sábado, 13 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22003: Memória dos lugares (418): Sonaco e a loja do sr. Orlando; Fajonquito e o Teixeira (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, Contuboel, 1972/74)

Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco >  12º 23' 47'' N 14º  28' 55 W:  Localização da antiga loja do sr. Orlando, que ficava na "avenida" principal (que de ia de oeste para leste). Ao fundo, o rio Geba.


Foto nº 2>  Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco >  Outra vista da localização da antiga loja do sr-. Orlando, que ficava no lado direito da  "avenida" principal (que de ia de oeste para leste)



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco > Outra vista da localização da antiga loja do sr. Orlando, que ficava no lado direito da  "avenida" principal (que de ia de oeste para leste)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Sonaco > 12º 23' 47'' N 14º 28' 41'' W: Localização da antigo "aquartelamento", onde agora se ergue a mesquita local.
 

Infografias: Manuel Oliveira Pereira (2021) (com a devida vénia ao Google Earth]



Foto nº 5 > Guiné > Região de Bafatá  > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Foto nº 6 > Guiné > Região de Bafatá  > CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Foto nº 7 > Guiné > Região de Bafatá  >  CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) > Sonaco  >  1973


Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2021) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Manuel Oliveira Pereira,  na sequência de comentários ao poste P 21992 (*)

[O nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), é membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora]

Foto à esquerda: Contuboel, rua principal. Crédito: Francisco Allen & Zélia Neno (2006).  


Data: sábado, 13/03/2021 à(s) 00:22

Assunto: Sonaco e o sr. Orlando; Fajonquito e o Teixeira 
Manuel Oliveira Pereira,
no Rio Geba, c. 1972/74



Meu caro Luís, as minhas saudações.

O Sr. Orlando era um comerciante com estabelecimento de café e mercearia em Sonaco e ainda outros negócios, nomeadamente o gado bovino . 

A sua loja situava-se a meio da "avenida", no sentido do aquartelamento para casa do Chefe de posto administrativo. 

Curiosamente, e desde há algum tempo, mantenho (reactivei) amizade com as duas filhas,  de seus nomes Helena e Elsa.

Sim, conheço o Teixeira [, da CCAÇ 3549 / BCAÇ 3884, "Deixós Poisar" (Fajonquito, 1972/74)]. Não era da minha Companhia, mas faz parte de um " grupo" de amigos entre membros  das diversas Unidades que compunham o Batalhão  [, BCAÇ 3884, Bafatá, 1972/74]. 

Este grupo (re)encontrava-se - penso já te ter referido isso -, todo ou em parte conforme a disponibilidade de cada um, para além dos "convívios" anuais, e por norma, também, ir a todos (CCS, CCaç 3547, 3547 e 3548). 

Farei os possíveis para o "trazer" para a "Tabanca".

 Quanto aos " negócios" do Sr. Orlando, irei junto das filhas, saber pormenores para "enriquecer" o nosso espaço.

Abraço.
Manuel Oliveira Pereira

PS - Junto algumas fotografias de Sonaco. O nosso antigo aquartelamento é agora a Mesquita. O café do Sr. Orlando está assinalado (a meio da avenida) com o simbolo "localização", a vermelho (**)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21992: (Ex)citações (393): por que razão é que os fulas não gostavam de vender as suas vacas à tropa (Cherno Baldé, Bissau)

(...) Comentários:

(i) Manuel Oliveira Pereira:

Meu caro Cherno Baldé, como as tuas palavras me fazem recuar no tempo! 

Como sabes, não fazia parte dessa Companhia, mas como a amizade ficou, e independentemente da Companhia a que pertencíamos, vamos-nos (uns tantos) encontrando de tempos a tempos, em particular nos "convívios anuais". 

E é desses " convívios", que me recordo de ouvir o Teixeira (hoje empresário ligado ao comércio de motas), abordar essa questão, não propriamente, pela "comida", mas pelo carinho que sentia (nem sempre expresso) por essas crianças, entre elas tu, que circundavam o aquartelamento de Fajonquito. 

Recordo que um dos grandes intermediários na venda de vacas à "tropa", era o conhecido comerciante em Sonaco, o Sr. Orlando.

Fica o abraço, e vai continuando a contar-nos histórias do "teu" povo, que tanto me (nos) encanta.
Manuel Oliveira Pereira
CCaç 3547 - Os Répteis de Contuboel


(ii) Luís Graça:

Manuel Pereira, tens que nos falar desse sr. Orlando. 

Sonaco era, no meu tempo (1969/71),  o maior mercado abastecedor de gado vacum da nossa tropa. Ia-se de Bambadinca ate lá buscar vacas. 

Quem era esse Orlando ? Quem eram os seus fornecedores ?

E já agora conheces o Teixeira, trá-lo até nós...Era também uma alegria para o nosso irmãozinho Cherno. Ab. Luis

(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21841: Memória dos lugares (417): Ilha do Sal, Bissau, Prábis, Ponta do Inglês... Fotos do ex-fur mil Jorge Ferreira, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime,1964/66) (Rui Ferreira)
 

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Pereira, bo anoite... Ajuda-me a legendar melhor as fotos nºs 5, 6 e 7...Na nº 6, pareces ser tu, de perfil, em primeiro plano... Ambas sõ tiradas na "cantina"... É de Fajonquito ? E p Teixeira é o camarada, de ´óculos e bigode, da foto nº 5 ?

Em relação ao nosso tempo a Guiné-Bissau, cresceu 3 ou 4 vezes mais...Vejo que Sonaco se expandiu bastante... Fui lá duas ou três vezes: quando estava a dar instrução de especialidade e a depois a fazer a IAO em Contuboel (, no fundo, a formar a companhia, a futrua CCAÇ 12) devo etr ido nb máximo uma ou duas vezes a Sonaco... Preferíamos ir a Bafatá, calro... Depois, em Bambadinca fui lá uma vez, um ano e tal mais tarde (, quando estive um mês como gerente de messe, calhava a todos...) comprar vacas...Terei falado com o sr. Orlando ?.

Obrigado pela tua partilha de memórias...Confirma também a legenda da fotp nº 4 (localização do antigo quartel)... Não vejo lá nenhuma mesquita...

No meu tempo não tenho ideia de haver tropa em Sonaco... Talvez um pelotão da companhia que estava em Contuboel... Aquilo era mesmo um "oásis de paz"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sonaco tem "apenas" 14 referências no nosso blogue... Lugar esquecido ?

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Sonaco


Mas já aqui partilhámos o segredo do nosso nosso camarada limiano Manuel Pereira:

29 DE OUTUBRO DE 2019
Guiné 61/74 - P20286: O segredo de... (32): Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547, 1972-74) e o mistério do "triângulo Contuboel, Sonaco e Jabicunda"... Um "encontro de cavalheiros" com o IN

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/10/guine-6174-p20286-o-segredo-de-manuel.html


O poste merece ser relido e comentado...

Valdemar Silva disse...

Estas imagens aéreas de Sonaco fazem arrepiar a barriga.
Está agora a fazer 52 anos que meia dúzia de furriéis foram de unimog de Contuboel à praia de Sonaco. Quem nos desencaminhou e serviu de cicerone foi um fur.mil. de informações que estava sediado em Contuboel mas visitava frequentemente Sonaco sozinho mais dois caçadores nativos.
A ideia era ir almoçar por lá e depois ir à praia no Geba que era próximo.(conf. foto 1)
Lembro-me do restaurante, ou casa dum libanês, que fazia uns petiscos, ficava no lado direito à entrada da rua principal que tinha mais à frente no lado esquerdo uma bomba de gasolina de manivela e embora com muito movimento não havia mais ninguém fardado a não sermos nós. Sonaco não tinha tropa.
Bom, depois foi muito petisco e muito bioxene e a praia ficou pra outro dia. O regresso bem bebidos foi ao fim da tarde apanhando noite pela picada e cantando 'Oh bio xe ne... oh bio xe ne' com musica da célebre canção dos Beatles, e, embora armados, com muita sorte não fomos apanhados à mão, dizia o fur.inf. por causa da barulheira.
Estávamos em Março/Abril de 1969, com Piche bem perto a embrulhar, e naquela zona Contuboel/Sonaco sem nenhum problema com se fosse o paraíso.
Embora o Cherno Baldé desse explicação possível, nunca soubemos ao certo a razão de Contuboel/Sonaco nunca terem sido atacados.

Abraço
Valdemar Queiroz

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Ainda não tinha visto o comentário do Manuel Pereira (O Furriel Diplomata do BCAC 3884_Bafata-Contuboel-Geba-Fajonquito) a lembrar os tempos da guerra.

O ex-Cabo mecánico-auto, Augusto Teixeira foi para Fajonquito em rendição individual para substituir o Vasconcelos que tinha pisado uma mina A/P e calhou ficar no quarto onde vivia o meu patrão Dias que estava disponível porque, penso eu, era evitado pelos colegas pelo seu temperamento. O Teixeira depois revelou-se um homem excepcional pela sua sensibilidade e trato comigo e com todos os Jubis que trabalhavam na caserna da Ferrugem como Faxinas. Devo dizer que tinha sorte com os mecânicos, pois depois dele também tive a amizade de João,também ele Cabo mecánico e que, com o aquartelamento já sob controlo dos guerrilheiros conseguiu retirar uma cama da tropa e um armário para me oferecer. A trabalhar sempre com a malta da ferrugem muito cedo aprendi a conduzir numa altura em que mal conseguia carregar nos pedais da embraiagem e acelerador. Fazer deslocar um veiculo Unimog para o ir testar era um desafio e entretenimento que nos empolgava sobremaneira.

O Augusto Teixeira é o proprietário da Rame-Moto, uma empresa de negócio de Motos em Loures. Não acredito que queira entrar para a Tertúlia (Blogue da TG) pois ele sempre foi um homem muito discreto e reservado. Com ele comecei a distinguir um pouco o caracter e temperamento entre o Norte e Sul, pois já nessa altura dizia-se que ele era de Lisboa embora possa ter outras origens. O pessoal da CCAC 3549 era maioritariamente do Norte, mas curiosamente ainda não tinham apanhado a febre actual do PORTÓÓÓÓÓÓ...!!!

As fotos que acompanham o Poste não são de Fajonquito, podem ser de Contuboel.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No nosso tempo Sonaco pertencia, creio eu, à região de Bafatá. Hoje está integrado na Região de Gabu.

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

Para mim a questão é simples, pois mesmo se os "Tugas" desconfiavam de tudo e de todos, o Chão fula era um fiel aliado dos portugueses e não oferecia ais guerrilheiros a facilidade de criar muitis corredores como acontecia no sul onde a promiscuidade era escandalosa e com os aquartelamentos espalhados a volta só podia ser uma zona de paz enquanto os outros pudessem aguentar a pressão. E tu e os teus amigos fulas estiveram em Paunca e Guido-Iero-Bocar precisamente para garantir essa segurança a Contuboel e Sonaco do lado Norte embora não fosse uma missão específica.

Abraços,

Cherno Baldé

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Para além da tese do "tampão", já em tempos apresentada pelo Cherno Baldé, há também a ter em conta o factor religioso... Era uma zona de influência do islamismo sunita, seguido pelos mandingas...E onde eu conheci, em junho e julho de 1969, as mais belas, pacíficas, frondosas, quase bíblicas tabancas da Guiné...

Em finais de 2009, o meu filho, João Graça, então jovem médico e músico, em Contuboel (onde foi de propósito em "homenagem ao pai"), conheceu o dignitário Braima Sissé. Na sua casa tinha a foto emodulrada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya, ou seja, do islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné, tendo o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel (. A outra confraria tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas.)

O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [, presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].

um importante letrado e membro da confraria quadriyya [, islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a outra confraria tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas].
__________________

28 DE OUTUBRO DE 2019
Guiné 61/74 - P20282: Controvérsias (141): o triângulo Jabicunda / Sonaco / Contuboel... Nunca foi atacado, porque tinha à volta uma série de zonas-tampão, Bafatá e a Geba, a sul e a oeste; Fajonquito, Sare Bacar, Pirada e Paunca, a norte e a leste... (Cherno Baldé)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/10/guine-6174-p20282-controversias-141-o.html

Anónimo disse...

Caro amigo Luís Graça,

Eu compreendo a força do argumento religioso relativamente ao triangulo Contubuel-Sonaco-Djabicunda, da mesma forma que se falava a respeito de Quebo (Aldeia Formosa) de Cherno Rachide, mas é preciso relativista e entender que o movimento nacionalista passou por diversas fases durante a luta e houve uma fase, certamente a inicial, em que o poder de decisão podia depender do núcleo rebelde de origem mandinga/beafada, mas considera-se que na segunda fase, ou seja a partir de 1966/67, com a consolidação do apoio externo em África e no mundo e a chegada dos internacionalistas cubanos já o factor étnico/religioso contava menos, mesmo se nomes sonantes como Cherno Rachide e Caram-Mamadu Djabi de Djabicunda, todos eles grandes amigos do Gen. Spinola, continuavam a merecer algum respeito e consideração dos dois lados da contenda.

E cada vez, parecia mais evidente que a vertente ideológica aliada a vertente diplomática e ao fornecimento de armas de guerra cada vez mais sofisticadas acabariam por ditar o desfecho da guerra, pelo menos, no caso concreto da Guiné.

Esta evidência teria diminuído, em muito, a necessidade de contar com a influência dos dignitários religiosos depois que se tornou claro aos dirigentes do partido (paigc) que não podiam contar com os régulos fulas na adesão aos princípios da luta.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Pela localização assinalada nas imagens, parece ser na loja do sr. Orlando que estava a bomba de gasolina de manivela que me referi.
Também pelas imagens, já passaram 50 anos, podemos ver os acessos a Sonaco com muitas casas, que não existiam naquele tempo quando a picada da mata acabava na rua principal.
Caro amigo Cherno, não havia dúvidas quanto à fidelidade dos fulas, pelo menos com os nossa CART11 assim sempre aconteceu, e ainda por cá quando nos encontramos comentamos 'tivemos muita sorte' por os nossos soldados serem fulas, conhecerem as gentes da região e meterem respeitinho ao IN.

Abraço
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estamos totalmente de acordo: sem o apoio incondicional, leal, constante, heroico, do povo fula, o exército português teria pago uma factuar muitissimo mais pesada, com muito mais baixas... nomeaeadamente no Leste, no "chão fula", os nossos melhores guias e picadores eram fulas... E com os nossos soldados fulas sentiamo-nos em casa...

Está por escrever, com isenção, objectividade, rigor mas também simpatia, essa história de colaboração (que era de interesse mútuo) entre os fulas e o exército português...

Não era por acaso que Amílcar Cabral detesteva os fulas, e tinha uma especial predileção pelos balantas... Arrumou-os com dois ou três chavões: "sociedade semi-feudal", "cães dos colonialistas"...

Penso que Amílcar Cabral nunca conseguiu, contrariamente ao "Caco Baldé", ter um discurso "sedutor" em relação ao povo fula... E isso foi muito mau para todos, para os fulas e para o futuro da democracia na Guiné... Infelizmente, optou-se pela radicalizaçãpo (a guerra), quando a Guiné tinha condições para experimentar os camnhos da progressiva autodeterminação...

A história da guerra colonial na Guiné não pode ser contada a "preto e branco"... muito menos com dsiursos inflamados pró ou contra... Infelizmente a História é o que é e não pode ser revista... ;as, eu pessoalmente, ter-me-ia sentido muito mais feliz se tivesse ido para a Guiné como professor do que como militar... E a Guiné-Bissau seria hoje um outro país...