podia adquirir o mesmo produto, em qualquer outro estado, pelo mesmo preço, em qualquer loja de produtos alimentícios local.
Ao cair da tarde, entrámos no estado de Illinois, e dormimos na cidade de Rockford, onde já havia movimentação, muitos hotéis, restaurantes, comércio, pessoas na rua, já cheirava a Chicago, aquele “Chicago, Chicago”, dos filmes e dos “Al Capones”, de que vos falarei no texto do próximo dia.
Este foi o resumo do dia 7, praticamente na estrada.
Tony Borie, Agosto de 2013
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 2 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12239: Os nossos seres, saberes e lazeres (59): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (6) (Tony Borié)
Último poste da série de 27 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12352: Os nossos seres, saberes e lazeres (62): Estalo Novo, nova peça da Companhia Maior, que vai ser estreada no Centro Cultural de Belém no do dia 28 de Novembro (Carlos Nery)
7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 7
Companheiros, o Ano Novo vai começar, vamos esquecer por alguns momentos a guerra, o “Bom ou Mau Tempo na Bolanha”, os “contra-guerrilheiros, do companheiro combatente JD”, que me vai desculpar de eu me ter aproveitado daquelas “geniais” palavras que pelo menos para mim, eram novas na nossa linguagem de antigos combatentes, mas quer queiramos ou não, fazem algum senso, sim senhor.
Não abusando da paciência do “comandante” Luís, dos seus mais directos colaboradores, das análises e comentários de todos, pois os vossos comentários “ajudam-me”, não importa que gostem ou não gostem, são a vossa sincera expressão, saem da boca e são escritas pela mão de companheiros combatentes que andaram lá, sentiram o cheiro daquela terra vermelha, mas em particular e sem “beliscar” nenhum de vocês, as análises do companheiro Hélder Valério, que gostava de ter encontrado lá na Guiné, “true, encourage them, who knows what he writes, are special”, desculpem de a mensagem ir em inglês, mas é a maneira mais fiel de me expressar, do sempre dedicado Carlos Vinhal, que com a sua maneira de estar no tempo, firme e honesta, nunca se esquece do seu trabalho, se alguma coisa nos escapa, ele está lá e lembrar-nos, a corrigir-nos, a explicar que aquele texto “não está adequado”, ou que daquela maneira, o texto, “está muito bem adequado”, contribuindo assim para o bom nome do “nosso blogue”, que com a sua “ bondosa paciência”, vai aturando este “Tó d’Agar, este Cifra, este Tony”, que também foi combatente, e que pela conversação que tem mantido com o Carlos, já o considera “a friend, also special”, e claro de todos vocês, que como já expliquei por diversas vezes, constituem a minha segunda família.
Vamos então divertir-nos um pouco com a continuação da nossa viajem do ano que já lá vai, que era aquele há muito tempo, há uns dias, na semana que passou.
Não se lembram onde parámos para dormir no último dia?(*)
Eu lembro foi na cidade de Mitchell, lá no estado de Dakota do Sul.
Pela manhã o tempo não estava muito mau, demos uma volta pela cidade de Mitchell, ainda em Dakota do Sul, dizem que quem lhe deu o nome foi um senhor muito rico, que até era presidente dos caminhos de ferro de Chicago, Milwaukee e St. Paul, que se chamava Alexander Mitchell, esta a razão do nome Mitchell.
O tanque ainda tinha gasolina que dava para umas tantas milhas, portanto rumámos ao Atlântico, ou seja para leste, esperando encontrar a gasolina a um preço mais acessível o que aconteceu passado umas horas, ainda em Dakota do Sul, próximo da cidade de Sioux Falls, onde estando na estação de serviço, portanto com alguma segurança, começa uma enorme tempestade, com chuva, vento e trovoada, por um período de mais de uma hora, inundando toda a zona, e com todos os carros e camiões de longo curso, saindo da estrada, a quererem refugiar-se na estação de serviço. Foi aquilo a se chama “um engarrafamento”, demorámos quase outra hora para sair da estação de serviço, mas saímos “secos” e em segurança.
Continuámos a nossa rota, entrando no estado de Minnesota, que é o maior estado da região centro-oeste dos Estados Unidos em extensão territorial. Só as cidades de Saint Paul, que é a capital, e Minneapolis, abrigam mais de 60% da população do estado. O solo da região sul de Minnesota é um dos mais férteis do mundo, e é uma das líderes nacionais na produção de trigo e soja. Minnesota, inicialmente fez parte da colónia francesa de “Nova França”, mas em 1763, a região, passou sob os termos do “Tratado de Paris”, para controle britânico, e claro após a independência dos Estados Unidos, em 1783, a região sul de Minnesota passou ao controle dos Estados Unidos, enquanto a região norte passou a controle Espanhol, mas esta última região passaria novamente a controle francês em 1800, mas foi anexada pelos Estados Unidos em 1803, na “Compra da Luisiana”, de que já aqui falámos em anteriores textos.
A palavra Minnesota, vem de duas palavras “sioux”, “mine”, que significa “água”, e “sota”, que significa “cor-do-céu”, portanto em “sioux”, o seu verdadeiro nome é “Águas Cor-do-Céu”.
Fomos ao centro de boas-vindas, informando-nos dos pontos importantes a ver no estado, o que fizemos, pois fomos ver o “Fort Belmont”, onde dizem que alguns exploradores, como os irmãos William, George e Charles Wood, vindos de Indiana, no ano de 1856, estabeleceram-se por aqui, construindo um local para se abrigarem, a que deram o nome de “Springfield”, pois a primavera aproximava-se. Foram chegando pessoas vindas do leste, depois passou a ser um posto avançado de trocas, entre os índios da região, as pessoas que viajavam para oeste, onde alguns por aqui ficaram.
Também fizemos paragens nas cidades de Worthington, Fairmont, Albert Lea, Austin, Rochester, entrando no estado de Wisconsin ainda ia o sol alto.
O estado de Wisconsin, possui um dos maiores rebanhos de gado bovino dos Estados Unidos, dizem que é o maior produtor nacional de queijo e manteiga, e o segundo maior produtor de leite. Foi o primeiro estado a abolir a pena de morte no país. Os primeiros exploradores europeus no Wisconsin foram os franceses, e fez parte da colónia francesa de “Nova França”, até 1763, quando passou a ser controlada pelo Reino Unido, mas em 1783, após a independência, o Wisconsin passou a ser administrado pelos Estados Unidos, fazendo parte de diversos territórios até 1836, quando o “Território de Wisconsin” foi fundado, mas só em 1848, é que o Wisconsin se tornou o 30.º estado norte-americano. O Wisconsin é uma palavra de origem nativa, mas ninguém sabe ao certo o seu significado, que pode muito bem significar, “agrupamento de águas”, “campos selvagens de arroz”, “terra natal” ou “grande rocha”.
Aqui a paisagem já era diferente, havia vegetação, havia algumas subidas e descidos na estrada, já não era só planície, paramos na cidade de Madison, comprámos queijo, num estabelecimento que só vendia queijo, e tinha queijos gigantes, da altura de um homem, de todas as qualidades, de todas as cores!
O preço, não era muito convidativo, o Tony ficou com a ideia que se podia adquirir o mesmo produto, em qualquer outro estado, pelo mesmo preço, em qualquer loja de produtos alimentícios local.
Ao cair da tarde, entrámos no estado de Illinois, e dormimos na cidade de Rockford, onde já havia movimentação, muitos hotéis, restaurantes, comércio, pessoas na rua, já cheirava a Chicago, aquele “Chicago, Chicago”, dos filmes e dos “Al Capones”, de que vos falarei no texto do próximo dia.
Este foi o resumo do dia 7, praticamente na estrada.
Tony Borie, Agosto de 2013
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 2 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12239: Os nossos seres, saberes e lazeres (59): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (6) (Tony Borié)
Último poste da série de 27 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12352: Os nossos seres, saberes e lazeres (62): Estalo Novo, nova peça da Companhia Maior, que vai ser estreada no Centro Cultural de Belém no do dia 28 de Novembro (Carlos Nery)
Guiné 63/74 - P12540: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (5): Sou do famigerado XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 de Agosto e terminado a 17 de Setembro de 1966, na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos
1. Mensagem de Mário Gaspar, com data de 18 de dezembro último
Camarada Luís
Envio-te este texto, que foca mais o percurso do Serviço Militar Obrigatório antes da minha mobilização.
Um abraço, Mário Vitorino Gaspar
P. S - Assino somente o meu nome completo pelo amor que nutro e nutria pela minha MÃE - Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar
[ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas,
CART 1659, "Zorba"
Chamado para frequentar o Curso de Operações Especiais (CIOE) em Lamego, em 4 de Julho, em 10 de Julho, fomos inúmeros Oficiais e Sargentos eliminados deste curso, que tem muitas histórias para contar.
De 15 de Julho até 1 de Agosto estive novamente como Monitor no RI 14 em Viseu. Escolhido para representar a Unidade nos Campeonatos da 2ª Região Militar, em Tomar a 20 de Julho. Nestes campeonatos fui à final, e escolhido para os Campeonatos Nacionais das Regiões Militares.
Quando menos esperava, deixei o RI 14 visto ter conhecimento pessoalmente – e no dia do Juramento de Bandeira dos recrutas onde era um dos Monitores – ter sido mobilizado, ignorando o destino, se Angola, Guiné ou Moçambique. Os pelotões onde administrei recrutas, compunham-se de 77/78 mancebos, e quando se trata de falar em preparar jovens para a guerra são pelotões com um número anormal.
Marchei, portanto em 6 Agosto para a Escola Prática de Engenharia (EPE) em Tancos, a fim de frequentar o XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 e terminado 17 de Setembro de 1966. Pensei logo. Mais valia ter ficado em Lamego e frequentar o Curso de Operações Especiais.
O Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, curiosamente, foi uma pausa na minha caminhada militar, visto ter sido rico em situações de algum modo caricatas. Somente Oficiais e Sargentos Milicianos, quase na unanimidade os que tinham estado comigo no CIOE em Lamego e que haviam sido excluídos (não é bem o termo porque a verdade é que não o quisemos frequentar, na grande parte dos casos), para além de um “levantamento de rancho”, numa Carne de Porco à Alentejana, por aquilo que me lembro, o levantamento só se fez na Messe de Sargentos. As amêijoas encontravam-se estragadas. Depois de diversas tentativas para uma reconciliação, mantivemos a posição até substituírem os bivalves, que cheiravam mal, por outra refeição.
Posteriormente na instrução prática, desviámos um detonador pirotécnico, um petardo de trotil, um adaptador e cordão lento. À noite, após a devida montagem, foi colocado este engenho explosivo, por um grupo previamente escolhido, num passeio, e encostado a uma caserna. Os outros, desde um Tenente, passando pelos Aspirantes e Cabos Milicianos, deitaram-se.
Aqueles que haviam colocado o engenho explosivo, nas maiores calmas, para que não sucedesse algo de imprevisto que estragasse a “brincadeira”, foram igualmente para as suas camas.
Rebentamento forte na Escola Prática de Engenharia, em Tancos – no XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas – diga-se o XX Curso porque acho que ficou conhecido. E, após o rebentamento um alerta. Toda a EPE na parada. Sabotagem? A ARA? Diversas versões. Por mais voltas que dessem, ninguém piou. Quem foi, e quem não foi? Sabe-se lá o que mais se disse.
Eu fiquei sem os 90$00 do pré, porque o Cabo Miliciano era 1º Cabo no pré e Sargento no Serviço. Foi o castigo, que acho ter sido igual para todos.
No final do Curso, quanto à parte prática, tínhamos de “inventar uma armadilha”, mesmo montada ou em alternativa sugeri-la através de desenhos ou por sugestões escritas. Eu tinha como Instrutor um Tenente de Engenharia, bastante simpático e, quando chegou a vez de apresentar o meu trabalho, perguntou-me:
Camarada Luís
Envio-te este texto, que foca mais o percurso do Serviço Militar Obrigatório antes da minha mobilização.
Sei que o texto não vai agradar a alguns, mas há que ter em conta que tive imenso cuidado, nesta época festiva, de narrar algo que julgo ser divertido. O Natal de 1967 foi terrível para mim, penso até que nenhum ex combatente gosta do Natal. Mas isso é caso para partilhar - talvez ainda esta semana, ou no início da semana que vem - num texto que posso tentar escrever.
Um abraço, Mário Vitorino Gaspar
P. S - Assino somente o meu nome completo pelo amor que nutro e nutria pela minha MÃE - Maria Eugénia da Conceição Vitorino Gaspar
Uma das traiçoeiras minas A/C montadas pelo PAIGC, algures no TO da Guiné...
"Em 5 de Agosto de 1968, pelas 10h07, em [?] 1615 1220 A0-74, foi levantada uma mina A/C TMD, reforçada com 2 granadas P27, uma de cada lado. As duas espoletas MUV foram escorvadas em 2 petardos de 20 gramas de trotil e colocadas ao alto, indo o armador apoiar-se directamente na cauda do percutor, estando a mina montada para ser accionada por pressão. Em lugar da cavilha normal metálica da espoleta MUV encontrou-se uma cavilha calibrada, de madeira. O peso de qualquer indivíduo era suficiente para partir tal cavilha e accionar a espoleta, pelo que a mina assim montada funciona como anti-carro e anti-pessoal." [Fonte: Extrato de Supintrep, nº 32, de Junho de 1971]
Infografia: A. Marques Lopes (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
2. Sou do famigerado XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 de Agosto e terminado 17 de Setembro de 1966, na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos
por Mário Gaspar
[ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas,
CART 1659, "Zorba"
(Gadamael e Ganturé, 1967/68)]
Eu, Furriel Miliciano de Artilharia nº 03163264, como Cabo Miliciano de Artilharia – e como costumo usualmente dizer – mas munido de G3 e de todas as armas, rumei para o RI 14, em Viseu, no dia 13 de Abril de 1966, onde, como Monitor, dei diversas instruções até 26 de Junho.
Chamado para frequentar o Curso de Operações Especiais (CIOE) em Lamego, em 4 de Julho, em 10 de Julho, fomos inúmeros Oficiais e Sargentos eliminados deste curso, que tem muitas histórias para contar.
De 15 de Julho até 1 de Agosto estive novamente como Monitor no RI 14 em Viseu. Escolhido para representar a Unidade nos Campeonatos da 2ª Região Militar, em Tomar a 20 de Julho. Nestes campeonatos fui à final, e escolhido para os Campeonatos Nacionais das Regiões Militares.
Quando menos esperava, deixei o RI 14 visto ter conhecimento pessoalmente – e no dia do Juramento de Bandeira dos recrutas onde era um dos Monitores – ter sido mobilizado, ignorando o destino, se Angola, Guiné ou Moçambique. Os pelotões onde administrei recrutas, compunham-se de 77/78 mancebos, e quando se trata de falar em preparar jovens para a guerra são pelotões com um número anormal.
Marchei, portanto em 6 Agosto para a Escola Prática de Engenharia (EPE) em Tancos, a fim de frequentar o XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 e terminado 17 de Setembro de 1966. Pensei logo. Mais valia ter ficado em Lamego e frequentar o Curso de Operações Especiais.
O Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, curiosamente, foi uma pausa na minha caminhada militar, visto ter sido rico em situações de algum modo caricatas. Somente Oficiais e Sargentos Milicianos, quase na unanimidade os que tinham estado comigo no CIOE em Lamego e que haviam sido excluídos (não é bem o termo porque a verdade é que não o quisemos frequentar, na grande parte dos casos), para além de um “levantamento de rancho”, numa Carne de Porco à Alentejana, por aquilo que me lembro, o levantamento só se fez na Messe de Sargentos. As amêijoas encontravam-se estragadas. Depois de diversas tentativas para uma reconciliação, mantivemos a posição até substituírem os bivalves, que cheiravam mal, por outra refeição.
Posteriormente na instrução prática, desviámos um detonador pirotécnico, um petardo de trotil, um adaptador e cordão lento. À noite, após a devida montagem, foi colocado este engenho explosivo, por um grupo previamente escolhido, num passeio, e encostado a uma caserna. Os outros, desde um Tenente, passando pelos Aspirantes e Cabos Milicianos, deitaram-se.
Aqueles que haviam colocado o engenho explosivo, nas maiores calmas, para que não sucedesse algo de imprevisto que estragasse a “brincadeira”, foram igualmente para as suas camas.
Rebentamento forte na Escola Prática de Engenharia, em Tancos – no XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas – diga-se o XX Curso porque acho que ficou conhecido. E, após o rebentamento um alerta. Toda a EPE na parada. Sabotagem? A ARA? Diversas versões. Por mais voltas que dessem, ninguém piou. Quem foi, e quem não foi? Sabe-se lá o que mais se disse.
Eu fiquei sem os 90$00 do pré, porque o Cabo Miliciano era 1º Cabo no pré e Sargento no Serviço. Foi o castigo, que acho ter sido igual para todos.
No final do Curso, quanto à parte prática, tínhamos de “inventar uma armadilha”, mesmo montada ou em alternativa sugeri-la através de desenhos ou por sugestões escritas. Eu tinha como Instrutor um Tenente de Engenharia, bastante simpático e, quando chegou a vez de apresentar o meu trabalho, perguntou-me:
– Então Mário, o que fez? – Respondi-lhe:
– Não me ocorreu nada, meu Tenente!.
Ele agarrou no meu Livro enorme de Minas e Armadilhas, e teve tempo ainda para dizer:
– Tem este livro que tem tudo sobre minas e armadilhas….
Ouviu-se um estoiro. Eu havia retirado as páginas centrais do livro, substituindo as mesmas por páginas de jornais onde fizera uma fenda onde coloquei um disparador de descompressão. Trabalho difícil, mas fi-lo mais como brincadeira. Digo bem, foi uma brincadeira! O Tenente riu e gostou desta minha prova de final de Curso. Muitos foram os chumbos neste Curso.
No Cine Teatro de Tancos – para os que o completaram com êxito o Curso – foi-lhes ofertado um Diploma. Eu tenho o meu. Os que chumbaram, julgo que foram punidos disciplinarmente. Ouvimos todos, um raspanete do Comandante de Instrução:
No Cine Teatro de Tancos – para os que o completaram com êxito o Curso – foi-lhes ofertado um Diploma. Eu tenho o meu. Os que chumbaram, julgo que foram punidos disciplinarmente. Ouvimos todos, um raspanete do Comandante de Instrução:
– Porque o vosso Curso foi o pior da Escola Prática de Engenharia… Por isto e por aquilo!
Ter feito este Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, foi a pior coisa que me aconteceu no meu percurso militar.
Pergunto para quem me lê:
Ter feito este Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, foi a pior coisa que me aconteceu no meu percurso militar.
Pergunto para quem me lê:
– Quantos Especialistas de Explosivos de Minas e Armadilhas morreram ou ficaram deficientes nesta Guerra Colonial?.
É pena que não tenham feito um Levantamento da Guerra Colonial. Colocavam as questões: (i) Esteve na Guerra Colonial?; (ii) Se esteve diga onde?. E com espaços para as respostas... Outras questões podiam e podem ser colocadas.
Tiveram todo o tempo para o fazer, e todas as oportunidades com os “Censos”. Penso que após o fim da Guerra Colonial existiram os “Censos” de 1981, 1991, 2001 e 2011, portanto ultimamente são efectuados de dez em dez anos. Agora possivelmente só em 2021.
Muito embora não tenha falado sobre a minha experiência de guerra em Gadamael Porto e Ganturé, passando por Mejo, Guileje, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. Mais tarde surgiu Gandembel, que deve ser, e com certeza, uma “pedra no sapato” dos nossos cérebros militares. Para quem lá estava, e que conhecia a realidade da zona do famigerado “corredor da morte”, impensável montar um aquartelamento em pleno corredor, também chamado “corredor de Guileje”.
É pena que não tenham feito um Levantamento da Guerra Colonial. Colocavam as questões: (i) Esteve na Guerra Colonial?; (ii) Se esteve diga onde?. E com espaços para as respostas... Outras questões podiam e podem ser colocadas.
Tiveram todo o tempo para o fazer, e todas as oportunidades com os “Censos”. Penso que após o fim da Guerra Colonial existiram os “Censos” de 1981, 1991, 2001 e 2011, portanto ultimamente são efectuados de dez em dez anos. Agora possivelmente só em 2021.
Muito embora não tenha falado sobre a minha experiência de guerra em Gadamael Porto e Ganturé, passando por Mejo, Guileje, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Cacine. Mais tarde surgiu Gandembel, que deve ser, e com certeza, uma “pedra no sapato” dos nossos cérebros militares. Para quem lá estava, e que conhecia a realidade da zona do famigerado “corredor da morte”, impensável montar um aquartelamento em pleno corredor, também chamado “corredor de Guileje”.
E viu-se o que se viu. Acabou-se com Sangonhá e Cacoca – enquanto a CART 1659 se encontrava em Gadamael – e depois Ganturé e Mejo. Gandembel vai também ao ar e incrivelmente em Guileje acontece o que todos sabem. E Gadamael Porto esteve por pouco.
Depois foi o caos.
____________Depois foi o caos.
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang
Último poste da série > 3 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12539: Notas de leitura (549): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Agosto de 2013:
Queridos amigos,
A observação deste capitão da Ilha de S. Tiago está centrada no norte e no centro da Guiné, como hoje a conhecemos. É verdade que todo o relato começa no alto Senegal e findará na Serra Leoa. No que tange ao território atual as descrições começam no rio de S. Domingos, passam pelos Bijagós, e depois entusiasma-se com o reino dos Beafadas, a etnia então mais poderosa no Sul.
Temos aqui a descrição do comércio e dos seus povos. Ficamos a saber que havia pequenos elefantes e leões e o tão cobiçado anil, e havia mesmo ouro. Descrição poderosa, por vezes galvanizante.
Assim como a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, é o encontro com a história, este Tratado que marca o início das belíssimas narrativas sobre os povos da Guiné.
Um abraço do
Mário
Tratado breve dos rios da Guiné: A “cédula pessoal” do encontro luso-guineense (2)
Beja Santos
Se é verdade que o bordão do historiador é a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, a obra que marca o encontro entre os nautas portugueses e os povos da Guiné é esse fabuloso documento intitulado “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde”, da responsabilidade do capitão André Álvares de Almada. O relato começa com a descrição dos Jalofos, do rio de Sanagá, o tal rio que separa os mouros da terra dos negros. Impressiona a sua linguagem detalhada e clara, como segue exemplo: “Este Reino dos Jalofos era muito grande, e estava debaixo da obediência de um Rei muito poderoso, o qual era entre esta nação como Imperador, e quando se falava nele se dizia o Gran-Jalofo. Tinha outros reis que lhe davam obediência e pagavam tributos. Mas como o tempo costuma a desfazer a uns e levantar a outros, muitas vezes de nada, assim foi com este do Império dos Jalofos”. Desce ao pormenor falando dos seus costumes e trocas comerciais, outro exemplo: “As mercadorias que levam os nossos a estas partes são cavalos, vinhos, bretanhas, contaria da Índia chamada da fémea limpa e boa, e o cano de pata, que é a mesma contaria comprida, outra da mesma contaria redonda, do tamanho de uma avelã e maior. Toda esta contaria é estimada entre eles é o tesouro e joias que eles têm. Estimam também o ouro; compram algumas peças feitas, vinta-quatreno vermelho, grão, margarideta, continha de Veneza, papel, coral miúdo, e búzio miúdo, o qual corre como dinheiro para gastos. Nesta costa se acha muito âmbar, e o rei do sertão dela tem muita quantidade dele, porque de todo o que acham os negros lhe dão sua parte, e tem tanta quantidade que tem dentro dos seus paços um modo de casa de barro, como forno de cozer pão, e o tem cheio dele e em muita estima”.
Dos Jalofos passou à descrição dos Barbacins, depois o reino da Gâmbia, chega então à barra de S. Domingos, descreve os Falupos (Felupes), o reino de Casamansa, o reino dos Buramos (Brames), que confina com os Balantas, e ao Beafares. A navegação prossegue até ao reino dos Bijagós e à terra dos Beafares, a descrição é cuidadosíssima: “Este Beafares não tem as suas casas aldeadas como as outras nações, senão afastadas algum tanto umas das outras, e as fazem segundo a pose de cada um, e no lugar onde as fazem vivem ali os parentes todos juntos, reconhecendo ao mais velho a quem dão obediência; e por isso em alguns casos de Juízos e Leis que entre eles há, sendo condenados algumas vezes os maiores a perdimento de bens e liberdade, se cativa uma geração. Vivem apartados em casas de taipa cobertas de palhas, às quais, como cá se chama entre nós Quintas, chamam eles Polonias, e há algumas de alguns fidalgos muito grandes de muitas casas”. Álvares de Almada revela uma atenção enorme sobre as culturas, hierarquias sociais, está atento às inclemências do tempo: “Esta terra de Biguda é toda coberta de muitos matos e arvoredos; chove nela muito; dão grandes trovões; caem muitas pedras de corisco. Usa Nosso Senhor com estes Gentios de sua misericórdia grandemente, porque lhes dá água em abastança e muitos temporais, e o inverno com tanta temperança que não pode mais ser; porque ainda que chova muita água, logo torna o tempo sereno e bom; e desta maneira cria a terra muito. E ainda que esteja o tempo claro, arma-se uma nuvenzinha pequena, que vai-se fazendo maior; e quando se não precatam começam de roncar os trovões; dá um grande pé-de-vento, e antes de dar há de acalmar o outro que ventava de antes; e dando o vento dura por espaço de um quarto de hora ou mais; deixa-se descarregar tanta água que não há pode-la esperar; tanto que choque que logo cessa o vento e dura a água uma hora ou duas; depois torna a esclarecer tudo e a fazer sol; e por isso tem tão boas novidades”.
Estamos portanto em pleno Sul da atual Guiné, e começa a descrição dos reinos dos Nalus, Bagas e Coquolins, descreve o comércio do rio grande de Buba, com todo o detalhe: os Nalus vendem escravos, esteiras finas, pequenos dentes de marfim, eram terras em que se matavam muitos elefantes e segue-se uma descrição pormenorizada: “Estes negros, não sei porque arte, se metem debaixo dos elefantes com umas azagais muito largas e grandes, e metendo-se dão-lhes com aquela arma e as mais vezes que podem, e acolhem-se. Começa o elefante de correr a uma e a outra parte, e vão-lhe caindo as tripas delgadas, e com as mãos e pés as vão trilhando e quebrando até que morre. Vai o negro pelo rasto do sangue dar com ele morto. Desfazem-no; dão ao rei o que tem dali, que são as mãos e pés e a tromba; o mais comem eles. Perguntando algumas vezes a alguns negros como se metem debaixo daquele animal tamanho e tão espantoso; respondiam que comiam mesinha para isso. Seja como for, eles o fazem; descreve os búfalos, o gado vacum, fala em onças e leões, a terra destes Nalus é grande, o comércio era feito por povo entreposto, os Beafares. Outra preciosidade para o comércio era o anil, tintas muito procuradas e explica a técnica a partir de árvores como hera e que vão trepando pelas outras árvores e têm as folhas largas: “E os negros, no tempo, apanham estas folhas e as pisam, e fazem uns pães como de açúcar, assim grandes, enfolhados com as folhas de cabopa, e vêm os nossos navios carregarem-se destas tintas, que é um grande trato, para o rio de S. Domingos. E já nos outros anos, governando a Rainha D. Caterina, que Deus haja, se mandou carregar e trazer à cidade de Lisboa uma caravela destas tintas, para as experimentarem, isso levou a Cádis parte da tinta. Não sei de que modo a acharam, mas sei que da ilha de S. Tiago se levou por muitas vezes a tinta que se nela faz a Sevilha e a Cádis e a acharam boa e da erva de que se faz o verdadeiro anil”. Fica-se igualmente a saber que esta tinta era levada para o rio de S. Domingos e utilizada pelos Brames e os Banhuns, e mesmo comercializada no Casamansa, resgatada por escravos.
A viagem no que é a Guiné-Bissau está praticamente a findar. Refere ainda os Bagas, muito atraiçoados isto é matavam à traição, com ritos absolutamente selvagens: “E em os matando cortam-lhes as cabeças e dançam com ela. E depois as cozem e tiram a carne toda, e limpas de carne e miolos bebem por elas, servindo-lhes de púcaros. Nisto não há dúvida. E quantos mais vasos tiver um negro em sua casa mais honrado é. E hão de entender que não hão de ser somente de brancos, se não de quaisquer pessoas que eles possam matar. Suas armas são umas azagais de uns ferros largos e compridos. Usam espadas, frechas e adargas de verga e rota boas. Têm suas almadias, que navegam de uma parte para a outra, e de rio em rio ao longo da terra”.
E assim se chega ao Cabo da Verga, dobrado chega-se ao rio das Pedras, o reino dos Sapes, vamos ter descrições até à Serra Leoa, assim descrita: “Esta terra é tão abundante de tudo que nada lhe falta; abastada de muitos mantimentos; muito fresca de ribeiras de água, laranjeiras, cidreiras, limoeiros, canas-de-açúcar, muitos palmares, e muita madeira excelente. Povoando-se viria a ser de maior trato que o Brasil, porque no Brasil não há mais do que açúcar, e o pau, e algodão; nesta terra há algodão e o pau que há no Brasil, e marfim, cera, ouro, âmbar, malagueta, e podem-se fazer muitos engenhos de açúcar; há ferro, muita madeira para os engenhos, e escravos para eles”. Texto sugestivo em que Álvares de Almada sugere ao rei que venha gente da Europa e de Cabo Verde para aqui, aqui há riqueza, é melhor deixar empresas duvidosas e povoar território fértil até à Costa da Malagueta. E assim se despede de El Rei, com o desejo de ver esta terra povoada de cristãos.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12523: Notas de leitura (548): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A observação deste capitão da Ilha de S. Tiago está centrada no norte e no centro da Guiné, como hoje a conhecemos. É verdade que todo o relato começa no alto Senegal e findará na Serra Leoa. No que tange ao território atual as descrições começam no rio de S. Domingos, passam pelos Bijagós, e depois entusiasma-se com o reino dos Beafadas, a etnia então mais poderosa no Sul.
Temos aqui a descrição do comércio e dos seus povos. Ficamos a saber que havia pequenos elefantes e leões e o tão cobiçado anil, e havia mesmo ouro. Descrição poderosa, por vezes galvanizante.
Assim como a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, é o encontro com a história, este Tratado que marca o início das belíssimas narrativas sobre os povos da Guiné.
Um abraço do
Mário
Tratado breve dos rios da Guiné: A “cédula pessoal” do encontro luso-guineense (2)
Beja Santos
Se é verdade que o bordão do historiador é a Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, a obra que marca o encontro entre os nautas portugueses e os povos da Guiné é esse fabuloso documento intitulado “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde”, da responsabilidade do capitão André Álvares de Almada. O relato começa com a descrição dos Jalofos, do rio de Sanagá, o tal rio que separa os mouros da terra dos negros. Impressiona a sua linguagem detalhada e clara, como segue exemplo: “Este Reino dos Jalofos era muito grande, e estava debaixo da obediência de um Rei muito poderoso, o qual era entre esta nação como Imperador, e quando se falava nele se dizia o Gran-Jalofo. Tinha outros reis que lhe davam obediência e pagavam tributos. Mas como o tempo costuma a desfazer a uns e levantar a outros, muitas vezes de nada, assim foi com este do Império dos Jalofos”. Desce ao pormenor falando dos seus costumes e trocas comerciais, outro exemplo: “As mercadorias que levam os nossos a estas partes são cavalos, vinhos, bretanhas, contaria da Índia chamada da fémea limpa e boa, e o cano de pata, que é a mesma contaria comprida, outra da mesma contaria redonda, do tamanho de uma avelã e maior. Toda esta contaria é estimada entre eles é o tesouro e joias que eles têm. Estimam também o ouro; compram algumas peças feitas, vinta-quatreno vermelho, grão, margarideta, continha de Veneza, papel, coral miúdo, e búzio miúdo, o qual corre como dinheiro para gastos. Nesta costa se acha muito âmbar, e o rei do sertão dela tem muita quantidade dele, porque de todo o que acham os negros lhe dão sua parte, e tem tanta quantidade que tem dentro dos seus paços um modo de casa de barro, como forno de cozer pão, e o tem cheio dele e em muita estima”.
Dos Jalofos passou à descrição dos Barbacins, depois o reino da Gâmbia, chega então à barra de S. Domingos, descreve os Falupos (Felupes), o reino de Casamansa, o reino dos Buramos (Brames), que confina com os Balantas, e ao Beafares. A navegação prossegue até ao reino dos Bijagós e à terra dos Beafares, a descrição é cuidadosíssima: “Este Beafares não tem as suas casas aldeadas como as outras nações, senão afastadas algum tanto umas das outras, e as fazem segundo a pose de cada um, e no lugar onde as fazem vivem ali os parentes todos juntos, reconhecendo ao mais velho a quem dão obediência; e por isso em alguns casos de Juízos e Leis que entre eles há, sendo condenados algumas vezes os maiores a perdimento de bens e liberdade, se cativa uma geração. Vivem apartados em casas de taipa cobertas de palhas, às quais, como cá se chama entre nós Quintas, chamam eles Polonias, e há algumas de alguns fidalgos muito grandes de muitas casas”. Álvares de Almada revela uma atenção enorme sobre as culturas, hierarquias sociais, está atento às inclemências do tempo: “Esta terra de Biguda é toda coberta de muitos matos e arvoredos; chove nela muito; dão grandes trovões; caem muitas pedras de corisco. Usa Nosso Senhor com estes Gentios de sua misericórdia grandemente, porque lhes dá água em abastança e muitos temporais, e o inverno com tanta temperança que não pode mais ser; porque ainda que chova muita água, logo torna o tempo sereno e bom; e desta maneira cria a terra muito. E ainda que esteja o tempo claro, arma-se uma nuvenzinha pequena, que vai-se fazendo maior; e quando se não precatam começam de roncar os trovões; dá um grande pé-de-vento, e antes de dar há de acalmar o outro que ventava de antes; e dando o vento dura por espaço de um quarto de hora ou mais; deixa-se descarregar tanta água que não há pode-la esperar; tanto que choque que logo cessa o vento e dura a água uma hora ou duas; depois torna a esclarecer tudo e a fazer sol; e por isso tem tão boas novidades”.
Estamos portanto em pleno Sul da atual Guiné, e começa a descrição dos reinos dos Nalus, Bagas e Coquolins, descreve o comércio do rio grande de Buba, com todo o detalhe: os Nalus vendem escravos, esteiras finas, pequenos dentes de marfim, eram terras em que se matavam muitos elefantes e segue-se uma descrição pormenorizada: “Estes negros, não sei porque arte, se metem debaixo dos elefantes com umas azagais muito largas e grandes, e metendo-se dão-lhes com aquela arma e as mais vezes que podem, e acolhem-se. Começa o elefante de correr a uma e a outra parte, e vão-lhe caindo as tripas delgadas, e com as mãos e pés as vão trilhando e quebrando até que morre. Vai o negro pelo rasto do sangue dar com ele morto. Desfazem-no; dão ao rei o que tem dali, que são as mãos e pés e a tromba; o mais comem eles. Perguntando algumas vezes a alguns negros como se metem debaixo daquele animal tamanho e tão espantoso; respondiam que comiam mesinha para isso. Seja como for, eles o fazem; descreve os búfalos, o gado vacum, fala em onças e leões, a terra destes Nalus é grande, o comércio era feito por povo entreposto, os Beafares. Outra preciosidade para o comércio era o anil, tintas muito procuradas e explica a técnica a partir de árvores como hera e que vão trepando pelas outras árvores e têm as folhas largas: “E os negros, no tempo, apanham estas folhas e as pisam, e fazem uns pães como de açúcar, assim grandes, enfolhados com as folhas de cabopa, e vêm os nossos navios carregarem-se destas tintas, que é um grande trato, para o rio de S. Domingos. E já nos outros anos, governando a Rainha D. Caterina, que Deus haja, se mandou carregar e trazer à cidade de Lisboa uma caravela destas tintas, para as experimentarem, isso levou a Cádis parte da tinta. Não sei de que modo a acharam, mas sei que da ilha de S. Tiago se levou por muitas vezes a tinta que se nela faz a Sevilha e a Cádis e a acharam boa e da erva de que se faz o verdadeiro anil”. Fica-se igualmente a saber que esta tinta era levada para o rio de S. Domingos e utilizada pelos Brames e os Banhuns, e mesmo comercializada no Casamansa, resgatada por escravos.
A viagem no que é a Guiné-Bissau está praticamente a findar. Refere ainda os Bagas, muito atraiçoados isto é matavam à traição, com ritos absolutamente selvagens: “E em os matando cortam-lhes as cabeças e dançam com ela. E depois as cozem e tiram a carne toda, e limpas de carne e miolos bebem por elas, servindo-lhes de púcaros. Nisto não há dúvida. E quantos mais vasos tiver um negro em sua casa mais honrado é. E hão de entender que não hão de ser somente de brancos, se não de quaisquer pessoas que eles possam matar. Suas armas são umas azagais de uns ferros largos e compridos. Usam espadas, frechas e adargas de verga e rota boas. Têm suas almadias, que navegam de uma parte para a outra, e de rio em rio ao longo da terra”.
E assim se chega ao Cabo da Verga, dobrado chega-se ao rio das Pedras, o reino dos Sapes, vamos ter descrições até à Serra Leoa, assim descrita: “Esta terra é tão abundante de tudo que nada lhe falta; abastada de muitos mantimentos; muito fresca de ribeiras de água, laranjeiras, cidreiras, limoeiros, canas-de-açúcar, muitos palmares, e muita madeira excelente. Povoando-se viria a ser de maior trato que o Brasil, porque no Brasil não há mais do que açúcar, e o pau, e algodão; nesta terra há algodão e o pau que há no Brasil, e marfim, cera, ouro, âmbar, malagueta, e podem-se fazer muitos engenhos de açúcar; há ferro, muita madeira para os engenhos, e escravos para eles”. Texto sugestivo em que Álvares de Almada sugere ao rei que venha gente da Europa e de Cabo Verde para aqui, aqui há riqueza, é melhor deixar empresas duvidosas e povoar território fértil até à Costa da Malagueta. E assim se despede de El Rei, com o desejo de ver esta terra povoada de cristãos.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12523: Notas de leitura (548): "Tratado Breve dos Rios de Guiné", por Capitão André Álvares D'Almada (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang
1. Mensagem, de 28 de dezembro último, de Mário Gaspar (*:
Camarada da Tabanca Grande Luís Graça
Enviei-te este texto, e volto a reenviar, visto dizeres estar interessado em saber quem era o comandante Ernesto Vilhena, e não obtive resposta.
Como disse, neste mail que te reenvio – porque fiquei com dúvidas se chegou às tuas mãos – quero acrescentar que o Antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima era o maior coleccionador de máscaras do Mundo. Foi viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa, fundou o Museu do Dundo (**), em Angola e esteve integrado no grupo de professores, na fundação da Universidade Nova de Lisboa. Segue o texto já enviado anteriormente.
Após as dúvidas colocadas sobre o comandante Ernesto Vilhena – como curioso que sou – pesquisei na internet, e com pouco sucesso. Entretanto surgiu-me um elemento novo: “importante colecionador em Portugal de escultura”.
2. O antropólogo Augusto Mesquitela Lima (1929-2007), de orgem caboverdiana, refundador do Museu do Dundo, em Angola, meu professor na Academia Sénior de Lisboa
Como conheci um “importante colecionador de escultura” e que “fundou o Museu Dondo, em Angola” – o antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima –, aqui vão alguns elementos informativos sobre ele:
(i) nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde; (ii) após o liceu, veio Portugal, para completar os seus estudos, justamente numa altura em que os Estudantes da Casa do Império, em Lisboa, já falavam das independências das colónias; (iii) diplomou-se, em 1963, pelo antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU).
Mesquitela Lima irá depois doutorar-se em Etnologia em França, na Sorbonne, quando se viviam as experiências do Maio de 68, tendo sido preso por ter se ter envolvido nesses acontecimentos. Estudou igualmente nos Estados Unidos. Foi, entretanto, viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa.
Além dos países africanos esteve igualmente, entre outros, na Índia, Brasil e China. Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, teve por volta de 30 trabalhos científicos e publicou 25 livros. Reestruturou Museu do Dundo, da XDiamang (que já existia como em Angola, onde estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.
Fez parte do grupo de professores que estiveram na origem da fundação da Universidade Nova de Lisboa (UNL), após 25 de abril de 74. Jubilou-se como Professor Catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que reformularam a antropologia em Portugal, até então muito centrada no antigo ISCSPU.
Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Gostava muito das suas aulas. Um dia, convidou-me a mim e ao Presidente da Direção desta mesma Academia, para visitarmos a sua casa. Inacreditável! Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.
O grito do Professor era “O Caos”, as aulas na Academia não tinham outro tema. Foi de viagem à Índia e adoeceu, uma pneumonia, mas ainda voltou à Academia. Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas. Para além das máscaras, no corredor de sua casa, repleto de recordações das suas viagens, tivemos a oportunidade única de ver: desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos; a cadeira de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio. Concluía o tal estudo científico intitulado “O Caos”.
Faleceu, quando era director do Instituto Superior de Gestão, vítima de pneumonia, a 14 de janeiro de 2007.
3. Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), administrador delegado da Diamang
Foi então que mais motivado fiquei e recolhi o seguinte sobre o comandante Ernesto Jardim de Vilhena [, Reproduzido, na íntegra, com a devida vénia, do Arquivo Histórico da Presidência da República]:
"O Comandante Ernesto Jardim de Vilhena (Capitão de Fragata, na Reserva e Administrador da Companhia de Diamantes) nasceu em Ferreira de Alentejo, em 4 de Julho de 1876, filho de Júlio de Vilhena (1845-1928) – Conselheiro e Ministro de Estado, Par do Reino, deputado e chefe do Partido Regenerador, jornalista e director de jornais, vogal do Supremo Tribunal Administrativo e III Governador do Banco de Portugal – e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim.
Camarada da Tabanca Grande Luís Graça
Enviei-te este texto, e volto a reenviar, visto dizeres estar interessado em saber quem era o comandante Ernesto Vilhena, e não obtive resposta.
Como disse, neste mail que te reenvio – porque fiquei com dúvidas se chegou às tuas mãos – quero acrescentar que o Antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima era o maior coleccionador de máscaras do Mundo. Foi viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa, fundou o Museu do Dundo (**), em Angola e esteve integrado no grupo de professores, na fundação da Universidade Nova de Lisboa. Segue o texto já enviado anteriormente.
Após as dúvidas colocadas sobre o comandante Ernesto Vilhena – como curioso que sou – pesquisei na internet, e com pouco sucesso. Entretanto surgiu-me um elemento novo: “importante colecionador em Portugal de escultura”.
2. O antropólogo Augusto Mesquitela Lima (1929-2007), de orgem caboverdiana, refundador do Museu do Dundo, em Angola, meu professor na Academia Sénior de Lisboa
Como conheci um “importante colecionador de escultura” e que “fundou o Museu Dondo, em Angola” – o antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima –, aqui vão alguns elementos informativos sobre ele:
(i) nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde; (ii) após o liceu, veio Portugal, para completar os seus estudos, justamente numa altura em que os Estudantes da Casa do Império, em Lisboa, já falavam das independências das colónias; (iii) diplomou-se, em 1963, pelo antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU).
Mesquitela Lima irá depois doutorar-se em Etnologia em França, na Sorbonne, quando se viviam as experiências do Maio de 68, tendo sido preso por ter se ter envolvido nesses acontecimentos. Estudou igualmente nos Estados Unidos. Foi, entretanto, viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa.
Além dos países africanos esteve igualmente, entre outros, na Índia, Brasil e China. Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, teve por volta de 30 trabalhos científicos e publicou 25 livros. Reestruturou Museu do Dundo, da XDiamang (que já existia como em Angola, onde estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.
Fez parte do grupo de professores que estiveram na origem da fundação da Universidade Nova de Lisboa (UNL), após 25 de abril de 74. Jubilou-se como Professor Catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que reformularam a antropologia em Portugal, até então muito centrada no antigo ISCSPU.
Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Gostava muito das suas aulas. Um dia, convidou-me a mim e ao Presidente da Direção desta mesma Academia, para visitarmos a sua casa. Inacreditável! Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.
O grito do Professor era “O Caos”, as aulas na Academia não tinham outro tema. Foi de viagem à Índia e adoeceu, uma pneumonia, mas ainda voltou à Academia. Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas. Para além das máscaras, no corredor de sua casa, repleto de recordações das suas viagens, tivemos a oportunidade única de ver: desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos; a cadeira de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio. Concluía o tal estudo científico intitulado “O Caos”.
Faleceu, quando era director do Instituto Superior de Gestão, vítima de pneumonia, a 14 de janeiro de 2007.
3. Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), administrador delegado da Diamang
Foi então que mais motivado fiquei e recolhi o seguinte sobre o comandante Ernesto Jardim de Vilhena [, Reproduzido, na íntegra, com a devida vénia, do Arquivo Histórico da Presidência da República]:
"O Comandante Ernesto Jardim de Vilhena (Capitão de Fragata, na Reserva e Administrador da Companhia de Diamantes) nasceu em Ferreira de Alentejo, em 4 de Julho de 1876, filho de Júlio de Vilhena (1845-1928) – Conselheiro e Ministro de Estado, Par do Reino, deputado e chefe do Partido Regenerador, jornalista e director de jornais, vogal do Supremo Tribunal Administrativo e III Governador do Banco de Portugal – e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim.
"Na qualidade de militar da Marinha Portuguesa, serviu na Administração Colonial desde 1886. Foi Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, na 1ª década do séc. XX e deputado pela Madeira na legislatura de 1908.
"Depois da implantação da República, e apesar de monárquico, foi Ministro das Colónias do 12º Governo da Iª República, chefiado por Afonso Costa (25 de Abril a 10 de Dezembro de 1917) do qual foi igualmente Ministro dos Negócios Estrangeiros interino, entre 19 de Novembro à queda do Governo. Foi Governador dos territórios da Companhia do Niassa e dos Distritos da Zambézia de Lourenço Marques. Foi vogal do Conselho Colonial e Chefe de Gabinete do Ministro do Ultramar e da Marinha João de Azevedo Coutinho (1909- 1910) e do Ministro do Interior Artur de Almeida Ribeiro (1915-1917).
"Foi Administrador-delegado da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, entre 1917 e 1966.
"Foi, ainda, o mais importante coleccionador em Portugal na 1ª metade do século XX (em particular de escultura). Faleceu em Lisboa em 1967.”
[ Ver aqui mais dados sobre a sua carreira.]
3. Nota sobre a Diamang:
Poucos elementos para pesquisa existem sobre diamantes. É um mundo muito complicado. A sua história ficará por contar.
O Engenheiro Sucena que me admitiu na DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SARL., como já afirmara, esteve também na Diamang.
O Presidente do Conselho de Administração da Diamang, Engenheiro Carlos Krus Abecasis (e não Abecassis), também esteve na DIALAP.
O Diretor da DIALAP – foi durante muitos anos – o Engenheiro Manuel Rey Colaço Menano.
Camarada Luís Graça;
Não se trata de uma história da guerra onde estivemos envolvidos, mas interessante. Já agora, e para acabar, tive para ir trabalhar para a Diamang quando regressei da Guiné. Acabei a minha vida profissional por trabalhar em diamantes.
E desculpa o tempo que perdeste a ler a história, muito sumária, de um Homem, também Homem Grande da nossa Cultura o Professor Doutor de Antropologia Augusto Mesquitela Lima. Esse texto já o escrevera. E foi mesmo por essa razão que me veio à memória o colecionismo das máscaras, aliando ao facto o nome Comandante Ernesto Jardim de Vilhena.
Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo
Ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar, nº 03163264
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)
"Depois da implantação da República, e apesar de monárquico, foi Ministro das Colónias do 12º Governo da Iª República, chefiado por Afonso Costa (25 de Abril a 10 de Dezembro de 1917) do qual foi igualmente Ministro dos Negócios Estrangeiros interino, entre 19 de Novembro à queda do Governo. Foi Governador dos territórios da Companhia do Niassa e dos Distritos da Zambézia de Lourenço Marques. Foi vogal do Conselho Colonial e Chefe de Gabinete do Ministro do Ultramar e da Marinha João de Azevedo Coutinho (1909- 1910) e do Ministro do Interior Artur de Almeida Ribeiro (1915-1917).
"Foi Administrador-delegado da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, entre 1917 e 1966.
"Foi, ainda, o mais importante coleccionador em Portugal na 1ª metade do século XX (em particular de escultura). Faleceu em Lisboa em 1967.”
[ Ver aqui mais dados sobre a sua carreira.]
3. Nota sobre a Diamang:
Poucos elementos para pesquisa existem sobre diamantes. É um mundo muito complicado. A sua história ficará por contar.
O Engenheiro Sucena que me admitiu na DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SARL., como já afirmara, esteve também na Diamang.
O Presidente do Conselho de Administração da Diamang, Engenheiro Carlos Krus Abecasis (e não Abecassis), também esteve na DIALAP.
O Diretor da DIALAP – foi durante muitos anos – o Engenheiro Manuel Rey Colaço Menano.
Camarada Luís Graça;
Não se trata de uma história da guerra onde estivemos envolvidos, mas interessante. Já agora, e para acabar, tive para ir trabalhar para a Diamang quando regressei da Guiné. Acabei a minha vida profissional por trabalhar em diamantes.
E desculpa o tempo que perdeste a ler a história, muito sumária, de um Homem, também Homem Grande da nossa Cultura o Professor Doutor de Antropologia Augusto Mesquitela Lima. Esse texto já o escrevera. E foi mesmo por essa razão que me veio à memória o colecionismo das máscaras, aliando ao facto o nome Comandante Ernesto Jardim de Vilhena.
Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo
Ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar, nº 03163264
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)
______________
Nota do editor:
(*) Vd último poste da série > 30 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.
(**) Será mais correto dizer-se que o Mesquitela Lima foi o refundador do Museu do Lundo...
(...) O 'Museu do Dundo', na Lunda-Norte, Angola [, vd. imagem à esquerda, adaptada da Wikipédia], foi criado em 1936 pela então denominada Companhia de Diamantes de Angola / Diamang [, hoje Endiama]. Foi a primeira instituição do género criada em Angola. Em 1942 adopta a designação de Museu Etnológico.
Em 1946 inicia a edição desta colecção tendo contado com a especial participação de José Redinha (curador do Museu - etnólogo e estudioso dos povos de Angola) e com a participação de inúmeros autores nacionais e estrangeiros.
Esta colecção, composta por obras pertencentes à Biblioteca Ultramarina do ex-Banco Nacional Ultramarino, foi digitalizada e incorporada na Biblioteca Digital da Memória de África e do Oriente através de protocolo para a cedência de conteúdos assinado entre a Caixa Geral de Depósitos e a Fundação Portugal-África.
A sua utilização segue o referido nos direitos de utilização do material. (...)
Fonte: Memórias de África e do Oruiente > Biblioteca Digital > Museu do Dundo / Diamang
(**) Será mais correto dizer-se que o Mesquitela Lima foi o refundador do Museu do Lundo...
(...) O 'Museu do Dundo', na Lunda-Norte, Angola [, vd. imagem à esquerda, adaptada da Wikipédia], foi criado em 1936 pela então denominada Companhia de Diamantes de Angola / Diamang [, hoje Endiama]. Foi a primeira instituição do género criada em Angola. Em 1942 adopta a designação de Museu Etnológico.
Em 1946 inicia a edição desta colecção tendo contado com a especial participação de José Redinha (curador do Museu - etnólogo e estudioso dos povos de Angola) e com a participação de inúmeros autores nacionais e estrangeiros.
Esta colecção, composta por obras pertencentes à Biblioteca Ultramarina do ex-Banco Nacional Ultramarino, foi digitalizada e incorporada na Biblioteca Digital da Memória de África e do Oriente através de protocolo para a cedência de conteúdos assinado entre a Caixa Geral de Depósitos e a Fundação Portugal-África.
A sua utilização segue o referido nos direitos de utilização do material. (...)
Fonte: Memórias de África e do Oruiente > Biblioteca Digital > Museu do Dundo / Diamang
Marcadores:
Angola,
Antropologia,
Augusto Mesquitela Lima,
Cabo Verde,
comandante Ernesto Vilhena,
historiografia da presença portuguesa em África,
Mário Gaspar
Guiné 63/74 - P12537: Blogpoesia: 'Receita de Ano Novo', de Carlos Drummond de Andrade, uma prenda do Vasco Pires, um camarada da diáspora , ex-alf mil, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72
1. Mensagem de Ano Novo, datada de 1 do corrente, do nosso camarada da diáspora, Vasco Pires [ ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72], acompanhada da deliciosa "Receita de Ano Novo", poema escrito por um dos maiores poetas da língua portuguesa, o brasileiro Carlos Drumond de Andrade (1902-1987):
Que venha 2014.
Forte abraço. Vasco Pires [, foto atual, à esquerda]
Forte abraço. Vasco Pires [, foto atual, à esquerda]
Receita de Ano Novo
por Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
In: Carlos Drummond de Andrade - [Em linha]: Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 115. [Consult 2 jan 2014]. Disponível em http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/receita-de-ano-novo-carlos-drummond-de-andrade-2/
por Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
In: Carlos Drummond de Andrade - [Em linha]: Discurso de primavera e algumas sombras. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, p. 115. [Consult 2 jan 2014]. Disponível em http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/receita-de-ano-novo-carlos-drummond-de-andrade-2/
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12531: Blogpoesia (364): Quem me dera que não ficasse tudo igual (Juvenal Amado)
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12531: Blogpoesia (364): Quem me dera que não ficasse tudo igual (Juvenal Amado)
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12536: O que é feito de ti, camarada ? (4): Carlos Marques dos Santos, conimbricense (e não coimbrão!...), hoje aniversariante, ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... No Hotel de Bambadinca, em março de 1969, em trânsito, vindo de férias...
[Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo dos vivos (ou, melhor, das vivas...). Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos, lavados, e até a frigorífico, elétrico!]. (LG)
[Se bem percebi, a foto é de Bambadinca. Março de 1969. Os furrieis Rei e Santos deveriam estar a aguardr transporte de Bambadinca para Mansambo, depois do gozo da sua licença de férias na Metrópole] (LG)
Guiné > Zona Leste > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1969 (?) > O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo (1968/69), num barco civil, a caminho de Bissau.
[Era um dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria, que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, e Bambadinca-Bissau, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e, a seguir, o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Intendência militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava a alimentação e tudo o mais que era preciso para saciar o "ventre da guerra" da Zona Leste.] (LG).
Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: L.G.]
1. O Carlos Marques dos Santos foi um dos nossos primeiros "tertulianos", termo que hoje tendemos a substituir por "membros da Tabanca Grande" ou "grã-tabanqueiros"... Apareceu, se não me engano, em dezembro de 2005, e trouxe com ele, uns meses depois, em março de 2006, o seu camarada Torcato Mendonça... Por razões de saúde, já não está tão ativo. Mas fazemos questão de o relembrar aqui, hoje, em dia de aniversário. Quando eu ia à FCT da Universidade de Coimbra, em trabalho, cheguei a estar com ele várias vezes. Foi também ele o organizador do nosso I Encontro Nacional, em 2006, na Ameira, Montemor o Novo, juntamente com o Paulo Raposo.
Curriculum Vitae (abreviado) [com data de 5/1/2006]:
(i) Assentou praça em Mafra (EPI), em Setembro de 1966;
(ii) Especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas;
(iii) Iniciou a formação da Companhia (CART 2339) no RAL 3, Évora, em 28 de Agosto de 1967;
(iv) Chegou a bordo do T/T Ana Mafalda (que "parecia uma traineira") (1), em 21 de Janeiro 1968;
(v) Esteve em Fá Mandinga e Mansambo, onde foi rendido pela CCAÇ 2404;
(vi) Realizou treino operacional com a CART 1746 (Xime) , entrando em intervenção no Setor L1 até 22 de Novembro de 1969;
(vii) Em 3 e 4 de Fevereiro de 1968 esteve envolvido, com o seu Gr Comb, no cordão de tropas que, à volta de Bafatá, fez segurança ao Presidente da República, Américo Tomaz ["Laranjas apanhadas das árvores e bolachas foi a nossa comida, em dia e meio];
(ix) Em Fevereiro de 1968 inicia-se a construção, de raiz, do futuro aquartelamento sede de Mansambo, com a construção e ocupação programada para operacionais e serviços;
(x) O seu Grupo de Combate (o 3º) só em Julho de 1968 se deslocaria definitivamente de Fá para este aquartelamento fortificado [, o projecto era do BENG 447];
(xi) Foi inaugurado oficialmente em 21 de Janeiro de 1969, com a presença de diversas entidades e grande festa: a nova iluminação – até aí era com bazookas [garrafas de cerveja grandes] e mechas embebidas em óleo – foi inaugurada com "fogo de artifício” – balas tracejantes a serem disparadas de G3];
(xii) Mansambo (a Cart 2339) foi atacado em 28 de Junho de 1968, pela primeira de muitas vezes;
(xiii) "Samba Silate, Demba Taco, Taibatá, Galo Corubal, Salicuta, Dando, Nova Lamego, Che-Che, Canjadude, Enxalé, Mato Cão, Geba, Cantacunda (onde os turras levaram 11 dos nossos – Abril de 1968), Sarabanda, Sincha Setu, Camamudo, Sare Gana, Banjara, Sambulacunda, Bantajã, Finete, Satecuta, Xitole, Burontoni, Poidão, Ganguiró, Bissaque, Moricanhe, Mussa Iero, Belel, Sinchã Camisa, Sambulacunda, etc., etc., etc.,: pelo menos um terço do Leste da Guiné (hoje Bissau) foi feita a pé. Sem água, sem comida, com abelhas e formigas, com mortos, feridos e desaparecidos";
(xiv) Regressou a casa, em Dezembro de 1969, no navio Uíge, a 13 desse mês, dois anos após a partida para a Guiné;
(xv) É natural de Coimbra (freguesia de Santo António dos Olivais);
(xvi) Estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro, em Coimbra;
(xvii) Foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e Vice-Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra;
(xviii) Diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, nome alterado depois do 25 de Abril de 74, fazendo parte da Comissão de Gestão);
(xix) Efectivou na Escola Secundária de Avelar Brotero, onde integrou como Vice-Presidente o Conselho Directivo;
(xx) Foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos;
(xxi) Aposentado, e caravanista apaixonado, reside em Coimbra.
2. Na decida altura, em 2006, eu e o Humberto Reis escrevemos, a propósito das três primeiras fotos que hoje republicamos com melhor resolução e em formato "extra-large":
Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).
A sede da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ 2852, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).
Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras unidades) arranjasse sempre poiso para os alferes e furriéis milicianos em trânsito... Mais do que cumplicidade, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12).
(iii Humberto Reis, legendando as fotos [com comentários de L.G.]:
"[Foto nº 1: ] Carlos Marques, acertaste em cheio. É ele mesmo, o Soares, sapador, que mora aqui na zona de Lisboa (mais concretamente, em Caneças, concelho de Loures).
[O Humberto Reis confirma que o Soares que aparece na foto é o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel miliciano sapador de minas e armadilhas, pertencente à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do BCAÇ 2852. Foi um dos co-organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca (1968/71) que se realizou em 2004, em Faro. Em 1999, realizou-se outro convívio, já aqui relembrado, na Quinta da Graça, em Riade, Resende, junto ao Rio Douro. A Quinta da Graça é propriedade de outro camarada do nosso tempo, e da mesma unidade (CCS do BCAÇ 2852), o Pinto dos Santos, que era furriel de operações e informações (se não me engano).]
"Fotos 1 e 2: O que está na 1ª fila do lado esquerdo é o Ranger Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de quem sou visita habitual lá de casa. Temos dado uns belos passeios juntos com as nossas Marias (também mora aqui na região de Lisboa, em Fernão Ferro, cocnelho do Seixãl). O que está ao teu lado é o radiomontador Carlos de Oliveira Pinto que mora no Porto, aliás o Sr. Engº Pinto....
"Na foto 3 pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS do BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".
[Um frigorífico (eléctrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! O nosso só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieam render, em finais de Fevereiro de 1971. E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra]...
______
Notas de L.G.:
Último poste da série > 2 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)
(i) Luís Graça:
Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).
A sede da CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ 2852, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).
Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras unidades) arranjasse sempre poiso para os alferes e furriéis milicianos em trânsito... Mais do que cumplicidade, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12).
(iii Humberto Reis, legendando as fotos [com comentários de L.G.]:
"[Foto nº 1: ] Carlos Marques, acertaste em cheio. É ele mesmo, o Soares, sapador, que mora aqui na zona de Lisboa (mais concretamente, em Caneças, concelho de Loures).
[O Humberto Reis confirma que o Soares que aparece na foto é o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel miliciano sapador de minas e armadilhas, pertencente à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do BCAÇ 2852. Foi um dos co-organizadores do convívio anual da malta de Bambadinca (1968/71) que se realizou em 2004, em Faro. Em 1999, realizou-se outro convívio, já aqui relembrado, na Quinta da Graça, em Riade, Resende, junto ao Rio Douro. A Quinta da Graça é propriedade de outro camarada do nosso tempo, e da mesma unidade (CCS do BCAÇ 2852), o Pinto dos Santos, que era furriel de operações e informações (se não me engano).]
"Fotos 1 e 2: O que está na 1ª fila do lado esquerdo é o Ranger Fernando Jorge da Cruz Oliveira, de quem sou visita habitual lá de casa. Temos dado uns belos passeios juntos com as nossas Marias (também mora aqui na região de Lisboa, em Fernão Ferro, cocnelho do Seixãl). O que está ao teu lado é o radiomontador Carlos de Oliveira Pinto que mora no Porto, aliás o Sr. Engº Pinto....
"Na foto 3 pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS do BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".
[Um frigorífico (eléctrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! O nosso só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieam render, em finais de Fevereiro de 1971. E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra]...
______
Notas de L.G.:
Último poste da série > 2 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)
Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)
Caríssimos amigos, Luís Graça e Carlos Vinhal,
A participação ativa nas "narrativas da guerra" (*) foi um momento que se engloba no percurso da memória, na plena liberdade de tempo e de espaço. Seguir adiante não significa indiferença ou menor apreço pelo notável trabalho histórico que emergiu e se consolidou, mas antes uma via de percurso, depois de atingidos os objetivos a que me propus, de dar resposta a algumas interrogações trazidas TO da Guiné.
Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente !
Felizmente com saúde, ando por aí como soe dizer-se, saboreando o espairecer descontraído da vida e ajudando os meus, sobretudo os mais pequenitos nas suas lides escolares !
Parabéns pelo vosso trabalho num apego entusiasta na construção de tão relevante contributo para a história.
Um bom ano de 2014, com uma luz verde, mesma que pequenina, a brilhar lá ao fundo !
Um grande abraço para ambos.
Afonso M.F. Sousa
2. Comentário de L.G.:
Afonso, em meu nome, e do Carlos Vinhal, bem como de todos os demais editores e colaboradores do nosso blogue e de todos os restantes membros da Tabanca Grande, de que tu és um dos primeiros dez a aparecer (em junho de 2005, se não erro), recebe o meu, o nosso muito obrigado pelo teu cartão de boas festas e sobretudo pelas notícias (boas) que nos dás, a começar pela tua saúde. É bom sabermos que estás "ativo, produtivo e saudável" e que continuas a ter apreço pelo trabalho de reconstituição, preservação e divulgação das nossas memórias, enquanto ex-combatentes no TO da Guiné.
Sei que nunca te esqueces de nos mandar o cartanito de boas festas, e nomeadamente desde 2010, em que decidiste explorar outros caminhos da memória. Desejo-te boas explorações, espero que estejas agora à altura do teu novo papel de mestre e de avô, e reitero o meu convite para continuares a publicar, no nosso blogue, os teus TPC [leia-se: dossiês...] sobre a nossa guerra e a nossa Guiné, sempre que achares oportuno e conveniente, ou te der a audade da região do Cacheu por onde andaste... Bons augúrios para 2014. Um alfabravo, Luís Graça.
________________
Nota do editor
(*) Vd. poste de 26 de julho 2013 > Guiné 63/74 - P11870: O que é feitio de ti, camarada ? (2): Afonso M. F. Sousa, residente em Maceda, Ovar, ex-fur mil, trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)
Guiné 63/74 - P12534: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (1): Introdução, Biografia, Índice das Unidades, Estruturas Militares, Órgãos de Comando e Número de Unidades mobilizadas
1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2013:
Boa tarde
Depois de "revisto e actualizado", remeto o texto que relembra as localidades e Unidades Militares que existiam nos anos de 1960/1974, tentando assim dar mais um contributo para a divulgação da nossa terra.
Para "facilitar" o trabalho dos editores, vai num unico ficheiro que, assim, pode ser dividido de acordo com as necessidades editoriais.
Espero que ajude para "memória passada e futura"
Abraço
Zé Martins
(Continua)
____________
Nota do editor
Como reputamos de muito interesse o trabalho do nosso camarada José Martins, composto por 67 páginas, hoje começado a publicar, sugerimos a quem quiser fazer arquivo destes quadros que clique no botão direito do rato, e no menu escolha "Guardar imagem como..." uma vez que o que se publica são imagens no formato JPEG.
Carlos Vinhal
Boa tarde
Depois de "revisto e actualizado", remeto o texto que relembra as localidades e Unidades Militares que existiam nos anos de 1960/1974, tentando assim dar mais um contributo para a divulgação da nossa terra.
Para "facilitar" o trabalho dos editores, vai num unico ficheiro que, assim, pode ser dividido de acordo com as necessidades editoriais.
Espero que ajude para "memória passada e futura"
Abraço
Zé Martins
(Continua)
____________
Nota do editor
Como reputamos de muito interesse o trabalho do nosso camarada José Martins, composto por 67 páginas, hoje começado a publicar, sugerimos a quem quiser fazer arquivo destes quadros que clique no botão direito do rato, e no menu escolha "Guardar imagem como..." uma vez que o que se publica são imagens no formato JPEG.
Carlos Vinhal
Guiné 63/74 - P12533: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (13): Foto aérea, nº 2 (Humberto Reis)
Guiné > Zona leste < Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/71 > Foto nº 2 > Vista aérea, do álbum do fur mil op esp Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto aérea nº 2 (Humberto Reis) > Legendas de Fernando Gouveia
1 – Avenida principal e igreja [, em frente, o edifício da administração colonial e, mais acima, o hospital local].
2 – Início do caminho que levava à Mãe d’água e que era designado de “Sintra de Bafatá”, um lugar muito aprazível onde havia mesas para piqueniques.
3 – Parque infantil e estátua de Muzanty.
4 – Ancoradouro dos barcos que vinham de Bissau.
5 – Mercado.
6 – Piscina (meia vazia) e zona de apoio com bar.
7 – Ponte sobre a foz do rio Colufe [, afluente do Geba], que já não existe.
8 – Ancoradouro das canoas dos pescadores.
Foto: © Humberto Reis (2006).Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]
1 – Avenida principal e igreja [, em frente, o edifício da administração colonial e, mais acima, o hospital local].
2 – Início do caminho que levava à Mãe d’água e que era designado de “Sintra de Bafatá”, um lugar muito aprazível onde havia mesas para piqueniques.
3 – Parque infantil e estátua de Muzanty.
4 – Ancoradouro dos barcos que vinham de Bissau.
5 – Mercado.
6 – Piscina (meia vazia) e zona de apoio com bar.
7 – Ponte sobre a foz do rio Colufe [, afluente do Geba], que já não existe.
8 – Ancoradouro das canoas dos pescadores.
Legendas: © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.
1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à direita]
____________
1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à direita]
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 30 de dezembvro de 2013 > Guiné 63/74 - P12525: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (12): Foto aérea, nº 1 (Humberto Reis)
Último poste da série > 30 de dezembvro de 2013 > Guiné 63/74 - P12525: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (12): Foto aérea, nº 1 (Humberto Reis)
Subscrever:
Mensagens (Atom)