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terça-feira, 1 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22247: 17º aniversário do nosso blogue (11): O nosso querido mês de férias: como ganhei o "Prémio Governador da Guiné" e tive direito a uma viagem, atribulada, no "Se-Cais-Morres" (Sky Master), da FAP, em 1964, até Lisboa, via aeroporto do Sal, Cabo Verde (Alcídio Marinho, 1940-2021)


Douglas C54 Skymaster, da Força Aérea dos EUA. Desenvolvido pela Douglas Aircraft Company, teve o seu primeiro voo em 1938, Produziram-se cerca de 1200 unidades entre 1942 e 1947. Deixou de estar operacional em 1975. [A nossa FAP recebeu 17 aviões, C-5r4 e EDC Skymaster entre 1947 e 1974, segundo informação de António Luís, um dos editores da página Pássaro de Ferro . Crónica da Aviação, onde também colaboração o nosso grã-tabanqueiro José Matos]

Foto: Cortesia de Wikipedia.


1. Há uns anos atrás éramos todos mais novos e tínhamos histórias para contar... Do tempo em que fizemos a guerra pensando em, com ela, ganhar a paz... na Guiné, entre 1961 e 1974... 

 Hoje estamos todos (ou quase todos) a lamber as feridas da guerra e da vida... O tempo é inexorável e não perdoa. O nosso blogue fez,  em 23/4/2021,  dezassete anos de vida... O que é muito, na Net, nas redes sociais... E é muito na vida de um homem, neste pobre planeta que queremos deixar saudável e seguro para os nossos netos e bisnetos...

partir daqui, o nosso blogue está a prazo (, aliás, sempre esteve, como cada um de nós): um dia destes morre de ataque cardíaco, ou de AVC, ou de Civid-19,  ou de Alzheimer ou de cancro no pâncreas...  Ou passado a ferro na passagem de peões. Os blogues também morrem, tal como os que o fazem e os leem... É triste mas é verdade... 

E tudo isto vem a propósito do nosso saudoso camarada Alcídio Marinho que foi para a cova sem contar (por escrito) tudo o que viu,  viveu e sofreu  na Guiné, como fur mil da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65). 

Em sua homenagem (e em louvor do nosso blogue, que está a  comemorar em 2021 dezassete anos de vida), voltamos a reproduzir uma deliciosa história do Alcídio Marinho, publicada na série "O nosso querido mês de férias" (*)


2.  O  nosso querido mês de férias  > Como ganhei o "Prémio Governador da Guiné" e tive direito a uma viagem, atribulada, no "Se-Cais-Morres" (Sky Master), da FAP, em 1964, até Lisboa, via aeroporto do Sal, Cabo Verde 

por Abílio Marinho (1940-2021)

A minha vinda de férias à metrópole teve uma estória curiosa.

Até meio do ano 1964, creio que ninguém era autorizado a vir de férias à Metropole, quem queria gozar férias e tinha direito, ia para Bissau.

Ora, como o 3.º pelotão da CCAÇ 412 fora destacado para o Enxalé, de 28 de outubro de 1963 a 25 de janeiro de 1964, então comecei a montar armadilhas todos os dias, por carolice e necessidade, e,  como não tinha curso, fui agraciado com um louvor pelo Comandante da Companhia, o  Capitão Braga (de alcunha o "Lambreta",  pois com os lábios fazia um barulho que se assemelhava a uma lambreta) [de seu nome completo, Manuel Joaquim Gonçalves Braga, cap inf].

Quando já estava em Cantacunda (de junho de 1964 a fevereiro de 1965), perto de Fajonquito, durante o mês de outubro, tivemos conhecimento que o sr. Brigadeiro Schulz [, um ano depois promovido a general,] , havia instituído um prémio, o "Prémio Governador da Guiné", para agraciar os combatentes que se notabilizasse na efectivação de baixas ao inimigo ou outros feitos em combate.

Qual foi o meu espanto, quando recebi a informação do sr. Capitão Braga que me havia sido atribuído o referido prémio e que podia ir gozar um mês de férias onde desejasse. Assim marquei a minha vinda a casa.

Como já não se passava na estrada, Bafatá - Banjara - Mansabá - Mansoa - Bissau, tive que ir para Bissau de barco. À época os barcos iam até ao Capé e Contuboel. Tomei o barco em Bafatá e rumei a Bissau, no dia 30 de outubro de 1964.

Embarquei em 31 de outubro de 1964, em Bissalanca, num avião da Força Aérea (Dakota-Skymaster ou "Se-Cais-Morres"), rumo ao Sal, Cabo Verde, com passagem pelo aeroporto militar dos Gambos, nas Canárias,  mas quando chegámos a Lisboa, estava uma tempestade enormíssima, pois que todos os aeroportos da Península Ibérica estavam encerrados. Quando estava a amanhecer,  olhamos pelas janelas e só víamos mar e depois depois uma ilha, era a ilha do Sal, outra vez.

No avião vinha, no meio, um motor de um F-86 (!)  e um paraquedista,  de maca, acompanhado de uma enfermeira,  e outros militares.

Desembarcámos e fomos comer às instalações da CCaç 413 que havia ido connosco para
a Guiné, com destino a Mansoa, tendo a meio da comissão sido deslocada para a ilha do Sal, Cabo Verde.

Aí comemos lagosta a todas as refeições, eles já enjoavam a lagosta. Éramos todos conhecidos pois como nós também pertenciam ao BC 10, Chaves,  e os sargentos éramos todos do mesmo curso, o de 1961.

O Aeroporto do Sal  só tinha uma pista e no final da mesma havia a torre de controle.

Na tarde desse dia, tornamos a embarcar e,  quando arrancámos para levantar, ouvimos um estrondo, provocado pela da rebentação de um pneu e só parámos a cerca de 5 ou 6 metros da torre.

Como não havia pneu suplente,  ficámos três dias no Sal até chegar um pneu, no avião da TAP. No dia 3 de novembro de 1964, reembarcámos para Lisboa onde chegamos no dia 4.

Passei essas Férias em Amarante, Chaves, Verin (Espanha), (onde tinha uma namorada espanhola) e Porto. 

Passados os trinta dias apresentei-me nos Adidos, em Lisboa, mas não havia alojamento, fui instalar-me numa Pensão na Rua Rodrigo da Fonseca, a aguardar passagem aérea para Bissau, o que veio a suceder só no dia 6 de dezembro de 1963. 

Chegado a Bissau apanhei um barco civil, para Bafatá, seguindo de novo até Cantacunda.

Nas Canárias comprei um relógio por 500 escudos e uma máquina fotográfica Konica também por 500 escudos.

Do outro pessoal da CCAÇ 412,  apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá

Alcidio Marinho
Porto, 22 de setembro de 2015 às 13:18

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Notas do editor:


Restantes postes da série:

7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15211: O nosso querido mês de férias (17): Vim a casa uma vez, em agosto de 1965, na TAP, num Super Constellation, como simples passageiro... e estava longe de imaginar que cinco anos depois estaria aos comandos de um Caravelle, como piloto da mesma, saudosa, companhia... (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

6 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15209: O nosso querido mês de férias (16): Férias em Bissau para tirar a carta de condução de pesados (Abel Santos)


6 de Outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15205: O nosso querido mês de férias (15): em agosto de 1971, entre a praia da Nazaré e as tertúlias de Vila Franca de Xira... enquanto em Lisboa, tudo na mesma, isto é, a vida corria... (Hélder Sousa)

5 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15204: O nosso querido mês de férias (14): À procura de aconchego, e de amor temperado com algumas paródias, que um mês, naquele tempo, passava muito depressa (José Manuel Matos Dinis)

1 de outubro de 2015 > Guiné 63/73 - P15185: O nosso querido mês de férias (13): Os soldados não se podiam dar o luxo de ter férias (José Manuel Cancela, ex-sold ap metr, CCAÇ 2382, 1968/70) / Proporcionei a alguns soldados do meu grupo de combate umas modestas férias em Bolama (António Murta, ex-alf mil inf., 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513, 1973/74)

30 de setembro de 2015 > Guiné 63/73 - P15183: O nosso querido mês de férias (12): Era para entrar de Licença em Agosto, mas fui vítima de uma injustiça, acabando por a gozar de 22 de Setembro a 26 de Outubro (Mário Vitorino Gaspar)


27 de setembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15165: O nosso querido mês de férias (7): Entre 15 de Fevereiro e 21 de Março de 1971, a ilusão de estar longe da guerra (Carlos Vinhal)

27 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15164: O nosso querido mês de férias (6): Vim duas vezes a casa... Da primeira vez, regressei a 18/12/1968, para passar obrigatoriamente o Natal em Bambadinca... Apanhei uma boleia no DO 27 do meu amigo Honório (Ismael Augusto, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)

27 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15163: O nosso querido mês de férias (5): vim uma vez a casa, a Vila Nogueira de Azeitão, em 18/9/1965, mas o Super Constellation da TAP, por avaria, só partiu a 22... A viagem custou-me 6160$70 (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem,

26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15160: O nosso querido mês de férias (4): Vim duas vezes à metrópole: na 2ª vez, beneficiei de mais 5 dias de licença, por ter tido um louvor em combate... (E, mais tarde, beneficiei da isenção do pagamento de propinas dos meus filhos quando entraram na universidade) [José Augusto Miranda Ribeiro, ex-fur mil da CART 566 (Cabo Verde, Ilha do Sal, 1963/64, e Guiné, Olossato, 1964/65)]

26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15159: O nosso querido mês de férias (3): 10 de março de 1970: eu a partir e o ministro do ultramar, Silva Cunha, a chegar, no mesmo Boeing 707, da TAP

22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15143: O nosso querido mês de férias (2): os testemunhos de Henrique Cerqueira ("Em Bissau, dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro"), José Carlos Gabriel ("A minha filha, de 5 meses, teve um choque muito grande ao ver-me no aeroporto, de bigode") e João Silva ("Foi ótimo vir no inverno, a saudade era do frio")

22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15138: O nosso querido mês de férias (1): Maio de 1969: nessa altura o bilhete de ida e volta, na TAP, custava 4 mil escudos (Paulo Raposo, ex-alf mil Inf, MA, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

(**) 11 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22192: 17º aniversário do nosso blogue (10): por que é que das "lavadeiras" ao "sexo em tempo de guerra" vai um passo ? (Carlos Arnaut / Cherno Baldé / Luís Graça)

quinta-feira, 25 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22034: Memória dos lugares (419): Ilha do Sal, ao tempo da CART 566 (17/10/1963 - 25/7/1964) (José Augusto Ribeiro, 1939-2020)


Brasão da CART 566, "Bravos e Sempre Leais" 
(Ilha do Sal, Cabo Verde, e Olossato, Guiné, 1963/65), "



1. Reproduzimos, agora com melhor resolução, um texto já antigo (*) do nosso saudoso José Augusto Miranda Ribeiro, falecido há 3 meses (**), e que foi fur mil at art, CART 566, tendo estado  9 meses na Ilha do Sal, antes de ser colocada no Olossato, região do Morés, Guiné.  

O texto merece ser divulgado: o Ribeiro era um homem e um militar com sensibilidade sociocultural acima da média, até pelo facto de ser professor do ensino primário, e a sua descrição das condições de vida na ilha têm interesse documental para se poder cotejar com a dramática experiência vivida pelo 1º batalhão expedicionário do RI 11 (Setúbal) que lá esteve duas décadas antes, ao tempo da II Guerra Mundial (junho de 1941 / março de 1943, acabando a comisão, em dezembro desse ano, na ilha de Santo Antão). (***) 

Em comentário,que também reproduzimos no final, o Ribeiro confirmava, citando uma fonte local, aquilo que já sabíamos: além de 16 mortos, o batalhão do RI 11,  teve cerca de metade de baixas por doença, devido à fome na Ilha do Sal... Tudo isto são malhas que o Império teceu... [A esse batalhão da fome pertenceu o pai do nosso camarada Augusto Silva Santos, o então 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989)].(****)

Vinte anos depois ficamos a saber que a ilha do Sal (*****) funcionava, na logística da guerra colonial, pelo menos em 1963/64,  com uma espécie de plataforma de reserva do CTIG: várias das primeiras companhias colocadas no TO da Guiné, passaram por Cabo Verde, e em especial pela Ilha do Sal...Além da CART 566 (1964/65),vieram de Cabo Verde a CART 349 (1963/64), a CCAV 353 (1963/64), a CCAV 678 (1964/66)... A CCAÇ 414, por seu turno, esteve primeiro na Guiné e depois foi para Cabo Verde (1963/64).

Outro apontamento não menos interessante: o nosso camarada, aproveitou a estadia de 9 meses na Ilha do Sal, para  levar a exame da 4ª classe muitos dos homens da sua companhia (e e em especial do 2º pelotão)... (LG)

 
 















Texto (e fotos): © José Augusto Miranda Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentários ao texto (que infelizmente não teve a continuação prometida) (*):

(i) Hélder Sousa:  

Caros camaradas: É interessante conhecer estas passagens. Como temos (tinha) o pensamento na Guiné,  não ocorria pensar nas permanências em Cabo Verde. Para mim, Cabo Verde era qualquer coisa que tinha tido tropa durante a 2ª Guerra Mundial... Afinal, agora acabei de recordar que as divisas de Furriel e o dolmen me foram cedidos por um amigo e antigo colega de escola em Vila Franca, que fez a sua comissão de serviço em Cabo Verde. (...)

(ii) Augusto Silva Santos:

Camarada e Amigo [Ribeiro], é sempre com alguma emoção que leio relatos da nossa passagem por terras da Guiné, por aquilo que efectivamente nos toca, mas essa emoção é para mim ainda mais forte, quando se relata algo sobre Cabo Verde, nomeadamente sobre a Ilha do Sal. Se tiveres tempo e oportunidade, sugiro-te que consultes no nosso blogue o post P9674 (Meu pai, meu velho, meu camarada - Feliciano Delfim dos Santos) (***)e  vais perceber o porquê. 

Se nos anos sessenta foram essas as condições que a vossa Companhia  foi encontrar, imagina o que não foi viver uma situação idêntica 20 anos antes, portanto nos anos 40. Devido à minha actividade profissional entre 1968 / 1970, tive ocasião de conhecer bem algumas ilhas de Cabo Verde, e também um pouco da ilha do Sal, e sei bem dar o valor o que terá sido a vossa passagem por aquelas paragens. (...)

(iii) César Dias:

Também eu na ida para a Guiné fiz escala na ilha do Sal, e recordo-me dessa imagem da mulher que empurra o barril de água, penso que salobra, pois não foi fácil fazer a barba nesse dia com aquela água. (...)

 (iv) José Augusto Miranda Ribeiro:
 
Caros amigos e Camaradas:  (...) Fiquei bastante admirado ao ter lido o que escreveram sobre a Ilha do Sal. Em 1963 conheci um velho funcionário da Companhia francesa que extraia sal. Ele trabalhava na secretaria daquela empresa, na Pedra do Lume e com ele falei muitas vezes sobre assuntos sérios, passados ali no Sal. 

O batalhão  [ do RI 11, Setúbal] que esteve naquela ilha (****) , segundo dizia o tal amigo cabo-verdiano de cabelos todos brancos, tinha ido para Cabo Verde, por castigo, tinham feito um levantamento de rancho numa unidade militar em Lisboa. 

Seria assim ou não? Não sei, mas talvez fosse uma forma de seleção. Falou-me numa grande epidemia que matou mais de metade dos militares ali estacionados. Naquela altura ninguém podia entrar nem sair do Sal, para que a epidemia não alastrasse às restantes ilhas. Um dia apareceu uma equipa de médicos que fizeram o diagnóstico a todos os doentes. Esse diagnóstico foi enviado para Lisboa e era igual para todos. Causas da doença: FOME, FOME, FOME... 

Naquele tempo, em plena II Guerra Mundial não era facil mandar um navio pelo Atlântico, por isso viviam mal e mal alimentados. Mas parece que, com isto, o Salazar resolveu, finalmente mandar esse navio. No cemitério de Santa Maria havia uma zona reservada para os militares, daquele batalhão que iam morrendo diariamente. No dia de Finados de 1963, a CArt.566 foi prestar honras militares naquele local, onde se ouviu um discurso do representante do comandante do CTI de Cabo Verde. 

Sei que a estrada entre a povoação de Espargos (Aeroporto) e a capital Santa Maria foi construída e calcetada por esses nossos camaradas. Era a única estrada da ilha com cerca de 20 quilómetros, embora com muitas zonas degradadas pelas ondas do mar e pelas dunas de areia que apareciam de um dia para o outro. Muitas histórias ouvi sobre esses militares, que contarei oportunamente. (...)



 Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Foto nº 27 > "A fome, a miséria"... A grande seca de 1943 foi evocada no romance de Manuel Ferreira, ele próprio expedicionário, "Hora di Bai"... O título diz tudo sobre o dramático dilema que enfrentava o cabo-verdiano de ontem (e de hoje): a vontade de ficar, a necessidade imperiosa de partir.

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:


(***) O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, com pessoal basicamente originário do distrito, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. 

Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

Para além de 16 mortos, o batalhão expedicionário do RI 11 terá tido um número impressionante de baixas por doença, cerca de metade, segundo o depoimento do  José Rebelo. Ao fim de 20 meses de permanência na Ilha do Sal, e na véspera de partir para a Ilha de Santo Antão, os expedicionários do Onze estavam reduzido a 16 oficiais, 22 sargentos e 460 praças..

Vd. em especial os seguintes postes da série:


26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17284: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte XII: O "cancioneiro" da Ilha do Sal

4 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17205: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte X: Foram mil e regressaram menos de quinhentos... Recordações do Fernando Pais, emigrado nos Estados Unidos da América

16 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17147: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VII: Quando o Onze foi castigado, por portaria de 26/6/1941, por alegada falta de galhardia e aprumo na marcha para o embarque, ficando inibido de poder ostentar a bandeira do exército...

13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17133: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VI: 16 mortos, devido a doença e desnutrição, ficaram no cemitério da vila de Santa Maria

23 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17076: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte IV: por castigo ("falta de brio e aprumo" de alguns militares no desfile de embarque!...) , o 1.º Batalhão do Onze é impedido de ostentar a Bandeira do Exército Português... (O cmdt do Onze era o cor inf Florentino Coelho Martins, um português da "escola de Mouzinho")... Na ilha do Sal, "a vida e a morte lá iam decorrendo"...

segunda-feira, 22 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22027: In Memoriam (387): José Augusto Miranda Ribeiro (1939-2020) - Parte II: Foi professor primário e autarca em Condeixa-A-Nova... Em Cabo Verde, apaixonou-se pela fotografia



José Augusto Miranda Ribeiro (Lousã, 1939 - Condeixa, 2020): até sempre, camarada!


Cabo Verde > Ilha do Sal > CART 566 > c.out 1963 / julho 1964 > A paixão pela fotografia


1. Continuação do In Memoriam  respeitante ao nosso camarada José Augusto Miranda Ribeiro,  que nos deixou há três meses, a  20 de dezembro de 2020 (*)
 
Nasceu na Lousã em 1939. Lembra-se de quando a guerra acabou, em 1945, tinha seis anos, e o pai, que era professor e tinha seis filhos,  foi fazer exames à Figueira da Foz. Foi a primeira vez que a criançada viu o mar. (**)

Estudou em Coimbra, no liceu e depois no Magistério Primário.  Depois da tropa e da comissão de serviço em Cabo Verde e na Guiné, passou também dez anos da sua vida em  Angola (1965/1975, em Sá da Bandeira  e em Luanda. Fixou-se em Condeixa-A-Nova, depois do regresso da família (**), onde exerceu a profissão de professor do ensino básico. Foi também autarca, Reformou-sem como professor, em 1999.


2. No sítio da Câmara Municipal de Condeixa pode ler-se, com data de 21/12/2020, a seguinte  "Nota de pesar pelal morte do antigo vereador José Ribeiro
 
(...) A Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova expressa as mais sentidas condolências pelo falecimento do antigo vereador e vice-presidente desta autarquia, José Augusto Miranda Ribeiro.

José Ribeiro exerceu funções de vereador da Câmara Municipal de Condeixa entre março e outubro de 1984, em substituição de outro vereador, para em 1986 assumir dois mandatos consecutivos na vereação municipal, até final de 1993.

José Augusto Miranda Ribeiro era reconhecido como um ser humano excecional, homem de causas e um lutador pela liberdade e que muito contribuiu para o desenvolvimento de Condeixa, enquanto vereador e vice-presidente da Câmara Municipal nos anos 80 e 90 do século passado. (...)

 
3. Foi fur mil, CART 566 (Ilha do Sal, Cabo Verde, outubro de 1963 a julho de 1964 / Olossato, Guiné, julho de 1964 a outubro de 1965) 

Entrou para a Tabanca Grande em 2013, tendo mais de 3 de dezenas de referências no nosso blogue.  E foi a dois nossos encontros nacionais, em 2013 e 2015.

Em Cabo Verde,  apaixonou-se pela fotografia (***).

(...) Em Cabo Verde comprei uma Yashyica Electro 35, a um primeiro sargento que se dedicava ao contrabando. Paguei 1750 escudos, equivalente ao meu ordenado mensal, como professor, no ano anterior em Portugal. Entrei na Guiné com a máquina (em punho) numa mão e a G3 na outra.

Na Ilha do Sal um soldado tinha encontrado à beira mar uma boía de vidro. Fiz-lhe um pequeno orifício, no local onde terá partido uma espécie de argola.Enchi-a de água para fazer de condensador. Claro, sem ferramenta nem material adequado foi difícil fazer um ampliador. Mas fiz. Com as tábuas de um caixote de sabão e o serrote e o martelo que fui pedir emprestado ao nosso pescador, lá ajeitei o dito ampliador. 

Pedi à minha irmã mais nova para comprar, em Coimbra, e me mandar um dispositivo para revelar as películas e o pó que misturei com água para fazer o líquido revelador de películas. Pedi também duas tinas uma para revelar o papel que teria de mergulhar por breves segundos no líquido revelados de fotografias e logo em seguida, na outra tina, teria de mergulhar por mais tempo as fotografias no líquido fixador. Dentro do ampliador tinha um espelho e uma luz branca que projectava raios difusos, um condensador (feito com a boia já referida) que transformava os raios difusos em raios paralelos. Em seguida ficava a película (negativo do filme).

Mais à frente um tubo que tinha a objectiva da velha máquina de fotografar e por fim o papel de fotografia que segurava na parede.A focagem era feita andando com o tubo para dentro ou para fora do caixote, só com a luz vermelha. Quanto mais longe estivesse da parede maior era a fotografia, mas mais imperfeita ficava. Depois apagava a luz vermelha e acendia a branca, por breves segundos, que iria marcar o preto da fotografia.

Fiz centenas que vendi barato, porque também não eram muito perfeitas. (...)


4. Deixou-nos, nomeadamente,  oito postes com memórias fotográficas de Bissorã e do Olossato (***). Fomos recuperar e reeditar algumas das suas fotos de Cabo Verde e da Guiné, publicadas quer no nosso blogue quer na sua página do  Facebook.




Cabo Verde > Ilha do Sal > CART 566 (1963/64>  Um dia de serviço




Cabo Verde  > Ilha do Sal > CART 566 (1963/64) > Uma brincadeira própria dos 20 anos



 Cabo Verde > CART 566 (1963/65) > Viagem de Cabo Verde para Bissau num velho navio, o NPR   Lima, que logo a seguir foi para a sucata.




Guiné > Região do Oio > Bissorã > CART 566 (1963/65) >  O José Augusto Ribeiro. com a mascote Tróia, falecida em combate.


Gyuiné > Região do Oio > CART 566 (1963/65> Olossato > Furriel Ribeiro e 1ºs Cabos de uma Secção do 1.º Gr Comb




Foto (e legenda): © José Augusto Miranda Ribeiro  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Continua)
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Notas do editor:
 


(***) Vd. poste de 9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13995: A minha máquina fotográfica(4): (i) Comprei em Cabo Verde uma Yashica Electro 35 a um primeiro srgt que se dedicava ao contrabando; e (ii) improvisei um estúdio de fotografia (José Augusto Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde, Ilha do Sal, outubro de 1963 a julho de 1964, e Guiné, Olossato, julho de 1964 a outubro de 1965)

(****) Vd. postes de:

14 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10939: Memória dos lugares (205): Olossato, anos 60, no princípio era assim (1) (José Augusto Ribeiro)

19 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10964: Memória dos lugares (206): Olossato, anos 60, no princípio era assim (2) (José Augusto Ribeiro)

24 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11147: Memória dos lugares (218): Olossato, anos 60, no princípio era assim (4) (José Augusto Ribeiro)

26 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11157: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (5) (José Augusto Ribeiro)

28 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11171: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (6) (José Augusto Ribeiro)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21914: Tabanca Grande (514): Eduardo Ablu, ex-fur mil, CCAV 678 (Ilha do Sal, Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/66): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 836


Foto nº 1

Foto nº 2


Cabo Verde >  Ilha do Sal > CCAV 678 > c. maio / julho 1964 > O ex-fur mil Eduardo Ablu




Foto nº 3

Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Fá Mandinga > CCAV 678(1964/66)
 
Da esquerda para a direita: Furrieis [Manuel] Bastos [Soares], [Eduardo]Ablu, [Jorge] Ferreira (pai do Rui Ferreira), Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos e Guimarães.


Foto nº 3

Elvas > 2021 > Foto atual do Eduardo Ablu, novo membro da Tabanca Grande, nº 836  (*)

Fotos (e legendas): © Eduardo Ablu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de Eduardo Ablu, ex-fur mil, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime,1964/66)

Assunto - Tabanca Grande

Data - domingo, 7/02/2021, 16:30

Boa tarde,  Luís.

Conforme pedido, para que possa entrar para a Tabanca Grande, aí vão os meus dados:

(i) sou o Eduardo dos Santos Roque Ablu,
(ii) natural e residente em Elvas, 
(iii) 79 anos de idade.
(iv) casado e 2 filhos,
(v)  e reformado da Banca.

Da vida militar, já sabem por onde andei:  Cabo Verde e Guiné.

Em relação às perguntas que me fazem..., pois não sei onde e como o Jorge Ferreira apanhou a bicicleta (**).

Se o Jorge, andou de LDM, também não posso dizer. Vê-se que fez, pelo menos, uma escolta [, a Catió] (**).

Enquanto estivémos em Bissau, houve colegas que fizeram escoltas e falaram em barcos de nativos a fazerem o reabastecimento. Foram e, só quando chegavam, estavam em segurança.

Envio as fotos pedidas, uma actual [, foto nº 4] e as outras [, fotos nº 1 e 2]  são da Ilha do Sal. Da Guiné já tinha mandei uma em grupo, tirada em Fá Mandinga [, foto nº 4](***)

Um abraço
Eduardo Ablu



Foto nº 5

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Julho de 1965 > Festa de 1º. aniversário da CCAV 678. Na mesa dos oficiais e sargentos, o 1º de frente e da esquerda é o Fur Mil At Manuel Bastos Soares, autor destas fotografias, natural de Vila Nova de Gaia e residente na Maia, Gueifães.


Foto (e legenda): © Manuel Bastos Soares  (2008). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor:

Ok, Eduardo, obrigado por teres aceite o nosso convite. Precisamos cá de malta do teu tempo, do caqui amarelo!... Como te disse, não há quotas nem joias. Já pagaste, já pagámos o pesado imposto....

A tal Companhia de Caçadores Especiais (, a designação caiu depois em desuso,), nº 302, que vocês foram substituir, esteve na Ilha do Sal entre 25/4/1962 e 18/5/1964. Por sua vez, a vossa CCAV 678 desembarcou do T/T do Uíge, na Ilha do Sal, em 20/5/1964. E partiu para o CTIG, três meses depois, no Contratorpedeiro Lima, em 17/7/1964.

Gostávamos de saber, camarada, o que é andaram por lá a fazer e se ainda havia vestígios da presença dos expedicionários do RI 11 (Setúbal) que estiveram no tempo da II Guerra Mundial, vinte anos antes,,, E depois gostávamos de saber também das vossas andanças lá para os lados de Bambadinca, Xime, Ponta do Inglês, que alguns de nós irão conhecer uns anos mais tarde...

Pergunto-te também se manténs contactos com mais camaradas da tua CCAV 678... Na nossa Tabanca Grande o único representante da tua companhia era, até agora, o Manuel Bastos Soares (desde novembro de 2008) (****).

Natural de Vila Nova de Gaia, o Manuel Bastos Soares vive na Maia. (Ficou de me mandar um foto atual, quando lhe telefonei em 2011; não tive mais notícias dele, espero que esteja vivo e de boa saúde.)

Recorde-se ainda que a tua CCAV 678 foi mobilizada pelo RC 7, partiu para o TO da Guiné em 18/7/1964 e regressou à Metrópole em 27/4/1966. Passou por Bissau, Fá Mandinga, Bambadinca e Xime. Teve 3 comandantes, todos do quadro permanente: Cap Cav Juvenal Aníbal Semedo de Albuquerque; Cap Cav Inácio José Correia da Silva Tavares; e Cap Art José Vitor Manuel da Silva Correia.

Pronto, Ablum senta-te no teu lugar, nº 836, e espero que possas a partilhar connosco mais memórias do tempo em que andaste, quatro anos antes de mim, por estes sítios (míticos) do leste: Fá Mandinga, Bambadinca, Xime, Ponta do Inglês...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21743: Álbum fotográfico de Eduardo Ablú , ex-fur mil, CCAV 678 (Ilha do Sal, Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) - Parte I


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha do Sal > Monumento à CCE  [Companhia de Caçadores Especiais], 302. Divisa, "O suor poupa sangue". Na foto, o fur mil Eduardo Ablu. A CCE 304 esteve na ilha do Sal entre 25/4/1962 e 18/5/1964



Foto nº 2 > Cabo Verde > Ilha do Sal > CCAV 678  (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) >  Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.


Foto nº 3 > Cabo Verde >Ilha do Sal > Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro Lima, em 17.07.64.



Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga > CCAV 678 > 
Da esquerda para a direita: Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães.

Fotos (e legendas): © Eduardo Ablu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Eduardo Ablu , ex-fur mil, CCAV 678 (1964/66), que vive em Elvas:

Data - 05/01/2021, 19:16 



Assunto - Envio de fotos


Boa tarde, Luís

Envio estas fotos para publicar no blogue, se assim o entender.
Tenho mais. 

Foto 1-Confirma que a foto do Rui Ferreira é da Ilha Do Sal (*).

Foto 2-Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.

Foto 3-Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro LIMA, em 17.07.64.

Foto 4-Em Fá, Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães

Tenho mais fotos de Cabo Verde e Guiné.
Um abraço.
Ablu

2. C0mentário do editor LG:

Obrigado, camarada Eduardo. O nosso amigo Rui Ferreira vai ficar feliz ao ver estas fotos. E nós enriquecemos a informação sobre a vossa CCAÇ 678, da qual só tínhamos até agora um representante na nossa Tabanca Grande, o Manuel Bastos Soares. 

Tu podes ser o segundo, se entretanto aceitares o nosso convite para te juntares aos 824 amigos e camaradas da Guiné (dos quais, infelizmente, 10% j´q faleceu nestes últimos 16 anos).

Manda-nos dpois fotos tuas, 1 atual e outra do tempo da tropa e da guerra. E fala-nos mais sobre os lugares que ambos pisamos, com uma distância de 5 anos: eu estive na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), e boa parte da nossa atividade  operacional foi no subsector do Xime.

___________

Nota do editor:

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)


Brasão da CCAV 678

1. Comentários ao poste P21726 (*)


(i) Rui Ferreira:

Caro Luís,

Antes de mais obrigado pelos desejos de bom ano, recíprocos para si e todos os camaradas desta Tabanca Grande. 

O meu poste no Facebook foi curto e difícil de escrever devido a problemas técnicos com o meu telemóvel (estas armas também encravam). 

Sou jornalista no jornal "O Jogo", como percebeu no meu perfil, e a guerra na Guiné despertou-me a curiosidade desde cedo.

Na primeira foto não disponho de qualquer legenda nem sequer as habituais dedicatórias à minha mãe e à minha irmã. É, de facto, possível que tenha sido tirada em Cabo Verde, onde sei - e tenho fotos - que o meu pai esteve com a CCAV 678. Também poderá ser de Tavira, onde o meu pai fez parte da recruta. Estremoz não será, porque eu cumpri lá o serviço militar no RC3 (depois da recruta na EPC) e nunca vi semelhante monumento.

Em relação às segunda fotografia, esta com dedicatória, a legenda é precisamente "Escolta, Catió" e data de setembro de 1964. Tenho outra foto com data semelhante, com mais camaradas e igual legenda. Desconheço o porquê de ter estado nessa zona, fora do sector leste L1.

Colocarei à vossa disposição todas as fotos de que disponho, com mais qualidade, já que estas foram reproduzidas com o meu telemóvel. Deixo-lhe também o meu contacto telefónico (917203938), pois seria um prazer falar consigo sobre os locais e as histórias que conheceram e viveram.

Um grande abraço e obrigado pelo post.
Rui Ferreira


(ii) Eduardo dos Santos Roque Ablú:
Cabo Verde > Ilha do Sal > 1964 >
Miitares da CCAV  678 junto ao memorial
da CCE 304 (1962/64)


Sr. Rui Ferreira:

O meu nome é Eduardo dos Santos Roque Ablú, sou natural de Elvas onde vivo. 

Fui colega do seu pai, na CCAV 678,e só ontem dia 3/1/21, pelo colega Manuel Bastos Soares, que através deste blogue soube da morte do seu pai, pela sua publicação. 

Está correcto,o seu pai ter ido a fazer escolta a Catió,porque enquanto nos mantivémos em Bissau no Quartel General, alguns colegas foram fazer escolta a barcos que iam fazer reabastecimento a tropas no mato. 

A fotografia a que se refere. é de facto da Ilha do Sal, em Cabo Verde, é um memorial da CCac que fomos render. 

O meu contacto: Telem  914750585. 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20801: Fichas de unidade (12): CCAÇ 414 (1963/64), do cap Manuel Dias Freixo (Jorge Araújo)


Foto 1 - Março de 1963. Grupo de Sargentos da CCAÇ 414, no N/M "Ana Mafalda", a caminho da Guiné. Foto do camarada Manuel Castro (ex-Fur Enf da CCAÇ 414) – P12687, com a devida vénia.




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.

 A COMPANHIA DE CAÇADORES 414 [CCAÇ 414] - (1963/64) DO CAPITÃO DE INFANTARIA MANUEL DIAS FREIXO
- SUBSÍDIO HISTÓRICO -

1.   - INTRODUÇÃO

As duas condecorações e uma foto sem identificação adquiridas num leilão pelo nosso amigo Carlos Mota Ribeiro, e divulgadas no P20680, levou-o a solicitar ao colectivo da «Tabanca» o eventual reconhecimento da figura de um capitão de infantaria com uma "Cruz de Guerra" ao peito. 

Sobre o seu pedido de ajuda foram avançadas algumas sugestões, nomeadamente através do camarada José Martins (P20702). Manuel Castro, ex-Fur Enf da CCAÇ 414, em comentário ao mesmo poste, afirma que "a fotografia é do sr. Capitão Manuel Dias Freixo, falecido com a patente de coronel. Como capitão foi comandante da Companhia de Caçadores 414, que serviu agregada ao BCAÇ 356, com sede em Catió. Foi meu comandante nessa companhia e conheci de muito perto os seus extraordinários dotes (…)". 
Eu próprio, em resultado de consultas bibliográficas, sugeri o nome do Cap Inf Manuel Francisco da Silva (1933-2015), comandante da CCAÇ 1681 (P20736). O conjunto de informações recolhidas acabaram por serem úteis, pois permitiram elaborar um pequeno subsídio Histórico desta Unidade.

Entretanto, a propósito dos comentários bem-vindos e oportunos do nosso camarada Manuel Castro, cuja Unidade não tem História escrita (Ceca; p 316), decidi dar o meu contributo, elaborando a presente resenha histórica, para memória futura.

2.   SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 414 =
CATIÓ - ILHA DE COMO - EMPADA - FULACUNDA - TITE - NOVA SINTRA - SÃO JOÃO - ALDEIA FORMOSA - BUBA - CACINE - XITOLE - BEDANDA - QUINHAMEL - PORTO GOLE - NHACRA - MANSOA E BISSAU (1963-1964) E CABO VERDE (ILHA DO SAL) (1964-1965)


2.1 - A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG


Mobilizada pelo Batalhão de Caçadores 10 [BC 10], de Chaves, para servir na província ultramarina de Moçambique, foi a Companhia de Caçadores 414 (CCAÇ 414) desviada para o CTIG, tendo embarcado em Lisboa, no Cais da Rocha, em 21 de Março de 1963, 5.ª feira, sob o comando do Capitão Inf Manuel Dias Freixo, seguindo viagem a bordo do N/M "Ana Mafalda" rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 27 do mesmo mês, 4.ª feira.

2.2 - SÍNTESE DA MOBILIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414

A CCAÇ 414, após o desembarque em Bissau, foi integrada nas forças de intervenção e reserva do comando militar, fazendo parte do BCAÇ 356 (Comando e CCS), [23Jan62-17Jan64, do TCor Inf João Maria da Silva Delgado], tendo seguindo, em 01Abr63 e 23Abr63, por fracções, para Catió, a partir de onde tomou parte em várias operações realizadas nas Ilhas de Caiar e Como, de 24 a 27Abr63, e nas regiões de Fulacunda, de 09 a 13Mai63, do Quinara, de 01 a 27Jun63, e de Ganjola, de 17 a 20Set63. 

A partir de 02Ago63, após a remodelação do dispositivo então verificada, assumiu a responsabilidade do subsector de Catió, conjuntamente com a missão de intervenção no Sector Sul, continuando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 356 e depois do BCAÇ 619 [15Jan64-09Fev66, do TCor Inf Narsélio Fernandes Matias], tendo um Gr Comb sido deslocado para Ganjola em 15Dez63, onde substituiu a CART 494 [22Jul63-24Ago65, do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima], e ali permaneceu até finais de Fev64.

Em 01Mar64, foi rendida, por troca, pela CCAÇ 617 [15Jan64-09Fev66, do Cap Inf António Marques Alexandre], tendo sido colocada em Bissau, e integrada no dispositivo do BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65, do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações. 

Em 28Jul64, foi substituída pela CART 566, por troca [vinda de Cabo Verde em 28Jul64-regresso a 27Out65, do Cap Art Adriano de Albuquerque Nogueira], embarcando para Cabo Verde (Ilha do Sal), para continuação (conclusão) da sua comissão de serviço.


Geografia da região de Quinara e Tombali (Sector Sul) com a indicação de alguns dos locais por onde palmilhou, entre Abr63 e Fev64, o contingente da CCAÇ 414 (com outras Unidades), cumprindo as diferentes missões definidas nas Directivas elaboradas pelo Comandante-Chefe, conforme se dá conta no ponto abaixo.



2.3 – SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414

A actividade operacional da CCAÇ 414 teve início três semanas depois da sua chegada ao CTIG, num tempo em que o conflito armado contabilizava, apenas, três meses de actividades subversivas.

► A sua primeira missão decorre no âmbito da Directiva n.º 1 do Cmdt-Chefe, datada de 16Abr1963, onde incluía a participação de forças dos três ramos das Forças Armadas, cuja "ideia de manobra", para a 1.ª fase de operações no Sector Sul, apontava para a actuação simultânea a norte e sul deste Sector, nos pontos de provável localização IN, a fim de o detectar e capturar ou aniquilar.

Uma segunda "ideia" era colher informações necessárias para localizar os grupos IN e explorá-las, prosseguindo na acção até estabelecer a calma e segurança ou, pelo menos, controlar, com relativa eficiência, a situação em cada uma das zonas. Visava, ainda, continuar com acções de limpeza na zona periférica de Catió, para posterior ocupação, com maior densidade de meios, o dispositivo de protecção a fim de facilitar a execução ulterior de uma 2.ª fase de operações.

Missões das Forças

● – FT - Exploração imediata e local das informações existentes ou obtidas no decorrer da acção. - Vigilância dos rios Geba e Corubal a fim de evitar a transposição pelo ln para norte e leste da zona de acção. Forças envolvidas: Comando do BCAÇ 356, CCAÇ 273 [Açoriana; 28Jan62-17Jan64, do Cap Inf Jerónimo Roseiro Botelho Gaspar], no Sector de Cacine: CCAÇ 274 [Açoriana; 28Jan62-17Jan64, do Cap Inf Adérito Augusto Figueira], no Sector de Tite: CCS e CCAÇ 414 na Ilha do Como, e região de Tombali. As acções na região de Tite iniciaram-se em 17Abr63 e na região de Cacine em 20Abr63.

● – FN - Vigilância do rio Geba e do rio Corubal na parte navegável, com o fim de evitar a fuga de elementos inimigos. - Previsão de uma acção de desembarque na praia de Cassumba a realizar à ordem. - Fiscalizar sempre que possível e sem prejuízo da realização dos comboios, os canais entre a Ilha de Como e o Continente.

● – FA - Reconhecimento das zonas de acção. - Apoiar pelo fogo as FT e FN. - Prever acções de intervenção isoladas. - Vigiar o Canal do Geba, rio Corubal, Ilha de Como, e região de Tombali, península de Cacine.

Desenrolar das Acções

● Em 17Abr63, 4.ª feira, pelas 05h00, teve início a 1.ª fase das operações no sul, com a batida da CCaç 274 a norte de Tite. O BCAÇ 237, estacionado em Tite, também actuou, tendo provocado ao In 18 mortos.

● Em 19Abr63, 6.ª feira, foram elaboradas Directivas para emprego das FN e FA nestas operações. A acção da CCAÇ 273 [25Jul61-19Out63, do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito], na península de Cacine, foi adiada por haver informações da existência de grupos In na Ilha de Como e na região de Santa Clara.

● Em 20Abr63, sábado, realizou-se uma actuação nessa região sem grande resultado, apesar de ter sido destruído pela FA um acampamento In, tendo a tropa reembarcado.

● Em 21Abr63, domingo, repetiu-se a acção com apoio aéreo. Este apoio não foi feito de início por se julgar haver na Ilha mulheres e crianças, quando afinal só foram vistos panos de cor estendidos no mato.

● Em 22Abr63, 2.ª feira, a FA bombardeou a tabanca de S. Nicolau. As FT desembarcaram em Uncomené depois de desalojarem o In, e por este ter ocupado um armazém da Firma Brandão, a FA arrasou-o.

● Em 23Abr63, 3.ª feira, a CCAÇ 273 iniciou a operação Cacine-Aldeia Formosa. A CCAÇ 414 transitou para a Ilha de Como com um pelotão da CCS e o Cmdt do BCAÇ 356.

● Em 26Abr63, 6.ª feira, as acções das CCAÇ 273 e CCAÇ 274 continuavam nas suas zonas de acção. A CCAÇ 414, vinda da Ilha de Como, regressou a Catió no dia 28Abr63.

● Em 30Abr63, 3.ª feira, a CCAÇ 414 realizou uma acção em Dissimbile e a CCAÇ 274 em Gamol.

● Em 01Mai63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 terminou a acção em Catissane abatendo guerrilheiros. A CCAÇ 273 estava em acção na área de Cacine e a CCAÇ 274 em Umpassa.

● Em 03Mai63, 6.ª feira, continuavam as acções no Sul: a CCAÇ 274 em Fulacunda; a CCAÇ 273 em Cacine com Grs Comb em Cacoca e Camissorã.

● Em 05Mai63, domingo, a CCAÇ 414 iniciou o reconhecimento do itinerário Catió-São Gregório com o fim de proteger um carregamento de arroz.

● Em 07Mai63, 3.ª feira, a CCAÇ 273 continuava em Cacine, a CCAÇ 274 recolheu a Fulacunda e a CCAÇ 414 a Catió.

Em Maio'63 o In continuou as obstruções nas estradas do Sector Sul com o fim de impedir a saída das NT dos quartéis. A CCAÇ 423 [22Abr63-29Abr65, do Cap Inf Nuno Gonçalves dos Santos Machado], colocada em São João a 06Mai63, teve, antes de ocupar essa povoação, de remover centenas de abatizes ao longo do percurso Bafatá-Xitole-Bambadinca-Fulacunda-São João.

► Para prosseguimento das operações no Sector Sul, iniciadas com a Directiva n.º 1 do Cmdt-Chefe, datada de 16Abr63, é difundido em 10Mai63 um novo Plano de Operações, o 2.º, designado por «Plano Leque». 

◙ Desenrolar das Acções

● A CCAÇ 273 na península de Cacine, a CCAÇ 274 na zona de Fulacunda e a CCAÇ 414 na área de Catió, tiveram alguns contactos com elementos In, que abateram.

● Em 22Mai63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 deslocou-se ao Tombali para remover o corpo de um furriel piloto [Eduardo Nuno Ricou Casals] e destruir o avião caído nessa região, tendo removido 90 abatizes. Regressou no dia 24Mai63, 6.ª feira, a Catió depois de ter levantado mais 170 abatizes. A CCAÇ 423 desobstruiu a estrada cheia de abatizes entre São João e Nova Sintra.

Fontes:




Sobre esta ocorrência, sugerimos a leitura da última edição do livro do António Lobato "Liberdade ou Evasão – O mais longo cativeiro da guerra" – a 5.ª, de 2014, da DG Edições – onde o autor descreve, na primeira pessoa e com circunstanciado detalhe, este acidente aéreo verificando no dia 22 de Maio de 1963 durante o seu regresso da Ilha do Como.


Como alternativa, podem ser consultadas, também, as "Notas de Leitura" elaboradas pelo camarada Mário Beja Santos e publicadas nos P11173; P20534; P20555 e P20577.


► Seguiu-se, depois, a 3.ª fase de operações no Sector Sul incluída na Directiva n.º 3, também designada por «Plano de Operações Seta», cujos movimentos preparatórios tiveram lugar a 31Mai63, 6.ª feira, e a operação a iniciar-se no dia seguinte, 01Jun63, sábado, com a presença do Comandante-Chefe.

Este «Plano Seta» emerge do diagnóstico de que as regiões de Quinara e Fulacunda estavam, na sua quase totalidade, fora do controlo das autoridades dada a intensa actividade desenvolvida pelo In. "A grande maioria das tabancas estão abandonadas refugiando-se a população no mato, embora recolha durante a noite a algumas das não destruídas. A população, em parte coagida, em parte de livre vontade, colabora com o In, nomeadamente na colocação de abatizes e no racionamento de géneros alimentícios, este para fazer face às dificuldades que certamente surgirão na época das chuvas que se aproxima. Tem criado dificuldades à movimentação das NT pela obstrução sistemática das vias de comunicação e montagem de emboscadas. Tem atacado embarcações civis e até militares. Já saquearam casas comerciai em São João."

◙ Desenrolar das Acções

● Em 01Jun63, sábado, pelas 05h00, iniciaram-se os desembarques em locais da margem direita do rio Grande de Buba e os deslocamentos das Unidades para os locais de actuação. A situação das NT no dia 03Jun63, 2.ª feira, era a seguinte: a CCAÇ 274 na região de Gansene, a CCAÇ 414 na região de Brandão, GC CCAÇ 411 [09Abr63-29Abr65, do Cap Inf João Gomes do Amaral] e GC CCAÇ 417 [12Fev63-18Jul64, para Cabo Verde, do Cap Inf Carlos Figueiredo Delfino] na região de Fulacunda, a CART 240 [30Jul61-19Out63, do Cap Art Manuel Fernando Ribeiro da Silva (1.º) e Cap Mil Inf António Gomes de Oliveira e Sousa (2.º)] em Gantongo, a CCAÇ 423 em Ponta Colónia e Ponta João Martins, FEsp em Gã Maior de Baixo e a CCAÇ 273 na região de Cacine.

● Em 04Jun63, 3.ª feira, o Comandante-Chefe seguiu, de jeep, escoltado por um GC da CCAÇ 414 e daí para Nova Sintra, onde estava a CART 240 e depois para São João, quartel da CCAÇ 423. Esteve mais tarde em Tite, vindo de avião de Bolama, tendo acordado com o Cmdt do BCAÇ 237 uma batida ao Iusse. Nos dias seguintes, como até aí, as Unidades montaram emboscadas, efectuaram reconhecimentos, alguns com contacto com o In a quem provocaram baixas, patrulharam as tabancas e realizaram acções de nomadização. As Unidades, no decorrer das suas actuações, mudaram frequentemente de estacionamento, sempre à procura do In, que não se expôs. As FN mantiveram-se em fiscalização na zona Centro-Sul e as FA em acções de ligação, transporte, evacuação e PC Aéreo.

● Em 11Jun63, 3.ª feira, os FEsp actuaram com morteiros em Gã Pedro, que revistaram e destruíram.

● Em 12Jun63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 no decurso duma acção operacional, fez três mortos ao In, apoderou-se de armamento e seguidamente, em Gamalã, em novo confronto fez mais dez morto e vários feridos.

● Em 17Jun63, 2.ª feira, a situação era a seguinte: a CCAÇ 274 na região de Gamol; a CART 240 em Ponta Nova, Sajã, Flaque Nhadal e Brandãozinho; a CCAÇ 414 em Brandão, a CCAÇ 423 em Junqueira e São João e os FEsp desembarcaram em Gã-Chiquinho. Nessa noite o In lançou um violento ataque a Catió.

● Em 18Jun63, 3.ª feira, de manhã, o In voltou a atacar o quartel e a tabanca de Priame. O Cmdt do BCAÇ 356 pediu reforços e o regresso da CCAÇ 414. Determinou-se a ida da Fragata "Nuno Tristão" com FEsp a Catió e a deslocação da CCAÇ 414 por terra. Salienta-se a ousadia em atacar de dia o quartel e a tabanca de Priame. Este ataque ocorreu porque o In sabia que a guarnição de Catió estava reduzida, em virtude do empenhamento de parte dos efectivos na «Operação Seta».

● Em 19Jun63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 chegou sem novidade a Catió e os FEsp desembarcaram e cooperaram com as FT.

● Em 22Jun63, sábado, a CART 240, após forte resistência, destruiu um acampamento em Jabadá-Beafada, fazendo doze mortos, muitos feridos e cinco prisioneiros.

● Em 23Jun63, domingo, foi dada por finda esta operação, onde os seus resultados não foram muito visíveis. Ainda assim, trouxe vantagens por se ter batido toda a região de Quinara-Fulacunda e se ter pacificado a região de São João, com a recolha de duas centenas de Manjacos e famílias. As Unidades recolheram aos seus quartéis com o fim de preparar a ocupação do dispositivo de protecção na época das chuvas. Foi dada ordem à FA para actuar em força contra o In na Ilha de Como, de dia e de noite.

► Com data de 27Jun63, 5.ª feira, é elaborada a Directiva n.º 4 do Comandante-Chefe, propondo um novo plano de operações, designado por «Plano Rede», abrangendo todo o território.

Missões para as Forças Terrestres (FT)

● As FT devem adoptar um dispositivo de protecção reforçado, com áreas de Companhia mais reduzidas, em vez do actual fraco dispositivo. As Companhias do Batalhão de Intervenção, com poucas possibilidades de actuação relativamente ao conjunto do Sector Sul, tomarão conta de áreas de responsabilidade. Passar-se-á a um dispositivo de protecção com capacidade de intervenção local, por área de Companhia, em actuação rápida e de surpresa, evitando-se assim movimentos de tropas que denunciam intenções e dão lugar, por parte do In, a emboscadas, obstrução de itinerários, dispersão, etc. Manter-se-á, contudo, uma força de intervenção de Comando de Sector, sempre que as disponibilidades em efectivos o permitam.

● Em 16Jul63, 3.ª feira, foram constituídos sete sectores (de A a G) em vez dos quatro anteriores, sendo as sedes dos Batalhões respectivamente em: Bissau, Bula, Mansoa, Bafatá, Buba, Catió e Tite.

● Em 16Out63, 4.ª feira, o Cmdt do BCAÇ 356, a CCAÇ 414 e a CART 494, que actuavam em Ganjola, tiveram contacto com numeroso grupo In, que debandou, deixando no terreno três mortos e material.

● Em 18Out63, 6.ª feira, a emissora rádio de Conacri informou ter havido, na região de Catió, encontro de nacionalistas com o Exército (NT), tendo morrido vinte e sete nacionalistas, dois dos quais não eram da Guiné Portuguesa.

● Em 04Nov63, 2.ª feira, a CART 494, reforçada com a CCAÇ 414, actuando na região de Gansana, estabeleceram contacto com o In que deixou no terreno mais três mortos, sofrendo as NT três feridos.

● Em 19Nov63, 3.ª feira, a CCAÇ 414 iniciou a limpeza da estrada Catió-Batambali e no dia seguinte o BCAÇ 513 a limpeza da estrada Buba-Aldeia Formosa.



Foto 2 - 1963. Grupo de Sargentos da CCAÇ 414 regressados de uma operação. Foto do camarada Manuel Castro (ex-Fur Enf da CCAÇ 414) – P12687, com a devida vénia.


Passado um mês, em 23Dez63, através da Directiva n.º 8, o Comandante-Chefe anunciava a preparação da «Operação Tridente».

2.4 - RECONHECIMENTO DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414



Corolário da intensa e bem-sucedida actividade operacional da CCAÇ 414 foram condecorados com a Cruz de Guerra de 2.ª classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento de Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, três oficiais da Companhia de Caçadores 414, a saber:

● Capitão de Infantaria Manuel Dias Freixo.
● Alferes Mil Infantaria Alberto Marques da Costa Lobo.
● Alferes Mil Infantaria Joaquim Teixeira de Sousa.

Cada condecoração teve origem em louvor individual, publicado na OS n.º 3, de 07 de Janeiro de 1964, do CTIG, cujos conteúdos abaixo reproduzimos.











2.5 - BAIXAS DA CCAÇ 414 DURANTE CATORZE MESES NO CTIG (1963/1964)

Da leitura do quadro abaixo, verifica-se que a CCAÇ 414 registou três baixas durante a sua comissão de catorze meses no CTIG (27Mar63-28Jul64; por ter sido transferida para a Ilha do Sal, Cabo Verde), sendo um em "combate" e dois por "acidente".

Destas três "baixas", a primeira foi "em combate", ocorrência verificada em 25Maio63, 3.ª feira, na sequência de uma emboscada montada pelo In, entre Timbó e Catió. A segunda, em 26Dez63, 5.ª feira, por "acidente" provocado por queda de árvore, e a terceira, em 26Mar64, 5.ª feira, no HM 241, em Bissau, devido a um "acidente de viação".



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Fontes Consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra (1962-1965); Lisboa; (1991); pp 323-328.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 99-110.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p 316.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 27-42-60.

Ø  Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço (virtual) e desejos de muitos sucessos na luta contra o COVID-19.
Jorge Araújo.